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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES


CURSO: DIREITO
DISCIPLINA: RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROFESSOR: MARCELO BUENO ESPANHA

AULA 2 (2 DE MARÇO DE 2023)

1. TEORIA DA UNIVERSALIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

A ideia de Estado de Direito hodierna vem da independência Americana 1776,


da Revolução Francesa 1789-1799, constitucionalismo, separação de poderes,
sujeição à lei.

Com as atrocidades cometidas na 2ª Guerra Mundial (1939-1945) o Estado de


Direito passou a ser reavaliado, pois na Alemanha Nazista, na Itália Facista
havia um Estado de Direito que tornava legal a violação de direitos de grupos
minoritários, por exemplo: o holocausto Judeu.

Com a Declaração universal dos direitos do Homem de 1948 ganha impulso a


tendência da universalização da proteção aos Direitos Fundamentais.

A Globalização também impulsionou esse movimento de universalização dos


Direitos Fundamentais, pois a ideia de aldeia global faz com que todos os
habitantes do Planeta convivam com conflitos econômicos, ambientais, sociais,
bélicos etc.

A Universalização dos Direitos Fundamentais protege o indivíduo não só como


um súdito perante o Estado, vai além... Busca a igualdade de cada indivíduo
com os demais.
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UMA DAS CARACTERÍSTICAS DA PÓS-MODENIDADE É A INTENSIFICAÇÃO DE


PODER NAS RELAÇÕES ENTRE PARTICULARES.

Segundo Daniel Sarmento os “Direitos Fundamentais não se aplicam apenas às


relações verticais de poder, mantidas pelo Estado com seus cidadãos, elas
incidem também nas relações entre particulares, situados numa posição de
hipotética igualdade jurídica.

LEADING CASE:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 201.918/RJ DE 2005 – União Brasileira de
Compositores – objeto exclusão de membro sem garantia do contraditório e
ampla defesa. Antecedentes: RE 158.215/RS, RE 161.243/DF.

Na Justiça do Trabalho essa teoria é aplicada, sendo que o Tribunal Superior do


Trabalho – TST – utiliza-se da expressão eficácia diagonal dos Direitos
Fundamentais – AIRR-77700-47.2009.5.04.0019 e RR 7894-
78.2010.5.12.0014.

Na seara do Direito de Família destacamos os seguintes julgados do Supremo


Tribunal Federal aplicando a teoria da universalização (horizontalização) dos
Direitos Fundamentais: RE 646721 (direito sucessório união homoafetiva); RE
89060 (possibilidade de concubinato de longa duração gerar efeitos
previdenciários); RE 878694 (direitos sucessórios distintos à cônjuges e
companheiros).

RESP 182.223/SP – impenhorabilidade bem de família de imóvel de devedor


solteiro e solitário, interpretação teleológica e restritiva. Exemplo de aplicação
da teoria da horizontalização dos Direitos Fundamentais.

Observação: a teoria da horizontalização dos direitos fundamentais


também se aplica em à empresas, associações, condomínios, fiquem
atentos!

2. CONTROLES
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O ordenamento jurídico é um sistema de normas jurídicas, e cada norma


jurídica deve estar de acordo com o ordenamento jurídico, sob pena de
nulidade, de não produzir efeitos etc. Nesse contexto temos os controles de
legalidade, constitucionalidade e convencionalidade.

CONTROLE DE LEGALIDADE – VERIFICAR SE ATO ESTÁ DE ACORDO COM A


LEI.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - VERIFICAR SE O ATO ESTÁ DE


ACORDO COM A CONSTITUIÇÃO.

CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE – VERIFICAR SE O ATO ESTÁ EM


CONSONÂNCIA COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS
HUMANOS RATIFICADOS PELO BRASIL.

Observação: Os Tratados Internacionais de Direitos Humanos incorporados ao


ordenamento jurídico brasileiro nos termos do art. 5, § 3º da CF (Redação da
EC nº 45/2004) tem status de Emenda Constitucional, mais especificamente:

“(...) Art. 5º (...)

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos


humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais. (...)”

Importante: Para o Supremo Tribunal Federal, os Tratados Internacionais de


Direitos Humanos que foram incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro
sem o quórum do art. 5º, § 3º da CF tem status supralegal – exemplo o Pacto
de San José da Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos).
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Cuidado os 4 Tratados acima fazem parte da Constituição Brasileira, pois têm


status de Emenda Constitucional!!!!!!!!!

3. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

A expressão fontes do Direito significa o lugar de onde nascem as normas


jurídicas, analogia com a fonte de água, lugar onde brota a água.

Na Doutrina temos várias classificações das fontes do Direito Internacional


Público, vejamos as mais importantes classificações.

Observação: Princípios Gerais do Direito: pacta sunt servanda, res judicata,


boa-fé, obrigação de reparar dano etc.

Observação CIJ – Corte Internacional de Justiça, TPI – Tribunal Penal


Internacional. FICAM EM HAIA NA HOLANDA.

3.1 FONTES MATERIAIS X FONTES FORMAIS

FONTES MATERIAIS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: são fatos que


mostram a necessidade e importância de criar uma determinada norma jurídica.
Exemplo: 2ª Guerra Mundial e a criação de normas sobre Direitos Humanos.
Tem caráter Filosófico, Sociológico, Político, Econômico etc.
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FONTES FORMAIS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: são as fontes que


materializam as normas jurídicas do Direito Internacional Privado. Exemplo:
Tratado Internacional.

3.2 FONTES ESTATUTÁRIAS X FONTES EXTRA-ESTATUTÁRIAS

3.2.1 FONTES ESTATUTÁRIAS


Na Carta de São Francisco (Tratado Internacional), temos um anexo com o
Estatuto da CIJ (Corte Internacional de Justiça), nesse estatuto da Corte temos
as fontes estatuárias do Direito Internacional Público, já as fontes extra-
estatutárias do Direito Internacional Público não estão nesse estatuto.

Observação: CIJ – Corte Internacional de Justiça, julga Estados,


localizada na cidade de Haia.

Observação: TPI – Tribunal Penal Internacional, julga indivíduos,


localizado na cidade de Haia.

As fontes estatutárias do Direito Internacional Público estão positivadas no art.


38 da Carta da ONU – Estatuto da Corte Internacional de Justiça:

“(...) Artigo 38. 1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o


direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas,
aplicará:

a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais. que


estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados
litigantes;

b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita


como sendo o direito;
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c) os princípios gerais de direito reconhecidos pelas Nações


civilizadas;

d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a


doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes Nações,
como meio auxiliar para a determinação das regras de Direito. (...)”

Observação IMPORTANTÍSSIMA: O rol do art. 38 do Estatuto da


Corte Internacional de Justiça é exemplificativo, numerus
abertus!!!!!!

OBSERVAÇÃO: O art. 38 supracitado possibilita a Corte de decidir


uma questão ex aeque et bono (equidade), se as partes com isto
concordarem.

OBSERVAÇÃO: De acordo com o artigo 59 do Estatuto da CIJ. A


decisão da Corte só será obrigatória para as partes litigantes e a
respeito do caso em questão.

O PROFESSOR VALÉRIO MAZZUOLI ENTENDE QUE A ANALOGIA


TAMBÉM É UMA FONTE FORMAL DO DIREITO INTERNACIONAL
PÚBLICO.

Observação: em relação à equidade há divergência na doutrina sobre


ela ser fonte formal, para Valério Mazzuoli é, desde que num
julgamento de um caso por Corte Internacional. Para o saudoso
Professor Miguel Reale não! Cuidado!

Observação: Princípios Gerais do Direito: pacta sunt servanda, res


judicata, boa-fé, obrigação de reparar dano etc.

DICA .... Art. 4º da CF traz os princípios que regerão a


República Federativa do Brasil na ordem internacional, esses
princípios são princípios gerais de Direito Internacional, nos
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termos do art. 38, “c” da Estatuto da CIJ – Corte Internacional


de Justiça.

Observação: Vocabulário... Direito das Gentes é sinônimo de Direito


Internacional Público.

3.2.2 FONTES EXTRA-ESTATUTÁRIAS:


a) Atos unilaterais dos Estados, exemplo: protesto (contra golpe de Estado);
notificação (Estado de Guerra); renúncia (Caso da nacionalização dos
hidrocarbonetos na Bolívia); denúncia (desvinculação de um tratado);
reconhecimento (Paraguai reconhece Taiwan como País, Brasil não);

b) Atos unilaterais de Organizações Internacionais ou decisões de


Organizações internacionais, exemplo: art. 25 da Carta da ONU –
Resoluções do Conselho de Segurança da ONU;

c) Jus Cogens: normas imperativas, necessárias para a convivência


humana, art. 53 da Convenção de Viena. Exemplo: Direitos Humanos,
meio ambiente, sustentabilidade, Direito Humanitário; proscrição de
armas de destruição em massa. Criação fruto de um processo histórico,
político e social;

d) Soft Law: normas internacionais, vagas, abertas, principiológicas, sem


sanção, Declaração Universal dos Direitos do Homem. A Agenda ONU
2030 também é um exemplo de soft law.

Observação: “Hard Law”, normas jurídicas obrigatórias, normas com


sanções.

Observação: Sobre o “Jus Cogens” destacamos o art. 53 da Convenção de Viena


(o Tratado dos Tratados):
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“(...) Artigo 53
Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito
Internacional Geral (jus cogens)

É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite


com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para
os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de
Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida
pela comunidade internacional dos Estados como um todo,
como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que
só pode ser modificada por norma ulterior de Direito
Internacional geral da mesma natureza. (...)”

3.3 Fontes Principais x Fontes Acessórias (Secundárias, Auxiliares)

FONTES PRINCIPAIS: TRATADOS, COSTUMES, PRINCÍPIOS GERAIS DO


DIREITO – art. 38, “a”, “b”, “c” do Estatuto da Corte Internacional de Justiça
(CIJ), anexo da Carta da ONU.

FONTES ACESSÓRIAS: Jurisprudência e Doutrina, art. 38, “d” do Estatuto da


Corte Internacional de Justiça (CIJ), anexo da Carta da ONU (ou Carta de San
Francisco), in verbis:

“(...) d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões


judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados das
diferentes Nações, como meio auxiliar para a determinação das
regras de direito. (...)”

Observação: Para o Professor Valério Mazzuoli Jurisprudência não é fonte do


Direito, não cria Direito, mas sim interpreta Direito.
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3.4 FONTES CONVENCIONAIS X FONTES NÃO CONVENCIONAIS

Fontes Convencionais: fruto da vontade, exemplo: Tratados.

Fontes Não Convencionais: fruto da evolução da realidade internacional,


exemplo: Costume.

Observação: As relações internacionais sempre foram influenciadas pelo


Comércio, desde a Antiguidade até os dias de hoje é a atividade comercial que
move o Mundo, nesse contexto temos a Lex Mercatoria que é um costume do
Direito Internacional.

4. ESTADOS

Conceito de Estado: De acordo com o Professor Valério Mazzuoli o conceito de


Estado tem cinco elementos constitutivos: povo (conjunto de indivíduos unidos
por laços comuns); território (base física ou o âmbito espacial do Estado, onde
ele se impõe para exercer, com exclusividade, a sua soberania); governo
autônomo e independente (é a instância máxima de administração executiva,
geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação);
finalidade (traduz na ideia de o Estado deve sempre perseguir um fim) e; a
capacidade para manter relações com os demais Estados.

No conceito do Professor Valério Mazzuoli abstrais-e os 5 elementos do Estado:


Povo, Território, Governo autônomo e Independente, Finalidade e a Capacidade
de manter relações Internacionais.

ESTADO X NAÇÃO... Para Mazzuoli, o conceito de nação não se confunde com


o de Estado, porém esta pode preceder o Estado quando se trata do
reconhecimento de Nação. Assim, o reconhecimento de nação ocorre quando
um ou mais Estados reconhecem que um determinado grupo tem todos os
requisitos para ser considerados verdadeira Nação (entendida esta, no seu
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sentido técnico, como conjunto de pessoas que possuem consciência de sua


origem e nacionalidade), potencialmente capaz de se tornar, no futuro, um
Estado propriamente dito.

Observação: Povo é o conjunto de indivíduos, ligados a um determinado


território por um vínculo chamado nacionalidade. No conceito de povo estão
incluídos os brasileiros natos e naturalizados. Distingue-se do conceito de
população, pois neste incluem-se, além dos natos e naturalizados, os
estrangeiros e os apátridas. O cidadão, por sua vez, é a pessoa que goza de
direitos políticos.

Observação: território corresponde à fração do planeta em que o Estado se


assenta com o povo, delimitada por faixas de fronteiras formadoras dos limites.

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