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FICHA Nº 07

DIREITO DOS TRATADOS


PT.01

O DIREITO DOS TRATADOS NA CONVENÇÃO DE VIENA DE 1969

1. DA CODIFICAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO


O desenvolvimento da sociedade internacional e a intensificação das relações internacionais
fizeram despontar o interesse pelo estudo dos tratados internacionais, atualmente
considerados a fonte mais segura e concreta das relações entre os sujeitos do Direito
Internacional Público.
Atualmente os tratados regulam matérias das mais variadas e importantes, tornando o
Direito Internacional mais dinâmico, representativo e autêntico. Este fato constatado, que se
pode chamar de codificação do Direito Internacional Público tem feito com que inúmeros
assuntos, antes regulamentados quase que exclusivamente por normas costumeiras, passem
agora a ser regulados por normas convencionais formais.
Pode-se dizer que nos dias hodiernos a vida internacional funciona quase que
primordialmente com base em tratados, os quais exercem, no plano do Direito Internacional
funções semelhantes às que têm no Direito Interno as leis e os contratos.

2. PRIMÓRDIOS DO JUS TRACTUUM


Diferentemente do Direito Internacional Público propriamente dito, disciplina autônoma e
envolvida com princípios e institutos próprios, a origem dos tratados internacionais, como
acordos formalizados entre povos distintos tem seus primeiros contornos delineados há
mais de doze séculos antes de Cristo.
A disciplina jurídica do JUS TRACTUUM foi sendo gradativamente edificada ao longo de mais
de três mil anos, e ainda hoje o seu processo de conclusão guarda grandes semelhanças com
o seu modo primitivo de celebração.

 Tratado Egípcio-Hitita (1.280 e 1.272 a.C)


O primeiro marco seguro da celebração de um tratado internacional, de natureza bilateral,
diz respeito àquele instrumento firmado entre o Rei dos Hititas 1, Hattusil III e o Faraó egípcio
da XIX dinastia, Ramsés II, por volta de 1.280 e 1.272 a.C, colocando fim à guerra nas terras
sírias, na conhecida batalha de Kadesh.
O tratado nesse sentido, se identificava como um acordo de paz entre os dois povos. No
texto do tratado, cunhado em escrita cuneiforme babilônica, os dois reinos declaravam sua
igualdade e firmavam normas sobre os interesses particulares de cada uma das soberanias,
como a posse de certas terras e domínios. Haviam ali também regras relativas às alianças
contra inimigos comuns, normas de comércio, migração e extradição.

Por certo, tantos outros milhares de tratados foram formalizados entre povos distintos,
entre Cidades-Estados de toda parte do mundo oriental e ocidental.

3. DA CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE O DIREITO DOS TRATADOS


A chamada Lei dos Tratados, Código dos Tratados ou ainda Tratado dos Tratados, a
Convenção de Viena de 1969 é um dos mais importantes documentos já concluídos na
história do Direito Internacional Público.
Ela não se limitou apenas à codificação do conjunto de regras gerais referentes aos tratados
concluídos entre Estados, mas também se preocupou em regular todo tipo de
desenvolvimento progressivo daquelas matérias ainda não consolidadas na arena
internacional.
A Convenção regula desde questões pré-negociais (capacidade para concluir tratados e
plenos poderes), até o processo de formação dos tratados (adoção, assinatura, ratificação,
adesão, reservas, etc) sua entrada em vigor, aplicação provisória, observância e
interpretação, bem assim a nulidade, extinção e suspensão de sua execução.
Também a norma PACTA SUNT SERVANDA, e o corolário segundo o qual o Direito Interno
não pode legitimar a inexecução de um tratado. Pode-se mencionar também a presença da
Cláusula REBUS SIC STANTIBUS, permitindo a extinção ou retirada de um tratado quando
passa a existir uma mudança fundamental nas circunstâncias relativamente àquelas
existentes ao tempo da estipulação do acordo.
É curioso observar que a Convenção de Viena de 1969 reveste-se de autoridade jurídica
mesmo para aqueles Estados que dela não são signatários, em virtude de ser ela geralmente
aceita como norma declaratória de Direito Internacional Geral, expressando o Direito
Consuetudinário vigente.
No Brasil, somente em 22 de abril de 1992, foi que o Poder Executivo, encaminhou o texto
da Convenção de 1969 à apreciação do Congresso Nacional. Entretanto, entre idas e vindas,
1
Os hititas,  no II milénio a.C., fundaram um poderoso império na Anatólia central (atual Turquia), cuja
queda data dos séculos XIII-XII a.C. Na sua extensão máxima, o Império Hitita compreendia a Anatólia,
atualmente parte da Turquia, e regiões do Líbano e Síria.
somente em 25 de setembro de 2009 foi a Convenção ratificada pelo governo brasileiro,
através do Decreto nº 7.030/2009, com algumas reservas.
Entretanto, em que pese ainda não ratificada, a Convenção de Viena já era utilizada nas
negociações de tratados realizadas pela chancelaria do Brasil (Itamaraty – Ministério das
Relações Exteriores).
Nesse sentido, o tratado ainda não ratificado tinha valor de costume positivado. A
convenção portanto, tinha caráter de costume para o Brasil, o que apontava de alguma
forma, a sua necessidade de cumprimento.
A Convenção de Viena possui no Brasil o status de Lei Ordinária Federal, devendo ser
respeitada e cumprida tal como qualquer lei brasileira.

4. CONCEITO DE TRATADO INTERNACIONAL


Com base na Convenção de Viena, Art.2º, parágrafo 1º, a, assim se estabelece:
Tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo
Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.
Tratado é portanto todo acordo formal, concluído entre sujeitos do Direito Internacional
Público, regido pelo Direito das Gentes e que visa à produção de efeitos de direito para as
partes-contratantes.

5. ELEMENTOS ESSENCIAIS DOS TRATADOS INTERNACIONAIS


Através do conceito de tratado internacional, podem ser observados seus elementos
essenciais:
(Acordo Internacional)
O Direito Internacional Público tem por princípio ainda vigente o do livre consentimento.
Sendo os tratados internacionais a principal fonte do Direito Internacional Público, não
podem eles expressar senão aquilo que os negociadores acordaram livremente.
Sem a convergência de vontades do Estado, por conseguinte, não há acordo internacional
válido. O elemento volitivo, com repercussão jurídico-internacional, é assim fundamental
para a configuração desse primeiro elemento do conceito de tratado.
Para que um compromisso entre atores internacionais se configure como verdadeiro
tratado, tal acordo internacional deve ser compreendido em seu sentido jurídico.
Nesse sentido, é necessário que tal acordo tenha por finalidade criar entre as partes um
vínculo juridicamente exigível em caso de descumprimento. Em outras palavras, o acordo
concluído deve visar à produção de efeitos jurídicos.
É obrigatório portanto o ANIMUS CONTRAHENDI é dizer, a vontade livre de contratar com
vistas a criar obrigações mútuas entre as partes.
Nesta lógica, para ser tratado deve haver um acordo internacional das partes em sentido
jurídico, possibilitando uma sanção também jurídica em caso de descumprimento.

(Celebrado por Escrito)


Os tratados internacionais diferem dos costumes por serem acordos essencialmente
formais.
Tal formalidade implica obrigatoriamente sua escritura. Somente por meio da escritura é
que se pode deixar consignado o propósito a que os contratantes chegaram após a
negociação.
A celebração de forma oral não satisfaz o requisito de formalidade.
Nada impede que acordos orais sejam realizados e respeitados, porém não se pode negar
que é possibilitada para as partes muito mais certeza e segurança às relações internacionais
quando os tratados são realizados por escrito.

(Concluído entre Estados ou Organizações Internacionais)


Como atos jurídicos internacionais, os tratados só podem ser concluídos por entes capazes
de assumir direitos e obrigações no âmbito externo.
No que tange a relação entre Estados e Organizações Internacionais Intergovernamentais,
enquanto os Estados têm capacidade para celebrar tratados sobre quaisquer matérias, as
organizações internacionais somente dispõem de tal poder para a celebração de tratados
relacionados às suas finalidades precípuas e aos seus misteres, tendo, portanto, um âmbito
mais restrito de atuação.
Estados não independentes carecem de capacidade para a celebração de tratados. Nesse
sentido, colônias, territórios dependentes, etc, não podem figurar internacionalmente como
partes em tratados internacionais.
No que tange aos Estados Soberanos, mais precisamente ao Brasil, a Constituição em seu
Art.52, inciso V, permite que a União, Estados, DF, Territórios e os Municípios, realizem
operações externas de natureza financeira desde que autorizados pelo Senado Federal.
Entretanto, mesmo o texto constitucional diz competir à União e tão somente a ela, manter
relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais, de forma que
não se pode entender ser possível a conclusão de tratados em que não seja parte o Estado
Brasileiro (Brasil) mesmo.
Acordos concluídos entre Estados e populações sem governo próprio ou tribos, assim como
as convenções entre Estados e indivíduos estrangeiros, carecem da qualificação jurídica e da
roupagem de tratados e a esses últimos em nada se assemelham. Não tem também
capacidade para celebrar tratados as sociedades empresárias/empresários(as),
independentemente de seu patrimônio, tamanho ou multinacionalidade.

(Regido pelo Direito Internacional)


Para um ato internacional ser considerado “Tratado” deve ele operar-se dentro do âmbito
do Direito Internacional Público, ou seja, ser exigível internacionalmente. Nesse sentido, dois
Estados podem formalmente celebrar um acordo internacional e esse acordo não ser
considerado Tratado por faltar-lhe a regência do Direito das Gentes. Nesse sentido, caso o
pacto entre Países seja governado pelo Direito Interno de um dos Estados contratantes, não
será identificado como Tratado, uma vez que não há ali a regência do Direito Internacional
Público.
Desta forma, a expressão “regido pelo Direito Internacional” significa que os pactuantes têm
a intenção de criar entre si uma obrigação jurídica sob a autoridade do Direito Internacional
Público. Por essa razão, havendo regência do Direito Interno de uma das partes, o pacto
observado será chamado de Contrato Internacional.
Face a isto, a diferença marcante entre os tratados internacionais e os contratos
internacionais está na regência de um e de outro, uma vez que os contratos regem-se
prioritariamente pelas normas do ordenamento jurídico interno de determinado estado,
enquanto os tratados são completamente regidos pelos princípios e regras do Direito
Internacional Público.

(Celebrado em instrumento único ou em dois ou mais instrumentos conexos)


Além do texto principal do tratado, podem existir outros instrumentos que o acompanham,
a exemplo dos protocolos adicionais e dos anexos, seja os produzidos concomitantemente,
sejam os que adentraram posteriormente ao texto.

(Ausência de denominação específica)


A Convenção de 1969 deixa bem claro que a palavra tratado se refere a um acordo regido
pelo Direito Internacional, qualquer que seja a sua denominação específica. Por certo,
Tratado é uma expressão genérica, variando as denominações utilizadas conforme a sua
forma, seu conteúdo, o seu objeto e seu fim.

6. DA TERMINOLOGIA DOS TRATADOS


A Convenção de Viena de 1969, ao definir um tratado internacional, o fez em termos
estritamente formais, sem levar em consideração o conteúdo ou a natureza de suas
disposições, uma vez que o tratado não é mais do que um instrumento de veiculação de
regras jurídicas.
Por certo, a expressão tratado é uma expressão-gênero, que alberga dentro de si diferentes
nomenclaturas. Assim, na prática convencional geral pode-se identificar um sem-número de
denominações que recebem os tratados, dependendo do assunto por eles versado, de sua
finalidade, qualidade das partes, número de contratantes, etc.
São os termos observados:
a) TRATADO
Trata-se da expressão genérica por natureza, eleita pela Convenção de Viena de 1969 para
designar todo acordo internacional, bilateral ou multilateral, de especial relevo político,
qualquer que seja sua denominação específica.
O termo designa normalmente os ajustes solenes concluídos entre Estados e/ou
Organizações Internacionais, cujo objeto, finalidade, número e poderes das partes maior
importância.
Ex: Tratados de Paz, Tratados de Arbitragem, Tratados de Cooperação, etc.

b) CONVENÇÃO
Tal expressão começou a ser empregada o sentido atual a partir da proliferação dos
congressos e conferências internacionais, nos quais matérias da maior relevância para a
sociedade internacional passaram a ser frequentemente debatidas, gerando atos
internacionais criadores de normas gerais de Direito Internacional Público, demonstrativos
da vontade uniforme das partes em assuntos de interesse geral.
A expressão convenção conota o tipo de tratado solene (e multilateral) em que a vontade
das partes não é propriamente divergente, como ocorre nos tratados-contrato, mas paralela
e uniforme, ao que se atribui o nome de tratados-lei ou tratados-normativos, dos quais são
exemplos as Convenções de Viena sobre relações diplomáticas e consulares.
Ex: Convenção de Viena de 1969.

c) PACTO
Tal expressão tem sido utilizada para restringir o objeto político de um tratado. Pode
também ser empregado como sinônimo de tratado. Também pode ser observado em
matérias relacionadas aos Direitos Humanos.
Ex: Pacto de Aço2 – 1939; Pacto de Varsóvia3 – 1955; Pacto de San José da Costa Rica - 19694.

d) ACORDO
2
Aliança entre Itália Facista e a Alemanha Nazista para suporte militar.
3
Aliança militar formada pelos países socialistas do Leste Europeu e pela União Soviética.
4
Também chamada de Convenção Americana de Direitos Humanos, tal tratado instituiu o Sistema
Interamericano de Direitos Humanos, dentre outros aportes.
Comumente emprega-se a expressão acordo para designar tratados de natureza econômica,
financeira, comercial ou cultural, podendo, contudo, dispor sobre segurança recíproca,
projetos de desarmamento, questões sobre fronteiras, arbitragem, questões de ordem
política, etc.
São acordos os atos bilaterais ou multilaterais cuja natureza pode ser política, econômica,
comercial, cultural ou científica.

e) ACORDO POR TROCA DE NOTAS


Diz respeito à troca de notas diplomáticas para assuntos de natureza geralmente
administrativa, bem como para alterar ou interpretar cláusulas de atos já concluídos. São
acordos firmados em momentos distintos e no nome de apenas uma das partes.

f) ACORDO DO EXECUTIVO (ACORDO EM FORMA SIMPLIFICADA – EXECUTIVE AGREEMENTS)


Cuida dos tratados concluídos pelo Poder Executivo sem o assentimento do Poder
Legislativo. São concluídos na maioria dos casos por troca de notas diplomáticas, troca de
correspondências, etc, sendo a assinatura em regra, suficiente para obrigar o Estado.
Caracterizam-se pela sua conclusão imediata (negociação e assinatura), sendo dispensada a
ratificação do chefe do Estado.
Tais acordos em forma simplificadas se observam quando o assunto demanda agilidade,
rapidez na sua conclusão, ou até pela conservação de certo sigilo.

g) PROTOCOLO
Pode ser utilizado para identificar os resultados de uma conferência diplomática ou ainda
um acordo menos formal que o tratado, como por exemplo, acordos subsidiários e que
mantém complementação com um tratado anterior.
Nada impede também que o protocolo seja um acordo desvinculado de qualquer outro
tratado.
Também pode ser utilizada em acordos interpretativos de tratados anteriores, ou ainda
acordos de prolongamento.

h) ATO/ATA
Cuida de terminologia utilizada há alguns anos para designar a resolução sobre assistência
mútua e solidariedade americana, conhecida por Ato de Chapultepec, firmado em 1945, na
Conferência Interamericana do México.
Também se emprega a terminologia quando se estabelecem regras que incorporam o
resultado de uma conferência ou de um acordo entre as partes.

i) DECLARAÇÃO
É expressão utilizada para aqueles atos que estabelecem certas regras ou princípios
jurídicos, ou ainda, para as normas de Direito Internacional indicativas de uma posição
política de interesse coletivo.
Ex: Declaração de Paris5 – 1956 ; Declaração de Haia6 - 1907

Curiosamente, a Declaração Universal de Direitos Humanos não é considerado uma


declaração propriamente dita, uma vez que está muitos passos acima da ideia de Tratado,
integrando portanto, o plano normativo superior a que se convém chamar de Jus Cogens.

j) MODUS VIVENDI
Utiliza-se na designação de acordos temporários ou provisórios, normalmente de ordem
econômica e de importância relativa.
Tal provisoriedade é o seu traço mais nítido.
Por certo, Modus Vivendi é o tipo de acordo celebrado pelas partes tendente a manter a
situação atual das coisas até que a constituição definitiva de um Estado de fato venha a se
configurar, seja por meio de tratado ou por qualquer outra circunstância.
Ex: Modus Vivendi de 13/04/19327

k) CONCORDATA
Designação empregada nos acordos bilaterais de caráter religioso firmados pela Santa Sé
com Estados que tem cidadãos católicos, versando, em geral, questões sobre a organização
de cultos religiosos, exercício da administração eclesiástica, etc.
Veiculam matéria estritamente religiosa.
Não é da tradição brasileira concluir concordatas com a Santa Sé.

l) REVERSAIS (NOTAS REVERSAIS)


5
Abarcava princípios de Direito Marítimo em caso de guerra.
6
Voltava-se para identificação do Direito Humanitário Internacional, sub-ramo voltado para impor limites às
guerras. A perspectiva de tal sub-ramo, volta-se para proteger pessoas e civis em conflitos bélicos. Pode0se
citar por exemplo, a medida que Impediu a utilização de balões para bombardeios, etc.
7
Versava acerca da competência da Comissão Europeia do Danúbio, tendo por base a regulamentação fluvial
internacional.
Empregam-se com a finalidade específica de estabelecer concessões recíprocas entre
Estados ou de declarar que a concessão ou benefício especial que um Estado faz outro, não
derroga direitos ou privilégios de cada um deles já anteriormente reconhecidos.
São utilizados para completar o sentido de certas disposições de um tratado, no momento
de sua conclusão, a fim de ressalvar direitos ou compromissos anteriormente assumidos.
Seu emprego tem sido cada vez menor no cenário contemporâneo.

m) AJUSTE (ACORDO COMPLEMENTAR)


Expressões utilizadas para designar compromissos de importância relativa ou secundária,
sem, contudo, perderem a característica de tratados.
Voltam-se para dar execução a outros tratados, anteriores, devidamente concluídos.

n) CONVÊNIO
Designa acordos de interesse político, podendo ser empregado também para designar
ajustes de menor importância, bem como matérias culturais e de transporte.

o) COMPROMISSO
Terminologia empregada na fixação de um acordo geralmente bilateral, pelo qual dois ou
mais Estados comprometem-se a recorrer à arbitragem para resolver os litígios existentes
entre eles, ou quaisquer outras lides que venham aparecer no futuro.

p) ESTATUTO
Geralmente empregado para os tratados que estabelecem normas para os tribunais de
jurisdição internacional.
Modernamente, a expressão é empregada para dar forma regimental e delimitar a
competência dos tribunais internacionais criados sob os auspícios da ONU, por ex.
Ex: Estatuto da Corte Internacional de Justiça – 1920; Estatuto de Roma do Tribunal Penal
Internacional – 1998, etc).

8. ESTRUTURA DOS TRATADOS


Os tratados internacionais são configurados perante uma estrutura mínima, que não é
necessariamente hermética, mas que costumam se repetir entre a maioria dos tratados.
Os tratados são portanto formados pelas seguintes partes:
a) Título
Indica a matéria tratada pelo acordo, ou, mais amplamente, o assunto nele versado.

b) Preâmbulo/Exórdio
Não é considerada como parte jurídica do tratado e é composto por duas categorias de
enunciados:
I – Enumeração dos Contratantes
II – Os motivos que levaram os Estados à negociação do acordo.
O preâmbulo não possui força obrigatória, todavia, serve elemento interpretativo ao
tratado.
*Em Estados com imensa quantidade de partes envolvidas, costuma-se usar a expressão: “As
Altas Partes Contratantes”.
No que tange ao arrolamento dos motivos que levaram os Estados à negociação, envolvem-
se as intenções dos negociadores em relação à celebração do tratado, ao que se denomina
de “Considerandos”.
Os considerandos portanto, revelam as intenções dos negociadores em relação ao tratado.

c) Articulado/Dispositivo
Trata-se da principal parte do instrumento convencional, composto por uma sequência de
artigos numerados, em que se estabelecem (em linguagem jurídica) todas as cláusulas de
operatividade do acordo, variando sua extensão de tratado para tratado.
Todos os elementos do articulado são providos de obrigatoriedade jurídica.
Após suas disposições, seguem as cláusulas finais (natureza adjetiva) relativas à ratificação e
à troca dos seus instrumentos, entrada em vigor, possibilidade de denúncia, prorrogação,
prazo de vigência, possibilidade de adesão, revisão, etc.
Após o articulado há ainda, de regra, a menção do testemunho “em fé do que...” dos
plenipotenciários relativamente ao acordado.

d) Fecho
Especifica o local e a data de celebração do tratado, o idioma em que se encontra redigido,
etc. A partir daí, o instrumento está apto a receber a assinatura do representante do Estado
e o selo de lacre.

e) Assinatura
A assinatura poderá ser do chefe do Estado, Ministro das Relações Exteriores ou de outra
autoridade que represente o Presidente da República na celebração do instrumento.
Geralmente as assinaturas dos tratados obedecem ordem alfabética em língua francesa 8, a
fim de evitar que a ordem dos nomes configure algum tipo de prevalência de um Estado
sobre outro.
Em tratados bilaterais, cada negociador apõe sua assinatura em primeiro lugar no exemplar
que ficar em seu poder.

f) Selo de Lacre
O selo de lacre marca o compromisso entre as partes.
------
*Podem haver apêndice e anexos e esses, integrarão o tratado, tendo os seus dispositivos
natureza de norma jurídica convencional. (Serão cumpridas tal como o articulado).

9. CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS

a) Quanto ao Número de Partes


 Bilaterais
São aqueles celebrados entre duas partes-contratantes, ou entre vencedores e vencidos.
Nada impede que seja realizado entre duas Organizações Internacionais.

8
A depender da língua, os Países podem variar na ordem alfabética.
Ainda que uma Organização Internacional seja formada pelo interesse direto de vários
Estados, se ela figura como parte em um tratado com apenas duas partes signatárias, o
tratado será bilateral.
O idioma utilizado geralmente é o das próprias partes, ou o inglês, a fim de evitar problemas
hermenêuticos.

 Multilaterais
São os tratados celebrados por mais de duas partes, ou seja, entre três ou mais partes, com
base nas suas estipulações recíprocas.
São normalmente abertas à participação de qualquer Estado ou Organização Internacional.
Possuem por objeto, questões de interesse comum, normas gerais de Direito Internacional
Público.
Novas modalidades de tratados multilaterais:
*Umbrella Treaty (Tratado Guarda-chuva)
Tratado amplo que não se prende em regular completamente determinada questão jurídica,
mas apenas instituir as grandes linhas mestras da matéria que lhe deu origem, demandando
complementação por meio de outros tratados internacionais concluídos sob a sua sombra.
Ex: Tratado da Antártica - 1959 (Umbrella Treaty) e Convenção acerca da proteção das focas
antárticas -1972 e Convenção acerca da conservação dos recursos vivos marinhos antárticos
– 1972. Etc.

*Framework Convention (Convenção-quadro/Convenção-moldura)


Tal modelo, emoldura as grandes bases jurídicas do acordo, bem como direitos e deveres
das partes, deixando para um momento posterior sua regulamentação pormenorizada, o
que é feito por meio de anexos e apêndices, dispensando emendas.
Ex: Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – 1992.

b) Quanto ao tipo de procedimento utilizado para sua conclusão


Nessa classificação importa saber se para a conclusão do acordo internacional quantas fases
de expressão do consentimento são necessárias:
 Unifásicos
Basta a assinatura da parte-contratante e o tratado já produzirá efeitos.
 Bifásicos
É necessária a assinatura e a ratificação, para que o tratado possa produzir efeitos.

c) Quanto à possibilidade de adesão


 Tratados abertos
São aqueles ao qual, permite-se a adesão aos Estados que não participaram de suas
negociações preliminares, ou que participaram e não ratificaram, ou até que ratificaram e
depois denunciaram, mas que pretendem voltar.
Tratados abertos podem possuir adesão limitada ou ilimitada. Quando limitada, levará em
conta contextos regionais ou geográficos. Ex: Tratado de Assunção – Criador do Mercosul.
Quando o tratado for aberto e de adesão ilimitada, permite-se a adesão posterior irrestrita
de qualquer Estado. Ex: Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher – 1979.

 Tratados fechados
São os tratados que proíbem a posterior adesão de outros Estados ou Organizações
Internacionais que deles não são partes originárias, a menos que um novo acordo seja
concluído entre tais partes e aquela aspirante à aquisição da qualidade de membro.

d) Quanto à natureza jurídica


 Tratados-Lei / Tratados-Normativos
Conhecidos pela expressão Law-making treaties, são geralmente celebrados por grande
número de Estados e têm por objetivo fixar normas gerais e abstratas de Direito
Internacional Público, podendo ser comparado a verdadeiras leis.
Dá-se a criação de uma regra objetiva de Direito Internacional, de aplicação geral, impondo
às partes uma obrigação de conteúdo idêntico, fruto do acordo de vontades concordantes
dos Estados.
As partes assumem o compromisso de cumprir todo o acordado e se dirigem por uma
finalidade comum dos copactuantes, a ser alcançada pela igual conduta de todas as partes.
A vontade das partes é convergente.
Tais tratados só obrigam aqueles que os celebram.
Ex: Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados – 1969.

 Tratados-contrato
Vontades divergentes, voltada para a estipulação de prestações e contraprestações
individuais com fim comum, atinentes aos interesses particulares as partes.
Cada uma das partes, tem em mira justamente aquilo que de bom pode lhe dar a outra.
Tem-se aqui um verdadeiro contrato internacional regido pelo Direito Internacional Público
que se exaure com o cumprimento da respectiva obrigação.
Voltam-se para a regulação de interesses específicos e concretos.
Geralmente são bilaterais.
Subdividem-se em executados e executórios
Os tratados-contrato executados são transitórios, sendo executados imediatamente.
Os tratados-contrato executórios, também chamados de permanentes, demandam atos
executórios regulares e que se prolongam no tempo. Ex: Tratados comerciais.

e) Quanto à execução no tempo


 Transitórios
São os tratados que, embora criem situações que perdurem no tempo têm sua execução
exaurida de forma instantânea e imediata. Cuida de acordos concluídos em ato único, não
havendo cláusula de execução posterior. Ex: Tratados voltados para cessão de uso de
territórios.

 Permanentes
São os tratados cuja execução se prolonga por tempo indeterminado. Tal classificação diz
respeito à execução e não aos seus efeitos no tempo.
Ex: Tratados comerciais, Tratados de proteção dos Direitos Humanos.

f) Quanto à execução no espaço


 Que envolvem todo o território do Estado
 Que envolvem parte do território do Estado

g) Quanto à estrutura da execução


 Mutalizáveis
São aqueles cujo descumprimento por alguma ou algumas das partes entre si, não tem o
condão de comprometer a execução do acordo como um todo.
 Não-Mutalizáveis
São aqueles tratados que não concebem divisão em sua execução, de modo que se alguma
das partes não puder cumprir o pactuado, todas as demais sofrerão com sua violação, não
havendo como deixar de aplicar o tratado somente às partes que o violaram.
Ex: Tratado da Antártica.
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