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Alunas: Helena Kich, Lídia Ritter e Rafaela Oliboni

DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO


RIO GRANDE DO SUL

APELAÇÃO CÍVEL Nº: 123456789


RECORRENTE: Odair Silva
RECORRIDO: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul

Odair Silva, já devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, representado por seu procurador constituído
(instrumento de mandato em anexo), vem
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro
no art. 105, III, ‘a’, da Constituição Federal e art. 1.029 do
Código de Processo Civil, interpor o presente

RECURSO ESPECIAL

em face da decisão proferida pela 1º Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, com
base nos fatos e fundamentos jurídicos que passarão a
serem expostos na peça de razões recursais em anexo.
Nos termos do art. 1.003, § 5º, do CPC, o prazo para interpor recursos é de 15
(quinze) dias. O art. 1.007 do CPC dispõe que o recorrente comprovará, no ato de
interposição do recurso, o respectivo preparo. Portanto, considerando que o recurso
foi interposto passados 10 dias da publicação do acórdão recorrido e comprovado o
preparo, o recurso deverá ser admitido.
Requer a intimação da parte recorrida para que possa apresentar suas
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 1.030 do CPC. Após,
postula que seja dado admissão ao presente recurso, e que esse seja encaminhado,
junto com seus autos, ao Superior Tribunal de Justiça para apreciação do recurso em
sua íntegra.

Termos que pede deferimento

Local xxx, 16 de maio de 2023.


Advogada
OAB/UF nº xxx

AO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PROCESSO Nº: 123456789

RECORRENTE: Odair Silva

RECORRIDO: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul

ORIGEM: 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul


COLENDA TURMA

1. SÍNTESE DOS FATOS

O Ministério Público ajuizou ação visando à responsabilização de Odair Silva,


Secretário de Educação do Município de Tucunduva/RS, pela prática de ato de
improbidade administrativa. Em síntese, a imputação fora a de que a Secretaria de
Educação receberá R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais) de verba oriunda das
transações penais realizadas pela Justiça Estadual, com a finalidade de realizar
reparos na creche municipal Guri de Tucunduva, mediante a obrigação de prestar
contas até o dia 25/06/2022. As contas não foram, contudo, prestadas, a despeito
das notificações do Ministério Público reclamando-as. Por isso, o Ministério Público
pretendeu a condenação de Odair como incurso na conduta descrita no art. 11, VI,
da Lei n.º 8.429/92.

Odair contestou alegando, em suma, que não prestou contas no prazo devido
ao excesso de serviço na Secretaria. Afirmou que toda a verba recebida fora
empregada corretamente. No curso da ação, prestou as referidas contas, que foram,
depois, homologadas pela Justiça.

A ação foi julgada procedente em primeiro grau, condenando Odair ao


pagamento de multa no montante correspondente a 12 vezes o valor da sua
remuneração (art. 12, III, da Lei n.º 8.429/92). Odair apelou da referida sentença, que
foi confirmada, de forma unânime, pela 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, que adotou a seguinte fundamentação:

Exatamente como constou na sentença recorrida, Odair violou


princípio da Administração Pública (legalidade) ao ter
descumprido seu dever legal de prestação de contas à Justiça.
Não há prova de que tenha agido com dolo, mas não há dúvida
de que sua conduta foi, no mínimo, negligente, o que
caracteriza culpa grave. Reconheço, assim, a incidência do art.
11, VI, da Lei de Combate à Improbidade, em sua modalidade
culposa. (Apelação Cível n.º 123456789).

Embora o profundo conhecimento dos julgadores integrantes da 1ª Câmara


Cível do Tribunal de Justiça/RS, o desfecho da questão de mérito objeto de análise
no acórdão contém expressa violação à Lei Federal, à medida que ficará
demonstrado adiante, pois condenou o recorrente pela improbidade administrativa na
modalidade culposa, portanto, a parte recorrente interpõe o presente recurso.

2. CABIMENTO

O artigo 1.029, caput do Código de Processo Civil, estabelece os requisitos


para interposição de recurso especial:

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos


casos previstos na Constituição Federal , serão interpostos
perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido,
em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da
decisão recorrida.

Portanto, passa-se a demonstrar o cabimento do presente recurso e,


posteriormente, as razões do pedido.
Quanto ao esgotamento das instâncias ordinárias, deve-se destacar o
cabimento do presente Recurso Especial, demonstrado assim o atendimento a todos
os requisitos legais a fim de que esta Egrégia Corte Superior possa exercer o
enfrentamento da matéria nele versada.
De acordo com o art. 105, III, da CF, cabe Recurso Especial da decisão
proferida em última instância por Tribunal do Estado:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida;
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

Nesta situação, a ação foi julgada em primeiro grau e, posteriormente, foi


submetida à análise da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul. Assim, resta posto o direito e devidamente prequestionado, com objetivo de
apenas atacar o enquadramento legal referente à lei federal.
Portanto, visto que se trata de questão federal decidida em última instância
por Tribunal de Estado e não cabe qualquer outro recurso para discutir a violação à
lei federal, é cabível o presente recurso.
Com relação à questão exclusiva de direito, insta salientar que o presente
recurso trata de questão exclusivamente de
direito, isto é, não se pretende aqui o reexame de quaisquer fatos e/ou provas, em
consonância com a Súmula 7 do STJ, que diz: “A pretensão de simples reexame de
prova não enseja Recurso Especial”.
Quanto aos fundamentos da lei federal, a decisão recorrida destacou que
houve violação do princípio da legalidade no âmbito da administração pública,
consubstanciada no descumprimento do
dever legal do recorrente em prestar contas à Justiça independentemente da
comprovação de dolo.
Ocorre que não há previsão legal permitindo a condenação por improbidade
administrativa por violação a algum princípio da administração pública na modalidade
culposa.
A questão sub judice relaciona-se à interpretação do art. 11, VI, da Lei nº
8.429/921 que não conduz à condenação na modalidade culposa.

2.4. PREQUESTIONAMENTO
O art. 105, III, da Constituição Federal salienta que cabe ao Superior Tribunal
de Justiça julgar as causas decididas em única ou última instância, nos casos
dispostos em suas alíneas. Assim, a matéria federal deve ser decidida pelo tribunal
de origem, isto é, ser prequestionada a fim de viabilizar a interposição do recurso
especial. Entretanto, em análise da Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal,
observa-se a aplicabilidade por analogia ao recurso especial, evidenciando-se a
necessidade de ventilação da questão federal discutida na decisão de origem, sob
pena de inadmissibilidade.
À vista disso, percebe-se que houve o prequestionamento explícito da matéria
aqui discutida pelo tribunal de origem, visto que houve menção expressa tendo em
vista que fez referência ao art. 11, VI, da Lei nº 8.429/92:

Exatamente como constou na sentença recorrida, Odair violou


princípio da Administração Pública (legalidade) ao ter
descumprido seu dever legal de prestação de contas à Justiça.
Não há prova de que tenha agido com dolo, mas não há dúvida
de que sua conduta foi, no mínimo, negligente, o que
caracteriza culpa grave. Reconheço, assim, a incidência do art.
11, VI, da Lei de Combate à Improbidade, em sua modalidade
culposa. (Apelação Cível n.º 123456789).

Destarte, a matéria foi enfrentada pelo tribunal, inclusive de forma explícita,


restando devidamente prequestionada na origem, preenchendo-se para tanto, o
requisito do prequestionamento, sem deixar dúvidas quanto ao cabimento do
presente recurso.

3. RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO

O Recurso Especial, vencida a questão da sua admissibilidade, deve ser


conhecido e provido, pelas razões ora apresentadas.
Primeiramente, evidencia-se que, para configurar improbidade administrativa,
o fato deve se enquadrar em algum dos incisos previstos no art. 11 da Lei nº
8429/92. In casu, o ora recorrente foi condenado como incurso no art. 11, inciso VI
da Lei nº 8.429/92 3, em sua modalidade culposa.
Contudo, depreende-se do art. 11, da Lei nº 8.429/92 que apenas se configura
improbidade administrativa quando a conduta fere os princípios constitucionais da
administração pública e há má intenção do administrador, caracterizando conduta
dolosa. A aplicação das severas sanções previstas na Lei 8.492/92 é inclusive
recomendável para a punição do administrador desonesto, quando a conduta é
dolosa.
Desta forma, verifica-se que há improbidade administrativa na ausência de
cumprimento do dever de prestação de contas apenas quando esta ocorre de forma
dolosa, não havendo margem para o enquadramento de condutas culposas.
Posto isto, o simples fato do recorrente atrasar a entrega das contas devido
ao excesso de serviço na Secretaria, sem que exista dolo na espécie, não configura
ato de improbidade administrativo.
Logo, adverte-se que não é possível interpretar o inciso VI do art. 11, da Lei nº
8.429/92 de forma extensiva de modo a abranger a modalidade culposa, porquanto
há apenas a previsão legal da modalidade dolosa.
Outrossim, a fim de consolidar o entendimento exposto acima, insta destacar
que o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido de que para a
configuração do ato de improbidade administrativa na forma do art. 11 da Lei no
8.429/92, é necessária a presença do elemento subjetivo do dolo. Segue
jurisprudência desta egrégia Corte Superior:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ACUMULAÇÃO INDEVIDA
DE CARGOS PÚBLICOS. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO
CPC/2015. INEXISTÊNCIA. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO.
REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. DOSIMETRIA DAS SANÇÕES.
REEXAME DE PROVAS. DISSÍDIO JURISPRUDÊNCIAL.
ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. 1. Na origem, cuida-se de ação de
responsabilidade por ato de improbidade administrativa,
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em
decorrência da acumulação, pelo recorrente, de cargo
comissionado de Assessor Jurídico na Câmara Municipal de
Porangaba/SP e de cargo efetivo de Procurador Jurídico na
Câmara Municipal de Quadra/SP.

[...]3. Relativamente às condutas descritas na Lei n.


8.429/1992, esta Corte Superior possui firme entendimento
de que a tipificação da improbidade administrativa, para as
hipóteses dos arts. 9o e 11, reclama a comprovação do
dolo e, para as hipóteses do art. 10, ao menos culpa do
agente.4. Ressalta-se que a Primeira Seção deste Superior
Tribunal, nos autos do REsp 951.389/SC, firmou jurisprudência
de que, para a configuração do ato de improbidade previsto
no art. 11 da LIA, se faz necessária a análise do elemento
volitivo, consubstanciado pelo dolo, ao menos genérico, de
agir no intuito de infringir os princípios regentes da
administração pública.

[...]10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa


extensão, improvido. (REsp 1932184/SP, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/09/2021,
DJe 07/10/2021)

Desta maneira, resta clara a violação da Lei Federal no 8.429/92 ao imputar a


incidência do art. 11, VI, da Lei de Combate à Improbidade em sua modalidade
culposa, de forma que ignora disposto no texto legal e a interpretação atribuída ao
dispositivo pelas Cortes Superiores.

4. REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer que:

I) O presente Recurso Especial seja recebido e admitido definitivamente por


este Superior Tribunal de Justiça, visto que atende a todos requisitos de
admissibilidade;

II) O integral provimento do recurso aos efeitos de ser reformado o acórdão


recorrido, determinando o afastamento do reconhecimento da prática de ato
de improbidade administrativa por existência de violação ao art. 11, VI da Lei
nº 8.429/92.

Termos que pede deferimento.


Local xxx, 16 de maio de 2023.

Advogada
OAB/UF nºxxx

DOCUMENTAÇÃO ANEXADA:
Procuração
Comprovante de custas

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