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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

Centro de Ciências Jurídicas e Políticas – CCJP


Tópicos Interdisciplinares
Professor Álvaro Reinaldo de Souza
Aluna: Jacqueline da Silva Cerqueira (MAT.: 20182361076)

O Sistema Interamericano de Direitos Humanos e seu Impacto na Legislação


Brasileira no Âmbito da Proteção à Mulher

O Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos (SIDH) é um


órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) e tem como finalidade
assegurar a proteção da dignidade humana e evitar que violações aos direitos
humanos se tornem sistêmicas nos Estados-membros.

O SIDH foi criado em 1948, a partir da aprovação da Declaração Americana


de Direitos e Deveres do Homem e da adoção da Carta da OEA. Já em 1959 foi
criada a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com sede na cidade de
Washington, nos EUA, e em 1969, na Convenção Americana de Direitos Humanos,
também conhecida como “Pacto de San José da Costa Rica”, foi criada a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, com sede na cidade de São José, na Costa
Rica; sendo que ambas, Comissão e Corte, se tratam de entidades integrantes do
SIDH e são competentes para executar os propósitos do mesmo.

Com o intuito de reunir esforços para assegurar o livre e pleno exercício de


Direitos Civis e Políticos a toda a sociedade, 24 dos 35 Estados-membros da OEA1
já ratificaram a Convenção, reconhecendo a mesma como ferramenta para garantir
o respeito aos Direitos Humanos e evitar novas violações nos países pactuados.

O dever assumido pelos Estados-membros em respeitar os direitos humanos


se materializa no compromisso de não permitir que nenhum órgão ou agente do

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Argentina, Barbados, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, República Dominicana,
Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela
Estado viole indevidamente qualquer um dos direitos reconhecidos pelo tratado que
tenha sido ratificado no âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos
(SIDH).

Já a obrigação de garantir os direitos humanos engloba uma série de


condutas que devem ser assumidas por parte do Estado-membro para tornar efetiva
a luta em defesa dos direitos e liberdades protegidas pelos tratados, como por
exemplo adotar disposições legislativas para coibir, prevenir e investigar violações,
assim como processar e sancionar os responsáveis por elas.

Caso um Estado-membro descumpra sua obrigação de respeitar e garantir os


direitos e liberdades protegidos por um dos tratados ratificados, o Estado fica sujeito
à responsabilidade internacional, podendo ser denunciado aos órgãos do SIDH.

A denúncia de alguma violação aos direitos e liberdades protegidos pelas


ferramentas interamericanas de direitos humanos pode ser apresentada à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, através de uma petição, por qualquer pessoa,
grupo ou organização não-governamental.

Além disso, algumas condições devem ser cumpridas para que a denúncia
possa ser apresentada, como por exemplo: 1) devem ter sido esgotados todos os
recursos legais disponíveis no Estado onde ocorreu a violação; 2) a denúncia não
pode estar pendente em outro procedimento internacional; entre alguns outros.

No âmbito da proteção aos direitos da mulher, em 1994, aconteceu no estado


de Belém do Pará, a “Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência Contra a Mulher”, também chamada de “Convenção de Belém do Pará”,
ratificada pelo Brasil.

No Brasil, o SIDH já atuou de modo a ocasionar grande impacto na legislação


brasileira e grande avanço na proteção dos direitos da mulher; sendo necessário,
portanto, remeter ao caso da Maria da Penha Maia Fernandes, uma cearense que
em 1983 foi alvo de duas tentativas de assissinato por parte de seu marido, tendo
ficado paraplégica.
Tendo em vista a morosidade do judiciário brasileiro em punir o responsável
por medonho crime, já esgotadas todas as movimentações judiciais possíveis
buscadas pela vítima, em 1998, com a ajuda do Centro pela Justiça e o Direito
Internacional (CEJIL) e do Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos
Direitos da Mulher (CLADEM), Maria da Penha conseguiu remeter seu caso para a
análise da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a lide foi submetida a
julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Em 2002, a Corte condenou o Estado brasileiro levando em conta sua


negligência e omissão, proferindo uma série de recomendações a serem cumpridas
pelo Brasil, entre elas: 1) o rápido e efetivo processamento penal do responsável
pela agressão, 2) a investigação exaustiva para apurar as irregularidades e atrasos
injustificados que impediram o processamento do responsável, 3) reparação
simbólica e material a vítima pelas violações sofridas; entre outras, todas com prazo
para providências por parte do Brasil.

Finalmente, em 2006, atendendo a supracitada recomendação de nº 3, o


Estado brasileiro reparou simbolicamente a vítima nominando a Lei nº 11.340/06,
que “cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”,
como “Lei Maria da Penha”. Outrossim, em 2008, o Estado brasileiro reparou
materialmente a vítima, indenizando-a no valor de R$60.000,00 (sessenta mil reais).

A Lei Maria da Penha trouxe um apanhado normativo com foco em garantir a


efetiva e rápida responsabilização do agressor, agravando as penas de crimes que
atentem contra a dignidade da mulher, além de criar recursos que impedem a
aproximação do criminoso de sua vítima; também através da alteração dos Códigos
Penal e de Processo Penal, e da Lei de Execução Penal.

Para mais, a Lei nº 11.340/06 dispõe sobre a criação de Juizados de


Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, o que aumentou potencialmente a
estrutura de acolhimento das denúncias feitas pelas vítimas, efetivando o propósito
da Lei.

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