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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª UNIDADE DO JUIZADO

CÍVEL E CRIMINAL DE SALVADOR - BA.

Ação de Reparação de Danos Materiais


Proc. nº. 44556.2013.11.8.99.0001
Autora: MARIA DE TAL
Réu: JOÃO FUANO

JOÃO FULANO, brasileiro, casado, maior, corretor de


imóveis, residente e domiciliado na Rua Zeta, nº 0000 – Centro – em Salvador/BA , já qualificado
na inicial desta querela, vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, para, com
estribo no art. 300 e segs. da Legislação Adjetiva Civil c/c art. 30 da Lei dos Juizados
Especiais(Lei nº. 9.099/95), ofertar a presente

CONTESTAÇÃO,

1
em face de Ação de Reparação de Danos Materiais aforada por MARIA DE TAL, em razão das
justificativa de ordem fática e de direito abaixo estipuladas.

PRELIMINARMENTE

REQUER OS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA.

O Promovido, inicialmente, vem requerer a Vossa Excelência os


benefícios da gratuidade de justiça , por ser pobre, o que faz por declaração neste arrazoado
inicial(LAJ, art. 4º), através de seu bastante procurador, donde ressalva que não pode arcar com
as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio e de sua família, em conformidade com
as disposições da Lei nº 1.060/50, afirmações estas que faz sob as penas da lei.

I – REBATE À DINÂMICA DOS FATOS EXPOSTAS NA INICIAL

A Autora deturpou a realidade dos fatos.

Em verdade, Excelência, inexistiu qualquer promessa de pagamento


do sinistro ocorrido por parte do ora Réu. O mesmo negou-se a pagar as avarias no veículo da
Autora, tendo em vista que, melhor analisando as circunstâncias do acidente, compreendeu que,
na realidade, a culpa recaía sobre a mesma que, inadvertidamente, procedeu com manobra
contrária à diretriz fixada pelo Código de Trânsito .

Assim, vale dizer, a Autora, agindo com imperícia, operou o veículo


com frenagem brusca e de inopino, o que veio a ocasionar a colisão em espécie.
2
II - QUANTO AO MÉRITO

II.1. COLISÃO PELA TRASEIRA – BOLETIM DE OCORRÊNCIA


“PRESUNÇÃO RELATIVA” DE CULPA

É certo que grande parte da doutrina e jurisprudência registra que,


no tocante a acidentes de trânsito, existe a presunção de culpa na medida em que quem trafega
atrás é culpado pelo sinistro, pois é dever guardar distância razoável e segura do veículo que
segue a sua frente, na diretriz do art. 29 do Código de Trânsito Brasileiro .

Entrementes, tal presunção é relativa, maiormente quando em face


de acontecimentos narrados em Boletim de Ocorrência, cedendo diante de prova em contrário, a
qual aponte para eventual responsabilização do próprio condutor do veículo abalroado, como
nos casos de paradas bruscas e desarrazoadas, saídas de estacionamento, ingresso em via
sem os cuidados devidos, etc.

A prova oral a ser colhida nestes autos, será capaz de elidir a


presunção (relativa) que milita contra o Réu.

II.2. DA AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL


CONDUTA EXCLUSIVA CULPOSA DA AUTORA

2
Certo é que não se deve exigir dos motoristas a previsão de
acontecimentos inesperados, como, na hipótese, uma frenagem abrupta, em que pese o Réu ter
mantida a distância segura entre os veículos sinistrados.

Decerto não há culpa a ser atribuída ao Réu, posto que não poderia
prever a repentina parada do veículo da Autora no meio da via .

De outro bordo, o próprio Código de Trânsito Brasileiro estabelece


que é vedada a frenagem brusca, quando assim disciplina:

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

Art. 42 – Nenhum condutor deverá frear bruscamente seu veículo,


veículo, salvo por
razões de segurança.

Em consonância com o magistério de Arnaldo Rizzardo, lançando


comentários acerca da disposição legal cima descrita, este professa que:

“Muitos acidentes decorrem da frenagem brusca e repentina do veículo que trafega


à frente, a qual, por ser totalmente impressiva, nã o dá temo e condiçõ es para que o
motorista que vem atrá s para o veículo, ou desvie para evitar o choque.
(...)

2
Na colisã o por trá s, embora a presunçã o de culpa seja daquele que bate, pois deve
sempre manter certa distâ ncia de segurança (art. 29, II), sabe que esse princípio é
relativo, afastando-se a culpa se demonstrado que o veículo da frente agiu de
forma imprudente e com manobra desnecessá ria, situaçã o comum da freada
repentina (como já referido no item 5.2.)
Isso ocorre pelo fato de que, parando o motorista o veículo repentinamente, ou de
inopino, nã o pode pretender se beneficiar da presunçã o de culpa daquele que o
abalroa por trá s. “ (ARNALDO, Rizzardo. A reparação nos acidentes de trânsito: Lei
9.503, de 23.09.1997.
23.09.1997. 11ª Ed. Sã o Paulo: RT, 2010. Pá gs. 301-302)

Desta maneira, Excelência, comprovar-se-á que a culpa é exclusiva


da Promovente, ou, no mínimo, de forma concorrente, pelos motivos supra aludidos.

REPARAÇÃO DE DANOS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO TRASEIRA. COLISÃO


TRASEIRA. FRENAGEM ABRUPTA. CULPA CONCORRENTE.
CONCORRENTE. ATRIBUIÇÃO DE PARCELA
IGUALITÁRIA DE RESPONSABILIDADE PELO SINISTRO.
I - Não há nulidade a ser reconhecida na sentença. Muito embora não tenha constado
no dispositivo a improcedência do pedido contraposto, trata-se de conseqüência lógica
da conclusão, exarada na sentença, de que a recorrente foi responsável pelo sinistro
(culpa exclusiva), ensejando o dever de indenizar os danos causados no veículo da
parte autora.
II - Tratando-se de colisão traseira, presume-se a culpa daquele que colide atrás, por
não observar as regras de trânsito, especialmente, quanto à distância regulamentar.
2
III - Ocorre que, no caso concreto, as partes trafegavam na rodovia - Ers 130, devendo
ser levado em conta que a parte autora freou de forma abrupta.
abrupta.
lV - A testemunha corroborou a tese de que a recorrente colidiu no veículo da autora
depois que esta freou para evitar atropelamento de pessoa que atravessou a faixa. Ou
seja, a colisão do automóvel da recorrente na traseira do veículo da autora teve como
causa frenagem brusca, em face da travessia inesperada pelo pedestre.
V - Culpa concorrente evidenciada, na medida em que a recorrente não observou a
distância regulamentar do veículo da recorrida, permitindo o acionamento do freio,
em tempo hábil, ou então, o desvio seguro. Em contrapartida, contribuiu para
ocorrência do sinistro ao frear repentinamente.
repentinamente.
VI - Reconhecido o dever de reparação dos danos materiais, na proporção da
culpabilidade de cada uma das partes. Características do sinistro que permitem
concluir pela culpa em igual proporção, cada um arcar 50% dos prejuízos suportados
pela parte adversa. Recurso parcialmente provido. (TJRS
(TJRS - RecCv 2719-
42.2012.8.21.9000; Lajeado; Primeira Turma Recursal Cível; Relª Desª Fernanda
Carravetta Vilande; Julg. 22/03/2012; DJERS 26/03/2012)

JUIZADOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL. AÇÃO REPARATÓRIA DE DANOS. ACIDENTE DE


VEÍCULOS. COLISÃO NA PARTE TRASEIRA. FRENAGEM BRUSCA DO VEÍCULO QUE
SEGUE NA DIANTEIRA. MANOBRA INESPERADA E IMPREVISÍVEL.
IMPREVISÍVEL. PRESUNÇÃO
ELIDIDA. VIA DE TRÂNSITO RÁPIDO. PROVA TESTEMUNHAL CONTRÁRIA A VERSÃO
AUTORAL. CULPA NÃO CONFIGURADA. RESPONSABILIDADE CIVIL NÃO
CARACTERIZADA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

2
1. Presume-se culpado pelo acidente automobilístico quem colide na traseira. Ao
motorista que segue atrás impõe a Lei de trânsito o dever de guardar distância de
segurança, manter velocidade adequada em relação ao veículo que segue à frente e
avaliar as condições do tráfego. art. 29, II, da Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito
Brasileiro.
2. No caso concreto, as declarações prestadas por testemunha presencial do acidente
(fl. 98) confirmam a versão do Réu-Recorrido de que o condutor do veículo da Autora-
Recorrente efetuou manobra inesperada e imprevisível para a via de trânsito rápido
em que transitava (Eixão Sul), freando bruscamente seu automotor e assim dando
causa ao abalroamento.
abalroamento. Moldura fática extraída dos autos que inviabiliza a pretendida
imputação de culpa exclusiva ao motorista que bateu na traseira, que não teria agido
de modo negligente e/ou imprudente. Responsabilidade civil não configurada. Dever
de indenizar prejuízo material não reconhecido.
3. Recurso conhecido e improvido. Sentença confirmada por seus próprios
fundamentos.
4. Em face da sucumbência, fixo honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre
o valor corrigido da causa, devendo também a Recorrente suportar o pagamento das
custas processuais, conforme disposição expressa no caput do art. 55 da Lei nº
9.099/95. No entanto, respeitado o prazo prescricional previsto no art. 12 da Lei nº
1.060/50, fica suspensa dita condenação enquanto perdurar o estado de
miserabilidade jurídica alegado pela Autora.
5. Acórdão lavrado por Súmula de julgamento, conforme permissão posta no artigo 46
da Lei dos Juizados Especiais Estaduais Cíveis. (TJDF
(TJDF - Rec 2010.01.1.064481-6; Ac.
578.669; Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Relª Juíza
Diva Lucy de Faria Pereira; DJDFTE 17/04/2012; Pág. 341)
2
Sabe-se, mais, que a quase totalidade da doutrina pátria aponta três
elementos básicos da responsabilidade civil, quais sejam: a conduta humana, o dano ou prejuízo
e o nexo causal entre os dois primeiros elementos.

O primeiro elemento da responsabilidade civil é a conduta humana,


que pode ser positiva ou negativa e tem por núcleo uma ação voluntária, que resulte da
liberdade de escolha do agente, com discernimento necessário para ter consciência daquilo que
faz. E nesse sentido, seria inadmissível imputar ao agente a prática de um ato involuntário.

Cumpre ressaltar, porém, que a voluntariedade da conduta humana


não traduz necessariamente a intenção de causar o dano, mas a consciência daquilo que se faz,
o conhecimento dos atos materiais que se está praticando, não exigindo, necessariamente, a
consciência subjetiva da ilicitude do ato.

O segundo elemento é o dano ou prejuízo, que traduz uma lesão a


um interesse jurídico material ou moral. A ocorrência deste elemento é requisito indispensável
para a configuração da responsabilidade.

Nesse sentido é a lição de Sérgio Cavalieri Filho, citado pelo


doutrinador Pablo Stolze Gagliano, em sua obra "Novo Curso de Direito Civil":

2
"O dano é, sem dú vida, o grande vilã o da responsabilidade civil. Nã o haveria que se
falar em indenizaçã o, nem em ressarcimento, se nã o houvesse o dano. Pode haver
responsabilidade sem culpa, mas nã o pode haver responsabilidade sem dano.(in
dano.(in,,
Novo Curso de Direito Civil.
Civil. 10ª Ed. Sã o Paulo: Saraiva, 2012, p. 82).

O último elemento essencial da responsabilidade civil é o nexo de


causalidade, que se trata de um elo etiológico, um liame que une a conduta do agente ao dano,
sendo que somente se responsabilizará alguém cujo comportamento positivo ou negativo tenha
dado causa ao prejuízo, pois sem a relação de causalidade não existe a obrigação de indenizar.

Nesse exato enfoque, convém ressaltar as lições de Sílvio de Salvo


Venosa:

“O conceito de nexo causal, nexo etioló gico ou relaçã o de causalidade deriva das
leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame
da relaçã o causal que se conclui quem foi o causador do dano. Trata-se de
elemento indispensável.
indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas
nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, nã o
identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsá vel, nã o há como ser
ressarcida. Nem sempre é fá cil, no caso concreto, estabelecer a relaçã o de causa e
efeito. “ (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 12ª Ed. Atlas,
2012, vol. 4. Pá g. 53)
(destacamos)

2
Também por este prisma é o entendimento do saudoso professor
Orlando Gomes:

“54. Nexo causal.


causal. Para o ato ilícito ser fonte da obrigaçã o de indenizar é preciso
uma relação de causa e efeito entre o ato (fato) e o dano. A essa relaçã o chama-se
de nexo causal.
Se o dever de indenizar o prejuízo causado é a sançã o imposta pela lei a quem
comente ato ilícito, necessá rio se torna eu o dano seja consequência da conduta de
quem o produziu.
(...)
Indispensá vel é a conexão causal.
causal. Se o dano provém de outra circunstâ ncia, ainda
que pela atitude culposa do agente tivesse de ocorrer, este nã o se torna
responsá vel, uma vez que nã o relaçã o de causa e efeito. “ (GOMES, Orlando.
Responsabilidade civil.
civil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. Pá g. 79)

E é o caso em ensejo, pois que a causa do evento(colisão) foi


unicamente da autora, na medida que fez uma parada brusca e repentina, em desacordo
inclusive com o Código Brasileira de Trânsito, ou seja, houve culpabilidade exclusiva da mesma,
não existindo nexo de causalidade quanto ao comportamento atribuído ao Réu.

Sobre a culpa exclusiva, oportuna se faz, aqui, a transcrição das


valiosas considerações tecidas por Rui Stoco:

2
"O evento danoso pode resultar de culpa exclusiva ou concorrente da vítima. A
culpa exclusiva é causa de isenção da responsabilidade, por ausência do nexo
causal. Concorrendo a culpa da vítima com a do agente causador do dano, a
sua responsabilidade é mitigada,
mitigada, segundo o critério estabelecido no art. 945 do
Código Civil, ou seja, a indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade
da culpa da vítima em confronto com a do autor do dano. Assim, a culpa da
vítima quando contribui para a eclosão do evento, sem ser a sua causa
exclusiva, influi na indenização, ensejando a repartição proporcional dos
prejuízos sofridos" (In
(In,, Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: RT, 6ª
edição. p.1495/1496).

Em se tratando de culpa exclusiva da vítima, conveniente agregar as


seguintes notas de jurisprudência:

APELAÇÃO AÇÃO INDENIZATÓRIA DANOS MORAIS ACIDENTE DE TRÂNSITO


CONTRATO DE TRANSPORTE PASSAGEIRO QUE PULA DE TREM EM MOVIMENTO
A empresa responsável pelo transporte de passageiros responde objetivamente pelos
danos causados àqueles, em virtude de acidente, independentemente da prova da
culpa, sendo suficiente a prova da existência da relação de causalidade entre o fato e o
dano Autor que, contudo, não se desincumbiu de seu ônus probatório Não
evidenciada a responsabilidade da transportadora pelo acidente ocorrido Excludente
de culpabilidade Caracterizada culpa exclusiva da vítima, que, por sua conta e risco,
saltou de trem em movimento Danos morais não caracterizados Indenização indevida
Sentença mantida Apelo improvido. ". (TJSP
(TJSP - APL 9260345-14.2008.8.26.0000; Ac.

2
6420477; Itapevi; Vigésima Quarta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Salles Vieira;
Julg. 13/12/2012; DJESP 10/01/2013)

ACIDENTE DE VEÍCULO AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ PERMANENTE.


Atropelamento Vítima que atravessou a pista de inopino. Culpa exclusiva da vítima
Comprovação. Indenização indevida Ação improcedente Recurso desprovido. (TJSP
(TJSP -
APL 0008030-23.2008.8.26.0526; Ac. 6331240; Salto; Trigésima Quinta Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. Melo Bueno; Julg. 12/11/2012; DJESP 10/01/2013)

Assim, Excelência, tem-se que houvera, in casu, frenagem brusca


em momento rodoviário que assim não o exigia, elidindo-se qualquer responsabilidade a ser
imputada ao Réu.

De outra sorte, caso Vossa Excelência entenda que não existiu culpa
exclusiva da Autora, mas parcial e concorrente, defende-se que cada responsável deverá pagar
a metade dos prejuízos experimentados pelo outro, conforme jurisprudência consagrada:

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO COMISSIVO.


ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATROPELAMENTO DE CICLISTA. VIA DE TRÁFEGO INTENSO.
INEXISTÊNCIA DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. RECONHECIMENTO DE CULPA
CONCORRENTE.
CONCORRENTE. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. DEVIDA.
CORREÇÃO E JUROS DE ACORDO COM AS SÚMULAS NºS 54 E 362 DO STJ. RECURSO
RECEBIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. ADESIVO IMPROVIDO. SENTENÇA
REFORMADA EM PARTE.
2
In casu, acolho a tese de culpa concorrente vez que a culpa do acidente se deu tanto
por culpa da vítima que em sua bicicleta saiu da ciclovia atravessando a pista interna
sem a devida atenção em via de tráfego intenso, como por culpa do motorista do
ônibus que trafegava com velocidade alta, sem os cuidados necessários ao local do
sinistro. De acordo com o Código de Trânsito, o motorista deve dirigir com atenção e
os cuidados necessários de modo que evite acidentes, inclusive em local de tráfego
intenso como o do fato, que exige atenção redobrada, em face dos inúmeros
pedestres e ciclistas que por ali passam diariamente. A prova colacionada aos fólios,
evidencia que o acidente se deu por culpa concorrente do preposto da apelante e do
esposo da apelada, entretanto, não há como afastar a responsabilidade civil da
empresa ré, vez que a concorrência de culpas ocorre quando a vítima e o agente
concorrem para o aparecimento do dano, havendo uma repartição de culpas e de
responsabilidade, funcionando a culpa concorrente apenas como atenuante e não
como causa de exclusão da responsabilidade. Denotase
Denotase in casu, que o motorista não
dispensou a atenção e os cuidados necessários ao local do sinistro, como disse a
testemunha Joelma Rodrigues: "... Que o ciclista foi colhido pela carreta quando estava
atravessando a pista interna e já nas proximidades da calçada. .." local este que seria
indispensável maior atenção do condutor do veículo, mormente por se tratar de uma
carreta. O valor fixado a título de danos materiais em R$ 117.522,60, reduzido à
metade em razão da culpa recíproca, esta compatível com os ditames jurisprudenciais
e doutrinários, vez que se deve considerar aquilo que a vítima efetivamente
contribuiria para seus dependentes, se viva estivesse, considerando seus gastos
pessoais, conforme o disposto no artigo 948, inc. II do Código Civil. O quantum fixado
no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), reduzido à metade,
metade, não se mostrando
tão alto, a ponto de proporcionar o enriquecimento sem causa, nem tão baixo, a ponto
2
de não ser sentido no patrimônio do responsável pela lesão, considerando o grau de
culpa e a situação econômica do ofensor, a potencialidade lesiva do dano e a
necessidade da vítima. Ante o reconhecimento da culpa concorrente devidamente
comprovada, as razões do recurso adesivo não merecem guarida, devendo a sentença
nesse ponto, permanecer intacta. Com relação a correção monetária e os juros fixados,
estes devem seguir a orientação das Súmulas nºs 54 e 362 do STJ. Quanto aos
honorários de sucumbência, em face de terem sido reduzidos à metade em sede de
embargos de declaração (fls. 411/413), devem permanecer, eis que observada a norma
processual vigente. Sentença que se reforma somente quanto ao marco inicial da
correção e dos juros fixados no decisório a quo. Recurso conhecido e provido em
parte. Adesivo improvido. Sentença parcialmente reformada. (TJCE
(TJCE - AC 0420905-
0420905-
19.2000.8.06.0001; Oitava Câmara Cível; Rel. Des. Váldsen da Silva Alves Pereira; DJCE
14/01/2013; Pág. 60)

CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE DA VÍTIMA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.


AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. CULPA
CONCORRENTE EVIDENCIADA.
EVIDENCIADA. DANOS MATERIAIS E MORAIS. REDUÇÃO PELA
METADE.
METADE. RENDIMENTOS. AUSÊNCIA DE PROVA. SALÁRIO MÍNIMO. CONSTITUIÇÃO
DE CAPITAL. DANOS MORAIS. COMPENSAÇÃO. SEGURO DPVAT. INVIABILIDADE. LIDE
SECUNDÁRIA. SEGURADORA. RESPONSABILIDADE. COBERTURA CONTRATADA. I. A ré
não é permissionária de serviço público e a atividade por ela desenvolvida não implica
risco excepcional à integridade física de alguém, de modo que são inaplicáveis os art.
37, § 6º, da Constituição Federal, e art. 927, parágrafo único, do Código Civil, cujas
normas traçam os pressupostos para a configuração da responsabilidade civil objetiva.
2
II. A análise dos elementos probatórios coligidos revela que tanto a vítima como o
agente contribuíram para o evento danoso, de modo que a ambos deve ser imputada a
culpa pela produção do resultado. Assim, os danos materiais e morais devem ser
fixados pela metade do valor que seria devido.
devido.
III. Na inexistência de prova acerca dos rendimentos percebidos pela vítima, adota-se
no cálculo da pensão mensal o valor de 01 (um) salário mínimo, que deve ser
atualizado de acordo com as alterações posteriores, devendo ser constituído capital
para garantir o pagamento. Súmulas nºs 490/STF e 313/STJ.
lV. As parcelas vencidas deverão ser pagas em única vez.
VII. A morte de um ente querido causa uma série de danos, sobressaindo a profunda
dor causada aos familiares, de modo que é devida a retribuição pecuniária pelos danos
morais, sem a possibilidade de compensá-la com a importância recebida a título de
seguro obrigatório.
VIII. Em se tratando de responsabilidade extracontratual, os juros moratórios fluem a
partir do evento e a correção monetária a partir da data em que fixado o valor.
IX. A obrigação da seguradora restringe-se à cobertura contratada pelos danos
materiais.
X. Deu-se parcial provimento ao recurso. (TJDF
(TJDF - Rec 2009.05.1.011548-7; Ac. 643.417;
Sexta Turma Cível; Rel. Desig. Des. José Divino de Oliveira; DJDFTE 09/01/2013; Pág.
149)

Também por este prisma é o entendimento de Fábio Ulhoa Coelho, o


qual sustenta que:

2
“É obrigató ria a reduçã o proporcional da indenizaçã o independentemente da
natureza do dano. A culpa concorrente da vítima reduz o crédito tanto da
indenizaçã o dos danos patrimoniais como dos extrapatrimoniais. Se o prejuízo no
patrimô nio e a dor experimentada pelo sujeito ativo deveram-se, em parte, à sua
pró pria negligência, imprudência, imperícia ou ato intencional, o valor da
indenizaçã o deve ser fixado de modo a refletir esse fato. “ (COELHO, Fá bio Ulhoa.
Curso de Direito Civil, volume 2: obrigações: responsabilidade civil. 5ª Ed. Sã o Paulo,
Saraiva, 2012. Pá g. 418)

Como se vê, pela nota jurisprudencial supra aludida, assim como as


lições doutrinárias em evidência, constatada a culpa concorrente – em que pese o Réu defender
a culpa exclusiva da Autora -- , configura-se o dever recíproco de reparar os danos causados
pela colisão.

II.3. DOS LUCROS CESSANTES


NÃO HÁ PROVA EFETIVA DO PREJUÍZO – DANO HIPOTÉTICO

A Autora, de outro modo, afirma que deve o Réu ser condenado em


lucros cessantes, na medida em que a Autora, que é dentista, terá dificuldades em atender seus
clientes, visto ser o veículo sinistrado seu único disponível para transporte próprio ao seu
trabalho. Deixará, assim, segundo a mesma, de auferir lucros em face da impossibilidade de
trafegar com seu único meio de transporte particular.

Absurda a pretensão.
2
Como se sabe, o dano material consiste na diminuição do patrimônio
da vítima, tanto pelo efetivamente perdido ( dano emergente), quanto pelo que razoavelmente se
deixou de ganhar (lucros cessantes).

Para que haja o deferimento do pleito de indenização por lucros


cessantes, é necessário destacar que é indispensável a prova da ocorrência do efetivo prejuízo ,
não bastando para tanto a existência de mera expectativa de ganho, vez que referida
indenização não abrange dano hipotético, que é justamente o alegado pela Autora.

Restringem, portanto, os lucros cessantes ao ganho que a parte


razoavelmente deixou de auferir em decorrência da não-utilização da coisa danificada. Dessa
forma, a indenização deve ser fundada em premissas seguras de modo a não contemplar lucros
imaginários ou hipotéticos. A intelecção da expressão razoavelmente deixou de lucrar, inserta na
Legislação Substantiva Civil.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos


devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar.

Convém ressaltar o posicionamento doutrinário de Caio Mário da


Silva Pereira:

"Em qualquer caso, todavia, somente terá direito ao ressarcimento ao dano


direto e concreto; e ao dano indireto somente se produzido por causalidade
2
necessá ria. O dano indireto ou remoto, como o dano hipotético,
hipotético, não pode
ser objeto de indenização,
indenização, ainda que o fato gerador seja procedimento
doloso do réus debendi.
debendi. “ (PEREIRA, Caio Má rio da Silva. Responsabilidade
Civil.
Civil. 10ª Ed. Rio de Janeiro: GZ Ed., 2012. Pá g. 412).
(não existem os negritos e sublinhados no texto original)
original)

Nesse sentido:

DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E


MORAIS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. DESNECESSIDADE. INSTITUIÇÃO DE
ENSINO SUPERIOR. CANCELAMENTO DE TURMA POR AUSÊNCIA DE QUORUM
MÍNIMO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONTRATUAL. CONDUTA LÍCITA. LUCROS
CESSANTES. DESCABIMENTO. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO
AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. REPARAÇÃO INDEVIDA.
1. A inversão do ônus da prova, na forma do art. 6º, inciso VIII, do CDC, exige a
verossimilhança das alegações do autor e a sua hipossuficiencia, como tal entendida a
dificuldade de o consumidor demonstrar o fato que afirma, situações que não se
caracterizam quando já existe nos autos contrato que esclarece os fatos alegados na
inicial.
2. Não evidencia a ocorrência de ato ilícito o cancelamento de turma de instituição de
ensino superior, em razão de não atingir o quórum mínimo, quando já previsto no
contrato firmado entre as partes essa possibilidade.
3. Não havendo conduta ilícita por parte da instituição de ensino, não há que se falar
em indenização por lucros cessantes, que, inclusive, exige comprovação, não sendo
cabível a mera presunção.
2
4. O dano moral, passível de ser indenizado, é aquele que afeta a dignidade da pessoa
humana, não se referindo a qualquer dissabor, aborrecimento ou contrariedade. O
fato ofensivo deve ser de tal monta a causar um desequilíbrio psicológico na vitima.
5. Recurso conhecido e improvido. (TJDF
(TJDF - Rec 2010.07.1.027509-8; Ac. 645.508;
Primeira Turma Cível; Relª Desª Simone Lucindo; DJDFTE 16/01/2013; Pág. 215)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS.


Contrato verbal de publicidade, marketing e campanha publicitária. Sentença de
parcial procedência. Recurso unicamente da empresa autora. Pleito pela indenização
da integralidade dos danos materiais suportados. Impossibilidade. Insuficiência dos
documentos unilateralmente produzidos pela empresa autora, apócrifos e sem data da
confecção e discriminação dos produtos e/ou serviços efetivamente prestados.
Imprestabilidade dos relatórios internos da empresa autora por ausência de
escrituração contábil no livro diário. Pleito de majoração da indenização por danos
emergentes afastado. Pleito pela indenização por lucros cessantes. Alegação de ter o
inadimplemento prejudicado investimentos da empresa autora. Impossibilidade.
Ausência de indícios de prova a corroborar a versão narrada na inicial. Inaplicabilidade
da presunção de lucros cessantes. Crise financeira não imputável à federação
demandada. Lucros cessantes afastados. Insurgência quanto à compensação dos
honorários advocatícios estabelecida em sentença. Subsistência. Verba autônoma
pertencente ao advogado. Exegese do artigo 23 do Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil. Impossibilidade de compensação ante a falta de identidade de credores e
devedores. Inteligência do artigo 368 do Código Civil. Prevalência do princípio da
valorização do trabalho e da dignidade da pessoa humana. Recurso parcialmente
2
provido. (TJSC
(TJSC - AC 2009.052457-6; Capital; Primeira Câmara de Direito Civil; Relª Desª
Subst. Denise Volpato; Julg. 18/12/2012; DJSC 08/01/2013; Pág. 112)

Desta maneira, não há como acolher a pretensão da Autora, vez que


almeja ressarcimento de um dano meramente hipotético, o que é rechaçado pelo Código Civil.

II.4. QUANTO AOS ORÇAMENTOS A COBRIREM OS DANOS MATERIAIS

A Autora pleiteia na inicial o pagamento de indenização por dano


material no valor de R$ 3.458,61 (três mil quatrocentos e cinqüenta e oito reais e sessenta e um
centavos), baseado em três orçamentos de oficinas não especializadas, optando, no entanto,
pelo maior valor apontado nos referidos orçamentos.

O Réu, desde já, infirma aludidos orçamentos, maiormente


porquanto ( i ) não há discriminação das peças a serem colocadas e a mão-de-obra necessária a
reparação do veículo sinistrado, de propriedade da Autora. ( ii ) Ademais, uma das oficinas
destacadas(Oficina Xulipa Ltda) é “ especializada na Marca Suzuki”, modelo totalmente
divergente pelo utilizado pela Promovente(Fiat). ( iii ) Não são, ademais, oficinas especializas.

A propósito, nos dizeres de Arnaldo Rizzardo, a hipótese traduz


como ausência de prova do dano, quando assim professa:

2
“Em grande nú mero dos casos, especialmente nos acidentes de trâ nsito, os danos
acontecem apenas nos bens, sem consequências físicas nas pessoas envolvidas. Por
isso, a maior parte das lides pendentes nos juízos cíveis dizem respeito aos
prejuízos materiais verificados. Embora a questã o aparentemente revele
simplicidade, muitas situaçõ es e vários aspectos reclamam um exame
pormenorizado.
(...)
Ela determina a indenizaçã o calculada em funçã o do valor do dano. Torna-se
necessá ria para dimensionar a extensã o da quantia exigida para a reposiçã o do
bem. A vítima providenciará no conserto dos estragos, mas previamente fará a
estimativa do dispêndio total, através de orçamentos, colhidos em mais de uma
casa especializada.
(...)
Com frequência, verifica-se prévia combinaçã o entre os que prestam serviços e os
usuá rios, especialmente em oficinas mecâ nicas, com a finalidade de elevarem os
preços artificialmente, nã o vindo a expressar a verdade os documentos. Mesmo as
oficinas entre realizam tramas fraudulentas, elevando os preços acima da
realidade.
(...)
Uma presunçã o em favor da seriedade dos dados técnicos, significativos dos gastos
nos serviços de recuperaçã o, diz respeito à fonte que forneceu os orçamentos. Se
forem elaborados por estabelecimentos especializados ( no caso de veículos por
revendedoras autorizadas), aptos a reporem os bens nas condiçõ es anteriores, têm
preferência sobre outros, provenientes de prestadores nã o categorizados.
(...)

2
Mas seja qual for a quantidade, para emprestar-lhes validade, devem conter
minuciosa e completa descriçã o das partes a serem substituídas, dos serviços a
precisarem de execuçã o e dos materiais obrigató rios reclamados em lugar de
outros, com particularizaçã o e discriminaçã o dos respectivos valores. “
(RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
Pá gs. 59-61)

Na hipótese em espécie, caso não haja a improcedência total dos


pedidos formulados nesta ação, temos que o orçamento a ser adotado será o de menor valor.

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL - REFORMA DA SENTENÇA DE


PRIMEIRO GRAU - SENTENÇA ULTRA PETITA - DANO EMERGENTE NO LIMITE
DO PEDIDO - LUCROS CESSANTES - VALOR ARBITRADO TENDO POR BASE A
RENDA QUE DEIXOU DE AFERIR - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
PROVIDO.
1. Na reparação por danos emergentes, quando a matéria em foco é a
indenização em decorrência de acidente de veículos, deve-se tomar como base
para o arbitramento de tal quantia os orçamentos fornecidos por oficinas
idôneas,
idôneas, prevalecendo assim o menor valor.
valor.
2. Os lucros cessantes não podem ser reconhecidos sob parâmetros superiores
aos da petição inicial, devendo com isso ser arbitrado em relação ao
faturamento da mesma, objetivando desta forma alcançar o valor real a ser
reparado. (TJES
(TJES - AC 024030122279 - 2ª C.Cív. - Rel. Des. Álvaro Manoel Rosindo
Bourguignon - J. 22.02.2005)

2
III – EM CONCLUSÃO

Em arremate, pleiteia o Réu que Vossa Excelência se digne de tomar


as seguintes providências:

(1) pleiteia que sejam JULGADOS


IMPROCEDENTES OS PEDIDOS formulados nesta
ação de reparação de danos, em face da culpa exclusiva
da Autora ou pela ausência de prova do dano;

(2) como requerimento sucessivo (CPC, art. 289), seja


acolhida parcialmente a pretensão da Autora, de sorte a
determinar que cada parte pague a metade do prejuízo
da outra, levando-se em conta a possível culpa
concorrentes de ambos litigantes;

(3) ainda sucessivamente, caso não acolhidos os


fundamentos anteriores, pede seja indeferido o pedido
de indenização com base no maior orçamento,
prevalecendo o de menor valor;

(4) deferir a prova do alegado por todos os meios de


provas admitidas em direito(art. 5º, inciso LV, da Lei
2
Fundamental.), notadamente pelo depoimento pessoal da
Autora, oitiva da testemunha que comparecerá à
audiência de instrução, juntada posterior de documentos
como contraprova, tudo de logo requerido.

Respeitosamente, pede deferimento.

Salvador (BA), 00 de janeiro de 0000.

Fulano de Tal
Advogado – OAB/BA 0000

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