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2. Questão Jurídica
Visto que o Estado mexicano é integrante da Convenção Americana desde
novembro de 1998, além de ter reconhecido a competência da corte para fins de
julgamento, nota-se que fora considerado omisso tanto no desaparecimento e
homicídio das mulheres no caso acima. Por este fato, ele sub-roga-se às leis e aos
tratados internacionais. Com base nisso, ocorreu que o Estado do México
reconheceu, de forma parcial, a sua responsabilidade no caso - apontando certas
irregularidades nas investigações referentes, mas que não houve violação de
direitos, como à vida, à integridade e à liberdade pessoal. Assim, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos analisou o caso, e declarou-se competente
para conhecer as violações referentes ao artigo 7 da Convenção de Belém do Pará,
que aborda sobre os deveres dos Estados quanto à adotar por diversos meios,
políticas que promovam a prevenção, punição e erradicação referente à violência
contra a mulher - ou seja, quanto à investigação e punição dos responsáveis por
esta violência; como as autoridades estatais do México apenas limitaram-se a
prestar atos formais e meramente administrativos, não houve medidas concretas
para encontrar as jovens - além disso, essas autoridades foram omissas na
investigação, pois a informação repassada é que as vítimas teriam fugido com
possíveis namorados. É visto que, mesmo com o conhecimento do Estado sobre o
padrão da violência de gênero, houve a falta de soluções e buscas das entidades
estatais referente ao desaparecimento das jovens - além disso, a negligência em
procurar os autores do crime, além da reparação das famílias das vítimas.
Além do artigo 7o da Convenção de Belém do Pará, houve
irresponsabilidade estatal quanto aos artigos 4 e 5 da Convenção, referente a
direitos básicos, como o respeito à vida, liberdade, proteção perante a lei - e
também a possibilidade do exercício livre e pleno de seus direitos. O Estado do
México fora negligente, além de utilizar-se de argumento patriarcal afirmando que
isso ocorria pois houve uma inversão de papéis no qual a mulher seria provedora -
não apenas isso, mas ele também reconheceu que havia falta de serviços públicos
básicos, criminalidade, tráfico de pessoas que são fenômenos impeditivos para a
permanência de direitos básicos e indispensáveis à vida, segurança e honra das
mulheres. Dessa forma, além da violação dos artigos 4, 5 e 7 da Convenção, ele
também violou os direitos referentes à apurar e investigar os fatos além da
discriminação em lidar com o caso, ou seja, a não importância necessária.
3. Decisões
É um princípio do Direito Internacional que toda violação de uma obrigação
internacional que tenha produzido dano comporta o dever de repará-lo
adequadamente. 446 Essa obrigação é regulamentada pelo Direito Internacional.
Em suas decisões a este respeito, a Corte se baseou no artigo 63.1 da Convenção
Americana. A Comissão apreciou o reconhecimento parcial de responsabilidade
internacional realizado pelo México, pois considerou que este era “um passo
positivo para o cumprimento de suas obrigações internacionais”. Entretanto, sem
rejeitar o valor e a transcendência deste reconhecimento, a Comissão notou que o
mesmo “deriva de uma interpretação dos fatos diversa à apresentada na demanda e
no escrito de petições, argumentos e provas”. Acrescentou que “vários dos
argumentos expostos pelo Estado no próprio escrito de contestação à demanda
controvertem os fatos supostamente reconhecidos”. Além disso, observou que pelos
termos do reconhecimento em questão “as implicações jurídicas em relação aos
fatos não foram totalmente assumidas pelo Estado, e tampouco a pertinência das
reparações solicitadas pelas partes”. Em consequência, a Comissão considerou que
era “indispensável que o Tribunal resolvesse em sentença as questões que
permanecem em contenção”.
A Corte determinou que o reconhecimento de responsabilidade efetuado pelo
Estado constituiu uma contribuição positiva ao desenvolvimento deste processo e à
vigência dos princípios que inspiraram a Convenção Americana . Entretanto, como
em outros casos, para que surta seus efeitos plenos, o Tribunal considerou que o
Estado deveria realizar um ato público de reconhecimento de responsabilidade
internacional em relação aos fatos do presente caso, em honra à memória das
jovens González, Herrera e Ramos . A critério do Tribunal, no presente caso foi
pertinente que o Estado fizesse um monumento em memória das mulheres vítimas
de homicídio por razões de gênero em Ciudad Juárez, entre elas as vítimas deste
caso, como forma de dignificá-las e como recordação do contexto de violência que
padecem e que o Estado se comprometeu a evitar no futuro. O monumento foi
revelado na mesma cerimônia na qual o Estado reconheceu publicamente sua
responsabilidade internacional e foi construído na plantação de algodão onde foram
encontradas as vítimas deste caso.
A Comissão considerou que a Corte deveria ordenar ao Estado adotar uma
política integral e coordenada, respaldada com recursos adequados, para garantir
que os casos de violência contra as mulheres sejam corretamente prevenidos,
investigados, punidos e suas vítimas reparadas. Os representantes solicitaram a
criação de um programa de longo prazo que contasse com os recursos necessários
e a articulação dos diversos atores sociais, em coordenação com as instituições do
Estado, com objetivos, metas, indicadores definidos que permitam avaliar
periodicamente os avanços e permitam fazer de conhecimento da comunidade o
trabalho realizado para conhecer a verdade dos fatos.
Em relação à segurança pública, o México afirmou que o Estado de
Chihuahua criou, no ano de 2005, o programa “Chihuahua Seguro”. Entre as ações
seguidas neste programa se encontram: i) o combate à impunidade; ii) a criação, em
2005, da Promotoria Especial de Crimes contra Mulheres em Ciudad Juárez, para
um melhor atendimento de vítimas e um número telefônico de denúncia cidadã; iii) a
capacitação das corporações municipais, em especial em direitos humanos,
equidade, gênero; e iv) outras medidas para atender casos de violência contra as
mulheres no âmbito familiar. O Estado aludiu a uma Rede de Atendimento a Vítimas
do Crime em Chihuahua, em coordenação com a CNDH.Segundo o Estado, o
Programa para Melhorar a Condição da Mulher, coordenado pelo Conselho Estadual
de População do Estado de Chihuahua, tem como objetivo fortalecer de maneira
interinstitucional as ações e os esforços dirigidos ao desenvolvimento integral da
mulher que gerem condições e informação que lhes permita exercer plenamente
suas liberdades e direitos.