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Aula teórica DIP II 02/03/2017

TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONALIZADOS

• Vantagens:

O juiz internacional é uma espécie de juiz de fora.

Justiça de proximidade. Deve afetar positivamente as comunidades, também do ponto de vista


da prevenção geral;

Justiça local, envolvendo populações e instituições locais;

Por outro lado, tem custos mais baixos, pois no fundo aproveitam-se as instalações que já
existem, já há uma logística preparada, só vindo os juízes de fora;

Pode-se fazer isto em países que não tenham subscrito o Estatuto de Roma do PBI, podem-se
julgar pessoas que não cabiam na jurisdição, etc.

Um exemplo é o do Cambodja - Ver na wikipedia ou ver vídeos sobre o Tribunal do Cambodja


(apenas por curiosidade);

No Cambodja haviam minorias de etnia chinesa e vietnamita e então vieram contra essas emis,
dando-se uma carnificina;

1997 - Solicitação do governo para a criação de um tribunal penal para o Cambodja;

1999 - A ONU recomenda que seja fora do Cambodja e o governo considera isto um atentado à
sua soberania;

• Problemas subsequentes: Validade das amnistias; questões financeiras (quem paga o


tribunal do Cambodja); imparcialidade do tribunal face ao executivo; ratio dos juízes.

2001 – Jurisdição

19 juízes efetivos, 11 nacionais e 8 internacionais

Jurisdição: Crimes dos líderes do Kher Vermelho

Crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, violações graves das Convenções de


Genebra de 1949, homicídios, tortura e perseguição religiosa.

No Cambodja, o genocídio foi cometido entre pessoas da mesma etnia, língua, cultura e
religião, sendo um auto-genocídio, extravasando os limites (positivados) da convenção de
genocídio. Não se poderá, portanto, chamar a isto de genocídio, mas crime contra a
humanidade.

Um tribunal híbrido, misto ou internacionalizado é o que consta no esquema (1 procurador


nacional e um internacional, um investigador nacional e um internacional, um plenário, uma
câmara de pré-julgamento, um tribunal de primeira instância, etc.)
O Japão foi o principal financiador. Colocou-se uma questão incómoda: os juízes deste tribunal
iam ganhar 65 mil dólares por ano, sendo que no Cambodja isso era muito dinheiro. Estes
ganhariam uma fortuna e os dos tribunais nacionais, não.

→ Tribunal Penal Internacionalizado de Serra Leoa

Guerra civil de 1991 - Frente unida revolucionária (apoiado pelo Presidente Liberiano Charles
Taylor e por Muammar Qadahfi) contra o Exército da Serra Leoa. Combate contra a classe
política corrupta e etilista ou luta pelo controlo das minas de Diamantes? (ver filme diamantes
de sangue)

2000 - Sequestro pela FUR de 500 funcionários da ONU

A Serra Leoa solicita ao CS da ONU o início de um processo de criação de um tribunal penal


internacional;

Acordo de cessar fogo de Abuja;

Declaração de fim da guerra civil;

Haviam 30 mil suspeitos de crimes na guerra civil;

Jurisdição temporal: Crimes cometidos desde o acordo de paz de Abija, 1996

Jurisdição pessoal: Responsáveis máximos pelos crimes cometidos, membros das missões de
paz da ONU e ECOWAS, menores entre 15 e 18 anos

Decidiram não julgar os menores de 18 anos

Jurisdição material: Crimes contra a humanidade, etc.

Houve um procurador internacional, apoiado pelo procurador adjunto nacional, câmara de


recursos (2 juízes nacionais e 3 internacionais), câmara de julgamento I (1 nacional, 2
internacionais), câmara de julgamento II (4 internacionais) e secção de registos e arquivo.

Ne bis in idem (Ninguém pode ser julgado duas vezes por um mesmo crime);

Limitação dos responsáveis a 20000 e não 30000 pessoas;

Acusações curtas e diretas, com a informação estritamente necessária;

Falta de recursos materiais e financeiros, compensada pelo envolvimento de faculdades de


direito locais e estrangeiras para poupar custos e honorários;

Criação de uma unidade da apoio às vítimas e testemunhas.

IMPORTANCIA DA EXISTENCIA DE COMISSOES DE VERDADE E RECONCILIAÇAO, A PAR DO


TRIBUNAL PENAL: No fundo, o ideal na justiça é a reconciliação. Seria que o ofendido e o
ofensor se reconciliassem. Que o ofensor pedisse desculpa e que o ofendido o desculpasse.
Mas às vezes é difícil. Estas são missões que procuram trazer as pessoas frente a frente para
contarem as suas experiências e pedirem desculpa, se possível. Isso garante paz. No Tratado
de Versalhes, por exemplo, não houve verdadeira reconciliação. O ideal é não apenas julgar e
castigar, mas esta reconciliação. Dá-se muita ênfase, no direito internacional, a esta justiça de
transição.

Dificuldades criadas pelas amnistias e imunidades concedidas pelos acordos de Lomé de 1999.
É de chamar a atenção para uma doutrina que envolvia o brasil no tribunal (…)-americano dos
direitos do homem.

Do ponto de vista do direito internacional penal e dos direitos humanos, as amnistias daqueles
que cometem crimes contra a humanidade não são válidas.

A constituição da serra leoa concede habeas corpus no caso de detenção por crimes
perdoados.

Os chefes de Estados (Charles Taylor) não podem invocar a imunidade de jurisdição diante dos
Tribunais internacionalizados – Tribunal de Recurso.

(O resto do powerpoint não será desenvolvido nas aulas)

Aula Prática DIP II Assistente António Malheiro 02/03/2017

2001 - Projecto de artigos sobre a responsabilidade internacional dos Estados da Comissão de


Direito Internacional da ONU

Projecto da Comissão de Direito Internacional da ONU de 2001

Estilo de lei-quadro, norma-quadro sobre a responsabilidade internacional dos Estados.


Quando um Estado comete um ato ilícito, viola uma norma imperativa de direito internacional,
incorrendo em responsabilidade perante o Tribunal.

Os Estados não têm legitimidade processual passiva, não podem ser demandados, ou seja, não
podem ser julgados no Tribunal Internacional Penal. A unidade primária do direito
internacional traduz que só os indivíduos podem ser demandados perante o Tribunal
Internacional Penal.

O tribunal internacional julga crimes internacionais, mas dos indivíduos.

Já o Tribunal Internacional de Justiça, julga Estados. Os indivíduos não podem ser demandados
perante o Tribunal Internacional de Justiça.

A ação do Tribunal Internacional Penal consta no Estatuto do Tribunal Internacional Penal,


Estatuto de Roma.

(Ir buscar à secção de textos, caso não tenha nos textos fundamentais: Direito Internacional
Público e Responsabilidade internacional dos Estados; Memorando da Organização Mundial de
Comércio, MERL; Trazer também, para as aulas, os textos fundamentais e a CRP.)

Daft articles (Projeto de artigos sobre a responsabilidade internacional)


Capítulo relativo aos Direitos Humanos

O Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça integra a Carta das Nações Unidas.

Falando do Tribunal Penal Internacional, já estamos a falar da implementação da Carta das


Nações Unidas, um estatuto que começou a ser produzido em 1998 e entra em vigor em 2002
– Estatuto de Roma, enquanto Estatuto do Tribunal Penal Internacional.

A ratio destes dois tribunais é exactamente a mesma. Atestam em termos práticos e


completos o modelo de direito internacional publico alicerçado na Carta das Nações Unidas, o
modelo da Carta das Nações Unidas : dignidade da pessoa humana, resolução pacífica de
conflitos, não uso da força nas relações internacionais. O Tribunal Internacional de justiça
permite que os conflitos sejam resolvidos de maneira pacífica, com recurso à via jurisdicional.

Outros tribunais internacionais são, nomeadamente, o Tribunal Internacional do Direito do


Mar, etc.

O Tribunal Internacional de Justiça é um tribunal constitucional das Nações Unidas. A ONU é


uma organização de Estados, logo, o TIJ regula conflitos entre Estados, tendo estes
legitimidade processual ativa e passiva. Quem tem a ativa é o sujeito que pode intentar uma
ação contra outro sujeito, perante um tribunal. O outro terá a legitimidade processual passiva
– o réu -, para que o processo decorra no órgão jurisdicional competente.

Quem pode ser demandado no TPI? Nunca os Estados, pois não têm legitimidade processual
passiva perante o tribunal, mas apenas os indivíduos.

2 situações distintas mas que podem coincidir: o mesmo facto pode originar 2
responsabilidades distintas

Isso também acontece na comunidade internacional

Caso prático

Cenários desagradáveis do qual resultam dois processos com a intervenção de duas jurisdições
ou tribunais distintos:

• O Estado A ataca o Estado B e comete atrocidades tais de perseguição étnica dentro do


Estado B. O que acontece? O Estado A, ao atacar o B, viola a proibição de utilizar a força, que
está na carta da ONU (norma de jus cogens, norma imperativa que impõe uma obrigação aos
Estados). Temos aqui responsabilidade internacional do Estado, pois provocou um ato ilícito. O
estado B um dia mais tarde pode vir a mover uma ação contra o A, no Tribunal Internacional
de Justiça.

a) O Estado A tinha um general/político que se lembrou de atacar o Estado B e cometer


aquelas atrocidades, ordenando a prática de atos que correspondem à tipologia de
crimes previstos no Estatuto de Roma, praticando o crime internacional de genocídio e
agressão – artigo 4º - crimes contra a humanidade, de guerra, de genocídio e de
agressão
Perante o Tribunal Penal Internacional, o Estado B não pode demandar o Estado A.
Pode é conseguir que o individuo x venha também a ser condenado pela prática desses
crimes.

b) Entretanto, quem determinou aquele ataque foi um indivíduo. Portanto, os indivíduos


também atacam os direitos dos outros – lado passivo -, podendo vir a comparecer
perante o Tribunal Penal Internacional, que, a partir de 2002, passou a poder ser
julgado por 4 crimes internacionais.
O próprio estatuto do TIJ tem a irrelevância da qualidade oficial, não podendo o
indivíduo defender-se pela qualidade com que o fez. Em última instância, o TIJ tem
como objectivo salvaguardar os direitos do homem.
(O Jonatas costuma misturar estas duas matérias nas provas)

Para além do principio da irrelevância da qualidade oficial, há o princípio da


complementaridade e da subsidiariedade. Quem deve condenar em 1ª instância devem ser os
próprios tribunais nacionais. O TPI só pode atuar a título complementar ou subsidiário. Uma
das razões de ser do TPI é exactamente essa. Mas afinal o que é que justifica a existência do
TPI? Muitas vezes, apesar da irrelevância da qualidade oficial, os políticos não são julgados
dentro do seu Estado.
Exemplo: Temos um ditador qualquer. Esse ditador atuou ou agiu dentro do seu Estado com
atos considerados crimes contra a humanidade. O ideal será que seja julgado dentro do
próprio estado, sendo uma pena justa para o ato que praticou. No entanto, esses indivíduos
têm sempre a protecção do seu Estado, não tendo um julgamento justo internamente.
Não sendo julgados nos tribunais internacionais, outros Estados podem vir a entregar o caso
aos tribunais internacionais, sem o consentimento daquele Estado. Dar-se-á uso a estes
tribunais, portanto, quando os indivíduos não forem julgados no próprio Estado.
Portugal tem uma jurisdição em que pode confiar-se, o que significa que a lei nº31/2004 de 22
de julho, adapta a legislação penal portuguesa ao Estatuto do Tribunal Penal Internacional. Os
tribunais portugueses podem e devem condenar os indivíduos que cometam crimes contra a
humanidade/de genocídio. Só quando os tribunais nacionais não julgam/não julgam
devidamente, atuará o TPI.
Artigo 1º do Estatuto do Tribunal Penal Internacional, Estatuto de Roma – tanto o TPI como o
TIJ têm sede em Haia.
O tribunal será uma organização permanente que julgará as pessoas responsáveis pelos crimes
internacionais de maior gravidade e será complementar das jurisdições penais internacionais.

Dica - Ver sempre que o mesmo facto pode dar origem a dois tipos de atuações perante o TIJ
ou o TPI.

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Aula Teórica DIP II 08/03/2017


[DIREITO INTERNACIONAL ECONÓMICO]
Cruzadas
A Europa e o Norte de África e o Médio Oriente faziam parte do Imperio Romano, que a certa
altura se tornou cristão com a conversão do Imperador Constantino. Mas no séc. V o Império
Romano caiu. 200 anos depois surge Maomé e o islamismo que começa a avançar no Norte de
África, avança pelo Médio Oriente, sobre a Península Ibérica e os reinos visigóticos cristãos,
depois começa a avançar pela actual Turquia (Imperio Romano do Oriente) ate quase chegar a
Constantinopla. Nessa altura, o Imperado do Imperio Romano do Oriente escreve uma carta ao
papa Urbano II no séc. XI (1095) e apela às Cruzadas. Os novos Europeus (Francos,
Germânicos; Italianos, Ingleses) aderiram.
- Para assegurar as peregrinações durante as Cruzadas, foi criada a Ordem dos Templários e
outras ordens militares.
Este sistema secreto esteve na origem da banca internacional. Os suíços tornaram-se
banqueiros ultra-secretos.
A Ordem dos Templários foi crescendo com muito dinheiro.
No período de D. Dinis em Portugal, o monarca francês Filippo (...) e o Papa (…)
O papa vai extinguir a Ordem dos Templários e matar o maior número de Templários possível
numa sexta-feira 13, em 1317.
No entanto, Jerusalém continua a ser ocupada pelos islâmicos
Portugal muda o nome da Ordem dos Templários, que passa para Ordem de Cristo. Mas o
símbolo (bandeira vermelha e símbolo branco) permanece o mesmo.

Implicações económicas:

As Cruzadas não tinham travado o islamismo e os islâmicos controlavam o comércio.

A Europa considerava isso uma ameaça à segurança da Europa. Isso vai começar a mudar no
séc. XV quando portugueses e espanhóis começam os seus descobrimentos, em busca de uma
rota que permita ao sector cristão, por um lado, levar a fé cristã a todo o mundo e conter o
avanço do islamismo na Europa. Por outro lado, desejavam retirar aos islâmicos o controlo das
rotas comerciais e o poder monetário que lhes permitia tornarem-se poderosos militar e
politicamente.

O objectivo era, apos o papa dividir os mares em 1484 e o Tratado de Tordesilhas, levar a fé
ma procurar caminhos alternativos para controlar a economia.

Desenvolveram a arte da navegação e o comércio, contando com os judeus como aliados. O


estatuto dos judeus não era “famoso”, pois os cristãos desconfiavam destes. Portanto,
proibiram-nos de ser detentores de latifúndios. Estes passaram a viver nas cidades (Lisboa,
Madrid, Haia…) e dedicavam-se às finanças, à ciência, medicina, etc. Vão-se tornar, com o
desenvolvimento da actividade comercial, muito ricos, assim como tinham já enriquecido os
templários. Beneficiaram muito desta nova economia comercial, burguesa, financeira.

Os portugueses e espanhóis retiram o controlo do comércio aos islâmicos com as rotas


marítimas. Isso vai significar a expansão do mundo cristão, ficando o islamismo bastante
enfraquecido, também com a revolução científica, tecnológica e industrial.
Dá-se uma crise significativa – a Reforma Protestante - , o cristianismo tinha-se tornado uma
religião da elite dos cavaleiros e prelados (nobreza) e o povo vai ser bastante reprimido com
impostos senhoriais, eclesiásticos e as indulgencias. A crítica intensifica-se e a Europa divide-se
em 2 partes: Católica e Protestante. O domínio português e espanhol vai ser disputado pelos
holandeses, ingleses e franceses. Fernando e Isabel vão expulsar os judeus e pressionar D
Manuel e D. João II também a expulsarem os judeus para reconquistarem toda a Península
Ibérica. Queria unificá-la sob o domínio cristão, expulsando, depois dos muçulmanos, os
judeus. Os judeus foram para o norte da Europa e consigo levaram tudo, superiorizando-se
estes países, começando uma guerra comercial entre o norte da europa (Protestantes) e o Sul
da Europa (Católico). Surgem batalhas, corsários, até ao ponto de, quando Portugal estava sob
domínio dos Filipes, Filipe II de Espanha e Filipe I de Portugal decidem atacar a Inglaterra e a
Holanda. Em 1588 vão lá com uma arma da invencível, são derrotados pelos ingleses e uma
tempestade no mar do norte. Isso significa que isto tem grandes implicações pois há uma
guerra comercial que vai ser intensificada pelas teorias económicas do proteccionismo,
mercantilismo e nacionalismo económico.

Grandes companhias comerciais e rivalidades, onde no séc. XVII, Adam Smith vai escrever um
livro sobre a natureza e causa da Riqueza das Nações e criticar essa teoria mercantilista,
defendendo que teríamos era de expandir as trocas comerciais, procurando racionalizar e
secularizar a economia.

Com as épocas napoleónicas, novas rivalidades, a Santa Aliança e nova rivalidade na Europa no
séc. XIX. A certa altura, após a Guerra dos 7 Anos, as Guerras Franco-Porceanas, os europeus,
em 1835, convocam uma Conferência em Berlim decidem fazer uma divisão por todos para
terminar as guerras que duravam há séculos. Isto gerou descontentamento para as partes. O
pretexto para iniciar nova guerra seria o assassinato do sucessor ao trono austro-húngaro. O
objectivo era os alemães vencerem os ingleses e os franceses.

Após a I Guerra Mundial, a II. Os judeus são perseguidos, dá-se o Holocausto e em 1948 dá-se
o reconhecimento do Estado de Israel.

Decidiram fazer um acordo económico (ppt contexto histórico)

Depois da I Guerra, a Grande Depressão, Crash da Bolsa de 1929, Discriminação económica,


Guerra comercial. Havia sempre uma base económica por detrás dos conflitos.

- Desenvolvimentos nos EUA, Europa (…)

- Acordo de Bretton Woods, 1944 – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundoal
(BM) (…)

Risco para os direitos humanos – Muito dinheiro

(ler mais sobre o Banco Mundial)

1994 – Painel de Inspeção do BM

Aula Prática António Magalhães 09/03/2017


CASO PRÁTICO

Em 6 de abril de 2011 o cidadão croata Davor Ive Khock foi detido pelas autoridades policiais
na capital Zagrev. Este cidadão tinha sido indiciado pela prática de crimes de guerra e de
crimes contra a humanidade, tendo o procurador do Tribunal Internacional dado início a um
inquérito sobre os referidos crimes, no dia 4 de janeiro de 2011. Paralelamente, o Ministério
Público do Estado da Croácia abrira um inquérito em 12 de fevereiro de 2011, respeitante à
prática daquele tipo de crimes pelo cidadão Ive Kock, e que conduziu à sua detenção no dia 6
de abril de 2011. Hoje, junho de 2011, o cidadão em causa é notificado para ser interrogado
pelo juiz de instrução criminal de primeira instância de Zagrev.

1. Diga, justificando, qual o tribunal competente para, em primeira linha, conhecer da


questão relativa à prática de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade,
praticados por esse cidadão. Não deixe de referir na resposta, se e em que termos,
pode o TPI intervir no julgamento desta questão.

Resposta: Estando em causa a prática destes crimes (contra a humanidade e de


guerra) quem deveria julgar seriam os tribunais croatas. Mas iriam julgar
efectivamente esse indivíduo?
A situação limite seria que os tribunais internacionais nada fizessem, desencadeando o
processo, o TPI.
Outra situação seria já estar a decorrer um processo num Estado, mas o TPI, tendo
conhecimento dos factos, não aceitar o julgamento pelos tribunais do Estado sob pena
de o indivíduo ficar preponido, sendo sua a última palavra.
Por outro lado, as penas e os crimes são imprescritíveis, assim também o são no
direito interno, ou seja, a prescrição dos crimes dá-se internamente – princípio da
prescritibilidade. Porém, no direito internacional penal não há prescrição de crimes
nem de penas, nem à face do Estatuto de Roma, do mesmo modo que no direito
interno sucede a mesma coisa. Os crimes prescrevem o direito interno se forem crimes
comuns. Se forem internacionais, também não prescrevem.

Estamos perante uma situação específica de responsabilidade penal internacional que nos leva
à aplicação do Estatuto de Roma do TPI. O Estatuto de Roma foi concluído em 1998 e, após as
necessárias ratificações, entrou em vigor em 2002. O Estatuto do TPI é uma convenção
internacional, um tratado internacional que foi produzido no âmbito de uma conferência
diplomática – artigo 38º do Estatuto do TPI e artigos 1º e 2º da Convenção de Viena.

O TPI está dotado de personalidade jurídica internacional e capacidade jurídica internacional


nos termos do Estatuto de Roma.

Vamos fazer intervir, neste caso, o TPI, o estatuto que o cria e que o regula, nomeadamente
que regula o processo no TPI. Quando falarmos de direito internacional penal e do TPI em
particular estamos no âmbito de matéria jurídico-internacional que respeita à protecção dos
direitos humanos e (…)

Por um lado, o direito internacional penal quer referir que se impõe a tutela e protecção dos
direitos da pessoa humana (jurisdicional) contra as ofensas mais graves à dignidade das
pessoas com âmbito internacional – necessidade de protecção dos direitos humanos contra as
ofensas que são perpretadas por outros sujeitos. Por um lado, a dimensão da protecção da
pessoa humana (reforço da ideia de que o indivíduo é o principal sujeito de direito
internacional e, em segundo lugar, quando se responsabiliza criminalmente esse mesmo
indivíduo no plano internacional pela prática desses crimes, estamos também a elevar a
personalidade jurídico-internacional, mas no âmbito pacífico.

Também é o indivíduo que é criminalizado, que vem a ser punido pela prática desses crimes e
a prova disso é um conjunto de normas que encontramos no Estatuto do TPI e no Estatuto de
Roma. O que está em causa é obviamente a protecção dos direitos humanos contra os
atentados/crimes, com uma responsabilização individual do indivíduo, o que leva à sua
criminalização e punição.

Antes de chegarmos a 2002 (entrada em vigor do TPI), tanto Portugal como o Brasil
ratificaram o estatuto do TPI, o que significa que prestaram o seu consentimento perante a
ordem jurídica internacional.

Toda a jurisdição internacional nunca é uma jurisdição compulsória. Qualquer decisão de uma
jurisdição internacional, para ser efectivada, necessita do consentimento desse estado –
Princípio da Consensualidade. É este princípio que está na base do acordo que é o Estatuto de
Roma e que foi, por isso, ratificado por Portugal e pelo Brasil.

Em 2003 foram nomeados os primeiros juízes para o TPI. Isto significa que o próprio TPI, no
âmbito do Estatuto, contempla um órgão sui generis, que não acontece com frequência
noutros tribunais. Estamos a falar (artigo 112º do Estatuto) na Assembleia dos Estados-Parte.
O próprio TPI tem este caráter sui generis. É um tribunal consensual, convencional - criado por
uma convenção (Estatuto de Roma/do TPI) - e é neste estatuto que encontramos este órgão
sui generis que é a Assembleia dos Estados-partes), o qual só vem assinalar o caráter
convencional do Estatuto.

Artigo 112º/1 – “É constituída pelo presente instrumento uma Assembleia dos Estados- parte.”

Uma das competências desta assembleia seria indicar e nomear os juízes para o tribunal
internacional.

Tendo presente o Estatuto de Roma, podemos dizer que para além do TPI ser considerado um
tribunal convencional, dizemos que este tribunal é também um tribunal permanente, por um
lado, e por outro, complementar e subsidiário.

É importante conjugar o preâmbulo deste estatuto com o artigo 1º, o qual diz que se cria um
tribunal internacional. Este, sendo uma instituição permanente. Nos termos do artigo 3º do
Estatuto, a sede é na Haia, Holanda. O TIJ também tem sede em Haia, tal como o TPI.

No final da II Guerra Mundial , em 1946 e 1948, impuseram-se 2 tribunais: o de Nuremberga e


o de Tóquio. Aí já podemos dizer que estamos perante dois verdadeiros tribunais
internacionais.
Outra questão problemática em torno do Tribunal de Nuremberga foi o facto de não estar a
ser observado em termos positivos, o princípio da legalidade penal e o princípio da tipicidade
penal, o que significa que não foi observado em termos positivos o princípio do nulum crimen
sine lege e da lei crimen sine lege. O mesmo sucede com a pena. Se ela não estiver já prevista
ao momento da prática do crime, não pode ser aplicada.

A questão que se colocou é que nos tribunais de Nuremberga e Tóquio, os acusados, foram-
nos por crimes contra a paz, a humanidade, de genocídio. Esses crimes não estavam previstos
na lei. Isto significa que se colocou a questão de como seria possível julgar pessoas sem haver
um crime tipificado na lei interna à data em que a conduta foi praticada? Invocaram-se como
fundamentos de atenuantes, o facto de estar a cumprir as leis dos Estados vencidos,
nomeadamente da Alemanha.

Apesar de não haver uma norma positiva escrita internacional (a convenção sobre o genocídio
só veio em 1948), entendeu-se que pelo menos essas condutas eram negadas, deviam ser
consideradas crime de acordo com a consciência axiológico-jurídica internacional.

Teria de haver um costume internacional. O desvalor da conduta, a censura ético-jurídica


relativamente àquelas condutas, era de tal modo grave que não faria sentido dizer que havia
um desconhecimento da norma.

Os Sete Princípios de Nuremberga mostraram que há determinado tipos de condutas que não
têm de estar tipificadas para que sejam consideradas crimes e, portanto, o indivíduo deve ser
responsabilizado pela prática dessas condutas.

Segundo patamar de tribunais que foram chamados Tribunais Penais Internacionais Ad Hoc
(depois do de Nuremberga) – Ex: TI da Jugoslávia e TI de Ruanda.

(Pergunta provável em exame– a ver com as jurisdições – noção de tribunais penais


internacionalizados/híbridos)

Tribunal Penal nternacionalizado/híbrido significa que estes tribunais não são verdadeiros
tribunais internacionais, são tribunais nacionais de raiz. Um exemplo foi o tribunal
internacional de Timor-Leste e o Tribunal do Cambodja e da Serra Leoa. São nacionais, mas na
constituição do tribunal recrutam-se juízes internacionais. A aplicação do direito até pela
fragilidade do direito interno, é também uma aplicação do direito internacional. Nestes
tribunais não temos portanto tribunais criados ao abrigo do direito internacional que aplicam
apenas o direito internacional. Temos tribunais nacionais que aplicam direito nacional e
internacional e o são por terem juízes internacionais. Distinguem-se dos tribunais
internacionais Ad Hoc.

Podemos dizer que os tribunais internacionais ad hoc, criados ao abrigo do direito


internacional, constituído por juízes internacionais e que aplicam o direito internacional,
assumem a natureza de órgãos subsidiários da ONU. São criados ao abrigo da carta das NU.

1998
2002 – TPI. Logo nos termos do seu artigo 1º, dizemos que em conjugação com o seu
preâmbulo, este tribunal é convencional, permanente, com jurisdição sobre as pessoas
responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance nacional e será complementar das
jurisdições penais nacionais.

Caraterística da complementaridade e da subsidiariedade – efectivamente, só irá atuar por e


na medida em que as jurisdições penais nacionais/internas o não façam. Este tribunal não é o
tribunal que esteja encimado uma hierarquia de tribunais penais. Se as jurisdições penais
nacionais não julgam devida e convenientemente de acordo com processo justo determinado
justo pela prática de crime internacional, intervirá. Se os TPI’s não atuam, subsidiariamente
atuará este. Quando se pergunta,, neste caso qual é o tribunal que deve atuar em primeira
linha, são os tribunais nacionais. Isto significa que há determinado tipo de crimes que atendem
ao alcance internacional e que atentam a segurança internacional. Pelo número de vítimas,
prática em larga escala, atrocidade cometida, atentam a ordem pública internacional, mas isso
não significa que tenhamos de esperar por uma instância internacional para jugar e condenar
um indivíduo pela prática desses crimes. Deverá ser o direito interno a tipificar em primeiro
lugar esse tipo de crimes e serão os tribunais internos a ter competência para julgar quem os
praticou.

Um crime de genocídio é também um crime internacional ao abrigo do direito interno.

Há legislação penal interna portuguesa respeitante aos crimes internacionais.

Lei 31/2004 de 22 de julho – Legislação interna portuguesa ao Estatuto de Roma (2004).

No anexo desta lei – artigo 1º, artigo 7º, artigo 8º, artigo 9º, artigo 10º/11; 10; 11, artigo 17º.

Princípio da aplicação no espaço – Todos os crimes que sejam praticados no espaço


português, o indivíduo é julgado no Estado português.

Princípio da territorialidade. Exceção: extradição

“Locus delicti commissi” – Lugar onde foi praticado/local do crime

Quando se pratica um crime tipificado pelo direito interno de um Estado como crime
internacional, esse indivíduo venha ser julgado nesse Estado, pelos tribunais desse Estado e
com a aplicação da legislação desse Estado.

Princípio da irrelevância da qualidade oficial – Quando um indivíduo é acusado da prática de


determinado crime, não pode invocar em sua defesa o facto de ter adotado esse conduta no
exercício de funções públicas/políticas.

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