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Turma: Clube da Magistratura
Material: Sentença Cível (Espelho)

SENTENÇA CÍVEL
SENTENÇA CÍVEL

QUESITOS AVALIADOS NOTA BASE

JULGAMENTO SIMULTÂNEO - Anunciar o julgamento simultâneo da ação e da


0,15
denunciação da lide.

PRELIMINARES
- Incompetência do Juízo. Rejeição. Nos termos do art. 53, V, do CPC, é competente
o foro “de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano
sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves”. Trata-se de
foros concorrentes, escolhido conforme conveniência da parte autora. O autor
comprovou, através de comprovante de residência, que moram em Santa Maria/DF,
sendo foro legítimo para o ajuizamento da demanda.

- Ilegitimidade ativa. Rejeição. Art. 17, CPC. De acordo com a Teoria da Asserção, a
análise das condições da ação deve ser feita com base nas afirmações contidas na
petição inicial. A transferência propriedade de bens móveis materializa-se com a sua
2,50
tradição (artigo 1.267 do Código Civil), sendo, no caso de veículos, a providência
registral junto ao órgão de trânsito competente de cunho eminentemente
administrativo, não servindo este último ato como marco referencial para a
comprovação da tradição. O autor afirma ter adquirido o bem, sendo a análise
probatória tema de mérito.

- Ilegitimidade Passiva. Rejeição. Art. 17, CPC. A legitimidade das partes (legitimatio
ad causam) se traduz na pertinência subjetiva, ou seja, aptidão para ser parte na
demanda, seja na condição de demandante, seja na condição de demandado. O
Superior Tribunal de Justiça firmou posição no sentido de a responsabilidade do
proprietário do veículo ser solidária pelos danos decorrentes de acidente de trânsito
causado por culpa do condutor, sendo sua culpa (culpa in vigilando) em razão da
escolha impertinente da pessoa a conduzir seu carro ou da negligência em permitir
que terceiros, sem sua autorização, utilizem o veículo" (AgInt no REsp 1834006/SP,
Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/03/2021,
DJe 25/03/2021; AgRg no REsp 1561894/ES, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 11/03/2016).

MÉRITO DEMANDA PRINCIPAL – Parcial Procedência.

- Cerceamento de defesa. Não ocorrência. Consoante o parágrafo único do art. 370


do CPC, cabe ao juiz, como destinatário final da prova, avaliar quanto à necessidade
e conveniência, podendo indeferir as diligências inúteis ou meramente protelatórias,
desde que fundamente a sua decisão, a teor do art. 371 do CPC e do art. 93, inciso
IX, da Constituição Federal. No caso, não houve controvérsia quanto à dinâmica dos
fatos, pois o próprio José afirmou no BO e reforçou, em sua contestação, que deu
causa ao acidente, pois o pneu de seu veículo estourou, o que resultou na invasão
da via contrária e no acidente de trânsito ocorrido. Portanto, o referido fato é
incontroverso (art. 374, III, CPC). Não há cerceamento ao direito de defesa de pedido
de realização de prova oral se o fato a ser comprovado pelo recorrente demandar
3,35
prova documental, havendo nos autos provas suficientes para formar a convicção
do julgador. Adicionalmente, a prova pericial se mostrou suficiente para comprovar
a extensão dos danos sofridos pela parte autora. Da mesma forma, a parte ré em
nenhum momento questiona ou impugna a narrativa constante no Boletim de
Ocorrência.

- Fixação da controvérsia. Cinge-se a presente controvérsia a respeito da culpa pelo


acidente de trânsito, bem como existência de danos materiais, morais e estéticos
sofridos pelo autor e sua extensão.

- Segundo precedentes do Superior Tribunal de Justiça, o proprietário do veículo


deve responder solidariamente pelos prejuízos causados pelo condutor em virtude
de acidente de trânsito, pois a guarda jurídica do veículo pertence ao proprietário,
sendo este o responsável, portanto, pelos atos ilícitos praticados por terceiro a quem
a direção é confiada.

- A responsabilidade da segunda ré, no caso, afere-se a partir da ótica da


responsabilidade subjetiva, cujos princípios se condensam nos artigos 186 e 927 do
Código Civil. Exige-se, portanto, para a configuração da responsabilidade a
caracterização do ato ilícito (ação ou omissão), do dano, do nexo de causalidade
entre o ato e o dano e da culpa do agente.

- O autor estava na posse do veículo, no momento do acidente, além de comprovar


o pagamento de tributo, com recursos próprios, incidente sobre o bem móvel.
Assim, seu vínculo material com a motocicleta está suficientemente demonstrado,
sendo direito pleitear eventuais danos materiais no veículo, decorrentes do
acidente.

- A dinâmica do acidente é fato incontroverso nos autos (art. 374, III, CPC): conforme
informações trazidas no boletim de ocorrência, prestadas pelo segundo réu e
reforçadas em sede de contestação, a causa do acidente se deu em razão de o pneu
do veículo do primeiro requerido, conduzido pelo segundo requerido, haver
estourado, tendo o condutor perdido o controle e colidido com o veículo do autor.

- Conduta culposa (negligência): o art. 27 do Código de Trânsito Brasileiro preceitua


que “Antes de colocar o veículo em circulação nas vias públicas, o condutor deverá
verificar a existência e as boas condições de funcionamento dos equipamentos de
uso obrigatório, bem como assegurar-se da existência de combustível suficiente
para chegar ao local de destino”. Assim, age com negligência quem trafega com os
pneus gastos, que possam resultar no rompimento e perda do controle do veículo.

- As rés não lograram êxito em comprovar culpa do autor ou alguma excludente de


responsabilidade, ônus do qual não se desincumbiram, nos termos do artigo 373,
inciso II, do Código de Processo Civil/2015.

- No que diz respeito ao nexo causal, a teoria da causalidade adequada, que hoje
prevalece em tema de responsabilidade civil, impõe que se perquira qual das culpas
foi a causa primária, eficiente e decisiva para a ocorrência do acidente. No caso em
comento, a causa primária do evento danoso foi, justamente, conduta negligente
dos requeridos.

- Provada a responsabilidade do condutor, a proprietária do veículo fica


solidariamente responsável pela reparação do dano, como criador do risco para os
seus semelhantes (REsp 1354332/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 23/08/2016, DJe 21/09/2016).

- Danos materiais. Ausência de provas dos gastos com conserto ou venda da


motocicleta. O dano material caracteriza-se pela composição em dinheiro visando à
reposição do estado anterior ao evento danoso, constituído pelos danos emergentes
(valores efetivamente perdidos) e pelos lucros cessantes (valores que se deixou de
auferir). É sabido que o dano material não se presume, exigindo-se, para que seja
passível de reparação, a comprovação do efetivo prejuízo experimentado, uma vez
que "a indenização mede-se pela extensão do dano." (art. 944 do Código Civil). No
caso, não há nenhum documento a demonstrar eventuais danos ocorridos na
motocicleta. Não há orçamentos de reparação do veículo, nem comprovação de que
fora vendido para custear tratamento médico.

- Danos materiais. Pensionamento. A incapacidade permanente do autor foi


constatada pelo laudo pericial, e, embora haja informação de que o autor recebe
benefício previdenciário, é possível a cumulação de benefício previdenciário e de
pensão por ilícito indenizatório, nos termos do art. 950 do Código Civil, pois guardam
naturezas distintas e não são passíveis de compensação (REsp 1693792/CE, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em24/10/2017, DJe
19/12/2017; AgRg no AREsp 531.796/PR, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 16/10/2014, DJe 31/10/2014). No particular, à
míngua de comprovação de recebimento de valores superiores ao salário-mínimo,
deve este ser arbitrado para efeito de pensionamento.

- Danos estéticos. Súmula n. 387, STJ: “É possível a acumulação das indenizações de


dano estético e moral”. No que tange ao dano estético, tem-se que a configuração
deste não é subordinada à existência de grande deformidade física (aleijão ou
repugnância), bastando para tanto a presença de marcas ou cicatrizes capazes de
causar desgosto e sensação de inferioridade ao indivíduo vitimado. Caracterizado
quando há lesão de caráter permanente, capaz de provocar efetivo prejuízo a algum
atributo físico da pessoa, comprometendo a sua imagem ou a funcionalidade de seu
corpo. Basta a degradação física sofrida pela vítima decorrente do ato ilícito, ainda
que as lesões não sejam expostas a terceiros, ou que seja preservada função
fisiológica.

- Na hipótese, o dano estético ficou evidenciado pelas fotografias e laudo pericial,


que retratam cicatrizes pós-cirúrgicas, além de “deformidade em seu fêmur
esquerdo, associado a encurtamento e ausência de consolidação óssea, bem como
a severa atrofia muscular global em todo membro inferior esquerdo e o déficit de
movimento em dorso-flexão e extensão do pé/tornozelo (pé caído)”.

- Danos morais. Ocorrência pela lesão a bem da personalidade do tipo “integridade


física” (art. 5º, CF/88; art. 949, CC). As lesões ao bem jurídico “integridade física” são
suficientes para comprovar a ocorrência de dano moral.

- Quantum Indenizatório. Danos morais e estéticos. Procedimento bifásico de


fixação do valor da reparação (STJ). Na primeira fase, o valor básico ou inicial da
indenização é arbitrado tendo-se em conta o interesse jurídico lesado, em
conformidade com os precedentes jurisprudenciais acerca da matéria (grupo de
casos). Na segunda fase, ajusta-se o valor às peculiaridades do caso, com base nas
suas circunstâncias (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa
concorrente da vítima, condição econômica das partes), procedendo-se à fixação
definitiva da indenização, por meio de arbitramento equitativo pelo juiz. (REsp
1473393/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
04/10/2016, DJe 23/11/2016).

- Observa-se a partir dos julgados do STJ que os valores das indenizações por danos
morais e estéticos em decorrência de imobilidade parcial permanente causada por
acidente de trânsito foram fixados em montantes que variam entre R$ 10.000,00
(vinte mil reais) e R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Identificado o valor médio das
indenizações arbitradas, o segundo passo consiste em examinar as circunstâncias
particulares do caso, consoante os critérios já expostos acima. São eles: a) a
dimensão do dano; b) a eventual culpa concorrente da vítima; e c) a posição política,
social e econômica das partes envolvidas.

OU

- Fixação com base na proporcionalidade e razoabilidade. A jurisprudência do


Superior Tribunal de Justiça se encontra sedimentada no sentido de que a
indenização por danos morais deve ser arbitrada com fulcro na razoabilidade e na
proporcionalidade, de modo que seu valor não seja excessivo a ponto de gerar o
enriquecimento ilícito do ofendido nem se mostrar irrisório e, assim, estimular a
prática danosa (AgInt no AREsp 1352950/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/03/2019, DJe 29/03/2019).

- Reparação no valor compreendido entre R$ 10.000,00 e R$ 30.000,00.

- Seguro DPVAT: Nas ações relacionadas a acidentes de trânsito, o valor do seguro


obrigatório DPVAT deve ser deduzido da indenização fixada judicialmente, nos
termos da Súmula 246/STJ, independentemente de comprovação do recebimento
da quantia pela vítima ou seus sucessores.

MÉRITO DA DENUNCIAÇÃO À LIDE


- Quanto à responsabilidade das seguradoras, aplica-se o entendimento consolidado
na súmula 537, STJ, in verbis: “em ação de reparação de danos, a seguradora
denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser
condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da
indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice”. 1,00
- No caso dos autos, contudo, o contrato indica que não houve contratação de
cobertura por danos estéticos pela ré, já que, nas observações/especificações,
consta a seguinte cláusula: "Estão excluídos da cobertura de RCF os danos estéticos".
Súmula 402 do STJ: “O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos
morais, salvo cláusula expressa de exclusão”.
DISPOSITIVO
2,0
- JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na lide principal
para:
a) condenar os réus, solidariamente, ao pagamento de pensão mensal vitalícia ao
autor, no montante de um salário-mínimo, desde a data do acidente;
b) condenar os réus, solidariamente, a indenizar o requerente por danos morais no
valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Os valores deverão ser atualizados
monetariamente, pelo INPC, desde a data desta sentença (Súmula 362/STJ) e
acrescidos de juros de mora de 1% a.m., a contar do evento danoso (Súmula 54/STJ);
c) condenar os réus, solidariamente, a indenizar o requerente por danos estéticos
no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Os valores deverão ser atualizados
monetariamente, pelo INPC, desde a data desta sentença (Súmula 362/STJ) e
acrescidos de juros de mora de 1% a.m., a contar do evento danoso (Súmula 54/STJ).
- Ainda, JULGO PROCEDENTE a denunciação da lide e condeno a seguradora
litisdenunciada, de forma solidária, ao pagamento da condenação imposta aos réus,
inclusive quanto aos ônus de sucumbência, observados os limites da apólice.
(possível a elaboração de um dispositivo conjunto para a ação principal e para a lide
secundária)
- Declaro, pois, resolvido o mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC/2015.
- Em face da sucumbência recíproca desproporcional (o autor sucumbiu de 1 dos 4
pedidos que fez) e bem analisados o grau de zelo dos profissionais envolvidos, o
lugar de prestação do serviço (fácil acesso), a natureza e a importância da causa
(complexidade normal), o trabalho realizado pelos advogados e o tempo exigido
para o seu serviço (sem intercorrências), condeno as partes requeridas,
solidariamente, ao pagamento de 75% das custas processuais e honorários
advocatícios, ora arbitrados em 10% do valor da condenação, nos termos do art. 85,
§2º do Novo CPC, restando o autor condenado nos demais ônus.
- Observe-se a suspensão da exigibilidade em face da gratuidade de justiça que foi
deferida ao autor, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC.
- Deixo de condenar a litisdenunciada, na lide secundária, ao pagamento de
honorários advocatícios, em razão de não ter resistido a pretensão em questão, mas
tão somente o pedido principal, deduzido em face do condutor do veículo por ela
segurado (Precedentes do STJ).
- Autorizo a dedução dos valores percebidos pela parte requerente a título de seguro
obrigatório (DPVAT) do montante indenizatório, nos termos da súmula 246 do
Superior Tribunal de Justiça.
- Transitado em julgado, dê-se baixa e arquivem-se.
- P.R.I. Assinatura do Juiz.
Uso escorreito do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento do
1,0
vernáculo

TOTAL 10,00

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