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Universidade Federal do Amazonas

Disciplina: Direito Internacional Público

Docente: Adriano Fernandes Ferreira

Discentes: Beatriz Castro Tavares

Bruna Cinara Santana Rocha

Joane Caroline da Silva e Silva

RELATÓRIO DE ESTUDO DE CASO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

PROCESSO CASO GONZÁLEZ E OUTRAS (“CAMPO ALGODOEIRO”) vs.


MÉXICO

1. Síntese dos fatos


O presente caso ocorre da cidade de Juárez, no México, e versa sobre a
responsabilidade do Estado do México pela morte de 8 jovens, dentre elas Claudia
Ivette González, Esmeralda Herrera Monreal e Laura Berenice Ramos Monarrez.
Destaca-se a determinação “outras”, haja vista que o crime foi praticado
exclusivamente contra mulheres. O crime foi praticado entre os dias 6 e 7 de
novembro de 2001 contra mulheres entre 15 e 20 anos, cujos corpos foram
encontrados em um campo de algodão em frente à associação de trabalhadoras do
setor de manufatura da cidade de Juárez. O caso é reflexo de uma violência
estrutural de gênero que, corrente a nível global, se reafirmou como realidade local.
Nesse contexto, o Estado é responsabilizado pela falta de medidas de
proteção às vítimas, dentre as quais duas eram menores de idade, pela falta de
políticas de prevenção desse tipo de crime, apesar do corrente padrão de violência
de gênero evidenciado pelo aumento sucessivo, desde o ano de 1993, do número
de homicídios de mulheres. Além disso, foi também responsabilizado pela
negligência perante o processo de investigação, pela omissão das autoridades
responsáveis perante o prévio desaparecimento das vítimas e pela falta da devida
reparação.
Em 23 de fevereiro de 2008, a Associação Nacional de Advogados
Democráticos, o Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos
da Mulher, a Rede Cidadã de Não Violência e Dignidade Humana e o Centro para o
Desenvolvimento Integral da Mulher, como representantes das vítimas,
apresentaram uma petição que, além das alegações, solicitava ampliar o número de
vítimas para 11 mulheres e o posicionamento da Corte a favor da responsabilização
do Estado.
O Estado do México, por sua vez, contestou a petição a respeito da
competência da Corte para julgar as supostas violações à Convenção de Belém do
Pará. Contestou, também, a ampliação do número de vítimas e reconheceu
parcialmente sua responsabilidade.
No caso, alega-se violação de direitos como à vida, à integridade pessoal,
às garantias judiciais, à proteção judicial e a obrigação de respeitar os direitos,
principalmente das obrigações que derivam da Convenção para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra Mulher, denominada posteriormente Convenção de
Belém do Pará.

2. Questão Jurídica
Visto que o Estado mexicano é integrante da Convenção Americana desde
novembro de 1998, além de ter reconhecido a competência da corte para fins de
julgamento, nota-se que fora considerado omisso tanto no desaparecimento e
homicídio das mulheres no caso acima. Por este fato, ele sub-roga-se às leis e aos
tratados internacionais. Com base nisso, ocorreu que o Estado do México
reconheceu, de forma parcial, a sua responsabilidade no caso - apontando certas
irregularidades nas investigações referentes, mas que não houve violação de
direitos, como à vida, à integridade e à liberdade pessoal. Assim, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos analisou o caso, e declarou-se competente
para conhecer as violações referentes ao artigo 7 da Convenção de Belém do Pará,
que aborda sobre os deveres dos Estados quanto à adotar por diversos meios,
políticas que promovam a prevenção, punição e erradicação referente à violência
contra a mulher - ou seja, quanto à investigação e punição dos responsáveis por
esta violência; como as autoridades estatais do México apenas limitaram-se a
prestar atos formais e meramente administrativos, não houve medidas concretas
para encontrar as jovens - além disso, essas autoridades foram omissas na
investigação, pois a informação repassada é que as vítimas teriam fugido com
possíveis namorados. É visto que, mesmo com o conhecimento do Estado sobre o
padrão da violência de gênero, houve a falta de soluções e buscas das entidades
estatais referente ao desaparecimento das jovens - além disso, a negligência em
procurar os autores do crime, além da reparação das famílias das vítimas.
Além do artigo 7o da Convenção de Belém do Pará, houve
irresponsabilidade estatal quanto aos artigos 4 e 5 da Convenção, referente a
direitos básicos, como o respeito à vida, liberdade, proteção perante a lei - e
também a possibilidade do exercício livre e pleno de seus direitos. O Estado do
México fora negligente, além de utilizar-se de argumento patriarcal afirmando que
isso ocorria pois houve uma inversão de papéis no qual a mulher seria provedora -
não apenas isso, mas ele também reconheceu que havia falta de serviços públicos
básicos, criminalidade, tráfico de pessoas que são fenômenos impeditivos para a
permanência de direitos básicos e indispensáveis à vida, segurança e honra das
mulheres. Dessa forma, além da violação dos artigos 4, 5 e 7 da Convenção, ele
também violou os direitos referentes à apurar e investigar os fatos além da
discriminação em lidar com o caso, ou seja, a não importância necessária.

3. Decisões
É um princípio do Direito Internacional que toda violação de uma obrigação
internacional que tenha produzido dano comporta o dever de repará-lo
adequadamente. 446 Essa obrigação é regulamentada pelo Direito Internacional.
Em suas decisões a este respeito, a Corte se baseou no artigo 63.1 da Convenção
Americana. A Comissão apreciou o reconhecimento parcial de responsabilidade
internacional realizado pelo México, pois considerou que este era “um passo
positivo para o cumprimento de suas obrigações internacionais”. Entretanto, sem
rejeitar o valor e a transcendência deste reconhecimento, a Comissão notou que o
mesmo “deriva de uma interpretação dos fatos diversa à apresentada na demanda e
no escrito de petições, argumentos e provas”. Acrescentou que “vários dos
argumentos expostos pelo Estado no próprio escrito de contestação à demanda
controvertem os fatos supostamente reconhecidos”. Além disso, observou que pelos
termos do reconhecimento em questão “as implicações jurídicas em relação aos
fatos não foram totalmente assumidas pelo Estado, e tampouco a pertinência das
reparações solicitadas pelas partes”. Em consequência, a Comissão considerou que
era “indispensável que o Tribunal resolvesse em sentença as questões que
permanecem em contenção”.
A Corte determinou que o reconhecimento de responsabilidade efetuado pelo
Estado constituiu uma contribuição positiva ao desenvolvimento deste processo e à
vigência dos princípios que inspiraram a Convenção Americana . Entretanto, como
em outros casos, para que surta seus efeitos plenos, o Tribunal considerou que o
Estado deveria realizar um ato público de reconhecimento de responsabilidade
internacional em relação aos fatos do presente caso, em honra à memória das
jovens González, Herrera e Ramos . A critério do Tribunal, no presente caso foi
pertinente que o Estado fizesse um monumento em memória das mulheres vítimas
de homicídio por razões de gênero em Ciudad Juárez, entre elas as vítimas deste
caso, como forma de dignificá-las e como recordação do contexto de violência que
padecem e que o Estado se comprometeu a evitar no futuro. O monumento foi
revelado na mesma cerimônia na qual o Estado reconheceu publicamente sua
responsabilidade internacional e foi construído na plantação de algodão onde foram
encontradas as vítimas deste caso.
A Comissão considerou que a Corte deveria ordenar ao Estado adotar uma
política integral e coordenada, respaldada com recursos adequados, para garantir
que os casos de violência contra as mulheres sejam corretamente prevenidos,
investigados, punidos e suas vítimas reparadas. Os representantes solicitaram a
criação de um programa de longo prazo que contasse com os recursos necessários
e a articulação dos diversos atores sociais, em coordenação com as instituições do
Estado, com objetivos, metas, indicadores definidos que permitam avaliar
periodicamente os avanços e permitam fazer de conhecimento da comunidade o
trabalho realizado para conhecer a verdade dos fatos.
Em relação à segurança pública, o México afirmou que o Estado de
Chihuahua criou, no ano de 2005, o programa “Chihuahua Seguro”. Entre as ações
seguidas neste programa se encontram: i) o combate à impunidade; ii) a criação, em
2005, da Promotoria Especial de Crimes contra Mulheres em Ciudad Juárez, para
um melhor atendimento de vítimas e um número telefônico de denúncia cidadã; iii) a
capacitação das corporações municipais, em especial em direitos humanos,
equidade, gênero; e iv) outras medidas para atender casos de violência contra as
mulheres no âmbito familiar. O Estado aludiu a uma Rede de Atendimento a Vítimas
do Crime em Chihuahua, em coordenação com a CNDH.Segundo o Estado, o
Programa para Melhorar a Condição da Mulher, coordenado pelo Conselho Estadual
de População do Estado de Chihuahua, tem como objetivo fortalecer de maneira
interinstitucional as ações e os esforços dirigidos ao desenvolvimento integral da
mulher que gerem condições e informação que lhes permita exercer plenamente
suas liberdades e direitos.

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