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CASO GOMES LUND E OUTROS

(“GUERRILHA DO ARAGUAIA”) VS. BRASIL

ANÁLISE DO CASO

Andi Lin 12128965


Leandro de Lucca Moreira 1221117005
Maria Clara coura dos santos 1221110963
Matheus Souza Mendes 1221121467
Natã Raminho Gonçalves 1221135899
Rebeca Duque Fernandes 12012849
SUMÁRIO
03 Resumo

04
Introdução
Relato da violação de direitos humanos
A relativização das vias de recurso interno

07 Medidas provisórias e exceções preliminares

08 Responsabilidade internacional do Estado

09 Artigos violados

11 Dano

12 Reparação e o Status Quo Ante

13 Indenização e Satisfação

15 Cumprimento da sentença

16 Conclusão e Questionamentos

18 Referências bibliográficas
RESUMO

Este livreto acadêmico tem por objetivo


oferecer o resumo e a análise de
componentes do caso Gomes Lund e Outros
(“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil, julgado
pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos, que teve um marco significativo no
campo dos direitos humanos e da justiça
internacional, bem como vislumbrar a
atuação do Ministério Público Federal no
que diz respeito à cooperação
internacional em prol dos direitos humanos
além das fronteiras nacionais em busca da
justiça nos casos de violação de direitos.

Ocorrida no Brasil, na década de 1960 e


1970, a Guerrilha do Araguaia ocasionou
O caso, portanto, teve um impacto contínuo
graves violações dos direitos humanos,
e permanente contribuindo para a releitura
dentre os quais o desaparecimento forçado,
das leis de anistia, estabelecendo
tortura, impunidade e ausência de
precedentes importantes na
investigações eficazes. A busca por justiça,
responsabilização de Estados por violação
vinda das vítimas e familiares dos
de direitos humanos.
desaparecidos levou o caso à Comissão e à
Corte Interamericana de Direitos Humanos,
PALAVRAS-CHAVE: Direitos Humanos; Corte
onde foram constatadas as graves
Interamericana de Direitos Humanos; Lei de
violações.
Anistia; Cooperação Internacional.

Sendo esta última responsável pela emissão


de medidas de reparação, bem como a
investigação e indenização, além de
reformas legais para evitar a repetição de
tais violações, dentre outras medidas.

03
No caso "Gomes Lund e outros ("Guerrilha
do Araguaia") vs. Brasil" julgado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte
IDH), foi alegada e reconhecida a violação
dos direitos humanos por parte do Estado
brasileiro.
Os fatos relatados remontam ao período do
regime militar no Brasil (1964-1985), quando
ocorreu a repressão estatal contra
movimentos de oposição política, incluindo
a Guerrilha do Araguaia. A Corte
Interamericana de Direitos Humanos
considerou que o Estado brasileiro violou
diversos direitos consagrados em
instrumentos internacionais de direitos
humanos.

PETIÇÃO - 07 DE AGOSTO DE 1995

INTRODUÇÃO
RELATÓRIO DE ADMISSIBILIDADE - 6 DE
MARÇO DE 2001

RELATÓRIO DE MÉRITO - 31 DE OUTUBRO


DE 2008

SUBMISSÃO DO CASO PELA CIDH - 26 DE


MARÇO DE 2009
04
SENTENÇA - 24 DE NOVEMBRO DE 2010
INTRODUÇÃO
Relato da violação de direitos
humanos
Entre as violações de direitos humanos
alegadas e reconhecidas no caso, destacam-se:
Desaparecimentos forçados e execuções
extrajudiciais: Houve a alegação e
comprovação de desaparecimentos
forçados de pessoas envolvidas na Guerrilha
do Araguaia, bem como execuções
extrajudiciais sem o devido processo legal; A Corte Interamericana de Direitos
Falta de investigação efetiva: O Estado Humanos, no caso em questão,
brasileiro foi acusado de não ter realizado determinou que o Estado brasileiro
investigações adequadas e efetivas sobre os realizasse uma série de medidas
desaparecimentos e execuções, nem de ter reparatórias, incluindo a investigação
punido os responsáveis por tais violações; efetiva dos fatos, a localização e
Negativa de informações: Houve a recusa identificação das vítimas desaparecidas,
do Estado em fornecer informações sobre o a devida reparação às famílias das
paradeiro das vítimas desaparecidas, bem vítimas e a implementação de medidas
como sobre as circunstâncias e os para evitar a repetição de tais violações
responsáveis pelas execuções; no futuro.
Violações do direito à integridade pessoal e Essas decisões visam a garantir a justiça,
garantias judiciais: Foram relatadas a verdade, a reparação e a não
violações dos direitos à integridade pessoal repetição das violações de direitos
e às garantias judiciais das vítimas, incluindo humanos ocorridas durante esse período
tortura, maus-tratos e a negação do devido conturbado da história do Brasil.
processo legal.

05
INTRODUÇÃO
A relativização das vias de recurso
interno
Foi aplicado “a exceção de prévio esgotamento
dos recursos internos”.
Sendo que a relativização das vias de recurso
interno refere-se à avaliação da eficácia e
disponibilidade dos mecanismos legais e judiciais
dentro do país para garantir a proteção dos
direitos humanos das vítimas. No caso em questão, a Prescrição de crimes: Muitos dos crimes
Corte Interamericana argumentou que, devido à cometidos durante aquele período estavam
gravidade e à magnitude das violações ocorridas sujeitos a prazos de prescrição, o que
durante o regime militar no Brasil, as vias de recurso limitava a possibilidade de processar os
interno disponíveis não foram eficazes nem responsáveis por tais violações;
suficientes para lidar com as graves violações de Falta de investigação efetiva: As
direitos humanos. investigações sobre os desaparecimentos e
A Corte considerou que, dadas as circunstâncias, as execuções extrajudiciais não foram
vítimas e seus familiares enfrentaram obstáculos conduzidas de maneira efetiva, resultando
significativos para obter justiça e reparação no em impunidade para os autores desses
sistema jurídico interno do Brasil. Isso se deu devido crimes.
a uma série de fatores, incluindo: Diante disso, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos considerou que as vias de recurso
Anistias e leis de autoanistia: No Brasil, havia leis interno no Brasil não foram capazes de garantir
de anistia que dificultavam ou impediam a a devida proteção dos direitos humanos das
responsabilização penal dos perpetradores por vítimas e, portanto, permitiu que o caso fosse
violações de direitos humanos durante o período submetido à jurisdição internacional, à Corte
do regime militar; Interamericana, em busca de justiça e
reparação.
A decisão da Corte Interamericana nesse caso
contribuiu para estabelecer um importante
precedente sobre a relativização das vias de
recurso interno em situações de graves violações
de direitos humanos, destacando a importância
da jurisdição internacional para garantir justiça
e reparação quando as vias de recurso interno
são consideradas ineficazes para lidar com tais
violações.

06
Foram impostas as seguintes medidas provisórias:

MEDIDAS PROVISÓRIAS E EXCEÇÕES PRELIMINARES


01 Medidas de não repetição: A Corte determinou ao Estado
brasileiro que adotasse medidas para evitar a repetição de
violações de direitos humanos similares no futuro. Isso inclui a
revisão de leis de anistia ou outras disposições que possam
impedir a investigação e punição de violações de direitos

02
humanos;
Investigação e localização das vítimas desaparecidas: O
tribunal solicitou a realização de investigações efetivas para
identificar o paradeiro das vítimas desaparecidas durante o
período da Guerrilha do Araguaia;

03 Reparação às vítimas e seus familiares: A Corte demandou que


o Estado fornecesse reparações adequadas e adequadas às
vítimas sobreviventes e às famílias das vítimas que sofreram
violações de direitos humanos, incluindo compensações
financeiras e medidas simbólicas de reparação.

Quanto às exceções preliminares, o Estado brasileiro apresentou


exceções preliminares, argumentando, entre outros pontos:

01 Alegações de falta de jurisdição da Corte Interamericana: O


Estado poderia ter contestado a jurisdição da Corte
Interamericana sobre o caso, alegando que os fatos ocorreram
em um período anterior à ratificação da Convenção
Americana de Direitos Humanos ou argumentando que tais

02 eventos não eram de jurisdição internacional;


Possível esgotamento das vias internas: O Estado poderia ter
alegado que as vítimas não haviam esgotado todas as vias de
recurso interno antes de recorrer à jurisdição internacional.

Essas exceções preliminares foram consideradas pela Corte


Interamericana como parte do processo, e no caso "Gomes Lund e
outros ('Guerrilha do Araguaia') vs. Brasil", a Corte, ao analisar
essas exceções, decidiu que o caso era admissível e que a
jurisdição da Corte estava estabelecida, considerando a
gravidade das violações de direitos humanos e a insuficiência das
vias de recurso interno para lidar com tais violações.

07
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO
A responsabilidade internacional do Estado brasileiro no caso Gomes Lund
é de grande importância, sendo ligado diretamente às graves violações
de direitos humanos cometidos durante a ditadura militar. No âmbito
jurídico, a Lei nº 9.140/95 desempenha um papel crucial, uma vez que foi
criada com o objetivo de reconhecer as vítimas desse período obscuro da
história brasileira e oferecer reparações. Apesar disso, a
responsabilização do Estado, vai além do campo jurídico, englobando a
necessidade de investigar detalhadamente, julgar os responsáveis, a
reparação e a garantia da não recorrência de tais atrocidades. Sendo
assim, a comunidade internacional observa o processo de justiça
transicional no Brasil, exigindo mais responsabilidade do Estado na busca
da verdade e na garantia de justiça para as vítimas; podemos listar
diversos fatores, portanto que contribuem para a complexidade do caso e
que destacam a importância do cumprimento das obrigações
internacionais e internas a fim de preservar os direitos humanos.

08
ARTIGOS VIOLADOS
A sentença da Corte Interamericana destacou a responsabilidade do
Estado brasileiro em investigar, julgar e punir os responsáveis por
essas violações. Além disso, enfatizou a necessidade de reparação às
vítimas e seus familiares.
Essas violações não apenas representaram atos ilegais, mas também
causaram danos contínuos e profundos às vítimas e suas famílias, além
de impactar a sociedade como um todo.

A jurisprudência estabelecida neste caso reforça a obrigação dos


Estados de respeitar e garantir os direitos humanos de todos,
independentemente das circunstâncias políticas ou de segurança. As
decisões da Corte Interamericana têm um papel crucial na promoção
da justiça e na prevenção de futuras violações dos direitos humanos.

Acerca do presente caso, a Corte IDH considerou violações de vários


artigos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH).
Esta decisão foi emitida em 24 de novembro de 2010 e é uma das
mais significativas em relação aos direitos humanos no Brasil. As
violações foram relacionadas principalmente aos direitos à vida, à
integridade pessoal, à justiça e à proteção judicial, dentre outros.
Abaixo segue uma análise dos artigos violados:

09
ARTIGOS VIOLADOS
Artigo 4 - Direito à Vida
A Corte IDH considerou que o Estado brasileiro violou o direito à vida ao não investigar e punir
adequadamente a morte e desaparecimento forçado dos membros do grupo da Guerrilha do
Araguaia. A não identificação e punição dos responsáveis por tais atos representou uma
violação direta do direito à vida, um dos princípios fundamentais da Convenção.
Artigo 5 - Direito à Integridade Pessoal
A Corte IDH encontrou violações do direito à integridade pessoal dos membros da Guerrilha do
Araguaia. Isso incluiu tratamento cruel, tortura, desaparecimento forçado e execuções
extrajudiciais. A falta de investigação e responsabilização por esses atos também afrontou o
direito à integridade pessoal.
Artigo 7 - Direito à Liberdade Pessoal
Este artigo foi violado devido às detenções ilegais, desaparecimentos forçados e execuções
extrajudiciais praticadas contra os membros da Guerrilha do Araguaia. Tais ações resultaram
na negação do direito à liberdade pessoal.
Artigo 8 - Garantias Judiciais e Recurso
A Corte IDH constatou a violação do direito a garantias judiciais e recurso judicial. O Estado
não forneceu às vítimas um recurso efetivo e adequado para garantir a investigação,
julgamento e punição dos responsáveis pelos abusos cometidos.
Artigo 25 - Proteção Judicial
O direito à proteção judicial também foi violado, visto que as vítimas e seus familiares não
receberam proteção efetiva por meio do sistema judicial brasileiro para garantir seus direitos
em relação aos eventos ocorridos durante a Guerrilha do Araguaia.
Direito à Vida (Artigo 4 da CADH): O caso envolveu desaparecimentos forçados, execuções
sumárias e mortes de indivíduos ligados à Guerrilha do Araguaia. Essas ações violaram o
direito à vida, um princípio fundamental estabelecido no Artigo 4 da CADH.
Direito à Integridade Pessoal (Artigo 5 da CADH): As práticas de tortura, maus-tratos e
execuções constituíram violações ao direito à integridade pessoal dos envolvidos, ferindo o
Artigo 5 da CADH.
Garantias Judiciais e Proteção Judicial (Artigos 8 e 25 da CADH): A falta de investigação
adequada e eficaz sobre os casos de desaparecimentos forçados e execuções violou o
direito a garantias judiciais e proteção judicial. O Estado falhou em investigar, processar e
punir os responsáveis, desrespeitando os Artigos 8 e 25 da CADH.
Direito à Liberdade Pessoal (Artigo 7 da CADH): As detenções arbitrárias e a falta de
processo legal adequado para os detidos, incluindo o uso de tribunais militares, violaram o
direito à liberdade pessoal, conforme estabelecido no Artigo 7 da CADH.
Direito à Liberdade de Pensamento e Expressão (Artigo 13 da CADH): Restrições à liberdade
de pensamento e expressão, censura e perseguição a opositores políticos e indivíduos
críticos ao regime também foram relatadas, violando o Artigo 13 da CADH.
Direitos da Criança (Convenção sobre os Direitos da Criança): Há relatos de crianças sendo
vítimas das violações dos direitos humanos no contexto da Guerrilha do Araguaia, o que
viola os direitos da criança estabelecidos na Convenção sobre os Direitos da Criança.

10
DANO

Após prorrogações de ambas as partes no


caso, em Outubro de 2008, foi emitida pela
Comissão, um relatório de mérito,
considerando o Brasil responsável por graves
violações de direitos humanos como foi
abordado anteriormente, reiterando portanto
o dano cometido pelo país nos episódios da
Guerrilha do Araguaia, os quais:
A violação de direitos humanos, uma vez que
não submeteu seu direito interno à
Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, como citado na mesma:

“ [..] Artigo 2. Dever de adotar disposições de


direito interno
Se o exercício dos direitos e liberdades
mencionados no artigo 1 ainda não estiver
garantido por disposições legislativas ou de outra
natureza, os Estados Partes comprometem-se a
adotar, de acordo com as suas normas
constitucionais e com as disposições desta
Convenção, as medidas legislativas ou de outra
natureza que forem necessárias para tornar
efetivos tais direitos e liberdades.”

Ademais, soma-se ao dano o desaparecimento


forçado de cerca de 62 vítimas, bem como a tortura
e execuções extrajudiciais, dentre guerrilheiros e seus
familiares diretos ou indiretos, além de indivíduos que
moravam na região do Araguaia.

11
REPARAÇÃO E O STATUS QUO ANTE
Foram emitidas várias medidas de reparação e a tentativa de
restabelecer o status quo ante (o estado anterior às violações), a
fim de abordar os danos sofridos pela vítimas e seus familiares,
bem como garantir que o Estado brasileiro cumprisse suas
obrigações em prol dos direitos humanos, sendo assim, foram
impostas ao Estado, as seguintes reparações:

A. Investigação dos fatos, julgamento e, sendo o caso, o


punimento dos responsáveis;
B. Determinar o paradeiro das vítimas;
C. Medidas de reabilitação, satisfação e garantia de
não repetição;
D. Assistência médica e psicológica;
E. Publicação da Sentença;
F. Ato público de reconhecimento de responsabilidade
internacional;
G. Dia dos desaparecidos políticos no Brasil e memorial;
H. Educação em direitos humanos nas Forças Armadas;
I. Tipificação do delito de desaparecimento forçado;
J. Acesso, sistematização e publicação de documentos
em poder do Estado;
K. Criação de uma Comissão da Verdade.

Quanto ao status quo ante, é difícil dizer se houveram mudanças


em decorrência direta do conflito, mas possivelmente acarretaram
em mudanças sociais, políticas e econômicas subsequentes, tais
como a reconciliação e memória, visto que houve um esforço para
documentar e esclarecer o que ocorreu durante a Guerrilha do
Araguaia, além da memorialização e homenagem às vítimas,
outrossim, houve o desenvolvimento econômico da região, com o
desenvolvimento da agricultura, da pecuária, dentre outras
atividades econômicas, além de mudanças demográficas e a
conservação ambiental, no entanto ainda existem desafios sociais
a serem enfrentados, como a limitação dos serviços públicos,
educação e saúde (o que pode ter sido uma influência do legado
da Guerrilha na região).

12
INDENIZAÇÕES E SATISFAÇÃO
Apesar da busca pela igualdade e justiça para ambas as partes
envolvidas no caso, podemos dizer que a satisfação do caso
presente pode variar a depender da perspectiva dos
envolvidos; a condenação do Brasil pela Corte interamericana
pode ser vista como um ponto positivo em busca de justiça para
os familiares das vítimas e defensores dos direitos humanos, mas
a resposta do Estado pode ter sido insuficiente, visto algumas
barreiras enfrentadas no Poder Judiciário, principalmente no
que diz respeito à interpretação da Lei de Anistia.

Ademais, a Corte impôs indenizações, das quais, de danos


materiais, tendo sido, em Maio de 2007, amparada pela Lei nº
9.140/95 - art. 10, no qual as indenizações seriam pagas aos
cônjuges, companheiros, descendentes, ascendentes e colaterais
até o quarto grau, das vítimas, um montante não inferior a
R$100.000,00, enviada à Comissão Interamericana pelo Estado,
uma lista de familiares que receberam a indenização,
totalizando o pagamento relacionado a 58 vítimas, já que houve
a renúncia expressa de quatro famílias. Em relação às despesas
médicas e outras relacionadas com a busca das vítimas
desaparecidas, desde 10 de Dezembro de 1998 até a sentença,
foi determinado o pagamento de US$ 3.000,00 a favor dos
familiares considerados vítimas; de danos imateriais, a Corte
julgou pertinente fixar uma quantia, em igualdade às mesmas.
Além disso, foi determinado ao Estado o pagamento das custas e
gastos, a favor do Grupo Tortura Nunca Mais, da Comissão de
Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo e
do Centro pela Justiça e o Direito Internacional, o montante de
US$ 5.000,00, US$ 5.000,00 e US$ 35.000,00.

13
INDENIZAÇÕES E SATISFAÇÃO

14
O procedimento de cumprimento da sentença permanece em
aberto e de certo limitado, sendo o mesmo complexo e contínuo,
tendo sido publicada pela Corte Interamericana apenas um
relatório de supervisão da sentença, em 17 de Outubro de 2014,
constituindo-se como uma forma de reparação.

No entanto, anterior ao relatório de supervisão, algumas ações


penais já haviam se iniciado, bem como investigações estavam em
andamento por parte do Ministério Público Federal, como é o
exemplo do Grupo de Trabalho Tocantins e da Força-Tarefa
Araguaia, que até 2019 apresentou nove denúncias, dentre
assasinato, sequestro, cárcere privado e falsidade ideológica;
apesar de encontrarem resistência do Poder Judiciário, com
amparo vedado pela Lei de Anistia - sendo esta segundo a Corte,
um empecilho a responsabilidade internacional do Estado,
perpetuando sua impunidade.

A resolução da Corte prevê o cumprimento estruturado da seguinte


forma:

A. Investigação e determinação das correspondentes


CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

responsabilidades penais;
B. Determinação do paradeiro das vítimas desaparecidas e, se
for o caso, identificação e entrega dos restos mortais a seus
familiares;
C. Tratamento médico e psicológico ou psiquiátrico;
D. Realizar as publicações dispostas na Sentença;
E. Ato público de reconhecimento de responsabilidade
internacional;
F. Capacitação sobre direitos humanos às Forças Armadas;
G. Tipificação do delito de desaparecimento forçado e
julgamento efetivo;
H. Continuar a busca, sistematização, publicação e acesso de
informação sobre a Guerrilha do Araguaia e as violações de
direitos humanos durante o regime militar;
I. Indenização por dano material e imaterial e restituição de
custas e gastos;
J. Convocatórias para identificar os familiares das pessoas
indicadas no parágrafo 119 da Sentença, e se for o caso,
considerá-los vítimas;
K. Permitir que os familiares das pessoas referidas no parágrafo
303 da Sentença possam apresentar ao Estado suas solicitações
de indenização;
L. Documentação sobre a data de falecimento das pessoas
indicadas nos parágrafos 181, 213, 225 e 244 da Sentença;
M. Considerações sobre a Comissão Nacional da Verdade.

15
CONCLUSÃO E QUESTIONAMENTOS
Podemos concluir que o Caso Gomes Lund e Outros (Guerrilha do Araguaia) vs.
Brasil, se apresenta como uma guerra secreta dentro do território do
Araguaia, constituindo-se como uma importante jurisprudência internacional,
que aborda as violações de direitos humanos cometidos durante o período
ditatorial no Brasil, dentre os quais, a tortura, execuções e desaparecimentos
forçados, violações que infligiram grande dano às vítimas e seus familiares,
bem como de indivíduos que moravam na região.

O Caso, apresentado à Corte Interamericana de Direitos Humanos,


possibilitou às vítimas frente a limitação que enfrentavam junto à justiça
interna e que sofreram durante décadas sem respostas, alcançarem, medidas
de reparação, a busca pela justiça e responsabilização, através de decisões
cruciais, que determinaram ao Estado, investigar, julgar e punir os responsáveis
pelas violações, destacando ainda, não só a resolução da Guerrilha do
Araguaia, mas a importância da justiça de transição e do respeito aos direitos
humanos, em uma sociedade que estava retomando sua jornada frente à
democracia.

Podemos destacar também, a atuação do Ministério Público Federal frente ao


caso, que facilitou a cooperação internacional e dispôs de diversos recursos
para a reparação do mesmo, como a criação de políticas públicas e
mobilizações, em prol da busca pela justiça.

Ademais, um dos questionamentos que tivemos durante a análise do caso foi


referente à memória e à justiça, de como a memória desses eventos é
preservada ou distorcida na sociedade brasileira.

Logo, o caso Gomes Lund, desempenha um papel importante no que diz


respeito à construção de uma sociedade democrática, que confronta as
violações do passado, de maneira que o Estado zele no que diz respeito aos
direitos humanos, pela sua justiça e responsabilização, verdade e memória,
prevenção, reparação e avanço.

16
CURIOSIDADE
Lançado em 2018, pelo autor Hugo Studart, o livro
reportagem “Borboletas e Lobisomens”, retrata a
Guerrilha do Araguaia, examinando e relatando os
eventos que envolveram o conflito, bem como aborda
questões políticas e sociais relacionadas à época,
incluindo perspectivas dos guerrilheiros, militares e
moradores locais.
O autor analisa os detalhes, as estratégias utilizadas
pelos guerrilheiros, bem como a resposta das forças
armadas brasileiras.
De certa forma, Studart buscar trazer luz sobre esse
capítulo complexo e controverso da história brasileira,
fornecendo uma perspectiva mais aprofundada do
que podemos dizer ter sido uma das guerras
esquecidas do país.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, San José, Costa Rica,
em 22 de novembro de 1969. Disponível em: \<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>.

Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia") vs. Brasil - Sentença de 24 de novembro de 2010.
(Exceções preliminares, mérito, reparações e custas). Disponível em: \<https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_219_por.pdf>.

Corte Interamericana de Direitos Humanos. Resolução de 17 de outubro de 2014 sobre o Caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia") vs. Brasil
- Supervisão de Cumprimento de Sentença. Disponível em: \<https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/gomes_17_10_14_por.pdf>.

Corte Interamericana de Direitos Humanos. Resolução de 15 de julho de 2009 sobre a Solicitação de Medidas Provisórias a respeito da República
Federativa do Brasil no Caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia"). Disponível em: \
<https://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/lund_se_01_portugues.pdf>.

Réu Brasil. Caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia") versus Brasil - Atualizado em Jan/2021. Disponível em: \
<https://reubrasil.jor.br/julia-gomes-lund-e-outros-guerrilha-do-araguaia/>.

Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n° 9.140, de 04 de dezembro de 1995. Disponível em: \
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9140.htm>.

Ministério da Defesa. Informações sobre a Guerrilha do Araguaia. Disponível em: \


<http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/documentos/Capitulo14/Nota%2023,%2033%20-%2000092.0024182014-83.pdf>.

As imagens do livreto foram retiradas respectivamente:

Réu Brasil. Caso Gomes Lund e outros ("Guerrilha do Araguaia") versus Brasil - Atualizado em Jan/2021. Disponível em: \
<https://reubrasil.jor.br/julia-gomes-lund-e-outros-guerrilha-do-araguaia/>.

Imagem. Disponível em: \<https://i0.wp.com/jornal.usp.br/wp-content/uploads/2023/03/Copia-de-Guerrilha-_002-scaled.jpeg?ssl=1>.

Documentos retirados da Comissão Nacional da Verdade. Disponível em: \


<http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/documentos/Capitulo14/Capitulo%2014.pdf>.

Acervo O Globo. Guerrilha do Araguaia. Disponível em: \<https://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/guerrilha-do-araguaia-9529189>.

Documentos retirados da Comissão Nacional da Verdade. Disponível em: \


<http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/documentos/Capitulo14/Nota%20131%20-%20BR_DFANBSB_V8_AC_ACE_30477_83.pdf>.

Câmara dos Deputados. Comissão de Legislação Participativa vai debater os 42 anos da Lei de Anistia - 30/08/2021**. Disponível em: \
<https://www.camara.leg.br/noticias/799979-comissao-de-legislacao-participativa-vai-debater-os-42-anos-da-lei-de-anistia>.

Aventuras na História. Perseguições e Resistência Armada: O que foi a Guerrilha do Araguaia - Publicado em 28/10/2020, Atualizado em 17/08/2022.
Disponível em: \<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/perseguicoes-e-resistencia-armada-saiba-o-que-foi-guerrilha-do-
araguaia.phtml>.

Memorial da Democracia. Guerrilha do Araguaia: Combate em Silêncio. Disponível em: \<http://memorialdademocracia.com.br/card/guerrilha-


do-araguaia-combate-em-silencio>.

Democracia e Mundo do Trabalho. 28 de outubro de 1985: Começa o Seminário que Oficializa a Existência do Grupo Tortura Nunca Mais, que Luta
pelos Direitos de Vítimas da Ditadura no Brasil - Publicado em 27/10/2023. Disponível em: \<https://www.dmtemdebate.com.br/28-de-outubro-de-
1985-comeca-o-seminario-que-oficializa-a-existencia-do-grupo-tortura-nunca-mais-que-luta-pelos-direitos-de-vitimas-da-ditadura-no-brasil/>.

Jornalistas Livres. Carta denuncia desmonte da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos - Publicado em 01/08/2019. Disponível em:
\<https://jornalistaslivres.org/carta-denuncia-desmonte-da-comissao-especial-sobre-mortos-e-desaparecidos-politicos/>.

Documentos retirados da Comissão Nacional da Verdade. Disponível em: \


<http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/documentos/Capitulo14/Nota%20130%20-%20BR_DFANBSB_V8_ASP_ACE_12171_82%20-
%20OK.pdf>.

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