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Alunas: Helena Kich, Lídia Ritter e Rafaela Oliboni

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROCESSO Nº: 333


RECORRENTE: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul
RECORRIDO: Georges

GEORGES, já devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, representado por seu procurador constituído
(procuração em anexo), vem respeitosamente, perante
Vossa Excelência, observando o disposto no art. 1.030 do
Código de Processo Civil, apresentar

CONTRARRAZÕES AO RECURSO ESPECIAL

interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO contra decisão


proferida pela 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul, com base nos fatos e
fundamentos jurídicos que passarão a serem expostos na
peça de razões em anexo.
Nos termos do art. 1.030 do CPC, o prazo para apresentar contrarrazões ao
recurso especial é de 15 (quinze) dias, não sendo exigido o preparo para tanto.
Portanto, considerando que o recurso foi interposto dentro do prazo estipulado por
lei, as contrarrazões ao recurso deverão ser recebidas com razões de estilo.

Requer não seja admitido o recurso especial interposto e, na remota hipótese


de sua admissão, a remessa das presentes contrarrazões ao Superior Tribunal de
Justiça para sua apreciação.

Termos que pede deferimento.

Local XXX, 23 de maio de 2023.

Advogada
OAB/UF XXX
AO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PROCESSO No: 333


RECORRENTE: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul
RECORRIDO: Georges
ORIGEM: 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

COLENDA TURMA
INCLÍCITOS JULGADORES

1. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul ajuizou ação contra


Georges, servidor público estadual concursado, objetivando a sua condenação pela
prática de ato de improbidade administrativa. A acusação foi a de que Georges, ao
longo de 2021, na qualidade de administrador da Penitenciária Estadual Justiça/RS,
teria recebido propina para que liberasse detentos do regime fechado,
independentemente de autorização do Juiz das Execuções Criminais, para saídas
temporárias, em manifesta violação aos arts. 66, IV, 122 e 123 da Lei de Execuções
Penais.
Georges alegou, em sua defesa, que os fatos não eram verdadeiros.
A demanda foi julgada improcedente. O juiz sentenciante afirmou, para tanto,
que “o Ministério Público não logrou demonstrar que o demandado tenha dispensado
os presos do regime fechado mediante propina e sem autorização do Juiz das
Execuções Criminais”. O Ministério Público recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul, que, por acórdão unânime da 10ª Câmara Cível, manteve a
sentença, por seus próprios fundamentos (Ap. Civ. 987654321).
Tempestivamente, o Ministério Público interpôs recurso especial, com base no
art. 105, III, a, da Constituição do Brasil. Alegou que o acórdão recorrido negou
vigência aos arts. 66, IV, 122 e 123 da LEP, bem como ao art. 11, I, da Lei n.
8.429/92. Afirma que há prova segura da conduta de Georges. Disse que as
dispensas eram falsamente registradas como fugas, o que demonstra o dolo do
recorrido.
Por intermédio das razões que serão expostas na sequência, percebe-se que
o recurso especial interposto não deverá sequer ser admitido, em razão da ausência
de prequestionamento, bem como inobservância da Súmula 07, do STJ. Na hipótese
remota de sua admissão, o recurso deve ser desprovido conforme se demonstrará a
seguir.

2. QUESTÕES PRELIMINARES

O recurso especial não apresentou os requisitos essenciais para análise do


mérito. Desse modo, não deverá ser admitido pelas razões expostas na sequência.

2.1 DA AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO

O prequestionamento consiste na exigência da pré-análise, do debate e do


julgamento prévio da matéria objeto do recurso especial pelo tribunal recorrido.
No caso sub litis, o recurso foi interposto com base no artigo 105, III, “a”, da
Constituição Federal, pela suposta negativa de vigência aos artigos 66, IV, 122 e
123, todos da LEP, bem como ao artigo 11, I, da Lei no 8.429/29/92.
Entretanto, em nenhum momento, houve prequestionamento na instância
inferior por parte do recorrente da alegada negativa de vigência. Logo, não foi
respeitado o requisito da ‘causa previamente decidida’, assim como houve afronta
ao conteúdo da Súmula n.o 282, do Supremo Tribunal Federal, aplicada por analogia
ao recurso especial:

Súmula nº 282 do Supremo Tribunal Federal: É inadmissível o


recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a
questão federal suscitada.
Destaca-se que a falta de prequestionamento é motivo suficiente para que
não se conheça do recurso, conforme jurisprudência pacífica deste Superior Tribunal
de Justiça. Vejamos:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR


PÚBLICO. SENTENÇA COLETIVA. CUMPRIMENTO
INDIVIDUAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
INDEFERIMENTO DO PEDIDO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO
ART. 1.022 DO CPC/2015. INEXISTÊNCIA. PRETENSÃO DE
REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 7 DO STJ. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 211 DO STJ E 282, 356,
AMBAS DO STF. ACÓRDÃO RECORRIDO ALINHADO COM
A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. APLICAÇÃO DA SÚMULA
83/STJ
[...] 3. A Corte de origem analisou a controvérsia dos autos
levando em consideração os fatos e provas relacionados à
matéria. Assim, para se chegar a conclusão diversa seria
necessário o reexame fático-probatório, o que é vedado pelo
enunciado n. 7 da Súmula do STJ, segundo o qual "A
pretensão de simples reexame de provas não enseja recurso
especial". 4. Relativamente às demais alegações de violação
(arts. 23 e 24, § 1o, da Lei 8.906/1994; e art. 509, § 2o, do
CPC), esta Corte somente pode conhecer da matéria objeto de
julgamento no Tribunal de origem. Ausente o
prequestionamento da matéria alegadamente violada, não
é possível o conhecimento do Recurso Especial. Nesse
sentido, o enunciado n. 211 da Súmula do STJ:
"Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a
despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi
apreciada pelo Tribunal a quo"; e, por analogia, os
enunciados n. 282 e 356 da Súmula do STF. [...] 8. Agravo
Interno não provido. (AgInt no REsp 1996435 / DF, relator
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
17/10/2022, DJe 04/11/2022.) (grifo nosso)

Portanto, o presente recurso especial não é cabível com base no artigo 105,
inciso III, “a”, Constituição Federal, considerando que a decisão recorrida não restou
prequestionada adequadamente à questão federal suscitada.
Além disso, não houve oposição de embargos de declaração com fins de
prequestionar os artigos 66, IV, 122 e 123, todos da LEP, bem como o artigo 11, I, da
Lei no 8.429/92, tidos como violados nas razões de recurso especial, para suprir a
omissão e debater a questão federal. Desse modo, em consonância com a Súmula
n.o 356, do Supremo Tribunal Federal, aplicável também ao recurso especial por
analogia, o recurso não deve se admitido:

Súmula n.o 356 do Supremo Tribunal Federal: O ponto omisso da


decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não
pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento

DIANTE DO EXPOSTO, o recurso especial não deve ser admitido, pois não
prequestionou a matéria, conforme Súmulas nº 282 e 356, ambas do Supremo
Tribunal Federal.

2.2 VEDAÇÃO A ANÁLISE DE FATOS E PROVAS

No recurso especial, apenas discussões exclusivamente de direito são


admitidas, não se admitindo o reexame de fatos ou de provas. Sendo assim, este
recurso possui uma fundamentação vinculada e é aplicado apenas quando houver
afronta ou negativa de vigência à lei federal. Sobre o tema, é essencial a análise da
Súmula n.o 07 do Superior Tribunal de Justiça dispõe: “A pretensão de simples
reexame de prova não enseja recurso especial.”
A partir do estudo das razões do recurso especial interposto pelo recorrente,
se evidencia que ele busca discutir os fatos, alegando que existe ‘prova segura’ da
conduta da parte recorrida, de forma que é suficiente para a condenação pela prática
de ato de improbidade administrativa, todavia , está matéria já foi enfrentada na
sentença e no acórdão da 10a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul, sendo que em ambos pronunciamentos restou decidido que não
houve demonstração da conduta ilegal.
Portanto, o recurso especial interposto objetiva rediscutir os fatos e a prova
dos autos, contrariando a orientação consolidada das Cortes Superiores.
DIANTE DO EXPOSTO, o recurso especial não deve ser admitido, pois
encontra óbice no teor da Súmula n.o 07 do Superior Tribunal de Justiça, bem como
no vasto acervo jurisprudencial das Cortes Superiores sobre o tema.

3. RAZÕES PARA A MANUTENÇÃO DA DECISÃO

Em caso de admissão do presente recurso especial, ressalta-se que o


acórdão recorrido enfrentou o mérito da questão de forma adequada, sem qualquer
contrariedade à legislação federal. Vejamos.
A improcedência da ação se deu exclusivamente em razão de não restaram
comprovados os fatos narrados pelo recorrente para aplicação das referidas normas
e suas consequências jurídicas, logo, não houve qualquer negativa de vigência aos
arts. 66, IV, 122 e 123, todos da LEP, e ao art. 11, I, da Lei no 8.429/92. In verbis
trecho da decisão proferida em segundo grau: “O Ministério Público não logrou
demonstrar que o demandado tenha dispensado os presos do regime fechado
mediante propina e sem autorização do Juiz das Execuções Criminais.”.

Outrossim, as Cortes Superiores compreendem que é necessário que esteja


provado o dolo na conduta do agente para a aplicação do art. 11 da Lei no 8.429/92,
o que não ocorreu na espécie:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FALTA DE NOTIFICAÇÃO
PARA APRESENTAÇÃO DE DEFESA PRÉVIA. ART. 17, § 7o,
DA LEI N. 8.429/1992. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO.
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. ART. 330, I, DO
CPC/1973. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO
CARACTERIZADO. PRINCÍPIO DA LIVRE PERSUASÃO
RACIONAL. DOLO GENÉRICO DO AGENTE. ARTIGO 11 DA
LEI N. 8.429/1992. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. LEGALIDADE DA SANÇÃO IMPOSTA. OBSERVÂNCIA
DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. [...]
2. Conforme pacífico entendimento jurisprudencial desta Corte
Superior, improbidade é ilegalidade tipificada e qualificada pelo
elemento subjetivo, sendo "indispensável para a
caracterização de improbidade que a conduta do agente
seja dolosa para a tipificação das condutas descritas nos
artigos 9o e 11 da Lei n. 8.429/1992, ou, pelo menos, eivada
de culpa grave nas do artigo 10" (AIA 30/AM, Rel. Ministro
Teori Albino Zavascki, Corte Especial, DJe 28/9/2011).
[...]
(AgInt no AREsp 838.197/SP, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/02/2021,
DJe 18/02/2021) (grifo nosso)

Nesse sentido, ressalta-se que a prova dos autos não foi suficiente para
comprovação dos fatos, tampouco do dolo do recorrido, motivo pelo qual fica
inviabilizada a aplicação das normas federais, sendo que as instâncias ordinárias
decidiram corretamente pela improcedência da ação.
ISTO POSTO, o recurso especial interposto não deve ser admitido, visto que
não há que se falar em negativa de vigência dos artigos 66, inciso IV, 122 e 123,
todos da LEP, e do artigo 11, inciso I, da Lei no 8.429/92, considerando que a
decisão recorrida apenas concluiu pela improcedência do pedido em razão de não
restar demonstrados os fatos alegados pelo recorrente.

4. REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer que:

I) Não seja admitido o recurso especial interposto pela parte recorrente;


II) Na remota hipótese de admissão do recurso, requer que esse seja negado
provimento, tendo em vista a inexistência de qualquer contrariedade ou
negativa de vigência à legislação federal.

Termos que pede deferimento.


Local XXX, 22 de maio de 2023.

Advogada
OAB/UF XXX
DOCUMENTAÇÃO ANEXADA:
Procuração

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