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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Unidade Betim

Disciplina: Direito Internacional Público

Professor: Jairo Coelho Moraes

AULA: Sujeitos do Direito Internacional Público: Estado, Organizações, Entidades e


Indivíduos

1) Sujeitos e atores do DIP

 Estados – regramento da atividade inter-Estatal.


 Organismos internacionais – pessoas ou coletividades criadas pelos
próprios sujeitos de direito internacional, reconhecendo-os como
pessoas internacionais, com capacidade de ter direitos e assumir
obrigações na ordem internacional. ONU, OMC, FMI, OEA. Podem
ainda ser criados por particulares, como a Cruz Vermelha Internacional.
 Indivíduos: responsabilidade ativa e passiva, podendo tanto postular
quanto ser demandado internacionalmente. Jus postulandi: provocação
da autoridade competente;
 Alguns doutrinadores salientam que as empresas são atores atuantes
nas relações internacionais, de modo que devem figurar como
integrantes do relacionamento internacional

 NB:- atores internacionais e sujeitos internacionais – categorias distintas:


pertencer/atuar na sociedade internacional é diferente de ser sujeito de direito
das gentes (Estados, as organizações internacionais intergovernamentais e os
indivíduos). Na expressão “sociedade internacional” entenda-se o conjunto de
atores que operam no Direito Internacional Público.

1.1) ESTADO - Elementos materiais: território, população/povo, governo; elemento


imaterial: soberania

1.1.1- Território: substrato material, demarcado por fronteiras, no qual se situa a


população e se exerce o poder soberânico estatal – composto pelo solo, subsolo e
espaço aéreo correspondente.
a) Delimitação de fronteiras = linha divisória existente entre duas soberanias;
demarcações legais entre Estados. Delimitam o exercício da soberania e, como efeito,
das competências dos Estados, sendo, justamente por isso, de extrema relevância a
sua demarcação.

- Requer: delimitação (jurídica e técnica), demarcação: materialização da fronteira


(técnica) e colocação de marcos (operação manual)

- Modos ou formas:

 Delimitação unilateral: forma clássica ora inadmitida pelo Direito Internacional


Público; dá-se quando um Estado tenta fixar uma fronteira que não é objeto de
acordos internacionais. Vg: anexação da Crimeia pela Rússia (2014); fronteiras
no continente africano - herança do colonialismo. A partir do momento em que
estes territórios foram adquirindo soberania (a partir de 1970), mantiveram-se
as fronteiras anteriormente estabelecidas, que, contudo, não correspondem à
ocupação territorial pelos povos que tradicionalmente habitam tais regiões.
 Delimitação convencional: principal forma atualmente, aceita pelo Direito
Internacional Público, quando acordos e tratados celebrados por Estados
fixam de forma clara e de comum acordo as linhas fronteiriças que separam um
Estado de outro.
 Delimitação jurisdicional ou arbitral: utilizada quando as possibilidades de
solução direta se esgotam, isto é, quando os Estados não chegam a um acordo
por si.
- Atuação dos tribunais internacionais: mais de 100 casos que a Corte
Internacional de Justiça julgou desde 1945 envolveram questões fronteiriças.
Competências/atribuições: aplicação de tratados internacionais, legalidade do
uso da força, tratativa de testes de experimentos radioativos/nucleares, etc.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal órgão judicial da Organização
das Nações Unidas (ONU), substituto da Corte Permanente de Justiça
Internacional (CPJI).

- Artigo 33, Carta das Nações Unidas (1945): “As partes, em uma controvérsia
que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais,
procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito,
mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou
acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha.”

- Critérios de delimitação:
a) Fronteiras naturais: referências naturais, como acidentes geográficos, formações
geológicas, rios, lagos, etc. À medida em que estes são mais estáveis, são também os
mais adequados, pois atribuem maior segurança jurídica e militar aos Estados.
Contudo, nem sempre tais pontos de referência estão presentes, de modo que o
recurso clássico são as fronteiras artificiais.

b) Fronteiras artificiais: traçam-se linhas fictícias, imaginárias e geométricas unindo


pontos de referência, a partir do comum acordo entre Estados ou através de
arbitragem.

c) Uti possidetis, ou seja, pela posse consolidada: princípio de direito internacional


segundo o qual aqueles que de fato ocupam um território possuem direito sobre ele. É
um critério essencialmente jurídico, que tem por base o conceito de posse,
favorecendo o status quo territorial.

NB: relevante no evitamento de conflitos em face de processos de independência, de


modo a evitar a instabilidade de novos Estados.

Aplicação:

1) América Latina e, posteriormente, na África e na Ásia (século XX) quando da


retirada das potências europeias.

2) Tratado de Madrid (1750): diploma firmado entre os reis português e espanhol que
consagrou o princípio do uti possidetis, defendido pelo diplomata brasileiro Alexandre
de Gusmão (1695 – 1753), delineando os contornos aproximados do Brasil de hoje. O
seu objetivo era substituir o Tratado de Tordesilhas (1494) vigente até então, o qual já
não era mais respeitado na prática. Dever-se-ia enviar colonos, construir vilas,
quarteis, hospitais e escolas para possuir o território de direito. Foi extremamente
importante para os brasileiros, pois os espanhóis nunca se interessaram pelo oeste do
Brasil pertencente a eles. Com base no Tratado de Madrid, os bandeirantes
expandiram e estenderam a posse de Portugal além da linha do Tratado de
Tordesilhas, o que era garantido em lei a partir de 1750.

- NB: atualmente a utilização do uti possidetis como critério para delimitar fronteiras é
rara, contudo a Corte Internacional de Justiça utilizou-o há 12 anos para resolver um
conflito entre Malásia e Singapura a respeito de um conjunto de ilhas não habitadas
próximas ao Estreito de Málaga (principal passagem marítima entre os oceanos Índico
e Pacífico), com a sentença favorável aos malaios.

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