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CONVENÇÃO AMERICANA

SOBREDIREITOS HUMANOS (PACTO @advogadanina


DESÃO JOSÉ DA COSTA RICA)
INTRODUÇÃO
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de São
José da Costa Rica, foi aprovada em 22 de novembro de 1969 e entrou em vigor em 18
julho de 1978, consoante o seu art. 74, inciso 2 (“Esta Convenção entrará em vigor logo
que onze Estados houverem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou
de adesão”).
Atualmente encontra-se ratificada por 23 países: Argentina, Barbados, Brasil, Bolívia,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, República Dominicana, Equador, El Salvador,
Granada, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai,
Peru, Suriname e Uruguai.
O Brasil aprovou formalmente a Convenção Americana em 26 de maio de 1992, mediante o
Decreto-Legislativo 27/92, depositando a respectiva Carta de Adesão no dia 25 de setembro
de 1992 e concluindo com a promulgação pelo Decreto 678, de 6 de novembro de 1992.
OBJETO

O Pacto de São José da Costa Rica tem como objeto a previsão e proteção aos
direitos civis e políticos.
O art. 26 da Convenção Americana faz menção à progressividade dos direitos
econômicos, sociais e culturais, mas de forma genérica. Esses direitos estão
disciplinados no Protocolo de San Salvador em matéria de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais.
ENUMERAÇÃO DE OBRIGAÇÕES DOS
ESTADOS-PARTE

1. Interpretação pela Corte Interamericana de Direitos Humanos


O dever de garantir os direitos consagrados na Convenção Americana foi destacado no Caso
Escher e outros Vs. Brasil, com sentença em 6 de julho de 2009, conforme o parágrafo 219, a
saber: “a Corte considera que os Estados-Partes devem assegurar o respeito e a garantia de todos os
direitos reconhecidos na Convenção Americana a todas as pessoas sob sua jurisdição, sem
limitação nem exceção alguma com base na referida organização interna. O sistema normativo e as
práticas das entidades que formam um Estado federal Parte da Convenção devem estar conformes
com a Convenção Americana”.
Entre maio e junho de 1999, os membros das organizações Cooperativa Agrícola de Conciliação
Avante Ltda. (Coana) e Associação Comunitária de Trabalhadores Rurais (Adecon), no noroeste do
Paraná, foram monitorados pela polícia militar paranaense, por intermédio de interceptações
telefônicas autorizadas pela Justiça, ainda que sem embasamento adequado. Trechos das
gravações, que perduraram para além do período autorizado, foram vazados para a mídia – sendo
veiculados no Jornal Nacional, inclusive.
DEVER DE ADOTAR DISPOSIÇÕES DE
DIREITO INTERNO

O art. 2 contempla o “dever de adotar disposições de direito interno”. Isto é, os direitos previstos no Pacto de
São José da Costa Rica devem ser adotados e protegidos pelos Estados-partes em seu ordenamento jurídico.

Não obstante, se o exercício dos direitos e liberdades do Pacto de São José da Costa Rica ainda não estiverem
garantidos por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-partes devem se comprometer a
adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas
legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades (art. 2).

Dessa forma, ao integrar a Convenção Americana, o Estado-parte assume o compromisso de: (i) se os direitos
consagrados não estiverem garantidos em seu ordenamento jurídico ou demandarem ajustes, adotar as
medidas necessárias para a proteção, promoção e exercício das obrigações; (ii) não editar leis que
atentem ou restrinjam o gozo dos direitos consagrados.
INTERPRETAÇÃO PELA CORTE
INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS
Em primeiro plano, no que se refere às alterações e ajustes na legislação nacional para o pleno cumprimento das obrigações assumidas na Convenção, o Caso
“Cinco Pensionistas” Vs. Peru, sentença em 28 de fevereiro de 2003, parágrafo 164, dispôs: “Em relação ao artigo 2º da Convenção, a Corte declarou que no
direito das gentes, o direito consuetudinário estabelece que um Estado que tenha ratificado um tratado de direitos humanos deve introduzir na sua legislação
nacional as alterações necessárias para garantir o pleno cumprimento das obrigações assumidas. Esta regra é universalmente aceita, apoiada pela
jurisprudência. A Convenção Americana estabelece a obrigação geral de cada Estado-Parte para adaptar o seu direito interno às disposições da Convenção,
para garantir os direitos nela consagrados. Esta obrigação geral do Estado Parte implica que as medidas de direito interno devem ser eficazes (princípio do
efeito útil). Isto significa que o Estado deve tomar todas as medidas para assegurar que as disposições da Convenção sejam efetivamente cumpridas em seu
ordenamento jurídico interno, como exige o artigo 2º da Convenção. Tais medidas só são eficazes quando o Estado ajusta suas ações às regras de proteção da
Convenção”.
A alteração de seus regimes previdenciários teria afrontado seus direitos fundamentais, visto que o Estado peruano ilegalmente reduziu o montante dos
valores pagos a título de aposentadoria
Apesar de consignar o dever de adotar as obrigações no direito interno, a Convenção Americana não adentra em quais são essas obrigações. Contudo, no
Caso Zambrano Vélez e outros Vs. Equador, sentença em 4 de julho de 2007 parágrafo 57, a Corte Interamericana abordou essas obrigações: “Certamente o
artigo 2º da Convenção não define quais são as medidas apropriadas para a adaptação da legislação nacional, obviamente porque isso depende da natureza da
regra que exige e as circunstâncias da situação concreta. Por isso, a Corte tem interpretado que tal adequação implica na adoção de medidas em dois
aspectos, a saber: i) a eliminação de regras e práticas que resultem na violação das garantias estabelecidas na Convenção ou desrespeitem os direitos nela
consagrados ou impeçam o seu exercício, e ii) a emissão de normas e o desenvolvimento de práticas que conduzam à efetiva observância dessas garantias. O
Tribunal entendeu que a obrigação do primeiro aspecto é violada quando a regra ou prática contrária da Convenção permanece no sistema jurídico e,
portanto, está satisfeita com a modificação, revogação, ou de alguma forma, o cancelamento, ou a reforma das regras ou práticas que tenham esses âmbitos,
conforme o caso”.
A manutenção da ordem pública interna e da segurança pública estão primariamente reservadas aos órgãos policiais civis. As forças armadas poderão intervir
excepcionalmente em tarefas de segurança sempre que sua participação se dê de modo extraordinário, subordinado e complementar, regulado e fiscalizado.
Além de adotar as medidas e direitos consagrados em seu direito interno, os Estados-partes devem evitar promulgar leis em sentido contrário às
disposições convencionais, como decidiu no Caso Artavia Murillo e outros (fertilização in vitro) Vs. Costa Rica, sentença em 28 novembro de
2012, parágrafo 335, a saber: “Em particular, nos termos do artigo 2 da Convenção, o Estado tem o dever de tomar as medidas necessárias para
fazer efetivo o exercício dos direitos e das liberdades reconhecidos na Convenção. Ou seja, os Estados não somente têm a obrigação positiva de
adotar as medidas legislativas necessárias para garantir o exercício dos direitos nela consagrados, mas também devem evitar promulgar leis que
impeçam o livre exercício destes direitos, e evitar que sejam suprimidas ou modificadas as leis que os protegem”.

O caso se refere a alegadas violações de direitos humanos que teriam ocorrido como consequência da suposta proibição geral de realizar a
fecundação in vitro, que havia estado vigente na Costa Rica desde o ano de 2000, depois de uma decisão proferida pela Sala Constitucional da
Corte Suprema de Justiça deste país.

Os Estados-partes devem ainda suprimir leis em sentido contrário à Convenção, como se vê no Caso “A Última Tentação de Cristo (Olmedo
Bustos e outros)” Vs. Chile, com sentença em 5 de fevereiro de 2001, parágrafo 85: “A Corte considerou que o dever geral do Estado, previsto
no artigo 2 da Convenção, incluiu a adoção de medidas para suprimir as regras e práticas de qualquer natureza que impliquem uma violação às
garantias estabelecidas na Convenção, bem como a expedição de normas e o desenvolvimento de práticas dirigidas à efetiva observância destas
garantias”.

O caso se refere a censura judicial imposta à exibição cinematográfica do filme ‘A Última Tentação de Cristo’, confirmada pela
Excelentíssima Corte Suprema do Chile [...] em 17 de
junho de 1997.

No Caso Cabrera García e Montiel Flores Vs. México, sentença em 26 de novembro de 2010, parágrafo 225, a Corte Interamericana consignou
que a obrigação de todos os órgãos de adotar as disposições da Convenção Americana incluiu o Poder Judiciário, que deve exercer o controle
de convencionalidade entre as leis estatais e as normas da Convenção Americana.

O caso se refere aos tratos cruéis, desumanos e degradantes sofridos por Teodoro Cabrera García e Rodolfo Montiel Flores, detidos sob
custódia do Exército por suspeita da prática dos crimes de porte não licenciado de armas de fogo de uso militar exclusivo, e de plantação de
papoula e marijuana.
DIREITOS CONSAGRADOS

✓ Direito à personalidade jurídica; ✓ Direito à indenização em caso de ✓ Direito a um nome;


erro judiciário;
✓ Direito à vida; ✓ Direitos da criança;
✓ Direito à privacidade;
✓ Direito à integridade pessoal, ✓ Direito à nacionalidade;
incluindo a proibição da tortura e das ✓ Liberdade de consciência e de
penas ou tratamentos cruéis, religião; ✓ Direito de propriedade;
desumanos ou degradantes; ✓ Liberdade de circulação e de
✓ Liberdade de pensamento e
✓ Proibição da escravatura, da expressão; residência;
servidão e do trabalho forçado ou ✓ Direitos políticos e de participar
obrigatório; ✓ Direito de resposta em caso de
difusão de informações inexatas ou na direção dos assuntos públicos;
✓ Direito à liberdade e à segurança ofensivas; ✓ Direito à igualdade perante a lei;
pessoais, incluindo a proibição da
prisão ou detenção arbitrárias; ✓ Direito de reunião; ✓ Direito à proteção judicial.
✓ Garantias judiciais; ✓ Direito à liberdade de associação;
✓ Proteção da família;
DIREITO À PERSONALIDADE
JURÍDICA (ART. 3)
Art. 3 que “Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade
jurídica”.
Caso Bámaca Velasquez Vs. Guatemala - foi submetido a torturas. A Corte IDH
inseriu os fatos no contexto do conflito armado interno que teve lugar na
Guatemala, e evidenciou a prática do exército de captura de guerrilheiros e sua
reclusão clandestina com o propósito de obter informação mediante torturas.
DIREITO À VIDA (ART. 4)
O art. 4 dispõe sobre o direito à vida, a saber:
“1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção.
Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença
final de tribunal competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco
se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos políticos.
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem
a aplicar a mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os
casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente”.
O artigo adentra em dois pontos: (i) o direito à vida; (ii) a pena de morte.
Em primeiro plano, disciplina sobre o direito à vida, como sustentáculo para o exercício de qualquer direito ou, como decidiu a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, “como o corolário indispensável para realizar outros direitos”. A vida, nos termos da Convenção, possui
sentido amplo, considerada desde a concepção (art. 4, inciso 1).
A proteção ao direito à vida traz ao Estado obrigações de duas naturezas: (i) negativa, consistente em que nenhuma pessoa será privada de
sua vida arbitrariamente; (ii) positivas, assente no dever de adotar todas as medidas apropriadas para proteger e preservar o direito à
vida.
PENA DE MORTE
(i) Países que não adotam a pena de morte não podem pretender o seu (re)estabelecimento. Na Opinião Consultiva 03/83, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos respondeu à consulta formulada pela Comissão Interamericana, nos seguintes termos: “que a
Convenção proíbe absolutamente a extensão da pena de morte e que, em consequência, o Governo de um Estado-parte não pode
aplicar a pena de morte nos delitos para os quais não estava anteriormente prevista na sua legislação interna”. Isto é, uma vez que o
Estado-parte tenha abolido a pena de morte, converte-se em “uma resolução definitiva e irrevogável”.4
(ii) Para os países que não aboliram, a pena de morte só pode ser imposta pelo cometimento de delitos mais graves comuns não
relacionados com queixas políticas, após sentença final de tribunal competente e observada a anterioridade. Ademais, não se poderá
estender a sua aplicação a delitos aos quais não é aplicável atualmente. Significa dizer, se o Estado-parte não adotava a pena de morte
para determinado crime no momento da ratificação/adesão à Convenção, não poderá mais adotá-lo àquele tipo penal.

A pena de morte não poderá ser aplicada nos seguintes casos:


✓ menor de 18 anos ou maior de 70 anos no momento da perpetuação do delito;
✓ mulher em estado de gravidez;
✓ crimes políticos ou comuns conexos aos políticos.

Não será possível a execução da pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente. A pessoa
condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos.
INTERPRETAÇÃO NOS CASOS
DIREITO A VIDA
Caso 19 Comerciantes Vs. Colômbia - El caso se refiere a la responsabilidad internacional del
Estado por la desaparición forzada de 19 comerciantes por parte de un grupo paramilitar, así
como a la falta de una investigación para esclarecer los hechos y la falta de sanción a los
responsables.
“A conformidade com o artigo 4º, em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana, não só
que nenhuma pessoa será privada de sua vida arbitrariamente (obrigação negativa), mas
também exige que os Estados tomem todas as medidas apropriadas para proteger e preservar o
direito à vida (obrigação positiva), sob o seu dever de garantir o livre e pleno exercício dos
direitos de todas as pessoas sujeitas à sua jurisdição. Essa proteção ativa do direito à vida por
parte do Estado não só envolve os legisladores, mas todas as instituições do Estado e aqueles
que deveriam proteger a segurança, sejam eles das forças policiais ou forças armadas. Em
face do exposto, os Estados devem tomar medidas não só para prevenir e punir a privação da
vida, como resultado de atos criminosos, mas também para evitar mortes arbitrárias pelas suas
próprias forças de segurança.”
INTERPRETAÇÃO CASOS
DIREITO A VIDA
Caso “Instituto de Reeducação do Menor” Vs. Paraguai - A Comissão argumentou que este Instituto
representou a manutenção de um sistema de detenção contrário a todos os padrões internacionais
relativos à privação de liberdade de crianças, em razão das supostas condições inadequadas sob as quais
estavam reclusos, a saber: superpopulação, superlotação, insalubridade, falta de infraestrutura
adequada, bem como guardas penitenciários em número insuficiente e sem capacitação adequada.

Segundo a Comissão, após cada um dos três incêndios, a totalidade ou parte das
supostas vítimas foram transferidas a penitenciárias para adultos do país; além disso, foi
alegado que a grande maioria de meninos transferidos a penitenciárias para adultos não
haviam sido condenados, com o agravante de que se encontravam espalhados pelo território
nacional, afastados de seus defensores legais e de seus familiares.
Além disso, a Comissão solicitou à Corte que, em conformidade com o artigo 63 da
Convenção, ordenasse ao Estado que garantisse às supostas vítimas e, se fosse o caso, a
seus familiares, o gozo dos direitos violados; ademais, pediu ao Tribunal que ordenasse ao
Paraguai a adoção de determinadas medidas de reparação pecuniárias e não pecuniárias.
INTERPRETAÇÃO CASOS
DIREITO A VIDA
As obrigações do Estado como garantidor do direito à vida e de condições mínimas
de dignidade, no Caso “Comunidade Indígena Yakye Axa” Vs. Paraguai,
sentença em 17 de junho de 2005, parágrafo 162, assim dispôs a Corte: “Uma das
obrigações que o Estado inevitavelmente deve assumir em sua posição de garante, a
fim de proteger e garantir o direito à vida, é a de criar as condições mínimas de vida
compatíveis com a dignidade da pessoa humana e não produzir condições que a
dificultem ou impeçam. Neste sentido, o Estado tem o dever de tomar medidas
positivas, concretas e orientadas para a satisfação do direito a uma vida digna,
especialmente quando se trata de pessoas vulneráveis e em situação de risco, cujo
cuidado torna-se uma prioridade”.
PENA DE MORTE
Caso Boyce e outros Vs. Barbados - Los hechos del presente caso se desarrollan en
el marco de la naturaleza obligatoria de la pena de muerte impuesta a personas
condenadas por homicidios en Barbados. Lennox Ricardo Boyce, Jeffrey Joseph,
Frederick Benjamin Atkins y Michael McDonald Huggin fueron condenados por el
delito de homicidio y condenados a muerte mediante la horca, bajo la sección 2 de la
Ley de Delitos del Estado contra la Persona. De conformidad con esta disposición,
una vez que una persona sea condenada por el delito de asesinato, ningún tribunal
puede evaluar si la pena de muerte es un castigo adecuado a las circunstancias
particulares de la víctima. 
DIREITO À INTEGRIDADE PESSOAL, INCLUINDO A
PROIBIÇÃO DA TORTURA E DAS PENAS OU
TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS OU
DEGRADANTES (ART. 5)

O art. 5 dispõe sobre o direito à integridade pessoal, a saber:


“1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada
de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos
a tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado,
com a maior rapidez possível, para seu tratamento.
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados”.
O atentado contra a integridade pessoal, em todas as suas dimensões – física, psíquica e moral –, é um ato contra a
dignidade inerente a todos os seres humanos.
TORTURA
Quanto aos elementos para se configurar a tortura, no Caso Bueno Alves Vs.
Argentina: Segundo a Comissão, o senhor Bueno Alves foi objeto de torturas
consistentes em, inter alia, golpes nos ouvidos com a mão em concha, enquanto se
encontrava na sede policial na madrugada de 6 de abril de 1988, a fim de que
declarasse contra si mesmo e seu advogado, o que foi posto em conhecimento do juiz
da causa. Como consequência desses golpes, o senhor Bueno Alves supostamente
sofreu uma debilitação na capacidade auditiva do ouvido direito e no senso de
equilíbrio.
Em vista do exposto, o Tribunal considera que os elementos de tortura são: a) um
ato intencional; b) que causa sofrimento físico ou mental grave; e c) que seja
cometido com determinado propósito ou finalidade”
DIREITO DAS PESSOAS
PRIVADAS DE LIBERDADE

No que se refere aos direitos das pessoas privadas de liberdade, no Caso García Asto
e Ramírez Rojas Vs. Peru, sentença de 25 de novembro de 2005, parágrafo 221:
“Nos termos do artigo 5º da Convenção, qualquer pessoa privada de liberdade tem o
direito de viver em situação de detenção compatível com a sua dignidade pessoal.
DIREITO À INTEGRIDADE E
MENORES

Com relação aos menores, no Caso “Instituto de Reeducação do Menor” Vs.


Paraguai, sentença de 2 de setembro de 2004, parágrafo 167: “Além disso, utilizava-
se no Instituto, como métodos de castigo, o isolamento, os maus-tratos e a
incomunicabilidade, com o objetivo de impor uma disciplina sobre a população
carcerária, método disciplinar proibido pela Convenção Americana.
PROIBIÇÃO DA
ESCRAVATURA, DA SERVIDÃO
E DO TRABALHO FORÇADO
OU OBRIGATÓRIO (ART. 6)
Proibição da escravidão e da servidão
Quanto a escravidão e a servidão, no Caso Massacres de Rio Negro Vs. Guatemala, sentença de 4 de
setembro de 2012, parágrafo 141, assim se manifestou a Corte: “De conformidade com o disposto no
artigo 6º da Convenção, ‘ninguém pode ser mantido em escravidão ou servidão, assim como o tráfico
de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas’.
Trabalho forçado e obrigatório
No que tange aos elementos para a definição de trabalho forçado ou obrigatório, eles foram
relacionados no Caso dos Massacres de Ituango Vs. Colômbia, sentença de 1º de julho de 2006,
parágrafo 160: “O Tribunal observa que a definição de trabalho forçado ou obrigatório, de acordo com
a Convenção, é composta por dois elementos básicos. Em primeiro lugar, o trabalho ou serviço é
exigido ‘sob a ameaça de uma pena’. Em segundo lugar, estas são levadas a cabo de forma não
intencional. Além disso, o Tribunal considera que, para constituir uma violação do artigo 6.2 da
Convenção Americana, é necessário que a alegada violação seja atribuível a agentes do Estado, seja
através da participação direta ou aquiescência deles.
DIREITO À LIBERDADE E À SEGURANÇA
PESSOAIS, INCLUINDO A PROIBIÇÃO DA
PRISÃO OU DETENÇÃO ARBITRÁRIAS (ART. 7)
Um ponto importante dessa disposição convencional é o seu art. 7, inciso 7, que prescreve
que “Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar”. Como se vê, o Pacto de São José da Costa Rica restringe a prisão civil somente
para o descumprimento das obrigações alimentares.
Desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos ‘Pacto de San José da
Costa Rica’ (art. 7º, 7), não há base legal para aplicação da parte final do art. 5º, inciso
LXVII, da Constituição, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel”.
Por fim, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante 25, in verbis: “É
ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.
GARANTIAS JUDICIAIS (ART.
8)
Nesse sentido, “Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável,
por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza (art. 8.1)”.
Esse enunciado desdobra-se nos seguintes elementos:
✓ a existência prévia de um juiz ou tribunal competente estabelecidos na legislação do Estado;
✓ que o órgão de julgamento seja independente e imparcial;
✓ que se contemple o direito de ser ouvido com as garantias judiciais e dentro de um prazo razoável na apuração
de acusação penal ou sobre a determinação de direitos e obrigações de outra natureza (civil, trabalhista, fiscal etc.).
Caso Apitz Barbera e outros (“Corte Primeira do Contencioso Administrativo”) Vs. Venezuela: as pessoas
“têm o direito de serem julgadas por tribunais comuns, de acordo com os procedimentos legalmente estabelecidos,
razão pela qual o Estado não deve criar tribunais que não apliquem as normas processuais devidamente
estabelecidas para substituir a jurisdição que corresponda normalmente aos tribunais comuns. Isso visa a impedir
as pessoas de serem julgados por tribunais especiais criados para o evento, ou ad hoc.”
SUSPENSÃO DE DIREITOS E
NÚCLEO INDERROGÁVEL
É possível a suspensão de direitos enunciados na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a
independência ou segurança do Estado-parte, pela medida e tempo estritamente limitados às
exigências da situação e desde que as disposições não sejam incompatíveis com as demais
obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma
fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.
Contudo, há uma vedação: a suspensão não pode ser aplicada aos direitos que constituem o
núcleo inderrogável. Esses direitos são: (a) direito ao reconhecimento da personalidade
jurídica; (b) direito à vida; (c) direito à integridade pessoal; (d) proibição da escravidão
e da servidão; (e) princípio da legalidade e da retroatividade; (f) liberdade de
consciência e religião; (g) proteção da família; (h) direito ao nome; (i) direitos da
criança; (j) direito à nacionalidade; (l) direitos políticos; (m) as garantias indispensáveis
para a proteção de tais direitos. Isto é, esses direitos não podem ser suspensos.

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