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Maria Oliveira - 2ºTB

PROCEDIMENTO DE VINCULAÇÃO POR CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E A CRP

As CRP que antecederam a vigente estiveram nas origens do modelo atual de conclusão das convenções internacionais.

As negociações dos tratados competiam, na monarquia, ao Rei e, na república, ao Presidente da República. Ao órgão parlamentar, as Cortes,
cabia a aprovação dos tratados de aliança ofensiva ou defensiva, de subsídios e de comércio.

Com a Carta constitucional de 1826, a função executiva foi reforçada, e sobre o Rei estava reservada a competência de aprovação dos tratados,
levando-os depois ao conhecimento das Cortes quando o interesse e a segurança do Estado permitissem. Só nos casos de cessão ou troca de
territórios era exigida a aprovação das Cortes, antes da sua ratificação pelo monarca.

A primeira Constituição republicana, integrou o Congresso da República. A Constituição de 1933 repartiu a competência de aprovação entre
a Assembleia Nacional e o Governo.

O ato de ratificação foi confiado ao rei pelas Constituições monárquicas. A Constituição de 1911 reservava ao PR o poder de negociar e ajustar
as convenções internacionais, mas a ratificação pertencia ao Congresso da República. A Constituição de 1933 reforçou os poderes de vinculação
internacional ao Chefe de Estado, reconhecendo ao PR a prerrogativa de concluir acordos e ratificar tratados, depois de aprovados pela Assembleia
Nacional ou Governo.

Quanto à CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA DE 1976 , esta foi sujeita a sucessivas revisões que introduziram no texto alterações com
repercussão sobre a relação entre a CRP e o DIP, sobretudo devido a motivos relacionados com a adesão de Portugal à EU.

O PROBLEMA DA DISTINÇÃO MATERIAL ENTRE TRATADO E ACORDO . No direito português, os tratados, por razões históricas,
desdobram-se em duas categorias: o tratado em forma solene (submetido a ratificação do chefe de Estado) – TRATADO e o acordo de forma
simplificada (aprovação pelo Governo) – ACORDO.

A CRP emprega a expressão convenção internacional quando pretende indicar qualquer tipo de convénio internacional e reserva o tratado
para determinado tipo de convenções internacionais. Os acordos são os demais. As principais diferenças:

- Aprovação: só a AR pode aprovar tratados, enquanto os acordos podem ser aprovados pela AR ou pelo Governo, Artº161/i) e 197/1/c).
- Ratificação/assinatura: os tratados exigem ratificação como ato de vinculação (Artº135/b)), enquanto nos acordos a vinculação ocorre
com a aprovação, certificada pela assinatura do PR (Artº134/b)).
- Fiscalização preventiva da constitucionalidade: nos tratados, após pronunciada a inconstitucionalidade, a AR pode confirmar por maioria
qualificada (Artº279/4), por outro lado, nos acordos aprovados pelo Governo não existe possibilidade de confirmação, , podendo o PR
exercer o veto que se segue à pronúncia pela inconstitucionalidade (Artº279/1): O texto constitucional é omisso quanto aos acordos
aprovados pela AR sujeitos a veto do PR (Artº279/1): (MLD) por analogia com a solução consagrada para os tratados, podem ser
confirmados pela mesma maioria.

Existe ou não, à luz da CRP, um critério material de distinção entre tratado e acordo? Qual a margem de apreciação de que goza o Governo
para a qualificação de uma convenção internacional como tratado ou acordo? Divergência doutrinária:

1. Doutrina minoritária defende a existência de uma reserva material de tratado (JM): justificação no Artº161/i) que impõe a forma de
tratado para convenções relativas à “participação de Portugal em organizações, os tratados de amizade, de paz, de defesa, de retificação
de fronteiras e os respeitantes a assuntos militares”
- Mas o termo introdutório da enumeração “designadamente” expressa o carácter meramente exemplificativo do tipo de
matérias que exigem a forma de tratado;
- E a letra do preceito compreende também a referencia aos tratados internacionais cuja aprovação é atribuída à AR, porque
são relativos a matérias da sua competência reservada (Artsº164 e 165) – sempre garantida uma intervenção da AR na
aprovação de convenções sobre matérias políticas (MLD) fundamentais;
- Também está garantida a participação do PR que pode impedir a celebração da convenção através da recusa de ratificação
(não existindo vinculação pelo tratado) ou recusa de assinatura (o ato de aprovação é juridicamente inexistente Artº137);
- Ainda sobre a questão das matérias reguladas, o Artº115/3, 5 prevê a realização de referendos sobre “questões de relevante
interesse nacional” que devam ser objeto de convenção. Deste modo, a forma de acordo pode ser escolhida para vincular o
Estado em matérias de relevância política;
- O Governo (órgão responsável pela negociação internacional) deve ter possibilidade de decidir (Artº161/i)) sobre a forma de
vinculação mais adequada em função, por exemplo, de opções feitas nas negociações: tendência evolutiva para a utilização
de formas e procedimentos mais simplificados (acordos), mas sem necessária governamentalização (as matérias mais
importantes são a RA e RR da competência da AR;
- A CRP não prevê autorizações e delegações em favor do Governo: só a AR pode aprovar convenções em toda a extensão das
matérias de competência reservada.

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2. O TC revelou a preocupação de chegar a uma conclusão, válida para o caso concreto e aberta à oportunidade de revisitações futuras
(doutrina constitucional consolidada pela prática internacional consolidada pela prática institucional não contestada).
- Acórdão nº168/88: o TC admitiu que o Governo pudesse aprovar acordos de conteúdo executivo sobre matérias de
competência legislativa reservada, tendo por base um tratado já celebrado. As revisões de 89 e 97 afastaram a hipótese de
mediante a escolha da forma de convenção frustrar a reserva de competência internacional da AR;
- Acórdão nº494/99: TC preconiza entendimento que é contrário à ideia de reserva genérica de tratado. Admitindo a existência
de duas alternativas de interpretação da Constituição: uma de pendor parlamentar e outra de pendor governamental, o TC
descartou a adoção de um critério geral que levasse a optar abstratamente por uma das alternativas propostas.

AS QUATRO FASES PRINCIPAIS DO PROCEDIMENTO INTERNO DE VINCULAÇÃO POR CONVENÇÃO INTERNACIONAL .

1 | NEGOCIAÇÃO E AJUSTE ao Governo, no exercício de função de “órgão de condução da política geral do País” (Artº182) compete negociar
e ajustar as convenções internacionais, em regime de exclusividade. Artº197/1/b). O carácter exclusivo desta competência não prejudica o poder
de participação das regiões autónomas (a) e o cumprimento de deveres específicos de informação e concertação (b).

a. Nos termos do Artº227/t), as RA podem participar nas negociações de tratados internacionais que diretamente lhes digam respeito. As
matérias abrangidas por esta reserva são as previstas nas alíneas do Artº227/i), h), r), s). A participação compreende a representação
na delegação da república portuguesa incumbida na negociação, o direito de ser notificada de toda a documentação relevante e a
oportunidade de ser ouvida e de se pronunciar sobre as questões da negociação com incidência regional. Ao Governo regional compete
o exercício destas competências e o poder de após a entrada em vigor do tratado ou acordo, acompanhar as vicissitudes da sua
execução. Em caso de violação das prerrogativas de participação regional há inconstitucionalidade formal, em sede de fiscalização
preventiva (Artº279), mas insuscetível de impedir a aplicação interna da convenção em caus (Artº277/2) ou implicar a sua
invalidade(Artº46 CVDT-I).

b. Na fase de negociação, o PR deve ser informado do andamento das negociações (Artº201/1/c)) e ser nteirado do desfecho previsível
sobre matérias de maior relevância. O PR tem um papel importante e ativo no domínio das relações externas (Artsº120 e 135), logo
exige-se uma prática concertada entre o Governo e o PR, no âmbito pressuposto pelo princípio da interdependência entre órgãos de
soberania (Artº111/1). O Governo tem também deveres de informação de conteúdo mais genérico aos grupos parlamentares
(Artº180/2/j)) e aos partidos políticos com assento parlamentar (Artº114/3). O incumprimento dos deveres terá um significado no plano
da responsabilização política, , desprovido de desvalor no plano jurídico-constitucional.

1. Quem tem poderes para representar o Estado português na negociação bilateral ou multilateral? PR, PM e o MNE (Artº7/2/a) CVDT-I).
Verificadas certas condições: chefes de missão diplomática (embaixadores) e representantes acreditados dos Estados numa conferência
internacional (Artº7/2/b) e c) CVDT-I). Fora dos casos de plenos poderes funcionais, o representante português na negociação tem de
ser portador de uma carta ou credencial de plenos poderes, assinada pelo PR e pelo MNE (ECB: o PR limita-se a exercer um poder formal,
cabendo a decisão formal de escolha do representante e do conteúdo dos plenos poderes ao Governo, através do MNE) ou pelo
Secretário de Estado no caso de delegação de poderes - De acordo com a Resolução do CM no 17/88, estas competências são exercidas
pelo MNE ou sob sua direção.

2 | APROVAÇÃO é uma etapa fundamental. Ocorre depois da adoção do texto e integra-se na fase da manifestação do consentimento.

O Artº8/2 CRP refere que a aprovação é uma exigência imperativa e aplicável a todas as modalidades de vinculação internacional. através de
convenção, seja pela forma de tratado (Artsº8/2 e 135/b)) ou pela forma de acordo (Artsº8/2, 161/i) e 197/1/c)). Não pode ser substituída por um
qualquer meio alternativo ou sucedâneo, ainda que previsto na Convenção de Viena e seguido de prática internacional. São incompatíveis as
ratificações implícitas ou negativas, de acordo com o Artº8/2. Alguns estados preveem procedimentos simplificados e céleres de formação de
novas regras convencionais através dos quais um acordo se torna vinculativo para um Estado se, decorrido um terminado prazo, este não tiver
manifestado a vontade expressa de não ratificar.

A CRP, uma vez que exige a aprovação interna da convenção internacional, não prevê: Acordos em forma ultrasimplificada (vinculativos após
a assinatura do representante do Estado); Vinculação bilateral através de acordo por troca de notas; Ratificações implícitas ou negativas; Omissão
ou a verificação de falhas graves no processo de aprovação à Inconstitucionalidade

A aprovação ou verificação de falhas graves neste processo redunda em inconstitucionalidade formal e/ou orgânica, com o efeito de vedar a
aplicação da convenção internacional na ordem jurídica portuguesa.

A AR e o Governo partilham a competência de aprovação, Artº161/i) e 197/1/c).

A AR aprova:
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- Tratados: Todas as convenções internacionais designadas de tratados; As que, independentemente da designação, versam sobre as
matérias identificadas pelo texto constitucional e que correspondem a áreas de relevância política e de opção fundamental no
domínio das relações externas: participação de Portugal em organizações internacionais, tratados de amizade, de paz, de defesa, de
retificação de fronteiras e assuntos militares (Artº161/i));
- Acordos internacionais: Que são sejam designados por tratados e relativos a matérias da competência legislativa reservada (Artsº164
e 165); Acordos relativos a matérias da competência legislativa concorrencial que o Governo submeta à sua apreciação.

O Governo aprova:

- Acordos internacionais sobre as matérias que não integram a reserva de tratado nem a reserva da competência legislativa parlamentar,
salvo se decidir submeter à AR a sua aprovação.

Ou seja, A AR aprova tratados e convenções que versem sobre matérias que correspondem à área de particular melindre político e de opção
fundamental no domínio das relações externas e os acordos relativos a matéria da competência concorrencial que o Governo entenda submeter
à sua apreciação. O Governo aprova acordos sobre matérias que não integram a reserva da Ar, a não ser que entenda submeter à AR a sua
aprovação. A AR aprova através da resolução (Artº166/5), enquanto o Governo aprova sob a forma de decreto (Artº197/2), apreciado e votado
em Conselho de Ministros (Artº200/1d). A maioria parlamentar é relativa (Artº116/3). MLD defende que seria preferível uma solução (já
consagrada nas Constituições de outros Estados membros) que exigisse uma maioria qualificada, equivalente à da revisão constitucional
(Artº286/2), para a aprovação de tratados que visem a construção e desenvolvimento da UE.

A aprovação deve ocorrer em situações que não envolvam para os órgãos competentes uma limitação circunstancial dos seus poderes. A
demissão do Governo determina a caducidade das propostas de lei e de referendo (Artº167/6), já a demissão do executivo não deverá impedir a
continuação do procedimento. A dissolução da AR considera suspenso (Artº172). O Governo de gestão está impedido de tomar decisões de ajuste
e aprovação de convenções (Artº186/5).

A CRP autoriza a realização de referendo nacional sobre convenções, não impõe: é sempre facultativo. O regime genérico previsto no Artº115
e na regra específica do Artº295 define aquilo que é importante:

a. Qual o objeto do referendo sobre convenções?


- O Artº115/3 permite a realização de referendos sobre “questões de relevante interesse nacional que devam ser decididas pela AR ou
pelo Governo através de convenção internacional ou de ato legislativo”, estando excluídas das matérias do Nº4 (alterações à
Constituição, questões e atos de conteúdo orçamental, matérias do Artº161 e matérias do Artº164, com exceção do disposto na alínea
i);
- Do Nº5 resulta um elenco mais restrito de matérias não referendárias: questões relativas à paz e à retificação de fronteiras.
- Sem prejuízo da LOE, das leis sobre impostos e de outras matérias de cariz financeiro não poderem ser objeto de consulta referendária,
um tratado sobre matéria orçamental e afins pode, em virtude do levantamento parcial da restrição material resultante do Artº115/5,
dar lugar à convocação de um referendo.
- A questão submetida a referendo versa sobre matérias ou questões que devem ser objeto de convenção e não sobre a convenção em
si.
o A única exceção é o Artº295 relativo aos tratados europeus;
o Uma interpretação restritiva por parte do TC das exigências do Artº115/5, quando aplicadas a questões de regulação
internacional, esteve na base de dois acórdãos que impediram a realização de referendo (Tratado de Amesterdão e
Constituição Europeia): a letra do Artº115 interpretada pelo TC não permitia conciliar a complexidade das matérias em causa
com o requisito de questões formuladas “com objetividade, clareza e precisão para responder de sim ou não” Artº115/6;
o JM e ECB defendem o carácter obrigatório do referendo em caso de tratado que envolva uma violação do Artº288/a), pondo
em causa a independência nacional e a unidade do Estado.

b. Quando pode ser colocada a questão referendária ao eleitorado?


- A iniciativa de referendo deve ocorrer necessariamente antes da aprovação da convenção pela AR ou pelo Governo, cujo texto já tenha
sido adotado e submetido para aprovação.
o Para JM podem ser convocados referendos sobre tratados futuros, tratados cuja negociação ainda não se iniciou ou está em
curso;
o MLD discorda, sustentando que:
§ Artº11575 se refere a questões que devam ser objeto de convenção internacional;
§ Os requisitos de objetividade, clareza e precisão das perguntas seriam dificilmente respeitados no caso de um
referendo sobre matérias cuja exata formulação e clausulado não se conhecem.

c. Qual é a relevância jurídica da resposta dada pelo eleitorado?


- O referendo tem efeito vinculativo Artº115/11 se o nº de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.
o No caso de resposta negativaa – O processo em curso de vinculação internacional terá de der dado como extinta;

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o No caso de resposta favorávela – Cabe aos órgãos de aprovação (AR ou Governo) e ao PR a obrigação de concluir o processo
de celebração da convenção internacional.
- O referendo vinculativo favorável não prejudica a competência fiscalizadora do TC (segundo ECB), em sede de controlo preventivo e a
título de controlo sucessivo. MLD: é improvável a justificação de um pedido de fiscalização preventiva em relação a uma conversão cuja
compatibilidade de princípio com a Constituição já foi escrutinada pelo TC a propósito da constitucionalidade da proposta de referendo
- Quanto à eficácia temporal do referendo vinculativo sobre convenções internacionais:
o No caso de resposta positiva: os órgãos de soberania vinculados devem, no cumprimento dos prazos previstos, e na sua
ausência, no respeito pelo prazo razoável, garantir a conclusão do procedimento de vinculação à convenção internacional;
o No caso de resposta negativa: resulta a impossibilidade de aprovação da convenção até nova eleição da AR ou realização de
novo referendo de resposta afirmativa, cuja proposta só pode ser renovada na sessão legislativa seguinte.

Então o que importa realmente?

- O Artº115/3 permite a realização de referendo sobre questões relevante interesse nacional. Estão excluídas as matérias do Artº115/4.
A questão submetida a referendo deve versar sobre matérias ou questões de relevante interesse e não sobre a convenção em si. A única
exceção é relativa aos tratados europeus, Artº295.
- A iniciativa do referendo deve ocorrer antes da aprovação da convenção internacional pela AR ou Governo, cujo texto já tenha sido
adotado e submetido para aprovação. Para a regente, parece difícil aceitar convocar referendos sobre tratados futuros, no sentido de
tratados cuja negociação ainda não se iniciou ou já está em curso.
- Referendo vincula os demais órgãos, após a realização do referendo a adotar a decisão num determinado sentido?
o Depende (Artº155/11) - quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento
• Só nestas circunstâncias é vinculativo
§ Efeitos: impera sobre o PR e sobre os órgãos de aprovação a obrigação de concluírem o processo de
celebração da convenção em causa, mas
1. Obrigação de meios - a celebração também está dependente de outros sujeitos
2. Exige-se a observância substancial sobre a viculatividade do referendo - Portugal não pode
deturpar a vinculatividade por outras vias
3. O referendo vinculativo favorável não prejudica/impede a competência fiscalizadora do TC
- O referendo terá efeitos vinculativos conforme o Artº115/11, se o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no
recenseamento.
o Se a resposta for negativa, o processo em curso de vinculação internacional terá de ser dado como extinto, Artº115/10.
§ Resposta for negativa quanto à celebração da convenção, em primeiro lugar o processo de vinculação tem de ser
dado como extinto - Artº243 da Lei de Referendo e existe uma impossibilidade de aprovar a convenção internacional
em causa até se verifique nova eleição da Ar ou realização de novo referendo com resposta afirmativa na sessão
legislativa seguinte
o Se a resposta for positiva, recai sobre o Governo ou AR e o PR concluir o processo e celebração da convenção.
§ Têm de ser cumpridos até ao momento da manifestação do consentimento os prazos do Artº241 da Lei de
Referendo ou então aplica-se um conceito indeterminado de prazos (dentro de um prazo razoável)
- Quando é que é realizado? Ocorre antes da aprovação da convenção internacional pela AR ou pelo Governo

3 | RATIFICAÇÃO E A ASSINATURA cabem ao PR (Artº135/b)) e à AR ou Governo (Artº134/b)), respetivamente. O PR pode requerer ao TC a


apreciação preventiva da constitucionalidade (Artº278/1). A fiscalização incide sobre normas constantes da convenção internacional e não sobre
a convenção na sua totalidade. O Artº279 especifica os efeitos na pronúncia do TC, proferida no prazo máximo de 25 dias (Artº278/8).

- Se não se identificar uma inconstitucionalidade, o PR decidirá livremente em assinar/ratificar a convenção.


- Se o TC se pronunciar pela inconstitucionalidade, o PR pode:
o Vetar, ou seja, recusar a assinatura no caso do acordo internacional (Artº279/1).
o Ratificar o tratado se este for confirmado pela AR por maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos deputados em efetividade de funções (Artº279/4).

Tratados ou acordos, uma vez concluído o processo de celebração, exprimem o compromisso internacional do Estado português.
- A solução do Artº279 de entrarem em vigor normas, constantes de tratado, consideradas inconstitucionais, não é defensável à luz do
equilíbrio necessário de interesses e valores;
- Uma conjugação política de vontades (AR que reaprova e PR que ratifica) não deveria ser suficiente para retirar os efeitos da pronúncia
no sentido da inconstitucionalidade;
- Em sede de fiscalização sucessiva, o TC pode reiterar o veredicto de inconstitucionalidade e obrigar a desaplicação da convenção em
causa, com eventual violação dos limites previstos pelo Artº46 CVDT-I.
- O problema da pronúncia pela inconstitucionalidade pode ainda ser ultrapassado:

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o Pela decisão do órgão de aprovação de formular reservas, se foram admissíveis à luz do DT (a AR prevê esta possibilidade no
Artº204/1 RAR: “se o tratado admitir reservas, a resolução da AR que configure em 2o deliberação pode introduzir alterações
à 1a resolução de aprovação do tratado, formulando novas reservas ou modificando as anteriormente formuladas);
o Pela revisão da Constituição.

A ratificação corresponde a uma declaração solene e final de aceitação do tratado pelo Estado português que, em linha com a prática
costumeira internacional e constitucional, o faz através da intervenção do chefe de Estado. Esta intervenção é traduzida na assinatura sobre a
carta de ratificação nos tratados bilaterais e no depósito nos multilaterais. O ato interno corresponde ao decreto presidencial de ratificação,
publicado no DR. Este ato está sujeito a referenda prévia do Governo, cuja falta determina a inexistência jurídica do ato de ratificação (Artº140).
A referenda, neste caso, é meramente certificatória, pelo que não poderá ser recusada.

A ratificação é um ato livre do Chefe de Estado. A CRP não prevê o procedimento de recusa de ratificação pelo PR.
- Em relação a todos os tratados (com exceção de referendo favorável vinculativo), o PR pode recusar a ratificação com fundamento em
argumentos de discordância política e com a legitimidade qualificada de quem “representa a República Portuguesa, garante a
independência nacional, a unidade do Estado (Artº120);
- Caso discorde com base em dúvidas quanto à constitucionalidade, dispõe do mecanismo da fiscalização preventiva pelo TC.
- A CRP também não estipula um prazo para a ratificação, seguindo o critério do prazo razoável. A ratificação contrária a este critério terá
consequências no quadro das relações externas e, na opinião da regente, carece de efeitos jurídicos.
o A ratificação tardia, contrária ao critério do prazo razoável tem consequências jurídico- institucionais, com repercussão
negativa no plano externo, mas isento de efeitos jurídicos (MLD);
o No plano externo, a ratificação é um ato livre, expressão pura da soberania do Estado;
o No plano interno, a Constituição não define um prazo de ratificação, contrariamente ao estabelecido para a decisão de
promulgação (Artº136/1 e 4);
o Assim, o PR pode adiar a decisão sobre a ratificação do tratado ou “recusa de gaveta”;
o O problema é político, dado que exclui a possibilidade de caducidade da resolução de aprovação com o final da legislatura: o
regime do Artº167/5 refere-se a projetos e propostas não votadas, mas a resolução da AR sujeita a ratificação foi aprovada
pela mesma.

A assinatura do ato de aprovação de acordos (resolução AR e decreto Governo) é um ato autónomo meramente certificativo ou declarativo
do consentimento do Estado Português. A intervenção o PR no processo de vinculação de acordos não se reduz à função de “mero notário da
contratação internacional”, o PR pode recusar a assinatura por motivos de discordância política. A solução passará pela reaprovação do acordo
pela AR ou pelo Governo com a formulação de reservas ou aditamento de declaração interpretativa que, se admitidas no contexto do acordo,
possam acomodar as objeções do PR Está sujeita a referenda ministerial, que não pode ser recusada e cuja falta determina a sanção da inexistência
jurídica (Artº140/2).

4 | PUBLICAÇÃO OFICIAL é a última fase do procedimento interno de celebração da convenção internacional. Nos termos do Artº8/2, após a
publicação, as convenções internacionais vigoram na ordem interna, se e enquanto vincularem internacionalmente o Estado Português. A
publicação é necessária para garantir a eficácia jurídica da convenção (Artº119/2, embora já tenha ocorrido o momento relevante de vinculação
internacional (ratificação para o tratado; aprovação para o acordo). Uma convenção internacional regularmente ratificada e aprovada pode
vincular internacionalmente o Estado português, mesmo que a publicação, por atraso ou lapso, não tenha ocorrido. O critério geral da vigência
supletiva é fixado pelo Artº2/2 LPIFD, no 5º dia após a publicação.

Quanto ao PROCEDIMENTO INTERNO DE DESVINCULAÇÃO das convenções internacionais, a denúncia/retirada é um direito do Estado
quanto parte contratante consagrado no Artº54 e 56 CVDT-I. É também uma prerrogativa da soberania do Estado, pelo que se justifica uma
interpretação conforme da convenção internacional ao reconhecimento do direito de desvinculação (Artº56/1/a) e b) CVDT-I).

A competência cabe ao órgão que detém o poder de aprovar.


- Um acordo sobre matéria de competência reservada que, contrariamente ao Artº161/i), foi aprovado pelo Governo, exige, nos termos
da CRP, a intervenção da AR para a decisão de denúncia/retirada;
- Pode ser o Governo, e não a AR, a decidir sobre a desvinculação de um acordo que, submetido para aprovação da AR (Artº161/i)) cabia
na esfera de competência do Governo.

O ato de desvinculação parlamentar ou governamental:


- Eventualmente precedido de referendo, toma a forma de resolução ou decreto, segue para o PR que, conforme a prática institucional,
assina o respetivo decreto presidencial, sujeito a referenda ministerial (Artº134/b));
- Impõe-se a publicação dos atos de desvinculação, incluindo os respetivos avisos (Artº119/1/b));
- Por ser um ato de decisão política, mesmo que vertido de inconstitucionalidade, não está sujeito a fiscalização preventiva ou sucessiva.
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Se a convenção em relação à qual se pretende abandonar estabelecer ela própria um procedimento complexo de desvinculação, importa
determinar como e quando devem intervir os órgãos de soberania competentes. Caso do 50º do Tratado da UE:
- Depois de reconhecer aos Estado-membros o direito de sair da UE “em conformidade com as respetivas normas constitucionais”, o
Artº20/2 define como etapas necessárias:
1. A notificação ao Conselho Europeu da intenção de se retirar;
2. A negociação e a celebração entre o Estado candidato à saída e a UE de um acordo sobre as condições de saída.
- Artº50/3: a saída do Estado-membro pode ocorrer em virtude da mera notificação da vontade de sair, no caso de o CE dispensar a
celebração do acordo de saída.

O Governo, sendo o órgão de condução da política externa do país (Artsº180 e 201/1/a)) tem competência própria em matéria de desvinculação.

- Mas não se pretende aderir a uma conceção da desvinculação como ato materialmente executivo: enquanto decisão política e livre, a
desvinculação não deve ser subtraída a competência da AR, se for este o órgão constitucionalmente habilitado para a aprovação;
- No entanto, no que toca a situações de cessação de vigência ou efeitos com fundamento em causas jurídicas (declaração de
inconstitucionalidade de normas pelo TC), a competência do Governo já será objetiva.
o Já que exerce a sua competência de aplicação e execução das convenções que vinculam o Estado, através de decisões de
desaplicação por imposição constitucional ou decorrência do DT, sujeitas a notificação às outras partes.
- MLD: a título excecional, pode o Governo decidir sobre a denúncia/retirada enquanto expressão de vontade política, em casos de
manifesta urgência.

ESPECIFICIDADES DAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS CELEBRADAS NO QUADRO DA UE:

Várias das normas convencionais que vigoram na ordem jurídica portuguesa estão integradas em tratados e acordos que foram celebrados
“no quadro da UE” e em cujo processo de celebração Portugal participou como Estado-membro da UE. A vinculação dos Estado-membros no
procedimento de vinculação não é uniforme. Em Portugal, as exigências constitucionais em matéria de celebração de convenções internacionais
têm suscitado problemas a propósito: da aplicação provisória de convénios negociados no quadro da UE; da sua rápida aprovação por decisão do
Governo, sob forma de acordo simplificado.

Para dar resposta a estas questões, contrapõe-se duas teses – constitucionalista e tese eurocomunitária. A solução reclama uma resposta
normativa e não política, remetendo para um plano de análise mais complexo. As convenções celebradas no quadro da UE apresentam-se sob
formas distintas de procedimento em função do tipo de matérias que regulam. Distinguem-se duas modalidades:

a. Acordos da União Europeia

Dotada de personalidade jurídica (47º UE), a União Europeia tem competência para celebrar com Estados terceiros e organizações
internacionais convenções sobre matéria da sua competência, exclusiva ou partilhada (216/1 TFUE). Estes acordos vinculam as instituições
eurocomunitárias e os Estados-membros. Na ordem jurídica pt, produzem efeitos através do 8/3 CRP.

O Conselho, enquanto instituição de legitimidade intergovernamental, representa os Estados- membros e funciona como órgão principal de
decisão de vinculação internacional.

Compete ao Governo pt definir a sua posição, no âmbito procedimental.


- Desde a fase inicial de abertura das negociações, a questão deve ser acompanhada e coordenada pelo MNE;
- A decisão final sobre a celebração do acordo pelo Conselho da União deve ser discutida e aprovada em CM (200/1/d) por analogia);
- O Governo tem o dever de informar a AR (161/n); 163/f); 197/1i)), cujos poderes de pronúncia, acompanhamento e apreciação foram
definidos e desenvolvidos pela Lei no 43/2006. Se do Conselho da União constar a negociação e aprovação de um acordo internacional:
o Sobre matéria da competência legislativa reservada da AR, o Governo deve transmitir-lhe a documentação relativa às diretrizes
da negociação e a proposta do acordo, acompanhada de uma análise das suas implicações e da posição que o Governo
pretende adotar. O parecer tem a forma de resolução: embora não sejas vinculativo para o Governo, os princípios do equilíbrio
institucional e do efeito útil das disposições constitucionais sobre poderes de fiscalização da AR, permitem que seja
considerada a eventual redefinição da posição do Governo;
o Sobre matérias fora da competência legislativa reservada, a AR tem o direito de acompanhar e apreciar as questões políticas,
devendo o Governo prestar todas as informações adequadas.

b. Acordos da União Europeia e dos Estados-membros

A fórmula do acordo misto implica a celebração do acordo com país terceiro ou organização por decisão paralela ou autónoma da UE e dos
Estados-membros. Nestes acordos, sobre matérias que, em parte, ainda permanecem na esfera reservada ou residual de competência dos

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Maria Oliveira - 2ºTB

Estados-membros, a vinculação é um procedimento complexo que envolve: A União Europeia, cuja competência é exercida nos termos do 218º
TFUE; Cada um dos Estados-membros, no quadro definido pelas respetivas normas constitucionais.

A índole das matérias reguladas nos acordos e a necessidade de harmonizar o interesse da União com as posições dos Estados determina um
processo negocial conduzido pela Comissão e decisões do Conselho sobre aplicação provisória do acordo ou a assinatura com efeitos de vinculação
que condicionam a autonomia de decisão dos Estados-membros.
- Apesar da CRP não prever a aplicação provisória ou procedimentos simplificativos de celebração, integra a margem de decisão do
Governo, como órgão de condução da política geral e europeia, tomar no Conselho uma posição favorável a respeito do convénio em
causa;
- Mas permanece o dever de informar a AR sobre o curso destes procedimentos (197/1/i));
- Estando em causa acordos de relevo económico ou político, relativos em parte a competências de reserva nacional, a posição pt poderá
ser salvaguardada através de uma declaração a anexar à ata da reunião do Conselho. A formulação tem este teor: A aceitação sob
condição do procedimento constitucional não prejudica o objetivo eurocomunitário de uma decisão no seio do Conselho e preserva a
liberdade de vinculação do Estado PT.
- Nos casos dos acordos mistos, o procedimento interno de celebração deve seguir o modelo previsto na CRP para as convenções,
incluindo a aprovação necessária da AR se for matéria de reserva de tratado ou da competência legislativa reservada da AR (161/i)).

MLD: admite uma interpretação da CRP compatível com o efeito da “europeização” da política pt de relações externas, que propicia um
reforço dos poderes de decisão do Executivo.
- Mas esse efeito deve limitar-se ao exigido pelo princípio da repartição de competências entre a UE e os Estados-membros;
- Nos domínios em que a competência de vinculação internacional ainda depende de decisão autónoma dos Estados-membros, não se
justifica um desvio aos procedimentos constitucionais aplicáveis às convenções internacionais;
- Não há um dever de aprovação/ratificação, de fonte eurocomunitária, mesmos nos casos em que o acordo já tenha sido aprovado pelo
Conselho e pelos outros Estados;
• A aceitação pela União e pelos Estados pode, no máximo, ser um indício do interesse eurocomunitário que facilitará uma
avaliação política favorável à decisão nacional de aprovação/ratificação;
• Exceção: 351º TFUE – verificando-se uma incompatibilidade da convenção celebrada antes da criação das Comunidades
Europeias (ou no caso de PT, em data anterior à adesão) com o Direito da UEàNão ultrapassável pela via da renegociação ou
do instituto das reservas, logo impõe um dever de desvinculação ao Estado-membro.
• A vigência da convenção incompatível, embora desprovida de efeitos, implica uma situação objetiva de
incumprimento imputável ao Estado, demandado perante o Tribunal de Justiça e sujeito a sanções pecuniárias, se
persistir o incumprimento;
• Deste modo, devido ao primado do Direito da UE (8/2 CRP), a desvinculação torna-se um ato obrigatório, cuja
adoção compete à AR ou ao Governo.

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