CONTESTAÇÃO,
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em face de Ação de Reparação de Danos Materiais aforada por MARIA DE TAL, em razão das
justificativa de ordem fática e de direito abaixo estipuladas.
PRELIMINARMENTE
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Certo é que não se deve exigir dos motoristas a previsão de
acontecimentos inesperados, como, na hipótese, uma frenagem abrupta, em que pese o Réu ter
mantida a distância segura entre os veículos sinistrados.
Decerto não há culpa a ser atribuída ao Réu, posto que não poderia
prever a repentina parada do veículo da Autora no meio da via .
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Na colisã o por trá s, embora a presunçã o de culpa seja daquele que bate, pois deve
sempre manter certa distâ ncia de segurança (art. 29, II), sabe que esse princípio é
relativo, afastando-se a culpa se demonstrado que o veículo da frente agiu de
forma imprudente e com manobra desnecessá ria, situaçã o comum da freada
repentina (como já referido no item 5.2.)
Isso ocorre pelo fato de que, parando o motorista o veículo repentinamente, ou de
inopino, nã o pode pretender se beneficiar da presunçã o de culpa daquele que o
abalroa por trá s. “ (ARNALDO, Rizzardo. A reparação nos acidentes de trânsito: Lei
9.503, de 23.09.1997.
23.09.1997. 11ª Ed. Sã o Paulo: RT, 2010. Pá gs. 301-302)
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1. Presume-se culpado pelo acidente automobilístico quem colide na traseira. Ao
motorista que segue atrás impõe a Lei de trânsito o dever de guardar distância de
segurança, manter velocidade adequada em relação ao veículo que segue à frente e
avaliar as condições do tráfego. art. 29, II, da Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito
Brasileiro.
2. No caso concreto, as declarações prestadas por testemunha presencial do acidente
(fl. 98) confirmam a versão do Réu-Recorrido de que o condutor do veículo da Autora-
Recorrente efetuou manobra inesperada e imprevisível para a via de trânsito rápido
em que transitava (Eixão Sul), freando bruscamente seu automotor e assim dando
causa ao abalroamento.
abalroamento. Moldura fática extraída dos autos que inviabiliza a pretendida
imputação de culpa exclusiva ao motorista que bateu na traseira, que não teria agido
de modo negligente e/ou imprudente. Responsabilidade civil não configurada. Dever
de indenizar prejuízo material não reconhecido.
3. Recurso conhecido e improvido. Sentença confirmada por seus próprios
fundamentos.
4. Em face da sucumbência, fixo honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre
o valor corrigido da causa, devendo também a Recorrente suportar o pagamento das
custas processuais, conforme disposição expressa no caput do art. 55 da Lei nº
9.099/95. No entanto, respeitado o prazo prescricional previsto no art. 12 da Lei nº
1.060/50, fica suspensa dita condenação enquanto perdurar o estado de
miserabilidade jurídica alegado pela Autora.
5. Acórdão lavrado por Súmula de julgamento, conforme permissão posta no artigo 46
da Lei dos Juizados Especiais Estaduais Cíveis. (TJDF
(TJDF - Rec 2010.01.1.064481-6; Ac.
578.669; Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Relª Juíza
Diva Lucy de Faria Pereira; DJDFTE 17/04/2012; Pág. 341)
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Sabe-se, mais, que a quase totalidade da doutrina pátria aponta três
elementos básicos da responsabilidade civil, quais sejam: a conduta humana, o dano ou prejuízo
e o nexo causal entre os dois primeiros elementos.
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"O dano é, sem dú vida, o grande vilã o da responsabilidade civil. Nã o haveria que se
falar em indenizaçã o, nem em ressarcimento, se nã o houvesse o dano. Pode haver
responsabilidade sem culpa, mas nã o pode haver responsabilidade sem dano.(in
dano.(in,,
Novo Curso de Direito Civil.
Civil. 10ª Ed. Sã o Paulo: Saraiva, 2012, p. 82).
“O conceito de nexo causal, nexo etioló gico ou relaçã o de causalidade deriva das
leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame
da relaçã o causal que se conclui quem foi o causador do dano. Trata-se de
elemento indispensável.
indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas
nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, nã o
identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsá vel, nã o há como ser
ressarcida. Nem sempre é fá cil, no caso concreto, estabelecer a relaçã o de causa e
efeito. “ (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 12ª Ed. Atlas,
2012, vol. 4. Pá g. 53)
(destacamos)
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Também por este prisma é o entendimento do saudoso professor
Orlando Gomes:
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"O evento danoso pode resultar de culpa exclusiva ou concorrente da vítima. A
culpa exclusiva é causa de isenção da responsabilidade, por ausência do nexo
causal. Concorrendo a culpa da vítima com a do agente causador do dano, a
sua responsabilidade é mitigada,
mitigada, segundo o critério estabelecido no art. 945 do
Código Civil, ou seja, a indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade
da culpa da vítima em confronto com a do autor do dano. Assim, a culpa da
vítima quando contribui para a eclosão do evento, sem ser a sua causa
exclusiva, influi na indenização, ensejando a repartição proporcional dos
prejuízos sofridos" (In
(In,, Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: RT, 6ª
edição. p.1495/1496).
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6420477; Itapevi; Vigésima Quarta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Salles Vieira;
Julg. 13/12/2012; DJESP 10/01/2013)
De outra sorte, caso Vossa Excelência entenda que não existiu culpa
exclusiva da Autora, mas parcial e concorrente, defende-se que cada responsável deverá pagar
a metade dos prejuízos experimentados pelo outro, conforme jurisprudência consagrada:
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“É obrigató ria a reduçã o proporcional da indenizaçã o independentemente da
natureza do dano. A culpa concorrente da vítima reduz o crédito tanto da
indenizaçã o dos danos patrimoniais como dos extrapatrimoniais. Se o prejuízo no
patrimô nio e a dor experimentada pelo sujeito ativo deveram-se, em parte, à sua
pró pria negligência, imprudência, imperícia ou ato intencional, o valor da
indenizaçã o deve ser fixado de modo a refletir esse fato. “ (COELHO, Fá bio Ulhoa.
Curso de Direito Civil, volume 2: obrigações: responsabilidade civil. 5ª Ed. Sã o Paulo,
Saraiva, 2012. Pá g. 418)
Absurda a pretensão.
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Como se sabe, o dano material consiste na diminuição do patrimônio
da vítima, tanto pelo efetivamente perdido ( dano emergente), quanto pelo que razoavelmente se
deixou de ganhar (lucros cessantes).
Nesse sentido:
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“Em grande nú mero dos casos, especialmente nos acidentes de trâ nsito, os danos
acontecem apenas nos bens, sem consequências físicas nas pessoas envolvidas. Por
isso, a maior parte das lides pendentes nos juízos cíveis dizem respeito aos
prejuízos materiais verificados. Embora a questã o aparentemente revele
simplicidade, muitas situaçõ es e vários aspectos reclamam um exame
pormenorizado.
(...)
Ela determina a indenizaçã o calculada em funçã o do valor do dano. Torna-se
necessá ria para dimensionar a extensã o da quantia exigida para a reposiçã o do
bem. A vítima providenciará no conserto dos estragos, mas previamente fará a
estimativa do dispêndio total, através de orçamentos, colhidos em mais de uma
casa especializada.
(...)
Com frequência, verifica-se prévia combinaçã o entre os que prestam serviços e os
usuá rios, especialmente em oficinas mecâ nicas, com a finalidade de elevarem os
preços artificialmente, nã o vindo a expressar a verdade os documentos. Mesmo as
oficinas entre realizam tramas fraudulentas, elevando os preços acima da
realidade.
(...)
Uma presunçã o em favor da seriedade dos dados técnicos, significativos dos gastos
nos serviços de recuperaçã o, diz respeito à fonte que forneceu os orçamentos. Se
forem elaborados por estabelecimentos especializados ( no caso de veículos por
revendedoras autorizadas), aptos a reporem os bens nas condiçõ es anteriores, têm
preferência sobre outros, provenientes de prestadores nã o categorizados.
(...)
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Mas seja qual for a quantidade, para emprestar-lhes validade, devem conter
minuciosa e completa descriçã o das partes a serem substituídas, dos serviços a
precisarem de execuçã o e dos materiais obrigató rios reclamados em lugar de
outros, com particularizaçã o e discriminaçã o dos respectivos valores. “
(RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
Pá gs. 59-61)
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III – EM CONCLUSÃO
Fulano de Tal
Advogado – OAB/BA 0000