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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DO FORO

DISTRITAL DO CONTINENTE DA COMARCA DA CAPITAL – SC

CLODOALDO SILVA, já qualificado, nos autos da ação


condenatória nº 023.16.000002-3, que lhe
move ROSARITA SOUZA, vem, através de seus
procuradores (doc. 01), apresentar CONTESTAÇÃO,
nos seguintes termos:

1. BREVE RESUMO DA EXORDIAL

A autora ajuizou ação condenatória, com vistas ao pagamento de


indenização por danos materiais (danos emergentes e lucros cessantes) e morais
que o réu, propaladamente, lhe teria ocasionado.

Alegou, em síntese, que no dia 21/02/2016, ao trafegar pela Rua


Lauro Linhares, segundo as normas do CTB, seu automóvel teria sido atingido, na
parte traseira, pelo réu.

Aduziu que, ao parar, suavemente, conforme relato seu, por causa


do semáforo fechado, olhou pelo retrovisor e constatou que o automóvel do réu
estaria “colado no seu carro e em alta velocidade”, e, por isso, não teria conseguido
frear, ocasionando a colisão entre os dois veículos.

Nos pedidos, requereu fosse o réu condenado ao pagamento de


indenização de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais), sendo R$ 5.000,00
(cinco mil reais) por danos materiais – danos emergentes relativos aos reparos
feitos em seu automóvel -, R$ 10.000,00 (dez mil reais) por lucros cessantes – sob
a alegação que teria ficado sem trabalhar por dois meses -, e R$ 30.000,00 (trinta
mil reais) por danos morais – alegação fundada em abalos psíquicos que,
supostamente, a autora teria sofrido em decorrência do acidente.

Em que pese o esforço da autora em fazer crer que possui


interesse de agir para propor a presente ação em face da ré, bem assim direito de
pleitear-lhe numerário indenizatório, sua pretensão imerece prosperar; senão,
vejamos.

2. DA VERACIDADE DOS FATOS

O réu trafegava tranquilamente com seu carro, um Toyota Corolla


(doc. 02), no dia 21/02/2016, por volta das 04h e 45min, na Rua Lauro Linhares
nas proximidades do número 246, no bairro Trindade em Florianópolis/SC.
Encontrava-se dentro da velocidade permitida por lei e mantendo distância mais do
que suficiente do carro que seguia a sua frente, qual seja, o carro da autora, um
Ford Ka. Diferentemente do relado pela autora, que claramente deturpou a
verdadeira realidade no exórdio.

Ora Excelência, quem, comprovadamente, estava conduzindo


seu automóvel de maneira inadequada, em velocidade acima do permitido
era a autora. Prova disso é a notificação de infração de trânsito (doc. 03) sofrida
pela mesma no dia e hora da colisão. Tal transgressão foi registrada por um radar
localizado a apenas 100 metros do local do acidente.

Além da alta velocidade, a autora, ao deparar-se com o semáforo


fechado, freou brusca e repentinamente. Apesar disso, o réu conseguiu parar
seu veículo sem se quer encostar no automóvel da autora. Os veículos estavam
distantes um metro um do outro.

Não obstante, mal o réu havia se recuperado do susto, sentiu seu


carro ser bruscamente impelido contra o veículo da autora. O causador de tal
arremesso é o Sr. João Dias, que conduzia sua Ford F250 em altíssima velocidade e
encontrava-se alcoolizado (doc. 04). O Sr. João tentou frear, contudo, não
conseguiu parar a tempo de impedir a colisão com o veículo do réu.

Deste abalroamento, devidamente registrado pela autoridade


competente (doc. 05), resultaram os seguintes estragos: danos na parte traseira do
automóvel da autora, danos nas partes dianteira e traseira do automóvel do réu e
danos na dianteira do veículo do Sr. João Dias.

Vale ainda salientar que o réu, em março de 2016, propôs ação


condenatória em face do Sr. João Dias que tramita na 1ª Vara Cível da Comarca da
Capital/SC sob o número 023.16.2004567-9.

3. PRELIMINARMENTE

3.1 DA CONEXÃO

Muito embora este juízo seja, em tese, competente para processar e julgar
a presente ação indenizatória em razão do disposto no art. 53, V, do Novo Código
de Processo Civil (NCPC), há que se ter em conta a conexão do presente feito com
o processo nº 023.16.2004567-9, proposto pelo ora requerido perante o juízo da 1ª
Vara Cível da Comarca da Capital no início do mês de março de 2016, em desfavor
de João Dias (doc. 06), proprietário e condutor do veículo identificado como V3 no
boletim de ocorrência e verdadeiro responsável pelos danos causados tanto no
automóvel da autora quanto do ora requerido, como será amplamente demonstrado
na instrução processual.

Segundo o NCPC, “reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando


lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.” (art. 55).

No caso em tela verifica-se que a causa de pedir, consistente no substrato


fático do pedido, é idêntica àquela declinada nos autos do processo
nº 023.16.2004567-9, qual seja, o acidente de trânsito ocorrido no dia 21 de
fevereiro do corrente ano, na avenida Lauro Linhares, envolvendo os veículos
dirigidos pelas partes e pelo réu da supra referida ação, João Dias.

De acordo com o critério eleito pelo NCPC como definidor da competência


quando ações conexas tramitam perante juízes com a mesma competência
territorial (art. 55 do NCPC), observa-se que o juízo do Foro Central da Comarca da
Capital é prevento pois, ao passo que a presente ação recebeu o despacho inicial
em 10 de junho do corrente ano, a ação nº 023.16.2004567-9 foi despachada
em 30 de março de 2016 (doc. 07), sendo imperiosa, portanto, a remessa dos
autos àquela unidade, para processamento e julgamento conjuntos, evitando-se,
destarte, decisões contraditórias acerca da matéria.

3.2 DA CARÊNCIA DE AÇÃO POR ILEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade das partes é, consoante o disposto no art. 17, do NCPC,


uma das condições da ação, sem a qual é inviável a análise do mérito da demanda.

A legitimidade passiva, segundo a valiosa lição de Wambier, consiste


na “relação de sujeição diante da pretensão do autor” 1. Destarte, se não há nexo
de causalidade entre o direito invocado pelo autor e a conduta do réu, verifica-se a
ocorrência de ilegitimidade passiva.
A atuação do requerido não contribuiu, de forma alguma, para causar os
supostos danos que a autora pretende reparar, vez que, após ter parado seu
automóvel no semáforo vermelho, observando a distância regulamentar, teve o
mesmo violentamente projetado contra o automóvel dirigido pela autora, em razão
da colisão do veículo identificado no boletim de ocorrência como V3, dirigido por
João Dias, em sua traseira.

Os danos fora causados exclusivamente pela ação do condutor do V3, o


qual, em flagrante desrespeito às normas de trânsito, trafegava embriagado e em
velocidade incompatível com a via, provocando o acidente em questão.

A jurisprudência não destoa do entendimento de que a culpa por


abalroamentos sucessivos é do condutor do último veículo, o qual desencadeia as
colisões sucessivas. Neste sentido, colacionamos o seguinte precedente:

“ [...] ENGAVETAMENTO ENVOLVENDO TRÊS VEÍCULOS -


MOTORISTA DO VEÍCULO SEGURADO QUE PÁRA SOBRE A VIA
EM RAZÃO DA LENTIDÃO DE TRÁFEGO - AUTOMÓVEL DO RÉU
QUE SE CHOCA COM ESTE E PROVOCA O ENGAVETAMENTO -
INOBSERVÂNCIA DA DISTÂNCIA REGULAMENTAR DE
SEGURANÇA - CULPA PRESUMIDA DE QUEM COLIDE NA
RETAGUARDA - CONDUÇÃO SEM AS DEVIDAS CAUTELAS [...].
3. ‘Considera-se culpado, no caso de engavetamento de
veículos, o motorista que deu causa a todo o desenrolar do
evento, isto é, aquele que colide por último no automóvel
parado imediatamente a sua frente que estava aguardando a
desobstrução da pista asfáltica em decorrência de outro
acidente, não aquele que em razão desta colisão é projetado
contra outro a sua frente, devendo à seguradora prejudicada
demandar diretamente contra o causador do fato’ (AC n.º
2000.018863-8, Des. Carlos Prudêncio)” (TJSC – Ap. Cív. nº
2001.015170-7, de Blumenau. Relator Des. Marcus Tulio
Sartorato. Julgado em 29/10/2004).

Inexistente, portanto, o dever de sujeição do requerido ao direito alegado


pela autora na inicial, vez que os supostos danos foram causados por terceiros,
carece o requerido de legitimidade passiva, devendo o feito ser extinto, sem

1 [1] Wambier (coord.). Curso Avançado de Processo Civil, Volume 1. 8 ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006, p. 131.
resolução de mérito, por carência de ação, a teor do disposto no art. 485, inc. VI,
do NCPC.

4. DO MÉRITO

4.1 DA DENUNCIAÇÃO DE JOÃO DIAS À LIDE

Caso sejam ultrapassadas as preliminares argüidas, no que o requerido não


acredita devido às provas contundentes que militam a seu favor, impõe-se a
denunciação à lide de João Dias, responsável pelo acidente em questão e, por
conseguinte, pela reparação dos danos sofridos pelos envolvidos.

O instituto da denunciação homenageia o princípio da economia processual


pois visa à inserção do verdadeiro responsável pelos efeitos da condenação no
mesmo processo, dispensando a propositura de ação regressiva.

O art. 125, inc. II, do NCPC, institui a obrigatoriedade da denunciação da


lide nos casos em que o denunciado estiver obrigado, por força de lei ou contrato, a
indenizar o prejuízo daquele que perder a demanda.

No caso vertente o requerido comprova, por meio dos documentos


colacionados aos autos nesta oportunidade, a culpabilidade do denunciado pela
ocorrência do acidente, vez que trafegava embriagado e em velocidade excessiva,
em total afronta às normas do CTB. Além disso, atua contra ele a presunção
relativa de culpa do motorista que abalroa a traseira do veículo que seguia à sua
frente, amplamente corroborada, vale ressaltar, pelos documentos e demais provas
a serem produzidas no curso da instrução.

Portanto, com base no disposto no art. art. 125, inc. II, do NCPC, impõe-se
a denunciação à lide de João Dias, brasileiro, casado, comerciante, inscrito no
C.P.F. sob o nº 010.000.000-29, e portador do documento de identidade (RG) nº
1/R 00.222-6, o qual pode ser citado no seu endereço residencial, na Avenida
Jornalista Rubens de Arruda Ramos, nº 00, bairro Centro, Florianópolis, Santa
Catarina.

4.2 DA DENUNCIAÇÃO DE ACF SEGUROS DO BRASIL LTDA À LIDE

Deve, também, ser chamada a integrar o pólo passivo da presente


demanda a ACF Seguros do Brasil Ltda., em razão da existência de contrato de
seguro contra terceiros, com cobertura de danos materiais e pessoais no limite de
R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), conforme apólice anexa (doc. 08).

De acordo com o art. 757 do Código Civil, “pelo contrato de seguro, o


segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”.

Destarte, tendo o requerido contratado regularmente o seguro com a


companhia denunciada, pagando, inclusive, as parcelas do prêmio em dia, deve
esta ser chamada a integrar a lide para que responda solidariamente por eventual
condenação, por força do disposto no art. 125, inc. II, do NCPC.

A condenação solidária da seguradora é aceita pelos tribunais em


homenagem aos princípios constitucionais da economia processual e da efetividade
da prestação jurisdicional, consoante se denota do recente precedente
jurisprudencial:
“Apesar de a seguradora possuir relação jurídica somente com
o segurado, nada impede que ela, tornando-se parte no
processo, venha a ser condenada direta e solidariamente a
indenizar os lesados, desde que respeitado o limite
estabelecido na apólice, garantindo-se, dessa forma, a
efetividade da tutela jurisdicional” (TJSC – Ap. Cív. nº
2006.002530-9, de Lages. Relator Des. Marcus Tulio
Sartorato. Julgado em 05/06/2007).

Como o limite do seguro contratado pelo requerido equivale a R$


50.000,00 (cinqüenta mil reais), pode a denunciada responder pela totalidade dos
danos pleiteados na inicial, no montante de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil
reais), sendo R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por danos materiais emergentes, R$
10.000,00 (dez mil reais) por lucros cessantes e R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por
danos morais.

A cobertura contratada engloba tanto os danos materiais quanto os danos


pessoais, incluindo-se nesta última categoria os danos morais, conforme
entendimento do e. Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

“O dano moral é uma espécie de dano pessoal e, se o último


estiver previsto no contrato de seguro, tem a seguradora a
obrigação de ressarcir o abalo moral suportado pelas vítimas,
mesmo porque, tratando-se aquele de contrato tipicamente de
adesão, deve ser interpretado de maneira mais favorável ao
aderente” (TJSC – Ap. Cív. nº 2005.025403-1, de Jaraguá do
Sul. Relator Des. Mazoni Ferreira. Julgado em 29/09/2005).

Destarte, com amparo no disposto no art. 125, inc. II, do NCPC, o


demandado requer a denunciação à lide da ACF Seguros do Brasil Ltda., pessoa
jurídica de direito privado inscrita no C.N.P.J. sob o nº 00.090.0001/01, podendo
ser citada por meio de sua filial na Av. Mauro Ramos, nº 01, Centro, Florianópolis,
Santa Catarina, para responder, solidariamente, por eventual condenação, inclusive
ao pagamento de danos morais, nos limites da apólice contratada.

4.3 DOS FATOS

Caso tenha entendimento contrário V. Excelência, insta-se que a pretensão


da autora não seja acolhida. A toda evidência, a versão da mesma não é verossímil,
provável, coerente e compatível com as circunstâncias.

Do episódio, transparece que a autora estava conduzindo o seu veículo em


desconformidade com as normas brasileiras de trânsito, vez que se encontrava
acima da velocidade máxima permitida, conforme consta na notificação de infração
de trânsito (doc. 03). Deste modo, quando surpreendida pelo semáforo fechado,
freou bruscamente. Ainda assim, o réu, que estava conduzindo o seu automóvel da
maneira correta, logrou parar o seu carro distando um metro do carro da autora.

Cumpre ressaltar que, ainda que o réu tivesse colidido com o automóvel da
autora nestas circunstancias, não deveria ser responsabilizado pelo acidente, posto
que, em casos assim, a jurisprudência entende que, apesar de normalmente
presumir-se culpado o motorista que colide na traseira do carro que o antecede, há
casos em que pode ser responsabilizado o motorista do carro da frente, se este
efetuar manobra imprevisível – como uma frenagem repentina. Veja-se:
APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO
NA PARTE TRASEIRA. PRESUNÇÃO DE CULPA DO
VEÍCULO QUE TRAFEGA ATRÁS. PARADA BRUSCA,
TODAVIA, EFETUADA EM DECORRÊNCIA DE FALHA
MECÂNICA DO AUTOMOTOR ANTECEDENTE.
CONCORRÊNCIA DE CULPAS CARACTERIZADA.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. "Normalmente,
em colisões de veículos, culpado é o motorista que
caminha atrás, pois a ele compete extrema atenção
com a corrente de tráfego que lhe segue à frente. Mas
a regra comporta exceção como a frenagem repentina,
inesperada e imprevisível do veículo da frente" (RT
363/196) (TJSC, Apelaçao Cível, n. 2000.011082-5, de
Sombrio, Rel. Des. Maria do Rocio Luz Santa Ritta)

No entanto, no caso em apreço tem-se que o réu apenas abalroou a


traseira do automóvel da autora porque o seu veículo foi bruscamente impelido
contra aquele, o que se deu em função da colisão na traseira do seu carro
provocada pelo Sr. João Dias, que estava dirigindo em velocidade muito além da
permitida e, ainda, encontrava-se alcoolizado. Tal acidente, que foi devidamente
registrado (doc. 05), resultou no engavetamento dos três veículos, ocasionando
danos na parte traseira do automóvel da autora, danos nas partes dianteira e
traseira do automóvel do réu e danos na dianteira do veículo do Sr. João Dias.

Ora Excelência, percebe-se de forma clara que o réu não teve culpa
alguma no acidente ocorrido, vez que não agiu de maneira imprudente, muito pelo
contrário, dirigia de maneira compatível com a lei nacional de trânsito, servindo
apenas como meio para consumação do acidente.

Aliás, adotando-se a teoria da causalidade adequada, verifica-se que o


causador do dano foi efetivamente quem imprudentemente não conseguiu frear seu
veículo – no caso o Sr. João Dias, condutor do terceiro automóvel. Substituindo-se
este por outro veículo, que dirigisse com as mesmas cautelas do réu, não haveria a
colisão, pois teria conseguido parar com êxito.
Este E. Tribunal já consagrou o entendimento de que o culpado por
acidente de trânsito envolvendo três ou mais carros – conhecido vulgarmente por
engavetamento – e o condutor do veículo que colide por último, projetando o
automóvel antecedente contra outro. Considera-se, em casos assim, configurada a
culpa exclusiva de terceiro, que exclui a obrigação de indenizar daquele que em
razão do terceiro foi envolvido em acidente. E o que se extrai do acórdão que
segue:

APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO -


ENGAVETAMENTO - FATO DE TERCEIRO -
RESPONSABILIDADE DO CONDUTOR QUE DEU CAUSA A TODO
O DESENROLAR DO EVENTO - RECURSO
DESPROVIDO "Considera-se culpado, no caso
de engavetamento de veículos, o motorista que deu causa a
todo o desenrolar do evento, isto é, aquele que colide por
último no automóvel parado imediatamente a sua frente que
estava aguardando a desobstrução da pista asfáltica em
decorrência de outro acidente, não aquele que em razão desta
colisão é projetado contra outro a sua frente, devendo à
seguradora prejudicada demandar diretamente contra o
causador do fato" (Apelação Cível nº 00.018863-8, de
Chapecó, Rel. Des. Carlos Prudêncio, j. em 22/10/01).(TJSC,
Apelação Cível n. 000.17478-5, de Tubarão, Rel. Des. Orli
Rodrigues).

Deste modo, resta incontestável que o réu não agiu com culpa em momento
nenhum, motivo pelo qual deve ser julgado improcedente o pedido da autora, não
sendo responsabilizado o réu pelo acontecimento do sinistro.

4.4 DOS DANOS MATERIAS

Na peça exordial, a autora pleiteou o pagamento de indenização no valor de


R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por danos materiais - danos emergentes relativos aos
reparos feitos em seu automóvel. Todavia, tal pretensão não merece guarida.

O art. 159, caput, do Código Civil Brasileiro estatui que todo "aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano".

A obrigação de reparar reclama dois pressupostos: um concreto; outro


abstrato. O fator concreto se desdobra em três elementos: fato do homem, o dano
e a relação de causa e efeito entre um e outro. O fator abstrato se materializa na
culpa.

No caso em apreço, estão ausentes dois destes pressupostos, quais sejam, a


relação de causa e efeito e a culpa. Conforme a doutrina do insigne Professor
Fernando Noronha:

“Para que surja uma obrigação de indenizar, será necessário


que alguém tenha sofrido um dano, que este tenha sido
causado por fato antijurídico de outrem (ou, em certas
hipóteses excepcionalíssimas, que tenha simplesmente
acontecido no exercício de atividade da outra pessoa), que tal
fato possa ser imputado à pessoa que se pretende
responsabilidade, a título de culpa (incluindo o dolo) ou de
risco criado, e finalmente que o dano sofrido tenha cabimento
no âmbito ou escopo da norma violada. Estes são os
pressupostos da responsabilidade civil" (Apostila apresentada
ao Curso de Graduação em Direito da UFSC, pág. 225).

Da doutrina acima colacionada extrai-se que para a reparação do dano


material mostra-se imprescindível demonstrar-se o nexo de causalidade entre a
conduta indevida do terceiro e o efetivo prejuízo patrimonial que foi efetivamente
suportado. No caso dos autos não restou comprovado o nexo de causalidade. O
autor não agiu com culpa e não se pode afirmar que a sua conduta foi causa
eficiente para a deflagração do sinistro.

Na verdade, os danos foram causados por culpa exclusiva de terceiro – a


colisão provocada pelo Sr. João Dias que impeliu o veículo do réu contra o veículo
da autora causando os danos materiais neste. O réu agiu o tempo todo com
prudência, conseguindo evitar, até certo ponto, o acidente. Porém, o Sr. João Dias,
não agiu da mesma forma, já que conduzia o seu veículo em desconformidade com
as normas de trânsito, de modo que a conduta do réu não foi suficiente para
impedir o sinistro.

Inexiste, desta forma, obrigação do réu em indenizar a autora pelos danos


causados no acidente. Porém, na eventualidade de entender de forma diversa o
douto magistrado, cabe rechaçar o quantum pedido.
O orçamento acostado nos autos é abusivo, não havendo nenhuma
comprovação da realização do serviço da parte mecânica e, muito menos, qualquer
nota fiscal que comprovasse os reais gastos.

Por sua natureza, evidentemente, a demonstração da extensão do dano


material deve ser precisa também quanto ao valor da indenização pretendida, pois
o que se visa através da ação judicial é a recomposição da efetiva situação
patrimonial que se tinha antes da ocorrência do dano.

Deste modo, requer-se que sejam feitos novos orçamentos a fim de que se
possa determinar um valor idôneo.

4.5 DOS LUCROS CESSANTES

A autora, equivocadamente, requereu que fosse o réu condenado a


indenizá-la por lucros cessantes, tendo em vista que teria ficado sem trabalhar por
dois meses já que utiliza o seu veículo como meio de locomoção ao local onde
trabalha e o mesmo encontrava-se parado para reparos.

No entanto, para serem devidas indenizações com relação aos lucros


cessantes deve restar cabalmente comprovado que, caso não tivesse ocorrido
o acidente, a autora auferiria o montante pedido - R$ 10.000,00 (dez mil reais) -,
ou seja, deve ficar demonstrado que ao seu patrimônio deixou de ser incorporado
um valor, no caso, resultante do trabalho realizado pela mesma.

Ocorre que, compulsando-se os autos verifica-se que a autora não logrou


comprovar que foi impedida de trabalhar ou que tenha perdido rendimentos, não
sendo verdadeira a afirmação de que dependia do seu carro para trabalhar, já que
possuía outros meios de transporte disponibilizados tanto pela Administração
Publica quanto pela iniciativa privada – tais como ônibus e táxis – dos quais poderia
utilizar para locomover-se até o seu trabalho.

É o entendimento jurisprudencial que não bastam meras assertivas do


prejuízo sofrido, devendo restar de maneira inconteste que o acontecimento do
sinistro tenha resultado num efetivo impedimento para a autora exercer o seu
oficio, vide:

"Os lucros cessantes só podem ser concedidos, quando


devidamente comprovados, não bastando a alegação de
prejuízos causados com a paralização do veículo
sinistrado" (Ap. Cív. n. 14.945, de Criciúma, rel. Des. Nauro
Collaço, em 27/11/91)
.
Assim sendo, não devera o réu ser condenado ao pagamento de
indenização por lucros cessantes, vez que estes não foram cabalmente
comprovados pela autora. Contudo, se outro for o entendimento de V. Excelência,
ressalta-se que o quantum pedido - R$ 10.000,00 (dez mil reais) – deve ser
minorado, já que deve corresponder efetivamente ao valor que a autora deixou de
aferir nos meses citados, o que corresponderia ao salário que a mesma recebe. No
entanto, a autora não trouxe aos autos qualquer elemento que comprovasse que o
prejuízo que alega ter sofrido foi no montante pedido.

Portanto, deverá ser determinado à autora que junte documento


comprovante da renda que recebe a fim de seja devidamente quantificado o valor a
ser pago.
4.6 DO DANO MORAL

Ainda, a autora pediu – a titulo de indenização por danos morais – o valor


de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), sob alegação fundada em abalos psíquicos que,
supostamente, teria sofrido em decorrência do acidente. Cabe ressaltar Excelência
que o autor já provou de forma inconteste que não foi o culpado pelo acidente
ocorrido e que, portanto, não deve ser responsabilizado por tal. Deste modo, passa
a rechaçar a existência de dano moral decorrente do sinistro.

É de ver que, para a caracterização do dano moral, há necessidade de


sofrimento, ou humilhação; ou seja: há necessidade de dano. Convém dizer que
nem todo mal-estar configura dano moral, no sentido de que "seria reduzir o dano
moral a mera sugestibilidade, ou proteger alguém que não suporta nenhum
aborrecimento trivial, o entendimento que o dano moral atinge qualquer gesto que
causa mal-estar". (JEOVA, Antônio. Dano Moral Indenizável, 2ª ed., São Paulo,
Lejus, 1999, p. 115.)

Além do mais, a circunstância constrangedora por que passa a vítima há de


ser acima do normal; os meros inconvenientes da vida moderna, dos quais se
espera fugir mas, não causam surpresa, não bastam a configurá-lo. Não foi o que
ocorreu.

A banalização do Dano Moral, haja vista os inúmeros pedidos inócuos e


extremamente oportunistas fomentados por uma lacuna derivada de um rigoroso
subjetivismo em relação ao seu quantum, e que atualmente vem sendo combatida
por alguns critérios doutrinários e jurisprudenciais adotados, vem sendo combatida
pelos Tribunais pátrios. Isto porque o instituto transformou-se em objeto de
inúmeras ações que abarrotam nosso Poder Judiciário, muitas delas absolutamente
descabidas, revelando o intento pernicioso dos autores dessas demandas, que
visam pretensões absurdas, como é o caso dos autos.

Isto posto, percebe-se infundado o pedido de indenização por danos morais


da autora. Se entender V. Excelência que o caso merece condenação de
indenização por dano moral, requer-se ao menos seja a indenização fixada na
medida do agravo sofrido, mas sob hipótese alguma em valores exorbitantes como
o que a autora pediu.

Destaca-se que os tribunais têm se mostrado rígidos na fixação da verba


reparatória, inclusive como instrumento de preservação do instituto, impedindo que
absurdas indenizações subvertam o causador do dano à condição de nova vítima ao
ter de suportar uma reparação demasiada e desproporcional à ofensa. Vale
ressaltar que a reparação por dano moral há que ser arbitrada dentro da
razoabilidade, haja vista que não tem o condão de propiciar enriquecimento ilícito
de quem postula, prática repelida pelo sistema jurídico.

A Jurisprudência vem coibindo com êxito o locupletamento indevido do


ofendido, limitando a verba reparatória a valores adequados e condizentes com a
realidade atual, máxime porque a vítima deve encontrar na reparação um meio de
satisfação do dano moral experimentado, e não uma caderneta de aposentadoria
ou um bilhete de loteria premiado:

"Acidente de trânsito. Indenização. Debilidade


permanente. Pensão vitalícia. Possibilidade. Danos
morais. Critérios de fixação. Razoabilidade. Honorários
advocatícios. Fazenda Pública. Parte vencida.
Apreciação eqüitativa. Observação dos critérios. É
possível a condenação, em ação de indenização, de uma
pensão vitalícia à vítima de acidente de trânsito, a qual sofreu
debilidade permanente de um dos membros, estando provado
que o fato causou considerável diminuição de sua capacidade
laboral, gerando limitações físicas pelo resto de sua vida.
Para a fixação de danos morais, torna-se necessária a
apreciação de critérios de fixação, devendo ser observado o
princípio da razoabilidade, impedindo com isso o
locupletamento indevido da parte beneficiada. Em sendo a
Fazenda Pública a parte vencida, a fixação dos honorários
advocatícios deverá ser feita de acordo com a apreciação
eqüitativa do julgador, com a obediência dos critérios impostos
pela lei." – grifei. (TJRO, Apelação Cível
nº 20000020020018061, Relator: Des. Rowilson Teixeira.
Julgado em 13/11/2002)

Assim sendo, requer o réu que seja julgado improcedente o pedido de


condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais ou que seja
minorado o valor da indenização pedido.

4.7. DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

A boa-fé é um dos princípios basilares do Direito, devendo nortear todas as


condutas humanas.

Em vista disso, o NCPC enumerou como deveres das partes, bem como de
todos os envolvidos em processo judicial, “expor os fatos em juízo conforme a
verdade” (art. 77, inc. I, NCPC), “não formular pretensão ou de apresentar defesa
quando cientes de que são destituídas de fundamento” (art. 77, inc. II,
NCPC), entre outros.

Entretanto, por todo o exposto até então percebe-se claramente que a parte
autora faltou com o cumprimento dos referidos deveres, vez que distorceu a
verdade dos fatos ao alegar que dirigia segundo a velocidade permitida quando do
acidente, como ficou comprovado pela notificação de infração de trânsito por
excesso de velocidade, captada no mesmo dia e hora dos fatos, por radar localizado
a aproximadamente 100 (cem) metros do local (doc. 03).

Ao alterar a verdade dos fatos, a autora deixou de proceder com lealdade e


boa-fé, formulando pretensão destituída de fundamento e violando, por
conseguinte, os deveres enumerados no art. 77 do NCPC.

Destarte, pode a parte autora ser considerada litigante de má-fé,


enquadrando-se nas hipóteses descritas nos incisos I, II e V do art. 80 do NCPC.

Ao alegar que trafegava na velocidade permitida e que o requerido conduzia


seu veículo em velocidade excessiva e sem guardar a distância de segurança, a
promovente alterou a verdade dos fatos, deduzindo pretensão contrária a fato
incontroverso e agindo de modo temerário, merecendo, portanto, ser condenada a
pagar multa de 1% (um por cento) sobre o valor dado à causa, além dos
honorários devidos aos patronos do requeridos e das despesas processuais, a teor
do contido no art. 81 do NCPC.

4.8 DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA


Em que pesem os fundamentos anteriormente expostos, torna-se descabido
o valor dado à causa pela ora requerente.

Não foi comprovada a necessidade de gastos no valor de R$ 5.000,00 (cinco


mil reais) relativos ao conserto do automóvel danificado, uma vez que não há
comprovação da realização dos serviços e nem outros orçamentos similares que
justifiquem tal quantia. A autora deixou de demonstrar também o decréscimo de
seus rendimentos mensais a fim de tornar razoável a indenização por lucros
cessantes no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

No tocante ao dano moral, o valor requerido na exordial encontra-se em


desacordo com quaisquer padrões de razoabilidade para o caso concreto em
questão.

Assim, requer o réu a retificação do valor da causa para R$12.000,00 (doze


mil reais), por entender ser este valor suficiente para cobrir as despesas relativas
ao conserto do automóvel, bem como indenizações que porventura venham a ser
definidas por este MM. Juízo.

5. DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

a) preliminarmente, a extinção do feito sem resolução de mérito, por carência


de ação, em função da ilegitimidade passiva, a teor do disposto no art. 485, inc. VI,
do NCPC;

b) que seja declarada a conexão com a ação nº 023.16.2004567-9, com o


envio dos autos ao Foro Central da Comarca da Capital;

c) a denunciação à lide de João Dias, brasileiro, casado, comerciante, inscrito


no C.P.F. sob o nº 010.000.000-29, e portador do documento de identidade (RG)
nº 1/R 00.222-6, o qual pode ser citado no seu endereço residencial, na Avenida
Jornalista Rubens de Arruda Ramos, nº 00, bairro Centro, Florianópolis/SC; e de
ACF Seguros do Brasil Ltda., pessoa jurídica de direito privado inscrita no C.N.P.J.
sob o nº 00.090.0001/01, podendo ser citada por meio de sua filial na Av. Mauro
Ramos, nº 01, Centro, Florianópolis/SC, para compor o pólo passivo da presente
demanda;

d) que seja declarada a improcedência do pedido da autora, ante a ausência


de culpa do réu no evento danoso;

e) que seja a autora condenada a pagar multa de 1% (um por cento) sobre o
valor dado à causa, além dos honorários devidos aos patronos do requeridos e das
despesas processuais, a teor do contido no art. 81 do NCPC, em função da litigância
de má-fé;

f) caso Vossa Excelência entenda ser procedente o pedido da autora, que seja
minorada a quantia relativa aos danos pessoais e patrimoniais, pelo anteriormente
exposto;

g) que seja retificado o valor da causa para R$ 12.000,00 (doze mil reais).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Emanuelle Tillmann Biz Luisa Silva Schmidt


OAB/SC 123.456 OAB/SC 987.654

Gabriella Bresciani Rigo André Aldo Pereira


OAB/SC 424.242 OAB/SC 0001

Doc. 01 – Instrumento de Procuração


Doc. 02 – Documento do veículo Corolla.
Doc. 03 – Notificação de Infração de Trânsito sofrida pela Sra. Rosarita Souza
Doc. 04 – Exame de dosagem alcoólica do Sr. José Dias
Doc. 05 – Boletim de Ocorrência do acidente
Doc. 06 – cópia da petição inicial da ação nº 023.16.2004567-9
Doc. 07 – extrato de movimentação processual da ação nº 023.16.2004567-9
Doc. 08 – apólice de seguro do veículo Toyota Corolla

Obs.: As alterações em vermelho foram realizadas pelo editor do Portal Jurídico


Investidura a título de atualização para o Novo Código de Processo Civil.

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