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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.189 - RS (2009/0192963-7)

RECORRENTE : UNIÃO
RECORRIDO : HUMBERTO DE OLIVEIRA MADEIRA DE SOUZA E OUTRO
ADVOGADO : EVANDRO RÔMULO DEGRAZIA E OUTRO(S)

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON: trata-se de recurso


especial interposto pela União contra acórdão do Tribunal Regional Federal da Quarta Região,
assim ementado:

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE


TRÂNSITO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. RESPONSABILIDADE DA UNIÃO.
SUBJETIVA. OBJETIVA. EXCLUDENTE. NÃO CONFIGURAÇÃO. DANOS MATERIAIS
E MORAIS.
1. A averiguação da legitimidade passiva para responder aos termos da
presente ação confunde-se com o mérito do pedido, visto demanda análise da relação de
causalidade que liga a conduta do agente ao dano, diante da alegação da ré de rompimento
do nexo causal por fato de terceiro.
2. O fato de haverem referido conduta imprudente ou negligente do
preposto da ré não tem o condão de afastar a responsabilidade objetiva, que prescinde da
análise de culpa.
3. O caso em tela revela hipótese de responsabilidade objetiva do Estado,
em que a vítima deve apenas comprovar a conduta, o dano e o nexo causal. A ré, para
eximir-se ou atenuar a imputação da sua responsabilidade civil deverá comprovar que o
dano decorreu de culpa exclusiva (ou parcial) da vítima ou de terceiro, ou, ainda, de fatos
da natureza (caso fortuito/força maior).
4. Da análise da prova documental e testemunhal carreada aos autos,
conclui-se que a razão assiste aos autores, razão pela qual a União deve responder pelos
prejuízos suportados decorrentes da colisão, porquanto o dano, apesar de ter sido
provocado diretamente pelo assaltante, somente ocorreu porque estava sendo
perseguido, em alta velocidade, pelos agentes da ré. Não se trata de responsabilidade
solidária da União com o infrator, mas sim de dano provocado, através do assaltante, mas
por agentes da União.
5. Embora os prepostos da União estivessem agindo no estrito
cumprimento do dever legal (perseguição de criminoso pela prática de furto), tal excludente
de modo algum expunge o dever de indenizar os terceiros lesados pelos atos praticados
em excesso em aludida perseguição, razão pela qual deve a União responder pelos danos
materiais suportados pelos autores.
6. O caso sub judice retrata incidência de dano moral puro, esgotando-se
na lesão à personalidade, de modo que a prova cingir-se-á à existência do próprio ilícito.
Assim, da prova carreada aos autos, extrai-se o abalo moral vivenciado por ambos os
demandantes.
7. Mantida a sentença em relação ao quantum fixado a título de danos
materiais e de danos morais. (fls. 380/381).

Opostos embargos de declaração, foram acolhidos apenas para fins de


prequestionamento.
Aponta a recorrente, no especial, contrariedade aos artigos 267, VI, do Código de

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Processo Civil e 884 e 944 do Código Civil.
Não foram apresentadas contrarrazões e o recurso especial foi admitido.
É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.189 - RS (2009/0192963-7)

RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON


RECORRENTE : UNIÃO
RECORRIDO : HUMBERTO DE OLIVEIRA MADEIRA DE SOUZA E OUTRO
ADVOGADO : EVANDRO RÔMULO DEGRAZIA E OUTRO(S)

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON (Relatora): trata-se, na


origem, de ação ordinária de reparação de danos materiais e morais movida por Humberto de
Oliveira Madeira de Souza e outro contra a União, em virtude de perseguição policial a terceiro,
em via pública de intenso movimento, que acabou por acarretar os prejuízos relatados aos
autores.
A ação foi julgada parcialmente procedente, sentença mantida no Tribunal
Regional Federal da Quarta Região.
O recurso especial traz indicação de contrariedade aos artigos artigos 267, VI, do
Código de Processo Civil, 884 e 944 do Código Civil, insurgindo-se a União com relação a dois
aspectos:

a) ilegitimidade passiva;
b) valor da indenização por danos materiais e morais, considerando-os elevados.

No tocante à ilegitimidade passiva, insiste a União que "entre o fato lesivo que é
imputado à administração e o dano não há nexo causal, não estando demonstrado que o sinistro
decorreu de atos omissivos ou comissivos praticados por seus agentes, razão pela qual está
presente a incidência do art. 267, inciso VI, do CPC, visto que os danos decorreram de ato de
terceiro. Afirma que não é cabível imputar-se à União a responsabilidade pelos atos de terceiros
que não são agentes públicos.
O Tribunal de origem, porém, manteve a sentença, que invocou como fundamento
a responsabilidade objetiva do Estado, esclarecendo que não foi comprovada a culpa exclusiva de
terceiro no evento danoso, mas, sim, devidamente caracterizado o nexo de causalidade entre a a
conduta do agente público e o dano sofrido pelos autores.
Ressaltou o acórdão que os documentos e depoimentos juntados aos autos
confirmam que " a viatura da polícia federal perseguiu o automóvel corsa conduzido por indivíduo

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que o furtara momentos antes, isso em alta velocidade e em estrada que apresentava um grande
movimento. Consta do acórdão que o fato gerador do dano foi a efetiva perseguição policial, o
que evidencia a responsabilidade da ré e que, "embora os prepostos da União tenham agido no
estrito cumprimento do dever legal, tal excludente de modo algum expunge o dever de indenizar
os terceiros lesados pelos atos praticados em excesso na aludida perseguição, decorrente a
responsabilidade objetiva da atividade perigosa (risco), ainda que lícita.
Como se vê, a tese recursal de que não restou comprovado o nexo causal entre o
fato lesivo e a conduta dos agentes públicos demanda, inevitavelmente, o reexame de provas,
vedado nos termos da Súmula nº 07/STJ.
Quanto aos valores arbitrados a título de indenização por danos materiais e morais
também não colhe êxito a irresignação.
Os danos materiais foram fixados em R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais)
mediante a comprovação documental dos efetivos prejuízos, não havendo o que ser reparado no
acórdão quanto ao ponto.
No tocante aos danos morais, cediço que o valor da indenização pode ser revisto
nesta Corte Superior quando fixados de forma elevada ou ínfima. No caso em tela, contudo, o
valor atribuído pelo Tribunal de origem a título de danos morais foi R$ 3.000, 00 (três mil reais).
Consideradas as circunstâncias que desencadearam os danos, envolvendo perseguição policial,
com carros em alta velocidade e acidente automobilístico, não entendo como abusiva a quantia
arbitrada a justificar o reexame do valor nesta Corte.
Por essas razões, conheço do recurso especial, mas nego-lhe provimento.

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