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Direito Internacional Público

25/03/2021

Vinculação de terceiros estados (página 14)

• Regra geral - O tratado é um contrato e se um estado não se vincula ao texto do tratado ele não é parte no
tratado.

• Exceções: Artigos 35 a 38 da CVDTE - Um tratado não pode ser fonte de direito ou de obrigações para
terceiros, mas pode acarretar consequências para esses terceiros que não são parte nos tratados. Podemos ter
um tratado bilateral entre Portugal e a Espanha, e um tratado sobre a segurança e combate ao terrorismo,
este assunto, não se resolve apenas com dois estados, vamos supor que era imperativo que Marrocos
cooperasse neste âmbito e então é possível, o tratado que é negociado entre dois estados, conter uma
disposição que cria uma obrigação relacionada com o objetivo do tratado e sem o qual o tratado, algumas das
disposições perdem a sua eficácia, mas Marrocos, sendo o terceiro estado tem de aceitar por escrito essa
obrigação, ele não é parte no tratado mas aceita essa obrigação que os outros estados acordam entre eles. Se
Marrocos não aceitar ninguém lhe pode impor essa obrigação.

- Artigo 36 - Há estados mais ricos que vão beneficiar estados terceiros, por exemplo, os países da União
Europeia decidem aprovar um tratado no qual instituem um mecanismo para apoiar os países africanos
lusófonos, um tratado que cria obrigações, mas que cria um direito para os estados africanos que não são
parte no tratado. O terceiro estado tem que consentir, mas ao contrário do artigo 35 em que não existe
consentimento tácito, no artigo 36 existe o consentimento tácito, a não ser que seja excluído do próprio
tratado, há a possibilidade de considerar que o estado consentiu se ele nada disser em contrário - isto numa
atribuição de direito e não de obrigações.

- Artigo 36 nº2 - O estado terceiro quando exerce o seu direito, deve respeitar as disposições relacionadas com
a atribuição desse direito, não comprometer a disposição que lhe atribui um
direito.

- Artigo 37 - Tudo em DI pode ser afastado pela vontade dos estados, menos os ius cogens e o costume
internacional no qual também deriva o ius cogens. As disposições de tratados podem ser sempre modificadas.

- Artigo 37 nº2 - Um direito, nunca pode ser revogado ou modificado se por exemplo alguma manifestação de
vontade do terceiro estado concluir que ele pretende continuar com que se mantenha esse direito. Ou então,
também pode ser possível se concluir pelas disposições do próprio tratado que dizem que só pode ser
revogado ou modificado a disposição que incide sobre a atribuição do direito a um terceiro estado, com o
consentimento do terceiro estado.

- Artigo 38 - Mesmo que um terceiro estado não seja parte num tratado, se essa obrigação ou direito ou
obrigação patente no tratado resulta ou tem origem no costume internacional ela é vinculativa mesmo que o
terceiro não seja parte no tratado. Mesmo que ele não seja parte no tratado, vincula o terceiro estado, nas
características do costume internacional.

- Se as consequências são nocivas - Se um tratado entre dois ou vários estados acarreta consequências nocivas
para um terceiro estado pode existir responsabilidade internacional de um estado, para com o terceiro estado,
não por incumprimento, é uma responsabilidade extracontratual, mas porque viola um princípio geral de
direito, da soberania da integridade territorial. Se for prejudicial apenas a interesses económicos e não viola o
DI, o estado não terá direito a recurso jurídico, a recorrer para o TIJ, mas terá direito a recorrer aos meios de
solução pacífica de conflitos, mas diplomáticos, não judiciais, basta apenas indicar meios diplomáticos. São
apenas danos que violam interesses. Não violam o DI.

- Se as consequência são favoráveis - Quando dois estados cria um direito para um terceiro estado, esta
disposição vincula os estados parte do tratado, se os estados quiserem pôr fim ao tratado, podem cessar o
tratado. Artigo 37 nº2, o tratado pode impor que para ser revogado ou modificado o direito que é concedido
ao terceiro estado seja necessário o consentimento do terceiro estado, não obstante, os estados parte no
tratado e não o terceiro estado podem fazer cessar o tratado, mas enquanto o tratado está em vigor, deve ser
respeitado, deve-se cumprir a obrigação de conceder um direito ao terceiro estado, podendo ser modificado
ou revogado com consentimento de terceiro enquanto o tratado vigorar.

Tratados que conferem direitos ou impõem obrigações a terceiros:

• Efeitos difusos do tratado - Quando um estado celebra um tratado com outro de retificação de fronteiras ou
permite a navegação com bandeiras de alguns países da região, esse tratado apesar de ser entre W e Z, pode
ter efeitos em outros estados, pode conceder vantagem a outros estados, que queriam exercer esse direito.
Em caso da linha limítrofe ser o objeto, essas regras fronteiriças entre os estados partes, vai-se impor aos
terceiros estados, a um estado que é da mesma região mas não é parte do tratado.

• Efeito aparente - Se no futuro A ou B tratar de forma mais favorecida ou por uma taxa mais baixa a produtos
de outra nação, os outros países vão ter direito ao mesmo. O efeito aparente do tratado é o efeito concedido
do tratado de 1980. O tratado de 1980 não cria um direito ao A, o tratado que cria um direito ao A, é o tratado
de 1975.

Procedimento interno de vinculação ao texto do tratado (página 18)

1. Tipos de tratados e matérias em conformidade com a constituição:

Terminologia:

• Convenção - tratado solene ou um acordo em forma simplificada


• Tratado - tratado solene
• Acordo - forma simplificada.

Matéria dos tratados:

• Tratados solenes - artigo 161 i) da constituição: cidadania, integração europeia, tribunal penal internacional,
direitos fundamentais, extradição, função do Banco de Portugal, estado de direito democrático, decisões
políticas relevantes como por exemplo, a transferência de Macau para a China.

• Acordos simplificados sobre matéria reservada da AR: artigos 164 e 165 da constituição
2. Negociação, aprovação, assinatura e ratificação:

• Regra geral - Governo, Ministro responsável pela condução da política externa, Ministro dos Negócios
Estrangeiros + Artigo 7 da CVDTE

• Ajuste - Assinatura do Primeiro-ministro autenticando o texto do tratado e depende de aprovação do


Conselho de Ministros (o tratado tem de ser aprovado pelo Conselho de Ministros = artigo 200 d) da
constituição) PM informa o PR sobre os assuntos de política externa, incluindo o andamento das negociações
internacionais. AR pode fazer
recomendações ao Governo sobre o conteúdo das negociações. O governo deve informar a AR.

• Tratados solenes = Carecem de ratificação do PR através de carta de ratificação que em Portugal se chama
decreto presidencial (artigo 135 b) da constituição) - carecem de aprovação do Governo, AR e um decreto
presidencial ou uma carta de ratificação por parte do PR de forma a Portugal ficar vinculado ao texto do
Tratado, só entra em vigor em Portugal se existir esse procedimento, junto com publicação no DR.

• Acordos em forma simplificada = Carecem de aprovação por parte do Governo e/ou por parte da Assembleia
da República - aqueles que versam sobre matéria absoluta e relativa da AR, estes carecem da aprovação do
governo, da AR e assinatura da resolução da AR por parte do PR, diz-se que o tratado foi aprovado. Apenas
carecem de aprovação do Governo e o decreto de aprovação é assinado pelo PR, no entanto, o Governo é que
conduz a política externa, de Portugal e, submete-se à AR no sentido em que existe responsabilidade política
do governo perante a AR nos termos do artigo 190 e 191 da constituição, a AR pode não concordar com a
forma como o Governo está a conduzir esta política e pode até aprovar uma moção de censura ou rejeitar um
voto de confiança e fazer cair o governo, então, muitas vezes, o governo em matérias de acordo ultra-
simplificados, que não carece da aprovação da AR, o governo, submete à AR a aprovação do tratado, mas não
está obrigado a fazê-lo, mas faz para ter confiança, para não ser só uma responsabilidade dele próprio mas
conjunta, porque a AR se aprovar o texto do tratado, é uma garantia de que o Governo não será vítima de
moção de censura pois tem o apoio da AR, assim submete muitas vezes a aprovação da AR, artigo 161 i)
última parte da constituição.

• Acordos que versam sobre matéria reservada da Assembleia da República = necessário a aprovação da AR.

• Os acordos em forma simplificada são sempre assinados pelo PR (só vinculam o governo depois de
assinados pelo PR e depois da publicação em Diário da República)

• A aprovação do texto por parte da Assembleia da República toma a forma de Resolução (artigo 166 nº6 da
constituição)

• A aprovação do texto por parte do Governo toma a forma de Decreto aprovado pelo Conselho de Ministros

• O PR assina as resoluções e/ou os decretos do governo - a nível internacional Portugal não poderá invocar a
falta de aprovação ou ratificação se não tiver ressalvado expressamente no ato de assinatura que só ficará
vinculado pelo acordo depois da aprovação - artigo 12 nº1 a) + importante para efeitos de responsabilidade no
contexto do artigo 46 da CVDTE.

• O Presidente da República não é obrigado a ratificar ou assinar . Só é obrigado a ratificar quando o texto
tenha sido submetido a referendo nacional e foi aceite pelos cidadãos. É necessária a referenda ministerial do
ato de assinatura do PR, artigo 140 da constituição que remete para o artigo 135 b) da constituição e a
publicação (artigo 119 da constituição).
• Artigo 227 da constituição - O governo regional, o seu representante deve participar nas negociações
internacionais quando o tratado incide sobre matéria de interesse específico para a região autónoma. A
apreciação do tratado também se faz pela assembleia legislativa regional junto com a AR, mas quem o aprova
é a AR, pois é órgão de soberania. É inconstitucional se a ALR não for ouvida.

• A nível internacional os estados não são obrigados a conhecer o direito interno dos outros estados, artigo 12
nº1, no momento em que Portugal assina o texto de um tratado, ele deve informar, ressalvar expressamente
no ato da assinatura, que só ficará vinculado pelo acordo depois da aprovação pela AR, por exemplo, isto
quando estamos perante matérias que não são matérias de tratado solene, porque os Estados sabem que
matérias que mexam com soberania é necessário um ato solene do chefe de estado, em todos os estados é
objeto de tratado solene. Quando são outras matérias em que os estados não são obrigados a saber se é
matéria de tratado solene ou não, no direito interno do outro país, o próprio membro do governo tem que
ressalvar que aquilo não é um acordo ultra-simplificado, ou se o for tem que o dizer expressamente que o vai
submeter a apreciação do parlamento interno, caso contrário, a assinatura do texto do tratado, vincula o
estado.

• Portugal assina um texto de um tratado que é sobre uma matéria que a constituição não obriga que seja
solene, o Governo assina, mas decide depois que necessita da aprovação da AR, mas não ressalva
expressamente no ato da assinatura e depois Portugal diz que não cumpre o tratado, e a Espanha, outra parte
diz que se Portugal não cumpriu o tratado há uma responsabilidade por incumprimento do tratado, Portugal
diz que não pois o texto não foi aprovado pela AR. Portugal não pode fazer isto. Trata-se de um acordo ultra-
simplificado e se ele não disser que vai ressalvar a aprovação do parlamento e só depois disso é que vincula,
ele fica vinculado no momento de assinatura.

3. Fiscalização preventiva da constitucionalidade do texto do tratado: Artigo 278 nº1 da


constituição:
• Lacuna do artigo 278 nº1 não são só os decretos mas também a resoluções da AR.

• Artigo 279 nº 2 e nº4 da constituição - com as necessárias adaptações

• Tribunal Constitucional = Constitucionalidade = PR ratifica

• Tribunal Constitucional = Inconstitucionalidade = PR veta por inconstitucionalidade = Assembleia da


República:

- Nada faz = não aprovação do tratado;


- Formula uma reserva = artigo 279 nº2 da constituição - Nota: O Governo pode fazer reservas no momento da
negociação;
- Ultrapassa o veto por inconstitucionalidade = artigo 279 nº 4 da constituição = PR pode ou não ratificar.

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