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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.

340/06) – Parte I

Indicação de bibliografia sobre o tema: A Lei Maria da Penha na Justiça (Maria Berenice Dias).

No estudo de lei seca, indicamos a leitura dos seguintes dispositivos: Constituição Federal (art. 5º, I e art.
226, 5º); Lei nº 11.340/06.

No estudo da jurisprudência, sugerimos a leitura dos seguintes verbetes sumulares e precedentes: Súmula
536-STJ; Súmula 542-STJ; Súmula 588-STJ; Súmula 589-STJ; Súmula 600-STJ; STJ, REsp 1.374.653/MG; STJ, REsp
1.416.580/RJ; STJ, REsp 1.419.421/GO; STJ, REsp 1.623.144/MG; STJ, HC

138.143/MG; STJ, RHC 94.308/BA; STJ, AgRg no AREsp 1.393.162/MG; STJ, AgRg no REsp 1.521.993/RO; STJ,
AgRg no REsp 1.691.667/RJ; STJ, RMS 34.607/MS; STF, HC 129.446; STF, HC 131.160.

Sumário
1 Breve Histórico........................................................................................................................................................................................................................ 3

2 Disposições Preliminares....................................................................................................................................................................................................... 3

3 Conceito de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.............................................................................................................................................5

4 Formas de Violência Doméstica Contra a Mulher................................................................................................................................................................ 7

5 Sujeitos da Lei Maria da Penha.............................................................................................................................................................................................. 8

6 Medidas Integradas de Proteção........................................................................................................................................................................................... 9

7 Assistência à Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar............................................................................................................................10

8 Atendimento pela Autoridade Policial................................................................................................................................................................................. 13

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

1 Breve Histórico
A referência da Lei nº 11.340/06 à Maria da Penha tem origem na história de Maria da Penha Maia Fernandes,
uma farmacêutica casada com um professor universitário e economista. Eles tinham um relacionamento conjugal e,
por diversas vezes, ela sofreu agressões físicas e morais, além de duas tentativas de homicídio, das quais uma delas
deixou como resultado a sua paraplegia.

Nesse período de agressões, por diversas vezes, Maria da Penha Maia denunciou às autoridades os
constantes abusos sofridos, mas, diante da inércia, passou a fazer denúncias públicas e se juntou a um movimento
das mulheres no combate à violência, inclusive tendo escrito um livro nesse período (“Sobrevivi... posso contar”).

Com base nesses relatos e na repercussão, o caso de Maria da Penha Maia Fernandes foi denunciado à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, tendo o Estado brasileiro
sido condenado a uma indenização. Somente a partir daí e das recomendações da OEA, o Estado brasileiro passou a
dar cumprimento às convenções e tratados internacionais, de que é signatário, e que visam combater a violência
doméstica contra a mulher.

Assim, mesmo com a equiparação entre o homem e a mulher proclamada pela Constituição Federal (art. 5º, I,
e art. 226, § 5º), a ideologia patriarcal ainda persistiu e persiste na sociedade, sendo necessária a produção
legislativa específica a fim de conter ou ao menos diminuir as discriminações de gênero.

No passado, a grande maioria das condutas praticadas no contexto de violência doméstica (lesão corporal
leve, ameaça, injúria e calúnia) eram julgadas mediante procedimento dos juizados especiais, com admissão da
transação penal e aplicação de medidas despenalizadoras. Porém, a violação à integridade física e moral da mulher
nunca poderia ser classificada como de menor potencial ofensivo, merecendo esse tipo de violência um tratamento
diferenciado.

Assim, em 22 de setembro de 2006, entrou em vigor a Lei nº 11.340/06, historicamente conhecida como Lei
Maria da Penha, com importantes inovações processuais.

2 Disposições Preliminares
A legislação ordinária protetiva está em fina sintonia com a Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Violência contra a Mulher, no que revela a exigência de os Estados adotarem medidas especiais
destinadas a acelerar o processo de construção de um ambiente em que haja real igualdade entre os gêneros. Há
também de se ressaltar a harmonia dos preceitos com a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher ― a Convenção de Belém do Pará ―, no que mostra ser a violência contra a mulher uma
ofensa aos direitos humanos e a consequência de relações de poder historicamente desiguais entre os sexos.

A Lei Maria da Penha não traz um rol de crimes em seu texto. Esse não foi seu objetivo. A Lei n 11.340/2006
trouxe regras processuais instituídas para proteger a mulher vítima de violência doméstica, mas sem tipificar novas
condutas, salvo uma pequena alteração feita no art. 129 do CP.

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O primeiro artigo da Lei Maria da Penha trata dos objetivos da legislação e do seu embasamento teórico, nos
seguintes termos:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º
do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais
ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Ainda nas disposições preliminares, o art. 2º trata do público-alvo da lei (mulher, independentemente de
classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade, religião):

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e
religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades
para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Por sua vez, o art. 3º estabelece o compromisso do Estado em assegurar o efetivo exercício dos direitos da
mulher, tais como direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à
Justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária:

Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à
dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações
domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos
enunciados no caput.

Finalizando as disposições preliminares, o art. 4º preceitua que, na interpretação dessa lei, serão considerados
os fins sociais a que ela se destina, especialmente as condições de vulnerabilidade das mulheres no contexto da
violência doméstica:

Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições
peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

3 Conceito de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher


A violência contra a mulher é definida como qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte,
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na esfera privada:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada
no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

Os incisos do art. 5º da LMP apresentam os espaços onde o agir configura violência doméstica, quais sejam:
no âmbito da unidade doméstica, da família em qualquer relação de afeto.

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I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente
de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

A expressão “unidade doméstica” deve ser entendida como conduta praticada em razão dessa unidade da
qual a vítima faz parte. De outra forma, o âmbito de proteção da lei, em relação ao inciso I, se refere à mulher
agredida no âmbito da unidade doméstica em que ela tenha relação familiar.

Ainda, não importa o período do relacionamento nem o tempo decorrente desde o seu rompimento, bastando
que a ação agressiva tenha decorrido da relação de afeto. Assim, até mesmo vínculos afetivos que fogem do
conceito de família são abrangidos por essa lei, tais como namoros, relações paralelas etc. Esse é o entendimento
pacificado:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE LESÃO CORPORAL PRATICADOS CONTRA


NAMORADA DO RÉU E CONTRA SENHORA QUE A ACUDIU. NAMORO. RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO.
CARACTERIZAÇÃO. INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA. ART. 5.º, INCISO III, E ART. 14 DA LEI N.º
11.340/06. PRECEDENTES DO STJ. VÍTIMA MULHER DE RENOME DA CLASSE ARTÍSTICA. HIPOSSUFICIÊNCIA
E VULNERABILIDADE AFASTADA PELO TRIBUNAL A QUO PARA JUSTIFICAR A NÃO-APLICAÇÃO DA LEI
ESPECIAL. FRAGILIDADE QUE É ÍNSITA À CONDIÇÃO DA MULHER HODIERNA. DESNECESSIDADE DE
PROVA. COMPETÊNCIA DO I JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA
CAPITAL FLUMINENSE. RECURSO PROVIDO. DECLARAÇÃO, DE OFÍCIO, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE,
EM RELAÇÃO AO CRIME COMETIDO CONTRA A PRIMEIRA VÍTIMA, EM FACE DA SUPERVENIENTE
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. [...] 2. O entendimento prevalente neste Superior Tribunal de
Justiça é de que "O namoro é uma relação íntima de afeto que independe de coabitação; portanto, a agressão do namorado
contra a namorada, ainda que tenha cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele, caracteriza violência
doméstica" (CC 96.532/MG, Rel. Ministra JANE SILVA - Desembargadora Convocada do TJMG, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 05/12/2008, DJe 19/12/2008). No mesmo sentido: CC 100.654/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em25/03/2009, DJe 13/05/2009; HC 181.217/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado
em 20/10/2011, DJe 04/11/2011; AgRg no AREsp 59.208/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 26/02/2013, DJe 07/03/2013. 3. A situação de vulnerabilidade e fragilidade da mulher, envolvida em
relacionamento íntimo de afeto, nas circunstâncias descritas pela lei de regência, se revela ipso facto. Com efeito, a presunção
de hipossuficiência da mulher, a implicar a necessidade de o Estado oferecer proteção especial para reequilibrar a
desproporcionalidade existente, constitui- se em pressuposto de validade da própria lei. Vale ressaltar que, em nenhum
momento, o legislador condicionou esse tratamento diferenciado à demonstração dessa presunção, que, aliás, é ínsita à
condição da mulher na sociedade hodierna. [...] (REsp 1416580/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 01/04/2014, DJe 15/04/2014)

Anota-se que a violência doméstica abrange qualquer relação íntima de afeto, dispensada a coabitação (REsp
1416580/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, Julgado em 01/04/2014, DJE 15/04/2014). Inclusive,
trata-se do enunciado de Súmula nº 600 do STJ:

Súmula 600 –“Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima”. (Súmula 600, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2017, DJe
27/11/2017)

O parágrafo único do art. 5º da LMP dispõe que as relações pessoais independem da orientação sexual,
confirmando que as relações homoafetivas fazem parte do âmbito de proteção da lei.

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

VUNESP – TJ – MS – 2015 - DULCE mantém relacionamento afetivo com ANA por cerca de dez anos, sendo diariamente
ofendida, por meio de palavras e gestos. Deprimida, DULCE perdeu o emprego e assinou procuração à companheira ANA,
que vem dilapidando o patrimônio comum do casal e bens particulares da companheira, sem prestação de contas ou partilha.
DULCE se dirigiu à Delegacia de Defesa da Mulher, onde:
B - foi lavrado Boletim de Ocorrência, após notícia dos fatos, porque DULCE foi vítima de violência patrimonial e
psicológica, por condição de gênero feminino. (CORRETA).
C - não foi lavrado Boletim de Ocorrência, após notícia dos fatos, porque ANA, autora dos fatos, é mulher, e, portanto,
DULCE não está em situação de vulnerabilidade. (INCORRETA).

Ademais, antes, por absoluta falta de consciência social do que seria a violência doméstica, os abusos
cometidos em ambiente privado sequer eram identificados como violação dos direitos humanos. Daí por que o
legislador deixou claro no art. 6º da LMP:

Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.

FCC – MPE – PB – 2018 - Conforme entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça:
A - Para a configuração da violência doméstica e familiar, prevista na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), não se exige
a coabitação entre autor e vítima. (CORRETA).

CESPE – TJ – AM – 2016 - Com relação às disposições da Lei n.° 11.340/2006 — Lei Maria da Penha —, assinale a opção
correta.
A - Para os efeitos da referida lei, a configuração da violência doméstica e familiar contra a mulher depende da demonstração
de coabitação da ofendida e do agressor. (INCORRETA).

CESPE – DPE – PE – 2018 - Com relação aos instrumentos previstos na Lei Maria da Penha, assinale a opção correta.
C - A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma forma de violação de direitos humanos. (CORRETA).

FUNCAB – PC – PA – 2016 - Adamastor, em ação baseada no gênero, praticou vias de fato contra sua sogra Carmelita, com
quem coabitava, razão pela qual foram deferidas pelo juízo competente medidas protetivas que obrigaram o agressor a
afastar-se do lar e a manter certa distância em relação à ofendida. Adamastor, no entanto, manifestou sua irresignação
judicialmente, pleiteando a revogação das medidas com esteio nos seguintes argumentos: (I) a Lei n° 11.340 não se aplicaria
às relações de parentesco por afinidade; (II) igualmente, o diploma não teria incidência sobre as contravenções penais, por
força de seu art. 41; e (III) a Lei n° 11.340 seria inconstitucional, por criar situação de desigualdade entre os gêneros
masculino e feminino. Assim, com esteio na jurisprudência dominante nos tribunais superiores, a irresignação de Adamastor:
A - não merece prosperar. (CORRETA).
B - merece prosperar, com esteio no terceiro argumento.
C - merece prosperas com esteio nos dois primeiros argumentos. D - merece prosperar, com esteio no primeiro argumento.
E - merece prosperas com esteio no segundo argumento.

4 Formas de Violência Doméstica Contra a Mulher


Além da definição de violência doméstica, a LMP identifica, de modo didático e minucioso, as formas e
condutas de agentes que configuram violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral:

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Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante,
perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir
e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº
13.772, de 2018)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à
gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

O referido rol de ações descritas como sendo violência doméstica não é taxativo, tampouco necessariamente
configuram algum tipo penal. Pode-se configurar um ilícito civil, que é necessária a proteção por essa Lei com a
concessão, por exemplo, de medidas protetivas.

Assim, violência doméstica é qualquer das ações elencadas no art. 7º da LMP (violência física, psicológica,
sexual, patrimonial ou moral) praticadas contra a mulher em razão de vínculo de natureza familiar ou afetiva (art. 5º
da LMP), independentemente de ser tipo penal ou não.

MPE – SC – 2019 - A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria, é uma
das formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecida na Lei n. 11.340/2006. (CORRETA).

CESPE – DPE – PE – 2018 - Com relação aos instrumentos previstos na Lei Maria da Penha, assinale a opção correta.
A - A violência patrimonial contra a mulher se restringe à destruição total de seus documentos pessoais e dos bens e recursos
econômicos destinados a satisfazer as suas necessidades. (INCORRETA).
E - A legislação especial, ao se referir à violência moral, não inclui condutas que configurem a calúnia, a difamação ou a
injúria. (INCORRETA).

CESPE – TJ – AM – 2016 - Com relação às disposições da Lei n.° 11.340/2006 — Lei Maria da Penha —, assinale a opção
correta.
E - Considera-se violência sexual a conduta de forçar a mulher ao matrimônio mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação, assim como a conduta de limitar ou anular o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. (CORRETA).

FCC – TJ – SC – 2015 - Sobre os crimes de que tratam a Lei no 11.340/2006 (cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher), é INCORRETO afirmar:
A - As formas de violência doméstica e familiar contra a mulher estão taxativamente previstas no art. 7o da Lei no
11.340/2006, não sendo objeto de medidas protetivas de urgência outras senão aquelas elencadas nesse dispositivo.
(INCORRETA).

5 Sujeitos da Lei Maria da Penha


Toda relação de parentesco ― afinidade, socioafetividade ou afeto, em eficácia ou rompida, tenha havido ou
não coabitação ou prática de relações sexuais ― está protegida pela Lei Maria da Penha.

Para ser considerada doméstica, não se exige a diferença de sexos entre os envolvidos. Não importa ainda o
sexo do agressor: filho ou filha, irmão ou irmã, neto ou neta. O sujeito ativo tanto pode ser homem como outra
mulher.

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

No que se refere ao sujeito passivo, há a exigência de ser mulher, podendo ser esposas, companheiras,
amantes, mães, filhas, netas, sogras, avós, ou até mesmo a empregada doméstica, que presta serviço a uma família.

Nesse ponto, interessante mencionar que a referência ao sexo da vítima não se limita ao conceito biológico da
pessoa com genitália feminina, mas também abrange pessoas que têm identidade de gênero feminino. Assim, a Lei
protege lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros de identidade feminina que mantêm relação íntima de afeto
em ambiente familiar.

CESPE – TJ – BA – 2019 - De acordo com a jurisprudência do STJ acerca da Lei Maria da Penha — Lei n.º 11.340/2006 —,
o delito de descumprimento de medida protetiva de urgência constitui crime
A - cujo sujeito ativo deve ser sempre um homem. (INCORRETA).

FCC – MPE – MT – 2019 - De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a aplicação da Lei n°
11.340/2006 (Lei Maria da Penha):
I. É possível a aplicação da Lei Maria da Penha para violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais
morem sob o mesmo teto. (CORRETA).
II. É possível que a agressão cometida por ex-namorado configure violência doméstica contra a mulher ensejando a aplicação
da Lei n° 11.340/06. (CORRETA).

FUNDEP – MPE – MG – 2018 - No que diz respeito à Lei Maria da Penha, assinale a alternativa CORRETA:
B - A patroa que agride a empregada doméstica que reside no local do emprego está sujeita às regras repressivas contidas na
Lei 11.340/06. (CORRETA).

FUNCAB – PC – PA – 2016 - Riobaldo, que se apresenta na Delegacia de Polícia com nome social de Diadorim Julieta, por
ser travesti e apresentar-se vestida como mulher, dá notícia ao delegado de polícia que, por razões de ciúmes, seu
companheiro Joca Ramiro, lhe agrediu com uma cabeçada que lhe fez cair ao chão. Em seguida foi agredida com chutes e
pontapés. Não obstante, conseguiu fugir e se abrigar na casa de uma amiga. Tal fato ocorreu de manhã, e Diadorim
permaneceu na casa de sua amiga durante todo o dia até que tomou coragem e, à noite, buscou a unidade de polícia judiciária.
Narra ainda que no caminho recebeu ligações de Joca Ramiro dizendo que iria lhe matar porque não admitia que ela ficasse
com outro homem. Ao delegado, Diadorim Julieta informa que não tem para onde ir, que a casa que constitui a residência do
casal foi adquirida no curso da união e com esforço comum e que seus pertences pessoais e documentos encontram-se retidos
no imóvel. Qual o procedimento adequado do Delegado de Polícia diante do quadro narrado?
C - O delegado não pode representar pelas medidas protetivas de urgência, vez que Diadorim Julieta, sendo travesti, não é
mulher, portanto, não pode ter a proteção da Lei Maria da Penha. (INCORRETA).

6 Medidas Integradas de Proteção


Avançando no estudo da Lei Maria da Penha, o art. 8º trata das medidas integradas de prevenção ao combate
à violência doméstica contra a mulher. Deve ser uma preocupação da União, estados, DF e dos municípios.

Além disso, vários atores devem estar integrados nesse combate: Poder Judiciário, Ministério Público,
Defensoria Pública, áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação.

Destacam-se, ainda, outras ações expressamente previstas na LMP, que fazem parte da política de
enfrentamento à violência contra a mulher: campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar
contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão dessa Lei e dos instrumentos de
proteção aos direitos humanos das mulheres; a promoção de programas educacionais que disseminem valores
éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; o
destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à
equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto
articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por
diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança
pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou
etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a
sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os
papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso
III do art. 1º , no inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal ;
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à
Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher,
voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos
das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos
governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de
erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais
pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa
humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à
eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

7 Assistência à Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar


O art. 9º da Lei nº 11.340/2006 prevê que a mulher vítima de violência doméstica deverá receber a assistência
em diversos âmbitos, recebendo do poder público serviços de saúde, assistência social, segurança pública, entre
outros:

Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os
princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de
Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de
programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.

A Lei nº 13.894/2019 acrescentou um novo inciso ao § 2º do art. 9º, prevendo que, se a vítima e o agressor
forem casados ou viverem em união estável, a mulher deverá ser encaminhada à assistência judiciária para que
possa ter a oportunidade de, assim desejando, desvincular-se formalmente do marido ou companheiro agressor por
meio da ação judicial própria. O aluno deve ficar atento às novidades legislativas do ano de 2019, pois certamente
serão cobradas em concurso público:

§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e
psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente. (Incluído pela
Lei nº 13.894, de 2019)

O § 3º do mesmo art. 9º da LMP menciona que a assistência à mulher compreenderá o acesso aos benefícios
decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual:

§ 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes
do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos
necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

A Lei nº 13.871/2019 introduziu o § 4º ao art. 9º da Lei Maria da Penha, prevendo que o agente que, por ação
ou omissão, causar lesão, violência (física, sexual ou psicológica) e dano (moral ou patrimonial) à mulher fica
obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ao SUS, mesmo sendo este um serviço oferecido
gratuitamente à população:

§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a
mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo
com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação de
violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável
pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. (Incluído pela Lei nº 13.871, de 2019)

A Lei nº 13.871/2019 acrescentou o § 5º ao art. 9º da Lei Maria da Penha, prevendo que o agente também
deve arcar com os custos com dispositivos de segurança caso eles tenham que ser empregados para proteção da
vítima, tais como tornozeleira eletrônica com dispositivo de aproximação e “botão do pânico”:

§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das
vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor.
(Incluído pela Lei nº 13.871, de 2019)

Também a Lei nº 13.871/2019 incluiu o § 6º ao art. 9º da LMP, anotando que o ressarcimento não poderá
importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes (o agressor deve pagar com
seu patrimônio próprio sem utilizar o do casal ou dos filhos). O referido ressarcimento não configura atenuante
(incluindo a do art. 65, III, “b” do CP), tampouco enseja a possibilidade de substituição da pena aplicada:

§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da
mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (Incluído
pela Lei nº 13.871, de 2019)

Nesse ponto, importante destacar o enunciado da Súmula 588 do STJ:

Súmula 588-STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos”.

Por sua vez, a Lei nº 13.882/2019 amplia o rol de assistência e prevê que a mulher vítima da violência
doméstica terá prioridade para matricular ou para transferir seus filhos ou outros dependentes para escolas
próximas de seu domicílio. A informação de que o aluno foi transferido ou matriculado por conta de violência
doméstica sofrida por sua mãe deverá ficar em sigilo, sendo de conhecimento apenas do juiz, do MP e dos órgãos
competentes do poder público (ex.: diretora da escola).

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição
de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos
documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso.
(Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 7º
deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos órgãos competentes do poder
público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

8 Atendimento pela Autoridade Policial


Uma das consequências favoráveis da Lei Maria da Penha é o caráter de formação de uma autoridade policial
mais participativa, mais protetiva e mais zelosa no atendimento à vítima. Os arts. 10 e seguintes preveem uma série
de condutas a serem adotas pela autoridade policial:

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que
tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência deferida.

A mulher que esteja em situação de violência doméstica e familiar tem o direito de receber atendimento
policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores previamente capacitados. Os servidores
responsáveis por esse atendimento deverão ser preferencialmente do sexo feminino.

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado,
ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo feminino
- previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando
se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em
situação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas
terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Anota-se que, principalmente em delitos sexuais ou violentos, todas as vezes em que for inquirida sobre os
fatos, a vítima, de alguma forma, é submetida a um novo trauma, um novo sofrimento ao ter que relatar um episódio
triste e difícil de sua vida para pessoas estranhas, normalmente em um ambiente formal e frio. Desse modo, a cada
depoimento, a vítima sofre uma violência psíquica.

Assim, para evitar a revitimização, o Poder Público deverá adotar providências a fim de que a vítima não seja
ouvida repetidas vezes sobre o mesmo tema. Além disso, deve-se fazer com que o ambiente em que os depoimentos
são prestados seja acolhedor. Por fim, devem-se evitar perguntas que invadam a vida privada da vítima ou que
induzam à ideia de que ela teve “culpa” pelo fato, transformando a investigação ou o processo em um “julgamento”
sobre o comportamento da vítima.

Ainda, na inquirição da mulher vítima de violência doméstica e familiar ou de testemunha, deve-se adotar o
seguinte procedimento:

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei,
adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e
adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da
violência sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência doméstica e familiar
designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito.
(Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Avançando, o art. 11 da Lei nº 11.340/2006 prevê algumas providências específicas que o delegado de polícia
deverá adotar ao ter conhecimento da prática de crime de violência doméstica, com destaque para a alteração do
inciso V feito pela Lei nº 13.894/2019:

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras
providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio
familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária
para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento
ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)

Ademais, quando o delegado de polícia tiver conhecimento de que uma mulher foi vítima de violência
doméstica, ele deverá fazer o registro da ocorrência e, em seguida, adotar, de imediato, uma lista de procedimentos
que estão previstos no art. 12 da Lei nº 11.340/2006. Nessa oportunidade, a vítima deve ser esclarecida a respeito
de seus direitos e das medidas protetivas que pode pleitear:

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a
autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo
Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão
de medidas protetivas de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de
mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos
essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do
porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de
2019)
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

A esse respeito, importa destacar que a Lei nº 13.880/2019 alterou a Lei Maria da Penha determinando que, se
o autor da violência doméstica tiver uma arma de fogo (ainda que em casa ou no trabalho), ela deverá ser
apreendida.

Primeiro, a autoridade policial deverá pesquisar, no banco de dados próprio, se o suposto autor da violência
doméstica possui registro de porte ou posse de arma de fogo. Se o agressor tiver, o delegado deverá tomar duas
providências: notificar a ocorrência dessa suposta violência doméstica à instituição responsável pela concessão do

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

registro ou da emissão do porte e informar, no pedido de medidas protetivas que é encaminhado ao juiz, que o
agressor possui esse registro. Essa última providência (informação ao Juízo) se dá para que o Juiz, recebendo tal
informação, possa determinar a apreensão imediata da arma de fogo, conforme art. 18, IV da LMP (também
acrescentado pela Lei nº 13.880/2019).

Registra-se que não existe previsão na Lei para que o delegado, em nome próprio, formule pedido de
concessão de medida protetiva de urgência. O que a Lei prevê é a hipótese de a vítima solicitar medidas protetivas e
a autoridade policial, tomando a termo essa declaração, encaminhá-la ao Poder Judiciário:

§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou
agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os
documentos disponíveis em posse da ofendida.
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

E, como visto acima, a Lei nº 13.836/2019 acrescentou um novo inciso ao § 1º do art. 12 da LMP,
determinando que, no pedido de medida protetiva, o delegado de polícia deverá chamar a atenção do juiz caso a
vítima seja pessoa com deficiência e se, da violência sofrida, resultou deficiência ou agravamento de deficiência
preexistente, dando ainda mais elementos para uma decisão que proteja a vítima de violência doméstica.

O art. 12-A da LMP determina que os Estados deem prioridade, no âmbito da polícia civil, à criação de
delegacias especializadas de atendimento à mulher, de núcleos investigativos de feminicídio e de equipes
especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher, sendo possível a
requisição de serviços públicos necessários à defesa da mulher em situação de vulnerabilidade:

Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de
violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o atendimento e a
investigação das violências graves contra a mulher.
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher em situação de violência
doméstica e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Ainda neste capítulo que trata das providências a serem tomadas pela autoridade policial, menciona-se a
importante inovação legislativa advindo da Lei nº 13.827/2019, com inclusão do art. 12-C na LMP.

Até a edição da Lei nº 13.827/2019, cabia à autoridade judicial, e somente ela, a concessão de medidas
protetivas de urgência em favor de vítima de violência doméstica.

A Lei nº 13.827/2019, porém, trouxe uma exceção, permitindo que a medida protetiva de afastamento do lar
seja concedida pelo delegado de polícia se o município não for sede de comarca ou até mesmo pelo policial caso
também não haja delegado de polícia no momento.

Assim, verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação
de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor deverá ser imediatamente afastado do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida: a) pela autoridade judicial (regra); b) caso o município não seja

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

sede de comarca pelo delegado de polícia; c) caso o município não seja sede da comarca e não haja delegado de
polícia disponível no momento da denúncia, pelo policial.

Se a medida for concedida por delegado ou por policial, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 horas
e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao
Ministério Público concomitantemente:

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
(Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro)
horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério
Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida
liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

Por fim, mais uma vez, é importante anotar que, diante da denúncia de prática de violência doméstica, ainda
que o agir do agressor não constitua infração penal que justifique a instauração do inquérito policial, dita
circunstância não afasta o dever da polícia de tomar as providências cabíveis ao caso porque o que autoriza a
adoção de medidas protetivas é a violência doméstica de forma ampla, inclusive a psicológica, e, não,
exclusivamente o cometimento de algum delito contra a vítima. Destaca-se precedente do STJ:

As medidas protetivas de urgência da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) podem ser aplicadas em ação cautelar cível
satisfativa, independentemente da existência de inquérito policial ou processo criminal contra o suposto agressor. O primeiro
dado a ser considerado para compreensão da exata posição assumida pela Lei Maria da Penha no ordenamento jurídico pátrio
é observar que o mencionado diploma veio com o objetivo de ampliar os mecanismos jurídicos e estatais de proteção da
mulher. Por outra ótica de análise acerca da incidência dessa lei, mostra-se sintomático o fato de que a Convenção de Belém
do Pará - no que foi seguida pela norma doméstica de 2006 - preocupou- se sobremaneira com a especial proteção da mulher
submetida a violência, mas não somente pelo viés da punição penal do agressor, mas também pelo ângulo da prevenção por
instrumentos de qualquer natureza, civil ou administrativa. Ora, parece claro que o intento de prevenção da violência
doméstica contra a mulher pode ser perseguido com medidas judiciais de natureza não criminal, mesmo porque a resposta
penal estatal só é desencadeada depois que, concretamente, o ilícito penal é cometido, muitas vezes com consequências
irreversíveis, como no caso de homicídio ou de lesões corporais graves ou gravíssimas. Na verdade, a Lei Maria da Penha, ao
definir violência doméstica contra a mulher e suas diversas formas, enumera, exemplificativamente, espécies de danos que
nem sempre se acomodam na categoria de bem jurídico tutelável pelo direito penal, como o sofrimento psicológico, o dano
moral, a diminuição da autoestima, a manipulação, a vigilância constante, a retenção de objetos pessoais, entre outras formas
de violência. Ademais, fica clara a inexistência de exclusividade de aplicação penal da Lei Maria da Penha quando a própria
lei busca a incidência de outros diplomas para a realização de seus propósitos, como no art. 22, § 4º, a autorização de
aplicação do art. 461, §§ 5º e 6º, do CPC; ou no art. 13, ao afirmar que "ao processo, ao julgamento e à execução das causas
cíveis e criminais [...] aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica
relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitem com o estabelecido nesta Lei". Analisada de outra forma a
controvérsia, se é certo que a Lei Maria da Penha permite a incidência do art. 461, § 5º, do CPC para a concretização das
medidas protetivas nela previstas, não é menos verdade que, como pacificamente reconhecido pela doutrina, o mencionado
dispositivo do diploma processual não estabelece rol exauriente de medidas de apoio, o que permite, de forma recíproca e
observados os específicos requisitos, a aplicação das medidas previstas na Lei Maria da Penha no âmbito do processo civil.
(STJ, REsp 1.419.421-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2014).

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Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) – Parte I

VUNESP – PC – SP – 2018 - Nos termos da Lei no 11.340/2006 (Lei Maria da Penha):


A - a mulher vítima será inquirida sempre com intermediação de profissional do sexo feminino especializado em violência
doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial.
B - é direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento pericial especializado, ininterrupto e
prestado por servidores exclusivamente do sexo feminino.
C - é direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado,
ininterrupto e prestado por servidores, preferencialmente do sexo feminino e previamente capacitados. (CORRETA).
D - é direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial especializado, ininterrupto e
prestado por servidores exclusivamente do sexo feminino.
E - a mulher vítima será inquirida sempre com intermediação de profissional especializado em violência doméstica e familiar
designado pela autoridade judiciária ou policial.

FUNDATEC – PC – RS – 2018 - Em relação à Lei nº 11.340/2006, assinale a alternativa INCORRETA.


A - É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e
pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores – preferencialmente do sexo feminino
– previamente capacitados.
B - Deverá a autoridade policial remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da
ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência.
C - Será adotado, preferencialmente, o procedimento de coleta de depoimento registrado em meio eletrônico ou magnético,
devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito.
D - Será observada, como diretriz, a realização de sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada, desde que em recinto especialmente projetado para esse fim,
o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou
testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida. (INCORRETA).
D - Serão admitidos como meios de prova, os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

IBADE – PC – AC – 2017 - Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da
ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo de outros previstos no
Código de Processo Penal:
I. ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada.
II. determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários.
III. remeter, no prazo de 72 (setenta e duas) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de
medidas protetivas de urgência.
IV. ouvir o agressor e as testemunhas. Caso entenda desnecessária a oitiva do agressor, poderá o Delegado dispensá-lo
ouvindo apenas a vítima e as testemunhas.
Está correto o que se afirma apenas em: A - II e III.
B - II e IV. C - I e III.
D - I e II. (CORRETA). E - III e IV.

NUCEPE – PC – PI – 2018 - A Lei nº 11.340/2006 cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar
contra a mulher. São consideradas violência contra a mulher não só a física, mas também, psicológica, moral e sexual. E em
todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial
adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal, EXCETO:
A - colher nome e idade dos dependentes e encaminhá-los a uma Casa de Abrigo; (INCORRETA).
B - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; C - colher todas as
provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;
D - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão
de medidas protetivas de urgência;
E - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários, ouvir
o agressor e as testemunhas.

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