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AULA 05
Tratados (continuação).
Gênese de um tratado:
NEGOCIAÇÃO
Enquanto regra, as negociações necessárias à criação de um tratado ocorrem mediante o emprego de uma das
duas possibilidades a seguir:
O Estado A envia uma proposta de tratado ao Estado B. => Negociação à distância (atualmente, por meios
eletrônicos) para diminuir os custos;
Pode ocorrer entre uma pluralidade de Estados, mas não é a forma mais comum;
É muito comum que o local onde ocorreu a última conferência necessária à sua celebração seja incluído em seu
nome. Ex.: Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados; Convenção de Montego Bay Sobre Direito do Mar
etc.
ADOÇÃO
(Art. 9º da CVDT/69)
Se o processo de negociação for bem-sucedido, a próxima etapa será o ato de adoção, cuja finalidade é
demonstrar o consentimento dos Estados negociadores com o texto que foi negociado. O art. 9º
estabelece a maioria necessária para que a adoção de um tratado possa ocorrer:
Nessas conferências, para a adoção, basta o voto favorável de 2/3 dos Estados presentes e votantes;
Ex.: 100 Estados negociadores; Destes, 90 Estados estão presentes durante a votação para que o
texto do tratado seja adotado, ao menos 60 dos Estados devem votar a favor. Os 30 Estados que
votaram contra devem retirar-se do tratado, posteriormente à votação. Ex.: Estatuto de Roma de
1998;
Para que não haja o risco de haver votações contrárias ao texto do tratado, busca-se o consenso
durante as negociações ocorridas no âmbito das conferências diplomáticas internacionais.
OBS: O 9º, § 2º estabelece, ainda, que, durante as negociações, a maioria de 2/3 dos Estados presentes e
votantes pode concordar que o texto final seja adotado por outro critério que não seja o voto de 2/3 (ex.:
por consenso).
Apesar de ser necessário um maior tempo de negociação, essa modalidade permite que o texto
estabelecido ao final das negociações alcance as demandas de todos os Estados envolvidos. Ou seja,
facilita a ratificação de mais Estados.
AUTENTICAÇÃO
(Art. 10 da CVDT)
OBS: poderão ser feitas alterações quanto a possíveis erros no texto do tratado, mas não poderá haver
modificações do conteúdo negociado.
A autenticação é relevante, visto que, será a partir desse ato que surgirão as versões autênticas do tratado.
Somente com base nas versões autênticas um tratado pode ser interpretado e aplicado. Ex.: Carta da ONU ->
versões autênticas em 6 idiomas (inglês, espanhol, francês, mandarim, russo e árabe);
Em oposição às versões autênticas de um tratado, existem as versões oficiais: são traduções para utilização
interna do tratado em questão.
Ex.: Carta da ONU em português essa versão, utilizada internamente, não poderá ser utilizada pelo
Brasil no contexto de uma discussão com outros países dentro da organização, pois a versão da Carta
em português não é aceita pelos demais membros;
Outros exemplos: Acordos da OMC -> 3 versões autênticas: inglês, francês e espanhol; Acordos do
Mercosul -> 2 versões autênticas: português e espanhol.
O art. 11 da CVDT/69 menciona os meios que os Estados podem utilizar para manifestar seu consentimento
definitivo em obrigar-se com o tratado. Exemplos:
Outros meios podem ser utilizados se os Estados envolvidos assim desejarem; O art. 11 não é uma
lista fechada;
O art. 14,§2º, CVDT/69 estabelece que a aceitação e a aprovação de um tratado produzem os mesmos efeitos
jurídicos de uma ratificação.
A legislação interna de alguns países os proíbe de ratificar tratados. Desse modo, podem utilizar a
aprovação ou a aceitação do tratado, que produz os mesmos efeitos jurídicos da ratificação;
A troca dos elementos constitutivos do tratado é um meio de celebração utilizado quando a celebração
ocorre à distância;
A adesão, citada no art. 15 da CVDT/69, é o ato utilizado pelos Estados retardatários, ou seja, os que
perderam o prazo para ratificar o tratado em questão.
Diversos tratados estipulam um momento próprio para que possa ocorrer sua assinatura e ratificação.
Sendo impossível que esses atos sejam realizados, o ingresso em diversos tratados é possível por meio
da adesão ou acessão.
OBS: Não confundir adesão com adoção!
Se um tratado é aberto à adesão, nos termos do art. 15, “a” e “b”, o ingresso é automático. Basta o
Estado demonstra interesse para que a adesão seja autorizada;
Se um tratado for fechado à adesão, o ingresso somente será possível com a concordância dos demais
Estados contratados; Ex.: tratados que formam organizações internacionais;
RATIFICAÇÃO
Durante a negociação, os Estados poderão escolher que procedimento será adotado após essa fase:
1) Procedimento breve, curto ou unifásico apenas assinatura definitiva do tratado ao final das
negociações (como manifestação de vontade definitiva); A escolha por esse procedimento ficará
estabelecida nas cláusulas finais do contrato;
No Brasil, o art. 84, VII e VIII da CF/88 estabelece que os órgãos do Poder Executivo serão os
responsáveis por negociar, adotar, autenticar, assinar e ratificar tratados pelo país;
Atenção: A CF/88 repartiu o poder de celebrar tratados (“Treaty-making power”) entre o Poder Executivo e
o poder Legislativo Federal;
Os atos internacionais são da competência do Poder Executivo (art. 84, VII e VIII da CF/88);
A parte final do art. 84, VIII e o art. 49, I da CF/88 demandam a participação do Congresso Nacional
para que o Brasil possa manifestar seu consentimento definitivo em se obrigar.
Art. 49, I, CF/88 Compete ao Congresso Nacional resolver “definitivamente” (mas nem tanto) sobre tratados,
convenções e atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
Quando o tratado criar para o Brasil obrigações novas no âmbito do DIP, a manifestação definitiva de
vontade do Poder Executivo brasileiro dependerá de aprovação parlamentar pelo Congresso Nacional;
A aprovação parlamentar, enquanto regra, demanda maioria simples em um turno de votação na câmara dos
deputados e no Senado Federal;
Havendo aprovação nas duas casas do Congresso Nacional, o presidente do Senado Federal faz promulgar
Decreto Legislativo, cuja finalidade será a de autorizar o Presidente da República (ou a quem ele der plenos
poderes) a manifestar, se quiser, o consentimento definitivo brasileiro;
APROVAÇÃO PARLAMENTAR
A necessidade de aprovação parlamentar dos tratados internacionais não é exigência do DIP, mas sim do
Direito Interno de cada Estado (nem todos os Estados a exigirão). Ex.: Reino Unido -> todas as etapas são
realizadas pelo Executivo antes que o tratado seja discutido pelo Parlamento;
O procedimento longo ou bifásico representa uma vantagem aos países que necessitam da aprovação
parlamentar para participarem do tratado, pois, nesse procedimento, há uma etapa própria para a ocorrência
de tal aprovação: entre a assinatura prenunciativa e a ratificação.
Caso o tratado seja negociado pelo procedimento breve/curto/unifásico, não haverá um momento próprio para
a aprovação parlamentar. Nesse caso, o Estado já deverá ir à negociação com a aprovação parlamentar prévia
do tratado;
No Brasil (que exige aprovação parlamentar do tratado), quando o procedimento para a participação em um
tratado for o curto/unifásico, será necessária uma assinatura ad referendum.
OBS: Nos casos de assinatura seguida de ratificação, ambos são atos diferentes. No caso da assinatura ad
referendum, ela e a assinatura definitiva representam o mesmo ato;
A aprovação parlamentar é exigida no Brasil para tratados que acarretam direitos e obrigações novos.
Os tratados que não acarretarem para o Brasil encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional não
demandam aprovação parlamentar. Isso independe do procedimento adotado (longo ou curto); Esse tipo de
tratado recebe no Brasil o nome de Acordo Executivo;
CUIDADO: Não confundir os Acordos Executivos (que são tratados e acarretam obrigações jurídicas, mas não
exigem aprovação parlamentar) com os Memorandos de Entendimento, nem com os Gentlemen’s
Agreements (os quais acarretam apenas compromissos políticos e morais);
A jurisprudência do STF, em matéria de incorporação de tratados ao Direito Interno brasileiro, menciona que,
enquanto regra, há a necessidade de incorporação mediante promulgação de decreto executivo pelo
Presidente da República.
O STF afirma, com base em um costume constitucional (ADI 1480 e CR 8279), que tratados que demandaram
aprovação parlamentar somente possuem executoriedade no Brasil após promulgação por decreto executivo
(dualismo moderado);
Afirma-se, então, nesse contexto, que é necessário um iter procedimental complexo para que tratados,
enquanto regra, tenham vigência no Brasil:
Lembrar: Se o tratado é Acordo Executivo, não haverá a necessidade de aprovação parlamentar, visto que não
acarretarão direitos e obrigações novos. Nesse caso, após a manifestação de vontade definitiva no plano
internacional, basta a publicação no Diário Oficial da União para que esteja em vigor.
Manifestação da vontade definitiva no plano internacional + Publicação no DOU = vigência no Brasil.
Exemplos de Acordos Executivos: tratados que interpretam tratados já existentes (os quais não criam
obrigações novas, apenas explica as normas de tratados anteriores); tratados de modus vivendi (mantêm as
obrigações que já existem; Ex.: não muda um costume internacional);
Após a incorporação de um tratado ao nosso Direito Interno, ele pode entrar em conflito com nossa
legislação. Será uma questão de hierarquia dos tratados, segundo a jurisprudência do STF:
Tratados de Direitos Humanos: se aprovados de acordo conforme a EC 45, terão status equivalente a
emendas constitucionais; Os não aprovados conforme a EC 45, serão supralegais (estarão acima da
legislação infraconstitucional, mas abaixo da CF/88.).
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