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NEGOCIAÇÃO – não se estudam aspetos relacionados com o seu conteúdo e sim os de natureza

formal, como a sua iniciativa e, sobretudo, as pessoas com legitimidade para negociar.

INICIATIVA – nos tratados bilaterais ou multilaterais restritos esta é informal; nos acordos orais
esta iniciativa é totalmente informal e surge aquando de cimeiras ou conversações bilaterais no
âmbito de uma conferência ou organização internacional; nos tratados multilaterais gerais, na
maioria dos casos, estas iniciativas têm cabido a órgãos de organizações internacionais, seja
regionais, seja para-universais

PLENIPOTENCIÁRIOS – são os plenos poderes, denominação normalmente utilizada igualmente


para designar o documento comprovativo destes [artigo 2º/1 alínea c) CVDT]; o representante
com plenos poderes designa-se então plenipotenciário
➔ A prática veio a dispensar de apresentação de plenos poderes determinadas entidades
que gozam de uma presunção da sai existência por força das suas funções
➔ Numa primeira categoria encontram-se os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os
Ministros dos Negócios Estrangeiros que – artigo 7º/2 alínea a) – gozam de uma dispensa
total de apresentação de plenos poderes, podendo praticar todos os atos relativos à
negociação, adoção e autenticação do texto e mesmo à vinculação do Estado ao tratado
➔ Em categoria secundária, encontram-se os chefes de missão diplomática e os
representantes acreditados junto de conferências e organizações internacionais que -
artigo 7º/2 alínea b) – apenas gozam de uma presunção de plenos poderes para efeito de
negociação e adoção do texto, não já para os atos posteriores
➔ Os chefes de missão diplomática gozam de plenos poderes apenas em relação a tratados
bilaterais entre os dois Estados, sendo que não cabem nesta categoria os chefes das
missões consulares
➔ A categoria de chefe da missão diplomática vai para além do seu exemplo pragmático, o
embaixador. Estão também incluídos os enviados e ministros acreditados perante o Chefe
de Estado recetor e os encarregados de negócios acreditados perante o ministro dos
negócios estrangeiros do Estado recetor – todos têm plenos poderes limitados
Nota:
o artigo 8º vem dispor que um ato de uma pessoa que, nos termos do artigo 7º, não goza de
plenos poderes, só vinculará o Estado se este o vier a confirmar.
O artigo 8º deverá ser aplicável às situações do artigo 7º/1 al. b) incluindo as de impostores.
Nestes casos, o Estado pode recusar os efeitos a atos não habilitados. Já se o Estado contribuiu
para esse erro, não poderá então invocar o artigo 8º.
Concluindo, apenas entidades com plenos poderes funcionais irrestritos, isto é, o Chefe de
Estado, o Chefe de Governo (PM) ou o Ministro dos Negócios Estrangeiros são considerados
internacionalmente habilitados a assinar o referido documento.

ADOÇÃO – trata-se do ato que põe termo às negociações, fixando o texto.


➔ A adoção não tem efeitos vinculativos para os Estados em relação ao conteúdo do tratado.
Mas já tem efeitos vinculativos em relação à sua forma, portanto à sua natureza de ato
jurídico
➔ Como dispõe o artigo 24º/4, ganham eficácia imediata
➔ Assim, no artigo 9º ficou ainda consagrada a regra da unanimidade (nº1), mas com uma
exceção para a adoção do texto no âmbito de conferências internacionais – pelo grande
número de participantes, nestas é adotada a regra da maioria de dois terços das entidades
representadas (nº2)

AUTENTICAÇÃO – é a fase do procedimento da conclusão dos tratados pela qual o texto destes,
já adotado, é formalmente reconhecido e tido como definitivo pelos participantes na negociação
➔ Nos tratados orais, adoção e autenticação confundem-se no mesmo ato, ato este que,
regra geral, implica também a imediata vinculação
➔ Nos tratados escritos, a autenticação não só se distingue da adoção, comi pode resultar
de diferentes atos – este regime quanto à autenticação, consta do artigo 10º

RUBRICA – ato mais simples e com efeitos mais reduzidos


➔ Quer o Direito Costumeiro, quer as CVDT (artigo 10º al. b)), apenas fixam um efeito
necessário para este ato: a autenticação. Nada impede, porém, que a rubrica tenha todos
os efeitos da assinatura, tudo depende dos efeitos que as partes por acordo
determinarem atribui-lhe – artigo 12º/2 al. a)
➔ Na falta de acordo, a rubrica apenas autenticará o texto, não implicando mais qualquer
efeito.
➔ É vulgar nos tratados mais importantes a rubrica ser realizada a seguir à adoção, ficando
a assinatura propriamente dita marcada para uma cimeira envolvendo Chefes de Estado
ou de Governo. Nestes casos, a rubrica tem o efeito de mera autenticação
ASSINATURA AD REFERENDUM – é um ato que tem ainda por efeito imediato a autenticação do
texto, mas para ter os restantes efeitos normais da assinatura, fica sujeita a confirmação.
Enquanto esta não se der, a assinatura ad referendum não terá qualquer outro efeito – artigo
12º/2 al. b)
➔ Nos termos gerais, esta confirmação não necessita de ser formal ou sequer expressa. Se
um Estado, depois de o seu representante assinar ad referendum, vem a ratificar o
tratado, a assinatura passará a produzir todos os efeitos normais da assinatura formal,
designadamente enquanto o tratado não entrar em vigor – para efeitos do artigo 18º al.
b) – pois a ratificação serviu de confirmação

ASSINATURA FORMAL – a assinatura formal opera pela mera oposição do plenipotenciário no


final do texto do tratado
➔ Uma vez aberto o tratado para assinatura, a prática deste ato pode ser facultada apenas
às entidades participantes na negociação ou estar aberta igualmente +ara Estados ou
outras entidades não participantes (tratado aberto)
➔ Esta abertura, contudo, tem mais do que um grau. Pode abranger igualmente a assinatura
ou apenas a vinculação definitiva, todos os Estados ou outros sujeitos de DIP ou ser
limitada em função de diversos critérios
➔ A prática também é flutuante quanto ao período que concede para a assinatura.
Normalmente estipula-se um prazo que tem oscilado entre 1 mês e 3 anos para a
assinatura. Não existe, pois, nenhuma norma costumeira em relação ao prazo a conceder
para a assinatura. No silêncio do tratado quanto a um prazo, este é suscetível de ser
assinado sem qualquer limite
➔ Quanto aos seus efeitos, a assinatura é o ato normal pelo qual se procede à autenticação
do texto. O DIP, porém, atribui-lhe outros efeitos automáticos.
➔ A assinatura não impõe qualquer dever de vinculação ao tratado, apenas atribui um
direito ao Estado de se vincular como parte originária, sem necessitar de recorrer à
adesão.
➔ Outro efeito é a obrigação de uma vez assinado um tratado, a entidade não praticar atos
que defraudem o seu objeto ou fim enquanto não declara a sua intenção de não se
vincular ao tratado, constante do artigo 18, al. a)
➔ A sua violação implica responsabilidade internacional desta, que não pode ser destruída
retroativamente por uma manifestação da sua vontade de não se vincular ao tratado
➔ Um quarto efeito da assinatura é a atribuição às entidades assinantes de alguns direitos
mesmo que não se tornam partes: asism, o de se pronunciarem sobre questões
relacionadas com o desempenho das funções do depositário – artigo 77º - ou com a
retificação de erros no texto do tratado – artigo 79º
➔ Um último efeito da assinatura de um tratado é em relação ao Costume. A mera
negociação e, em especial, a adoção são atos com impacte no procedimento costumeiro
de formação de uma norma, mas a assinatura tem um efeito político suplementar
➔ Sublinhe-se que todos estes efeitos normais da assinatura podem igualmente decorrer da
mera rubrica se tal for convencionado e, salvo acordo em contrário, decorrem sempre da
assinatura ad referendum depois da sua confirmação

ASSINATURA SOB RESERVA – o Estado estabelece expressamente que a mera assinatura por si
não o vinculará, sendo necessário um ato posterior. É esta a reserva. A sua formulação mais
comum é a assinatura sob reserva de ratificação

VINCULAÇÃO – autenticado o texto do tratado, encontram-se reunidas as condições para a


vinculação
➔ Formas de vinculação: artigo 11º
o Pela assinatura: acordos em forma simplificada
▪ A assinatura pode ter um efeito extraordinário: a imediata vinculação ao
tratado. Estar-se-á então perante um tratado informal, normalmente
denominado acordo em forma simplificada
▪ Como afirmam as CVDT – artigo 12º/1 – tem de estar estabelecido no
tratado que a mera assinatura vincula as entidades assinantes ou tal ter
sido verbal ou tacitamente acordado. Ou, no silêncio do tratado, uma parte
declarar nos plenos poderes concedidos, durante as negociações ou no
próprio ato de assinatura que esta a vinculará imediatamente. Fora destes
3 casos, a assinatura, ou qualquer dos citados atos paralelos, não vincula
as entidades assinantes ao tratado
o Pela troca de instrumentos constitutivos
▪ O tratado pode estar divido em mais do que um instrumento
▪ Nestas situações, normalmente, a vinculação faz-se pela mera assinatura
dos órgãos ou representantes do Estado
o Pela aceitação e aprovação
▪ Quer a aceitação, quer a aprovação, foram criadas tendo em conta
procedimentos de vinculação existentes em alguns Estados, de modo a
possibilitar um mecanismo ainda formal, mas mais simples que a
ratificação – artigo 14º/2
▪ A aceitação serve apenas para cumprir exigências constitucionais quanto a
um mínimo de formalismo na vinculação do Estado
▪ Não existe também, quer em relação à aceitação e aprovação, quer em
relação a quaisquer formas de vinculação, um critério internacional que
estabeleça que espécie de tratados é queles devem estar sujeitos
▪ Terá de ser o tratado a consagrar estas formas de vinculação ou, no seu
silêncio, ter existido algum acordo entre as partes nesse sentido. Outra
possibilidade será, no silêncio do tratado e falta de qualquer modo, a parte
que se vincula por estes meios ter feito constar dos plenos poderes,
durante as negociações ou no momento do ato que se vincula desta forma
– artigo 14º
o Pela ratificação e confirmação formal
▪ A forma mais solene e tradicional de vinculação a um tratado é a
ratificação. Os tratados que exigem a ratificação como meio formal de
vinculação são denominados de tratados solenes
▪ À luz da maioria dos ordenamentos esta cabe ao Chefe de Estado
▪ Se tal exigência não ficar estabelecida no tratado, ou não existir acordo
informal nesse sentido, não existe qualquer dever institucional de recorrer
à ratificação como meio de vinculação
▪ No silêncio do tratado, das partes e mesmo do próprio Estado, também
nada impede que este se vincule por este meio
o Pela adesão – artigo 15º
▪ Trata-se de uma forma de vinculação que tende a ser aproximada em
solenidade da ratificação, contudo, como se verificou, pode existir uma
aceitação-adesão ou uma aprovação-adesão, tal como uma ratificação-
adesão. O que a caracteriza é o facto de pressupor que a entidade que se
vincula ao tratado não o autenticou. Assim a adesão é uma forma de
vinculação própria dos Estados ou outros sujeitos que não autenticaram o
tratado; ou por não terem participado nas negociações ou por se terem
recusado a fazê-lo
▪ Por isso, a adesão só é possível em relação a tratados abertos ou
semiabertos. Os tratados fechados não permitem adesão

➔ Vinculação limitada: a vinculação aos tratados, na falta de indicação contrário, é feita em


relação a todo o seu conteúdo. No entanto, existem exceções a este princípio
o Vinculação a parte do tratado
▪ À luz dos princípios gerais, esta aceitação terá de ser unânime. Basta que
uma das partes rejeite esta vinculação parcial, para tornar ineficaz em
termos absolutos, não se tornando o Estado parte no tratado, quer em
relação àquela parte, quer em relação a todas as outras
▪ No entanto, se uma das partes, apesar da oposição de outra ou outras,
estiver disposta a aceitar ainda asisma vinculação parcial (mas tem de ficar
claro), então estar-se-á perante um novo tratado bilateral entre esta pate
aceitante a pate autora da vinculação parcial. Mas fica sujeito ao regime
geral dos tratados sucessivos sobre matérias coincidentes – artigo 30º/ 4 e
5
▪ Menos claro é saber se a aceitação das restantes partes pode ser
meramente tácita, isto é, decorrer do silêncio destas. As semelhanças de
reservas, parecem apontar no sentido afirmativo. Deste modo, o prazo em
que caduca o direito das restantes partes de rejeitarem a vinculação parcial
será idêntico. À luz das CVDT, 12 meses.

RESERVAS – artigo 19º – “declaração unilateral” feita por um Estado quando assina, ratifica,
aceita, aprova ou adere a um tratado, por meio da qual se pretende excluir ou modificar o efeito
jurídico de certas disposições do tratado quanto à sua aplicação a esse Estado
➔ É um ato jurídico unilateral, embora sem autonomia jurídica em relação ao tratado, pois
integra-se no seu procedimento de conclusão.
➔ Visa excluir ou modificar o efeito jurídico de disposições do tratado. Não pode criar nova
disposição, apenas excluir ou modificar os seus efeitos. Um Estado não pode por meio de
uma reserva autoatribuir-se um direito ou impor um dever às ouras partes não previsto
no tratado. Apenas pode excluir ou modificar, direito das outras partes ou os seus próprios
deveres previstos no tratado
➔ A reserva poderá, aina assim, modificar a disposição no sentido do seu alargamento
(reservas extensivas)
➔ Permitir o alargamento de disposições pode simplesmente acabar por equivaler a uma
permissão de criar disposições novas com um regime bem mais favorável d que o dos
tratados bilaterais: o silêncio das partes vale como consentimento e o autor da reserva
pode revogá-lo unilateralmente. A prática parece apoiar a existência desta figura

FIGURAS AFINS:
➔ DECLARAÇÕES INTERPRETATIVAS – o seu efeito útil é chamar a atenção das partes para
alguns aspetos menos claros que interessa ao autor da declaração ver respeitados
o Atribuir novos direitos ao seu autor ou deveres às outras partes que nada têm a
ver com o conteúdo da disposição “interpretada” – nesta situação, não é possível
reconduzi-la à categoria de reserva: estas têm de restringir ou ampliar
marginalmente os efeitos de uma disposição e não criá-la. Não lhes +e, pois,
aplicável o regime das reservas, designadamente a aceitação pelo mero silêncio
➔ DECLARAÇÕES POLÍTICAS – declarações motivas politicamente. Desde protestos pelo
modo como ocorreu a negociação, passando por autoelogios, até apologias de cetos
princípios político-jurídicos. Regra geral, estas declarações são completamente destituídas
de efeitos jurídicos
o Mesmo neste caso, não se trata de reservas, pois não é o âmbito material da
convenção que é limitado
o No caso de tratados que imponham obrigações erga omnes, esta recusa de
estabelecer relações convencionais é essencialmente inútil do ponto de vista
jurídico. O Estado continua obrigado a respeitar integralmente as normas do
tratado mesmo que tal beneficie de forma indireta o Estado que recusa reconhecer

➔ DECLARAÇÕES RELATIVAS A TRATADOS BILATERAIS SIMPLES – as reservas são atos


próprios dos tratados multilaterais.
o Contudo, uma alteração de opinião pode igualmente verificar-se em relação a um
tratado bilateral simples. Neste caso, a parte pode optar por reabrir formalmente
as negociações ou pode vincular-se ao tratado com uma ou mais declarações
restritivas das disposições do tratado, remetê-las à outra parte e aguardar a sua
reação. Caso esta aceite estas restrições, o tratado entra em vigor com tais
limitações
o Por que motivo é que neste caso não se trata de reservas? Na verdade, existiu uma
modificação pura e simples do tratado que implicou, portanto, a sua revogação
parcial. De facto, a reserva pressupõe uma mera derrogação da disposição que tem
por objeto entre o seu autor e as restantes partes, não afetando as relações entre
estas. Não há pois, uma revogação, mas derrogação. No caso de uma “reserva” a
um tratado bilateral entre partes simples, já se dá uma revogação.
o Perante reservas, o mero silêncio tem valor jurídico. No entanto, neste caso e nos
restantes casos de criação ou modificação dos tratados, não basta o mero silêncio.
Mesmo não sendo necessária uma aceitação expressa, o consentimento tácito
tem de ser demonstrado, salvo casos raros, por meio de atos positivos do outro
Estado.

RESERVAS
➔ Requisitos jurídicos quanto ao objeto – quando é que as reservas serão admissíveis –
artigo 19, especialmente na sua al. a)
o É necessário entender que tal proibição pode não constar do instrumento principal
do tratado, tendo ficado estabelecido numa estipulação verbal ou mesmo tácita,
estipulações que fazem igualmente parte do tratado.
o Pode suceder que tal proibição de reservas não conste do próprio tratado, mas sim
de um outro tratado
o consequências do facto de um Estado fazer uma reserva em relação a um tratado
que as proíbe: a sua vinculação será ineficaz. Portanto, não se trata de considerar
a reserva nula e o Estado ficar vinculado ao tratado, é o ato de vinculação, seja a
assinatura, a ratificação, a adesão ou outro, que se torna ineficaz – artigo 17º/1 e
2 e 20º/4 al. c) a contrário
o o apuramento da existência de uma reserva pode, contudo, como se viu, não ser
nada claro. A solução será o autor da declaração assumir expressamente o caráter
interpretativo desta e renunciar a eventuais efeitos modificativos que esta tenha
sobre as disposições do tratado

➔ Requisitos jurídicos quanto ao conteúdo


o Decorrentes do Direito Costumeiro: O Ius Cogens
▪ Uma reserva, mesmo que tenha sido aceite por todos os restantes Estados
partes, será nula se derrogar uma destas normas
▪ Note-se que não será necessário que a reserva imponha um dever
contrário ao Ius Cogens, basta que libere as partes de um dever imposto
por este
▪ Pelo contrário, se se tratar de uma reserva extensiva, que, portanto,
modifique a disposição do tratado no sentido de alargar o âmbito de
proteção desta, em princípio será válida, dada a dimensão supletiva do Ius
Cogens

o Decorrentes do Direito Costumeiro: O Ius Dispositivum


▪ Ao permitir que um Estado por meio de uma reserva seguida de silêncio
dos restantes Estados derrogue uma norma costumeira dispositiva, estar-
se-á a permitir derrogações mais expeditas por meio de reserva do que por
meio de tratado
▪ Regra geral, uma objeção simples não impede que a reserva produza os
seus efeitos. Acresce que o Estado autor pode sempre revogar
unilateralmente a reserva, mas o Estado aceitante não pode revogar a sua
aceitação
▪ Julga-se que a solução terá de ser mesmo a da rejeição de reservas
contrárias ao DIP Costumeiro Dispositivo. É inaceitável que um Estado
apesar de ter objetado a uma destas reservas veja ainda assim esta limitar
os seus direitos costumeiros ou que o mero silêncio equivalha a aceitação.
A jurisprudência tem opinado no sentido da inadmissibilidade de reservas
contrárias ao DIP Costumeiro, mesmo dispositivo
o Decorrentes do Direito Costumeiro: respeito do objeto e fim do tratado
▪ Os Estados invocam muitas vezes a desconformidade com o objeto e fim
do tratado como fundamento para objetarem a uma reserva
▪ Verifica-se que a consequência que naturalmente decorria da formulação
de uma reserva contrária ao fim e ao objeto do tratado nunca é invocada:
a ineficácia absoluta. Porém, um Estado não necessita de qualquer
fundamento para objetar a uma reserva, a objeção é totalmente
discricionária
o Decorrentes do Direito Convencional
▪ Para lá dos limites impostos pelo DIP Costumeiro, também os próprios
tratados, ou outros tratados, podem impor restrições ao conteúdo das
reservas.
▪ Também é possível que proíbam certo tipo de reservas, determinadas em
função da sua formulação: por exemplo, o facto de serem demasiado
vagas, genéricas ou limitarem-se a remeter para o direito interno.
▪ A formulação de uma reserva contrária ao objeto e fim de um tratado
implicava a mesma sanção que decorre da violação das suas duas outras
alíneas, portanto a ineficácia absoluta do consentimento do Estado – artigo
20º/4 al. c)

➔ Requisitos jurídicos: quanto ao momento da formulação


o As reservas devem ser feitas aquando da assinatura ou, quando esta não seja o ato
pelo qual o Estado se vinculou, no momento da sua vinculação, opere esta por via
de aceitação, aprovação, ratificação, confirmação formal, adesão ou ainda
qualquer outra forma
o Se o Estado ou outro sujeito capaz tiver formulado reservas no momento da mera
assinatura que, portanto, não o vincula, deverá confirmá-las o momento da sua
vinculação (artigo 23º/2)
o Uma reserva posterior será já uma alteração de uma norma a que o Estado está
vinculado, portanto, um desvio ao princípio Pacta sunt servanda.
o Este princípio não é imperativo ou sequer inderrogável. Assim, se as partes assim
o autorizarem, nada impede a formulação de uma reserva posterior à vinculação.
o Aqui não se trata de uma ineficácia da vinculação do Estado, pois este já se
encontra válida e eficazmente vinculado. Será a reserva a focar sujeita às
consequências, portanto, a ser ineficaz.
➔ Requisitos jurídicos: quanto à forma
o As CVDT exigem a forma escrita para as reservas, para as suas aceitações expressas
e para as objeções – 23º/1. Logicamente também a revogação das reservas ou das
objeções deve ser realizada por escrito – 23º/4
o A falta da forma escrita é causa de ineficácia jurídica destes atos
o Tratados orais as reservas serão feitas oralmente
o É a partir da data da receção da notificação que se começam a produzir os efeitos
do ato em relação ao sujeito notificado e, regra geral, a contra os prazos da
aceitação tácita
o Em relação a um Estado que tenha formulado reservas, o tratado só pode entrar
em vigor a partir do momento em que exista alguma aceitação, o que significa que
pode ser necessário aguardar pela passagem de algum tempo para que exista uma
aceitação tácita do Estado como parte, se não existirem aceitações expressas. Mas,
não existindo reservas, a regra geral, é a entrada em vigor imediata, caso o tratado
já esteja em vigor – artigo 24º/3

➔ Admissibilidade concreta – o facto de uma reserva respeitar todos os requisitos descritos,


não significa necessariamente que venha a produzir os seus efeitos; necessita de ser
aceite pelo menos por UM Estado; a exceção a esta regra decorre do artigo 20º/1 (quando
uma reserva é expressamente aceite pelo próprio tratado)
o Regime geral:
▪ As reservas, para serem aceites, apenas precisam de ser aceites por um
Estado contratante [artigo 20º/4 al.c)], sendo que a aceitação pode ser
tácita
▪ Caso se pretenda fazer uma objeção, esta terá de ser feita num prazo de 12
meses, a contra desde o momento que os Estados foram notificados ou
desde a data que se vincularam ao tratado, aplicando-se o prazo mais largo
(20º/5)
▪ Estes prazos são alvo de divergência doutrinária – segundo o professor
CORREIA BAPTISTA, o prazo mais longo surge do regime costumeiro e o
prazo de 12 meses não tem aplicação prática, sendo o prazo normalmente
aplicado o de 90 dias para a aceitação (o fim desde curto prazo não cessa
o direito dos Estados objetarem); relativamente à objeção, este autor
considera que o prazo a ser aplicado é o de 24 meses. Já a professora Maria
Luísa Duarte defende o prazo de 12 meses
o Tratados restritos: este é um dos dois regimes particulares de aceitação
▪ Este regime revê que se esteja perante um tratado multilateral restrito,
cujo objeto e fim do tratado preveja a vinculação integral do tratado pelas
partes
▪ Neste cenário será aplicada a regra da unanimidade, ou seja, todas as
partes devem aceitar a reserva
▪ É importante referir que um tratado aberto nunca aplicará este regime
(nunca poderá ser restrito)
▪ num tratado fechado, se nada for disposto sobre o regime das reservas,
então a tendência será de aplicar a regra da unanimidade, em tratados que
vinculem 10 partes ou menos (20º/2); caso haja uma objeção à reserva a
consequência será a ineficácia do consentimento do Estado e, com isto o
Estado autor da reserva não poderá integrar o tratado se a não revogar
▪ a única forma da reserva ser válida, no caso anterior, é se algum Estado
queira fazer um tratado bilateral
o Tratados constitutivos de organizações internacionais:
▪ Neste tipo de tratados a CVDT prevê no 20º/3 a necessidade de existir a
aceitação do órgão competente dessa organização (salvo disposições em
contrário)
▪ Este regime acaba por criar um sistema de fiscalização centralizado,
embora continue a ser substancialmente estadual
▪ A maioria dos votos necessária para a aceitação deve ser a prevista no
próprio tratado constitutivo ou nas regras internas adotadas à sua luz para
a admissão dos novos membros – artigo 5º (parte final)
▪ Como decorre do 20º/5 que este apenas se aplica ao nº2 e 4, a aceitação
por parte da organização não pode ser derivada do mero silêncio; no
entanto, se um Estado deposita um instrumento de adesão a uma
organização com uma reserva e o órgão competente o aceita, deve-se
presumir que a reserva foi aceite tacitamente
▪ Nestes tratados um ato de vinculação acompanhado de reservas não
produzirá efeitos enquanto a organização internacional não se formar,
sendo que uma vez obtido o número necessário de partes, será então
possível constituir a organização e apreciar a reserva
▪ Se o tratado for fechado e exigir para a sua entrada em vigor que todos os
Estados que participaram nas negociações se vinculem (artigo 24º/2 e
artigo 5º), este regime não será aplicável

➔ Efeitos das reservas, aceitações e objeções


o A relatividade dos efeitos da reserva
▪ Esta é uma norma geral de caráter costumeiro – a reserva apenas afeta as
relações entre o sujeito autor desta e as outras partes, mas não as relações
entre elas (artigo 21º/2)
o Efeitos em relação a disposições que impõem obrigações bilaterais
▪ Os efeitos da reserva são distintos em função de se estar perante uma
disposição que impõe obrigações erga omnes ou que impõe obrigações
bilaterais
▪ Os efeitos das reservas que impõe obrigações bilaterais estão parcialmente
previstos no artigo 21º
▪ Exemplo: admitindo que um Estado formula uma reserva que prevê a
descida de 5% dos impostos aduaneiros de um dado produto, modificando
os 10% previstos no tratado; este Estado de facto só será obrigado a descer
5% em relação às partes que tenham aceite ou tenham feito uma mera
objeção simples; sendo que as partes aceitantes também só tem de descer
5% face ao Estado autor da reserva, mas entre si terão de descer os 10%
▪ Espécies de obrigações: (as CVDT indicam duas: objeção simples e
qualificada)
• Objeção simples – o Estado limita-se a apresentar uma objeção à
reserva que implica que a disposição afetada pela reserva só se
aplicará nos limites previstos pela reserva (21º/3, parte final), ou
seja, apesar de um Estado parte objetar à reserva, tal não torna
inoponível a reserva, esta continua a aplicar-se; esta objeção tem
meros efeitos políticos, por regra, no entanto, em situações de uma
reserva extensiva, FALAR NO PRINCIPIO DO CONSENTIMENTO –
P.217
• Objeção qualificada – neste caso, os efeitos serão sempre
diferentes dos efeitos da aceitação em relação a todas as espécies
de reservas; esta objeção impede que o tratado entre em vigor
entre o Estado autor da reserva e o Estado objetante (artigo 20º/4
al. b) e 21º/3); para objetar formalmente tem de se declarar
expressamente, caso contrário presume-se que a objeção é
simples; o autor da reserva continuará vinculado às outras partes
que não tenham formulado objeções qualificadas
• Objeção parcial – pode ocorrer que apenas um aspeto da reserva
levante reticências; neste caso, se a reserva visar restringir uma
disposição, esta tem os mesmos efeitos da aceitação, sendo
juridicamente inútil objetar total ou parcialmente; no caso de uma
reserva extensiva, uma objeção parcial implica uma aceitação
parcial da disposição, ou seja, a parte extensiva que foi aceite da
reserva será aplicável entre ambos os Estados, mas não a parte
visada pela objeção
• Objeção preventiva – tem surgido como expediente utilizado pelos
Estados para evitar as aceitações tácitas; esta objeção permitirá ao
Estado evitar ter de estar constantemente a formular objeções à
mesma reserva em relação a vários Estados; esta espécie de
objeção pode ser simples ou qualificada
• Objeção-reserva – surgiram como forma de criar uma figura
intermédia entre a objeção simples e a qualificada, pois a objeção
qualificada é raramente usada, porque considera-se ser mais útil o
Estado autor da reserva ficar vinculado, pelo menos de forma
limitada perante os restantes Estados, do que simplesmente
desvinculado; assim, estas objeções não impedem a entrada em
vigor total do tratado entre os dois Estados, mas impedem a
entrada em vigor de um aparte do tratado que os Estados
objetantes considerem ligada com a disposição objeto da reserva
o Efeitos em relação a disposições que impõe obrigações erga omnes
▪ 220
➔ Revogação de reservas
o A revogação das reservas tem um regime específico: podem ser revogadas
livremente e sem limite de prazo, a menos que o tratado estabeleça o contrário,
trata-se do regime costumeiro codificado no artigo 22º/1 e 2
o O mesmo regime vigora para a revogação de objeções
o Já não é admissível a revogação de aceitações – se existe um prazo para as
objeções, que uma vez ultrapassado conduz a uma aceitação tácita, então faria
pouco sentido poder-se revogar a aceitação
o Artigo 22º/3 – princípio de que a notificação destas revogações é condição da sua
eficácia
VINCULAÇÃO
➔ Nos casos dos tratados orais e dos restantes tratados informais, como os simples cordos
em forma simplificada, o momento da vinculação dá-se imediatamente com a prática do
ato relevante do consentimento
➔ O momento da vinculação é o da data do depósito do instrumento de vinculação junto do
depositário do tratado, quando multilateral ou de troca de instrumentos entre as partes,
quando bilateral (a menos que as partes tenham disposto em contrário – p.e.:
consagrando a possibilidade de a mera notificação da prática do ato interno de vinculação
bastar à vinculação internacional [artigo 16]); apenas com a notificação às outras partes
ganham eficácia
➔ Entrada em vigor:
o Um tratado apenas produz efeitos depois de terem sido completados os passos
referidos para a sua conclusão, mas as normas relativas ao Tratado enquanto ato
jurídico entram em vigor imediatamente a seguir à adoção do texto (24º/4)
o a mera assinatura tem efeitos em relação a um mínimo normativo que é
necessário respeitar para que não seja frustrado o objeto e fim do tratado [18º al.
a)]
o artigo 18º al. b): quando um Estado manifesta o seu consentimento em ficar
vinculado pelo tratado tem de respeitar o objeto e fim do tratado entre a
vinculação e a entrada em vigor
o é possível existir uma aplicação provisória (artigo 25º), ou seja, é possível que o
tratado ou parte deste entre provisoriamente em vigor de imediato (nº1 do 25º),
sendo que se sujeita inteiramente ao princípio do consentimento
o entrada formal em vigor:
▪ um tratado pode dispor que entrará em vigor logo que duas entidades
negociante se vinculem, pode exigir a vinculação de metade destas
entidades (ou uma outra percentagem) ou um número preciso de
vinculações
▪ embora todas as vicissitudes relativas à vigência de um tratado devem ser
comunicadas às partes e outras entidades com direito a tornarem-se
partes [artigo 77º/1 al. c) e e) e 78º al. a)], essas comunicações não são
requisito para a entrada em vigor do tratado; este entra em vigor assim que
está reunido o número necessário de vinculações (artigo 24º/2)
▪ é necessário um prazo, sendo que este serve para que as partes adotem
eventuais medidas jurídicas ou técnicas necessárias para a execução do
tratado
▪ na ausência de estipulação das partes, seja no próprio tratado, seja em
tratado complementar, será necessário recorrer à regra geral dispositiva: é
necessário que todas as entidades negociante se vinculem para que o
tratado entre em vigor – 24º/2; esta regra dos tratados multilaterais gerias
não faz sentido, por ser demasiado exigente (o DIP Costumeiro não fornece
disposição alternativa, devendo os estados criar um tratado
complementar)
▪ no caso de um sujeito depositar o seu instrumento de vinculação quando
o tratado já estiver em vigor, a regra aplicada é a de que o tratado entra em
vigor em relação ao sujeito na data do depósito, a menos que tenha sido
estabelecida regra diferente (artigo 24º/3)
▪ é prática comum os tratados multilaterais estabelecerem um período de
tempo entre a data do depósito e a entrada em vigor, sobretudo 30 dias,
mas igualmente o de 3 meses; não se pode dizer que surgiu uma norma
costumeira
➔ Registo
o Todos os tratados devem ser registados – artigo 102º/1 da Carta das Nações
Unidas e 80º das CVDT
o O momento do registo tem sido efetuado depois da sua entrada em vigor
o O registo implica a publicação
o A sanção decorrente da violação da obrigação de registo não está estabelecida nas
CVDT, mas sim no artigo 102º/2 da CNU; o registo não é condição de eficácia e
muito menos de validade do tratado; um tratado não registado simplesmente não
poderá ser invocado perante qualquer órgão da ONU
o No entanto, ao se registar um tratado torna-se plenamente válido e obrigatório
entre as partes
➔ Depositário
o Esta figura é própria dos chamados tratados multilaterais, mas também existe nos
tratados bilaterais com partes complexas, isto é, composta por mais do que uma
entidade
o nos tratados bilaterais entre dois Estados ou outros dois sujeitos capazes não é
necessário estabelecer depositário, pois as duas entidades partes trocam os
instrumentos de vinculação e contactam diretamente entre si
o as CVDT regulam esta figura no seus artigos 76º-78º
o artigo 76º: estabelece que o depositário é nomeado pelas entidades negociantes,
por regra, no próprio texto do tratado
o a disposição relativa ao depositário entra em vigor com a mera adoção (24º/4)
devido à sua conexão com aspetos relacionados com a natureza do Tratado
enquanto ato jurídico e as exigências práticas
o 76º/2: afirma o caráter internacional das suas funções e os sues deveres de
isenção em relação a todas as partes do tratado, não se devendo deixar de
influenciar por eventuais deferendos com alguma das partes ou pelo facto de não
terem surgido relações convencionais entre algumas destas, devido,
designadamente, a objeções qualificadas a reservas
o Funções do depositário: artigo 77º/1
▪ Funções de tutela do texto original do tratado e dos instrumentos de
plenos poderes [al. al)]
▪ produção de cópias oficiais e das traduções previstas, transmitindo-as às
partes e outros sujeitos com direito a tornar-se partes no tratado [al. b)]
▪ Também lhe compete praticar atos que visam facilitar o processo de
conclusão do tratado; cabe-lhe receber a assinatura, quando ainda
admissível, os instrumentos de vinculação (artigo 67º) e quaisquer
comunicações e notificações [artigo 77º/1 al. c)], evitando que as partes
tenham de remeter notificações destes atos a todas as partes e outros
sujeitos com direito a tornar-se parte do tratado, pois será o depositário a
fazê-lo [al. e)]
▪ Deve notificar as partes e aqueles sujeitos das vicissitudes que atinjam o
tratado, como o cumprimento dos requisitos para a sua entrada em vigor
[al. f)]
▪ Examinar se os instrumentos que lhe são apresentados se encontram em
devida forma [al. d)] – exemplo típico é o da uma reserva apresentada sem
forma escrita
▪ A al. g) estabelece ainda que cabe ao depositário promover o registo do
tratado; esta disposição deve ser conjugada com a do artigo 80º/2 que
estabelece a competência automática do depositário para proceder a este
ato mesmo que o tratado a registar nada diga sobre o assunto
➔ Ratificação de erros
o Durante o procedimento de conclusão de um tratado, depois da autenticação do
texto, podem ser detetados erros
o O reconhecimento do erro depende sempre de acordo comum de todas as partes
e das entidades assinantes do tratado
o As CVDT regulam a ratificação destes erros de forma diferente consoante exista
um depositário ou não
o Na falta de depositário – 79º/1 – propõe-se três métodos (sendo que as partes
podem optar por outro):
▪ Rasura do texto do tratado devidamente autenticada pelas rubricas de
representantes autorizados
▪ Prática de um ato complementar retificativo que se integra no tratado
▪ Perante erros generalizados, plasmar todo o conteúdo do tratado (sem
erros) num novo instrumento adotado pelo mesmo processo
o Na presença de um depositário – 79º/2:
▪ Deve notificar as partes e assinantes do erro, apresentando uma proposta
de retificação
▪ Se existir uma objeção, este deverá comunicá-la às partes, cabendo a estas
a decisão
o Relativamente ao 79º/3, fazer uma remissão para o 33º/4
EFICÁCIA página 230
➔ Pacta sunt servanda
FALTA ESTUDAR DA 230-276

INVALIDADE, EXTINÇÃO E SUSPENSÃO


➔ Ao abrigo das CVDT, as partes ficam proibidas de invocar qualquer causa de invalidade,
extinção ou suspensão que não esteja prevista nestas Convenções – artigo 42º
➔ O 42º/2 estabelece que, em relação à extinção ou suspensão já é admissível que o proprio
tratado de se pretendem desvincular formalmente estabeleça outras causas
➔ Cada uma destas figuras constitui uma limitação adicional ao âmbito do princípio Pacta
sunt servanda
➔ O efeito útil do artigo 42º será apenas o fundamento para a derrogação de qualquer causa
costumeira de invalidade ou extinção e suspensão não prevista nas CVDT; este artigo só
tem relevância para os Estados e organizações que sejam parte nas CVDT
➔ Artigo 43º – se já existia uma obrigação prévia vinculada pelo DIP Costumeiro ou por outra
fonte, a nulidade, a cessação de vigência ou a denuncia de um tratado não afetam o dever
de um Estrado cumprir as obrigações
➔ Artigo 44º – consagra que um tratado não vê todas as suas disposições afetadas por ser
atingido por uma causa de invalidade, de extinção ou suspensão – princípio da
divisibilidade
o Em matéria de divisibilidade, para ser admitida, deve respeitar cumulativamente
quatro condições, como estabelece o 44º/3:
▪ A causa só pode atingir uma ou algumas disposições
▪ A execução das restantes disposições do tratado tem de ser independente
da disposição ou disposições atingidas [nº3 al. a)] – se a disposição era
essencial, então não é possível a separação e todo o tratado será atingido
▪ Não pode decorrer do tratado ou por outra forma que a outra parte ou
outras partes considerem a disposição ou disposições afetadas como base
essencial do seu consentimento [nº3 al. b)] – se a parte atingida fosse
essencial, então todas as disposições seriam afetadas
▪ O equilíbrio entre direitos e obrigações do tratado não pode ser alterado
de forma desrazoável [nº3 al. c)]
➔ As CVDT estabelecem regras particulares:
o 44º/5: nunca é aplicável o regime da divisibilidade às invalidades decorrentes de
coação sobre o representante (artigo 51º), de coação sobre o Estado (artigo 52º)
ou de derrogação originária de uma norma iuris cogentis (Artigo 53º) – matéria de
Ordem Pública
o Em situações em que a coação partiu da outra parte num tratado bilateral simples,
compreende-se a vantagem de libertar a parte vítima de qualquer obrigação em
relação àquele tratado
o Em situações de contradição com uma norma de Ius Cogens, todo o tratado torna-
se nulo – artigo 53º – CORREIA BAPTISTA considera esta solução de indivisibilidade
absurda
o Artigo 44º/1: em casos de denúncia, de recesso ou de suspensão por decisão
unilateral discricionária prevista no tratado, não ser a separabilidade, a menos que
o tratado o preveja ou as partes tenham convencionado por outra forma
o Artigo 44º/4: nos casos de dolo ou corrupção, a parte vítima (única que tem o
direito de invocar estes vícios do seu consentimento) poderá optar, quando
respeitadas as quatro condições do nº3, entre a invalidade do tratado ou apenas
de algumas disposições
o Nota: a invocação do artigo 44º é um direito e não uma necessidade
o Nota: as CVDT não preveem a possibilidade de existir, nos tratados multilaterais, a
invocação de uma causa de invalidade, extinção ou suspensão contra apenas
algumas das partes e não contra as outras
➔ Perda de direito de invocar uma causa
o Artigo 45º: consagra a possibilidade da entidade com direito a invocar uma causa
de invalidade, extinção ou suspensão de um tratado, perder esse direito
o Este regime só se aplica a causas que tenham subjacente interesses diretos das
partes, ou seja:
▪ Violação do Direito interno
▪ Abuso de poderes
▪ Erro
▪ Dolo
▪ Corrupção
▪ Exceção do não cumprimento
▪ Alteração de circunstâncias; incapacidade da entidade; incapacidade do
representante
o Este regime não comporta:
▪ causas que têm subjacentes interesses públicos internacionais (coação
sobre o representante ou sobre o Estado e Ius Cogens, vigente e
superveniente)
▪ as causas que decorrem de acordo das partes – artigos 54º al. b); 57º al. b)
e 59º
▪ previsão pelo tratado devido ao seu caráter automático – caducidade ou
suspensão, condição final ou por execução integral do tratado: artigos 54º
al. a) e 57 al. a)
▪ por perda do número necessário de partes previsto – artigo 55º
▪ impossibilidade originária ou superveniente e similar por força da
realidade das coisas – artigo 61º
o pode ocorrer esta perda de direito quando tomado o conhecimento da verificação
de factos de uma destas causas e a parte vier a confirmar expressamente a sua
validade ou vigência [45º al. a)] ou vier a fazê-lo por outros meios [45º al. b)] –
ambas as formas devem ser consideradas costumeiras e estão de acordo com o
princípio do consentimento
o mas a quem compete conferir este consentimento? Tendo em conta o regime
estabelecido em situações paralelas 8artigo 7º), parece que apenas o Chefe de
Estado, o Chefe de Governo e o Ministro dos Negócios Estrangeiros ou uma pessoa
por estes autorizada poderá praticar atos que decorra a aplicação deste preceito

➔ Invalidade
o existem 8 causas tipificadas nas CVDT
o das causas consagradas pelas CVDT, sete delas são vícios:
▪ violação de regras internas de competência
▪ violação de restrição dos poderes
▪ erro
▪ dolo
▪ corrupção
▪ coação sobre o representante
▪ coação sobre o Estado
o estes provocam apenas a invalidade do consentimento, não afetando a eficácia do
tratado entre as outras partes, a menos que se trate de um tratado bilateral
simples; sendo um tratado multilateral, a invalidade do consentimento de uma das
partes, na maioria dos casos não afetará a continuidade do tratado em relação às
restantes partes
▪ a oitava causa de invalidade – derrogação do Ius Cogens – é uma causa
objetiva de invalidade, portanto, do próprio Tratado ou, mais
corretamente, da disposição viciada
o existem 4 causas adicionais:
▪ a invalidade técnica que decorre da incapacidade do sujeito para celebrar
o tratado
▪ a propósito dos vícios da vontade, deve ser incluída a incapacidade
intelectual do representante do Estado participante nas negociações
quando o seu ato vincule o Estado
▪ casos de erro-obstáculo, ou seja, na manifestação da vontade, julga-se que
este não seja uma invalidade, mas uma ineficácia absoluta
▪ impossibilidade originária física de execução
o a incapacidade intelectual e o erro-obstáculo são causas puramente dispositivas
o a incapacidade da entidade e a impossibilidade originária são questões de facto
o as oito causas tipificadas têm como consequência a nulidade, sendo que na
maioria dos casos trata-se de nulidades sui generis
▪ nulidades absolutas: os casos de coação sobre o representante e sobre o
Estado e a derrogação do Ius Cogens (nulidades que têm subjacentes
motivações de Ordem Pública)
• a nulidade absoluta é invocável por qualquer parte no tratado nulo
e, à luz do DIP Costumeiro, até por entidades que não sejam partes
neste
• a nulidade absoluta não é suscetível de confirmação expressa ou
tácita, daí a exclusão dos artigos 51º a 53º do âmbito do artigo 45º
• um Estado não pode confirmar a sua vinculação a um tratado que
seja nulo por coação sobre o seu representante ou sobre si próprio,
tendo de praticar novamente todos os atos de vinculação (tratado
multilateral) ou celebrar novo tratado bilateral – este regime é
contornável através da realização de um tratado oral que se limite
a reproduzir as disposições do anterior
• quanto à derrogação do Ius Cogens, este regime é mesmo uma
imposição incontornável
• a proibição da divisibilidade não é uma característica da nulidade
absoluta
▪ nulidades relativas: os restantes casos de vício do consentimento típico,
bem como o atípico referido, a incapacidade intelectual do representante
(derivam do facto de protegerem interesses diretos de cada Estado)
• a nulidade relativa apenas pode ser invocada pela parte
prejudicada e pode sempre ser confirmada
• a possibilidade de divisibilidade não é uma característica da
nulidade relativa, desde logo, também uma boa parte das causas
de extinção ou suspensão a permitem, como decorre da nulidade
absoluta derivada de derrogação do Ius Cogens

o Violação de normas internas de competência


▪ A violação de uma norma interna relativa à competência para a conclusão
de tratados será fundamento de nulidade do consentimento de uma parte
num tratado se a norma violada for fundamental e a violação for manifesta
(artigo 46º/1)
▪ Esta causa de nulidade é um vício do consentimento – se no ato de
vinculação não participou um órgão cuja participação é imposta pelo
Direito interno do Estado em causa, é o próprio consentimento que foi
deficientemente formado
▪ Por força da referida natureza de vício de vontade, mesmo que um tratado
imponha uma derrogação gravíssima do Direito interno, desde logo em
matéria de direitos fundamentais, não é possível invocá-la como
fundamento de nulidade, muito menos à luz deste artigo
▪ Ter-se-á de estar perante uma violação de uma norma de competência para
a prática de um dos atos decisivos do processo de conclusão dos tratados:
a aprovação, aceitação, ratificação, confirmação formal ou ato paralelo
▪ Embora o artigo 27º excecione o 46º, em bom rigor não existe uma
verdadeira exceção, pois o Direito interno só é relevante enquanto
elemento regulador da formação da vontade do Estado
▪ No caso de apenas algumas partes estarem a par da incompetência de um
representante, se se estiver perante um tratado multilateral que impõe
obrigações meramente bilaterais, nada impede que a parte se desvincule
apenas em relação às que tinham tal conhecimento; estando em causa um
tratado que impõe obrigações erga omnes, a parte que alega o vício não
poderá deixar de o cumprir se existirem partes desconhecedoras de forma
desculpável da violação, visto que não é possível deixar de cumprir o
tratado em relação a apenas algumas partes

o Violação de restrições especificas ao poder de vinculação


▪ O representante da entidade tem penos poderes (não se aplicando o artigo
8º), mas tem os seus poderes sujeitos a uma limitação – artigo 47º
▪ No entanto, não se estará perante p regime do artigo 47º se o
representante estiver autorizado a vincular a entidade a um tratado e o
fizer igualmente em relação a um segundo; aqui está-se perante a prática
de um ato para o qual o representante não tem competência, caindo sob
o artigo 8º
▪ O artigo 47º só se aplica à violação de restrições especificas sobre um
determinado conteúdo e não a conteúdos totalmente distintos – este
artigo só se aplicará a tratados informais, em que a mera assinatura vincule
a entidade
▪ Em caso de algumas partes não terem tomado conhecimento da restrição
e esse desconhecimento for responsabilidade da parte que alega o vício,
não parece que este lhe seja oponível; tratando-se de um tratado que
impõe obrigações bilaterais, a parte não poderá deixar de cumprir o
tratado em relação a estas sem o seu conhecimento; já se o
desconhecimento não for devido ao Estado que invoca o vício, o Estado
poderá igualmente deixar de cumprir o tratado em relação a estas; no
entanto, se estiver em causa um tratado que impõe obrigações erga
omnes, a parte que alega o vício não poderá deixar de o cumprir se
existirem partes desconhecedoras por sua culpa
o Erro
▪ Artigo 48º: estabelece que o erro para ser relevante deve respeitar 3
condições:
• Deve incidir sobre um facto ou uma situação (não sobre uma
questão de Direito) – 48º/1
• Deve ser essencial – 48º/1
• Deve ser desculpável – 48º/2, 1ª parte
▪ Nota: o erro é sempre um vício de um ato unilateral, a vinculação
▪ Para ser desculpável, o Estado não pode ter contribuído com a sua própria
conduta e é ainda necessário que as circunstâncias não fossem de ordem
a que a entidade devesse ter-se apercebido da possibilidade de estar em
erro (artigo 48º/2, 2ª parte)
▪ Nota: um erro na redação do texto não é causa de invalidade (48º/3), deve
ser apenas retificado
o Dolo
▪ Artigo 49º
▪ Trata-se igualmente de um erro, mas qualificado
▪ O dolo surge na sequência de artifícios de uma das entidades negociantes
que induziu outra em erro
▪ Não serão relevantes a título de dolo falsas declarações em relação à
interpretação do texto do tratado, pois se o tratado for bilateral, essas
declarações vinculam o seu autor; se se tratar de um tratado multilateral
que imponha obrigações bilaterais, a parte induzida em erros apenas
estará obrigado a respeitá-lo e, relação ao autor das declarações nos
termos destas; já se contiver obrigações erga omnes, não existirá nada a
fazer
▪ Também não constituirão dolo as promessas incumpridas; apenas se a
promessa for vinculativa o Estado poderá responsabilizar o Estado
incumpridor pelos danos provocados ou ainda pode deixar de cumprir o
tratado em relação a este a título de represália
▪ O dolo deve partir de um erro essencial, mas não tem de ser desculpável e
tem de ser induzido por uma entidade participante nas negociações
▪ Também se aplica o regime do dolo quando a aprovação ou ratificação do
tratado são determinadas por falsas declarações, ou seja, este regime não
se aplica apenas aos representantes plenipotenciários nas negociações,
também se aplicam a órgãos políticos superiores do Estado ou outra
entidade

o Corrupção do representante
▪ Artigo 50º
▪ Distingue-se do erro e do dolo pelo facto de não existir uma falsa
representação da realidade, embora exista uma atuação fraudulenta
▪ A corrupção tem de ter sido determinante na decisão da vinculação, caso
contrário, existirá um ato ilícito por parte dos autores da corrupção ativa e
passiva, mas não se estará perante um vício do consentimento
▪ Tal como no dolo, a atuação corruptora tem de partir de uma entidade
participante nas negociações
▪ Neste artigo não compreendida a mera instigação
▪ À semelhança do regime do dolo, também estão abrangidos pelo disposto
no artigo 50º, os órgãos políticos superiores
▪ Ao se tratar de um tratado solene, sujeito a ratificação, a mera assinatura
não invalidará o consentimento, dado que somente a posterior prática dos
atos de vinculação pelos órgãos políticos do Estado o obrigam; mesmo que
desconheçam a corrupção, o facto de concordarem com o tratado
convalida a invalidade da assinatura
▪ Pode-se dar a situação de concorrência de causas de invalidade, quando,
por exemplo, em resultado de corrupção «, o representante assina o
acordo, violando restrições especificas dos seus plenos poderes que foram
comunicadas (artigo 47º)

o Coação exercida sobre o representante


▪ Artigo 51º
▪ Está aqui em causa coação física e moral
▪ A força ou as ameaças podem ser diretamente exercidas sobre o
representante ou visarem alguém a que este se encontre ligado
pessoalmente
▪ A ameaça matar a família será um caso de coação sobre o representante,
mas a ameaça de bombardear uma cidade do Estado será um caso de
coação sobre o Estado
▪ Esta coação não tem de partir de uma entidade que participe nas
negociações, nem as outras partes necessitam de o saber
▪ A dúvida sobre a aplicabilidade deste artigo surge na eventualidade da
coação ser proveniente de outros órgãos internos (PM coagir o PR a
ratificar um tratado); se a coação for conhecida pela outra ou outras partes,
será claramente aplicável; ao contrário do artigo 48º, o artigo 51º não
contem nenhuma limitação quanto à necessidade de o próprio Estado não
ter sido responsável por esta
▪ Este regime não é suscetível de derrogação e faz parte do âmbito de
proteção de normas iuris cogentis; permitir uma derrogação à nulidade do
consentimento imposto pela força aos representantes seria permitir
violações destas normas iuris cogentis, log a derrogação de nulidade será
nula

o Coação exercida sobre a entidade


▪ Artigo 52º: remete preceitos para os artigos 2º/4, 48º e 51ç
▪ O artigo 75º permite agressão de um Estado, quando esta tiver sido
autorizada pelo Conselho de Segurança
▪ Nota: medidas de pressão política ou económica não serão fundamento de
nulidade do consentimento em relação a um tratado, mesmo que tenham
sido determinantes da vinculação
▪ Esta norma que estabelece a nulidade do consentimento a um tratado
obtido pelo uso antijurídico da força ou pela ameaça de recurso a esta, faz
parte do âmbito de proteção da norma iuris cogentis que proíbe o recurso
à força oua ameaça deste, não sendo suscetível de derrogação
o Derrogação do Ius Cogens
▪ O artigo 53º limita-se a codificar uma realidade preexistente; o único
problema será determinar se a norma iuris cogentis especificamente
derrogada já vigorava no momento da entrada em vigor do tratado
alegadamente derrogador; a entrada em vigor segundo se julga, será p
momento decisivo, designadamente para se distinguir se se está perante
uma derrogação originária ou perante uma situação de norma iuris
cogentis superveniente (artigo 64º)
▪ O artigo 53º limita-se a aplicar o regime geral do Ius Cogens: sanção de
nulidade para qualquer tentativa de derrogação de uma norma vigente
(não se está perante uma nulidade do consentimento, mas da própria
norma)

o Incapacidade da entidade
▪ As CVDT não regulam esta figura
▪ A sanção aplicada face à prática de um ato par ao qual se é
internacionalmente incapaz é a nulidade, enquanto tratado, embora possa
ser válido enquanto tratado à luz do Direito interno
▪ O artigo 46º apenas se aplica às violações de competência interna e não de
incapacidade; distinção: a capacidade é atribuída à entidade, enquanto a
competência é atribuída aos seus órgãos
▪ Para se estar perante uma questão de capacidade é necessário:
• Uma entidade celebrar um tratado sobre uma matéria fora do
âmbito daquelas que lhe foram heterónormativamente
reconhecidas
• Ou com entidades com quem não pode celebrar tratados
• Tem de ser uma questão de facto
▪ Não sendo claro se a entidade tem capacidade ou não, qualquer questão
deve ser resolvida à luz do critério do caráter manifesto da violação, a que
faz referência o artigo 46º

o Incapacidade intelectual do representante


▪ As CVDT não regulam esta figura
▪ Se as negociações são realizadas por um incapaz, mas o ato de vinculação
é praticado por alguém perfeitamente capaz, o vício que afeta a negociação
será irrelevante
o Impossibilidade originária de cumprimento
▪ Não parece que se trate de uma verdadeira nulidade, mas o seu regime
tem semelhanças com o da nulidade absoluta, embora não seja invocável
por partes não diretamente interessadas
▪ Parece que será de considerar este caso como um caso de ineficácia
▪ A impossibilidade aqui em causa terá de ter natureza material (física e não
jurídica); se a impossibilidade for permanente, a disposição do tratado é
ineficaz desde o início
▪ O facto de o tratado ser ineficaz não prejudica a eventual responsabilidade
internacional da parte que se obrigou a uma prestação impossível, se tinha
ou deveria ter conhecimento da situação

o Efeitos da invalidade
▪ As CVDT regulam esta matéria no artigo 69º, que contem o regime geral e
no artigo 71º/1, que regula o caso específico da derrogação do Ius Cogens
▪ Segundo o artigo 69º, os consentimentos viciados pelas causas analisadas
de nulidade não produzem quaisquer efeitos jurídicos desde o início
▪ Segundo o 69º/2 al. a), qualquer uma das partes pode pedir que seja
restabelecida, tanto quanto possível, a situação prévia aos atos em causa;
p.e.: se o Estado A obriga-se sob um erro relevante a vender ao Estado B
determinada quantidade de um produto agrícola todos os anos, uma vez
invocada a nulidade, tanto o A pode exigir que lhe sejam devolvidas as
quantidades do produto agrícola, como B pode exigir a devolução das
contrapartidas que prestou – ou seja, os efeitos de facto são destruídos
retroativamente
▪ Esta reconstituição não é uma obrigação, mas um direito, que as outras
partes não poderão recusar caso seja solicitado
▪ Nota: nos casos de nulidade absoluta, até um Estado não parte, à luz do
DIP Costumeiro, poderá exigir tal reconstituição
▪ É necessário questionar se o artigo 69º/2 al. b) limita a retroatividade deste
regime, sendo que esta questão é alvo de divergência doutrinária; CORREIA
BAPTISTA julga que esta alínea não protege da retroatividade os atos
praticados de boa-fé, ou seja, também estes devem ser destruídos –
simplesmente não serão considerados ilícitos
▪ O artigo 69º/3 considera que o nº2 não pode ser aplicado nos casos de
dolo, corrupção e coação sobre o representante ou sobre a entidade a
favor da parte responsável por estes atos; este nº3 é uma exceção ao nº2
e não ao princípio da ineficácia do ato nulo constante do seu nº1
▪ O artigo 69º/4 limita-se a mandar aplicar estas regras ao consentimento
dado por uma entidade a um tratado multilateral; esta entidade terá o
direito de fazer aplica-los em relação a todas as partes neste; estas, se de
boa-fé, poderão igualmente invocar a al. b) do nº2

o Regime específico do Ius Cogens


▪ O regime da nulidade derivada de uma derrogação de uma norma iuris
cogentis tem particularidades
▪ O artigo 71º/1 estabelece um dever de reconstituição da situação de facto
tal como se não tivesse sido concluído o tratado derrogatório e não um
mero direito a cada parte
▪ O artigo71º/1 al. a) só exige que sejam eliminadas as consequências
materiais dos atos praticados ao abrigo da disposição que esteja em
contradição com a norma iuris cogentis; a nulidade total do tratado (artigo
44º/5) só vigoraria a partir da altura em que a nulidade deste fosse
invocada, o que se revela contraditório com a imposição da nulidade total
dos tratados que contenham disposições derrogatórias do Ius Cogens
(artigo 44º/5)
▪ Como decorre da al. b) do artigo 71º/1, as partes têm a obrigação de tornar
as suas relações conformes com a norma/normas iuris cogentis derrogadas
▪ Não existe norma correspondente ao artigo 69º/2 al. b), pois os atos
contraditórios ao Ius Cogens serão sempre ilícitos em si,
independentemente da nulidade do tratado

➔ Extinção e Suspensão
o Nestas situações tudo terá decorrido juridicamente durante o processo de
conclusão do tratado, sendo que posteriormente terá ocorrido um facto jurídico
em sentido amplo que vai provocar a extinção ou suspensão da eficácia do
consentimento de uma parte ou mesmo do próprio tratado
o Estes regimes admitem que o próprio tratado estabeleça outras causas, como
decorre do regime do artigo 54º al. a) e 57º al. a)
o Causas de extinção ou suspensão consagradas nas CVDT são as seguintes:
▪ Decorrência automática do próprio tratado
• caducidade ou suspensão por termo final
• condição final ou por execução do próprio trarado [54º al. a) e 57º
al. a)]
• por perda do número necessário de partes [55º]
▪ Revogação ou suspensão por acordo entre todas as partes – 54º al. b) e 57º
al. b) e 59º
▪ Por ato jurídico unilateral discricionário – denúncia/recesso [54º al. a) e
56º]
▪ suspensão unilateral [57º al. a)]
• por exceção do não cumprimento [60º]
• por impossibilidade superveniente [61º e 63º]
• por alteração de circunstâncias [62º]
• por revogação por norma costumeira iuris cogentis contrária [64º]
o existem algumas situações que as CVDT não regulam expressamente,
nomeadamente:
▪ caducidade por desaparecimento de uma das partes
• implica a caducidade do tratado em caso de tratado bilateral
simples e a caducidade da vinculação da entidade em caso de
tratado multilateral ou bilateral com partes complexas
• apesar de serem distintas, esta figura assemelha-se à
impossibilidade superveniente, logo estas são tratadas em
conjunto
• 42º/2 e 73º - expressa vontade de não abordar ou prejudicar
questões relacionadas com a sucessão de tratados

▪ revogação por norma costumeira sem caráter iuris cogentis


• esta figura pode ser abrangida pelas CVDT, mas apenas por força de
uma extensão do artigo 64º

▪ por força de um conflito armado


• novamente as CVDT pretendem expressamente não abordar o
assunto (artigo 73º)
• esta figura é um caso de alteração das circunstâncias para a vitimia,
mas será juridicamente irrelevante como meio de justificação dos
atos do agressor

▪ renuncia em relação a tratados que apenas estabeleçam direitos para uma


das partes

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