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Excelentíssimo Senhor Juiz da 8ª Unidade Jurisdicional Cível - 24º JD da Comarca de

Belo Horizonte/MG

Autos nº: 5159618-15.2022.8.13.0024

RONALDO DOS SANTOS CORREA, brasileiro, taxista, portador da Carteira de


Identidade nº M 37.63267, inscrito no CPF sob o nº 714.800.306-78, com endereço na
Rua T, nº. 34, Conjunto Água Branca, Contagem/MG – CEP 32.370-710, vem,
respeitosamente à presença de V. Exa., por intermédio de sua procuradora, nos autos
da AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS proposta por HUMBERTO FONSECA,
apresentar CONTESTAÇÃO pelos seguintes fatos e fundamentos:

I. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de ação de ressarcimento por meio da qual narra o autor que no


dia 03/06/2022 estacionou seu veículo FIAT/STRADA, placa DLU-4F13, no
estacionamento do Mercado do bairro Cruzeiro quando sofreu colisão do veículo
CHEVROLET TRACKER, placa RTC-1162, conduzido e de propriedade do réu.

Alega que quitou a importância de R$700,00 para realizar os reparos do


veículo e R$23,85 a título de retirada de documento do DETRAN, pelo que requer a
condenação do réu ao ressarcimento do valor de R$723,85 a título de danos materiais.

No entanto, o autor deixa de abordar circunstâncias essenciais que


envolvem a dinâmica do acidente e que, por conseguinte, alteram sobremaneira a sua
concepção e consequente determinação de culpa.

II. DO MÉRITO

Inicialmente, é necessário destacar que o dever de indenizar do réu


somente poderá ser admitido nestes autos se preenchidos os requisitos do artigo 927
do CC, o que, todavia, não ocorreu.
Consoante é sabido, a responsabilidade civil de indenizar o dano alheio
nasce do ato ilícito, ou seja, decorre da conduta contrária aos ditames da ordem
jurídica que venha a ofender direito alheio, causando danos ao seu respectivo titular.

Sem que o prejuízo da vítima tenha sido causado por um comportamento


culposo ou doloso do réu, não há que se cogitar a responsabilidade prevista no citado
artigo.

Logo, como na hipótese dos autos, ao contrário do que tenta fazer crer,
tendo sido o acidente provocado por culpa exclusiva do autor, o caso é de
desconfiguração da pretendida responsabilidade indenizatória de direito comum.

Assim, como se verá adiante, a conduta do autor exerceu inegável


influência para dar causa ao resultado reclamado nos autos, principalmente em
relação aos danos do veículo.

Deste modo, será comprovado: (i) Ausência de responsabilidade do réu


pelo acidente ocorrido – culpa exclusiva do autor; (ii) Exame de conduta do autor e o
nexo de causalidade entre a conduta, o acidente e os danos do veículo.

II.1 - Ausência de responsabilidade do réu – acidente provocado por culpa exclusiva


do autor por estar estacionado em local proibido para carga e descarga.

Primeiramente, cumpre esclarecer que o réu é taxista, proprietário do


veículo CHEVROLET TRACKER, placa RTC-1162 e labora em ponto de táxi no interior do
estacionamento do Mercado Distrital do Cruzeiro, local do acidente.

Em 03/06/2022 (sexta-feira), por volta das 10h15min, conforme consta


expressamente do boletim de ocorrência anexo (doc.4), o réu se dirigia à saída do
estabelecimento quando, ao convergir à esquerda colidiu na tampa traseira do veículo
FIAT/STRADA placa DLU-4F13, que estava aberta. (Fotos doc.5)

Frisa-se que no momento da colisão, o autor fazia a descarga de


mercadoria da barraca na qual trabalha como artesão, estando o veículo estacionado
em vaga preferencial para deficiente físico localizada no sentido de saída.

É o que se extrai inclusive do próprio boletim de ocorrência lavrado pelo


autor, de id. 9562981777. Vejamos:
Através das fotografias anexas é possível ter clareza do local do acidente e
da posição dos veículos envolvidos. O veículo do réu, CHEVROLET TRACKER, placa RTC-
1162 cor branco, encontra-se estacionado no ponto de táxi, e a esquerda encontram-
se as vagas preferenciais para deficientes físicos e idosos, sendo a primeira delas a
vaga na qual estava estacionado o veículo do autor descarregando mercadorias com a
tampa traseira aberta comprometendo a pista de rolamento.
Destaque-se que o Mercado Distrital do Cruzeiro possui local exclusivo
para carga e descarga de mercadorias, sendo expressamente proibido o
carregamento e descarregamento em quaisquer outras vagas que não sejam as
destinadas para veículos de carga. Vejamos:

Observa-se que o local destinado a carga e descarga é amplo, o que


possibilita a abertura de portas e caçambas para carregamento e descarregamento de
veículos. No entanto, preferiu o autor por descarregar seu veículo em vaga
preferencial para deficientes físicos, localizada em corredor estreito que com a
abertura da tampa traseira se estreitou ainda mais.

Assim, evidente que a conduta do autor foi manifestamente negligente e


imprudente, pois, estava fazendo o descarregamento de mercadoria do veículo,
estacionado em vaga preferencial para deficientes físicos, com a tampa traseira do
veículo aberta, consequentemente obstruindo o tráfego normal da via, dando ensejo à
colisão.

Sobre o tema, é a jurisprudência deste Tribunal:


EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - ACIDENTE DE TRÂNSITO -
CULPA DO RÉU - COLISÃO COM A PORTA DO VEÍCULO - CULPA DO
CONDUTOR DO VEÍCULO ESTACIONADO. É dever do condutor do veículo,
antes de abrir a sua porta, deixá-la aberta ou descer do veículo, certificar-
se de que isso não lhe trará riscos ou aos demais usuários.
(TJ-MG - AC: 10172180013036001 Conceição das Alagoas, Relator: Marco
Aurelio Ferenzini, Data de Julgamento: 12/08/2021, Câmaras Cíveis / 14ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 12/08/2021)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE CONHECIMENTO - REPARAÇÃO CIVIL -


ACIDENTE DE TRÂNSITO - RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA - ÔNUS DA
PROVA - FATOS CONSTITUTIVOS - AUTOR - AUSÊNCIA DE PROVAS -
IMPROCEDÊNCIA. 1. A Responsabilidade Civil designa o dever que alguém
tem de reparar o prejuízo, em consequência da ofensa a um direito alheio.
2. Para se reconhecer a responsabilidade subjetiva, mostra-se necessária a
constatação da culpa, do dano e do nexo de causalidade entre a conduta e o
dano. 3. No sistema processual civil brasileiro vigora a regra de que ao autor
incumbe a comprovação dos fatos constitutivos de seu direito, conforme
disposto no artigo 333, I, do CPC/73, correspondente ao artigo 373, I, do
CPC/15. 4. Não tendo o autor comprovado a culpa do réu pela ocorrência do
acidente narrado, seus pedidos devem ser julgados improcedentes. V.V
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - VIA PÚBLICA -
VEÍCULO ESTACIONADO - ABERTURA DA PORTA - INOBSERVÂNCIA DO
FLUXO DE VEÍCULOS - COLISÃO - IMPRUDÊNCIA - CULPA. Age com culpa o
motorista que, sem se atentar para as regras de trânsito e de forma
imprudente, abre a porta do seu veículo, que se encontrava estacionado
em via pública, sem prestar a devida atenção no fluxo de veículos, dando
causa à colisão.
(TJ-MG - AC: 10000210339248001 MG, Relator: José Américo Martins da
Costa, Data de Julgamento: 12/11/2021, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 19/11/2021)

Por todo exposto e pela análise das provas arroladas aos autos, conclui-se
pela culpa exclusiva do autor, motivo pelo qual não há que se falar em
responsabilidade do réu pelo ressarcimento dos eventuais danos suportados.

II.2- Exame da conduta do autor e do nexo de causalidade. A responsabilidade civil


deve ser atribuída à conduta preponderante que deu causa ao dano. A conduta do
autor foi determinante para a ocorrência do acidente.

Ainda que eventualmente se entenda pela existência de culpa do réu pela


ocorrência do acidente, por outro lado, não se pode deixar de considerar a conduta
culposa do autor, a qual, se não foi a única causadora do evento, no mínimo contribuiu
para a sua ocorrência, donde a sua responsabilidade, no mínimo concorrente.

Certo é que cabia ao autor estacionar seu veículo em local exclusivo para
carga e descarga, em estrita observância à sinalização existente!

É de se perguntar: Qual fato, ou culpa, ou conduta foi decisiva para o


evento danoso? Isto é, qual dos atos fez com que o acidente acontecesse? Aqui, cabe o
exame deste D. juízo acerca da conduta do autor para a produção dos danos
suportados por si, visto que foram preponderantes para o resultado.

Dessa maneira, a questão deve ser analisada sobre a premissa de que a


parte que teve por último a oportunidade de evitar o dano, não obstante a negligência
ou imprudência da outra, é responsável pelo evento.

O que se deve verificar é quem teve a melhor ou mais eficiente, ou seja,


quem estava em melhores condições de evitar o dano e de quem foi o ato que
decisivamente influi para o dano.

Deve-se investigar, portanto, quem teve a parcela de culpa determinante


para a ocorrência do resultado (e na proporção em que ele ocorreu).

Frisa-se, nada disso teria ocorrido se o autor tivesse agido da forma


correta, realizando o descarregamento do veículo no lugar destinado para tal.

Assim, demonstrado não haver culpa na conduta da Ré, e, portanto,


estando ausente um dos requisitos ensejadores do dever de indenizar, não há que se
falar em sua responsabilização civil, nos moldes dos arts. 186 e 927, do CC. 
  
Desta forma, mostra-se inarredável a improcedência da presente ação em
relação à parte ré, com a consequente isenção de qualquer pagamento de indenização
ora pleiteado. 
 
Caso assim não entenda, ad argumentandum, tal contexto exige que seja
estipulado por este douto juízo o percentual de culpa concorrente entre autor e réu,
considerando o envolvimento e a contribuição de cada parte para a ocorrência dos
supostos prejuízos suportados. 

III. DO PEDIDO CONTRAPOSTO


 
Adota-se a dinâmica dos fatos, narrados nesta contestação, como
alegações à inicial do pedido contraposto.

Em decorrência do ato imprudente do autor, esse tem a obrigação de


ressarcir os danos materiais ocasionados ao réu, que, conforme nota fiscal anexa,
totalizam um montante de R$900,00 (novecentos reais).

IV. DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:


a) sejam julgados improcedentes todos os pedidos formulados pelo
autor, consistente no ressarcimento por danos materiais;

b) pela intimação do autor para que querendo responder ao pedido


contraposto;

c) pela condenação do requerente no pedido contraposto, e ao final seja


julgada a procedência dos pedidos de indenização pelo dano material
suportado na quantia de R$ 900,00 (novecentos reais) corrigidos
monetariamente e acrescidos de juros legais desde a data do
desembolso até a data do efetivo pagamento.

Por fim, requer provar o alegado por meio de prova testemunhal e


documental.

Dá-se ao pedido contraposto o valor de R$ 900,00 (novecentos reais).

P. deferimento.

Belo Horizonte, 04 de outubro de 2022.

Larissa Moura Reis


OAB/MG 191.805

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