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Raphael Gargiulo1
ABSTRACT:
The present study endeavors to demonstrate that it is not implausible for the referential
characteristic of the signum, inherent in nominalism, to have influenced the philosophical
thought of Nicholas of Cusa. This inquiry holds substantial philosophical significance, as
evidenced by De Cusa's work "De Coniecturis," where elements reminiscent of the
concepts of object, self, and knowledge are introduced, subsequently gaining prominence
in both modern and contemporary philosophical discourse. This serves as a preliminary
sketch of what could be construed as a theory of objectivity, notably prevalent in
transcendental idealism. The study will undertake an examination of this potential
relationship among the acts of conjecture, the sign, and nominalism, within the
framework of three fundamental pillars: a) The conceptualization of Sign and
Signification within Ockham's nominalism; b) Does conjecture imply a form of
nominalism? c) The conceptualization of symbolism in Nicholas of Cusa.
RESUMEN:
El presente estudio se esfuerza por demostrar que no es implausible que la característica
referencial del signum, inherente al nominalismo, haya influido en el pensamiento
filosófico de Nicolás de Cusa. Esta investigación tiene una significancia filosófica
sustancial, como se evidencia en la obra de De Cusa "De Coniecturis", donde se
introducen elementos que recuerdan a los conceptos de objeto, yo y conocimiento,
ganando posteriormente prominencia en el discurso filosófico tanto moderno como
contemporáneo. Esto sirve como un boceto preliminar de lo que podría interpretarse
como una teoría de la objetividad, notablemente prevalente en el idealismo
trascendental. El estudio emprenderá un examen de esta potencial relación entre los
actos de conjetura, el signo y el nominalismo, dentro del marco de tres pilares
fundamentales: a) La conceptualización de Signo y Significación dentro del nominalismo
de Ockham; b) ¿Implica la conjetura una forma de nominalismo? c) La
conceptualización del simbolismo en Nicolás de Cusa.
1
Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tendo como linha de pesquisa:
Metafísica e Ontologia Geral, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Calixto - Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF) /Juiz de Fora. Bacharel em Direito, advogado especialista em Direito Processual Civil pelo
Instituto PROMINAS, graduando em bacharelado em filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF). E-mail: raphaeldeogargiulo@gmail.com.
I – O CONCEITO DE SIGNO E SIGNIFICAÇÃO COMO FUNDAMENTO DO
NOMINALISMO DE OCKHAM
Como é notório, essas três questões, claramente postas, mas não resolvidas por Porfírio,
constituem a origem da Querela dos Universais. Pois bem, para a primeira pergunta,
sobretudo a primeira parte, temos da leitura de Boécio que os gêneros e as espécies devem
subsistir, pois do contrário o conhecimento seria falso, caso fossem intelecções isolados
e nuas, de forma que precisamos de algo que “re-presente”, que dê consistência ao
pensamento.
Boécio, ao traduzir a Isagogè, e por isso que, como Porfírio, parece estar em busca de
uma certa verdade ontológica e, também, por isso que Boécio abandona a ideia de que os
universais seriam intelecções isoladas e nuas. Caso não haja uma adequação entre o
Modus Essendi - intelligendi – haveria, tão somente, um erro e por assim, não seria
possível fazer ciência, sabendo que para Aristóteles não há ciência do particular, mas tão
somente dos universais.
Das coisas que existem, [1] umas são ditas de algum sujeito, mas
não existem em nenhum sujeito. Por exemplo, homem é dito de
um sujeito, a saber, de um certo homem, mas não existe em
nenhum sujeito. [2] outras existem no sujeito, mas não são ditas
de nenhum sujeito (com ˂num sujeito˃ quero dizer aquilo que
existe em alguma coisa, não como uma sua parte, e que não pode
existir separadamente daquilo em que existe). Por exemplo, um
certo conhecimento gramatical existe num sujeito, a saber, na
alma, mas não é dito de nenhum sujeito; e um certo branco existe
num sujeito, a saber, no corpo (pois toda a cor existe num corpo),
mas não é dito de nenhum sujeito. [3] Outras são ditas de um
sujeito e existem num sujeito. Por exemplo, o conhecimento
existe num sujeito, a saber, alma, e é dito de um sujeito, a saber,
da gramática. [4] Outras ainda nem existem num sujeito nem são
ditas de um sujeito. Por exemplo, um certo homem ou um certo
cavalo; pois nenhum destes existe num sujeito nem é dito de um
sujeito. Em geral, as coisas individuais e numericamente umas
não são nunca ditas de um sujeito, mas nada impede que algumas
2
C. E. de Oliveira. Ockham Comentador de Porfírio: Sobre a Metafísica na Querela dos Universais.
Revista Ética e Filosofia Política, nº XXI – Vol. III. pg 83. 2018
existam num sujeito; pois um certo conhecimento gramatical é
algo que existe num sujeito.3
Aristóteles4, então, propõe que para que haja verdade, uma mesma coisa deve existir sob
dois aspectos, matéria e forma, matéria enquanto a substância da coisa individual e forma
como delimitação (definição) atingida graças a sua teoria abstração. Vale notar que o
modus intelligendi irá tentar abstrair a essência da res, não sua matéria, o que
possibilitaria a teoria da verdade como adaequatio intellecto et rei, como dirá
posteriormente o realismo Tomasiano com o qual o nominalismo de Ockham vai dialogar.
O modus intelligendi, por intermédio do modus dicendi se encarna e torna-se sensível e,
logo, suscetível de apontar para outra coisa que si mesmo, a saber: o modus essendi, donde
o caráter universal da ciência que se realiza em signo numa proposição de dimensão
generalizante e especificamente.
A partir daí, surge a radicalização deste realismo em Guilherme de Champeaux, qual finca
sua proposta naquela primeira alternativa, ‘subsistem’ ou, então. não há verdade, nem,
por conseguinte ciência. O que o pai do Nominalismo, Roscelino de Compiègne rejeitará
posteriormente, justamente com fulcro no conceitualismo de Pedro Abelardo.
Ockham, também nominalista, apresenta, por sua vez, uma solução bem comedida à
questão da existência ou não dos universais. Se apropriou, em seu comentário da Isagogè,
daquelas três questões e reformulando-as.
Assim, Ockham evidencia sua vertente nominalista, pois em nenhum momento coloca
em dúvida a existência dos universais no intelecto, mas se interroga se os universais, que
existem no intelecto, existem somente no intelecto.
Decorre desta posição, com relação aos universais, que a questão da verdade não é mais
colocada de forma ontológica, como em Aristóteles e Tomás de Aquino, mas trata-se, em
verdade, de uma questão uma questão de linguagem. O que verdadeiramente significa o
emprego dos termos universais.
3
Aristóteles, Categorias, 1a 20- 1b 8.
4
Aristóteles, Analíticos, Livro II, § 19, 100a 3-100b 17.
5
C. E. de Oliveira. Ockham Comentador de Porfírio: Sobre a Metafísica na Querela dos Universais. p.
83. 2018
A metafísica ockhamiana pressupõe a singularidade de tudo aquilo que o intelecto
apreende e que, consequentemente, o mesmo intelecto atribuí nomes que implicam uma
coleção de coisas singulares, relevam de uma ação do intelecto e, por sua vez, gera um
distanciamento da res singularis. Em argumentos na Ordinatio, Ockham propõe que:
6
OCKHAM; Expositio in Librum Porphyrii dePraedicabilibus. Prooem. § 2, p. 11, l, 29-34, 1978, apud
C. E. de Oliveira. Ockham Comentador de Porfírio: Sobre a Metafísica na Querela dos Universais. 2018.
7
OCKHAM, Guilherme de. Lógica dos termos / Guilherme de Ockham : Trad. Fernando Pio de Almeida
Fleck : Introd. Paola Müller. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 1999. 365 p. : (Coleção Pensamento Franciscano,
v. 3). P. 118
[...] tríplice é o termo, a saber: escrito, proferido e concebido. O termo
escrito é a parte da proposição inscrita em algum corpo, que é vista ou
pode ser vista pelo olho corporal. O termo concebido é a intenção ou
paixão da alma significando ou co-significando naturalmente algo,
capaz de ser parte da proposição mental e por ela supor. Assim esses
termos concebidos e as proposições compostas por eles são aquelas
palavras mentais que Santo Agostinho, no Livro XV do tratado Sobre a
Trindade, diz não serem de língua alguma, porque permanecem apenas
na mente e não podem ser proferidas ao exterior, embora as palavras
faladas (voces), como sinas subordinados a eles, se pronunciem
exteriormente.8
[...] ao fazer do universal nada além de um signo mental natural que não
cumpre senão a função linguística de um predicado, Ockham elimina
qualquer possibilidade de uma saída platonizante relativa à questão dos
universais. 9
Assim, os termos exteriores se tornam convenções ad placitum que existem para
significar, dar signo, a coisas singulares, quais apreendem-se singularmente, ou seja, os
8
OCKHAM, Guilherme de. Lógica dos termos / Guilherme de Ockham. p. 119
9
OCKHAM, Guilherme de. Expositio in Librum Porphytii de Praedicabilibus, Prooem. § 2, 1978, p. 15
s., lin 163-198; apud C. E. de Oliveira. Ockham Comentador de Porfírio: Sobre a Metafísica na Querela
dos Universais. p. 105. 2018.
termos, as palavras convencionadas pela língua são apreendidas; contudo, num segundo
momento esses termos possuem a serventia de expressar os signos mentais, assim tem-se
do movimento claro, e muito bem disposto, no qual o homem vê, através do sentido da
visão, uma coisa nova, nomeia essa coisa, usa desse nome para significar o conceito
daquela coisa singular e através da memória, resgata aquele signo que não é mais a coisa,
mas sua “re-presentação”, um signo dela.
Nesse excerto Nicolau de Cusa estabelece que todos os signos são perceptíveis, tanto os
naturais quanto os convencionais, e que ambos possuem uma função: designar. Contudo,
o que significa designar e como fazem? Designar é um ato pelo qual um sujeito se
relaciona a algo interior ou exterior através de signos (naturais ou artificiais) que apontam
para algo outrem.
Vê-se, então, que Nicolau De Cusa assimila um elemento básico do conceito de signo
elaborado por Aristóteles no Peri Hermeneia (Traduzido como De Interpretatione por
Boécio). O que nos lembra de imediato o, já mencionado, tríptico: modus essendi, modus
intelligendi, modus dicendi. A questão fundamental para decidirmos quanto a possível
influência nominalista no pensamento de Nicolau de Cusa seria, segundo nos parece,
saber como esses três modi do tríptico se relacionam, sobretudo, quando se trata de signos
que remetem aos universais, a saber aos gêneros e às espécies.
Num texto importante do De Coniecturis, De Cusa afirma que “Has mentales unitates
vocalibus signis figurat.”11 Ou seja, de certa forma, ao assumirmos que a comunicação se
dá por meio de signos, a compreensão das coisas se dará, também, por meio de signos e
10
Comp. II, 2:h I, 5, n. 5-8
11
De Coni. I, 4:h, III, 14, n. 1.
o signo SEMPRE será insuficiente, pois sempre será representação de significados de
unidades singulares ou unidades que englobam uma pluralidade. Então, nunca
compreenderemos, por meio de signos, a unidade específica que é a humanidade, por
exemplo. Pois a essência das próprias coisas está além do poder de conjecturar e o signo
simplesmente encarna uma conjectura.
Em suma, Nicolau De Cusa parece ir além de Ockham, pois para ele nunca apreender-se-
á as unidades reais, sejam elas singulares ou múltiplas, através de signos provindos de
nossas conjecturas e, consequentemente, propriamente falando, o signo não significa a
coisa em si, mas tão somente informa que a coisa é, que “ex-siste” a partir da primeira
unidade, na qual ela subsiste verdadeiramente. Ainda, no que se refere ao mundo interior,
mundo de signos mentais e conjecturas, as coisas não se encontram enquanto tais, mas
tão somente como coisas para nós.
12
De Coni. I, 4:h, III, 15, n. 1-10.
todas as coisas, de forma que a inteligência não divina e a alma racional não estão,
totalmente, fora da divindade.
Desta forma, o conceito de verdade está inerente à pirâmide, de modo que pode ser
encontrado e correlacionado entre os graus de intensidade da unidade e da alteridade que
se interpenetram, seja divinamente, intelectualmente, como a alma o faz ou bem como o
corpo.
Pois, a mente humana realiza esse movimento de idas e vindas por dentro dos espectro
alteridade-unidade e o fazendo, a própria mente humana organiza o micro-cosmos
interior, buscando verdades mais próximas dos universais, isto é, nos gêneros e nas
espécies e buscando verdades mais próximas dos indivíduos, mas sempre conjecturando
e assim devido a limitação da inteligência, que não divina, ainda que participe da
divindade, em certo modo, o sujeito nunca atingirá a verdade per si, mas sempre
tangenciando-a.
Assim se interpreta a afirmação do filósofo na Comp. II, 5:h I, 13, n.1-20, qual que os
casos de quantidade são individualmente conhecidos por meio de um sinal que tem
correlação com a quantidade em geral. Em outras palavras, a unidade sensível é conhecida
pela mediação das unidades racional e intelectual, mas tem sua unidade garantida pela
sua aderência ontológica à primeira unidade, que lhe concede uma verdade ontológica
como horizonte, somente.
A verdade ontológica provém ou emana da própria divindade ou unidade inefável. Já os
diferentes níveis de verdade (intelectual, racional e sensível) que formamos a partir dos
sinais naturais desta emanação da unidade absoluta constituem pura e tão somente
conjecturas.
Desta forma, a mente humana, não somente tem o poder de unificação que funda o ato de
conjecturar, mas possui igualmente a faculdade que consiste justamente em “co-
significar” essas unidades conjecturais, para si mesma e para outrem, graças à faculdade
de pensar e se exteriorizar através de signos, o que se verifica:
13
Comp. II, 1:h I, 1, n. 2-8.
Em suma, tenta-se demonstrar que existe uma íntima conexão entre conjectura e
significação. Analisar-se-á, agora, o conceito do termo simbólico, e o alcance do
conhecimento, para De Cusa, através do ato conjectural e suas possíveis relações.
De Cusa parece crer, então, que as coisas se inserem no âmbito do conhecimento através
dos signos, o mundo é repleto de signos sensíveis que nos possibilitam produzir
conjecturas das coisas. Neste excerto, em particular, De Cusa ainda diz que os vários
modos de conhecer devem ser buscados dentro e através de vários signos, pela lógica,
pode-se deduzir que o conhecimento conjectural perpassaria pelos signos?
Assim como para Ockham, De Cusa compreende que nenhum signo designa o modo de
ser tão plenamente quanto pode ser designado, conforme explicita:
14
Comp. II, 2:h I, 3, n. 1-6.
15
Comp. II, 5:h I, 11, n. 14-19.
Ainda nesta passagem percebe-se uma conexão e uma divergência entre o Nominalismo
e o pensamento Cusano, pois o signo apenas demonstra, representa, mas jamais vai ser a
coisa em si, dessa forma o conhecimento humano será sempre conjectural, jamais
atingindo a verdade. Logo, a verdade não releva da adequação entre o modus essendi e o
modus intelligendi. Afinal, conhecemos as coisas através das instâncias e graus superiores
de conjectura, como dito acima, a mente humana organiza, por intermédio do poder
unitivo, do individual ao coletivo e realiza tal associação, a unificação dos graus, através
da inteligência, qual é princípio das concepções racionais de todas as coisas, conforme o
De Coniecturis:
Intelligentia igitur nihil horum est, quae dici aut nominari possunt, sed
est principium retionis omnium, sicut deus intelligentiae. In istis
meditari diligenti assiduitate, et dum profunda mente intraveris,
difficilia apud plures tibi manifestabuntur cum dulcore intellectualis
dulcedinis omnem sensibilem amoenitatem incomparabitiliter
excellentis.16
Pois, uma das máximas da economia proposta pelo Cusano é, exatamente, a de que o
conhecimento humano é limitado e não pode compreender a essência das coisas. Nessa
toada, é lógico reconhecer a incapacidade do ser humano em conhecer as coisas como
elas são, o que acaba por concordar com o sentido de signo que o nominalismo apresenta,
os signos não são as coisas, mas sim uma representação aquém do modo ontológico que
as manifestam.
CONCLUSÃO
16
De Coni. I, 6:h, III, 26, 1-6.
nega a existência do mundo externo, mas seu conhecimento se dá através das estruturas
mentais, pois o intelecto arremessa (bolein) o significado para o mundo externo, sendo
possível, por fim, que De Cusa seja precursor do Idealismo Transcendental na
modernidade.