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TRIBUNAL PENAL

INTERNACIONAL
Revolução no conceito de Soberania
• Princípios básicos estabelecidos pelos Tratados de
Westefalia de 1648:

• Soberania baseada no voluntarismo estatal ilimitado;

• Paridade de direitos entre os Estados


Novo conceito de Soberania
• Art. 53 da Convenção de Viena de Direitos dos Tratados (1969):

É nulo todo o tratado que, no momento da sua conclusão, seja


incompatível com uma norma imperativa de direito internacional
geral. Para os efeitos da presente Convenção, uma norma imperativa
de direito internacional geral é uma norma aceite e reconhecida
pela comunidade internacional dos Estados no seu todo como
norma cuja derrogação não é permitida e que só pode ser
modificada por uma nova norma de direito internacional geral com
a mesma natureza.
EVOLUÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PENAL

• Crimes de repercussão em âmbito internacional, com


violação de valores individuais básicos.

• Direitos Humanos com caráter de supremacia ante as


normas de soberania interna.

• O indivíduo como sujeito de direito internacional.


Corte Internacional de Justiça x Tribunal Penal
Internacional
• CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA – JULGAMENTO DE ESTADOS

• TPI – JULGAMENTO DE PESSOAS FÍSICAS – Art. 25 Estatuto de Roma:

Artigo 25
Responsabilidade Criminal Individual
1. De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente para julgar as pessoas
físicas.
2. Quem cometer um crime da competência do Tribunal será considerado individualmente
responsável e poderá ser punido de acordo com o presente Estatuto.
Direito Internacional Penal x Direito Penal Internacional

“Corpo de regras internacionais destinadas tanto à proibição dos


crimes internacionais como à imposição sobre os Estados de
processar e punir pelo menos alguns desses crimes. Também
regula procedimentos internacionais para processar e julgar
pessoas acusadas de tais crimes.” (Antonio Cassese)

Campo do direito interno que pretende regulamentar a interação


do direito penal nacional com o estrangeiro a fim de resolver os
conflitos de leis e de jurisdição em um espaço.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Tratado de Versalhes : determinação expressa de


responsabilização penal do Kaiser Guilherme II e seus
colaboradores civis. Prevendo, inclusive, constituição de
um tribunal para julgá-lo.

Convenção de Paris de 1928: guerra ilícita.


EVOLUÇÃO HISTÓRICA

• Consenso internacional unânime – criação de tribunais de exceção

• Tribunal Militar de Nuremberg


• Tribunal Militar de Tóquio

• Tribunais AD HOC - Competência de criação pelo Conselho de Segurança


baseados no Capitulo VII da Carta da ONU

• Tribunal Penal para a Ex-Iugoslávia


• Tribunal Penal para Ruanda
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

O Tribunal Penal Internacional (TPI) nasce do Estatuto


de Roma em 17 de julho de 1998, entrando em vigor
internacional efetivamente em 1º de julho de 2002 ao
atingir a 60ª ratificação.

O ESTATUTO POSSUÍ 128 ARTIGOS E SE DIVIDE EM 13


PARTES
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL -
PREÂMBULO
Os Estados Partes no presente Estatuto.
Conscientes de que todos os povos estão unidos por laços comuns e de que suas culturas
foram construídas sobre uma herança que partilham, e preocupados com o fato deste delicado
mosaico poder vir a quebrar-se a qualquer instante,
Tendo presente que, no decurso deste século, milhões de crianças, homens e mulheres têm
sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a consciência da
humanidade,
Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à segurança
e ao bem-estar da humanidade,
Afirmando que os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade internacional no seu
conjunto, não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser efetivamente assegurada
através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço da cooperação internacional,
Decididos a por fim à impunidade dos autores desses crimes e a contribuir assim para a
prevenção de tais crimes,
(...)
PRINCÍPIOS
• Princípio da Responsabilidade Penal Internacional do Indivíduo
• Princípio da Complementariedade e Jurisdição Universal
• Princípio da legalidade (Art. 22 e 23 do Estatuto de Roma)

Artigo 22
Nullum crimen sine leqe
1. Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, nos termos do presente Estatuto, a
menos que a sua conduta constitua, no momento em que tiver lugar, um crime da competência do Tribunal.
2. A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será permitido o recurso à
analogia. Em caso de ambiguidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito, acusada ou
condenada.
Artigo 23
Nulla poena sine lege
Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser punida em conformidade com as disposições do
presente Estatuto.
PRINCÍPIOS
• Princípio do ne bis in idem (art. 20 do Estatuto de Roma)
• Princípio da irretroatividade (art. 24 do Estatuto de Roma):
Artigo 24
Não retroatividade ratione personae
1.Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de acordo
com o presente Estatuto, por uma conduta anterior à entrada em vigor do
presente Estatuto.
2. Se o direito aplicável a um caso for modificado antes de proferida
sentença definitiva, aplicar-se-á o direito mais favorável à pessoa objeto de
inquérito, acusada ou condenada.
PRINCÍPIOS
• Princípio da imprescritibilidade (art. 29 do Estatuto de Roma)
• Princípio da irrelevância da função oficial, responsabilidade de
comandantes e superiores hierárquicos (art. 27 do Estatuto de Roma)
– importado dos julgamentos dos tribunais de exceção da segunda
guerra mundial
“As obrigações internacionais que se impõe aos
indivíduos tem primado sobre o seu dever de obediência
para com o Estado a que pertencem. Aquele que violou as
leis da guerra não pode, para se justificar, alegar o
mandato que recebeu do Estado, uma vez que o Estado,
dando-lhe este mandato, ultrapassou os poderes que lhe
reconhece o direito internacional.
COMPETÊNCIA MATERIAL DO TPI

a) O crime de genocídio;
b) Os crimes contra a Humanidade;
c) Os crimes de guerra;
d) O crime de agressão.
COMPETÊNCIA MATERIAL DO TPI
Artigo 6o
Crime de Genocídio
Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer
um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no
todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal:
a) Homicídio de membros do grupo;
b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a
sua destruição física, total ou parcial;
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do
grupo;
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.
COMPETÊNCIA MATERIAL DO TPI
Artigo 7o
Crimes contra a Humanidade
1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando
cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque:
a) Homicídio;
b) Extermínio;
c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional;
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de
violência no campo sexual de gravidade comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais,
religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3 o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como
inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do
Tribunal;
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a
integridade física ou a saúde física ou mental.
COMPETÊNCIA MATERIAL DO TPI
Artigo 8o
Crimes de Guerra
1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular
quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou como
parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes.
2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra":
1. Violações graves às Convenções de Genebra de 1949
2. Violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados
internacionais
3. Conflitos não internacionais
4. Outras violações graves das leis e costumes
aplicáveis em conflitos não internacionais
COMPETÊNCIA MATERIAL DO TPI
Crime de Agressão – é uma flagrante manifestação do uso ilícito da força – penalização dos
responsáveis pela arquitetação do ataque

• Conferência de Revisão do Estatuto de Roma, realizada em Kampala no ano de 2010 adotou a definição
e condições de exercício
• Jurisdição do Tribunal ficaria suspensa mais uma vez até que pelo menos 30 Estados ratificassem ou
aceitassem as emendas necessárias.
• A ativação de sua jurisdição deu-se em 2017 durante a 16ª Sessão da Assembleia dos Estados Partes
realizada em Nova Iorque

Entende-se por “ato de agressão” o uso de força armada por parte de um Estado contra a soberania,
integridade territorial ou independência política de outro Estado, ou de qualquer outra forma
incompatível com a Carta das Nações Unidas.
COMPETÊNCIA RATIONE LOCI

• Jurisdição universal: qualquer Estado


participante, independentemente da
nacionalidade dos criminosos ou do lugar em
que foram cometidas as infrações, tem o dever
de reprimir os autores de tais atos.
COMPETÊNCIA RATIONE TEMPORIS

• Jurisdição apenas nos crimes cometidos após a entrada em vigor (Art. 11 do Estatuto
de Roma):

1. O Tribunal só terá competência relativamente aos crimes cometidos após a entrada em vigor do
presente Estatuto.
2. Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto depois da sua entrada em vigor, o Tribunal só
poderá exercer a sua competência em relação a crimes cometidos depois da entrada em vigor do
presente Estatuto relativamente a esse Estado, a menos que este tenha feito uma declaração nos termos
do parágrafo 3 o do artigo 12.
COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

• Restrito a pessoas físicas.


• Não tem jurisdição para menores de 18
anos na data da prática dos atos
The ‘trigger mechanisms’
Existem três maneiras de levar uma questão ao
Tribunal:
• Encaminhamento por um Estado Parte;
• Encaminhamento pelo Conselho de Segurança
agindo nos termos do Capítulo VII da Carta da ONU;
• Instituição de investigação do Procurador por sua
própria iniciativa.
INSERÇÃO DO ESTATUTO DE ROMA NO
BRASIL
• Art.84, VIII da CF/88: competência privativa do Chefe do poder executivo celebrar
tratados, com auxílio do Ministro das Relações Exteriores.

• Assinatura do Estatuto de Roma em 7 de fevereiro de 2000.

• Art. 49, I da CF/88: Cabe ao Congresso Nacional decidir se irá ratificar ou não ao Tratado.

• Inicio da apreciação pelo Congresso em 10 de outubro de 2001.

• Aprovado em 06 de junho de 2002 por meio do Decreto Legislativo nº 112.

• Deposito da ratificação perante o Secretário da ONU em 20 de junho de 2002.

• Promulgação do decreto presidencial 4388 e 25 de setembro de 2002.


ANTINOMIAS ENTRE O ESTATUTO E A CF/88

a) a entrega de nacionais ao Tribunal;


b) a instituição da pena de prisão perpétua,
c) a questão das imunidades em geral e as relativas ao foro por prerrogativa
de função;
d) a questão da reserva legal; e
e) a questão do respeito à coisa julgada.
O Brasil e o TPI
• O Brasil é parte do Estatuto de Roma e encontra-se submetido ao TPI.

• O Brasil atua em cooperação internacional com o TPI.

• É possível a “entrega” (não a extradição) de brasileiros para o processo e julgamento


no TPI e para cumprimento de pena determinada pelo Tribunal.

• A participação do Brasil no TPI não exclui a participação em outros tribunais penais ou


de direitos humanos que sejam internacionais.

• O Brasil está vinculado ao TPI não só por ser signatário do Estatuto de Roma, mas
também em razão do artigo 5º, §4º da CF/88 que assim dispõe: “O Brasil se submete
à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.

(PORTELA, 2010, p. 432, 441)

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