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Fontes do Direito Internacional

Hugo de Brito Machado:

“A fonte de uma coisa é o lugar de onde surge essa coisa. O lugar de


onde ela nasce. Assim, a fonte do Direito é aquilo que o produz, é algo
de onde nasce o Direito. Para que se possa dizer o que é fonte do
Direito é necessário que se saiba de qual direito. Se cogitarmos do
direito natural, devemos admitir que sua fonte é a natureza humana.
Aliás, vale dizer, é a fonte primeira do Direito sob vários aspectos.”
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Conceito:
- Documentos ou pronunciamentos de que emanam direitos e
deveres dos sujeitos de direito internacional (Estados e Organizações
Internacionais).
- É por meio delas que usualmente se compreende ser possível
constatar formalmente as normas do direito internacional.
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São elas:
a) as convenções internacionais (tratados), quer gerais, quer especiais, que
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de prática geral aceita como sendo
o direito;
c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; e
d) excepcionalmente, as decisões judiciárias e a reflexão jurídica
desenvolvida pelos juristas mais qualificados das diferentes nações, como
meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
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Tratado:
- ato jurídico por meio do qual se manifesta o acordo de vontades
entre dois ou mais sujeitos de direito internacional (Estado ou
Organização);
- tratado – genérico: convenção, protocolo, estatuto, declaração,
modus vivendi, compromisso, concordatas, entre outros;
- São escritos em regra, e raramente se apresentam de outra forma;
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Tratado:
- Em regra não há hierarquia entre tratados, porém se aplica o artigo 30 da
Convenção de Viena (DECRETO Nº 7.030, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2009 –
Promulgação da CV)
“Quando um tratado estipular que está subordinado a um tratado anterior
ou posterior ou que não deve ser considerado incompatível com esse outro
tratado, as disposições deste último prevalecerão. “
“Quando todas as partes no tratado anterior são igualmente partes no
tratado posterior, sem que o tratado anterior tenha cessado de vigorar ou
sem que a sua aplicação tenha sido suspensa nos termos do artigo 59, o
tratado anterior só se aplica na medida em que as suas disposições sejam
compatíveis com as do tratado posterior.”
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Tratado:
Classificação em função do número dos estados-partes:
(a) bilaterais: quando celebrados entre duas partes,
(b) plurilaterais: quando celebrados por mais de duas partes, ou
(c) multilaterais: quando celebrados por mais de duas partes, no
interior de uma organização internacional, ou mesmo
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Tratado:
Classificação em função da generalidade de suas disposições:
(a) convenções gerais: também conhecidas como convenções-quadro ou
guarda-chuva: as quais estabelecem normas e princípios gerais que
serão detalhados posteriormente por meio de tratados internacionais
específicos, por meio de protocolos adicionais ou mesmo por meio de
legislação interna; geralmente são utilizados em situações de difícil
consenso político entre as partes (meio ambiente, saúde, minorias,
entre outros);
(b) convenções específicas: as quais adotam de forma detalhada normas
jurídicas específicas sobre o tema regulado, com o objetivo de esgotar
em seu próprio instrumento tal regulação;
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Tratado:
Classificação em função da natureza jurídica das normas que foram
consolidadas no tratado;
(a) da imperatividade da norma, o tratado internacional pode ser
- de direito dispositivo: os quais adotam normas que podem ser
derrogadas por meio de tratado posterior, ou
- de direito cogente: os quais adotam normas sobre matérias que, por
sua natureza, não comportariam derrogação – só podem ser
modificadas por outras normas de natureza equivalente;
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Tratado:
Classificação em função da natureza jurídica das normas que foram
consolidadas no tratado;
(b) do tipo de interesse juridicamente regulado:
- tratados-contratos, os quais regulam interesses recíprocos dos
estados, geralmente de caráter bilateral;
- tratados-leis ou tratados-normativos, os quais fixam normas de
direito internacional geral (interesse geral).
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Condição de validade do tratado:


Para que um tratado seja considerado válido, é necessário que as
partes (estados ou organizações internacionais):
a) tenham capacidade para tal;
b) que os agentes estejam habilitados;
c) que haja consentimento mútuo; e
d) que o objeto do tratado seja lícito e possível.
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a) tenham capacidade para tal;


A Convenção de Viena sobre direito dos tratados, de 1969, art. 6º:
“todo estado tem capacidade para concluir tratados”.
Obs: A doutrina tradicional, baseada na prática dos estados, ensinava
que apenas os estados soberanos tinham o direito de assinar tratados
- desuso.
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b) que os agentes estejam habilitados;


a apresentação de plenos poderes é dispensada no caso dos chefes de
estado, dos chefes de governo e dos ministros das relações exteriores.
A carta de plenos poderes deverá ser firmada pelo chefe de estado ou
de governo – a depender do regime constitucional internacional de
cada país, ou pelo ministro das relações exteriores do país em
questão.
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c) consentimento mútuo:
O tratado é acordo de vontades e, como tal, a adoção de seu texto
efetua-se pelo consentimento de todos os estados que participam na
sua elaboração.
No caso dos tratados multilaterais, negociados numa conferência
internacional, a adoção do texto efetua-se pela maioria de dois terços
dos estados presentes e votantes, a não ser que, pela mesma maioria,
decidam adotar regra diversa.
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d) objeto do tratado lícito e possível.


A formação do vínculo legal pressupõe a licitude e a possibilidade do
objeto do consenso de vontades - só se deve visar coisa
materialmente possível e permitida pelo direito e pela moral.
Hipóteses, quer de ilegalidade, quer de impossibilidade, são raras.
Exemplo histórico de objeto não lícito foi o tratado de Munique de
1938: se fez a partilha da então Tchecoslováquia, sem sequer ter
contado com a assinatura e participação do principal interessado e
objeto da deliberação.
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Tratado: efeitos em relação a terceiros


- produzem efeitos entre as partes contratantes - sendo-lhes de
cumprimento obrigatório, desde que tenham entrado em vigor.
- Artigo 34 (Convenção de Viena - DECRETO Nº 7.030, DE 14 DE
DEZEMBRO DE 2009 – Promulgação da CV): “tratado não cria nem
obrigações nem direitos para um terceiro estado sem o seu
consentimento”.
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Tratado: efeitos em relação a terceiros


- Não produz efeito, mas pode resultar em consequências a estados
terceiros:
Se nocivas, o estado lesado tem o direito de protestar e de procurar
assegurar os seus direitos, bem como o de pedir reparações;
Se favoráveis para estados que do tratado não participem, ou que os
contratantes, por manifestação de vontade expressa, concedam
direito ou privilégio a terceiros;
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Tratado: assinatura, ratificação e reservas


- a simples assinatura não vincula juridicamente um estado ao tratado
internacional;
- por si só possui um sentido muito mais político do que jurídico: apresenta
o estado simbolicamente como um ator que concorda com a importância
do que foi discutido – ainda que a ele não se vincule no futuro.
- A assinatura funciona assim mais como um atestado de que o texto final
corresponde fielmente ao que foi discutido pelos estados durante o período
de negociação – e, por isso mesmo, ela não tem o papel de vincular
juridicamente o estado.
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Tratado: assinatura, ratificação e reservas


- quando a assinatura for considerada pelo próprio tratado como
definitiva, isso significa que as partes compreendem ser desnecessária
a ratificação.
- A dispensa da ratificação ocorre quando o próprio tratado assim
dispuser; e nos acordos sobre assuntos puramente administrativos
(nestas situações, basta a assinatura para o estado se vincular
juridicamente ao tratado).
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Tratado: assinatura, ratificação e reservas


- Quando da assinatura ou da vinculação jurídica a um tratado
(ratificação ou adesão), um estado por apresentar reservas ao
documento.
- A reserva é um ato unilateral de estado, por meio do qual ele afasta
ou modifica a aplicação de uma disposição de um tratado - ele se
reserva o direito a não se vincular a determinado trecho do tratado.
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Tratado: registro e publicação


- A Carta das Nações Unidas determina, em seu artigo 102, que todo
tratado ou acordo internacional concluído por qualquer Membro deverá,
logo que possível, ser registrado no Secretariado e por este publicado,
acrescentando que nenhuma parte num tratado não registrado poderá
invocá-lo perante qualquer órgão das Nações Unidas.
- A Convenção de Viena endossou esta regra;
- O artigo 102 da Carta das Nações Unidas repetiu nesse particular o artigo
18 do Pacto da Sociedade das Nações, que também previa que “nenhum
desses tratados ou compromissos internacionais será obrigatório antes de
ter sido registrado.”
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Tratado: interpretação
- todo tratado deve ser interpretado de boa-fé;
- “não é permitido interpretar o que não tem necessidade de
interpretação”;
- “tratado deve ser interpretado de boa-fé, segundo o sentido comum
atribuível aos termos do tratado em seu contexto e à luz de seu
objeto e finalidade”
- Os tratados devem ser interpretados como um todo, cujas partes se
completam umas às outras. Um termo será entendido em sentido
especial se estiver estabelecido que essa era a intenção das partes;
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Tratado: interpretação
- Se num tratado bilateral redigido em duas línguas houver
discrepância entre os dois textos que fazem fé, cada parte contratante
é obrigada apenas pelo texto em sua própria língua, salvo disposição
expressa em contrário. Com o objetivo de evitar semelhantes
discrepâncias é comum a escolha de terceira língua que fará fé.
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Tratado: nulidade, extinção e suspensão de aplicação


- A nulidade ocorre em virtude de erro, dolo, corrupção do
representante do estado, coerção exercida sobre o referido
representante e coerção decorrente de ameaça ou emprego de força,
além da adoção de tratado com desconhecimento do jus cogens
(padrões já utilizados no Dir. internacional);
- O erro ou o dolo capazes de viciar o consentimento na ordem interna
são habitualmente excluídos, quando se trata de acordos
internacionais;
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Tratado: nulidade, extinção e suspensão de aplicação


- causas de extinção previstas pela Convenção correspondem, de
modo geral, aos modos de extinção enumerados pela doutrina, ou
seja: 1) a execução integral do tratado; 2) a expiração do prazo
convencionado; 3) a verificação de condição resolutória, prevista
expressamente; 4) acordo mútuo entre as partes; 5) a renúncia
unilateral, por parte do estado ao qual o tratado beneficia de modo
exclusivo; 6) a impossibilidade de execução; 7) a denúncia, admitida
expressa ou tacitamente pelo próprio tratado; 8) a inexecução do
tratado, por uma das partes contratantes; 9) a guerra sobrevinda entre
as partes contratantes; e 10) a prescrição liberatória.
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Tratado: nulidade, extinção e suspensão de aplicação


- causas de extinção previstas pela Convenção correspondem, de
modo geral, aos modos de extinção enumerados pela doutrina, ou
seja: 1) a execução integral do tratado; 2) a expiração do prazo
convencionado; 3) a verificação de condição resolutória, prevista
expressamente; 4) acordo mútuo entre as partes; 5) a renúncia
unilateral, por parte do estado ao qual o tratado beneficia de modo
exclusivo; 6) a impossibilidade de execução; 7) a denúncia, admitida
expressa ou tacitamente pelo próprio tratado; 8) a inexecução do
tratado, por uma das partes contratantes; 9) a guerra sobrevinda
entre as partes contratantes; e 10) a prescrição liberatória.

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