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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Unidade Betim

Disciplina: Direito Internacional Público

Professor: Jairo Coelho Moraes

AULA: Histórico e noções introdutórias ao estudo do Direito Internacional Público


(Fundamentos, origens, fins e objeto)

1) Direito Internacional Público (DIP) - conceito, objeto, sujeito, natureza, fins e caracteres

A expressão DIP: Jeremy Bentham (1780, An Introduction to the principles of moral and
legislation) - expressão “international law”: afirma a existência de um direito “entre as
nações”, um direito “entre Estados”. Há doutrina que defenda o resgate da expressão direito
das gentes por creditá-la ser mais abarcativa do fenômeno do direito praticado na esfera
internacional.

1.1) Conceituação doutrinária e seus elementos constitutivos:

- Conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeiras e convencionais) que regula a conduta


da sociedade internacional (formada pelos Estados, pelas organizações internacionais e
também pelos indivíduos), visando a alcançar as metas comuns da sociedade internacional,
almejando, entre outros, o alcance da paz, da segurança e da estabilidade das relações
internacionais.

- Conjunto de regras que governam as relações dos homens pertencentes aos vários grupos
nacionais.

- Conjunto de regras que regem as relações entre os Estados. (conceito restrito).

- Conjunto de normas jurídicas que rege a comunidade internacional, determina direitos e


obrigações dos sujeitos, especialmente nas relações mútuas dos estados e, subsidiariamente,
das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, bem como dos
indivíduos. (conceito abrangente, acorde às mutações do tempo).

- O Direito Internacional Público disciplina a sociedade internacional, formada por Estados e


organizações internacionais interestatais, e, ainda, pela atuação dos indivíduos no plano
internacional.

- Sociedade internacional: o conjunto de nações civilizadas (conceito dinâmico, em mutação).

- Estados: legitimidade para criar entidades (organizações interestatais); reconhecer direitos


(v.ġ., o direito de acesso aos indivíduos às instâncias internacionais de direitos humanos-
somente possível quando um Estado ratifica o tratado em que esse direito é assegurado).

- Sujeitos e atores internacionais: multiplicidade de atores mundiais: Estados, organizações


interestatais, organizações internacionais (ONGs), empresas transnacionais, indivíduos.

- Relevância atuacional de organismos econômicos e culturais: globalização


econômica/cultural - comércio internacional, investimentos internacionais, desenvolvimento
dos transportes e das telecomunicações.
- Fins do Direito Internacional Público (DIP): cooperar para a tratativa da complexidade que
envolve a sociedade global (complexidade de natureza vária: econômica, cultural, migratória,
belicismo, biossegurança, etc).

1.2) Objeto:

a) convivência harmoniosa/respeitosa - manutenção da paz e segurança internacionais;

b) enfrentamento de desafios comuns: proteção ao meio ambiente, segurança climática,


combate a crimes transnacionais;

c) cooperação de natureza vária: relações econômicas internacionais (comércio internacional,


cooperação monetária), relações culturais, entre outras.

- Desafios globais contemporâneos: paz entre nações, migração, meio ambiente, proteção aos
direitos fundamentais, terrorismo, ataques ao regime democrático, outros.

- Direito interno e direito internacional:

a) Direito interno: categorização - direito público- relações de subordinação entre o estado e


os indivíduos (direito constitucional, administrativo, previdenciário e tributário); direito
privado - relações de coordenação entre particulares (direito civil, societário, trabalhista,
consumerista, etc.);

b) Direito internacional (externo): relações isonômicas, relacionais entre sistemas jurídicos,


fundadas na soberania, na independência, no princípio da não ingerência nos assuntos
internos.

1.3) Natureza do DIP: correntes afirmativas e negativas

1.3.1) Negacionistas:

- Negação do caráter jurídico do direito internacional: ausência de leis internacionais, de


tribunais ou de sanções.

- Redução do DIP a um sistema de relações de força, em que os estados observam, em suas


relações, para evitar conflitividades, normas que consideram obrigatórias, vinculantes e
restritivas do exercício das respectivas soberanias nacionais.

- Redução do DIP a conjunto de postulados de moral internacional.

1.3.2) Reconhecedores:

- Oposição ao argumento da ausência de lei: não se deve confundir lei com direito. Desde a
criação das Nações Unidas, a sociedade internacional tem adotado uma série de tratados
multilaterais, destinados a regulamentar as relações internacionais, sem falar nas regras de
direito internacional costumeiro, ou consuetudinário, observadas pelos estados em suas
relações recíprocas.

- Ausência de tribunais: paulatina instauração de mecanismos institucionais de solução de


controvérsias entre estados:
 Corte Permanente de Arbitragem ( Haia,1899);
 Corte Permanente de Justiça Internacional, atuante entre as duas guerras mundiais;
 Corte Internacional de Justiça (desde 1946, sucessora da Corte Permanente);
 Tribunal Internacional para direito do mar (estipulado pela Convenção das Nações
Unidas para Direito do Mar, 1982, instalado e em operação desde 1996);
 Tribunal Penal Internacional (estipulado pelo Estatuto de Roma, de 1998, instalado
desde 2002);
 Tribunais internacionais ad hoc, criados pelo Conselho de Segurança das Nações
Unidas ( vg: casos da ex-Iugoslávia e Ruanda).

NB: o Tribunal Penal Internacional para o Ruanda, criado em 1994 pelo Conselho de
Segurança das Nações Unidas, objetivava julgar os responsáveis pelo genocídio e outras
violações das leis internacionais acontecidas no território nacional de Ruanda em 1994,
causado por oficiais e cidadãos ruandenses entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 1994. O
Tribunal teve jurisdição sobre genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra, que
são definidos como violações de artigos relativos a genocídios cometidos em conflitos internos,
como dispõe a Convenção de Genebra. Logo, o Estado não é a única fonte de direito.

1.4) Objetivos/fins do DIP: assegurar princípios/valores fundamentais afirmativos da


dignidade da pessoa humana. O circunstancial pertence à política, Emer de VATTEL (jurista
prussiano, 1758, O Direito das Nações), o substancial pertence ao direito (internacional).

O que importa em: interdição de atos de agressão, a proibição do genocídio, as obrigações


concernentes à proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana, as obrigações ligadas
ao direito de autodeterminação dos povos e as obrigações relativas à proteção internacional
do meio ambiente constituem exemplos de obrigações que refletem os referidos valores
fundamentais.

- Vattel: O direito das gentes necessário: “é da maior importância para as nações que o direito
das gentes, base de sua própria tranquilidade, seja respeitado universalmente. Se alguma
nação espezinhar abertamente esse direito, todas podem e devem insurgir-se contra ela, e ao
reunirem suas forças, para punir esse inimigo comum, elas estão cumprindo seus deveres,
para consigo mesmas e para com a sociedade humana, da qual são membros”

- Direito internacional cogente (jus cogens) ou normas cogentes de direito internacional geral:
direitos humanos ou direitos do homem, os quais, na formulação do Instituto de Direito
Internacional (Santiago de Compostela, 1989), são a expressão direta da dignidade e da
personalidade humana. Dignidade proclamada pela Carta das Nações Unidas e pela Declaração
Universal dos Direitos do Homem (Assembleia Geral da ONU, 1948).

- Corte Internacional de Justiça: obrigação que se reveste de caráter erga omnes e dever de
solidariedade entre todos os Estados.

- Carta das Nações (São Francisco, 1945): atribui aos órgãos das Nações Unidas, em caso de
violação das obrigações assumidas pelos membros da Organização, os estados, agindo
individual ou coletivamente, o direito de adotar, com relação a qualquer outro estado que
tenha infringido as obrigações de proteção dos direitos fundamentais, quaisquer medidas
diplomáticas e econômicas admitidas pelo direito internacional, desde que não comportem o
uso de força armada, de modo a constituir violação da Carta das Nações Unidas.
- Reconhecimento da existência e conteúdo de normas inderrogáveis e de obrigações erga
omnes: Resoluções do Instituto de Direito Internacional (IDI) são sempre marcos relevantes
na afirmação e na conceituação de desenvolvimento de direito internacional, cujos textos
recentes tiveram considerável impacto sobre o direito internacional pós-moderno.

Na Resolução a respeito da competência universal em matéria penal, com relação ao crime de


genocídio, aos crimes contra a humanidade e aos crimes de guerra, adotada pelo Instituto de
direito internacional (na sessão de Cracóvia, em 2005), mais uma vez o Instituto enfatiza serem
os valores fundamentais da comunidade internacional violados pelos crimes internacionais
graves, tais como definidos pelo direito internacional, e, desse modo, assinala ter a
competência universal por objeto proteger tais valores, especialmente a vida humana, a
dignidade humana e a integridade física, ao permitir sejam processados crimes internacionais.

A obrigação erga omnes é:

(a) obrigação decorrente do direito internacional geral, em relação à qual o estado, em


qualquer circunstância, tem a obrigação de observar, quanto à comunidade internacional, com
base em valores comuns e no próprio interesse do estado, que tal obrigação seja respeitada,
de maneira que a sua violação autoriza todos os estados a reagirem contra a referida violação;
ou

(b) obrigação decorrente de tratado multilateral, em relação à qual o estado-parte nesse


tratado tem a obrigação de observar, em qualquer circunstância, em relação a todos os
estados partes no tratado, em razão de valores comuns e do interesse de todos, que tal
obrigação seja respeitada, de tal modo que a sua violação autoriza todos os estados a
reagirem.

- Apreciação: Corte Internacional de Justiça ou perante outro tribunal internacional a demanda


relativa à controvérsia em questão.

- Disciplina:

Todos os estados aos quais tal obrigação é devida devem:

a) se empenhar em pôr termo a tal violação, recorrendo aos meios lícitos, em conformidade
com a Carta das Nações Unidas;

b) devem se abster de reconhecer como lícita qualquer situação decorrente desse ato violador;

(c) têm a faculdade de tomar as contramedidas, que não impliquem uso da força, nas
condições análogas às que seriam aplicáveis por estado diretamente atingido.

- Alguns instrumentos ratificados pelo Brasil:

a) a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989;

b) a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990;

c) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992;

d) a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992;

e) a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,


em 27 de novembro de 1995.
1.5) Características do Direito Internacional Público

a) Inexistência da centralização de poder (peculiar ao Direito interno dos Estados): inexiste


centralização de poder e de uma autoridade com poder de impor aos Estados as suas decisões.

Não existe ainda, na órbita internacional, nenhum órgão com jurisdição geral capaz de obrigar
os Estados a decidirem ali suas contendas - a participação de Estados em tribunais
internacionais requer o consentimento expresso destes, sem o qual o tribunal respectivo não
poderá exercer a sua jurisdição.

b) Ausência de hierarquia normativa na ordem jurídica internacional: logo, se uma norma de


Direito Internacional é superior às outras – como é o caso da Carta das Nações Unidas, em
virtude do seu art. 103 – é porque os Estados aceitaram que assim deva ser.

c) Inexistência de atuação de um tribunal (judiciário) sem o aval, a adesão dos Estados que
lhes reconheça a atuação.

d) Relações coordenadas/horizontalizadas de poder (diversamente do que ocorre no direito


interno estatal, de natureza verticalizada, subordinativa): a subordinação – clássica na ordem
interna – dá lugar à coordenação na ordem internacional, motivo pelo qual a vontade (ou
consentimento) dos Estados ainda é o motor da sociedade internacional contemporânea.

2) Fundamentos antropológicos e históricos do Direito Internacional Público (DIP)

2.1) Homem= ser gregário/ser político (zoon politikon)/animal geneticamente social/homo


juridicus: Ubi homo, ibi societas, ubi societas, ibi jus.

- Henri Wallon (1879-1962): a inteligência humana é genética e organicamente social; a


estrutura orgânica humana supõe a intervenção da cultura para se atualizar, para romper com
o estado de potência e tornar-se ato, plenitude, realidade.

2.2) Experiência vital e humana: diversidade – o universo, as múltiplas formas de vida são
multiformemente diversificadas, variadas, diferentes entre si. A diversidade é marca essencial
da vida. Diferença não é sinonímia de deficiência!

2.3) Devir histórico da humanidade e bases do direito intergentes:

- Bandos;

- Gens/cúrias/fratrias/tribos;

- Cidades – civilizações;

- Estados Modernos - com fundamentos geográficos, culturais, religiosos, econômicos,


políticos e outros.

- Dimensão comunitária (affectio communitatis- aspecto comunal, identificativo, solidário,


espontâneo) do homem e dimensão societária (affectio societatis - pragmático-racional,
volitivo-contratual).
a) Antigos: Antiguidade pré-romana (+- XX a. C): tratados celebrados entre nascentes cidades-
Estado mesopotâmicas; entre povos (egípcios e hititas, persas e hebreus, etc).

Direito consuetudinário: direito internacional geral de facto - regramento: inviolabilidade de


arautos e mensageiros; obrigatoriedade (e não mais sacralidade) dos tratados (pacta sunt
servanda); boa-fé (bona fides) na interpretação e aplicação dos tratados; estatuto jurídico dos
estrangeiros: asilo, relações familiares (commercium et connubium); sanções de direito
internacional e especialmente em matéria de guerra e conflitos armados.

b) Grécia Antiga: instituições do direito das gentes - a arbitragem, como modo de solução de
litígios; o princípio da necessidade da declaração de guerra; a inviolabilidade dos arautos; o
direito de asilo; a neutralização de certos lugares; a prática do resgate ou da troca de
prisioneiros de guerra etc.

c) Roma: tribos itálicas - federação itálica (República romana) – Império: a universalidade do


império impelia ao reconhecimento de uma ordem jurídica internacional.

- Jus fetiale: instituto de caráter nitidamente religioso; preceitos relativos à relação de Roma e
Estados estrangeiros ( declaração da guerra/paz, etc);

- Jus gentium: direito universalmente aplicável a todas as gentes (livres) do império. Inaugura-
se a ideia de lei universal, ligada à natureza do homem (não todos, em face da escravidão
legal), para regular a convivência entre as gentes, em toda a extensão do império romano;

O jus gentium (direito das gentes) – dois sistemas jurídicos - o jus civile, aplicável às relações
entre os cidadãos romanos e o jus gentium, aplicável às relações entre os cidadãos romanos e
os estrangeiros ou entre os estrangeiros.

- Alguns instrumentos - Edito de CARACALA (212 ): nacionalidade a todos os povos do Império,


tornados cidadãos romanos; Edito de Milão, 312, liberdade de crença.

d) Idade Média (V-XV):

- Cultura eclesiocêntrica;

- Unidade cultural;

- Natureza extra/supranacional do direito canônico (aplicável no vasto território das


populações medievais europeias);

- Desenvolvimento de códigos comerciais e marítimos (que, embora fossem expressões do


direito interno, evidenciavam o incremento das relações internacionais);

- Influência islâmica e ruptura da unidade mediterrânica e da Antiguidade: distinção entre o


Ocidente e o Oriente, o que pôs fim à unidade mediterrânea.

- O Sacro Império Romano-germânico (sec VIII) - CARLOS MAGNO e sucessores: poder


temporal e religioso no controle das relações de poder.

e) Modernidade (XV-XVII): Revoluções Científicas, Navegações, Expansionismo, Estado


Moderno, Renascimento e Reforma Protestante.
- Contexto: grandes descobrimentos, Renascimento e a Reforma Religiosa e a criação do
direito internacional, como forma de reger a convivência entre as unidades políticas –
afastamento da influência da Igreja e do papado como árbitros supremos das controvérsias
entre os soberanos.

- Economia e direito mercantil – o desenvolvimento do comércio marítimo foi outro elemento


que concorreu para a formação de novas regras de direito internacional, inscritas em coleções
de leis ou costumes marítimos. Por sua vez, estas estarão na base da construção de nova lex
mercatoria, que se reflete no surgimento e no desenvolvimento do conjunto do direito e do
comércio internacional.

- Conflitos político-econômicos e religiosos, sec. XVI: violência e da força; guerras de religião -


guerra dos “trinta anos”: desenvolvimento e consolidação, com objeto e método próprios, do
direito internacional, independentemente de fundamentação transcendental – formulação de
princípios, normas e instituições:

- Enfraquecimento do poder eclesial e resgate do poder do soberano: formação do Estado:

1) Reforma Protestante, guerras religiosas - Guerra dos Trinta Anos: várias nações europeias,
acentuadamente na Alemanha (católicos X protestantes);

2) Tratados de Westphalia (1648) - composto pelos tratados de paz de Munster e de


Osnabruck - o sistema de Vestfália, firmado na Vestefália: encerraram a Guerra dos Trinta
Anos (1618–1648) e a Guerra dos Oitenta Anos (1568–1648) e marcam o surgimento do
direito internacional como ramo autônomo do direito: consolidação de um sistema
interestatal, lançando-se as bases do moderno Direito Internacional, em que prevalece a
soberania dos Estados, em contraposição à supremacia religiosa: Dinâmica entre poder
secular e poder religioso (política/religião). Eis o devir histórico dos instrumentos de
consagração da paz entre nações, de direitos e de liberdades:

 Questão religiosa/protestantismo alemão - 1517, monge alemão Martinho Lutero


(Universidade de Wittenberg, Ducado da Saxônia) publica 95 teses criticando abusos
cometidos pela Igreja Católica.
 Em 1521 o Papa Leão X excomungou Lutero e o imperador Carlos V sancionou o Edito
de Worms, que declarava Lutero fugitivo e herege, proibindo-se o acesso a suas obras
em todo o Império. Lutero recebe proteção de Federico III, da Saxônia e de outros
nobres alemães, ampliando-se a Reforma Religiosa
 1526, a Dieta de Espira: assembleia de nobres, leigos e religiosos que tinha funções
legislativas – reconhece a cada Estado deverá viver, governar e crer como deseje e
confie, respondendo ante Deus e sua Majestade Imperial. Tratava-se de um armistício
religioso, durante o qual ficava suspenso o Édito de Worms, que proibia o luteranismo.
Ampliava-se o luteranismo, sobretudo no norte da Alemanha.
 1529- Dieta de Espira: Carlos V voltou a convocar a Dieta Imperial em Espira, com a
intenção de revogar a trégua de 1526 e restabelecer plenamente o Edicto de Worms
para combater definitivamente ao luteranismo e obrigar os príncipes a impor o
catolicismo no Sacro Império Romano-Germânico.
 Protesto de Espira (1529): documento assinado por príncipes e cidades livres
alemães do Sacro Império Romano Germânico apresentado em protesto contra o
Edito do Imperador Carlos V, que anulava a tolerância religiosa que havia sido
legalmente concedida aos principados alemães.
 Príncipes luteranos rejeitam a posição reforçando o conteúdo da Dieta de 1526 -
tolerância religiosa: em assuntos de consciência, a maioria não tem poder , foi o
princípio no que se baseou a posição dos luteranos. No Protesto se sustentava que a
autoridade secular não poderia impor sua autoridade em matéria de fé. Embora não
recebida pelo rei, a carta fora impressa e publicizada. (outros movimentos: Henrique
VIII, Anglicanismo, na Inglaterra e o francês João Calvino, Calvinismo, na Suíça).
 Em 1531 os Estados luteranos formaram a Liga de Esmalcalda - guerras contra o
imperador Carlos V (Guerra de Esmalcalda, 1546-1547, favorável ao império) e a
Guerra dos Príncipes (1552-1555, favorável aos protestantes), que finalizou com a Paz
de Augsburgo. Resultados:

a) divisão do Império em duas confissões cristãs (luterana e católica) e

b) outorgou aos príncipes alemães a capacidade de eleger a confissão a ser praticada


em seus Estados – princípio cujus regio, eius religio.

 Ampliação da divisão religiosa dos Estados do Sacro Império com culminância na


deflagração da sangrenta Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que envolveu toda a
Europa e encerrada apenas com a Paz de Westfalia, que marcou o nascimento da
ordem internacional moderno baseado no Estado-nação.
 O princípio cuius regio, eius religio: cuja região, sua religião; cujo reino/príncipe cuja
religião; de acordo com a sua região, sua religião, ou seja, a religião do governante
deverá ser acatada pelos governados. A adoção do princípio transforma a religião
institucional em elemento da vida política. Antes da pactuação desse princípio, quando
vigorava a intolerância religiosa, acreditavam os governantes que a diversidade de
religião enfraquecia o governo do Estado, atenuando o controle exercido sobre os
governados.
 Segundo a política “cuius regio, eius religio” (tal príncipe, sua religião), a religião
(católica ou luterana) do príncipe seria aquela à qual os súditos desse príncipe
deveriam se converter. Para isso, concedera-se um período de transição no qual os
súditos podiam escolher qual governante e qual religião queriam seguir.

O princípio forma a substância da nominada Paz de Augsburgo (Paz Augusta), um


tratado assinado entre Carlos V, imperador do Império Romano-Germânico e as forças
da Liga de Esmalcalda, no ano de 1555 na cidade de Augsburgo, hoje Alemanha. Pelos
termos do tratado de paz cada líder estatal alemão poderia escolher a sua própria
religião, ficando os seus súditos obrigados a aceitar a escolha feita. A paz ofereceu a
confirmação imperial do princípio que tinha sido promulgado na Confissão de
Augsburgo de 1530. O princípio da Dieta de Augsburgo significava que os príncipes
territoriais e cidades livres ganharam a liberdade de prescrever a fé local, o direito de
introduzir a fé luterana (o jus reformandi) e direitos iguais no Sacro Império com
estados católicos.
 Resultados finais:
a) aceitação/tolerância do Protestantismo luterano dentro do Sacro Império Romano
Germânico;
b) cessação (provisória) de conflitos entre católicos romanos e protestantes luteranos
na Alemanha do século XVI, durante o reinado de Carlos V;
c) confisco das terras da Igreja Católica que foram tomadas pelos protestantes
passaram a fazer parte dos bens da Igreja Luterana.
d) cogência jurídica e extensão do princípio da liberdade/autonomia religiosa-
política: aplicável, em regra, a todos os territórios do Império, embora afastasse e
punisse severamente outras práticas (calvinismo, anabatismo) distintas do catolicismo
e do luteranismo, constituiu um marco na conquista da liberdade coletiva no exercício
da religião. Tratou-se de um compromisso legal, pactuado entre governantes para
permitir o pluralismo religioso dentro de um único território.

e) Tratado de Vestfália:

a) afirmação da soberania entre os Estados;

b) obrigação de não intervenção nos assuntos internos e

c) igualdade jurídica.

- Iluminismo e consolidação do DPI: cria-se a história do direito internacional como novo


campo de estudo, ainda relutante em chamá-lo de ciência. Trata-se da conscientização do
trajeto já percorrido, a preparar o caminho para o futuro: a construção da utopia, com a
multiplicação das formulações dos projetos para tornar perpétua a paz na Europa (destaque,
entre outros, para Immanuel KANT, na obra Ensaio sobre a paz perpétua (1795).

f) Contemporaneidade: complexificação da sociedade internacional, séculos XVIII/XXI:

Marcos Históricos: tratados de Vestfália (1648) até Viena (1815); do tratado de Viena (1815)
até Versalhes (1919); do tratado de Versalhes ao contexto presente.

1) Revolução Francesa (1789): declínio do Absolutismo; pilares da democracia


representativa; iluminismo liberal; poder francês.

2) Congresso de Viena (1815): reorganização/pacificação da Europa após as guerras


napoleônicas.

- Medidas: condenação do tráfico de pessoas escravizadas; preservação da autoridade


dos governos europeus ante o liberalismo iluminista; criação da Santa Aliança, pacto
de natureza política e militar destinado à defesa das medidas adotadas no Congresso
de Viena, etc. As diretrizes do Congresso de Viena (1815) e de Aix-la-Chapelle, ou
Aachen (1818) perduram, com dificuldades, até a eclosão da Primeira Guerra Mundial
e a instauração do novo sistema, com o tratado de Versalhes (1919) e seus correlatos.
A seu turno, o tratado de Versalhes virá abaixo com a eclosão da Segunda Guerra, cujo
conteúdo, em certa medida, será reordenado no âmbito do sistema da Organização
das Nações Unidas, a partir de 1945.

3) Doutrina Monroe (1823): presidente James Monroe: afastamento dos EUA de


intervenções em outras nações. Slogan político: América para os americanos. Seus
pilares foram a rejeição do colonialismo nas Américas, a não intervenção em assuntos
internos dos países americanos e a não intervenção dos Estados Unidos em conflitos
relacionados aos países europeus.

4) O Tratado de Versalhes, de 28 de junho de 1919, entre a Alemanha e os vencedores


da primeira guerra mundial, e os tratados correlatos, celebrados com os demais países
derrotados, com estrutura e disposições equivalentes: tratado de Saint-Germain, com
a Áustria, em 10 de setembro de 1919, tratado de Neuilly, com a Bulgária, em 27 de
novembro de 1919, tratado de Trianon, com a Hungria, em 4 de junho de 1920, etc.

5) Liga das Nações (Sociedade das Nações,1920): criada em Versalhes, pelos países
vencedores da Primeira Guerra Mundial; objetiva firmar um acordo de paz. Previa a
criação de uma organização internacional vocacionada vigiar pela paz mundial. Sede
em Genebra, Suíça. Após a Segunda Guerra Mundial foi substituída, em 1946,
Organização das Nações Unidas, ONU.

6) Criação da ONU (1945, EUA, Califórnia): estruturada em seis órgãos - Assembleia


Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela, Corte
Internacional de Justiça, Secretariado.

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