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ÍNDICE
1. ASPECTOS GERAIS DA LEI MARIA DA PENHA..............................................................4
Fundamento Constitucional............................................................................................................................................4
Fundamentos Convencionais.........................................................................................................................................4
Origem da lei: o caso Maria da Penha..........................................................................................................................4
Finalidades............................................................................................................................................................................... 5
Notificação Compulsória.................................................................................................................................................... 5
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos
para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Fundamentos Convencionais
O Brasil ratificou algumas convenções internacionais acerca da violência contra a mulher, a
saber:
• Primeira Conferência sobre as Mulheres (1975) – Cidade do México: onde ocorreu a redação da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
• Segunda Conferência sobre as Mulheres (1980) – Copenhague
• Terceira Conferência sobre as Mulheres (1985) – Nairóbi
• Convenção Interamericana para Prevenir e Erradicar a Violência Doméstica (1994) – Belém do Pará
Com a existência destes dispositivos internacionais ratificados no Brasil, a adoção de uma lei
interna se tornou uma hipótese cada vez mais plausível, sendo que alguma proteção contra
a violência doméstica já estava sendo formada.
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O Brasil chegou a ser denunciado à Corte Interamericana de Direitos Humanos. Com isso, a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos elaborou o Relatório 54/2001, que apontou a
ausência de medidas concretas brasileiras contra a violência de gênero.
A ineficácia das leis brasileiras perante o caso destacou a necessidade de normativas mais
específicas para a violência doméstica contra a mulher.
Finalidades
• Criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher: funda-
mento no §8° do art. 226 da CF/88 e nos tratados internacionais ratificados pelo Brasil;
• Criar Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;
• Estabelecer medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e
familiar.
Notificação Compulsória
A violência doméstica deve ser notificada conforme a lei. Antes de 2019, a notificação era
prevista na lei 10.778/03. Os agentes da saúde que identificassem indícios da violência em
pacientes deveriam comunicar as autoridades sanitárias para registro estatístico de política
pública. Porém, não havia prazo para a notificação e a polícia não era necessariamente
envolvida. O objetivo era a mera coleta de dados.
Com a lei 13.931/19, a notificação compulsória dos agentes da rede pública e privada de saúde
passaram a contemplar a denúncia para autoridades policiais, com o prazo de 24 horas. Sendo
assim, além do registro estatístico para controle da violência por políticas públicas, cada caso
específico obrigatoriamente será tratado pelas autoridades policiais.
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2. Assistência à Mulher Vítima de Violência Doméstica
A assistência é prestada de forma articulada, segundo os princípios e as diretrizes previstos:
Quando for o caso de prestação de emergência, todos esses sistemas devem ser acionados
mais rapidamente.
Determinações Judiciais
Algumas das disposições da Lei Maria da Penha somente são aplicadas por juízes. A saber:
• Acesso prioritário à remoção: quando a vítima for servidora, ela não precisa passar por um novo
concurso para poder se mudar de cidade. O juiz pode conceder a ela prioridade nas listas de remoção,
fazendo com que ela se mude de município com maior facilidade;
• Manutenção do vínculo trabalhista: já nos vínculos empregatícios privados, o juiz pode conce-
der até seis meses de interrupção (com manutenção do vínculo) para que a vítima se afaste do local
de trabalho, caso necessário. A decisão deve vir do Juizado de Violência Doméstica e a interrupção
deve ser remunerada. A disposição é análoga ao auxílio doença (segundo o REsp 1.757.775 do STJ),
sendo assim, a obrigação de remunerar é do empregador por apenas 15 dias, sendo o restante pago
pelo INSS;
• Encaminhamento à assistência judiciária: quando o juiz auxilia a vítima, encaminhando o caso
para o juízo competente para separação judicial, divórcio, anulação de casamento ou dissolução de
união estável.
Caso o agressor não pague, a Fazenda Pública deve cobrar. O ressarcimento será dirigido para
o ente federativo que arcou com os procedimentos de saúde da vítima, sendo encaminhado
para o Fundo de Saúde deste ente.
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Atenção! O ressarcimento não pode gerar quaisquer ônus para a mulher e os dependen-
tes, além de não configurar atenuante ou de possibilitar a substituição da pena.
Matrícula Facilitada
Nos tópicos anteriores, falamos da possibilidade da vítima mudar de município para evitar o
agressor. Ela tem as seguranças trabalhistas necessárias para tanto, mas também é necessário
assegurar que seus filhos ou outros dependentes tenham proteção. Sendo assim, a vítima
de violência doméstica tem prioridade para matricular seus dependentes na instituição de
educação básica mais próxima ao seu domicílio. Quando a medida ocorrer durante o período
letivo, há também a preferência na transferência entre instituições.
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3. Violência Doméstica Contra a Mulher
Requisitos
A violência doméstica contra a mulher é o delito da Lei Maria da Penha, que apresenta:
Sendo assim, o sujeito passivo do tipo penal é a mulher. Nunca os homens. Embora
algumas pessoas acreditem que isso é contra o princípio da igualdade, ter o sujeito passivo
como a mulher é completamente constitucional, já que as mulheres apresentam a posição
de vulnerabilidade social. As mulheres transexuais não foram abordadas pela lei, mas a
jurisprudência tende a protege-las também (mesmo que elas não tenham feito cirurgia de
redesignação de gênero ou alteração no registro civil).
Além disso, é necessário, para figurar na Lei Maria da Penha, que o delito tenha também
violência de gênero, ou seja, que exista hipossuficiência física ou econômica da vítima. Sendo
assim, é necessário que a vítima tenha algum vínculo de dependência econômica ou de
disparidade física frente o agressor.
Quanto ao sujeito ativo (o agressor), são admitidos homens e mulheres. Porém, existem as
presunções de vulnerabilidade do CC 88.207 do STJ:
Âmbitos da violência
Existem três âmbitos da violência contra a mulher previstos na Lei Maria da Penha. Vamos
estudar mais a fundo cada um deles.
VIOLÊNCIA FAMILIAR
A Lei Maria da Penha, no artigo 5°, inciso II, define como violência familiar qualquer ação ou
omissão baseada no gênero da mulher que cause na vítima a morte, a lesão, o sofrimento
físico, sexual ou psicológico ou o dano moral ou patrimonial.
Essa conduta deve ocorrer no âmbito familiar, ou seja, dentro da comunidade de indivíduos
aparentados (parentes) por:
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• Laços naturais;
• Afinidade; ou
• Vontade expressa.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A violência doméstica, por sua vez, está prevista no inciso I do artigo 5° e corresponde à
conduta de ação ou omissão contra a mulher e baseada no gênero que cause na vítima a
morte, a lesão, o sofrimento físico, sexual ou psicológico ou o dano moral ou patrimonial.
Essa conduta deve ocorrer no âmbito doméstico, ou seja, dentro da unidade doméstica,
sendo ela o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar
(inclusive as agregadas esporadicamente).
Nesse caso, a conduta deve ocorrer em qualquer relação íntima de afeto, sendo que o
agressor pode conviver atualmente ou ter convivido antigamente com a vítima, mas também
não é necessária a coabitação.
Formas de violência
Segundo a Lei Maria da Penha, o tipo penal só compreende a conduta dolosa. Ou seja,
não é possível aplicar a lei contra condutas culposas, já que está prevista uma relação de
hipossuficiência e uma agressão baseada no gênero.
Vale lembrar também que a Lei Maria da Penha abarca no termo “violência” todas as
possibilidades de agressão: seja patrimonial, psicológica, física, sexual, financeira, etc. Mas o
Código Penal, quando se refere à violência, está sempre falando da agressão física.
Mas então quais são os limites dessa conduta? Qual é a violência que a Lei Maria da Penha
abarca? A lei abarca todas as hipóteses de violência doméstica, familiar e em relações íntimas
de afeto contra a mulher, sejam elas em qualquer uma das formas apontadas nos tópicos
seguintes.
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VIOLÊNCIA FÍSICA
Aqui podemos incluir qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da
mulher, podendo abranger o feminicídio ou as vias de fato para a sua prática.
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
Como violência psicológica, podemos apontar qualquer conduta que:
VIOLÊNCIA SEXUAL
Nesta forma, estão incluídas quaisquer condutas que possam constranger a mulher a
presenciar, manter ou participar de relações sexuais indesejadas. Esse constrangimento
pode ocorrer por intimidação, ameaça, coação ou uso de força.
VIOLÊNCIA PATRIMONIAL
Neste caso, temos qualquer retenção, subtração ou destruição (parcial ou total) do
patrimônio da mulher. Compreende-se nesse patrimônio:
• Objetos
• Instrumentos de trabalho
• Documentos pessoais
• Bens
• Valores e direitos
• Recursos econômicos (inclusive os destinados a satisfazer as necessidades da mulher)
VIOLÊNCIA MORAL
Aqui, compreendemos os crimes contra a honra: a calúnia, a difamação e a injuria.
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4. Atendimento à Mulher pela Autoridade Policial
Uma das disposições da Lei Maria da Penha diz respeito ao atendimento da vítima. Nesta aula
vamos avaliar como a autoridade policial deve atender a mulher vítima da violência.
Inquirição
A lei tem como objeto evitar a vitimização secundária. Ou seja, evitar que a vítima sofra
novamente por ter que passar por uma série de burocracias em torno do evento já traumático
da vitimização primária (o momento em que o bem jurídico foi afetado).
Sendo assim, no momento de inquirição (quando as autoridades pedem para a vítima narrar o
ocorrido), os servidores devem preocupar-se com a integridade física, psíquica e emocional da
depoente (a mulher que depõe), considerando sua situação de violência doméstica e familiar.
Além do mais, não é permitido fazer inquirições sucessivas sobre os fatos em âmbitos criminal,
cível e administrativo. Também não são permitidos questionamentos sobre a vida privada da
mulher.
O local do depoimento deve estar devidamente projetado e equipado. Devem ser dispostos
instrumentos próprios e adequados para a idade da mulher e para a gravidade da violência. Isso
vale tanto para a vitima quanto para as testemunhas. Nesse aspecto, podemos falar de dispor
brinquedos para crianças, cadeiras confortáveis, água e café – quaisquer equipamentos para
maior conforto. Também é possível a autoridade judiciária ou policial designar um profissional
especializado em violência doméstica e familiar para intermediar a inquirição, deixando a
vítima mais confortável.
O depoimento deverá ser registrado em meio eletrônico ou magnético, para que não seja
necessário inquerir diversas vezes. A degravação e a mídia devem integrar o inquérito.
Quando houver risco de vida para a vítima e ela dever ficar em um abrigo ou outro local segura,
é dever da autoridade fornecer o transporte para ela e para seus dependentes. Nesses casos,
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também é possível acompanhar a vítima até o local da ocorrência ou o domicílio familiar para
que ela possa retirar seus pertences sem riscos.
A autoridade também deve verificar se o agressor tem registros de porte ou arma de fogo
para, se for o caso, colocar essas informações nos autos do processo e notificar o crime à
instituição responsável pela concessão de registro e de emissão do porte legal. E, caso a
ofendida peça, a autoridade policial tem 48 horas para remeter expediente apartado ao juiz
para concessão de medidas protetivas de urgência. Também é necessário informar nos autos
a condição da ofendida com relação a deficiências (se ela possui alguma e se a violência
sofrida pode gerar ou agravar alguma deficiência) – isso porque os processos da pessoa com
deficiência devem ser processados mais rapidamente.
Afastamento do Lar
Sempre que houver risco:
• atual ou iminente
• à vida ou à integridade física
• da vítima ou de seus dependentes
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Nessas exceções em que o afastamento do lar não foi decretado judicialmente, o juiz deve
ser notificado para manter ou revogar a medida em 24 horas. Essa notificação deve ser,
concomitantemente, para o juiz e para o Ministério Público.
Quando houver prisão em flagrante ou preventiva do agressor, ele não pode receber liberdade
provisória caso ofereça risco à integridade física da mulher ou à efetividade da medida
protetiva de urgência.
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5. Juizado de Violência Doméstica e Familiar
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos
Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica
e familiar contra a mulher.
Os juizados deverão, portanto, funcionar nos horários padronizados dos atos processuais.
Mas é possível o funcionamento noturno, de acordo com as regras de organização judiciária
do ente federativo responsável.
Embora o nome seja “juizado”, estes órgãos funcionam como varas especializadas, já que
acolhem ações penais com uma tramitação preferencial dos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher.
Competência
A vara especializada de violência doméstica e familiar tem competência para julgar aspectos
criminais e civis dessa violência. Caso, contudo, não haja o juizado no local, o STJ afirma no
HC 158.615 que qualquer vara criminal pode julgar o caso, tanto em aspectos cíveis quanto
criminais.
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática
de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das
causas referidas no caput.
Há uma tese contrária à criação dos juizados. Segundo essa corrente, seria uma violação da
separação dos poderes prevista na constituição (art. 125, §1°), já que o legislativo determinou
a criação de varas do judiciário. Porém, o STF decidiu no ADC 19 que a Lei Maria da Penha
simplesmente faculta a criação dos juizados, não sendo uma ordem do legislativo para o
judiciário.
FEMINICÍDIO
Quando a violência gerar um crime doloso contra avida (ou seja, um feminicídio), a vara de
violência doméstica pode exercer o juízo sobre a acusação, mas o júri é que deverá julgar a
causa – segundo o HC 73.161 do STJ.
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AÇÃO DE DIVÓRCIO
A vítima pode propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável no juizado (que pode
romper o vínculo), mas a partilha de bens não pode ser discutida na mesma vara (deve ser
discutida na Vara de Família).
Nos casos em que a violência começa depois da ação ser ajuizada, não é necessário alterar a
vara de julgamento, mas haverá preferência no julgamento deste processo.
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6. Lei Maria da Penha e Ação Penal
Lesão Corporal Leve
Antes de 1995, a lesão corporal leve era tida como um crime de ação penal pública
incondicionada. Ou seja, a vítima não precisava se pronunciar para que o promotor denunciasse
o caso. Mas isso foi alterado pela lei 9.099/95, que colocou como necessário que a vítima
pedisse para ser representada judicialmente com denúncia dentro de 6 meses.
No art. 88 da lei 9.099/95 ficou definido que a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais
leves e lesões culposas depende de representação (além das outras hipóteses previstas no
Código Penal e na legislação especial). Mas, o art. 41 da LMP diz que os crimes praticados
com violência doméstica e familiar contra a mulher não são contemplados pela lei 9.099/95,
independentemente da pena prevista. A lei 9.099/95 foi criado para regular processos rápidos,
com punições mais leves em infrações de menor gravidade, uma vez que cria dispositivos
despenalizadores. Sendo assim, até que ponto ela deverá ser aplicada ou não à LPM?
O STF dispôs na ADI 4424 que o art. 88 da lei 9.099/95 (que fala ser necessária a representação
da vítima na denúncia) NÃO é aplicável à Lei Maria da Penha. Então, a ação penal para a
lesão corporal leve em crimes de violência doméstica e contra a mulher deve ser pública e
incondicionada (conforme também a Súmula 542 do STJ), podendo o Ministério Público agir
sem a expressão de vontade da vítima.
A lesão corporal culposa contra a mulher deve ser julgada fora do Juizado de Violência
Doméstica, não se aplicando o artigo 41 da LMP. O crime deve ser processado como ação
penal pública condicionada à representação.
Somente o crime de lesão corporal leve pode ser discutido devido ao conflito entre o art. 88
da lei 9.099/95 e o art. 41 da LMP. Os demais casos de violência doméstica serão regidos pela
ação penal da LMP.
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Retratação da Representação
Art. 16, LMP. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que se trata esta Lei,
só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Neste artigo, há um erro de terminologia da lei. Não é possível renunciar um direito que você
já tenha exercido, certo? Então o correto é dizer “retratação” em vez de “renúncia”. Ou seja,
é possível a ofendida cancelar a sua representação, retratando-a (mas não renunciando-a).
• depende da audiência (ao contrário da retratação comum do CPP, que pede apenas a manifesta-
ção da vítima)
• é retratável até o recebimento da denúncia (ao contrário da retratação comum do CPP, que é
retratável até o oferecimento da denúncia)
Isso é para evitar a retratação da ofendida sem sua manifestação de vontade livre e voluntária.
Além de dar um tempo maior para a retratação (até o momento em que o juiz recebe o pedido,
em vez de ser apenas até o momento em que o Ministério Público pede a retratação).
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7. Medidas Protetivas de Urgência
Natureza Jurídica e Procedimento
As medidas protetivas de urgência são medidas cautelares penais ou extrapenais, tendo
procedimento previsto a partir do artigo 282 do CPP (que regulam todas as medidas cautelares
no processo penal brasileiro).
Art. 19, LMP. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.
Isso é uma cláusula de reserva de jurisdição, ou seja, um dispositivo que reserva a capacidade
de conceder a medida.
O juiz pode conceder a medida protetiva de urgência sem ouvir o réu (concessão inaudita
altera partes). Isso para evitar a inefetividade ou a demora de medidas (como o próprio nome
já diz) urgente.
Sendo proferida sem pedido do Ministério Público ou da ofendida, devem ainda os entes
serem informados da medida concedida.
Características
As medidas cautelares de urgência podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente,
dependendo das espécies que forem escolhidas pelo juiz. Podem ser substituíveis ou
canceladas com o comportamento observado pelo juiz durante a sua aplicação. Podem
ser aplicadas novas medidas ao longo do tempo também, aumentando ou diminuindo as
restrições ao réu.
Contudo, com a polêmica de alguns filhos menores sofrendo violência doméstica junto da
ofendida, surgiu uma discussão acerca da aplicação destas medidas também para proteção
dos homens. Segundo a Lei 12.403/11, que coloca o poder de cautela no CPP, o juiz pode
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decretar medidas para assegurar os bens jurídicos da vítima no âmbito do processo penal,
segundo o inciso a seguir:
Art. 313, CPP. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (...)
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
Sendo assim, pode ser concedida uma medida protetiva análoga à da Lei Maria da Penha para
os dependentes ou relacionados à vítima que estão sujeitos também à violência doméstica
prevenida.
Também é possível proibir uma conduta do agressor que apresente um risco, como:
O juiz pode determinar também o afastamento da ofendida do seu lar, sem que haja prejuízo
dos direitos relativos aos seus bens, à guarda de seus filhos e a alimentos. Esta medida
costuma ser aplicada em casos de trauma da ofendida com relação à sua casa.
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É possível também determinar a separação de corpos, separando o agressor da vítima. O juiz
pode também encaminhar a ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso
(inclusive para ajuizar ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento
ou de dissolução de união estável perante o juízo competente). Ou então, ainda é possível
matricular ou transferir os dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais
próxima do seu domicílio (independentemente da existência de vagas).
Além disso, é possível aplicar a medida de suspensão das procurações conferidas pela
ofendida ao agressor, cabendo novamente ao juízo comunicar o cartório respectivo. Ainda é
possível determinar que o agressor preste caução provisória, mediante depósito judicial, por
perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
ofendida.
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8. Prisão do Agressor e Lei 9.099/95
Conforme mencionamos nas aulas anteriores, a Lei 9.099/95 traz diversas previsões sobre
o processo penal. Vamos avaliar nessa aula se a lei 9.099/95 pode ser aplicado aos casos de
violência da Lei Maria da Penha.
O juiz pode ainda revogar a prisão preventiva. Isso ocorre caso ele verifique, no curso do
processo, a falta de motivo para que subsista (continue existindo). O juiz pode voltar a decretar
a prisão preventiva caso sobrevierem razões que a justifiquem.
Surgiu uma grande discussão sobre a constitucionalidade deste dispositivo, uma vez que abra
a possibilidade de uma prisão ex officio decretada pelo juiz (sendo que ele deve ser imparcial)
durante o inquérito (e não somente após a denúncia, durante o processo). Quanto a isso, a
doutrina minoritária acredita ser esta disposição completamente constitucional como uma
lei especial. Já a doutrina majoritária acredita que somente se pode decretar prisão após a
denúncia, não sendo, então, um artigo constitucional.
Sendo assim, embora haja a precisão do art. 20 da LMP, a prisão preventiva do juiz só pode
ser decretada durante o processo.
Porém, a prisão preventiva não pode ser aplicada só com o descumprimento do agressor
frente às medidas protetivas. O STJ definiu no HC 100.512 que, além do descumprimento,
deve haver periculum libertatis, ou seja, o perigo à vítima ou ao processo ocasionado pela
liberdade do ofensor. Segundo o art. 312 do CPP, esse perigo existe quando o agressor ameaça
a testemunha ou destrói provas, por exemplo.
Não é possível a prisão preventiva para assegurar medidas protetivas cíveis, apenas as
criminais. Isso porque a prisão civil só pode ocorrer no caso de devedor de alimentos, previsto
pela CF/88.
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Art. 24-A, LMP. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
Sendo assim, configura-se crime, independente da competência civil ou criminal do juiz que
deferiu as medidas de urgência.
Quando houver prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial pode conceder fiança (ou
seja, é vedada a fiança dada pelo Delegado). O disposto neste artigo não exclui a aplicação de
outras sanções cabíveis.
Conforme a ADC 19 do STF, a disparidade que esse artigo 41 gera (colocando mais dispositivos
despenalizadores para a mulher que pratique violência contra o marido do que para o marido
que agride a mulher) é completamente constitucional. A LMP é constitucional como um todo,
como uma medida afirmativa contra o machismo comum no contexto do Brasil e contra a
vulnerabilidade doméstica da mulher.
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Lei Maria da Penha
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