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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Prof. Me. Mayrton Marinho.

RESUMO DE AULA – SEMANA 08

11 - 12/04/2023

MODULO 5 – Tratados – Parte 2.

1) Pressupostos constitucionais do consentimento

O modo pelo qual o consentimento, por parte do Estado, se faz


expressar, é tema que toca ao direito interno dos Estados soberanos.

No Brasil, dois dispositivos constitucionais referem-se ao tema. São


eles os artigos 49, I e 84, VIII.
O primeiro deles, artigo 49, II, dita que competência exclusivamente
ao Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional; o segundo, artigo
84, VIII, por sua vez, estabelece competir privativamente ao
Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos
internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.

Nesta linha, o procedimento para a obtenção do aval do legislativo


interno brasileiro, como pressuposto necessário à possibilidade de
apresentação do termo de ratificação pelo Presidente da República,
deve obediência aos seguintes ditames.

Após a assinatura do texto final do tratado na Conferência


Internacional pelos Estados, o Presidente da República pode
arquivar o material, não o remetendo à apreciação do Congresso
nacional (já que discricionário este poder); pode, ainda, se assim o
entender necessário, mandar que se elaborem estudos para melhor
percepção do tema; decidindo pelo envio ao Congresso Nacional,
assim deverá proceder por meio de Mensagem Presidencial.

Já no Congresso a discussão e votação do texto se dará primeiro na


Câmara dos Deputados e depois no Senado Federal; em sendo
aprovado o texto, será publicado Decreto Legislativo dando ciência
ao Presidente da República, por meio deste instrumento, de tal
aprovação.

O Presidente da República decide então pela ratificação ou não do


tratado aprovado pelo Congresso e, se ratificado, deposita ou troca
o instrumento de ratificação na Secretaria onde o tratado foi
elaborado; a partir daí o texto convencional lhe é obrigatório no plano
internacional.

Pela promulgação, o Executivo atesta a existência de um tratado


devidamente ratificado e ordena a sua execução no seu território,
publicando o Decreto Executivo. A partir de então, o tratado é
obrigatório também no plano interno.
Após o advento da Emenda Constitucional 45, que deu ao artigo 5º
da Carta Magna um novo parágrafo, o parágrafo 3º, caso uma norma
internacional venha a ser objeto de apreciação, por ambas as casas
legislativas, em dois turnos de votação e com aprovação em cada
deles de votos de 3/5 de seus membros, ingressará a norma, em
nosso sistema, com força de norma constitucional, versando a
norma internacional sobre direito humanitário, somente.

2) Condição de validade dos tratados

1) Capacidade das partes – Antes somente os Estados podiam


celebrar, hoje podem também as organizações internacionais.

2) Habilitação dos agentes – Podem celebrar tratados os Chefes de


Governo e de Estado e o Ministro de Relações Exteriores, ou ainda
aqueles que tiverem carta de plenos poderes (plenipotenciários)
dada por aqueles primeiros. Quanto às Organizações Internacionais,
seus representantes legais.

3) Consentimento mútuo – Na adesão, geralmente deve ser


aprovado por todos os membros. Para aprovação o quorum mínimo
é de 2/3 (para escolha dos idiomas), salvo se pelo mesmo quorum
decidir adotar regra diversa.

4) Objeto lícito e possível – Não fira a moral e premissas de direito.

3) Efeitos

Entrando em vigor o Tratado, produzirá ele efeitos (direitos e


obrigações) tanto em relação às partes celebrantes quanto, ainda,
poderá produzir efeitos sobre terceiros. Quanto a estes, tais efeitos
podem ser:

a) difusos: relativos a certas situações jurídicas objetivas. Ex. tratado


de permuta territorial entre “A” e “B” que modifica linha limítrofe.
(Atinge outros Estados no foro internacional, que devem respeitar as
novas delimitações);

b) aparentes: refere-se à denominada cláusula de nação mais


favorecida. Ex. “A” e “B” celebram tratado (norma), com benefícios;
“B” e “C” celebram tratado (fato), com benefícios a “B” melhores que
os estipulados no tratado anterior; “A”, então, por ser nação mais
favorecida prevista no 1º tratado, beneficia-se do acordo de “B” e “C”;
o primeiro é tratado norma e o segundo o fato que gerou os
benefício a “A”;

c) previsão convencional de direitos para terceiros: vem prevista


no artigo 36 da Convenção de Viena (direitos criados a terceiros
reclama o consentimento deste, mas o silêncio deste é manifestação
de aquiescência – concordância tácita);

d) previsão convencional de obrigações para terceiros: contida


no artigo 35 da Convenção de Viena (há a necessária concordância
do Estado a ser obrigado). Ex. Depositário de Tratado que não é
parte do instrumento.

4) Duração do Tratado

Em regra, o tratado não possui prazo certo de duração, vigorando por


tempo indeterminado, o que, de fato, não significa a impossibilidade
de estipulação, no corpo do instrumento de prazo de duração ou,
ainda, pela sua própria natureza, termo certo de vigência.

5) Ingresso mediante adesão

CONSENTIMENTO = CRIATIVO – DESDE O INÍCIO

CONSENTIMENTO = PERCEPTIVO – ADESÃO POSTERIOR

É Possível a vinculação de um sujeito de direito internacional público


a um tratado do qual não tenha sido signatário. Tal vinculação se faz
por meio de adesão (ato pelo qual um sujeito de direito internacional,
não signatário do instrumento convencional, manifesta sua vontade
de a ele vincular-se definitivamente, comprometendo-se de forma
integral aos seus ditames). É o caso de tratado aberto.

6) Extinção

Os tratados extinguem-se, principalmente, por:


a) execução integral – propósito do tratado foi cumprido;

b) acordo mútuo entre as partes – mesmo de forma


antecipada as partes dão término ao tratado;

c) término de seu prazo – tratado por prazo determinado;

d) pela vontade unilateral – Especialmente no tratado


bilateral. Na denúncia o Estado se desvincula da obrigação
do tratado. Deverá ser depositado na Secretaria onde o
tratado foi elaborado. Via de regra, há uma cláusula que
estabelece que após a denúncia o Estado, ainda,
continuará vinculado por mais um ano;

e) pela impossibilidade de sua execução – é o caso de


guerra, catástrofe etc.;

f) inexecução por uma das partes – violação do tratado por


uma das partes autoriza a sua suspensão ou expulsão;

g) caducidade - falta de aplicabilidade do tratado por longo


período ou costume contrário posterior (ocasião em que
o costume prova o desuso do tratado escrito);

MODULO 6 – A Corte Internacional de Justiça.

PALÁCIO DA PAZ – HAIA/PAÍSES BAIXOS


1) Generalidade

A Corte Internacional de Justiça (CIJ), como órgão judicial da


Organização das Nações Unidas que o é, tem obtido o
reconhecimento de ser o mais importante tribunal judiciário perante
a sociedade internacional.

A competência da CIJ é estabelecida pela própria Corte, atendidos


os pressupostos do art. 37, parágrafo 2º , letras a, b, c e d.

A qualidade de Estado Membro das Nações Unidas faz com que este
mesmo Estado seja parte aderente ao Estatuto da CIJ (anexo da
Carta de São Francisco, de 1945).

Não obstante, um Estado Soberano, mesmo que não integrante das


Nações Unidas pode vir a ser aderente ao Estatuto da CIJ desde
que manifeste interesse em tal sentido, observadas estipulações que
o Conselho de Segurança desta Organização venha a estipular.

A cláusula facultativa de jurisdição obrigatória uma vez aceita pelo


Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdição da Corte em todos os
conflitos internacionais que envolvam aquele Estado, verificada
a reciprocidade.

*A CIJ mantém a sua sede em Haia, Holanda, tendo como línguas


oficiais o inglês e o francês.

Além de acórdãos, resultantes do exercício de sua competência


contenciosa, a CIJ emite pareceres consultivos a pedido da
Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança da ONU, bem
como de outros órgãos ou entidades especializadas autorizados pela
Assembleia Geral.

2) A Corte como órgão da ONU

A Carta da Organização das Nações Unidas - ONU, em seu artigo 7º,


classifica a CIJ como órgão da organização internacional,
descrevendo-a em seu artigo 92 como principal órgão judiciário das
Nações Unidas.

O Estatuto da CIJ, nos dizeres da Carta da ONU, é parte integrante


deste Instrumento Internacional, razão pela qual os Estados
membros da ONU ao Estatuto da Corte encontram-se submetidos.

A CIJ não representa o único Tribunal a que podem se submeter


os Estados partes da ONU, posto que sua citação, pela Carta desta
última organização, é feita como sendo o “principal” órgão judiciário
das Nações Unidas, não o único.

Como decorrência da colocação da CIJ como órgão da ONU, não


poderá ela vir a decidir com base em Tratados não registrados
perante o Secretariado da ONU.

3) Organização da CIJ

A CIJ é composta por 15 (quinze) Juízes, não podendo 2 (dois) deles


ser dos mesmos país, com mandato de 9 (nove) anos, renováveis,
todos beneficiários de imunidades idênticas às asseguradas aos
representantes diplomáticos dos Estados, sendo cabível a demissão
dos Juízes por deliberação unânime da Corte.

Porto Alegre, sexta-feira, 30 de abril de 2021.


Dia do Ferroviário.

Brasileiro é reeleito para Corte Internacional de Justiça


O professor Antônio Augusto Cançado Trindade foi reeleito para a Corte Internacional
de Justiça, que é o principal tribunal das Nações Unidas. Ela delibera sobre questões
jurídicas entre Estados e responde a consultas de órgãos ou agências especializadas
da ONU. Em nota divulgada nesta sexta-feira, 10, o Ministério das Relações Exteriores
diz que o governo brasileiro recebeu a informação "com especial alegria".

Cançado Trindade integra a corte desde fevereiro de 2009. Também foi integrante da
Corte Interamericana de Direitos Humanos entre 1995 e 2006, da qual foi presidente
por dois mandatos, 1999-2001 e 2002-2003.

No Brasil, ele é professor de Direito Internacional Público na Universidade de Brasília,


integrante da Academia de Direito Internacional da Haia e titular do Instituto de Direito
Internacional. Foi consultor jurídico do Itamaraty de 1985 a 1990.

"A reeleição do professor Cançado Trindade resulta do reconhecimento de sua


importante trajetória na resolução pacífica de controvérsias e no desenvolvimento do
direito internacional", diz a nota. "Sua recondução permitirá que siga contribuindo para
avançar os ideais de justiça internacional em um dos mais importantes órgãos
jurídicos do mundo."

A Assembleia Geral e o Conselho de Segurança, por deliberação de


maioria absoluta, elegem os juízes da Corte.

4) A sentença

A decisão dada pela Corte será prolatada não por um juiz relator,
mas sim a partir do projeto de julgamento de cada juiz que tenha
dele participado.

Elege-se, em seguida, uma comissão, composta de 2 (dois) juízes,


incumbida de elaborar a redação final, tendo, também, a
participação do Presidente da CIJ.

A sentença (acórdão) é definitiva e inapelável, passível de


execução pelo Conselho de Segurança da ONU, cabendo apenas a
revisão pela própria corte em caso de omissão, contradição e
obscuridade.

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