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FACULDADE DE SINOPE
FASIP - CUIABÁ

CARLOS HENRIQUE DE FREITAS, FELIPE SANTOS,


GABRIEL CASTRO, ROBERSON DIAS, THAIS ROCHINSKI,
PEDRO HENRIQUE ALMEIDA.

Entidade Violência Nunca Mais.

Cuiabá
2024
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CARLOS HENRIQUE DE FREITAS, FELIPE SANTOS,


GABRIEL CASTRO, ROBERSON DIAS, THAIS ROCHINSKI,
PEDRO HENRIQUE ALMEIDA.

ENTIDADE VIOLÊNCIA NUNCA MAIS

Trabalho de Pesquisa e argumentação


jurídica apresentado ao curso de Direito da
Faculdade de Sinop para a obtenção de nota
na matéria de Introdução ao Direito.

Orientador(a): Prof. Izabel Sousa Barbosa.

Cuiabá
2024
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Sumário

1 . Introdução.................................................................................................. 4
2 . Estatística da violência contra a mulher.................................................. 5
3 . Lei Maria da Penha.................................................................................... 6
3.1 COMO ERA ANTES DA LEI MARIA DA PENHA.......................... 6
3.2 UM POUCO SOBRE DA LEI MARIA DA PENHA........................... 7
4 . Delegacia da Mulher.................................................................................... 11
4.1 APONTAMENTO................................................................................. 12
5 . Sugestão de melhora para o combate à violência contra a mulher......... 14
6 . Conclusão...................................................................................................... 16
7 . Referências.................................................................................................... 17
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1. Introdução.

A luta contra a violência contra a mulher tem sido uma batalha constante em todo o
mundo, com avanços significativos e desafios persistentes. Ao longo dos anos,
medidas legislativas, campanhas de conscientização e programas de apoio têm
contribuído para aumentar a visibilidade do problema e promover a proteção das
mulheres. No entanto, apesar desses avanços, retrocessos podem ser observados em
algumas áreas, especialmente em relação às políticas governamentais. Enquanto alguns
governos implementam políticas progressistas e investem em recursos para combater
a violência de gênero, outros adotam uma postura negligente ou até mesmo hostil,
enfraquecendo leis de proteção, reduzindo financiamento para programas de apoio e
perpetuando discursos que minimizam a gravidade do problema.
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2. Estatísticas de violência contra a mulher.

A 10ª edição da pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher mostra que 30% das
mulheres do país (aproximadamente 30 milhões) já sofreram algum tipo de violência doméstica
ou familiar provocada por um homem.
A pesquisa apontou que a violência psicológica é a mais recorrente (89%), seguida pela moral
(77%), pela física (76%), pela patrimonial (34%) e pela sexual (25%). As mulheres com menor
renda são as que mais sofrem violência física, diz o estudo. Cerca de metade das agredidas (52%)
sofreram violência praticada pelo marido ou companheiro, e 15%, pelo ex-marido, ex-namorado
ou ex-companheiro.
De acordo com o documento, a maior parte das vítimas tem conseguido terminar casamentos
abusivos. Também é majoritária a parcela de vítimas que estão saindo de namoros violentos.
Do total de mulheres que revelaram ter sofrido violência, 48% disseram que houve
descumprimento de medidas protetivas de urgência. A pesquisa aponta que cada vez mais
mulheres procuram ajuda, mas alerta para o fato de que a falta de delegacias da mulher em muitas
cidades dificulta o acesso ao serviço. Em cidades com menos de 50 mil habitantes, conforme o
levantamento, é maior o percentual de mulheres que declaram ter denunciado em delegacias
comuns.
Na opinião de 73% das brasileiras, ter medo do agressor leva uma mulher a não denunciar a
agressão na maioria das vezes. A falta de punição e a dependência financeira são outras situações
que, para 61% das brasileiras, levam uma mulher a não denunciar a agressão na maioria das
vezes.
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3. Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006).

• COMO ERA ANTES DA LEI MARIA DA PENHA.


Antes de a Lei Maria da Penha entrar em vigor, o homem que agredisse uma mulher
não precisava temer a justiça, visto que, nos raros casos de condenação, era comum
que a pena de cadeia fosse substituída por multa, pagamento de cestas básicas ou
prestação de serviços comunitários. Além de não inibir o agressor, o mesmo se sentia
encorajado, ao passo que a vítima não costumava denunciar, pois já sabia que o
agressor não iria para a cadeia. Resumindo, não havia dispositivo legal para punir,
rigorosamente, o homem autor de violência.
Portanto, nesse período, a violência doméstica e familiar contra a mulher era tratada
simplesmente como um crime de menor potencial ofensivo e enquadrada na Lei nº
9.099/1995 (Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras
providências). O quadro era tão desfavorável às mulheres que, após denunciar o
agressor, a vítima ainda tinha que levar a intimação para que ele comparecesse perante
o delegado. Isso mostra o descaso e a falta de sensibilidade com que esse problema era
tratado, acentuando ainda mais o quadro de vulnerabilidade das vítimas de violência
doméstica.
Ficava evidente a necessidade de uma nova lei que fosse apartada Lei nº 9.099/1995.
Havia a necessidade de mudar esse cenário e, após pouco mais de quatro anos de muito
debate com o Executivo, o Legislativo e a sociedade civil, a Lei Maria da Penha foi
sancionada no dia 7 de agosto de 2006.
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Essa Lei passaria a punir não apenas a violência física, mas também sexual, psicológica
e patrimonial. O agressor denunciado passa a ser forçado a ficar longe da vítima, perde
o porte de armas, e pode ser preso de forma preventiva, podendo pegar até 3 anos de
prisão, se condenado. Do lado do Judiciário, os magistrados não podem mais substituir
a pena de cadeia dos agressores por penas mais brandas, como por exemplo a realização
de serviços comunitários.
Além disso, a Lei Maria da Penha passou a obrigar o poder público a cuidar da mulher,
a estruturar delegacias, bem como defensorias, promotorias e juizados de violência
doméstica. Somado a isso, a partir de 2015, por meio dos trabalhos de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, o
assassinato de mulher passou a ser enquadrado especificamente como crime de
“feminicídio”, podendo implicar em uma pena de até 30 anos de prisão.

• UM POUCO SOBRE A LEI MARIA DA PENHA


A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, popularmente conhecida como “Lei Maria
da Penha”, leva esse nome em homenagem à Senhora Maria da Penha Maia
Fernandes, que sofreu violência doméstica durante anos, sendo que o seu marido
tentou matá-la por duas vezes, o que a levou a se tornar uma militante no combate à
violência doméstica.
Conforme descrito em seu Artigo 1º, esta Lei:
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Cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a


mulher, em conformidade com a Constituição Federal (Art. 226, § 8º), bem como
tratados e convenções internacionais do qual o Brasil é signatário;
Dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher (justiça especializada);
Estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
doméstica e familiar.
É importante frisar que a Lei Maria da Penha é uma norma de conteúdo processual,
ou seja, ela não apresenta crimes, mas define o rito processual de julgamento dos
criminosos que venham a cometer violência contra as mulheres. Nesse sentido, como
norma processual está baseada nos princípios constitucionais do devido processo
legal, do contraditório e da ampla defesa, além da presunção de inocência.
Conforme definido no Artigo 2º, desta Lei, “toda mulher, independentemente de
classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e
religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”. Assim, as
mulheres têm direito a oportunidades e facilidades para uma vida livre de violência,
bem como à preservação de sua saúde física e mental, e ao seu “aperfeiçoamento
moral, intelectual e social”.
Embora ainda esbarre em alguns entraves para que possa vir a ser integramente
cumprida, a Lei Maria da Penha chegou a ser considerada pela Organização das
Nações Unidas (ONU), como “a terceira melhor lei do mundo de enfrentamento à
violência contra a mulher” (Âmbito Jurídico, 2013).
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Mesmo já tendo transcorrido quase duas décadas do início de sua vigência,


atualmente ainda se observam várias críticas que refletem as dificuldades para que a
Lei Maria da Penha possa vir cumprida com mais efetividade, tais como, o número
insuficiente de delegacias e de varas especializadas, o comportamento machista de
alguns juízes, delegados e de outros profissionais com quem as mulheres vítimas de
violência precisam solicitar apoio.
Nesse cenário, a atuação do Poder Judiciário tem se mostrado insuficiente,
considerando que parcela considerável dos magistrados, ao decidir causas que
envolvem violência contra a mulher, acaba reproduzindo uma série de preconceitos,
operando como meras engrenagens do patriarcado, por desconhecerem as questões de
gênero e suas implicações jurídicas (Costa, 2012, p. 173 apud Romfeld, 2018, p. 6).
Wagner (2019) também critica a ineficácia das medidas protetivas, salientando que,
embora existam leis que estabelecem penas para os agressores, destaca-se um
aumento significativo dos casos de mulheres que são mortas pelos respectivos
cônjuges ou companheiros, casos estes que poderiam vir a ser coibidos se as medidas
cabíveis fossem devidamente aplicadas.
Assim a Lei Maria da Penha não se torna eficaz quando deixa mulheres
desamparadas e sem poder se livrar de situações e terminar relacionamentos abusivos
de modo seguro. Ressalta ainda o grande crescimento dos casos de “feminicídio”, das
agressões e violência doméstica (que poderiam ser impedidos com uma legislação
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mais eficaz), e aponta como solução “[...] uma maior fiscalização e proteção para com
as vítimas e seus familiares, fazendo com que os agressores não chegassem a ter
oportunidades de cometer delitos maiores” (Wagner, 2019).
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4. Delegacia da Mulher.
As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM) são unidades
especializadas da Polícia Civil, que realizam ações de prevenção, proteção e
investigação dos crimes de violência doméstica e violência sexual contra as mulheres,
entre outros.
No Estado, hoje, existem 8 unidades em 8 municípios, são elas: em Cuiabá, Várzea
Grande, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres, Sinop, Tangará da Serra e Primavera
do Leste. Porém, em todo o Estado de MT não existe unidade especializada aberta 24
horas por dia, todas funcionam de segunda a sexta-feira, das 08h às 18h. Em Cuiabá,
existe o plantão de atendimento a vítimas de violência doméstica e sexual, localizada
dentro da delegacia do Planalto.
As cidades de Barra do Bugres, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Alta
Floresta, Peixoto de Azevedo e Água Boa possuem dentro das respectivas delegacias,
Núcleos de Atendimento à Mulher, que são estruturados com equipes policiais
femininas e ambiente exclusivo às mulheres.
O fato de já ter disponível à população é um avanço, mas é preciso melhorar o número
de delegacias especializadas, bem como aumento do horário de funcionamento para 24
horas por dia. Tendo em vista que, em grande parte dos casos de violência doméstica
contra a mulher, o agressor comete o ato após as 18h e durante o final de semana.
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• APONTAMENTO
Em nosso ordenamento jurídico a liberdade é a regra e a prisão é a exceção. Isso porque
o CPP no seu art. 283 diz que: Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
Nos casos de violência doméstica, nos deparamos, grosso modo, com dois tipos de
criminosos, os primários e os reincidentes. Neste último, a manutenção da prisão se
mostra mais fácil de ser realizada devido ao seu histórico, já no primeiro, se o agressor
tiver bons antecedentes, residência fixa, emprego fixo e boa conduta em sociedade, até
então, pode-se ser concedido a ele o benefício da liberdade provisória com medidas
cautelares.
O mesmo código em comento, em seu art. 319 e § 6º diz que: A prisão preventiva será
determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar. Por
isso que vemos muitos agressores serem presos e por vezes serem soltos, dando a
sensação de que não adiantou nada a vítima denunciar. Gerando na vítima um medo de
que a qualquer momento ele pode quebrar as medidas e cumprir com as ameaças e fazer
algo pior a ela.
Se ele quebrar as medidas cautelares ou se cumprir com as ameaças e fazer o pior, é
que o juiz poderá decretar a sua prisão preventiva, mas aí poderá ser tarde demais e a
mulher ter sido violentada mais uma vez, quem sabe até pagar com sua própria vida.
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Proposta de mudança no tratamento dado aos agressores de mulheres que quando


detidos são colocados em liberdade provisória.
Apontamento: propor a utilização de uma cautelar que vise compelir o homem acusado
de violência doméstica a comparecer, periodicamente a um psicólogo e/ou psiquiatra
para tratar a causa da agressão.
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5. Sugestão de melhora para o combate à violência contra a


mulher.
1. Fortalecimento das leis existentes: Implementar e aplicar leis mais rigorosas que
protejam as mulheres contra todas as formas de violência, garantindo que os agressores
sejam responsabilizados pelos seus atos.
2. Educação e conscientização: Promover programas educacionais desde cedo, nas
escolas e na sociedade em geral, para sensibilizar sobre a igualdade de gênero, o
respeito mútuo e os direitos das mulheres.
3. Ampliação dos serviços de apoio: Investir em serviços de apoio às vítimas, incluindo
abrigos, linhas diretas de ajuda, aconselhamento psicológico e assistência jurídica, para
garantir que as mulheres tenham acesso a apoio quando mais precisarem.
4. Capacitação profissional: Capacitar profissionais de saúde, assistência social,
polícia e sistema judiciário para lidar de maneira adequada e sensível com casos de
violência contra a mulher, garantindo uma resposta eficaz e livre de preconceitos.
5. Promoção da igualdade econômica: Desenvolver políticas que promovam a
igualdade econômica entre os gêneros, oferecendo oportunidades de emprego,
capacitação profissional e acesso a recursos financeiros para as mulheres.
6. Campanhas de conscientização e mídia: Promover campanhas de conscientização
em larga escala através da mídia, redes sociais e eventos comunitários, para desafiar
estereótipos de gênero e encorajar a denúncia de casos de violência
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6. Conclusão.
Em conclusão, a luta contra a violência contra a mulher é um campo onde avanços
significativos foram alcançados, graças a legislações mais rigorosas, serviços de apoio
expandidos e campanhas de conscientização crescentes. No entanto, é crucial
reconhecer os retrocessos, especialmente quando governos negligenciam políticas de
proteção, reduzem financiamentos para programas essenciais e perpetuam discursos
que minimizam a gravidade do problema. A dualidade de avanços e retrocessos destaca
a importância contínua da vigilância e da pressão sobre os governos para garantir que
a proteção e os direitos das mulheres sejam priorizados. É fundamental continuar
trabalhando em colaboração, tanto localmente quanto internacionalmente, para superar
os desafios restantes e avançar em direção a um futuro em que todas as mulheres
possam viver livres da violência e da discriminação.
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Referências.
https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/publicacaodatasenado?id=pesquisa-nacional-de-
violencia-contra-a-mulher-datasenado-2023
ÂMBITO JURÍDICO. Lei Maria da Penha enfrenta dificuldades para ser cumprida integralmente. Jusbrasil.
[S. l.: s. n., 2013]. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/lei-maria-da-penha-enfrenta-
dificuldades-para-ser-cumprida-integralmente/100663364. Acesso em: 9 mar. 2024.
Brasil. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher [...] e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: seção 1,
Brasília, DF, p. 1, 8 ago. 2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 9 mar. 2024.
ROMFELD, Victor Sugamosto. Lei Maria da Penha, avanços e insuficiências. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, São Paulo, v. 140, p. 109-137, fev. 2018.
WAGNER, Dagomar. Lei Maria da Penha e a ineficácia das medidas protetivas. Jusbrasil. [S. l.: s. n., 2019].
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-maria-da-penha-e-a-ineficacia-das-medidas-
protetivas/715303788. Acesso em: 9 mar. 2024.
https://www.cnj.jus.br
https://www.camara.leg.br/noticias
https://www.pjc.mt.gov.br/cuiaba
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