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DIREITO INTERNACIONAL

PROFESSOR: GUILHERME BYSTRONSKI


OBJETIVO DA AULA: Explicar quais são as etapas que precisam ser percorridas para que tratados possuam vigência
interna no Brasil. Analisar como conflitos entre tratados e nosso direito interno são solucionados à luz da
jurisprudência do STF. Mencionar os requisitos para a retirada unilateral de um tratado
PONTO DO EDITAL ABORDADO: 23;

AULA 05
Tratados (continuação).
 Gênese de um tratado:

NEGOCIAÇÃO

 É a primeira etapa necessária à criação de um tratado.

 O DIP não exige qualquer formalidade no que se refere às negociações;

 Enquanto regra, as negociações necessárias à criação de um tratado ocorrem mediante o emprego de uma das
duas possibilidades a seguir:

1) Troca de notas diplomáticas:

 Quando há poucos negociadores;


 Quando o tema é menos complexo;

 O Estado A envia uma proposta de tratado ao Estado B. => Negociação à distância (atualmente, por meios
eletrônicos) para diminuir os custos;

 Pode ocorrer entre uma pluralidade de Estados, mas não é a forma mais comum;

2) Convocar uma conferência diplomática internacional:

 Quando há um número maior de Estados negociadores;


 Quando o tratado for de maior complexidade;

 Cada país envia uma delegação à conferência;

 É muito comum que o local onde ocorreu a última conferência necessária à sua celebração seja incluído em seu
nome. Ex.: Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados; Convenção de Montego Bay Sobre Direito do Mar
etc.

ADOÇÃO
(Art. 9º da CVDT/69)

 Se o processo de negociação for bem-sucedido, a próxima etapa será o ato de adoção, cuja finalidade é
demonstrar o consentimento dos Estados negociadores com o texto que foi negociado. O art. 9º
estabelece a maioria necessária para que a adoção de um tratado possa ocorrer:

 Art. 9º, § 1º REGRA: unanimidade.

 Ou seja, todos os Estados negociadores precisam concordar com o texto negociado;


 Art. 9º, § 2º  Exceção (para tratados negociados no âmbito de uma conferência diplomática
internacional):

 Nessas conferências, para a adoção, basta o voto favorável de 2/3 dos Estados presentes e votantes;

 Ex.: 100 Estados negociadores; Destes, 90 Estados estão presentes durante a votação  para que o
texto do tratado seja adotado, ao menos 60 dos Estados devem votar a favor. Os 30 Estados que
votaram contra devem retirar-se do tratado, posteriormente à votação. Ex.: Estatuto de Roma de
1998;

 Para que não haja o risco de haver votações contrárias ao texto do tratado, busca-se o consenso
durante as negociações ocorridas no âmbito das conferências diplomáticas internacionais.

 OBS: O 9º, § 2º estabelece, ainda, que, durante as negociações, a maioria de 2/3 dos Estados presentes e
votantes pode concordar que o texto final seja adotado por outro critério que não seja o voto de 2/3 (ex.:
por consenso).

 Apesar de ser necessário um maior tempo de negociação, essa modalidade permite que o texto
estabelecido ao final das negociações alcance as demandas de todos os Estados envolvidos. Ou seja,
facilita a ratificação de mais Estados.

AUTENTICAÇÃO
(Art. 10 da CVDT)

 A finalidade da autenticação de um tratado é a de tornar o seu texto definitivo. Ou seja, a autenticação


“congela” o texto do tratado, impedindo modificações.

 OBS: poderão ser feitas alterações quanto a possíveis erros no texto do tratado, mas não poderá haver
modificações do conteúdo negociado.

 A autenticação é relevante, visto que, será a partir desse ato que surgirão as versões autênticas do tratado.
Somente com base nas versões autênticas um tratado pode ser interpretado e aplicado. Ex.: Carta da ONU ->
versões autênticas em 6 idiomas (inglês, espanhol, francês, mandarim, russo e árabe);

VERSÕES AUTÊNTICAS ≠ VERSÕES OFICIAIS

 Em oposição às versões autênticas de um tratado, existem as versões oficiais: são traduções para utilização
interna do tratado em questão.

 Ex.: Carta da ONU em português  essa versão, utilizada internamente, não poderá ser utilizada pelo
Brasil no contexto de uma discussão com outros países dentro da organização, pois a versão da Carta
em português não é aceita pelos demais membros;
 Outros exemplos: Acordos da OMC -> 3 versões autênticas: inglês, francês e espanhol; Acordos do
Mercosul -> 2 versões autênticas: português e espanhol.

 Início das obrigações dos Estados em relação ao tratado:

 O art. 11 da CVDT/69 menciona os meios que os Estados podem utilizar para manifestar seu consentimento
definitivo em obrigar-se com o tratado. Exemplos:

 Assinatura do texto do tratado;


 Troca dos instrumentos constitutivos do tratado em questão;
 Ratificação;
 Aceitação;
 Aprovação;
 Adesão.

 Outros meios podem ser utilizados se os Estados envolvidos assim desejarem; O art. 11 não é uma
lista fechada;

 Os mais meios mais utilizados são: a assinatura e a ratificação;

 ACEITAÇÃO E APROVAÇÃO (Art. 14,§2º, CVDT/69)

 O art. 14,§2º, CVDT/69 estabelece que a aceitação e a aprovação de um tratado produzem os mesmos efeitos
jurídicos de uma ratificação.

 A legislação interna de alguns países os proíbe de ratificar tratados. Desse modo, podem utilizar a
aprovação ou a aceitação do tratado, que produz os mesmos efeitos jurídicos da ratificação;

 TROCA DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO TRATADO

 A troca dos elementos constitutivos do tratado é um meio de celebração utilizado quando a celebração
ocorre à distância;

 ADESÃO (Art. 15 da CVDT/69)

 A adesão, citada no art. 15 da CVDT/69, é o ato utilizado pelos Estados retardatários, ou seja, os que
perderam o prazo para ratificar o tratado em questão.

 Diversos tratados estipulam um momento próprio para que possa ocorrer sua assinatura e ratificação.
Sendo impossível que esses atos sejam realizados, o ingresso em diversos tratados é possível por meio
da adesão ou acessão.
 OBS: Não confundir adesão com adoção!

 Tratados abertos ou fechados à adesão:

 Se um tratado é aberto à adesão, nos termos do art. 15, “a” e “b”, o ingresso é automático. Basta o
Estado demonstra interesse para que a adesão seja autorizada;

 Se um tratado for fechado à adesão, o ingresso somente será possível com a concordância dos demais
Estados contratados; Ex.: tratados que formam organizações internacionais;

 ASSINATURA (Art. 12 da CVDT/69)

 Há a assinatura definitiva (prevista no art. 12 da CVDT/69) e a assinatura meramente prenunciativa (que


apenas prenuncia o desejo posterior do Estado em ratificar o tratado);

 RATIFICAÇÃO

 É a ratificação (art. 14 da CVDT/69) o ato definitivo após a assinatura prenunciativa.

PROCEDIEMENTO BREVE OU PROCEDIMENTO LONGO

 A necessidade ou de assinatura ou de assinatura seguida de ratificação não é estipulada de forma pretérita no


DIP.

 Durante a negociação, os Estados poderão escolher que procedimento será adotado após essa fase:

1) Procedimento breve, curto ou unifásico  apenas assinatura definitiva do tratado ao final das
negociações (como manifestação de vontade definitiva); A escolha por esse procedimento ficará
estabelecida nas cláusulas finais do contrato;

 Após a assinatura definitiva, o tratado entrará em vigor internacionalmente;

2) Procedimento longo ou bifásico  normalmente, para os tratados mais importantes da atualidade


(de maior complexidade e que envolvem um maior número de Estados) é escolhido o chamado
procedimento longo ou bifásico, em que haverá assinatura e ratificação do tratado; A escolha por
esse procedimento ficará estabelecida nas cláusulas finais do contrato;

 Após a ratificação, o tratado entrará em vigor internacionalmente;


PROCEDIMENTOS NO BRASIL

 As etapas internacionais, no que concerne à gênese de um tratado, são de competência do Poder


Executivo.

 No Brasil, o art. 84, VII e VIII da CF/88 estabelece que os órgãos do Poder Executivo serão os
responsáveis por negociar, adotar, autenticar, assinar e ratificar tratados pelo país;

 OBS: Em matéria de ratificação, a última palavra será do Presidente da República;

 Atenção: A CF/88 repartiu o poder de celebrar tratados (“Treaty-making power”) entre o Poder Executivo e
o poder Legislativo Federal;

 Os atos internacionais são da competência do Poder Executivo (art. 84, VII e VIII da CF/88);

 A parte final do art. 84, VIII e o art. 49, I da CF/88 demandam a participação do Congresso Nacional
para que o Brasil possa manifestar seu consentimento definitivo em se obrigar.

 Art. 49, I, CF/88 Compete ao Congresso Nacional resolver “definitivamente” (mas nem tanto) sobre tratados,
convenções e atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

 Quando o tratado criar para o Brasil obrigações novas no âmbito do DIP, a manifestação definitiva de
vontade do Poder Executivo brasileiro dependerá de aprovação parlamentar pelo Congresso Nacional;

 A aprovação parlamentar, enquanto regra, demanda maioria simples em um turno de votação na câmara dos
deputados e no Senado Federal;

 Havendo aprovação nas duas casas do Congresso Nacional, o presidente do Senado Federal faz promulgar
Decreto Legislativo, cuja finalidade será a de autorizar o Presidente da República (ou a quem ele der plenos
poderes) a manifestar, se quiser, o consentimento definitivo brasileiro;

APROVAÇÃO PARLAMENTAR

 A necessidade de aprovação parlamentar dos tratados internacionais não é exigência do DIP, mas sim do
Direito Interno de cada Estado (nem todos os Estados a exigirão). Ex.: Reino Unido -> todas as etapas são
realizadas pelo Executivo antes que o tratado seja discutido pelo Parlamento;

 O procedimento longo ou bifásico representa uma vantagem aos países que necessitam da aprovação
parlamentar para participarem do tratado, pois, nesse procedimento, há uma etapa própria para a ocorrência
de tal aprovação: entre a assinatura prenunciativa e a ratificação.
 Caso o tratado seja negociado pelo procedimento breve/curto/unifásico, não haverá um momento próprio para
a aprovação parlamentar. Nesse caso, o Estado já deverá ir à negociação com a aprovação parlamentar prévia
do tratado;

 No Brasil (que exige aprovação parlamentar do tratado), quando o procedimento para a participação em um
tratado for o curto/unifásico, será necessária uma assinatura ad referendum.

 Assinatura ad referendum: assinatura que demanda confirmação do Congresso Nacional.

 OBS: Nos casos de assinatura seguida de ratificação, ambos são atos diferentes. No caso da assinatura ad
referendum, ela e a assinatura definitiva representam o mesmo ato;

 A aprovação parlamentar é exigida no Brasil para tratados que acarretam direitos e obrigações novos.

 Os tratados que não acarretarem para o Brasil encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional não
demandam aprovação parlamentar. Isso independe do procedimento adotado (longo ou curto); Esse tipo de
tratado recebe no Brasil o nome de Acordo Executivo;

 CUIDADO: Não confundir os Acordos Executivos (que são tratados e acarretam obrigações jurídicas, mas não
exigem aprovação parlamentar) com os Memorandos de Entendimento, nem com os Gentlemen’s
Agreements (os quais acarretam apenas compromissos políticos e morais);

 A jurisprudência do STF, em matéria de incorporação de tratados ao Direito Interno brasileiro, menciona que,
enquanto regra, há a necessidade de incorporação mediante promulgação de decreto executivo pelo
Presidente da República.

 O STF afirma, com base em um costume constitucional (ADI 1480 e CR 8279), que tratados que demandaram
aprovação parlamentar somente possuem executoriedade no Brasil após promulgação por decreto executivo
(dualismo moderado);

 Afirma-se, então, nesse contexto, que é necessário um iter procedimental complexo para que tratados,
enquanto regra, tenham vigência no Brasil:

Aprovação parlamentar do tratado + manifestação da vontade definitiva no plano internacional +


promulgação de decreto executivo = vigência no Brasil.

 Lembrar: Se o tratado é Acordo Executivo, não haverá a necessidade de aprovação parlamentar, visto que não
acarretarão direitos e obrigações novos. Nesse caso, após a manifestação de vontade definitiva no plano
internacional, basta a publicação no Diário Oficial da União para que esteja em vigor.
Manifestação da vontade definitiva no plano internacional + Publicação no DOU = vigência no Brasil.

 Exemplos de Acordos Executivos: tratados que interpretam tratados já existentes (os quais não criam
obrigações novas, apenas explica as normas de tratados anteriores); tratados de modus vivendi (mantêm as
obrigações que já existem; Ex.: não muda um costume internacional);

CONFLITO COM A LEGISLAÇÃO INTERNA

 Após a incorporação de um tratado ao nosso Direito Interno, ele pode entrar em conflito com nossa
legislação. Será uma questão de hierarquia dos tratados, segundo a jurisprudência do STF:

 Tratados em geral: paridade normativa com a legislação ordinária federal;

 Tratados de Direitos Humanos: se aprovados de acordo conforme a EC 45, terão status equivalente a
emendas constitucionais; Os não aprovados conforme a EC 45, serão supralegais (estarão acima da
legislação infraconstitucional, mas abaixo da CF/88.).

 LEITURAS:

Leituras Obrigatórias: Celso – Capítulo IX (Parágrafos 87 a 93, e 96)


Guido – Parágrafo 4.1
Accioly – Parágrafo 1.3.2.4.
Rezek – Parágrafos 30 a 35, 39 a 44, e 51 a 53 (recomendado).

Leituras Avançadas: Amaral Júnior – Parágrafos 2.3.6, 2.3.10, e 2.3.15.


Mazzuoli – Parágrafos 10, 11, e 22 da Seção I, e Seções III, IV, e V do Capítulo V da Parte I.
Portela – Parágrafos 11, 12.1, 13, e 14 do Capítulo III da Parte I, e Capítulo VI da Parte III.

Leitura complementar em língua estrangeira: - Aust – Chapters 8 and 16.

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