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CASO FAVELA NOVA BRASÍLIA VS.

BRASIL (28/09)

> Relatório dos fatos (LUCAS):

Primeiramente, importante destacar que o Caso Favela Nova Brasília foi o sétimo caso
brasileiro analisado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, na qual a sentença se
deu em 16 de fevereiro de 2017;

A Comissão Interamericana submeteu à Corte o caso Favela Nova Brasília em 19 de maio de


2015, caso que se refere a duas incursões policiais, uma realizada em 18 de outubro de 1994
na Favela Nova Brasília, localizada no Complexo do Alemão, que terminou com a morte de
13 homens da comunidade, quatro deles menores de idade, além da violência sexual e tortura
cometida pelos policiais civis contra três mulheres, sendo duas delas menores de idade; e
outra incursão, meses depois, na mesma localidade, em 8 de maio de 1995, da qual resultou
novamente na morte de 13 homens, sendo dois deles menores de idade.

As autoridades policiais alegaram que, em ambos os casos, as mortes se deram e foram


justificadas pelo motivo de “resistência à prisão”, o que é um artifício comum e muito
utilizado para garantir a impunidade em casos de execução extrajudicial praticadas por
agentes do Estado.

A incursão policial realizada em 1994, resultou na morte de 13 homens, sendo que os corpos
das vítimas tinham entre 2 e 15 ferimentos provocados por bala, sendo que, uma das vítimas
havia levado um tiro em cada olho. Já da incursão de 1995, que também resultou na morte de
13 homens, foi demonstrado que os corpos tinham entre 1 e 10 ferimentos por bala.

Importante destacar que as investigações sobre as duas operações policiais, inicialmente


foram discutidas pelos próprios órgãos da Polícia responsáveis pelas incursões, o que
claramente não resultou em nenhuma responsabilização aos envolvidos, responsabilização
que se deu somente com a sentença da Corte.

O processo relacionado à chacina de 1994 foi inicialmente arquivado por prescrição em 2009.
Após decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), de 2011, foi
reaberto, sendo oferecida denúncia em 2013. O processo relacionado à chacina de 1995 foi
igualmente arquivado em 2009. Após a decisão da CIDH, chegou a ser reaberto, mas foi
novamente arquivado em 2015. Até a sentença da Corte, nenhum processo sobre os casos de
violência sexual havia sido aberto.

Em 3 de novembro de 1995, o CEJIL - Centro pela Justiça e o Direito Internacional


apresentou petição na Comissão Interamericana, denunciando as violações de direitos
humanos relacionadas à chacina de 1995. Paralelamente a isso, em 24 de julho de 1996, o
Cejil e a Humans Rights Watch/Americas apresentaram nova petição perante a Comissão
Interamericana, denunciando as violações relacionadas à chacina de 1994, incluindo os casos
de violência sexual.

Posteriormente, o ISER – Instituto de Estudos da Religião foi admitido como representante


no procedimento perante a Comissão.

Em 25 de setembro de 1998 e 22 de fevereiro de 2001, a Comissão Interamericana emitiu os


relatórios de admissibilidade das petições n° 11.566 e 11.694, sendo que em 31 de outubro de
2011, foi decidido juntar os dois casos para tramitarem em conjunto, oportunidade em que a
Comissão emitiu um relatório de mérito com uma série de conclusões e várias
recomendações ao Estado, em virtude de ambos os casos abordarem fatos similares e
apresentarem mesmo padrão de conduta.

Entre 2005 e 2008, a Corte Interamericana e as partes do processo realizaram audiência como
tentativa de buscar uma solução amistosa, o que não ocorreu. Foi somente em 3 de dezembro
de 2008, após 5 pedidos da Comissão Interamericana, que o Estado brasileiro apresentou
cópia dos autos do inquérito policial.

No relatório de mérito apresentado, a Corte Interamericana considerou o Brasil responsável


pelas violações de direitos humanos, por conta da morte/assassinato das 26 vítimas, das
mulheres sexualmente abusadas, a impunidade aos agentes dessas barbaridades, as omissões
e violações do Estado, etc.

Após diversas omissões por parte do Estado, que ocorreram e que continuaram ocorrendo
após 10 de dezembro de 1998 diante da aceitação da competência da Corte pelo Estado, a
Comissão considerou que o país não havia avançado de maneira concreta no cumprimento
das recomendações e resolveu remeter o caso à Corte Interamericana em 19 de maio de 2015,
diante da necessidade de justiça.

Somente em 12 de junho de 2015, o Estado e os representantes foram notificados da


apresentação do caso pela Comissão Interamericana.

O caso Favela Nova Brasília contou com a realização de uma audiência pública nos dias 12 e
13 de outubro de 2016. Durante a audiência, o Estado reconheceu que “as condutas
perpetradas por agentes públicos durante incursões policiais na Favela Nova Brasília em 18
de outubro de 1994 e 8 de maio de 1995, representaram violações aos artigos 4.1 e 5.1 da
Convenção Americana. O Brasil também reconheceu “toda a dor e sofrimento que as vítimas
possuem em decorrência destes fatos”.

Em 11 de novembro de 2016, os representantes e o Estado remeteram, respectivamente, suas


alegações finais escritas, bem como determinados anexos, e a Comissão apresentou suas
observações finais escritas.

Por fim, a Corte iniciou a deliberação da sentença em 16 de fevereiro de 2017.


Ao que tudo indica, o procedimento de supervisão do cumprimento da sentença segue em
aberto, quase quatro anos após a decisão. O único relatório de supervisão da sentença
publicado pela Corte, que versa somente sobre as publicações da sentença, data de outubro de
2019.

> Quais as vítimas reconhecidas (LUCAS):

37 familiares das vítimas mortas em 1994, 37 familiares das vítimas mortas em 1995, e
L.R.J., C.S.S. e J.F.C, vítimas de violência sexual em 1994.

> Quem são os representantes das vítimas (LUCAS):

Humans Rights Watch/Americas, Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) e ISER
(Instituto de Estudos da Religião).

> Alegações do Estado (VICTÓRIA) :


O Estado inicia os seus posicionamentos com a apresentação do escrito de contestação em 9
de novembro de 2015, esse escrito inclui a interposição de 7 exceções preliminares, a
contestação à apresentação do caso e observações feitas sobre o escrito de petições dos
representantes das vítimas.
As exceções preliminares apresentadas foram pela:
1. Inadmissibilidade do caso na Corte em virtude da publicação do Relatório de Mérito
da Comissão.
A alegação feita incide na violação dos artigos 50 e 51 da Convenção Americana de Direitos
Humanos, pela Comissão, ao submeter à Corte o Relatório de Admissibilidade e Mérito nº
141/11 antes de publicá-la como deveria ser feito pelo procedimento exposto por tais artigos.
Por fim, solicitou que a Comissão retirasse o relatório da sua página eletrônica.
2. Incompetência ratione personae quanto as vítimas não identificadas ou sem
representação.
O Estado alega que foram apresentadas 38 procurações familiares das supostas vítimas mas
que nestas foram encontrados erros de identificação ou de correlação com a suposta vítima,
assim o Estado diz que os fatos devem apenas serem analisados sobre as supostas vítimas que
se encontram devidamente representadas no Tribunal. Ao final, pediu que os representantes
apresentassem procuração outorgada por seu representado ou familiar com a manifestação
expressa de se pleitear contra o Estado.
3. Incompetência ratione temporis sobre fatos anteriores ao reconhecimento da
jurisdição da Corte e sobre a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará).
De acordo com o Estado, o reconhecimento da jurisdição da Corte pelo Brasil se deu em 10
de dezembro de 1998, e assim, a Corte não teria competência para analisar os casos que
fossem anteriores a essa data.
A evidência feito pelo Estado é maior quanto à Convenção de Belém do Pará, por terem os
delitos sexuais ocorridos em 18 de outubro de 1994, sendo que a ratificação de tal Convenção
se deu em 27 de novembro de 1995, e dessa forma, haveria uma violação ao princípio da
irretroatividade dos tratados.
4. Incompetência ratione materiae por violar o princípio de subsidiariedade do Sistema
Interamericano de Direitos Humanos.
Contestou não ser de competência da Comissão e da Corte assumir o papel de autoridade
nacional, como se fossem uma quarta instância sobre as decisões nacionais.
Também enfatiza sobre Mônica Santos de Souza Rodrigues e Evelyn que apresentaram ação
de danos morais contra o estado do Rio de Janeiro mas que esta foi julgada improcedente em
primeira instância, contudo, não apresentaram recursos contra a decisão. Tendo em vista a
improcedência e a negativa do uso da recorribilidade, o Estado alega que se houver
condenação para pagar a reparação de danos morais seria uma violação ao princípio de
subsidiariedade do sistema interamericano de direitos humanos.
5. Incompetência ratione materiae quanto a supostas violações de Direitos Humanos dos
arts. 1, 6 e 8 da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura e artigo 7
da Convenção de Belém do Pará.
Para o Estado há a incompetência da Corte para analisar as violações dos artigos 1, 6 e 8, pois
a competência da mesma é limitada pelos artigos 33 e 62 da Convenção Americana de
Direitos Humanos.
Acerca da Convenção de Belém do Pará, ela mesma não outorga jurisdição contenciosa a
Corte, isso se dá ao artigo 12 da Convenção que autoriza apenas a Comissão para a análise
dessas violações.
6. Falta de esgotamento prévio de recursos internos.
O Estado entende que na ausência de manifestação expressa pela Comissão sobre o tema, esta
renunciou tacitamente o seu direito de fazê-la.
Sobre indenização pecuniária, o Estado alega que tal pedido não pode ser atendido pois
nenhum representante das vítimas recorreu ao Judiciário para pedir danos morais ou
materiais, exceto Mônica e Evelyn. Por fim, esclareceu que a ação civil de indenização para
reparação de danos materiais e morais não dependem da conclusão de investigações e de
processos penais, e assim, não houve motivo para a não interposição da mesma.
7. Inobservância de prazo razoável para submeter à Corte a pretensão de investigação
criminal.
A alegação feita é de que a análise da Comissão sobre a demora injustificada é equivocada,
pois a maneira correta de fazê-la é com o lapso temporal entre a data dos fatos e a data de
apresentação da denúncia, ao fazer referência às petições que não deveriam ser apresentadas à
Comissão sem que se esgotassem todos os recursos internos.
Enfatizou que se os critérios estabelecidos pela Comissão fossem aceitos haveria prejuízo às
vítimas com a inversão da ordem do princípio da complementaridade entre os sistemas
internos e o interamericano.

Em relação ao mérito, o Estado manifestou-se quanto aos direitos às garantias judiciais e


proteção judicial, ao direito à integridade pessoal e ao direito de circulação e residência.
Nesse sentido, quanto ao primeiro grupo o Estado apenas considerou que as violações
previstas não poderiam ser simultâneas por protegerem direitos diferentes, em seguida,
afirmou não haver relação entre a suposta violação à integridade pessoal dos familiares e a
alegada falta de proteção judicial. Ao final, alegou não haver fatos que comprovem a ameaça
ao direito de liberdade de circulação e que esta deve ser real e não baseada no sentimento de
temor.

> Alegações das vítimas (DANIEL):

Primeiramente, importa observar que os argumentos foram feitos tanto pela comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), assim como pelas partes devidamente
representadas pelas instituições Humans Rights Watch/Americas, Centro pela Justiça e o
Direito Internacional (Cejil) e ISER (Instituto de Estudos da Religião). Neste sentido, ao
observar os argumentos das partes, torna-se indispensável observar as alegações de ambas
supracitadas para ter um reconhecimento completo do que se tratava a denúncia.

Importa esclarecer também que a base de defesa do Estado (Brasil) pautou-se em defesas
processuais, ou seja, em questões de exceções preliminares buscando a ilegitimidade,
inadmissibilidade, incompetências ratione temporis, ratione materiae, falta do esgotamento
dos recursos internos e inobservância de prazo razoável para submeter à Corte a pretensão
de investigação criminal.

Desse modo, a apresentação das alegações das vítimas será dividida em duas partes por
fins didáticos: (i) as exceções preliminares e (ii) o mérito.

Com relação às exceções preliminares, assim como mencionado anteriormente, foram


apresentadas 7 exceções preliminares, onde todas foram contra argumentadas tanto pela
comissão, como pelas partes.

1. Inadmissibilidade do caso na Corte em virtude da publicação do Relatório de Mérito da


Comissão.

Ambos declararam que a alegação do Estado não constitui uma exceção preliminar.

2. Incompetência ratione personae quanto as vítimas não identificadas ou sem


representação.

Ambos alegaram que não constitui uma exceção preliminar e sim uma questão de mérito. A
comissão ressaltou ainda que fora identificadas as 26 vítimas, além das 3 de violência
sexual. Por sua vez, as partes alegaram que a norma da Corte é de que a vítima deve estar
razoavelmente identificada e que as que não foram possíveis identificar decorrem por se
tratar de casos de violência em massa de um grupo.

3. Incompetência ratione temporis sobre fatos anteriores ao reconhecimento da jurisdição


da Corte e sobre a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura e a Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de
Belém do Pará).
A comissão destacou que foi explícita ao submeter ao conhecimento da Corte
Interamericana os fatos posteriores a 10 de dezembro de 1998. Já os representantes
ressaltaram que a Corte já estabeleceu, em várias ocasiões, que é competente para analisar
fatos cujo início seja anterior à data de reconhecimento pelos Estados da jurisdição da
Corte e continuam ou persistem posteriormente a essa data. Também destacaram que as
autoridades não foram diligentes durante a investigação dos crimes, inclusive as
investigações posteriores a 10 de dezembro de 1998.

4. Incompetência ratione materiae por violar o princípio de subsidiariedade do Sistema


Interamericano de Direitos Humanos.

A Comissão salientou que o Estado toma como ponto de partida que os processos em
âmbito interno não violaram os direitos humanos, quando é precisamente isso o que se
debaterá no mérito do assunto. Os representantes acrescentaram que, de acordo com o
entendimento da Corte, para que a exceção de quarta instância seja procedente, é
necessário que os solicitantes peçam que a Corte revise a sentença de um tribunal interno,
em virtude de sua incorreta apreciação da prova, dos fatos ou do direito interno.

5. Incompetência ratione materiae quanto a supostas violações de Direitos Humanos dos


arts. 1, 6 e 8 da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura e artigo 7 da
Convenção de Belém do Pará.

Os representantes reiteraram que a jurisprudência da Corte determina que não é necessário


que os tratados interamericanos de direitos humanos contenham uma cláusula específica
que outorgue competência à Corte, desde que eles estabeleçam um sistema de petições
objeto de supervisão internacional no âmbito regional

6. Falta de esgotamento prévio de recursos internos.

A Comissão explicitou que a Convenção Americana não prevê que se esgotem mecanismos
adicionais para que as vítimas possam obter uma reparação relacionada com fatos a
respeito dos quais os recursos internos já tenham sido esgotados. Os representantes
concordaram com a Comissão e declararam que a Corte deve realizar um controle de
legalidade da atuação da Comissão somente quando exista um erro grave que viole o direito
de defesa das partes, ou quando o direito de defesa de uma das partes tenha sido violado.”

7. Inobservância de prazo razoável para submeter à Corte a pretensão de investigação


criminal.

Os representantes salientaram que a análise dos requisitos dos artigos 46 e 47 da


Convenção Americana ocorre quando a Comissão examina os argumentos de fato e de
direito apresentados pelas partes, e se pronuncia sobre a admissibilidade, e não quando se
apresenta a denúncia inicial por parte dos peticionários. Desse modo, o argumento do
Estado sobre a falta de esgotamento dos recursos internos no momento da apresentação
da denúncia inicial, ou antes da notificação da petição ao Estado, carece de base.

De todas as exceções preliminares, somente duas foram parcialmente aceitas.


Posteriormente foram apresentadas as alegações de mérito, onde foram divididas em: (i)
direitos às garantias judiciais e à proteção judicial; (ii) direito à integridade pessoal; (iii)
direito à circulação e residência; e (iv) questões referentes às reparações.

DIREITOS ÀS GARANTIAS JUDICIAIS E À PROTEÇÃO JUDICIAL

· A Comissão declarou que era inaceitável o tempo transcorrido sem nenhuma


determinação preliminar sobre a legalidade do uso da força letal por parte da polícia e
que o Estado é responsável pelas violações dos artigos 8.1 e 25.1, em relação ao artigo
1.1 da Convenção. (162)

· A Comissão ressaltou que as investigações policiais foram realizadas pelas mesmas


delegacias da Polícia Civil que haviam realizado as operações, de tal sorte, em virtude da
natureza tendenciosa das investigações policiais, foram violados os artigos 8.1 e 25.1,
em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana (163)

· A Comissão lembrou que, apesar de o Brasil ter ratificado a Convenção de Belém do


Pará posteriormente aos fatos do caso, a obrigação de investigar os atos de violência
contra as mulheres, consagrada no artigo 7 dessa Convenção, é de natureza contínua
(164)

· Os representantes salientaram que as autoridades investigadoras não foram


independentes e imparciais, e não agiram com a devida diligência, nem em prazo
razoável, obstruindo o acesso das vítimas à justiça (165)

· A investigação foi prejudicada por seu registro como “ato de resistência” (166)

· Com respeito à situação de L.R.J., C.S.S. e J.F.C., os representantes mencionaram que


apenas foram examinadas praticamente um mês depois dos fatos violatórios (169)

DIREITO À INTEGRIDADE PESSOAL

· A Comissão destacou que a investigação foi conduzida com vista a revitimizar os


mortos e suas famílias, além de causar a L.R.J., C.S.S., J.F.C., e aos familiares das
pessoas falecidas, sofrimento e angústia (260)

· Os representantes salientaram sobre familiares das vítimas manifestaram sua


frustração pelo excessivo tempo transcorrido desde os fatos que resultaram na morte
de seus seres queridos, sem que se faça justiça (262)

DIREITO À CIRCULAÇÃO E RESIDÊNCIA

· A Comissão não se referiu à violação desse direito. Por outro lado, Os representantes
alegaram que L.R.J., C.S.S. e J.F.C. se viram obrigadas a deixar suas residências na
Favela Nova Brasília, em virtude das circunstâncias violentas que cercaram os fatos
relatados e da continuidade da ação policial dos perpetradores desses atos.

REPARAÇÕES (APLICAÇÃO DO ARTIGO 63.1 DA CONVENÇÃO AMERICANA)

Os representantes solicitaram a indenização dos danos sofridos pelas pessoas


identificadas como vítimas. Quanto ao dano imaterial, solicitaram US$35.000,00 para
cada vítima das incursões policiais de 1994 e 1995, na Favela Nova Brasília; e
US$50.000,00 para cada uma das três vítimas de violência sexual da incursão policial de
1994. (350)

PARA OS SLIDES:
Alegações das Vítimas (primeiro slide)
Algumas Considerações:
● As alegações foram realizadas pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e pelos representantes das vítimas
● Há exceções preliminares e alegações de mérito
● Representantes = vítimas
Alegações de Mérito (segundo slide)
Direitos às garantias judiciais e à proteção judicial
Direito à integridade pessoal
Direito à circulação e residência
Reparações

> Violações e direitos reconhecidos pela Corte Interamericana de Direitos


Humanos(AMANDA):

Nas datas de 3 de novembro de 1995 e em 24 de julho de 1996, a Comissão


obteve as petições apresentadas pelo Centro pela Justiça e o Direito
Internacional (CEJIL) e pela Human Rights Watch Americas.Em 25 de setembro
de 1998 e 22 de fevereiro de 2001, respectivamente, a Comissão emitiu os
Relatórios de Admissibilidade sobre os casos, decidindo, posteriormente, juntar
ambos e fazê-los prosseguir em união, concedendo-lhes o número de caso
11.566, em equivalência com o artigo 29.1 de seu Regulamento, por
consequência de tratarem sobre fatos semelhantes e, aparentemente, revelarem
um mesmo padrão de conduta.

Em 31 de outubro de 2011, a Comissão divulgou o Relatório de Mérito Nº


141/11, em conformidade com o artigo 50 da Convenção Americana (a partir
de agora denominado “Relatório de Mérito”), no qual chegou a uma série
de conclusões[10] e elaborou várias recomendações[11] ao Estado.
Notificado, foi conferido um período de dois meses ao Estado brasileiro
para que informasse sobre os cumprimentos referidos. Após dois
adiamentos concedidos, a Comissão determinou que não havia sido
alcançado de maneira correta o cumprimento das recomendações, o que a
levou, em 19 de maio de 2015, a submeter à Corte, ante a necessidade de
obtenção de justiça, os fatos e as violações de direitos humanos descritos
no Relatório de Mérito, notadamente, as ações e omissões estatais
ulteriores a 10 de dezembro de 1998, data da aceitação da competência da
Corte pelo Estado.

Entre essas ações e omissões, foram destacadas: a forma imprópria em que


foram realizadas as diligências, buscando por um objetivo de responsabilizar as
vítimas falecidas, e não para cumprir o encargo de verificar a legitimidade do uso
da força letal; o descumprimento dos deveres de devida diligência e prazo
razoável a respeito da investigação e punição da morte das 26 pessoas, no
âmbito de ambas as invasões policiais, bem como a respeito dos feitos de tortura
e violência sexual sofridos por três vítimas no contexto da primeira incursão; e a
omissão na reabertura das investigações pelos feitos de tortura e violência
sexual, em relação aos quais prescreveu a ação penal, ainda que se trate de
graves violações de direitos humanos.

Solicitou, então, a Comissão Interamericana, à Corte, que declarasse a


responsabilidade internacional do Brasil pelas transgressões apontadas, e que
se ordenasse ao Estado, como medidas de reparação, o cumprimento das
recomendações que figuraram no Relatório de Mérito.

Em sentença, a Corte declarou, por totalidade, que o Estado brasileiro é


responsável pela violação do direito às atribuições judiciais de independência
e imparcialidade da inquirição, devida diligência e prazo razoável,
estabelecidas no artigo 8.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento; do direito à proteção judicial,
previsto no artigo 25 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em
relação aos artigos 1.1 e 2 do mesmo instrumento; dos direitos à proteção
judicial e às garantias judiciais, previstas nos artigos 25 e 8.1 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao artigo 1.1 do mesmo
instrumento, e os artigos 1, 6 e 8 da Convenção Interamericana para Prevenir e
Punir a Tortura, bem como o artigo 7 da Convenção Belém do Pará; Em
compensação, declarou-se, por unanimidade, que não houve violação, pelo
Estado, dos direitos à integridade pessoal, previsto no artigo 5.1 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, no tocante ao artigo 1.1 do
mesmo instrumento, e de circulação e residência, estabelecido no artigo 22.1 da
Convenção Americana, em relação ao artigo 1.1 do mesmo documento.

Em dispositivo de sentença, a Corte pontua que o instrumento processual é, por


si só, uma forma de reparação e que cabe ao Estado adotar medidas
reparadoras, relacionadas, desde a investigação eficaz, processamento e
punição dos responsáveis pelas mortes e pelos atos de violência sexual
ocorridos à época dos fatos, em decorrência das incursões policiais, até o
oferecimento de tratamento de saúde (física e psicológica) às vítimas, a
promoção de uma ação pública de reconhecimento de responsabilidade
internacional, a publicação anual de relatórios com dados acerca de falecimentos
resultantes de operações policiais em todo o país, o estabelecimento de
mecanismos normativos necessários para que, nos pressupostos de supostas
mortes, tortura ou violência sexual ocorridas no âmbito de investigações
policiais, seja delegada a investigação a órgão independente e distinto da força
pública envolvida na ocorrência, como uma autoridade judicial ou o próprio
Ministério Público, a adoção de programas de atendimento a mulheres e vítimas
de estupro, a adoção de medidas legislativas para uniformizar os crimes
cometidos por policiais no âmbito de investigações policiais e a indenização das
famílias das vítimas, bem como às próprias, a título de danos materiais. Fatos
que a Júlia falará a seguir.

slides: Violações e direitos reconhecidos pela Corte Internacional de Direitos


Humanos
● A forma imprópria em que foram realizadas as diligências, buscando por um objetivo de
responsabilizar as vítimas falecidas, e não para cumprir o encargo de verificar a
legitimidade do uso da força letal.
● O descumprimento dos deveres de devida diligência e prazo razoável a respeito da
investigação e punição da morte das 26 pessoas, no âmbito de ambas as invasões
policiais, bem como a respeito dos feitos de tortura e violência sexual sofridos por três
vítimas no contexto da primeira incursão.
● E a omissão na reabertura das investigações pelos feitos de tortura e violência sexual,
em relação aos quais prescreveu a ação penal, ainda que se trate de graves violações
de direitos humanos.
● Em sentença, a Corte declarou, por totalidade, que o Estado brasileiro é responsável
pela violação do direito às atribuições judiciais de independência e imparcialidade
da inquirição; do direito à proteção judicial, previsto no artigo 25 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos; dos direitos à proteção judicial e às garantias
judiciais, previstas nos artigos 25 e 8.1 da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento, e os artigos 1, 6 e 8 da
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, bem como o artigo 7 da
Convenção Belém do Pará; e do direito à integridade pessoal, previsto no artigo 5.1
da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao artigo 1.1 do mesmo
instrumento.

> Quais são as medidas reparatórias determinadas (JÚLIA):

Conforme o artigo 63.1 da Convenção Americana, quando decidir que houve violação de um
direito ou liberdade, a Corte determinará que sejam reparadas as consequências da medida ou
situação que tenha configurado violação dos direitos, e o pagamento de indenização justa à
parte lesada, caso seja procedente. A corte diz que toda violação de uma obrigação que
resultou em dano implica o dever de repará-la adequadamente, e essa reparação requer,
sempre que possível, a plena restituição, ou seja, que volte ao seu estado anterior, mas
geralmente isso não é viável nos casos de violação de direitos humanos, então o Tribunal
determina medidas para garantir os direitos violados e reparar as consequências das infrações,
e essas reparações devem ter um nexo causal com os fatos do caso, as violações
reconhecidas, os danos provados e as medidas solicitadas, o que deve ser observado pela
Corte. Considerando tudo isso, o Tribunal analisou pontos como as pretensões dos
representantes das vítimas e as alegações do estado para dispor das medidas reparatórias.

O tribunal considera como parte lesada as vítimas da violação de direitos humanos, e que são
beneficiárias das reparações ordenadas pela Corte.
O Tribunal colocou a obrigação de investigar como uma das medidas reparatórias, assim
como a determinação, julgamento e até punição dos responsáveis. A Comissão pediu para
que fosse realizada uma investigação imparcial, efetiva e em prazo razoável à respeito das
violações de direitos humanos ocorridas no caso, assim como o padrão de uso excessivo de
força letal usado pela policia, com objetivo de descobrir a verdade e punir os responsáveis. O
Estado não se pronunciou sobre essa medida. Os representantes solicitaram uma investigação
competente e independente a respeito dos indivíduos que participaram, mediata ou
imediatamente, da execução de 26 vítimas e estupro de 3 mulheres; pediram, também, a
investigação e punição dos agentes públicos que agiram de maneira omissa ou negligente e
contribuiu para a impunidade dos responsáveis. A Corte recordou que as investigações feitas
pelo Estado violaram os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial das vítimas, pois
não houve devida diligência, o desenvolvimento dos processos não ocorreu em um prazo
razoável e não houve avanço nas investigações dos fatos referentes às incursões de 1994 e
1995, e decidiu que o Estado, por intermédio do Procurador-Geral da República e do
Ministério Público Federal, deve avaliar se os fatos referentes às duas incursões devem ser
objetos de pedido de Incidente de Deslocamento de Competência, ou seja, transferir a
competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal, além de assegurar o acesso e a
capacidade de agir dos familiares em todas as etapas das investigações e não recorrer a algum
obstáculo processual para tentar se eximir dessa obrigação, já que se trata de prováveis
execuções extrajudiciais e atos de tortura. Em relação à violência sexual, a investigação e o
processo penal deverão incluir uma perspectiva de gênero e investigar especificamente a
violência sexual, com profissionais capacitados em casos similares e em atenção a vítimas de
discriminação e violência de gênero. E é necessário assegurar as pessoas encarregadas do
processo penal e investigação, além de outros envolvidos, tenham garantias de segurança.

Outra medida reparatória é a reabilitação, que é o tratamento psicológico e psiquiátrico das


vítimas. Os representantes pediram que o Estado ofereça assistência médica e psicológica
gratuita e medicamentos solicitados para o tratamento aos familiares das vítimas. O Estado
explicou que dispõe de todos os meios para oferecer tratamento e acesso a medicamento para
as vítimas, como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Rede de Atenção Psicossocial. A corte
observa a existência de políticas públicas de saúde do Estado, mas como expôs o amigo da
corte apresentado pela Defensoria Pública de São Paulo, a rede psicossocial pública brasileira
não está preparada para lidar com casos como o presente, e como não há evidências que as
vítimas e os familiares tenham tido acesso a esse tipo de tratamento, a Corte decidiu que o
Estado deve oferecer gratuitamente e de forma imediata, adequada e efetiva, o tratamento
psicológico e psiquiátrico que as vítimas precisam pelo tempo que for necessário, assim como
o fornecimento gratuito de medicamentos, e, de preferência, nos centros escolhidos pelas
vítimas. As vítimas tiveram 6 meses para solicitar ao Estado esse tratamento, a partir da
Notificação da Sentença.

A próxima medida reparatória foram as medidas de satisfação. Apesar da jurisprudência


internacional estabelecer que a sentença constitui uma forma de reparação por si só, o
Tribunal buscou reparar o dano imaterial e que não tinham natureza pecuniária, e medidas de
alcance ou repercussão pública. Publicação de sentença: Os representantes solicitaram ao
Estado que publique seções da sentença em dois jornais de circulação nacional, e o Estado se
comprometeu a divulgar a sentença na página eletrônica da Secretaria Especial de Direitos
Humanos, mas salientou o alto custo de publicações em jornais de circulação nacional, e
propôs publicar em páginas eletrônicas oficiais a divulgação mediante as redes sociais de
órgãos governamentais ao invés do que foi pedido. A Corte decidiu que o Estado deve
publicar, no prazo de 6 meses, o resumo da Sentença no Diário Oficial e em um jornal de
ampla circulação nacional, devendo o Estado informar a Corte imediatamente quando o fizer,
e o resumo da Sentença deve estar disponível em uma página eletrônica oficial do governo
federal, do Estado do Rio de Janeiro e da Polícia Civil do Estado do RJ, além de um post
semanal promovendo a página eletrônica que tenha a Sentença e seu resumo durante um ano,
que será feito por meio das redes sociais Twitter e Facebook de todos os órgãos que estão no
slide. O Estado também deverá apresentar prova de todos os posts semanais em redes sociais
à Corte. Ato público de reconhecimento de responsabilidade e placas comemorativas: os
representantes solicitaram a instalação de 2 placas na Favela Nova Brasília, próximas ao local
onde ocorreram as execuções e solicitaram que o Estado crie um espaço que ofereça cursos
de formação profissional e uma escola na Favela, com uma negociação com os representantes
para escolher o texto das placas, e com a família para escolher o nome da escola. Solicitaram,
também, que o Brasil realize um ato público de reconhecimento de responsabilidade
internacional, se desculpando pelo dano causado às vítimas e evitando que fatos parecidos se
repitam. O Estado se opôs à realização do ato público de reconhecimento de
responsabilidade, não se manifestou sobre a criação do espaço e da escola, e apresentou
objeções relativas às placas comemorativas, mas pediu que o texto seja definido somente pelo
Estado sem consentimento das vítimas, e caso a corte não aceite, a Corte poderá definir o
conteúdo.

O Tribunal considerou que o Estado deve realizar o ato público e divulgado para
reconhecimento de responsabilidade em relação aos fatos do caso e sua investigação, fazendo
referência às violações de direitos humanos declaradas na Sentença, devendo assegurar a
participação das vítimas declaradas na Sentença, caso elas desejem, e consultando as vítimas
e seus representantes previamente. Os altos funcionários estatais do governo federal e do
Estado do RJ deverão estar presentes ou participar do ato, e cabe ao Estado definir a quem
atribuir a tarefa. Prazo de 1 ano a partir da notificação da Sentença. Nesse ato, as duas placas
em memória das vítimas da Sentença deverão ser inauguradas na praça principal da Favela
Nova Brasília, uma para os fatos de 1994 e outra para os de 1995, e o conteúdo deve ser
acordado entre o Estado e os representantes em 6 meses, e, caso não cheguem a um acordo, a
Corte irá definir o texto.

Das medidas reparatórias para garantir a não repetição, a Comissão solicitou a adoção de
políticas públicas erradicar a impunidade da violência policial e profissionalizar as forças
policiais; a instituição de sistemas de controle e prestação de contas para efetivar o dever de
investigar os casos em que utilizam a força letal e/ou a violência sexual comuma perspectiva
de gênero e étnico-racial; o fortalecimento da capacidade dos órgãos para enfrentar o padrão
de impunidade dos casos de execuções extrajudiciais por parte da polícia e o treinamento
adequado dos policiais sobre como tratar eficientemente os setores vulneráveis da sociedade.
Os representantes solicitaram a obrigatoriedade da divulgação de relatórios anuais sobre o
número de mortes de policiais e civis durante operações policiais, a criação de Comissões
para julgar crimes decorrentes de violência policial, criação de uma Comissão Especial de
Redução da Letalidade Policial, e a capacitação de profissionais de saúde para atender
pessoas vítimas de violência sexual.

O Estado informou que relatórios sobre o número de mortes de policiais e civis durante
operações policiais estão previstos no Plano Plurianual 2012-2015 e falou sobre a existência
do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas
(SINESP), que acompanha a questão da letalidade policial; também salientou que é
desnecessária a criação de outro mecanismo de controle e monitoramento, já que o Ministério
Público é responsável na supervisão das investigações policiais e do controle externo da
atividade policial. O Estado também afirmou dispor de normas que desenvolvem soluções a
fim de garantir a redução da letalidade policial e apresentou diversas normas e projetos no
âmbito do Ministério da Saúde que estão voltadas a fortalecer o atendimento das mulheres em
situação de risco.

A Corte tomou notas dos dados do Instituto de Segurança Pública do RJ e da existência do


Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas (SINESP),
mas esse Sistema não divulga de maneira ampla os dados de segurança pública do Brasil, e,
por isso, a Corte ordenou que o Estado publique anualmente um relatório oficial e detalhado
com dados relativos às mortes ocorridas em operações policiais em todos os estados do
Brasil, seja de policial ou de civil, e as investigações atualizadas a respeito de cada incidente,
podendo a Corte determinar medidas adicionais durante a supervisão do cumprimento da
Sentença. Em relação a atuação do Ministério Público em casos de morte decorrente de
intervenção policial, a Corte considerou necessário que o MP controle além da supervisão à
distância das investigações dos delegados de polícia, devendo o Estado tomar medidas
normativas em casos de supostas violações de direitos decorrentes de intervenção policial e
delegar a investigação a um órgão diferente da força policial envolvida no incidente, com o
prazo de 1 ano para o Estado adotar medidas para que esse procedimento seja implementado,
a partir da emissão da Sentença. A Corte, diante a gravidade dos dados apresentados pelas
partes no processo sobre a alta letalidade da ação policial no Brasil, em especial no RJ,
determinou que o Estado do Rio estabeleça metas e políticas de redução da letalidade e da
violência policial, e supervisionará essa medida e poderá determinar medidas adicionais caso
a redução da letalidade policial não seja comprovada. Sobre as medidas adotadas pelo Estado
em relação à legislação que trata da proteção da mulher vítima de violência sexual, a Corte
destaca que a existência de instrumentos legais nesse sentido é insuficiente para proteger
efetivamente as mulheres vítimas de violência sexual, principalmente quando agentes do
Estado praticam, e a Corte estabeleceu que o Estado deverá implementar um programa ou
curso permanente e obrigatório sobre atendimento a mulheres vitimas de estupro, destinado a
todos os níveis hierárquicos das Polícias Civil e Militar do RJ e funcionários da saúde,
incluindo a Sentença do caso e a jurisprudência da Corte Interamericana a respeito da
violência sexual e tortura.
Em relação à adoção de reformas legislativas, os representantes solicitaram um mecanismo
para vítimas e organizações participarem em investigações sobre crimes praticados por
policiais contra cidadãos, e a Corte reconheceu que o Estado tem normas que garantem a
participação da sociedade civil em processos penais como assistente de acusação em ações
penais públicas, e determinou que o Estado adote medidas legislativas ou de outra natureza
para permitir que vítimas de delitos ou seus familiares participem de maneira formal na
investigação criminal realizada pela polícia ou MP, sem prejuízo da necessidade de reserva
legal ou confidencialidade desses procedimentos.

Sobre a extinção de autos de resistência e redução da letalidade policial, os representantes


pediram a substituição da expressão “auto de resistência” por “resistência seguida de morte”,
“homicídio decorrente de intervenção policial" ou “lesão corporal decorrente de intervenção
policial”. A Corte considera que mesmo que a mudança da expressão “auto de resistência”
não mude o procedimento, existe um valor simbólico em buscar uma expressão mais
apropriada. Como não existe uniformidade na expressão que deve ser usada pela polícia,
sendo usada de maneiras diferentes como até “lesão corporal decorrente de oposição à
intervenção policial”, a Corte toma nota da Portaria no 618/2013 e determina que a expressão
correta é “lesão corporal ou homicídio decorrente de intervenção policial”, ordenando que o
Estado adote as medidas para uniformizar essa expressão nos relatórios e investigações
realizadas pela polícia e MP do RJ em casos de morte ou lesão provocadas pela polícia. A
Corte também salienta sobre a importância da aprovação do projeto de lei 4.471/2012, que
estabelece normas para preservar os meios de prova e investigação isenta por parte dos
órgãos do sistema de justiça em casos de morte de civis provocada pela polícia.

Outras medidas solicitadas, a Corte não considera procedente:

• elaboração de protocolo nacional de diligência em casos de violência policial (as normas


domésticas são suficientes para casos de morte decorrentes de intervenção policial)

• Pedido de criação de Varas especializadas em crimes decorrentes de violência policial e


estabelecimento de critérios objetivos para substituição de juízes titulares quando se
ausentem

• Oferecimento de apoio psicológico e técnico a policiais submetidos a situações de risco e


separação dos policiais acusados de participar em casos graves (?)

• Fortalecimento do programa de proteção a defensores de direitos humanos e do programa


de assistência a vítimas e testemunhas ameaçadas - PROVITA (não tem nada a ver com o
caso)

• Criação de um sistema contínuo de numeração e acompanhamento de investigações e


processos em diversos órgãos estatais

• Criação de um espaço com cursos de capacitação profissional e uma escola na Favela Nova
Brasília (Corte acha que não tem relação com o caso)
• Garantia de autonomia dos peritos em relação às polícias, por meio de uma criação de uma
carreira independente (Corte não achou necessário)

• Sobre o deslocamento da competência da justiça estadual para a federal em casos de


violência policial, o Estado, por intermédio do Procurador-Geral da República e o MPF, deve
avaliar se as incursões de 1994 e 1995 devem ser objeto de solicitação de incidente de
deslocamento de competência

• Quanto a atribuição da investigação de casos decorrentes de intervenção policial à


Delegacia de Homicídios, o Estado já atendeu ao pedido

• A corte também não achou necessária a solicitação de ordenar a prioridade no exame


pericial de armas apreendidas em casos de violência policial (já foi atendida mediante outras
medidas da Sentença) e a mudança legislativa para incluir a situação de testemunhas de
violência policial entre as hipóteses de produção antecipada de prova (pois já considera
produção antecipada de prova quando demonstra urgência e relevância) – p 83

A indenização compensatória foi outra medida reparatória. Os representantes solicitaram em


suas alegações finais escritas o pagamento de dano material por não manter registros dos
gastos, e a Corte lembrou que o momento para solicitação de medidas de reparação é o
escrito de solicitações, alegações e provas, então a solicitação apresentada pelos
representantes foi em momento importuno. Sobre o dano imaterial, a Comissão solicitou que
adotem as medidas necessárias para compensar adequadamente os danos morais e os
materiais decorrentes das violações cometidas no caso, em favor dos familiares das 26
vítimas e das 3 mulheres que sofreram atos de tortura e violência sexual. Os representantes
solicitaram indenização de US$35.000,00 (35 mil dólares) para cada vítima das incursões de
1994 e 1995 na Favela Nova Brasília, e US$50.000,00 para cada uma das três vítimas de
violência sexual na incursão de 1994. O Estado alegou que o pronunciamento da sentença é
suficiente como satisfação de danos morais e os representantes das vítimas não podem ser
considerados terceiros prejudicados pois não demonstraram relação afetiva e de dependência
econômica entre as vítimas e seus irmãos. A Corte entende que dano imaterial pode
compreender sofrimento e aflições causados pela violação, desprezo de valores significativos
para pessoas e qualquer alteração de caráter não pecuniário nas condições de existência das
vítimas, e o Tribunal fixou a soma de US$35.000,00 (35 mil dólares) para cada vítima de
violações dos direitos à garantias judiciais, à proteção judicial e à integridade pessoal
reconhecidos na Sentença, e a soma adicional de US$15.000,00 para as três vítimas de
estupro, individualmente.

Em respeito às custas e gastos, os representantes solicitaram o pagamento dos gastos em que


incorreram desde a apresentação da petição à Comissão até as diligências levadas a cabo
perante a Corte, e salientaram que as custas e gastos do Instituto de Estudos da Religião
chegaram a US$24.673,67, o Estado solicitou que, caso não se declara sua responsabilidade
internacional, não seja obrigado a pagar nenhum montante de custas e gastos, mas caso seja
responsabilizado, que sejam montantes razoáveis e comprovados, não considerando salários
de advogados, pois se tratam de estimativas. A Corte reitera que as custas e gastos fazem
parte da reparação, pois a finalidade de obter justiça implica desembolsos que devem ser
compensados quando o Estado é responsabilizado em uma sentença condenatória. Quanto ao
reembolso, cabe à Corte levar em conta as circunstâncias do caso e a natureza da jurisdição
internacional de proteção dos direitos humanos, e avaliar com base no princípio de equidade
e levando em conta os gastos citados pelas partes, desde que seja razoável. A Corte lembra
que é necessário que as partes apresentem uma argumentação que relacione a prova ao fato
que se considera representado e que estabeleça com clareza os objetos de despesa e sua
justificação ao se tratar de desembolsos econômicos. Conclui-se que alguns montantes são
justificados e comprovados, e a Corte determina que o Estado pague a soma de 20 mil dólares
ao Instituto de Estudos da Religião e 35 mil dólares ao CEJIL (Centro pela Justiça e Direito
Internacional).

Sobre o reembolso dos gastos ao Fundo de Assistência Jurídica, os representantes solicitaram


o apoio do Fundo para financiar a participação no processo das pessoas a Corte chamou para
prestar depoimento, e o relatório de desembolsos funcionamento do Fundo mostrou que os
gastos chegaram à soma de US$7.397,51. O Estado não apresentou observações nesse tópico.
Em razão das violações declaradas nesta Sentença e o cumprimento dos requisitos para
solicitar assistência ao Fundo, a Corte ordenou que o Estado restitua esse fundo na quantia de
7.397,51 dólares pelos gastos, e o montante será restituído à Corte Interamericana no prazo
de 6 meses a partir da notificação da Sentença.

Em relação à modalidade de cumprimento dos pagamentos ordenados, O Estado deverá


efetuar o pagamento das indenizações e o reembolso das custas e gastos diretamente às
pessoas e organizações indicadas na Sentença, no prazo de um ano a partir da notificação da
Sentença. Caso um dos beneficiários tenha falecido antes de receber as indenizações, estas
serão pagas aos seus sucessores. O pagamento poderá ser feito em dólares estadunidenses ou
seu equivalente em moeda brasileira, utilizando para o cálculo o câmbio vigente na bolsa de
Nova York no dia anterior ao pagamento. Caso não tenha sido possível o pagamento do todo
ou de parte dos montantes devido a algum dos beneficiários ou seus sucessores, o Estado
consignará os montantes em seu favor em uma conta/certificado de depósito em instituição
financeira brasileira. Caso a indenização não tenha sido reclamada ao final de 10 anos, as
quantias serão devolvidas ao Estado com os juros percebidos. As quantias destinadas a
indenização e reembolso deverão ser entregues integralmente às pessoas e organizações
indicadas na Sentença, sem reduções decorrentes de ônus fiscais. Caso o Estado incorra em
mora, deverá pagar juros sobre a quantia devida, correspondente aos juros de mora bancários
vigentes na República Federativa do Brasil.

> Reflexão crítica do grupo:

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