Você está na página 1de 2

Faculdade de Direito – Universidade do Porto

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO


Prof. Doutora Marta Chantal Ribeiro
Dr. Rodrigo Rocha Andrade
Ano letivo 2022/2023

TEMAS A DEBATER:
Juridicidade do Direito Internacional
DIP e as outras ordens normativas
Análise do artigo 38.º do ETIJ: fontes do DIP

I
Em setembro de 2016 os EUA ratificaram o Acordo de Paris (adotado em 12 de
dezembro de 2015), no qual se estabelece um plano de redução da emissão dos gases
causadores de alterações climáticas. O acordo entrou em vigor a 4 de novembro do
mesmo ano. Na altura era Presidente dos EUA o Sr. Barack Obama.
Após vitória eleitoral, o então Presidente dos EUA, o Sr. Donald Trump, anunciou
em junho de 2017 que os EUA se iriam retirar imediatamente do Acordo de Paris, pelo
facto de o considerar pernicioso para a economia norte-americana e atentar contra a
soberania do Estado. Mais anunciou que, após a sua tomada de posse, os EUA deixaram
automaticamente de cumprir o disposto no referido Acordo.

Face a esta intenção anunciada de incumprimento de obrigações decorrentes de um


tratado internacional de natureza vinculativa para as Partes Contratantes, considera
que a atitude do Sr. Trump atenta contra a afirmação do Direito Internacional
enquanto ramo de Direito?

Recorda-se que o Acordo de Paris entrou em vigor a 4 de novembro de 2016 e que o


seu artigo 28.º estabelece o seguinte:

“1 — A qualquer momento, após três anos da data de entrada em vigor do presente


Acordo para uma Parte, essa Parte pode denunciá-lo mediante notificação escrita ao
Depositário.
2 — Qualquer denúncia produzirá efeitos um ano após a data de receção pelo
Depositário, da notificação da denúncia, ou em data posterior, se assim nela for
estipulado.
3 — Qualquer Parte que denuncie a Convenção será considerada como tendo
igualmente denunciado o presente Acordo.”

II
Na sequência do sismo mortífero e devastador ocorrido na Turquia e Síria no dia 6 de
fevereiro de 2023, Portugal enviou para a Turquia, dois dias depois, em missão
humanitária, uma Força Operacional Conjunta (FOCON) para ajudar nas operações de
busca e salvamento das vítimas do sismo.
A missão “decorreu do pedido de assistência internacional formulado pelas
autoridades turcas via Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia”.
Face a esta atuação conjunta de Portugal e União Europeia, na hipótese de ocorrer
nova catástrofe, pode o Governo turco ou o Governo sírio exigir à União Europeia e
respetivos Estados-Membros nova ajuda humanitária? Dito de outro modo, a ajuda
humanitária constitui cumprimento de algum dever jurídico?

III
Indique se as seguintes fontes de DIP podem ou não subsumir-se no artigo 38.º do
Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ):
a) A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969;
b) A obra De Iure Belli ac Pacis (1625) de Hugo Grócio;
c) O acórdão do TIJ sobre o direito de passagem por território indiano, de 12 de
abril de 1960;
d) O princípio da proibição do uso da força, hoje cristalizado no artigo 2.º, n.º 4, da
CONU, bem como, designadamente, na RES 2625, de 19701, na RES 3314, de
19742, ambas da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), e nos artigos 8.º e
8.ºbis do Estatuto do Tribunal Penal Internacional, de 1998;
e) A declaração, pelo Estado português, de que considera a declaração unilateral de
independência do Kosovo, em 17 de fevereiro de 2008, conforme ao Direito
Internacional;
f) O projeto da Comissão de Direito Internacional sobre a Responsabilidade
Internacional dos Estados (2001);
g) Um regulamento sanitário elaborado pela Organização Mundial de Saúde;
h) A declaração conjunta do Estado português e do Estado espanhol de que envidarão
os seus melhores esforços no sentido de obterem uma cooperação particular nos
diferentes domínios da vida política.

Atente que o Artigo 38.º do ETIJ tem o seguinte teor:


1. O Tribunal, cuja função é decidir em conformidade com o direito internacional
as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
a. As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam
regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b. O costume internacional, como prova de uma prática geral aceite como direito;
c. Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d. Com ressalva das disposições do artigo 59.º, as decisões judiciais e a doutrina
dos publicistas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a
determinação das regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade do Tribunal de decidir uma
questão ex aequo et bono, se as partes assim convierem.

1
Declaração sobre os princípios do Direito Internacional respeitantes às relações de amizade e
cooperação entre os Estados em conformidade com a Carta das Nações Unidas.
2
Definição de agressão.

Você também pode gostar