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Unidade III

Unidade III
7 EMPIRISMO IDEALISTA: NEGAÇÃO DO MUNDO REAL

7.1 George Berkeley (1685-1753)

Figura 16 – George Berkeley

George Berkeley nasce na Irlanda em 1685. Na Universidade do Trinity College de Dublin, estuda
matemática, filosofia e lógica. Em 1709, com 24 anos de idade, é ordenado na Igreja Anglicana, à qual
pertencia. No mesmo ano, publica sua primeira obra de renome: Ensaio para uma nova teoria da visão,
na qual nega o valor objetivo do conhecimento dos cinco sentidos. Em 1710, publica a primeira parte do
Tratado sobre os princípios do conhecimento humano, obra essa inacabada. Em 1713, com 28 anos de
idade, passa a morar em Londres, ano em que lança os Três diálogos entre Hylas e Philonous. Em 1721,
publica Tratado do movimento.

Convencido de que a Europa está condenada à decadência moral, desenvolve um projeto que cria
um colégio nos Estados Unidos da América, onde mora por três anos, de 1728 a 1731. Segundo ele, a
única esperança contra a decadência moral seria a educação dos jovens, especialmente entre civilizações
jovens. Na Califórnia, a cidade de Berkeley recebeu esse nome em sua homenagem. Nesse período,
produz sete diálogos intitulados Alcifrão ou o pequeno filósofo, combatendo os livres-pensadores.

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Em 1734 é nomeado bispo na Irlanda, onde permanece até sua morte, em 1753. Durante uma grave
epidemia na Irlanda, em 1740, Berkeley aplica aos doentes, com êxito, água de alcatrão, remédio que
conhecera na sua viagem pelo Novo Mundo. Quatro anos depois, publica Siris, corrente de reflexões
e pesquisas filosóficas sobre a água de alcatrão, bem como outros assuntos relacionados que nascem
uns dos outros. Em 1750, sua saúde agrava-se devido à morte de seu filho William. Em janeiro de 1753,
falece aos 68 anos de idade, de paralisia geral.

A crítica de Berkeley recai principalmente sobre o conceito de ideias abstratas e de qualidades


primárias. Como Locke, ele defende que o conhecimento humano é conhecimento de ideias, e não
de fatos. As ideias não são nada mais que sensações, ou seja, as “coisas” emergem da combinação
constante ou da coexistência habitual de algumas ideias. Nesse sentido, não existem ideias abstratas.
Por exemplo, a ideia de homem é uma palavra, porquanto nossas sensações se referem sempre a um
homem particular. Nesse ponto reside também seu nominalismo, ao insistir que apenas existe aquilo
que é percebido. Porque percebemos somente nossas ideias ou sensações, é inútil falar em existência de
coisas. A distinção entre qualidades primárias e secundárias também é equivocada porque se liga à ideia
de uma matéria distinta e existente independentemente do espírito que a percebe.

A ideia equivocada a que Berkeley combate também estaria na base do materialismo e do ateísmo,
e da consequente irreligiosidade que nasce daí, visto que, uma vez admitida a existência da matéria, a
tendência é admiti-la como infinita, imutável e eterna. Nesse sentido, o princípio fundamental de seu
filosofar é “esse est percipi”, que significa: o ser das coisas é ser percebidas. Então, o que chamamos de
mente, alma ou eu nada mais é que o percipiente, aquele que percebe.

Observação

É importante esclarecer que o conceito de materialismo citado por


Berkeley não tem nada a ver com os conceitos de materialismo histórico e
dialético, mesmo porque estes só aparecerão na filosofia de Marx e Engels,
no século XIX. O materialismo a que Berkeley se refere é a doutrina do século
XVII segundo a qual não existe outra substância além da matéria, à qual se
atribuem propriedades variáveis, e assim o mundo seria composto de objetos
individuais, ocupando cada um seu lugar no espaço (LALANDE, 1996).

Segundo Bazanini (2017), em relação à religião, Berkeley buscou contestar todos os argumentos
ateístas – afirmava que nada é mais óbvio que a existência de Deus. A vida de Berkeley diz muito do seu
pensamento. Parece que a hipocrisia social sempre o incomodou, tanto que duas frases famosas dele
são: “A verdade é o grito de todos, mas o jogo de poucos”; “A verdade está nos lábios de todos, mas no
coração de poucos”. Concebe-se o empirismo de Berkeley como imaterial e espiritualista, com a negação
das substâncias materiais e uma grande crítica ao racionalismo.

A seguir, apresentamos uma síntese comentada do trajeto do pensamento de Berkeley encontrado


na obra História da filosofia (REALE; ANTISERI, 2013b).

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7.2 Da crítica das ideias abstratas à (in)existência das coisas

De acordo com Berkeley, o maior erro, o mais fundamental de todos, é a imagem substancialista‑materialista
do universo, que estaria na base da ciência de Newton. Segundo essa ideia, inspirada na metafísica
cartesiana, o universo é feito de substância material independente da mente. A própria noção de que
exista algo que é uma substância e que reside fora da nossa mente já seria um erro. A ideia de substância
é uma abstração. Existe, portanto, uma crença no valor das ideias abstratas que precisa ser combatida,
assim como deve ser combatida a ideia da divisão entre qualidades primárias e secundárias.

Quais são a origem e o objeto do nosso conhecimento? Como Locke, Berkeley sustenta que o nosso
conhecimento é de ideias, e não de fatos. Portanto, o objeto do nosso conhecimento são ideias, e estas
derivam das sensações. Com a vista, obtêm-se as ideias de luz e cor; com o tato, as de quente e frio etc.

Como os demais empiristas, Berkeley sustenta que as ideias são sensações e provêm dos sentidos.
Mas a novidade na filosofia de Berkeley será afirmar que é por causa da combinação constante das
ideias que emerge aquilo que chamamos de coisas ou objetos. Por exemplo: certa cor se fez acompanhar
por certo sabor, forma e consistência; todas essas sensações são consideradas uma coisa – uma maçã.
E assim por diante.

As ideias de extensão, cor, homem etc. são abstratas, e a mente humana não tem capacidade de
abstração. Toda ideia é apenas o efeito de uma sensação singular. Nós não percebemos o homem, mas
“estes” homens; nós não ouvimos o som, mas certos sons etc. Toda sensação é singular, e não abstrata.
Não se pode ter a ideia de triângulo se não se pensar simultaneamente num triângulo qualquer.

Da crítica das ideias abstratas ao nominalismo é um passo. Homem é apenas uma palavra, isto é,
nossa ideia. As ideias abstratas são ilusões – ilusões perigosas, já que induzem a ontologizar, ou seja,
a criar substâncias ou substratos para além das nossas sensações; impelem-nos a conceber mundos
fantásticos de essências que presumimos serem reais. Se conhecemos somente ideias e estas advêm das
nossas impressões singulares, então estamos iludidos – existem apenas nomes, advindos de ideias gerais.
Não conhecemos a extensão, mas aquela coisa extensa. As sensações apresentando-se constantemente
juntas fazem emergir as ideias.

As ideias desse tipo devem ser rejeitadas porque alimentam a crença em substâncias que existem
independentemente das nossas sensações e que constituiriam suas causas.

7.3 Da redução do ser (ao ser-percebido) à inexistência da matéria

Outro equívoco seria supor que os objetos sensíveis têm uma existência real independentemente de
serem percebidos. Na realidade, as coisas só existem enquanto são percebidas – as casas, as montanhas,
os rios só existem enquanto são percebidos pelo intelecto. Não há percepção a partir do nada.
Portanto, é vão falar de cópias materiais que estão além de nossa percepção.

Da mesma forma, é falsa a distinção entre qualidades primárias e secundárias. Com as primeiras
alguns indicam a extensão, a forma, o movimento ou a impenetrabilidade. Nós só percebemos nossas
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ideias ou sensações. Não vamos além delas. Aqueles que defendem tal distinção entendem que as ideias
que temos das qualidades secundárias (cores, sabores, sons etc.) não são ideias de coisas externas à
nossa mente, enquanto as nossas ideias das qualidades primárias são exemplares, ou modelos, de coisas
que existem fora da mente, em uma substância privada de pensamentos que se chama matéria.

Para Berkeley, a existência de matéria independentemente da mente constitui a base do


materialismo e do ateísmo. Uma vez que se admite a existência da matéria, não é nada difícil
reconhecê-la como infinita, imutável e eterna. Berkeley se questionará o que significa dizer que
a matéria sustenta seus acidentes. Questionará também a ideia de ser como mais abstrata e
incompreensível do que qualquer outra.

Chegamos à concepção segundo a qual o esse das coisas é um principi. A prova que Berkeley apresenta
para uma tese de tão grande peso consiste numa análise semântica em torno da palavra existir quando
aplicada aos objetos sensíveis. Digo que uma mesa existe – eu a vejo e toco. Se ela estivesse fora do meu
escritório, eu diria que existe no sentido de que posso percebê-la daqui ou de que outro a percebe. Há um
odor, um som, uma forma, uma cor – eis tudo que podemos entender com expressões desse gênero.

Portanto, o filósofo sustenta que toda coisa que existe, existe apenas em uma mente – sua existência
consiste e se reduz a ser percebida. Todos aqueles corpos que formam a enorme base do universo não
têm nenhuma existência sem uma mente, pois o ser consiste em ser percebido ou conhecido.

Chegando a esse ponto, Berkeley não podia evitar uma dificuldade: se todas as ideias estão na
mente, e se o mundo externo à mente, que seria capaz de controlar a vitalidade delas, é somente uma
ilusão, como distinguir entre as ideias e a nossa imaginação? Como distinguir as ideias que dependem
da nossa imaginação daquelas que não podem ser suscitadas e modificadas à vontade?

De acordo com Reale e Antiseri (2013b), Berkeley aqui usa sua engenhosidade ao transformar uma
dificuldade do seu projeto em um ponto forte. As ideias percebidas não dependem da minha vontade;
portanto, são produzidas por outra vontade. As ideias dos sentidos são mais fortes e distintas que as da
imaginação. As ideias dos sentidos têm estabilidade, ordem e coerência. Não são suscitadas da mesma
maneira que as causadas pela vontade humana, mas mediante uma série ordenada. De onde provém
essa habilidade, ordem e coerência de ideias não suscitadas por acaso? Qual é a sua razão? É Deus que
suscita as ideias em nós, que as mantém estáveis e coerentes.

Ou seja, a humanidade alcançou conhecimento não porque descobriu alguma relação necessária
entre suas ideias, mas porque identificou leis através da observação da natureza. Sem isso, ficaríamos
todos incertos e confusos. Por mais paradoxal que essa conclusão possa parecer, aos olhos de Berkeley,
se considerarmos que a matéria não existe, a humanidade não sofrerá danos nem sofrimento.
A negação da matéria não empobrecerá a vida, pois os homens nem ao menos perceberão que a
matéria lhes foi retirada. Alcançamos assim o ponto da filosofia de Berkeley em que o filósofo nega
a existência do mundo real.

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7.4 Excertos da obra de Berkeley

Na sequência, apresentamos alguns excertos da obra de Berkeley.

Tratado sobre os princípios do conhecimento humano

“Introdução”

Agora consideraremos “a fonte desse conceito tão espalhado”, a qual, ao meu entender,
não é outra do que a “linguagem”. Fica bem manifesta essa verdade, independentemente de
outras razões, pela confissão pura e simples do mais esperto patrocinador de ideias abstratas,
ao reconhecer que essas são feitas para designar as coisas. Donde temos eu deduzir com
evidência que se não existissem tais coisas como a língua ou os sinais universais, jamais teria
existido a ideia de abstração. Verifiquemos, então, de que maneira as palavras contribuíram
para o nascimento desse erro. Em primeiro lugar, acredita-se que qualquer nome tem ou
deve ter “uma única” significação exata e rígida, e isso faz que o homem pense que há
certas “ideias abstratas, determinadas”, que constituem a verdadeira e única significação
imediata de cada nome geral, e de maneira semelhante pensa que é por intermédio dessas
ideias abstratas que um nome geral chega a significar alguma coisa particular. Sendo
que, realmente, não existe tal significação exata e determinada unida a todo nome geral;
antes, pelo contrário, cada um deles significa um grande número de ideias particulares.
Tudo isso segue-se evidentemente do que foi dito, e basta um pouco de reflexão para
que todo mundo perceba isso com clareza. “Objetar-se-á” que qualquer nome já tem uma
definição e por isso limita-se a certo significado. “Um triângulo”, por exemplo, define-se
como uma “superfície plana limitada por três linhas retas”, o que equivale a dizer que esse
nome se limita a significar determinada ideia e não outra. A essa objeção respondo que, na
definição, nada se diz se a superfície é pequena ou grande, preta ou branca, ou se os seus
lados são curtos ou longos, iguais ou desiguais, nem qual seja o ângulo de inclinação de uns
em relação aos outros; e, uma vez que nisso tudo pode existir uma grande diversidade, não
há “nenhuma ideia determinada” que limite o significado da palavra “triângulo”. Uma coisa
é manter sempre um nome ligado a uma definição, e outra é querer que signifique a mesma
ideia; o primeiro é necessário; o segundo, inútil e inviável.

“Dos princípios do conhecimento humano”

1. Os objetos do conhecimento humano. É evidente para quem fizer um inventário


dos objetos do conhecimento humano que estes são: ou a) ideias impressas com caráter
atual nos sentidos, ou b) ideias tais quais são percebidas, observando o que faz e recebe
a mente, ou, finalmente, c) ideias formadas com o auxílio da memória e da imaginação,
seja juntando ou segurando, seja representando simplesmente aquelas outras adquiridas
originariamente pelos caminhos anteriores. Através da visão adquiro as ideias da luz e das
cores com seus diferentes graus e variantes. Pelo tato percebo, por exemplo, a dureza ou
a moleza, o calor ou frio, o movimento e a resistência, e tudo isso em maior ou menor
grau e quantidade, conforme a proporção. O olfato proporciona-me os odores, o gosto,
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os sabores; e a audição leva para a mente os sons na sua variedade de tons e harmonias.
Como muitas de tais ideias acompanham-se mutuamente, chega-se a identificá-las por um
nome e, assim, a considerá-las como alguma coisa. Por exemplo: certo cheiro, gosto, cor,
figura e consistência são observados simultaneamente; então, tal conjunto é tomado como
algo diferente, ao que se dá o nome de “maçã”. Outro conjunto de ideias constitui a pedra,
a árvore, o livro, e assim outras coisas sensíveis, as quais, por sua vez, sendo agradáveis ou
desagradáveis, excitam as paixões do amor, do ódio, do prazer, da dor etc.

2. Mente, espírito, alma. Junto com toda essa infinita variedade de ideias ou objetos do
conhecimento, existe algo que a conhece e percebe, e que realiza com ela diversas operações,
como a de pretender relembrá-la ou imaginá-la. Esse ser ativo e percebedor é o que chamo
de “mente, espírito, alma ou meu eu”. Com tais palavras não significo nenhuma das minhas
ideias, mas algo inteiramente diferente, “onde elas existem”, ou onde são percebidas, pois a
existência de uma ideia consiste em ser percebida.

3. Até onde se pode concordar com a opinião vulgar. É coisa com a qual
“todo mundo concordará” que nossos pensamentos, nossas paixões ou as ideias formadas
pela imaginação não existem “sem” a mente. Para mim ainda há outra coisa não menos
evidente, e é que as diversas sensações ou ideias impressas nos sentidos só podem existir
numa mente que as perceba, mesmo quando aparecerem misturadas entre si, isto é, sejam
quais forem os objetos que as componham. A meu ver, quem examinar com atenção o que
se quer dizer com o termo “existir” aplicado às coisas sensíveis chegará a um conhecimento
intuitivo disso. Digo que existe a mesa em que escrevo, e isso significa só que a vejo e a
sinto; se estivesse fora do meu gabinete, diria que existiria, significando com isso que, se
eu estivesse no meu gabinete a perceberia, ou que algum outro espírito a percebe nesse
momento. Existe algum cheiro é dizer cheirou-se; existe um som é dizer ouviu-se; existe
uma cor ou figura é dizer foi percebida pela vista ou pelo tato. Isso é tudo o que eu posso
entender com essas ou semelhantes expressões. No que diz respeito, efetivamente, à
existência absoluta das coisas não pensadas e sem nexo algum com o ser percebido, para
mim é absolutamente ininteligível. Assim, não é possível que tenha existência qualquer
forma fora das mentes ou dos seres pensantes que as percebem.

Saiba mais

Leia mais a respeito da obra de Berkeley em:

BERMAN, D. Berkeley: filosofia experimental. Tradução: José Oscar


Almeida Marques. São Paulo: Unesp, 2000.

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8 EMPIRISMO CÉTICO: CRÍTICA À LÓGICA INDUTIVA

8.1 David Hume (1711-1776)

Figura 17 – David Hume

David Hume foi um filósofo, historiador, ensaísta e diplomata escocês. Nasceu em Edimburgo,
Escócia, no dia 7 de maio de 1711. Com 13 anos, devido à sua precocidade intelectual, começou o curso
de Direito na Universidade de Edimburgo. Teve que interrompê-lo, porém, por razões econômicas –
precisou trabalhar cedo porque sua família era modesta.

Interessou-se por estudar, por conta própria, obras literárias, filosóficas e históricas, além de
matemática e ciências naturais. Em 1734, com o objetivo de se aprofundar nos estudos, viajou para a
França. Entre 1734 e 1737, escreveu grande parte de seu Tratado sobre a natureza humana. Em 1744,
concorreu à cátedra de Filosofia na Universidade de Edimburgo, mas sua fama de ateísta o levou a
enfrentar forte oposição e acabou sendo rejeitado.

Em 1751, foi nomeado diretor da biblioteca da Faculdade de Direito de Edimburgo, onde se dedicou a
redigir História da Inglaterra. Apesar de esse compêndio ter alcançado enorme sucesso, as obras que lhe
dariam imortalidade seriam as filosóficas: Tratado sobre a natureza humana (1739), Investigação sobre
o entendimento humano (1748) e Investigação sobre os princípios da moral (1751).

Em 1756, foi acusado de heresia e ateísmo, sendo alvo de um processo malsucedido de excomunhão.
Considerado herege, Hume teve seus livros condenados pela Igreja católica e incluídos no índice de livros
proibidos. Depois de uma estada de três anos em Londres, em 1769 Hume retirou-se definitivamente para
Edimburgo. Dedicou-se à revisão da sua obra e redigiu uma autobiografia, publicada após a sua morte.

Apesar da rejeição da Igreja e da recusa do mundo acadêmico, as suas concepções sobre o


conhecimento influenciaram filósofos e pensadores como Kant, John Stuart Mill e Auguste Comte.
Hume faleceu em Edimburgo, na Escócia, no dia 25 de agosto de 1776.

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Lembrete

Embora Hume tenha se imortalizado como filósofo cético empirista, foi


como historiador que ele conquistou reconhecimento em vida, com os seis
volumes da História da Inglaterra. Os volumes foram publicados nos anos
de 1754, 1756, 1759 e 1762, e lhe deram grande prestígio.

Figura 18 – Tratado sobre a natureza humana (1739)

Para saber em que sentido podemos afirmar que o empirismo de Hume comporta algum ceticismo,
examinaremos primeiro a sua teoria do conhecimento, desenvolvida no Tratado sobre a natureza humana.
Na sequência, abordaremos a fronteira entre o pensar e o sentir. Por fim, relembraremos brevemente
outros tipos de ceticismo na história da filosofia para saber qual seria a especificidade do ceticismo
humiano e por que ele foi tão decisivo no século XVIII, chegando a inspirar Kant.

8.2 Proposta do Tratado sobre a natureza humana

Num primeiro momento, Hume destaca a fragilidade dos fundamentos nos quais se baseiam as
doutrinas filosóficas em seu tempo, em especial a metafísica, em cujo terreno de multiplicação de
disputas e divergências teóricas repousa a precariedade dos seus argumentos:

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Multiplicam-se as disputas, como se tudo fora incerto; e essas disputas


são conduzidas da maneira mais acalorada, como se tudo fora certo.
Em meio a todo esse alvoroço, não é a razão que conquista os louros, mas
a eloquência; e ninguém precisa ter receio de não encontrar seguidores
para suas hipóteses, por mais extravagante que elas sejam, se for hábil o
bastante para pintá-las em cores atraentes. A vitória não é alcançada pelos
combatentes que manejam o chuço e a espada, mas pelos corneteiros,
tamborileiros e demais músicos do exército (Tratado sobre a natureza
humana, Livro I, Introdução, § 4).

O que Hume quer mostrar é que o prestígio de que desfrutava a metafísica até então se devia não
tanto à retidão dos seus argumentos – os combatentes com suas espadas –, mas a outros fatores,
como a eloquência ou a capacidade dos filósofos de despertar emoções agradáveis através de seus
discursos – os músicos do exército. Poderíamos citar inúmeros trechos em que o filósofo valoriza e
chama a atenção para isso, utilizando frases e termos como princípios acolhidos na base da confiança,
esforços agradáveis, contentamento, satisfação etc. Hume dá a entender que estes aspectos da natureza
humana, as nossas emoções e sensações, atuam continuamente sobre os nossos juízos, mesmo quando
acreditamos que somos guiados simplesmente pela razão.

Descrevendo os filósofos como aqueles que primam por esposar noções distantes das concepções
vulgares, ou ainda, tudo que tenha um ar de paradoxo, Hume destaca os mecanismos atuantes na
relação entre o filósofo mestre e seus discípulos, relação essa fundamental para que uma doutrina possa
obter adesão e continuidade:

De outro lado, toda vez que alguém nos apresenta uma opinião que nos
causa surpresa e admiração, é tal a satisfação que ela nos proporciona
à mente, que esta se entrega por completo a essas emoções agradáveis,
jamais se deixando persuadir de que seu prazer carece de todo e qualquer
fundamento. É dessas respectivas disposições dos filósofos e de seus
discípulos que nasce aquela mútua complacência entre eles, em que os
primeiros fornecem uma abundância de opiniões estranhas e inexplicáveis,
enquanto os últimos nelas acreditam com enorme facilidade (Tratado sobre
a natureza humana, Livro I, Parte II, Seção I, § 1).

Desse modo, Hume mostra como a relação de complacência entre mestre e discípulo se desenvolve
– por um lado, pelo prazer que o aprendiz de filosofia teria em esposar questões complexas; por outro,
pela admiração ao mestre, que conseguiria desvelá-las. Assim, o assentimento que o discípulo daria
às doutrinas seria tributário não somente da compreensão delas, obtida pela sua própria razão, mas
também da crença e da confiança no mestre, despertadas pela admiração que o mestre suscitaria.

Ao enfatizar essas palavras de Hume, corremos o risco de esboçar o quadro de um filósofo empenhado
em tecer a teia psicológica que reveste as relações humanas, o que seria um erro, pois o que ele pretendeu
foi fazer uma filosofia da natureza humana, a qual pudesse dar acesso ao conhecimento da extensão e
da força do entendimento, da natureza das ideias que empregamos e das operações que realizamos em
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nosso raciocínio, porque, uma vez de posse desse conhecimento, poderíamos esperar uma vitória fácil
em todos os outros terrenos (outras ciências).

Contudo, não por acaso, e justamente por querer ressaltar as impressões dos sentidos, Hume faz uso
constante de metáforas que apelam a “imagens” dos nossos sentidos: “a plebe lá fora é capaz de julgar, pelo
barulho e vozerio que se ouve”; “disputas conduzidas de maneira mais acalorada”; “se for hábil o bastante
para pintá-las com cores atraentes” etc. (Tratado sobre a natureza humana, Livro I, Introdução, § 4).

Hume estava interessado em tratar das questões morais, sem contudo lançar mão de um discurso
metafísico, que assegurasse verdades absolutas a partir de argumentos abstrusos. Assim, o filósofo diz
que pretende apresentar sua teoria paralelamente à exposição de seus limites, dada a impossibilidade
de explicar os princípios últimos da natureza humana. Os princípios da sua ciência pautavam-se em
certa autoridade (que não seria nem divina, nem matemática, nem dogmática), a saber, a experiência.
A experiência é, pois, para Hume, a autoridade em relação à qual não se pode ir além, se se quer evitar
incorrer em erros em que muitos incorreram. Nas suas palavras:

Caso se considere essa impossibilidade de se explicarem os princípios


últimos como um defeito da ciência do homem, arriscar-me-ei a ponderar
que esse defeito é comum a ela e a todas as ciências e todas as artes
a que possamos nos aplicar, sejam elas cultivadas nas escolas dos filósofos
ou praticadas nas oficinas dos mais humildes artesãos. Nenhum deles
pode ir além da experiência ou estabelecer princípios que não estejam
fundados sobre essa autoridade. É verdade que a filosofia moral tem uma
desvantagem peculiar, que não se encontra na filosofia da natureza: ela não
pode reunir experimentos de maneira deliberada e premeditada, a fim de
esclarecer todos as dificuldades particulares que vão surgindo (Tratado sobre
a natureza humana, Livro I, Introdução, § 10).

Assim, a filosofia humiana exposta no Tratado não pretende atingir nenhum grau de certeza, visto
que se situa no âmbito da probabilidade e tem por objetivo construir certa imagem do mundo, e não
apreendê-lo em si mesmo. Hume justifica a importância do seu Tratado pela necessidade de estudar o
entendimento humano para o benefício de todas as demais ciências, utilizando o único fundamento
sólido (a experiência) a partir do qual se pode evitar cair em erros, ou seja, como indica o subtítulo da
obra, o Tratado é uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais.

8.3 Princípio da conjunção constante

Hume classifica as percepções humanas em dois gêneros: impressões e ideias. As primeiras seriam
percepções que entram com mais força e vividez, representadas pelas nossas emoções, paixões
e sensações; as ideias, por sua vez, seriam pálidas imagens das impressões. Essa distinção, também
expressa por sentir e pensar, seria, segundo Hume, facilmente obtida por indução.

As impressões e as ideias são ordenadas segundo sua complexidade ou simplicidade. Entende-se


por ideias ou impressões simples aquelas que não admitem distinções ou separações, ao contrário das
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percepções complexas, que admitiriam tais divisões. Para ilustrar essa ideia, Hume utiliza o seguinte
exemplo: “Embora uma cor, um sabor e um aroma particulares sejam todos qualidades unidas nesta
maçã, é fácil perceber que elas não são a mesma coisa, sendo ao menos distinguíveis umas das outras”
(Tratado sobre a natureza humana, Livro I, Parte I, Seção I, § 2).

Uma vez classificadas e ordenadas as percepções humanas, Hume estabelecerá suas qualidades e
relações, propriedades essas que culminarão na apresentação do primeiro princípio da sua teoria das
ideias. Tendo exposto a ligação entre as impressões e as ideias (na seção I), seria natural que Hume
começasse o seu estudo pela análise das primeiras, como ele explicita na seção II, “Divisão do tema”,
porém o melhor caminho a percorrer será o inverso, uma vez que as impressões que interessam ao
estudo da filosofia moral (medo, desejo, esperança etc.) são denominadas impressões de reflexão, as
quais, por sua vez, nascem de ideias – daí a conveniência de começar pelo estudo das ideias. .

O princípio da conjunção constante diz que todas as nossas ideias simples, em sua primeira
aparição, derivam de impressões simples, que lhes correspondem e que a elas representam com
exatidão. Hume afirma que podemos nos convencer desse princípio fazendo alusão à nossa própria
experiência, ou seja, por indução. Apresenta também uma limitação desse princípio, ilustrada por
um contraexemplo, a saber: podemos ter uma ideia de certa tonalidade de cor sem termos tido a
impressão dessa tonalidade.

Notemos, por enquanto, que o princípio da conjunção constante é aplicável às ideias simples, e
que ele só se torna possível porque conseguimos, conforme o exemplo dado por Hume, distinguir na
imagem da maçã impressões diferentes – a cor, o aroma, a textura, o sabor etc.

Por outro lado, o exame das ideias complexas revela que nem sempre elas são precedidas por
impressões complexas e que nem sempre as impressões complexas são copiadas de maneira exata como
ideia. Para exemplificar isso, Hume lança mão de ideias que podemos desenvolver na nossa imaginação,
através da composição de várias ideias simples.

8.4 Princípio da liberdade da imaginação

As impressões que reaparecem na nossa mente sob a forma de ideias podem se dar de duas maneiras,
ou ainda, em duas “faculdades” distintas: a memória e a imaginação. As ideias da memória conseguem
manter grande parte da vividez da impressão e, acima de tudo, guardam a mesma ordem e lugar das
impressões que lhes deram origem. Podemos dizer, em outras palavras, que as ideias da memória mantêm
mais fielmente a ordenação das impressões que lhes deram origem no tempo e no espaço.

Por seu turno, as ideias da imaginação não guardam a mesma vividez nem mantêm a mesma
ordenação das suas impressões originais, ou seja, essas ideias resultam de associações da nossa
imaginação, do que se extrai o segundo princípio da teoria das ideias humiana: a liberdade que tem
a imaginação de transpor e transformar suas ideias. Segundo Hume, esse princípio se apoia em tantos
fenômenos comuns que se torna, assim como o primeiro princípio, uma evidência. O filósofo acrescenta
que o fato de a imaginação poder organizar as ideias livremente não causará estranheza

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se considerarmos que todas as nossas ideias são copiadas de nossas


impressões, e que não há duas impressões que sejam completamente
inseparáveis – isso para não mencionarmos o fato de que se trata aqui de
uma consequência evidente da divisão das ideias em simples e complexas.
Sempre que a imaginação percebe uma diferença entre ideias, ela pode
facilmente produzir uma separação (Tratado sobre a natureza humana, Livro
I, Parte I, Seção III, § 4).

Uma vez estabelecida a liberdade da imaginação em associar ideias, Hume aponta alguns princípios
universais – ou qualidades associativas – segundo os quais as ideias simples se comporiam em ideias
complexas, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Contudo, o
autor salienta que esse princípio de união a partir de certas qualidades associativas deve ser visto
apenas como uma força suave, ou a que comumente prevalece. Notemos que a expressão força
suave associada a um princípio associativo somente é possível numa filosofia que não se pauta por
uma pretensão de certeza, mas que atua no campo da probabilidade, a qual se associa ao termo por
costume na sequência da argumentação.

Para Hume, “está claro” que as qualidades semelhança e contiguidade espacial e temporal podem
produzir associação entre ideias, pois a imaginação adquiriria, por costume, o mesmo procedimento dos
nossos sentidos – por exemplo, como vemos as coisas em contiguidade espacial, tenderíamos, pela força
do hábito, a considerar as ideias também em contiguidade espacial na nossa imaginação.

Quanto à qualidade associativa causa e efeito, Hume afirma que tratará dela com profundidade
depois. No entanto, adianta que, das três qualidades mencionadas, ela é a de maior extensão, pois dois
objetos podem ser considerados como estando inseridos nessa relação, seja quando um deles é a causa
de qualquer ação ou movimento do outro, seja quando um é a causa da existência do outro – e ainda
quando um objeto, mesmo sem causar um movimento, tem o poder de produzi-lo.

É importante ressaltar que Hume relaciona a qualidade causa e efeito com a ideia de poder, um
conceito importante da filosofia moral.

Notemos que essa é a fonte de todas as relações de interesse e de dever


pelas quais os homens se influenciam mutuamente em sociedade, e se ligam
pelos laços de governo e subordinação. […] Quando uma pessoa possui certo
poder, nada mais é necessário para convertê-lo em ação que o exercício da
vontade; e isso, em todos os casos, é considerado possível, e em muitos,
provável – especialmente no caso da autoridade, em que a obediência do
súdito é um prazer e uma vantagem para seu superior (Tratado sobre a
natureza humana, Livro I, Parte I, Seção IV, § 5).

Cabe observar que o princípio da liberdade da imaginação em associar as nossas ideias simples em
complexas segue um critério que, ainda que represente uma força suave, parece-nos representar uma
operação racional. É certo que os conteúdos dessa associação, ou seja, o que se está a associar, são
ideias, que por sua vez advêm das impressões, mas o mecanismo, o fazer da associação, parece-nos uma
97
Unidade III

atividade racional. A introdução, por Hume, desse critério não seria tão problemática, no nosso entender,
se não se situasse num momento da sua teoria em que ele tenta explicar a origem das ideias complexas,
que são justamente as mais importantes ao interesse da filosofia moral, ao lado das impressões de
reflexão, com as quais Hume trabalhará posteriormente.

Em todo caso, podemos dizer que o que existe em comum entre os dois princípios expostos é que
ambos tratam das ideias simples. O princípio da conjunção constante é válido apenas para as ideias
simples, pois as complexas, como vimos, podem ter outra dinâmica de formação. O princípio da liberdade
da imaginação, que pretende dar conta da dinâmica de formação das ideias complexas, estabelece que
elas são compostas segundo algumas qualidades associativas, mas o “material” dessa associação são as
ideias simples. Ou seja, chega-se à conclusão de que as ideias simples são o elemento comum entre os
dois princípios.

Segundo Moura (2001), as ideias simples têm um suposto que não é de modo algum evidente, o de
que tudo que é diferente é separável. O autor pergunta-se de onde vem a evidência de que ali onde se
percebe uma diferença deve-se reconhecer uma separação. Ele afirma que o que permite estabelecer
associação entre diferença e separação não provém do fato da experiência. A imaginação conseguir
“separar” algo, que na impressão era “diferente”, é o suposto da “liberdade da imaginação”. Na leitura de
Moura, o empirismo de Hume é tributário de certa “filosofia da diferença”, ou seja, de certa metafísica,
visto que toda experiência é uma experiência teoricamente interpretada – e Hume, antes de ser um
empirista, era um filósofo.

8.5 Fronteira entre o pensar e o sentir

Como se observa na obra de muitos filósofos, Hume inicia seu Tratado sobre a natureza humana
tecendo críticas aos sistemas dos filósofos que o precederam, apontando neles a existência de
incoerências e consequências deduzidas de maneira defeituosa. Além disso, sustenta Hume, muitos dos
princípios defendidos pela tradição filosófica até então foram acolhidos com base na confiança.

As críticas de Hume são endereçadas sobretudo à metafísica, o pensamento filosófico que recorre a
entidades inobserváveis ou que se apoia em posições dogmáticas, como o discurso cartesiano, sustentado
pela existência de um Deus não enganador e com pretensões a alcançar a verdade absoluta através de
um método universal (a mathesis). Contudo, como muitos dos filósofos do século XVII, Hume herda de
Descartes a dissociação entre sujeito e objeto, ou seja, a concepção de que existe o componente subjetivo
no conhecimento. Por isso, ele não pretende fazer uma filosofia natural que verse sobre as coisas tais
como são por si mesmas, mas sim sobre a nossa percepção delas. A sua filosofia almeja construir uma
imagem do mundo. Enquanto filósofo experimental, Hume filia-se a filósofos do século XVII, como
Bacon, Locke e Hobbes, os quais mostraram que o único fundamento sólido está na observação.

É oportuno propor esta questão: o que tornaria possível imputar a Hume uma posição que se
assemelha à defesa de uma psicologia, e não de uma filosofia? Os trechos apresentados antes parecem
mostrar que, segundo Hume, a fronteira entre o assentimento (convencimento) racional e a persuasão,
fruto de eloquência, complacência mútua, confiança e prazer, não é nítida. Ou seja, pode-se dizer que
a fronteira entre o sentir e o pensar resulta muito tênue, uma vez que não é claramente discernível o
98
EMPIRISMO MODERNO

que nos faz dar assentimento a uma ideia. Ou ainda, parece não ser possível diferenciar quando somos
levados a adotar uma ideia convictamente ou quando damos assentimento a um raciocínio porque
cremos que ele pode estar certo (podendo essa ideia ser uma ficção).

Observação

É interessante considerar o conceito de ficção apresentado por


Hume: “Construção lógica ou artística à qual se sabe que nada na
realidade corresponde; por exemplo, nas matemáticas, no romance etc.”
(apud LALANDE, 1996, p. 400).

Pascal e Descartes ressaltaram a diferença entre o convencer e o persuadir: o primeiro se basearia


no entendimento racional; o segundo, na vontade. Moura (2001) assinala que o que distingue Hume
de Pascal e Descartes, nesse âmbito, é o fato de que, segundo Hume, esse isolamento racional não é
mais possível – portanto, não se trata mais de chamar a atenção para a diferença entre convencer e
persuadir, ou entre convicção e ficção. Moura afirma que Hume quer diluir essa fronteira, desvanecê-la.
Assim, segundo sua filosofia, o assentimento não seria mais o resultado de um logos inscrito no universo,
e é justamente essa condição de possibilidade da dedução cartesiana e da convicção que lhe é tributária
que Hume vai recusar.

Portanto, ao contrário de Pascal e Descartes, Hume não tenta delimitar precisamente a diferença
entre crer e assentir. Se ambos provêm da experiência, a questão será tomada em termos de força maior
ou menor, vividez maior ou menor. Moura (2001, p. 99-100) critica algumas leituras feitas de Hume que
apontam que o filósofo teria fracassado em estabelecer essa demarcação:

Deveríamos dizer então que Hume fracassou em oferecer-nos um critério


para distinguir as crenças racionais das “irracionais”, que seria o que,
sem dúvida, ele procurava oferecer? Ora, ele simplesmente constata que
a crença, uma vez reconduzida ao sentimento, designa um fenômeno
impossível de ser isolado em um âmbito determinado. Não se diga que
Hume “não conseguiu” separar ficção e convicção. Pelo contrário, ele nem
pensa em separá-las.

Do mesmo modo que Hume demarca a diferença entre ficção e não ficção, a saber, segundo graus
de força e vividez, ele demarca a diferença entre o pensar e o sentir.

As percepções da mente humana se reduzem a dois gêneros distintos,


que chamarei de impressões e ideias. A diferença entre estas consiste nos
graus de força e vividez com que atingem a mente e penetram em nosso
pensamento ou consciência. As percepções que entram com mais força e
violência podem ser chamadas de impressões; sob esse termo incluo todas
as nossas sensações, paixões e emoções, em sua primeira aparição à alma.
Denomino ideias as pálidas imagens dessas impressões no pensamento e
99
Unidade III

no raciocínio, como, por exemplo, todas as percepções despertadas pelo


presente discurso. […] Creio que não serão necessárias muitas palavras para
explicar essa distinção. Cada um, por si mesmo, percebe imediatamente a
diferença entre sentir e pensar (Tratado sobre a natureza humana, Livro I,
Parte I, Seção I, §1).

Hume aproxima o pensar do sentir enquanto percepções que se distinguem segundo graus de força
e vividez, provindas da experiência das nossas percepções. Quanto ao termo impressão, associado ao
sentir, Hume esclarece, em nota de rodapé:

Gostaria que não se entendesse [impressão] aqui como exprimindo a


maneira como nossas percepções vividas são produzidas na alma, mas
como exprimindo apenas as próprias percepções – para as quais não existe
um nome particular, nem em inglês, nem, que eu saiba, em outra língua
(Tratado sobre a natureza humana, Livro I, Parte I, Seção I, §1, nota 1).

Pode-se dizer que é necessário ter cautela quanto à interpretação do que seja uma impressão
para Hume, ainda mais quando se leva em conta que o termo correspondente em inglês pode assumir
diversas conotações. A tradutora Déborah Danowski (2000, p. 9) declara ter encontrado dificuldades
para traduzir o termo feeling, utilizado várias vezes em sentidos diferentes:

Feeling pode significar “sentir” (em oposição a “pensar”, mas também –


quando usado como substantivo – a “razão” ou “pensamento”), aquilo que
sinto, uma maneira peculiar de sentir, a faculdade de sentir dessa maneira
peculiar, uma impressão, um sentimento ou uma sensação, além de tato.

Moura (2001) observa que, segundo Hume, uma ideia difere da ficção pela maneira como é concebida.
Então, uma ideia à qual assentimos é “sentida” de outra forma que uma ideia fictícia. Justamente para
designar essa diferença de sentimento, será dito que a ideia na qual se crê tem uma superioridade de
força e vivacidade. Esses dois componentes das ideias em que se crê vêm da experiência e são reforçados
de acordo com a sua repetição: “E, se o eloquente convence o povo, é graças a uma narrativa que vivifica
e aviva tão bem a ideia, que esta se assemelha às inferências que fazemos segundo a experiência”
(HUME apud MOURA, 2001, p. 99).

Conforme a leitura de Moura (2001), a força e a vivacidade das ideias humianas parecem designar
o nome “subjetivo” de algum “índice de realidade” que teria sua origem na experiência. E seria o campo
da experiência que ditaria, enfim, a diferença entre ficções e convicções. Hume também mostra que
a vivacidade das ideias pode ser produzida pela educação, pela poesia e pelas paixões. Ele afirma que
“mais da metade das opiniões que triunfam entre os homens são devidas à educação e que os princípios
assim implicitamente abraçados prevalecem sobre aqueles que são devidos ao raciocínio abstrato e à
experiência” (HUME apud MOURA, 2001, p. 99).

A discussão da crença ou da ficção em Hume remonta diretamente à crítica humiana à mathesis


cartesiana (esse logos inscrito no mundo ao qual Hume não dará o seu assentimento) e é o ponto a
100
EMPIRISMO MODERNO

partir do qual podemos compreender a tênue fronteira entre o pensar e o sentir. Sabe-se que, para
Hume, a causa não é vista como uma conexão real entre os eventos; logo, “não se pode mais admitir
– como admitia Descartes – que a causa comunica realidade ao seu efeito”, e desde então pode-se
dizer que o “índice de realidade” que se atribui ao efeito “torna-se um enigma a ser solucionado”
(MOURA, 2001, p. 95).

Desse modo, tentar estabelecer um critério de demarcação preciso entre a convicção e a ficção perde
todo o sentido. Ao contrário, Hume quis mostrar que esse critério pode ser muito vago, ou seja, quis
diluir a fronteira, e não demarcá-la, pois para ele não há uma oposição determinável entre a razão e a
“irrazão”, e sim um contínuo do mais ao menos provável.

Saiba mais

Leia mais em:

HUME, D. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os


princípios da moral. Tradução: José Oscar de Almeida Marques. São Paulo:
Unesp, 2004.

8.6 Hume e o ceticismo

8.6.1 Crítica ao princípio de causalidade

Desde o começo da Revolução Científica no século XV, ou seja, desde as primeiras ideias esboçadas
neste livro-texto, conhecer, para os filósofos modernos, significa conhecer a causa. A ciência abandona
as explicações baseadas nas quatro causas aristotélicas e passa a se apoiar no princípio de causalidade,
em que determinada causa (fenômeno 1) precede temporalmente determinado efeito (fenômeno 2),
explicando-se essa conjunção necessária através de uma lei científica que lhe confere seu caráter de
necessidade (BAZANINI, 2017).

É sobre essa construção que recairá toda a crítica de Hume. Para ele, o que nós chamamos de
causa nada mais é do que o hábito de assistirmos a um fenômeno preceder a outro. Desse modo, não
existe uma relação necessária, mas um hábito. Quando arremesso com força uma bola numa vidraça,
é somente o meu hábito e a minha crença que me levam a presumir que a vidraça se quebrará. Não há
nenhuma relação necessária nessa sequência, nem nas sequências mais corriqueiras – por exemplo, a
ideia de que o Sol nascerá amanhã. Segundo Hume, o que nos faz crer nisso é puramente o nosso hábito.

Ao expor sua concepção de causalidade, Hume afirma ser universalmente


reconhecida a noção de sucessão, a relação entre um fato anterior e um
posterior, que consagra a prioridade da causa sobre o efeito na ordem das
aparições. Ele rejeita a tese segundo a qual a causa seria concomitante com
seu efeito, visto que defendê-la seria o mesmo que postular a dissolução da

101
Unidade III

sucessão causal observada no mundo e, por consequência, admitir a total


aniquilação do tempo. Noutras palavras, não se poderia contestar a ideia de
sucessão na ordem dos fenômenos perceptíveis sem assentir que os objetos
da percepção coexistem simultaneamente, e que apenas os limites de nossa
sensibilidade determinam-nos a supor que eles se seguem uns aos outros
na duração. Hume não levanta a si mesmo essa objeção e logo abandona
a defesa da sucessão temporal, advertindo o leitor de que a coisa não
tem relevância; certamente se lhe afigurara depressa que o argumento o
conduziria a uma conclusão contraditória. Em primeiro lugar, a coexistência
de uma pluralidade de objetos singulares, que impressionam a mente de
modo simultâneo e imediato, deduz-se do conceito mesmo de ideias e
impressões complexas (VALADARES, 2009, p. 259)

É importante nos situarmos no contexto do século XVII para percebermos que Hume quer dizer
que não há uma imanência do princípio de causalidade. Nós apenas supomos que exista uma causa
e que seja aquela, mas isso não significa que ela seja necessária. Ora, se ela não é necessária, não existe
uma lei da causalidade, somente um hábito do espírito de experimentar sucessões temporais e supor
ali uma “causa” operando. Não esqueçamos que, para muitos cientistas do século XVII, a causalidade é uma
propriedade do real, como se o princípio de causalidade tivesse uma imanência – ainda não chegamos
a Kant e à sua revolução copernicana. Nesse contexto, ao questionar o princípio da causalidade, Hume
foi visto como um grande cético.

Podemos saber sobre o que é mais provável – é provável que o Sol nasça amanhã –, mas não
podemos dizer que é necessário que algo aconteça. O conhecimento das causas, para Hume, está
além da nossa experiência, faz parte do limite do nosso saber. A metafísica é, assim, um grande
sonho da razão. A crítica de Hume destina-se à metafísica, a qual quer discernir a causa das causas.
Sua fonte de inspiração é a física newtoniana, que descreve as causas dos fenômenos, mas não suas
causas últimas. É a física que mostra que o homem se detém diante da experiência, podendo amanhã
encontrar um instrumento que lhe abra para uma nova experiência e lhe permita descobrir uma
causa que substitua a atual.

Hume criticou a própria ideia de eu, dizendo que o eu cartesiano não consiste em substância
alguma, mas é só uma ideia, um feixe de impressões que constituem uma ideia. Isso quer dizer que não
existe uma unidade no eu que lhe confira identidade temporal e espacial. O eu é fruto da imaginação.
Essa discussão constituirá um dos temas da filosofia contemporânea, com as filosofias da subjetividade.
Vemos que essa crítica à noção de eu, e portanto de um sujeito com unidade e individualidade, já
aparece em Hume de forma embrionária.

8.6.2 Sentido de ceticismo em Hume: limite do conhecimento

Após Descartes, vemos que as coisas por elas mesmas são intangíveis. Podemos construir
imagens do mundo, as quais são constituídas por um dado do objeto e um dado do sujeito que são
indissociáveis, ou seja, a percepção tem um componente objetivo e um componente subjetivo que
não podem ser separados.
102
EMPIRISMO MODERNO

Hume não trata, portanto, do mundo exterior – ele aborda o que se passa da membrana do olho para
dentro. Seja em relação a Bacon, a Descartes ou a Hobbes, Hume é devedor do século XVII. Para ele, todo
conhecimento do mundo é humano; o que temos é a imagem do mundo, não o que ele é em si mesmo,
essencialmente. A imagem será sempre a imagem – a filosofia não será mais a filosofia do mundo, mas
a da sua imagem. Desse ponto a Kant há só um passo, e é por isso que Kant dirá que foi Hume quem o
despertou do seu sono dogmático.

Por conseguinte, a questão passa a ser quais são os limites das faculdades humanas (sem recorrer a
entidades dogmáticas). Ou seja, começamos a assistir à razão dobrando-se sobre si mesma. Com Hume,
não se trata de buscar um método universal (uma mathesis) para chegar à verdade última dos fatos,
porque essa pretensão metafísica já foi abandonada. Agora, lida-se apenas com as imagens do mundo.

No entanto, existe também uma leitura que afirma que o projeto de Hume fracassou: suas análises
filosóficas se perderiam no psicológico, substituindo “a análise lógica pela psicológica” (SMITH apud
MOURA, 2001, p. 92), ou ainda ele se privaria da chance de oferecer um critério para discriminar as
crenças racionais das irracionais. Para esses críticos, o projeto humiano seria malsucedido por ele não
ter conseguido fazer a distinção entre crenças racionais e opiniões sem fundamento. Desse modo, ele
incorreria num ceticismo mais radical ao pôr junto crenças racionais e irracionais, sem diferenciá-las.

Deve-se notar, porém, que para Hume

a temática da crença é suscitada pela análise da causalidade, antes de ser


independente ou estar “ao lado” dela. Como na inferência causal concluo
algo que não me é efetivamente dado, é preciso perguntar onde radica o
índice de realidade que atribuo à ideia inferida, e que vai distingui-la de uma
ideia puramente imaginária (MOURA, 2001, p. 94).

Comentadores como Moura dizem que não há por que estigmatizar a doutrina da crença enquanto
queda no psicológico, pois sua pretensão é questionar justamente a ideia de validade lógica dos
chamados racionalistas. Esse é o cerne do ceticismo humiano.

Lembrete

David Hume, com sua crítica ao princípio de causalidade, fará Kant


afirmar que ele o retirou de seu sono dogmático.

8.6.3 Outros tipos de ceticismo

Entender o ceticismo humiano implica contextualizar a crítica do filósofo aos argumentos


apresentados pelos filósofos racionalistas e dogmáticos dos séculos XVII e XVIII. Nessa época já existia
uma ciência bastante desenvolvida, e toda a discussão baseava-se em achar fundamentos metafísicos
para ela, e não em invalidar os seus resultados.

103
Unidade III

É importante perceber que o ceticismo moderno, embora guarde similaridades com outros ceticismos,
propõe questões diferentes. Com o objetivo de esclarecer esse ponto, veremos os ceticismos anteriores
à Hume: o antigo, de Pirro e Sexto Empírico, e o renascentista, de Michel de Montaigne.

Ceticismo antigo: Pirro (318 a.C.-272 a.C.) e Sexto Empírico (entre II e III d.C.)

Figura 19 – Pirro

Um dos primeiros céticos da filosofia antiga foi Pirro. Ele acreditava ser tolo aquele que ficava
nervoso em um debate – afinal, ninguém tem certeza de nada.

Um historiador antigo, Arístocles, resumiu nestes termos a doutrina de Pirro:


“Pirro de Élis não deixou nenhum escrito; mas seu discípulo Tímon diz que
aquele que quer ser feliz deve considerar estes três pontos: primeiro, que são
as coisas em si mesmas? Depois, que disposições devemos ter em relação a
elas? Finalmente, o que resultará para nós dessas disposições? As coisas não
têm diferenças entre si e são igualmente incertas e indiscerníveis. Por isso,
nem nossas sensações nem nossos juízos nos ensinam o verdadeiro ou o
falso. Por conseguinte, não devemos confiar nem nos sentidos nem na razão,
mas permanecer sem opinião, sem se inclinar para um lado ou para o outro,
impassíveis. Seja qual for a coisa de que se trata, diremos que não é necessário
nem afirmá-la nem negá-la, ou que é necessário afirmá-la e negá-la ao mesmo
tempo, ou que não é necessário afirmá-la nem negá-la. Se nos encontrarmos
nessas disposições, diz Tímon, alcançaremos primeiro a afasia, em seguida a
ataraxia”. Duvidar de tudo e ser indiferente a tudo, eis todo o ceticismo, na
época de Pirro como mais tarde (BROCHARD, 2014, p.3).

104
EMPIRISMO MODERNO

Os pirrônicos seguiam um método de cinco etapas:

• Perturbação do espírito diante de uma questão: ponto de partida.

• Investigação (zetétis): investigação acerca da possibilidade do verdadeiro e do falso sobre o


assunto em questão.

• Equipolência (isosthénia): contrabalanceamento de teses opostas, mostrando que o problema


é indecidível.

• Suspensão (epoché): suspensão do juízo acerca do problema.

• Tranquilidade (ataraxia): estado de ausência de perturbação, que o cético supunha poder


alcançar somente se fosse capaz de decidir com certeza a que coisa dar o seu assentimento.

Como se pode ver, a atividade filosófica, do ponto de vista do pirronismo, constitui uma investigação
de resultados inesperadamente terapêuticos: o cético paralisa a investigação depois da isostenia e,
graças a isso, consegue superar a inquietação que o incomodava.

O ceticismo antigo era uma seita? Se por esse termo se entende uma “orientação dirigida por
alguma razão em conformidade com as aparências, quando essa razão mostra como viver bem e tende
a poder suspender o juízo” (PINTO, 1996, p. 162), então se pode dizer que o cético pertence a uma seita.
Enquanto seita, o pirronismo se baseia em dois princípios fundamentais: a esperança da ataraxia e a
equipolência, segundo a qual a toda razão se opõe uma igual razão.

Para obter a suspensão do juízo, deve-se primeiro aceitar o problema filosófico como tal: só assim se
consegue estabelecer a equipolência das teses opostas.

Parece-me bastante claro que a resposta do pirronismo à questão que


nos interessa é a seguinte: há problemas filosóficos e eles nos perturbam;
a investigação, porém, revela que eles são indecidíveis e devem ser
abandonados; o abandono desses problemas nos leva surpreendentemente de
volta ao estado de tranquilidade intelectual originário (PINTO, 1996, p. 165).

Nesse sentido, o pirronismo deve ser entendido não como uma doutrina filosófica, mas como uma
atividade terapêutica, que exige certa habilidade para ser exercida. Pode-se dizer que o pirronismo
rejeita o discurso comprometido com a metafísica, aquele que pretende dizer o que as coisas realmente
são. O resultado disso é o retorno ao uso das palavras em seu sentido habitual.

Não importa que em determinados casos o apelo ao método das antinomias possa levar ao
contrassenso de “demonstrar” que não há demonstração. Nesse ponto, a ênfase não se encontra mais
na investigação de verdade, mas na prática da preservação da tranquilidade intelectual através da
continuação do estado de suspensão.

105
Unidade III

Figura 20 – Sexto Empírico

Sexto Empírico foi um filósofo e médico grego que viveu entre os séculos II e III d.C., ou seja,
praticamente quinhentos anos depois de Pirro, tendo sido um grande divulgador das ideias deste.
Viveu na época pós-aristotélica, num período em que filosofia tomou um caráter terapêutico e contrário
aos excessos da metafísica platônica e aristotélica. Junto com a escola cética, conviveram as escolas
epicurista e estoica.

Ceticismo renascentista: Michel de Montaigne (1533-1592)

Figura 21 – Michel de Montaigne

106
EMPIRISMO MODERNO

O filósofo francês Michael de Montaigne era considerado cético. No entanto, ao mesmo tempo
que cético, alguns o viam como humanista. Escreveu diversos textos, sendo considerado o inventor do
ensaio pessoal. Neles, analisou os costumes da sua época. Por isso, não seria errado dizer que o ceticismo
de Montaigne era mais moral que científico. Condenou certa filosofia acadêmica, perdida na retórica e
na ostentação de saberes, sem levar consigo a virtude como prática (BAZANINI, 2017).

Sua crítica dirigiu-se principalmente aos valores de sua sociedade – segundo ele, moralmente
decadente. Seus avós eram comerciantes burgueses que adquiriram terras e depois títulos de nobreza,
“tudo fazendo para manter a aparência de nobres” (VIDA…, 1987, p. VIII). Por conseguinte, sua inserção
social, junto com o seu grande senso crítico, o levou a criticar a hipocrisia das relações da aristocracia
da sua época. Tentou vários ofícios, mas não se adaptou a nenhum.

Aos 37 anos retirou-se para o Castelo de Montaigne e lá permaneceu estudando e escrevendo.


Levou nove anos para redigir os dois primeiros livros dos Ensaios. Foi amigo de Étienne de La Boétie,
sendo influenciado por ele. Acreditava que a sabedoria tinha sua fonte na Antiguidade e, nesse sentido,
foi um típico renascentista. Gostava de Pitágoras, Pirro e Sêneca.

Criticou a arrogância e os excessos de uma aristocracia voltada para a aparência, bem como
os instruídos sem sabedoria. Escreveu muitos ensaios sobre o tema da educação, defendendo uma
escolarização sem memorizações excessivas, que ensine a pensar. Montaigne acreditava que o homem,
enquanto ser social, era um ser de circunstâncias, imerso em seu ambiente e determinado por ele.
Seus ensaios buscam mostrar a complexidade da vida social, dos desejos, medos e paixões. Neles, o autor
critica os costumes da época, a retórica dos acadêmicos, os excessos da nobreza e o modo pedante como
se referiam aos “selvagens” das terras recém-descobertas na América.

Resumo

Nesta unidade, vimos que Berkeley defende que seria equivocado


supor que os objetos possuem existência material simplesmente pelo fato
de que os percebemos, ou seja, supor que eles existem independentemente de
serem percebidos. Na realidade, as coisas só existem enquanto são percebidas.
As casas, as montanhas, os rios só existem quando percebidos pelo intelecto.
Não há percepção a partir do nada. Portanto, é vão falar de cópias materiais
que estão além da nossa percepção. De acordo com o filósofo, tudo o que
existe, existe apenas em uma mente – sua existência consiste e se reduz a
ser percebido. Todos aqueles corpos que formam a enorme base do universo
não têm nenhuma existência sem uma mente, pois tudo consiste em serem
percebidos ou conhecidos.

Hume foi um filósofo que redigiu os seis volumes da História da


Inglaterra, obra que o tornou notável ainda em vida. No entanto, para
a história da filosofia, o que interessa é o Tratado sobre a natureza
humana (1739), a Investigação sobre o entendimento humano (1748) e
107
Unidade III

Investigação sobre os princípios da moral (1751), nos quais Hume classifica


as percepções humanas. Ele as distingue em dois gêneros: impressões e
ideias. As primeiras seriam percepções que entram com mais força e vividez,
representadas pelas nossas emoções, paixões e sensações; as ideias seriam
pálidas imagens dessas impressões. Essa distinção, também expressa por
sentir e pensar, seria facilmente obtida por indução.

Para Hume, o que nós chamamos de causa nada mais é do que o


hábito de assistir a um fenômeno preceder a outro. Desse modo, não
existe uma relação necessária, mas um hábito. Quando arremesso com
força uma bola numa vidraça, é somente o meu hábito e a minha crença
que me levam a presumir que a vidraça se quebrará. Não há nenhuma
relação necessária nessa sequência, nem nas sequências mais corriqueiras
– por exemplo, a ideia de que o Sol nascerá amanhã. O que Hume quer
mostrar é que não há uma imanência do princípio de causalidade, teoria
ousada para o século XVIII, motivo pelo qual o filósofo foi chamado de
cético. Na verdade, o ceticismo de Hume diz respeito ao limite do nosso
conhecimento e à crítica às verdades da razão, e nesse sentido pouco tem
a ver com o ceticismo de Pirro.

O ceticismo antigo é representado por Pirro e Sexto Empírico (que


retoma Pirro). O objetivo do cético antigo era atingir a tranquilidade
(ataraxia) do espírito, o estado de ausência de perturbação que ele supunha
poder alcançar somente se fosse capaz de decidir com certeza a que teoria
dar o seu assentimento. Como Pirro dizia que essa decisão era impossível,
ele suspendia o juízo (epoké) com relação ao debate, atingindo a ataraxia.
Portanto, o ceticismo antigo tinha um caráter terapêutico diante da
angústia da indecidibilidade dada pela ausência de critérios.

Montaigne, representante do ceticismo renascentista, criticou a


arrogância e os excessos de uma aristocracia voltada para a aparência,
bem como os instruídos sem sabedoria. Escreveu muitos ensaios sobre o
tema da educação, defendendo uma escolarização sem memorizações
excessivas, que ensinasse a pensar. Acreditava que o homem, enquanto
ser social, era um ser de circunstâncias, imerso em seu ambiente e
determinado por ele.

108
EMPIRISMO MODERNO

Exercícios

Questão 1. Leia os quadrinhos e analise as afirmativas.

Disponível em: https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2014/04/mafalda-e-a-humanidade.jpg. Acesso em: 2 dez. 2018.

I – Os dois meninos, na tirinha, assumem uma perspectiva tipicamente cética, pois um não acredita
no que o outro afirma e ambos têm certeza de que estão certos.

II – A tirinha sugere que o conhecimento de um fato depende do sujeito que o observa.

III – A tirinha faz referência à guilhotina de Hume, uma vez que comprova que só um dos dois
meninos tem razão, pois os fatos são objetivos.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I.

B) II.

C) III.

D) I e II.

E) II e III.

Resposta correta: alternativa B.

109
Unidade III

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o ceticismo não se caracteriza por não acreditar no outro nem por se autoproclamar
dono da verdade.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: os dois meninos têm certa razão ao apontar para onde é a “frente”, pois tomam como
referência sua posição. Dessa forma, as condições do sujeito interferem no processo de conhecimento.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: não há um menino certo e outro errado na tirinha; a direção da “frente” depende
do referencial.

Questão 2. (Fundação Carlos Chagas 2007) O filósofo empirista David Hume celebrizou-se por sua
crítica à concepção clássica da causalidade. Qual das afirmações a seguir resume a posição desse filósofo
acerca da relação de causa e efeito?

A) A causalidade é inteiramente estéril para o conhecimento dos objetos da experiência.

B) A causalidade indica uma ligação essencial, pois o ser do efeito está contido em potência no ser
da causa.

C) A causalidade é dada a priori para o entendimento humano.

D) A causalidade é uma relação externa aos objetos, tributária do hábito e da repetição de sequências
observáveis na experiência.

E) A causalidade é inteiramente desprovida de validade no quadro conceitual do ceticismo humano.

Resposta correta: alternativa D.

Análise da questão

David Hume nega a validade do princípio de causalidade. Para o filósofo, o que observamos é a
sucessão de fatos ou a sequência de eventos, e não o nexo causal entre eles.

110
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

SANZIO, R. Escola de Atenas. 1509-1511. Afresco, 500 × 700 cm. Disponível em: https://upload.
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Figura 2

SANZIO, R. Escola de Atenas [detalhe]. 1509-1511. Afresco, 500 × 700 cm. Disponível em: https://
upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/96/3_Estancia_del_Sello_%28Escuela_de_
Atenas%29.jpg/1280px-3_Estancia_del_Sello_%28Escuela_de_Atenas%29.jpg. Acesso em: 20 mar.
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Figura 3

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Figura 4

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Figura 5

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Figura 6

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Figura 7

448PX-HOUGHTON_EC.B1328.620IB_-_NOVUM_ORGANUM_SCIENTIARUM.JPG. Disponível em:


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111
Figura 8

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Figura 9

1214PX-CELLARIUS_HARMONIA_MACROCOSMICA_-_SCENOGRAPHIA_SYSTEMATIS_COPERNICANI.
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Harmonia_Macrocosmica_-_Scenographia_Systematis_Copernicani.jpg/1214px-Cellarius_Harmonia_
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Figura 16

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Figura 17

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Figura 18

435PX-A_TREATISE_OF_HUMAN_NATURE_BY_DAVID_HUME.JPG. Disponível em: https://upload.


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jpg/435px-A_Treatise_of_Human_Nature_by_David_Hume.jpg. Acesso em: 20 mar. 2020.

Figura 19

PYRRHO_IN_THOMAS_STANLEY_HISTORY_OF_PHILOSOPHY.JPG. Disponível em: https://upload.


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Acesso em: 20 mar. 2020.

Figura 20

SEXTUS.JPG. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/db/Sextus.jpg. Acesso


em: 20 mar. 2020.

Figura 21

RETRATO de Michel de Montaigne. 1570. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/


commons/thumb/5/5a/Portrait_of_Michel_de_Montaigne%2C_circa_unknown.jpg/563px-Portrait_
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Exercícios

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Filosofia. Questão 22. Disponível em: http://www.filosofia.com.br/vi_prova.php?id=10. Acesso em:
20 mar. 2020.

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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