Você está na página 1de 24

DIREITO INTERNACIONAL

PÚBLICO E PRIVADO
Anderson Santos da Silva
(@andersonssilva85)

Symposium Instituto Jurídico


PÍLULAS PARA A PFN
Direito internacional e direito interno

 Teoria adotada no Brasil: dualismo moderado


 “É na Constituição da República - e não na
controvérsia doutrinária que antagoniza monistas e
dualistas - que se deve buscar a solução normativa
para a questão da incorporação dos atos
internacionais ao sistema de direito positivo
interno brasileiro. O exame da vigente Constituição
Federal permite constatar que a execução dos
tratados internacionais e a sua incorporação à ordem
jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo
Brasil, de um ato subjetivamente complexo,
resultante da conjugação de duas vontades homogêneas
(...)” (STF, ADI-MC 1480 e CR 8279-AgR).
Costume e teoria do objetor persistente

Segundo a teoria do objetor persistente


(persistent objector), o Estado que se opuser a um
costume internacional desde o início de sua
formação não será por ele vinculado (CIJ, Caso das
Pescarias, 1951).

4
Resoluções sancionatórias do Conselho de
Segurança e desnecessidade de incorporação
LEI Nº 13.810/2019:

Art. 6º As resoluções sancionatórias do Conselho


de Segurança das Nações Unidas e as designações de
seus comitês de sanções são dotadas de
executoriedade imediata na República Federativa do
Brasil.
(...)
Art. 7º Sem prejuízo da obrigação de cumprimento
imediato das resoluções sancionatórias do Conselho
de Segurança das Nações Unidas e das designações
de seus comitês de sanções, as resoluções e as
designações de que trata este Capítulo, ou seus
extratos, serão publicadas no Diário Oficial da
União pelo Ministério das Relações Exteriores, em
língua portuguesa, para fins de publicidade.

5
Jus cogens

CVDTE:

Art. 53. É nulo um tratado que, no momento de sua


conclusão, conflite com uma norma imperativa de
Direito Internacional geral. Para os fins da
presente Convenção, uma norma imperativa de
Direito Internacional geral é uma norma aceita e
reconhecida pela comunidade internacional dos
Estados como um todo, como norma da qual nenhuma
derrogação é permitida e que só pode ser
modificada por norma ulterior de Direito
Internacional geral da mesma natureza.
Art. 64. Se sobrevier uma nova norma imperativa de
Direito Internacional geral, qualquer tratado
existente que estiver em conflito com essa norma
torna-se nulo e extingue-se.

6
Ratificação imperfeita

CVDTE:

Art. 46. 1. Um Estado não pode invocar o fato de


que seu consentimento em obrigar-se por um tratado
foi expresso em violação de uma disposição de seu
direito interno sobre competência para concluir
tratados, a não ser que essa violação fosse
manifesta e dissesse respeito a uma norma de seu
direito interno de importância fundamental.
2. Uma violação é manifesta se for objetivamente
evidente para qualquer Estado que proceda, na
matéria, de conformidade com a prática normal e de
boa fé.

7
Registro do tratado

CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS:

Artigo 102. 1. Todo tratado e todo acordo


internacional, concluídos por qualquer Membro das
Nações Unidas depois da entrada em vigor da
presente Carta, deverão, dentro do mais breve
prazo possível, ser registrados e publicados pelo
Secretariado.
2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo
internacional que não tenha sido registrado de
conformidade com as disposições do parágrafo 1
deste Artigo poderá invocar tal tratado ou acordo
perante qualquer órgão das Nações Unidas.

8
Reservas

CVDTE:

Art. 19. Um Estado pode, ao assinar, ratificar,


aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir,
formular uma reserva, a não ser que:
a)a reserva seja proibida pelo tratado;
b)o tratado disponha que só possam ser formuladas
determinadas reservas, entre as quais não figure a
reserva em questão; ou
c)nos casos não previstos nas alíneas a e b, a
reserva seja incompatível com o objeto e a
finalidade do tratado.

9
Interpretação dos tratados

CVDTE (art. 31):

Regra geral: Um tratado deve ser interpretado de


boa fé segundo o sentido comum atribuível aos
termos do tratado em seu contexto e à luz de seu
objetivo e finalidade.

Meios suplementares: Pode-se recorrer a meios


suplementares de interpretação, inclusive aos
trabalhos preparatórios do tratado e às
circunstâncias de sua conclusão, a fim de
confirmar o sentido resultante da aplicação do
artigo 31 (regra geral) ou de determinar o sentido
quando a interpretação, de conformidade com o
artigo 31 (regra geral): a) deixa o sentido
ambíguo ou obscuro; ou b) conduz a um resultado
que é manifestamente absurdo ou desarrazoado.

1 0
Tratados e rompimento das relações
diplomáticas ou consulares
CVDTE:

Art. 63. O rompimento de relações diplomáticas ou


consulares entre partes em um tratado não afetará
as relações jurídicas estabelecidas entre elas
pelo tratado, salvo na medida em que a existência
de relações diplomáticas ou consulares for
indispensável à aplicação do tratado.

1 1
Incorporação dos tratados no direito
brasileiro
Para o STF, o decreto de promulgação é
indispensável para que o tratado seja incorporado
(STF, CR 8279-AgR, 1998).

1 2
Hierarquia dos tratados no direito brasileiro
• Tratados de aviação aérea internacional: Nos
termos do art. 178 da Constituição da República,
as normas e os tratados internacionais limitadores
da responsabilidade das transportadoras aéreas de
passageiros, especialmente as Convenções de
Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao
Código de Defesa do Consumidor (ARE 766618,
julgado em 25/05/2017). Porém, essas convenções
não se aplicam às hipóteses de danos
extrapatrimoniais decorrentes de contrato de
transporte aéreo internacional (RE 1394401)
• Tratados tributários: Os tratados e as convenções
internacionais revogam ou modificam a legislação
tributária interna, e serão observados pela que
lhes sobrevenha (art. 98 do CTN). O STF não
afirmou a supralegalidade (RE 460320).
• Tratados de direitos humanos: status
constitucional (art. 5º, § 3º, da CF) e status
supralegal (RE 466343, 2009 ).
• Tratados sobre direito ambiental: status 1 3

supralegal, pois constituem espécie do gênero


tratados de direitos humanos (ADPF 708/DF).
Imunidades e prerrogativas do pessoal
diplomático

 O Estado pode renunciar à imunidade dos membros da


missão (os membros não podem renunciar!)
 A renúncia deve ser sempre expressa.
 A renúncia à imunidade de jurisdição não implica
renúncia à imunidade de execução.
 Abrangem todos os atos (mesmo os que não são de
ofício)
 Alcançam a família (desde que não sejam nacionais
do Estado acreditado)
 As imunidades e prerrogativas consulares, porém,
somente se aplicam aos atos de ofício e não se
estendem à família.
Direitos econômicos, sociais e culturais

PIDESC:

Art. 2.1. Cada Estado Parte do presente Pacto


compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço
próprio como pela assistência e cooperação
internacionais, principalmente nos planos
econômico e técnico, até o máximo de seus recursos
disponíveis, que visem a assegurar,
progressivamente, por todos os meios apropriados,
o pleno exercício dos direitos reconhecidos no
presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção
de medidas legislativas.

1 5
Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948)
• Trata de direitos civis e políticos, e também de
direitos econômicos, sociais e culturais
• não consagra a autodeterminação dos povos
• não trata do direito ao meio ambiente
• não contém mecanismos de monitoramento
• tem forma jurídica de resolução da AG da ONU
(não é um tratado, o que levou a discussões
sobre a sua forma jurídica)
• Apesar de não ser um tratado, a doutrina tem
considerado a DUDH um reflexo do costume
internacional e uma interpretação autêntica da
Carta das Nações Unidas

1 6
A força das decisões do Comitê de Direitos
Humanos (órgão técnico do PIDCP)

TSE, REGISTRO DE CANDIDATURA Nº 0600903-50.2018.6.00.0000


(CASO LULA), REL. MIN. ROBERTO BARROSO:

7. (...) Em atenção aos compromissos assumidos pelo Brasil na


ordem internacional, a manifestação do Comitê merece ser
levada em conta, com o devido respeito e consideração. Não
tem ela, todavia, caráter vinculante e, no presente caso, não
pode prevalecer, por diversos fundamentos formais e
materiais.
7.1. Do ponto de vista formal, (i) o Comitê de Direitos
Humanos é órgão administrativo, sem competência
jurisdicional, de modo que suas recomendações não têm caráter
vinculante; (ii) o Primeiro Protocolo Facultativo ao Pacto
Internacional, que legitimaria a atuação do Comitê, não está
em vigor na ordem interna brasileira; (iii) não foram
esgotados os recursos internos disponíveis, o que é requisito
de admissibilidade da própria comunicação individual; (iv) a
medida cautelar foi concedida sem a prévia oitiva do Estado
1 7
brasileiro e por apenas dois dos 18 membros do Comitê, em
decisão desprovida de fundamentação.
5 ultimas condenações do Estado Brasileiro
• Povo Indígena Xucuru (2018): demora na efetivação do
direito coletivo à terra.
• Herzog (2018): nulidade da Lei de Anistia; inaplicabilidade
das garantias da coisa julgada e do ne bis in idem aos
crimes contra a humanidade, que são imprescritíveis.
• Trabalhadores da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus
(2020): violação dos direitos à vida, à integridade
pessoal, à igual proteção da lei, à proibição de
discriminação, ao trabalho, às garantias judiciais, à
proteção judicial.
• Márcia Barbosa de Souza (2021): violência contra as
mulheres como um problema estrutural no Brasil; aplicação
desproporcional e arbitrária da imunidade parlamentar;
investigação e o processo penal tiveram um caráter
discriminatório por razão de gênero.
• Sales Pimenta (2022): impunidade estrutural relacionada a
ameaças, homicídios e outras violações de direitos humanos
contra os trabalhadores rurais e seus defensores no Estado
do Pará; a violência contra pessoas defensoras de direitos
humanos tem um efeito amedrontador (chilling effect). 1 8
Casos da Corte IDH sobre povos indígenas
• COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI V. NICARÁGUA: A Corte
declarou a violação do direito à proteção judicial (art. 25) e
de propriedade (art. 21), reconhecendo o direito dos povos
indígenas à propriedade coletiva da terra, como tradição
comunitária e como um direito fundamental e básico à sua
cultura, à sua vida espiritual, à sua integridade e à sua
sobrevivência econômica.
• MOIWANA V. SURINAME (2005): Os indígenas continuam
proprietários de suas terras mesmo quando tenham perdido a sua
posse por motivos alheios à sua vontade, a não ser que tenham
as vendido, mesmo sem posse, a terceiros de boa-fé.
• CASO COMUNIDADE INDÍGENA SAWHOYAMAXA V. PARAGUAI (2006): “[...]
a base espiritual e material da identidade dos povos indígenas
é sustentada principalmente em sua relação única com suas
terras tradicionais. Enquanto essa relação exista, o direito à
reivindicação destas terras permanecerá vigente, caso
contrário, se extinguirá”.
• POVO INDÍGENA XUCURU V. BRASIL (2018): A Corte concluiu que a
demora do processo e da desintrusão dos não indígenas foi
excessiva e declarou o Brasil responsável pela violação do
direito à garantia judicial de prazo razoável (art. 8, § 1º), 1 9
dos direitos de proteção judicial e à propriedade coletiva
(arts. 25 e 21).
Controle de convencionalidade

• Parâmetro de controle: tratados de direitos


humanos e a interpretação a eles dada pela Corte
IDH.

• Competência: autoridades judiciais (controle


jurisdicional) e autoridades administrativas,
membros do MP e da Defensoria Pública (controle
não jurisdicional).

• Teoria do duplo controle: necessidade de


qualquer ato passar pelos controles de
constitucionalidade e de convencionalidade para
ter validade.

• Obs: o controle de convencionalidade deve ser


realizado ex officio.

2 0
Democracia na Carta da OEA

Artigo 9. Um membro da Organização, cujo governo


democraticamente constituído seja deposto pela força, poderá
ser suspenso do exercício do direito de participação nas
sessões da Assembléia Geral, da Reunião de Consulta, dos
Conselhos da Organização e das Conferências Especializadas, bem
como das comissões, grupos de trabalho e demais órgãos que
tenham sido criados.
a) A faculdade de suspensão somente será exercida quando tenham
sido infrutíferas as gestões diplomáticas que a Organização
houver empreendido a fim de propiciar o restabelecimento da
democracia representativa no Estado membro afetado;
b) A decisão sobre a suspensão deverá ser adotada em um período
extraordinário de sessões da Assembléia Geral, pelo voto
afirmativo de dois terços dos Estados membros; (...)
e) O membro que tiver sido objeto de suspensão deverá continuar
observando o cumprimento de suas obrigações com a Organização;
f) A Assembléia Geral poderá levantar a suspensão mediante
decisão adotada com a aprovação de dois terços dos Estados
membros; (...) 2 1
Evasão e elisão fiscais internacionais

• EVASÃO FISCAL INTERNACIONAL: eliminação ou redução da


obrigação tributária com elemento internacional,
mediante violação direta de norma.
• ELISÃO FISCAL INTERNACIONAL: eliminação ou redução da
obrigação tributária com elemento internacional,
mediante violação indireta de norma.
• ECONOMIA DE TRIBUTO: eliminação ou redução de obrigação
tributária, sem violação de qualquer norma.

2 2
Plano de ação da OCDE para o combate à
erosão da base tributária e à transferência
de lucros.
 Base Erosion and Profit Shifting (BEPS)
 Plano da OCDE para evitar a transferência de lucros
para países de baixa tributação
 Algumas ações: abordar os desafios da economia
digital; neutralizar os efeitos de instrumentos
híbridos; reforçar normas relativas às sociedades
estrangeiras controladas; limitar a erosão da base
tributária através da dedução de juros e outras
compensações financeiras etc.
Tratados tributários celebrados pelo Brasil
 Convenção Modelo da ONU para tratados para evitar a bitributação:
critério da fonte; inserção dos países em desenvolvimento.
 Convenção Modelo da OCDE para tratados para evitar a bitributação
internacional: critérios universais; favorece países desenvolvidos.
 O Brasil tem seguido mais a Convenção Modelo da ONU.
 Aproximação com o BEPS nos últimos tratados.

Você também pode gostar