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Direito Internacional Público I: Teóricas

14.09.2020

Vamos centrar a nossa atenção nas normas jurídicas que regem o direito internacional:
da constituição portuguesa e as convenções internacionais mais relevantes (como a de
Viena). Iremos estudar a carta das nações; regras consuetudinárias e atos jurídicos
unilaterais.
Este direito é um direito em formação, não tão completo como o direito
constitucional, porque aqui em Direito Internacional Público não temos um único
legislador, uma única estrutura executiva nem temos um único tribunal nem estrutura
policial para poder fazer cumprir as regras.
Assim, quem incumpre regras de direito internacional público nem sempre sofre
sanções em razão desse mesmo facto.
O facto deste direito que vamos estudar ser um direito incompleto leva-nos a debater
sobre o facto de estarmos perante um verdadeiro direito ou uma moral internacional.
Na opinião do professor Blanco Morais, este é um verdadeiro direito, uma vez que é
composto por normas jurídicas, existem tribunais e existem, para todos os efeitos,
sanções e, mais importante que tudo, as constituições dos estados reportam-se à
validade e eficácia das normas jurídicas internacionais.
Da perspetiva positiva ou positivista, se as constituições estivessem a falar de uma
moral internacional, não estabeleciam as regras que estabelecem para o direito
internacional público, portanto este é, logo à partida, reconhecido pelas constituições
dos estados.
Plano de trabalho para este curso: vamos começar com uma introdução conceptual e
histórica do direito internacional público e falaremos das relações jurídicas
internacionais, dentro da sua vertente política; depois, definiremos o que é direito
internacional público, porque há várias definições e vamos ter de nos fixar
essencialmente numa delas; vamos falar da juridicidade do direito internacional
público (se é ou não direito) e finalmente entraremos num capítulo importante que é o
relativo às fontes do direito internacional público: estudaremos as convenções
internacionais, o costume, os atos, a jurisprudência, etc.
Vamos desenvolver o direito dos tratados, as suas classificações, o modo de celebração
das convenções, as patologias/invalidades das convenções, cessação da vigência das
convenções internacionais.
As relações entre o direito internacional e leis, direito internacional e regulamentos e
direito internacional e os vários estados, etc.
É preciso comprar um livro que foi editado pela Associação Académica, um livro azul
escuro de resumos do plano do curso de direito internacional público.
Manuais primários: manual do professor André Gonçalves Pereira, manual de direito
internacional; como segundo manual temos a professora Maria Luísa Duarte com o
Manual do direito internacional público e os livros do professor Eduardo Correia
Batista, uma obra significativa e detalhada.
É necessário ter uma coletânea das convenções internacionais mais relevantes, aquela
recomendada pelo professor é a Coletânea de textos de Direito Internacional Público
do professor Rui Lanceiro.

21.09.2020

A partir do momento em que há uma comunidade, há a necessidade de estabelecer


regras que determinem as suas relações e quando há sujeitos de direito internacional
(os impérios/estados) que se relacionavam entre si na paz e na guerra há necessidade
de regras jurídicas na sociedade internacional.
O Estado ou entidade estadual hoje em dia é diferente daqueles que existiam nas
antiguidades oriental e clássica, anteriores ao Tratado de Vestefália; havia territórios
que compunham os impérios, mas as fronteiras (muitas delas) encontravam-se
imprecisamente delimitadas. Havia povo, mas nem todas as pessoas não eram
consideradas cidadãos, e o poder político soberano era complexo e havia a
independência de muitos estados em relação ao Papado.
O Estado (que aqui falamos em sentido histórico e não correspondente à noção de
Estado que temos hoje em dia) é uma coletividade politicamente organizada, com uma
população ligada pelo vínculo de nacionalidade, com território delimitado e com
fronteiras precisas e com um poder político soberano no interior dessa parcela
territorial.
Surge depois uma outra ordem, uma ordem essencialmente inter-estadual, e é nesse
momento que se afirma o Direito Internacional Público com mais vigor.
Depois da segunda guerra mundial, os estados passam a agrupar-se em organizações
internacionais que seguem fins comuns.
As organizações internacionais são associações de Estados.
O primeiro período de evolução do Direito Internacional Público é o chamado período
de formação do Direito Internacional Público, que vai desde a Antiguidade Clássica às
revoluções norte-americana e francesa. Este período diz-se de formação porque o
Direito Internacional Público durante esse período o Direito Internacional Público está
num “limbo” entre aquilo que será direito em sentido próprio (as regras jurídicas com
força imperativa) e uma espécie de moral pública, um conjunto de convenções que os
Estados deveriam a seguir. Na Antiguidade Clássica havia efetivamente relações entre
as chamadas coletividades pré-estaduais, ou Estados em sentido histórico, por
exemplo as relações que se estabeleciam entre Roma e outros conjuntos de povos
circundantes, ou entre Roma e Cartago, ou entre o império persa e outras potências.
Na Antiguidade Clássica emergem ainda assim, em Roma em particular, a noção de
direito das gentes, direito aplicado a estrangeiros, e aplicável a zonas militares, nas
periferias imperiais.
Depois da Antiguidade Clássica, ainda dentro deste primeiro período, temos uma fase
que diz respeito à Idade Média e à Idade Moderna antes do tratado de Vestefália. O
Papado determinava o que eram guerras justas e guerras injustas, disposições
relevantes em matéria religiosa, podia sancionar monarcas que não seguissem
determinadas diretrizes, declarava a guerra santa, nomeadamente o caso das
cruzadas, e tinham um papel relevante no âmbito do Direito Internacional (reconhecia
a independência de estados). Nesta época, a noção de jus gentium (o direito das
gentes) que foi herdada do direito romano, sofreu uma evolução pela Escola Clássica
Espanhola e foi chamado jus inter gentium, as viagens marítimas portuguesas e
espanholas deram origens a novos conhecimentos, havia entidades que podiam ser
consideradas mais ou menos soberanas, mas com quem Portugal e Espanha passaram
a celebrar convenções.
O Direito Internacional passou a ser um conjunto de regras jurídicas presentes em
tratados e costumes.
Entramos na terceira fase do primeiro período, que começa na Paz de Vestefália: a
separação entre igreja e estado foi consagrada, a igreja deveria obedecer ao monarca
(o Vaticano começa a ter um papel mais apagado); a afirmação da soberania do
estado: afirmou-se o absolutismo; a afirmação dum direito internacional: uma obra
que distinguia o direito da paz e o direito da guerra (depois, a partir de um momento, a
guerra foi considerada ilícita, mas até lá era meramente uma ação política a que as
potências “tinham direito”) que dá forma ao direito internacional público.
Depois, veio um segundo período, já não de formação, mas sim de afirmação e de
desenvolvimento do direito internacional e que vai desde as revoluções liberais até ao
tempo presente.
A primeira fase deste segundo período vai desde a Idade Contemporânea (revoluções
liberais) até ao fim da primeira Guerra Mundial. Neste período vai reafirmar-se a ideia
de estado soberano nascida em Vestefália, a independência, depois das revoluções
liberais, das colónias espanholas na américa e a independência do Brasil, o que dá
origem a um princípio de autodeterminação dos povos, a ideia de que estes têm o
direito de escolher livremente o seu destino; quando há uma situação de dominação
ou situação colonial, havia o direito dos povos decidirem a sua independência.
Com a Paz de Vestefália, a afirmação do poder total de soberania deu origem a uma
habituação à guerra e começaram a crescer guerras de grande intensidade na Europa.
As organizações internacionais já existiam no século 19, mas o Tratado de Versalhes foi
um “contrato” de paz que encerrou a Primeira Guerra Mundial, e prevenia o
desenrolar de catástrofes do género.
As organizações internacionais tiveram sobretudo origem em grupos de estados que
celebraram (pondo-se de acordo) tratados para gerirem interesses comuns de
natureza alfandegária ou de natureza fluvial (por exemplo, comissões administrativas
para assegurar a livre navegabilidade, por exemplo, no reino) e estas associações
destinadas a tratar de interesses comuns deram origem a estas organizações de
cooperação internacionais. A sociedade das nações destinava-se a garantir a paz e
evitar os conflitos, fomentando a cooperação.
Durante este período, não se conseguiu evitar a Segunda Guerra Mundial, porque a
sociedade das nações decidia por unanimidade e era difícil condenar um Estado a uma
guerra de agressão.
Criou-se a organização das Nações Unidas, num tratado entre as Nações vencedoras,
mas depois aberto aos países derrotados na Segunda Guerra Mundial, que gerou uma
organização multilateral que garantia a paz internacional e desenvolvia atividades de
cooperação económica e social e tutela e defesa dos direitos do Homem.
Nos anos 50, 60 e 70 houve um movimento emancipalista para a independência de
países afro-asiáticos e o direito internacional público sofre um grande
desenvolvimento, incluiu-se cada pessoa como sujeito de Direito Internacional e deu-
se uma conotação muito mais positiva ao Direito Internacional Público, garantindo-se e
ensinando-se as suas fontes formais (costuma, tratados e atos jurídicos unilaterais).
O mundo divide-se entre países ocidentais democráticos e países comunistas (União
Soviética), formando-se uma tensão num mundo bipolarizado, sendo que a China
comunista autonomizou-se em relação à União Soviética.
O muro de Berlim simbolizava a divisão entre o mundo comunista e o universo
democrata.
Numa fase seguinte, saímos do mundo bipolarizado, uma vez que se fragmentou a
União Soviética e, por isso, o núcleo comunista, e entrámos transitoriamente num
mundo unipolar, sendo que a única grande potência eram os Estados Unidos da
América, havendo por parte das Nações Unidas a ideia de que se tinha criado uma
outra ordem internacional pacifica, sendo que as Nações Unidas podiam agir em
conflitos periféricos (com tropas próprias, os capacetes azuis), havendo uma outra
nova ordem internacional.
Esta ordem internacional foi efémera: houve várias intervenções das Nações Unidas
em diversos conflitos na Somália a pedido, mas os americanos retiraram as suas
tropas.
Com o fenómeno de terrorismo (nomeadamente em 2001 com o ataque às Torres
Gêmeas) deixou de haver unipolarismo e passou a aparecer um mundo multipolar e
voltou-se a uma perigosa anarquia das relações internacionais.
Esta terceira fase do segundo período representa um aparente enfraquecimento no
Direito Internacional Público, mas fortalecem-se Organizações do tipo Regional.

Definição conceptual de Direito Internacional Público (página 10 dos sumários


desenvolvidos do livro do professor): o primeiro critério que se formou quendo se
tentou definir o Direito Internacional era o critério dos sujeitos: o Direito Internacional
Público serie definido como o conjunto de normas jurídicas que regulariam as relações
entre Estados (que, como já vimos, eram os sujeitos de Direito Internacional).
Hoje em dia o Direito Internacional Público envolve relações entre sujeitos que não
apenas os Estados, como as Organizações Internacionais).
O critério subjetivista poderia tentar definir o Direito Internacional Público como
direito que regula relações sujeitos de Direito Internacional (MAS, neste caso não são
só os Estados e inclui, também, por exemplo, as organizações internacionais). Mas esta
definição é insuficiente porque a pergunta que se faz (porque se quer uma definição
do próprio direito) é: “mas quais são efetivamente esses sujeitos?”, sendo que esta
definição não nos apresenta grande desenvolvimento do elemento subjetivo, que é o
epicentro da definição.
Esta definição foi confrontada com outras, como por exemplo a definição que utiliza o
critério do objeto (mas que também já foi superada), que define o Direito
Internacional Público como o conjunto de regras jurídicas que regulariam questões ou
matérias específicas da sociedade internacional, matérias intrinsecamente
internacionais. Mas quais seriam essas matérias? Hoje em dia, há matérias de natureza
financeira internacional, criminal internacional, tratados de cooperação em matéria de
segurança... o que tornou esta definição irrelevante.
Vem, depois, a definição formalista (para resolver problemas), que seria o critério das
fontes: o Direito Internacional Público seria o conjunto de regras jurídicas que são
produzidas e reveladas pelos processos próprios da sociedade internacional.
Há, efetivamente, fontes que são próprias da sociedade internacional como processos
de revelação diferentes daquilo que são as normas de direito interno.
Sendo isto verdade, falta aqui qualquer coisa: estas normas destinam-se a regular o
quê? falta um objeto. Acrescentamos até um outro critério a este critério das fontes: o
critério estrutural, que define o Direito Internacional Público como conjunto de
normas de direito, produzidas pelas fontes próprias do Direito Internacional, que se
destinam a reger as relações jurídicas internacionais, relações essas que têm vários
elementos.
Apelo a fontes do Direito Internacional: essas fontes são modos de produzir e de
revelar, e até justificar ou fundamentar, normas jurídicas internacionais que regem a
chamada sociedade internacional: o costume internacional, os atos jurídicos
unilaterais dos Estados e Organizações internacionais.
Um exemplo de sociedade internacional é a ONU (Organização das Nações Unidas),
Estados por vezes até inimigos e adversários que acabam por estabelecer entre si
relações de cooperação ou relações de “não agressão” no contexto dessa mesma
sociedade.
Uma comunidade é uma realidade distinta, o que significa que os Estados que
integram uma comunidade têm uma relação de pertença, têm elementos unitários que
os aproximam num projeto não só de cooperação, mas de valorização e promoção
daquilo que é o seu tronco político, cultural, económico... A União Europeia é uma
comunidade de povos europeus que têm elementos que projetam aquilo que é um
programa coletivo.
Interessa-nos o conceito de sociedade, porque diz respeito aos sujeitos de direito
internacional público e às suas relações.
Temos, ainda, o terceiro elemento de definição: a noção de relações jurídicas
internacionais: o Direito Internacional Público visa estabelecer normas que regem as
relações jurídico-internacionais de caráter público.
Estas relações jurídico-internacionais dividem-se em três tipos: as relações de
subordinação, as relações de reciprocidade e as relações de coordenação. As relações
jurídico-internacionais de subordinação significam que há um sujeito de Direito
Internacional que se encontra numa posição de domínio em relação a outros sujeitos,
por exemplo os Estados Vassalos. Temos também os protetorados: o estado protetor
(que exerce um certo domínio) e o estado protegido (que necessita, muitas vezes, de
autorização para a prática de certos atos, na esfera da segurança e defesa). Depois, em
caso de agressão contra o estado protegido, o Estado Protetor assumia o compromisso
de defender o protegido, como por exemplo, o protetorado espanhol e francês em
Marrocos.
As relações jurídico-internacionais de reciprocidade são relações horizontais, equi-
ordenadas entre sujeitos de Direito Internacional, que visam satisfazer os seus
interesses recíprocos, havendo os chamados trade-offs.
Temos depois, as relações jurídico-internacionais de coordenação, também relações
horizontais entre Estados, que visam satisfazer interesses coletivos: muitas vezes os
Estados têm os seus interesses próprios e têm de abdicar deles para satisfazer os
interesses comuns: cooperação económica, questões de criação de tribunais
internacionais para crimes contra a paz e comunidade. Normalmente estas relações
são regidas por tratados que, na maior das vezes, são multilaterais (celebrados entre
mais de dois Estados).
Problema da juridicidade do Direito Internacional Público: as suas regras nem muitas
vezes são acatadas pelos Estados e não há meios de os fazer cumprir essas regras.
Essa independência por parte dos Estados em realmente cumprir as regras do Direito
Internacional Público leva-nos a levantar estas questões da juridicidade.
Terá este Direito uma verdadeira natureza jurídica? Na resposta a esta questão há
vários posicionamentos doutrinários e há posições puramente negacionistas (como a
Escola Realista que nos Estados Unidos é bastante forte) que vêm este direito como
uma cobertura das relações internacionais e vai-se desenvolvendo em torno daquilo
que é acordado pelas forças estaduais dominantes. Esta escola não deixa de ter as suas
razões.
O professor é um neo-realista: até a Organização das Nações Unidas foi concebida
pelas potencias vitoriosas na Segunda Guerra Mundial, portanto mesmo não se
podendo dizer que o Direito Internacional Público é fruto destes mesmos acordos, mas
essa é uma realidade, que não serve para se negar a existência do Direito Internacional
Público como de natureza jurídica.
Ora, se as tais potências dominantes decidiram, de acordo com um certo equilíbrio,
criar um conjunto de regras, essas tais regras, desde que sejam acatadas pelos outros
Estados, destinam-se a produzir os seus efeitos jurídicos.
O que muitas vezes se pode afirmar é que os Estados que criam as regras muitas vezes
não as cumprem, mas isso tem a ver com o problema da coercibilidade do Direito
Internacional, que é realmente um ponto fraco.
Há, também, escolas positivistas que nos dizem que o Direito Internacional Público não
é direito porque não há um único legislador, não há um único tribunal ou uma
estrutura coerciva que imponha o cumprimento universal das regras.
Mas, como veremos, o direito nem sempre depende de um único legislador, o
problema consiste em saber se há efetivamente regras de direito que devem ser
cumpridas ou não.
Depois temos as teses favoráveis à juridicidade, como as conceções jusnaturalistas,
que entendem que desde há muito, o “Direito das gentes” se baseia naquilo que é o
direito natural e, portanto, a ordem dum sistema de sujeitos implica, tal como os
outros ramos do direito, uma subordinação a grandes valores jusnaturalistas
(nomeadamente a dignidade da pessoa humana ou condenação de guerras ilícitas).
Temos ainda conceções estatocráticas que nos dizem que o Direito Internacional
Público está previsto nas constituições, pode não ser um Direito Internacional pleno,
mas é um direito estadual externo.
Hans Kelsen, positivista, afirma que a norma pressuposta poderá ser um conjunto de
princípios de Direito Internacional ou até de costumes internacionais.
Posição que a cadeira adota: primeiro, entendemos que o Direito Internacional Público
é um direito incompleto, porque lhe falta atributos dos sistemas jurídicos internos
(nomeadamente a coercibilidade), e ainda não totalmente formado: Ora, no Direito
Internacional Público não se pode dizer que não haja mecanismos de imposição das
regras do direito, o problema é que muitas vezes estas são políticos, como as decisões
do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e há ainda, a nível das Organizações
Internacionais, sanções, por exemplo, se não se cumprir do direito da União Europeia,
os Estados podem ser obrigados a pagar multas.
E é em relação a esta debilidade, mas não da inexistência que existe esta incompletude
no Direito Internacional Público, mais no campo do Direito Internacional geral, comum
e especial relativo às organizações internacionais.
A ideia de que o Direito Internacional Público não tem legislador e, por isso, não é
direito não faz grande sentido porque este direito corresponde a uma realidade
descentralizada quanto às fontes e às relações jurídicas que são regidas por essas
fontes.
É um direito reconhecido efetivamente pelas constituições dos estados, o que diz que
o Direito Internacional Público era direito (isto é um argumento positivista muito
forte), constituições essas que se referem à sua aplicabilidade interna das regras por
parte dos tribunais constitucionais (por exemplo, o artigo 8º da Constituição da
República Portuguesa, que fala da aplicabilidade interna e dos efeitos produzidos em
termos de força jurídica pelas convenções internacionais).
Com este argumento das constituições, não há fundamento para se negar a
juridicidade deste direito (porque efetivamente as normas produzem efeitos).
O elemento mais débil será a vinculatividade: apesar disto tudo, há Estados que
podem, de repente, não cumprir regras internacionais/ de direito internacional, por
exemplo, os Estados Unidos da América muitas vezes decidem não acatar decisões das
Nações Unidas, à qual são vinculados pela carta, sobretudo no que toca ao uso da
força.
Será que estamos como estávamos antes do século XIX? Não estamos, temos uma
maior robustez nas instituições que aplicam o direito internacional e que sancionam os
prevaricadores, só que continua a haver uma desigualdade na prevaricação: médias
potências nem sempre são punidas, e as grandes potências raramente são
sancionadas, o que constitui um problema.
Ainda assim, aquilo que mais se tem desenvolvido é a juridicidade do Direito
Internacional Público no âmbito das Organizações Internacionais, que a partir do
momento em que preveem sanções e mecanismos de aplicação das mesmas, o que dá
relevo ao enforcement do direito.
Sistema de fontes: as fontes são modos de produção, revelação e justificação das
normas de Direito Internacional e podemos classificá-las em fontes formais e fontes
materiais.
As fontes formais são processos de produção e de revelação de normas jurídicas
internacionais.
Há formas de produção voluntária, em que a vontade do Estado ou da organização é
relevante, como é o caso das convenções internacionais, tratados e atos jurídicos
unilaterais e há fontes de formação espontânea, como é o caso do costume
internacional.
Temos ainda fontes materiais, que aludem menos ao modo de produção e revelação
das normas, mas aos valores que fundamentam essas mesmas normas, como por
exemplo os princípios de Direito Internacional Público.
Temos outra possível classificação das fontes como mediatas ou imediatas: as fontes
imediatas implicam que as normas se apliquem diretamente (sem “mediador”, daí o
nome imediatas) a uma relação jurídica controvertida; as fontes mediatas são medidas
de valor e ensinamentos subsidiários que sustentam a aplicação ou não das fontes
primárias (em princípio, sem fontes primárias não haverá fontes secundárias ou
auxiliares).
Fontes imediatas: convenções internacionais, o costume ou atos jurídicos unilaterais,
etc.
Fontes mediatas: jurisprudência e doutrina.
Questões de precedências aplicativas em termos de fontes imediatas: as fontes não
têm qualquer hierarquia, todavia, há um enunciado que nos permite dizer que,
havendo regras escritas num tratado, estas devem ter precedência aplicativa. De
seguida, vem o costume, que cria critérios de decisão estáveis e, depois, vêm os
princípios.
Mas pode haver um costume que, por exemplo, derrogue um tratado.
Convenções internacionais: uma fonte imediata de formação voluntária.
O costume: fonte formal imediata de formação espontânea.
Atos jurídicos unilaterais: fonte formal imediata de formação voluntária.
Princípios de Direito Internacional: fonte material cuja formação é um pouco incerta:
muitas vezes pode ser de formação voluntária, outras vezes tem alguns elementos de
espontaneidade.

29.09.2020

Falámos das fontes de Direito Internacional: convenções internacionais, costume


internacional, atos jurídicos unilaterais, princípios de Direito Internacional Público,
jurisprudência e doutrina e equidade.
Vamos agora atentar aos princípios de Direito Internacional Público, que são fontes
materiais percetivas, ou seja, enunciados jurídicos de valores dotados de
indeterminação, abstratos, que acabam por justificar certos comandos jurídicos e
critérios de decisão, umas delas são próprias do Direito Internacional Público, outras
delas comuns ao Direito Interno.
É uma fonte de formação espontânea, os princípios têm caráter normativo e geraram-
se na esfera do Direito Internacional de duas formas: a primeira foi o facto de serem
transplantados na sua maioria a partir do direito interno dos Estados, como o
princípio da boa-fé, que diz que os tratados devem ser cumpridos e as partes têm de o
fazer de forma honesta, ou o princípio da proporcionalidade, princípio do respeito
pelo caso julgado, princípio do ónus da prova, princípio da segurança jurídica e o
princípio que atribui aos tribunais superiores a possibilidade de definirem, em caso
de dúvida, a sua própria competência.
Há princípios próprios do Direito Internacional, que constituem a segunda forma das
fontes na esfera do Direito Internacional, como o princípio do respeito pela
integridade territorial e pela soberania dos Estados: com a paz de Vestefália, as
fronteiras passaram a ser definidas, o soberano passou a não ser só o monarca. O
princípio da não interferência nas regras dos outros Estados, princípio da
autodeterminação dos povos, princípio que determina que as fronteiras coloniais
passam a ser as fronteiras dos Estados, o princípio da especialidade das Organizações
Internacionais, e muitos outros princípios específicos de cada organização.
Há ainda outra fonte, bastante importante, que não consta no artigo 38º, que diz
respeito aos chamados atos jurídicos unilaterais, dos Estados ou das Organizações
Internacionais, são decisões tomadas por um só sujeito de Direito Internacional, cuja
produtividade em termos de efeitos e validade acabam por operar por si próprias, não
dependendo de qualquer outro ato jurídico concorrente. Aqui, basta que um sujeito de
Direito Internacional emita um ato para que este possa ter consequências jurídicas ou,
por vezes, políticas. Os atos jurídicos unilaterais podem ser autónomos ou não
autónomos: os autónomos são manifestações de vontade, que são por si próprias
válidas e eficazes, não dependendo da existência de nenhuma outra fonte prévia de
Direito Internacional (que autorize uma autorização), e produz os seus efeitos
independentemente duma decisão por parte de outros sujeitos ou qualquer
parâmetro normativo. É o caso do protesto, da renúncia, da promessa e de certas
formas de reconhecimento. O protesto como ato político ou protesto como ato
jurídico: como ato político acaba por ser uma manifestação de desagrado de um
Estado em relação à conduta de um outro Estado, também pode ser uma forma de
evitar a formação de uma fonte de Direito Internacional Público na componente
costume (não querem ficar vinculados a essa norma existente ou que vigora num outro
Estado: certos Estados podem não querer ser regulados por essa norma).
Renúncia: um Estado pode declarar, junto de outros, que não quer mais exercer um
determinado direito.
A promessa: é um ato menos definitivo que a renúncia, é uma declaração de intenções
de, no futuro, esse Estado assumir um determinado comportamento positivo ou vir a
assumir um comportamento omissivo.
O reconhecimento: não ligado a costumes, dá-se quando um Estado reconhece a
independência de outro, se um Estado decide reconhecer um determinado Governo
(porque um Estado pode, por vezes, estar dividido entre dois governos).
Há, depois, os atos jurídicos unilaterais não autónomos: a sua prática depende do
regime que a esse propósito tiver sido estabelecido numa outra fonte de Direito
Internacional Público: a sua validade e os seus efeitos dependem da sua conformidade
com aquilo que estiver estipulado previamente numa outra fonte de Direito
Internacional: a denúncia, o recesso, a reserva e a adesão.
Os atos jurídicos unilaterais podem ser Auto normativos e hétero normativos: os atos
auto normativos são decisões jurídicas em que esse Estado é o primeiro a sofrer os
efeitos jurídicos dessa decisão, caso da promessa e da renúncia, e quanto aos atos
hétero normativos, há uma decisão em que o destinatário imediato dos efeitos
jurídicos são os outros sujeitos de Direito Internacional: caso do reconhecimento ou
do protesto.
Há decisões e deliberações que têm eficácia interna às organizações internacionais,
quando aprovam o seu próprio orçamento, ou que têm eficácia externa, sanções a
certos Estados e uso da força contra eles.
Equidade: muitas vezes, existem certas disposições em tratados que são causadoras
de conflitos causadores de danos nas relações internacionais, mais graves do que a
continuidade de situações ilícitas, o que causa desigualdades. A equidade tempera o
rigor do direito, que se ajusta às circunstâncias do caso concreto.
Fontes e normas: uma fonte é um modo de produção, de revelação ou de justificação
de uma norma (tratados e costume internacional). Normas são critérios de decisão
dotados de generalidade e abstração (mandatos de autorização e regras, mandatos de
definição).
Não há hierarquia entre fontes imediatas, entre tratado como fonte, costume como
fonte e princípios de direito internacional.
Entre as restantes fontes imediatas (atos jurídicos unilaterais) já não pode dizer-se que
não há hierarquia.
Há um primado das fontes imediatas (tratado, costume e princípios, atos jurídicos
unilaterais) sobre as fontes mediatas: jurisprudência deve aplicar o direito a litígios,
logo, não deve decidir contra aquilo que são as disposições normativas em vigor, esse
primado sobre as fontes mediatas.
Se não há uma hierarquia entre as fontes imediatas, não quer dizer que não exista
uma hierarquia entre as normas produzidas por essas mesmas fontes em certas
circunstâncias.
Temos vários casos, ou circunstâncias, em que realmente há uma hierarquia que se
verifica: é o caso do estipulado no artigo 53º da Convenção de Viena (caso de jus
cogens), tem de haver reconhecimento que uma certa norma tem prevalência sobre
certas normas, norma de idêntica natureza. Há Estados que acreditam que a
democracia é um direito cogente. Ocorre nulidade absoluta, pois viola uma regra
imperativa.
Outro caso é a nível de certos tratados internacionais, há certos tratados cujas
disposições não podem ser contrariadas, como no pacto do Atlântico Norte.
Depois, no âmbito das Nações Unidas, existe uma disposição que impõe que os
Estados não possam celebrar entre si tratados internacionais que contrariem as
disposições da Carta das Nações Unidas, considerada uma violação grave da carta.
Depois, também temos a superioridade hierárquica das convenções internacionais que
têm caráter substantivo ou principal relativamente a outras convenções internacionais,
que lhes dão execução; são os chamados acordos administrativos. Portanto, há certas
convenções que devem obedecer à convenção principal, com pena de invalidade e
ineficácia.
Outra relação hierárquica é aquela que é estabelecida entre tratados constitutivos de
organizações internacionais e atos jurídicos unilaterais tomados por essa mesma
organização. Por exemplo, quanto à União Europeia, as decisões, diretivas e
regulamentos devem conformidade ao Tratado de Lisboa.
As relações entre normas não se estabelecem apenas num quadro hierárquico, por
exemplo, um tratado posterior revoga o tratado anterior. Existem também tratados
gerais, em que o tratado especial prevalece sobre a norma ou tratado mais geral.
O costume: prática reiterada e efetuada com a convicção da sua obrigatoriedade, por
sujeitos de Direito Internacional Público. Acaba por ser uma fonte que produz normas
e que tem certo tipo de características. Em primeiro lugar, há um elemento material,
que é o uso (que tem a ver com a prática de uma determinada conduta que é adotada
várias vezes e, portanto, é um uso e não uma ação esporádica e significa que tem
sequência) e é uma prática que vai num determinado sentido e cria um precedente, e
essa prática que corresponde ao uso vai sempre no mesmo sentido. Ao utilizarmos
esta prática, começa a haver uma referência para condutas de natureza igual ou
análoga, a assumir no futuro. A constância e a uniformidade do uso geram,
precisamente, o costume. Se há algo praticado várias vezes e com o mesmo sentido
por vários Estados (que não apresentam nenhum protesto), esse silêncio vale como
aceitação tácita da formação dessa regra como direito consuetudinário.
Mas para que haja costume não serve apenas haver um uso, uma prática, é necessário
que haja a convicção da obrigatoriedade, ou seja, o elemento psicológico. Portanto, os
Estados que adotam uma determinada conduta, para que haja costume, é necessário
que considerem que, no futuro, esse critério se tornou obrigatório, e que no futuro
devem continuar a assumir a mesma conduta. Portanto, passa-se do ser, uma
determinada prática para o dever ser, ou seja, a convicção de que aquela prática se vai
transformando em regra.
Tanto o uso como o elemento psicológico são fundamentais e têm a mesma
relevância. O costume nasce espontaneamente e não por um ato de vontade, e como
nasce não se sabe, com práticas uniformas e adotadas no mesmo sentido. Há
costumes que nascem pelo tempo (mínimo de 10 anos).
Nós adotamos a teoria objetivista, que é a defendida pelo manual.
Como é que o costume se forma? Qual é a prova da formação do costume?
É difícil apresentar provas formativas do costume, mas há vários elementos
probatórios, nomeadamente o critério de que o requerente de um determinado
processo, que invoca um costume, tem o ónus em provar a sua existência. Tem de
provar, em tribunal, em juízo, a existência desse mesmo costume.
Há também leis que incorporam na ordem interna normas consuetudinárias, há
tratados que fazem referência a costumes e que substituem costumes.
Temos o costume local, o costume regional e o costume geral.
Transição entre fontes: muitas vezes há uma norma que nasce numa determinada
fonte, depois é incorporada por uma outra fonte e acaba por ser incorporada e
revelada por outra fonte, como a competência dos tribunais superiores (meramente
internacionais) poderem definir os seus poderes em caso de dúvida/incerteza.
Há uma tendência para que os tratados internacionais vão incorporando espaço ao
costume, logo, há uma hierarquia “escondida”. O direito internacional passa a tornar-
se, cada vez mais, mais específico, mais especial, mais detalhado, e essa exigência de
segurança e de detalhe torna menos exequíveis normas com uma grande
generalidade, e assim há um desaparecimento do costume, pois continua a ser
positivado em forma de tratado.
Introdução aos tratados internacionais: o que é uma convenção internacional?
Vamos seguir a convenção de Viena de 1969, sobre as convenções entre Estados. Um
tratado internacional é uma fonte de Direito Internacional que não existe a nível do
Direito interno, e acaba por ser um acordo de vontades concluído entre dois ou mais
sujeitos de Direito Internacional Público, que têm de ter capacidade para celebrar
tratados, e que se destina a produzir eficácia jurídica ou efeitos jurídicos na ordem
jurídica internacional, portanto, efeitos jurídicos regidos pelo Direito Internacional
Público. A alínea a) do artigo 2º da Convenção de Viena diz-nos que um tratado
internacional é um acordo internacional escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional.
Mas porque é que damos esta definição tão ampla? Porque há convenções
celebradas entre Estados, entre estados e Organizações Internacionais, entre Estados e
Movimentos de Libertação Internacional, etc. Há muitos outros sujeitos de Direito
Internacional Público. Em segundo lugar, os sujeitos devem ter capacidade para
celebrar contratos, por exemplo, um indivíduo não pode celebrar tratados, ou há
movimentos de libertação ou organizações internacionais que não têm uma
capacidade genérica para celebrar todo o tipo de tratados. E são acordos celebrados
no plano internacional que visam produzir efeitos na ordem jurídica internacional.
De acordo com o artigo 2º, esta convenção de Viena só se aplica a determinado tipo
de tratados celebrados, e são tratados independentemente da sua designação, pois há
tratados designados por cartas e há uma pluralidade vasta de designações.
Os tratados são negócios jurídicos, e esta terminologia ou noção chama-nos para a
componente de negócio jurídicos, porque os tratados são negócios jurídicos, e toda a
teoria relacionada com os negócios jurídicos aplica-se, também, aos tratados
internacionais, como os vícios e invalidades, por dolo ou corrupção, por exemplo, ou
do tipo fraudulento, aplica-se também aos tratados internacionais. Também aspetos
relacionados com a cessão de vigência, também com adaptações são aplicados a
convenções internacionais.
Segundo esta convenção de Viena, não são todos os Estados que podem celebrar estes
tratados: são apenas Estados soberanos.
Também, para os termos desta convenção, por vezes, os Estados federados podem
celebrar tratados entre si, mas estes tratados entre entidades federadas, para serem
válidos internacionalmente, têm de ser ratificados pelas autoridades federais.
Estes tratados devem submeter-se ao Direito Internacional Público, às regras gerais de
ordem internacional, daí que a Convenção de Viena tenha uma superioridade sobre os
tratados que foram concluídos à sombra da mesma convenção, que para se terem
aplicado a ela têm de ter sido celebrados na forma escrita. É uma exigência
instrumental, e os tratados orais acabam de alguma forma por não se aplicar a este
regime.
Concluindo, os tratados podem ser classificados de diversas formas e na base de um
conjunto de quatro critérios: em primeiro lugar, podem ser classificados em razão do
objeto, tratados-leis, tratados-contrato e tratados mistos. O tratado-lei é aquele
composto por regras de natureza geral, os tratados-contrato são típicos de relações
bilaterais e de reciprocidade; e, ainda, os tratados mistos, que têm disposições típicas
de um tratado-lei, genéricas aplicáveis a todos os sujeitos, mas depois também tem
algumas disposições só aplicáveis a certos Estados ou que precludem que certas
normas se apliquem a determinados Estados.
Podem também ser classificados no âmbito material: temos tratados gerais e
tratados especiais: os tratados gerais são equivalentes às leis gerais e abstratas, e os
tratados especiais têm algumas particularidades que tratam com detalhe uma
determinada situação que pode ter alguma relação de cabimento com algum tratado
geral.
Quanto à pluralidade de partes, que é a classificação mais básica, temos os tratados
bilaterais (celebrados entre dois Estados) e os tratados multilaterais (celebrados por
mais de dois Estados).
Quanto à forma, temos os tratados solene (são sempre ratificados) e os acordos sob
forma simplificada (em que no momento em que se fixa o texto, os Estados
vinculam-se).
Na ordem jurídica portuguesa, não há tratados sob forma simplificada. Quer os
tratados, quer os acordos internacionais (que a Constituição prevê), os dois obedecem
ao regime dos tratados solenes da Convenção de Viena, porque o momento da
autenticação do tratado, da fixação do texto, da assinatura, distingue-se do momento
em que o Estado, posteriormente, se vai vincular a essa convenção.

6.10.2020

Processo de celebração das convenções internacionais: convenções bilaterais, que


são concluídas entre apenas dois Estados. Estas convenções têm aspetos estruturais e
elementos do processo de conclusões semelhantes aos das convenções multilaterais.
As convenções bilaterais são constituídas por um preâmbulo (considerações
importantes como elementos interpretativos das convenções internacionais, em que
algumas têm disposições muito ambíguas) que compõe os objetivos e o objeto de que
trata a convenção. Os preâmbulos são extensos e têm valor interpretativo; se houver
um litígio, o preâmbulo pode ser convocado pelos tribunais e partes, em abono de
certos posicionamentos.
Temos depois as normas em título principal, e existe também, normalmente, um
artigo de definições, que procura explicitar o que certo tipo de conceitos que são
utilizados nas disposições efetivamente significam, porque certos Estados podem dar
significados diferentes a um mesmo instituto, e assim temos definições adotadas
explicitamente definidas.
Temos, depois, as disposições finais e transitórias, quando a convenção entra em
vigor, em que termos e outras disposições e normas que são revogadas (e aspetos que
têm que ver com a vigência).
Os anexos são um conjunto de documentos para os quais o corpo normativo do
tratado remete. Há anexos que são clarificações, especificações e alguns são
compostos por normas. Existem anexos por questões sistemáticas, ou tem a ver com
listagens.
Os anexos podem ter um valor idêntico ao do tratado, valor para regulamentar, mas
vinculante ou um valor subsidiário.
De qualquer maneira, os anexos concorrem para a efetividade da execução de uma
convenção internacional.
Quanto à negociação: fase de negociação, fase da elaboração do texto, a fase da
autenticação (fixação do texto), a vinculação e a produção da sua eficácia.
A primeira fase tem a ver com a negociação (estamos na página 187 do Manual) em
que se dá a elaboração do texto: nos contratos bilaterais, uma das partes apresenta
um anteprojeto ou um conjunto de bases que acredita serem úteis para a negociação.
As negociações fazem-se num território dum dos Estados ou, em acordo, num terceiro
território.
Em negociação, conclui-se, em regra, com um momento de autenticação da
convenção, que opera, em regra, através da assinatura; as negociações terminaram, o
texto fica definitivamente fixado e se inicia um processo de vinculação interna da
convenção pelos Estados.
Nos tratados solenes, a autenticação é sempre uma fase de conclusão do tratado que
é diferente da vinculação.
A autenticação não ocorre num só momento, temos a rúbrica da convenção (aceitação
provisória ou mesmo assinatura), que pode valer como algo provisório; a assinatura ad
referêndum acontece aquando dum texto final que está à espera duma confirmação e,
se não houver confirmação, a negociação pode abrir-se. Pode haver, também, uma
assinatura como troca de instrumentos (devidamente assinados), que pode valer como
autenticação ou como expressão definitiva de consentimento.
A vinculação é o momento principal, em que um Estado (exprimindo o consentimento
em ficar ligado e vinculado a uma convenção) cumpre com a convenção a que se
vinculou. Há várias formas de expressão de consentimento, a mais comum é a
ratificação ou a assinatura.
Nos tratados multilaterais, temos a figura da adesão do Estado a uma convenção
internacional já em vigor e devidamente eficaz.
Uma questão que muitas vezes ocorre, e que tem bases na segurança jurídica, é o
problema das ratificações imperfeitas. Muitas vezes existem situações em que a
convenção internacional, sendo objeto de assinatura e vinculação, se verifica mais
tarde que esta é inconstitucional. A inconstitucionalidade pode ser muito variada.
Temos situações de vícios de inconstitucionalidade nas convenções: estes vícios
internos de ratificações imperfeitas têm consequências negativas nas relações entre
Estados: antes dizia-se que o Estado era responsável pelos seus próprios vícios
internos e, portanto, a convenção continuaria a produzir os efeitos internacionais, o
que era uma solução rígida. Depois do aparecimento da Convenção de Viena, no
fundo, o artigo 46º diz-nos que só as invalidades ou inconstitucionalidades orgânicas
relevam, portanto, vícios de competência são os únicos que relevam para que o Estado
possa alegar, junto do outro Estado, a invalidade de uma das partes ou da convenção
toda, por vício interno. E, para além disto, a disposição em causa, que está afetada
pelo vício de competência, tem de ser uma disposição fundamental, ou seja,
disposições ambíguas e pouco evidentes não relevam para que o estado possa invocar
a sua inconstitucionalidade orgânica. O vício tem de ter caráter ostensivo e evidente.
Isto levanta diversos problemas, sendo o primeiro deles “e se, porventura, o vício for
material ou formal?” nesse caso, o estado não pode alegar o vício como motivo de
invalidade e nulidade da convenção. Assim, um tribunal constitucional pode declarar a
invalidade interna e, assim, ela não produz efeitos jurídicos, e o Estado não cumpre
com a convenção.
Estádio final: fase de eficácia, cujo regime está previsto no artigo 24º da Convenção de
Viena, os tratados têm também uma eficácia jurídica internacional, no que toca aos
litígios.
Temos que fazer um conjunto de considerações sobre as convenções multilaterais: o
processo de celebração é coletivo e ocorre ou no âmbito duma conferência
internacional ou no âmbito duma organização internacional. Temos também formas
mistas, em que se realizam conferências internacionais, mas essa conferência foi
realizada de acordo com uma organização internacional, e nessa conferência celebra-
se uma convenção. As negociações (ou rondas negociais) requerem consultas entre os
Estados em toca de correspondências (por emails, por exemplo). Quando existe um
consenso mínimo sobre o texto da convenção, temos a fase de autenticação, adoção
do texto, prevista no artigo 9º da Convenção de Viena. Esta adoção implica uma
assinatura dos instrumentos formais. Todavia, a adoção implica em conferência, uma
maioria qualificada, de unanimidade. Contudo, não havendo unanimidade, é
estipulada uma maioria de 2/3. Todavia, podem os estados acordar previamente por
2/3 que a adoção se faça por uma maioria diferente: mais ou menos exigente.
Se estivermos perante uma convenção que seja apenas negociada no âmbito duma
organização internacional, o ato constitutivo pode estipular maiorias específicas para
adoção. Adotado o texto, está aos Estados seguir ou não, vincular-se ao mesmo.
Pode acontecer que, para alguns Estados, a convenção seja um acordo sob forma
simplificada, e assim, a assinatura pode valer como expressão definitiva de
consentimento (o que não acontece em Portugal).
Também há situações em que há assinatura deferida, que é retardada e diferida para o
momento em que a convenção fique aberta aos outros Estados que não participaram
na convenção.
Quanto à expressão do consentimento/ vinculação: convenções abertas, fechadas e
mistas.
Convenção aberta: para lá dos Estados que participaram na negociação, é passível de
ser objeto de vinculação por Estados que não participaram nessa convenção. Através
da adesão, esses Estados assinam e depois depositam os instrumentos de adesão e
ficam vinculados a essa convenção.
Convenção fechada: há quatro, cinco, seis Estados ou mais que resolvem estabelecer
entre si essa convenção, e estabelecem que apenas entre eles pode ser concluída a
convenção e não pode haver adesão por parte de outros estados.
Convenção mista/ semi-aberta: a convenção fica aberta para que um número de
Estados, mas que foram previamente delineados, se possa vincular posteriormente
através da adesão.
Instituto do depósito: função atribuída a um Estado ou órgão de uma organização
internacional, uma função de guardião dos tratados dos seus originais e de
responsabilidade de recolha das ratificações e adesões.
As reservas: em tratados multilaterais, muitas vezes, os estados e ordenamentos são
muito distintos, e é dada a possibilidade de os Estados praticarem um ato jurídico
unilateral, no qual se eximem ao cumprimento de preceitos da convenção, que é
oponível a outros estados, às restantes partes. Não é autónomo porque o regime das
reservas consta num tratado e existem efeitos jurídicos relativamente às outras partes.
Declarações interpretativas: tomadas de posição do Estado relativamente a uma
norma de uma convenção, em que se pretende explicitar que sentido para ele tem um
certo texto ou conceito, os termos em que entende um determinado preceito.
Declarações políticas: os estados fazem um pronunciamento político que fica anexo à
convenção, que não produzem qualquer efeito jurídico, apenas efeitos políticos.
Clausulas de opting out: clausulas previstas no próprio tratado, que permitem a um
Estado não cumprir com um certo tipo de estipulações da convenção. Já é algo que
tem a ver com as reservas.
Requisitos materiais da formulação de reservas: dá-se uma alta liberdade às
chamadas partes contratantes quanto à aceitação e formulação da reserva, os Estados
podem estipular se proíbem reservas, se aceitam ou se só aceitam certo tipo de
reservas.

Se o tratado for totalmente silencioso sobre toda esta questão, o artigo 19º da
Convenção estipula que não são admissíveis as reservas que põem em causa o objeto
e fim da convenção.
Tratados constitutivos de uma organização internacional: quando isto ocorre, quando
se discute a celebração deste tratado, a questão das reservas depende da sua
aceitação pelo órgão competente da organização, e até que esta entre em vigor, isto
fica pendente.
Requisitos formais e circunstanciais das reservas: há um dever de comunicação de
quem formula uma reserva às restantes partes mediante forma escrita, e deve ser feita
não apenas às partes contratantes, mas, tratando-se de uma convenção aberta,
também àqueles estados que não tendo participado na convenção, estejam em
condições de aderir a essa convenção; as reservas devem ser formuladas nos
momentos de autenticação, mas podem ser formuladas no momento de expressão de
consentimento; se um estado formular uma reserva no momento de autenticação,
caso vise manter juridicamente essa mesma reserva, deve confirmá-la no momento da
expressão definitiva do seu consentimento.

13.10.2020

Reserva: ato jurídico autónomo, requisitos formais e circunstanciais quanto à


formulação das reservas: artigos 20º e 23º da Convenção de Viena. Podem ser aceites
pelos outros Estados e podem ser objetadas (quando não se concorda com o que está
formulado). Se um Estado admitir as suas disposições, aceitam tacitamente. Nos
outros casos, há um limite de 12 meses contados da data de notificação da reserva e
quem formula uma reserva notifica as partes e entre essas mesmas partes, as que
pretendam objetar, têm um prazo de 12 meses para o fazer. A objeção observa a
forma escrita: objeção de forma simples e objeção qualificada (com outros efeitos
jurídicos mais drásticos).
Os efeitos jurídicos das reservas: artigos 20º e 21º da Convenção, três cenários
possíveis: se um Estado formular uma reserva e os restantes Estados não objetarem à
reserva, aceitam expressa ou tacitamente, podem dizer que aceitam ou então não
dizem nada durante aquele período de 12 meses, a reserva é aceite e daí decorrem
efeitos jurídicos: se o Estado A resolve formular uma reserva que abrange a norma x
no sentido da não aplicação dessa norma jurídica no direito interno, significa que essa
norma x não se aplicará nas relações jurídicas entre quem formula a reserva e quem a
aceitou, nas suas relações recíprocas no contexto da convenção.
Se o Estado formula a reserva e pretende uma aplicação parcial da norma ou pretende
uma alteração do seu significado, uma reserva modificativa, e os restantes estados
membros não objetarem, essa norma será aplicada nas suas relações jurídicas de
acordo com a reserva.
Os Estados podem ainda objetar, dizendo que não concordam com a aplicação da
norma ou da sua aplicação alterada ou modificada.
Consequências jurídicas: a norma jurídica não se aplicará nas relações entre o Estado
que formula a reserva e o Estado que objeta a reserva.
Aqui podemos perguntar qual é o sentido útil desta situação em que alguém formula
uma reserva e outros objetam a reserva.
Aqui, o sentido da objeção é mais no âmbito da relação que fica entre o Estado que fez
a reserva e os restantes que aceitaram: se o objeto da reserva for a modificação da
norma ou a sua aplicação parcial, a norma vai aplicar-se entre o Estado que fez a
reserva e os restantes que aceitaram a sua aplicação, duma forma modificada, ou
aplicar-se-á de uma forma parcelar. O que sucede com quem não aceitou: a norma não
produzirá quaisquer efeitos jurídicos na relação triangular entre estes três Estados.
Num terceiro cenário: um Estado formula uma reserva e outros Estados procedem
àquilo que se chama uma reserva qualificada: uma objeção inequívoca ao sentido da
reserva. A consequência jurídica é que todo o tratado não produzirá efeitos jurídicos
nas suas relações.
Por vezes, os Estados formulam uma reserva e, mais tarde, arrependem-se, por que
motivo seja. Assim, os Estados podem revogar as suas reservas, havendo
consequências, a obrigação de notificar expressamente e por escrito os restantes
Estados de que revogaram essa mesma reserva.
Invalidade das convenções internacionais: tratados que, por padecerem de vícios ou
de conteúdo ilícito, no fundo, não podem produzir os efeitos que lhes
corresponderiam se fossem normas válidas. Aqui, a invalidade é o desvalor jurídico
que uma convenção internacional padece no sentido de, por se encontrar viciada, não
se encontra apta a produzir a totalidade dos efeitos jurídicos que lhe corresponderiam
se essa mesma convenção fosse válida. Essa invalidade decorre de vícios nos seus
pressupostos ou nos seus elementos e do seu conteúdo poder violar normas de
hierarquia superior, às quais a convenção deve conformidar.
Muitos dos vícios de vontade dos negócios jurídicos acabam, muitas vezes, por se
propagar aos tratados.
A validade de um tratado radica na capacidade dos sujeitos para poderem concluir e
vincular-se a convenções internacionais, de vícios de vontade e da problemática da
ilicitude do objeto da convenção, ou seja, o objeto tem de ser lícito, a vontade tem de
ser livre e não viciada e as partes têm de ter a capacidade para a celebração de
convenções. Os estados soberanos têm uma capacidade plena (porque esta também
pode ser limitada) de celebrar convenções internacionais.
Vícios de expressão do consentimento e de expressão da vontade: artigo 46º da
Convenção de Viena; um estado só pode invocar a invalidade de uma convecção na
medida em que essa validade decorrente de colisão com o direito interno, diga
respeito a uma falta de competência de um órgão interno para aprovar a convenção
ou vincular o Estado a essa mesma convenção, que diga respeito a normas de
competência, que seja uma matéria de importância fundamental (não pode ser uma
questão menor) e tem que ser um vício ostensivo e o vício tem de ser claro.
Se a convenção é bilateral a invalidade do consentimento invalida toda a convenção.
Por outro lado, se se tratar de uma convenção multilateral, será inválida a vinculação
do Estado que entende que a convenção é inválida.
Vícios relativos aos plenos poderes conferidos ao plenipotenciário: muitas vezes, há
acordos sob a forma simplificada que são negociados por plenipotenciários e que a
assinatura pelo plenipotenciário não só fixa o texto da convenção como exprime
definitivamente o consentimento do Estado a ficar, de algum modo, vinculado à
convenção. Aqui, são dados poderes ao plenipotenciário para que ele possa vincular o
Estado, poderes esses estabelecidos na Carta de Poderes.
Essa carta tem, obviamente, limites, e há vezes em que o plenipotenciário excede
esses limites, não os respeita, limites que lhe são colocados pelo Governo, e vincula o
Estado em matérias em relação às quais não estaria autorizado a exprimir essa
vinculação.
Se, porventura, o plenipotenciário exceder esses poderes e vai para além da sua carta
de poderes, há duas situações possíveis que se vão desenrolar: ou o plenipotenciário
deu nota aos plenipotenciários dos outros Estados, com os quais negoceia, dos
limites dos seus poderes, e realmente for exceder esses poderes, o Estado desse
plenipotenciário sabe que está a lidar com alguém que não está credenciado para
exercer esses poderes e pode invocar a invalidade da convenção ou a invalidade do
seu consentimento, porque atua de boa-fé e foi o seu representante que excedeu os
seus poderes e os outros Estados, sabendo que o plenipotenciário estava a agir para lá
dos seus poderes e aceitaram negociar na mesma.
Por outro lado, se o plenipotenciário não exibiu a sua carta de poderes às
contrapartes, e o Estado mais tarde vem a invocar a invalidade da convenção porque o
seu representante excedeu os seus poderes, essa invocação é absolutamente ineficaz
porque as restantes partes não sabiam quais eram os limites colocados.
Uma terceira situação, que está prevista no artigo 48º da Convenção de Viena tem a
ver com o erro, uma “disparidade” entre o conhecimento e a vontade. Assim, há uma
falsa representação de uma determinada realidade. Será um erro de facto e não de
direito, ou seja, um erro sobre um regime jurídico aplicável é um erro sobre um facto
que é relevante para a celebração da convenção e pode até ser um pressuposto da
celebração da convenção.
No fundo, para que um Estado possa invocar um erro, como fundamento da
invalidade da convenção internacional, é necessário que o erro seja essencial (sobre
uma matéria essencial, indispensável à celebração da convenção), o Estado não pode
ter contribuído para a prática desse mesmo erro, e o erro não pode ser de uma
evidência absoluta (como erros que afetem a redação do texto não relevam para a sua
invocabilidade).
O Estado também não poderá invocar a sua invalidade quando o erro é de tão modo
extensivo, que esse mesmo Estado se devia ter apercebido do erro. No resto das
situações, o erro releva.
Temos dolo quando realmente se tem a intenção de que alguém incorra na prática de
um erro, uma intenção fraudulenta e vai induzir deliberadamente em erro as restantes
partes da convenção internacional. O que acontece é que o dolo não pode ser
invocado pelo Estado que seguiu essa conduta fraudulenta.
Corrupção de representante de Estado: o Estado A deseja celebrar com outros
Estados um tratado que beneficia esse mesmo Estado A e que, em circunstâncias
normais não teria essas vantagens, e se o outro Estado estivesse atento à situação.
Para que o plenipotenciário do outro Estado se conforme àquilo que são os interesses
do Estado A, o Estado A corrompe o plenipotenciário do Estado B, levando-o a
vincular-se a uma convenção que normalmente não deveria ocorrer.
Corromper significa atribuir vantagens de diversa ordem, como vantagens
patrimoniais.
Coação: o uso da força ou a ameaça do uso da força física, de forma a levar alguém a
assumir uma conduta que, sem o uso dessa força, não se assumiria.
No quadro em que alguém celebra um tratado num cenário de não liberdade, existirá
um quadro de coação, nomeadamente sobre os representantes de Estado, e que vai,
obviamente, implicar a invalidade da convenção internacional.
Coação sobre o Estado: Artigo 52º da Convenção de Viena: uso da força ou ameaça do
uso da força, contra um Estado, de forma a compelir esse mesmo Estado a vincular-se
a um tratado.
A coação económica simples, como a aplicação de sanções, não pode ser equiparada
ao uso da força, faz parte das relações de força internacionais, num quadro genérico
de admissibilidade.
A figura da ilicitude do objeto: os tratados devem ser cumpridos e tem de assegurar
conformidade com os outros tratados de hierarquia superior ou que, de alguma forma,
sejam um parâmetro vinculante.
Ius cogens ou direito imperativo: existem normas que se enquadram num patamar
hierárquico muito específico, que são as normas de direito cogente ou de direito
imperativo. Há princípios que são superiores às vontades dos Estados e aos tratados
internacionais; há princípios estruturantes da ordem pública ou ordem internacional e,
como consequência, a norma é inválida desde a sua origem porque no momento da
sua conclusão, o tratado é incompatível com uma norma de direito internacional pré-
existente.
Essa norma de direito imperativo só o é quando for reconhecida como tal pela
comunidade internacional dos Estados no seu conjunto. Se não houver conformidade
com este tipo de normas temos uma nulidade do tipo absoluto.
A violação superveniente de uma norma de ius cogens: artigo 64º da Convenção de
Viena, acontece quando há uma convenção que, na sua origem até pode ser válida
sobre uma determinada matéria e, posteriormente, essa mesma convenção passa a
ser desconforme a uma norma de direito imperativo que, entretanto, foi criada.
Assim, a norma é nula e cessa vigência.
Regime jurídico das nulidades dos tratados inválidos: há dois tipos de nulidades, que
não são consagrados na Convenção de Viena nos termos do professor, que são a
nulidade absoluta e a nulidade relativa.
Haverá nulidade relativa quando acontecem situações de: vícios no consentimento
por violação do direito interno, restrições ao mandato do plenipotenciário, situação de
erro, dolo, corrupção e ilicitude do objeto por violação de tratado de hierarquia
superior, mas que não seja de direito cogente. Em termos de regime, o da nulidade
relativa é menos intenso do que o da nulidade absoluta e, apesar da convenção ser
nula num regime relativo, pode, em certas circunstâncias, produzir efeitos ou efeitos
seus passados podem ser salvaguardados. Há ainda admissibilidade da invalidade
parcial e não total.
Invocabilidade das nulidades relativas: pode invocar o vício o Estado que não tiver
concorrido, através da sua conduta ou do seu comportamento, para essa mesma
invalidade, ou seja, o Estado “vítima”.
Quanto aos efeitos: há aqui um dualismo de regime; pode entender-se que todo o
tratado nulo deixa de produzir efeitos jurídicos, contudo, havendo atos praticados no
passado de acordo com o tratado, os Estados podem, em todas as situações, pedir que
a situação que antes vigorava antes da celebração da convenção seja reestabelecida e
pode, ainda, invocar os atos praticados de boa-fé.
Quanto a vícios que não tenham a ver com dolo ou corrupção, a regra geral para estes
vícios menores é que os Estados “vitima” ou em situação de erro, podem invocar a
invalidade parcial da convenção, e nunca poderá haver nulidade parcial se as clausulas
forem inseparáveis do resto do tratado. Aí, a invalidade terá de ser total.
Já no caso do erro e da corrupção, o Estado vítima tem a possibilidade pode invocar a
invalidade em relação a certas normas, mas também em relação a todo o tratado.
Casos de nulidade absoluta: como consequência, o tratado não produzirá qualquer
efeito jurídico. No caso da coação sobre um representante de Estado, havendo este
tipo de ameaças ou mesmo o uso da força, a convenção é desprovida de qualquer
efeito jurídico, artigo 51º da Convenção de Viena. Os seus efeitos passados não serão
aproveitáveis e todo o tratado é considerado nulo.
Em relação a uma norma de Ius Cogens, no caso da nulidade absoluta, as partes serão
obrigadas a eliminar o quanto possível todas as consequências jurídicas que advenham
dessa mesma convenção incompatível com o direito.
Mesmo assim, há uma regra que nós podemos ligar à chamada potatividade, que é
eliminar na medida do possível as consequências e as relações jurídicas entre os
Estados serão conformes, e serão modificadas, à luz da norma imperativa de direito
internacional.
Consequências jurídicas: não haverá prodição alguma de quaisquer efeitos jurídicos,
havendo invalidade total.

19.10.2020

Outro tipo de situações que podem afetar a eficácia das convenções internacionais que
não estão ligadas a situações patológicas: estamos a falar de vícios e de modificações,
da cessação e suspensão da eficácia das convenções internacionais ou as vicissitudes
na vigência das convenções internacionais.
As convenções, tal como as leis, podem ser objeto de modificações ou de revogações.
Quanto à modificação ou alteração das convenções internacionais, temos o artigo
39º da Convenção de Viena que nos diz que as convenções podem sempre ser revistas
através de acordo entre as partes. Claro que isto nem sempre é assim, temos uma
regra geral, mas pode haver situações em que as convenções internacionais são
alteradas, mas apenas no contexto das relações jurídicas entre as partes, isto
relativamente às convenções multilaterais. De acordo com estas convenções
multilaterais, nós temos um primeiro critério, que é que muitas vezes a própria
convenção regula os termos da sua modificação (como limites temporais ou de ordem
substancial ou formal), diz o número 1 do artigo 40º da Convenção, a revisão dos
tratados multilaterais devem seguir, salvo alteração, o acordado entre as partes, que
têm todas o direito de participar nessa modificação. Todavia, para lá desta disposição,
pode a modificação dizer respeito a apenas alguns Estados, há esses que decidem não
participar no acordo de alteração da convenção internacional, e não se vincularão nas
alterações que tiverem sido estabelecidas.
Há um outro processo, que diz apenas respeito a alguns Estados, que decidem entrar
num acordo modificativo deste tratado multilateral, que vigora, nas suas relações
recíprocas, não produzindo, em regra, efeitos relativamente às outras partes que não
participam no acordo modificativo. Artigo 41º da Convenção, isto pode ser feito desde
que não seja proibido (que pode ser proibido pelo que está no próprio tratado), sobre
uma matéria que seja permitida pelo próprio tratado e desde que estes acordos
modificativos não violem ou não ofendam o objeto e fim do tratado, ou os direitos de
partes terceiras.
Um tratado também pode cessar a sua vigência, pode extinguir-se se as partes que o
celebraram decidirem revogá-lo sem substituição.
Todavia, os tratados podem suspender a sua vigência por um outro conjunto de
vicissitudes: poderemos ter uma cessação da vigência das convenções por vontade
originária das partes, que estabelecem um conjunto de regras que determinam a
cessação da sua vigência, ou por vontade superveniente das partes, manifestada
depois da entrada em vigor da convenção. Pode ainda cessar por razões ou situações
não previstas na convenção, umas ligadas ao comportamento das partes, outras
ligadas a razões que ocorrem independentemente da vontade das partes.
Por vontade originária das partes: à partida, há convenções que têm clausulas de
caducidade, que implica a cessação da vigência em razão de vários fatores (por
exemplo, se se verificar a ocorrência de um determinado facto ou pode ser
estabelecida uma data limite para o tratado vigorar, e depois cessa vigência). Isto
acontece nos contratos e convenções internacionais, e há convenções que têm
clausulas de resolução ligadas a termo de vigência (como o tratado cobre o Canal do
Panamá).
Por vezes, não existem este tipo de clausulas, mas existem clausulas de caducidade
ligadas à ocorrência de determinados eventos (caso do período da Guerra Fria e Pacto
de Varsóvia).
Há também certas clausulas implícitas, ou seja, existe um conjunto de obrigações que
as partes devem realizar e, quando estas são totalmente executadas, pode não haver
razão para que a convenção subsista. Cessado o conflito ou obrigação, pode não haver
razão para a continuidade.
Nos tratados internacionais, a figura da renúncia, que é um ato unilateral não
autónomo através do qual uma das partes decide denunciar, a convenção cessa
vigência.
Se for um tratado multilateral, a figura denomina-se de recesso, e tem consequências
diferentes: não envolve o fim da convenção, mas apenas a desvinculação de um Estado
em relação a essa convenção. Há, depois, um conjunto de excecionalidades, como
tratados multilaterais que determinam que o recesso determina mesmo
obrigatoriamente a cessação da vigência. Mas, se nada se disser na convenção, o
recesso não implica a cessação da vigência.
Porque é que se trata de um ato jurídico unilateral não autónomo? O recesso é
unilateral pois não depende da aceitação do ato de vontade de desvinculação das
outras partes, e não autónomo pois depende daquilo que for disposto a propósito do
regime de recesso, seja no próprio tratado seja na Convenção de Viena, no artigo 46º.
Mas há tratados que não dizem nada, os tratados silentes, havendo, para isso, uma
regra que nos diz que o recesso ou renúncia não serão consentidos, salvo se as partes
o tiverem admitido fora da convenção ou se se puder deduzir das disposições da
convenção, essa admissibilidade da renúncia ou recesso, se da natureza das
disposições se puder deduzir.
Uma parte, se desejar desvincular-se, deve fazê-lo com pré-aviso, para que o resto
das partes se possa adaptar à nova realidade. A notificação da renúncia ou recesso
deve ser feita com, pelo menos, 1 ano de antecedência. Claro que há tratados que
estabelecem prazos menores (artigo 56º da CV).
Artigo 55º: há convenções que determinam que elas próprias entram ou não em vigor
depois de serem ratificadas por um determinado número de Estados. Se o número de
ratificações descer e for menos do que um certo número, este artigo diz-nos que a
convenção não cessa por razões de segurança jurídica.
Pode também ocorrer cessação da vigência por vontade superveniente das partes,
nomeadamente pela celebração de um tratado que revogue o anterior, expressa ou
tacitamente, que tenha o mesmo objeto e estabeleça disposições diferentes
incompatíveis com as anteriores, o tratado anterior é revogado e cessa vigência.
Normas gerais e especiais: um tratado posterior com disposições mais específicas e
esse tratado pode prevalecer sobre o antecedente, com disposições de caráter mais
geral.
Violação: uma ou mais partes incumprem com as obrigações estabelecidas, e o
incumprimento dá direito às outras partes de se desvincularem à convenção ou até
mesmo cessarem a vigência dessa mesma convenção. Se for bilateral, ocorre cessação
de vigência, se for multilateral, pode acontecer que as partes se desvinculem, no
mínimo.
Artigo 60º da CV diz que uma violação substancial de uma disposição de uma
convenção bilateral por uma das partes autoriza a outra parte a usar isso como
justificação para invocar a cessação da convenção ou a sua suspensão em parte ou
toda. A violação tem de ser relevante e de uma disposição material (tratado entre o
Chile e o Perú). Já no tratado multilateral, se uma das partes violar, as restantes partes
podem suscitar a suspensão das disposições.
Outra situação que justifica a cessação da vigência da convenção é a rotura de relações
diplomáticas entre Estados (artigo 63º da CV).
Isto depende de várias circunstâncias: o artigo fala na rotura das relações como
pressuposto para a não produção de efeitos e não tanto na cessação: salvo na medida
em que essas relações sejam indispensáveis para que a convenção possa produzir os
seus efeitos. Nalguns casos pode dizer-se que as disposições de um tratado podem-se
implicar aos Estados nas suas relações recíprocas; tratados bilaterais, como os de
comércio, podem deixar de produzir efeitos. As convenções só deixam de produzir
efeitos na medida em que as relações diplomáticas sejam essenciais para a aplicação
do tratado, portanto, as multilaterais podem continuar a vigorar normalmente, ou até
se essas relações não forem denominadas como pressupostos necessários dessa
vigência (pacto Ibérico, entre Portugal e Espanha, durante o Estado Novo). Para isto,
aplica-se mais o direito consuetudinário, pois a Convenção de Viena pouco diz sobre
isto.
Já nas convenções multilaterais, não é por dois Estados entrarem em conflito e
cortarem as suas relações diplomáticas, que a convenção cessa vigência, tirando
situações que o justifiquem.
Costume revogatório ou derrogatório: um tratado internacional pode ser derrogado,
ou seja, algumas das suas disposições podem ser derrogadas, mas nem toda a
convenção, derrogação é uma revogação parcial, ou podem ser totalmente derrogadas
por costumes supervenientes (as normas consuetudinárias e as normas convencionais
detêm, na ordem jurídica internacional, a mesma hierarquia), tal como um tratado
pode revogar costumes, também os costumes podem derrogar ou revogar tratados
internacionais, embora isso não seja particularmente comum. A própria Carta das
Nações Unidas envolve, para todos os efeitos, costumes que passaram a modificar o
conteúdo de convenções.
Todavia, há ainda circunstâncias que, sendo independentes da vontade das partes,
acabam por ter consequências jurídicas na vigência ou na aplicação das convenções
internacionais.
Artigo 61º da CV: tem a ver com a impossibilidade superveniente de execução da
convenção internacional. Diz o número 1 do artigo 61º que uma parte pode evocar a
impossibilidade de um tratado como fundamento para pôr termo a sua vigência, ou
para dele se retirar, se for uma convenção multilateral, se essa impossibilidade de
execução resultar da destruição ou do desaparecimento de um objeto que é
indispensável, precisamente, à execução do tratado. Pode haver afetações do objeto
do tipo permanente ou do tipo temporário. Muitos exemplos que os manuais dão
deste tipo de afetação permanente é o desaparecimento de ilhas. Suspensão ou
cessação dependerão, fundamentalmente, do objeto indispensável à execução da
convenção ser afetado a título definitivo ou a título temporário.
Diz o número 2, também do artigo 61º, que a possibilidade da execução não pode ser
invocada por uma parte como motivo para pôr termo à vigência do tratado, ou para se
retirar do tratado, se for um tratado multilateral, se essa impossibilidade resultar de
uma atitude dolosa, de uma violação da parte que invoca essa cessação de vigência,
uma violação constante do tratado, ou de uma obrigação internacional que a parte
que se retira tinha perante a outra parte.
Temos também a figura da alteração fundamental de circunstâncias: se as realidades
mudam, pode haver situações de desequilíbrio e de injustiça, que permitem a um dos
Estados, aquele que ficar mais diretamente afetado por essa alteração das
circunstâncias, de exigir a suspensão ou cessação da convenção.
O artigo 62º diz-nos que uma alteração fundamental de circunstâncias, circunstâncias
não previstas pelas partes, não podem ser invocadas como razão para por termo ao
tratado ou para uma ou mais partes se poderem desvincular das mesmas, salvo se, ou
seja, podem, quando tiver constituída uma base essencial para o consentimento das
partes, ou seja, quando tiver sido claro que essas circunstâncias, que não foram
previstas no tratado, existiam à época, e as partes só se teriam vinculado à convenção
se essas circunstâncias permanecessem no futuro. Se não existissem, as partes não se
vinculariam. É necessário que essa alteração circunstancial possa produzir uma
transformação radical na natureza das obrigações.
Todavia, este número 2 ainda adita um conjunto de regras que obstam a que a
alteração de circunstâncias possa ser invocada como motivo de pôr fim à vigência do
tratado: a propósito de tratados que estabeleçam fronteiras (não podem ser
invocados), porque as fronteiras são realidades particularmente delicadas, delimitam o
espaço de exercício; atitude dolosa, ou violação.
Figura mista (pois tem a ver com a cessação e a nulidade): convenção internacional
que na sua origem não violava nenhuma norma de direito imperativo, mas depois
emerge uma norma de direito imperativo e agora esse tratado já viola; diz o artigo 64º
que todo o tratado existente que seja incompatível com essa nova norma de direito
imperativo torna-se nulo e cessa a sua vigência. Cessa a sua vigência, e não só é
anulada, porque o fenómeno é como que uma revogação tácita.
Mas as partes podem não acordar com isto, e continuam a aplicar a convenção que é
desconforme ao direito imperativo. Imaginemos que isto se prolonga e vai ao tribunal
internacional de justiça, que declara invalidade da norma da convenção, o que faz com
que esta deixe de vigorar e a decisão de nulidade retroage desde o momento de
decisão até à data de superveniência da norma de direito imperativo. Se, depois, esse
tratado continuar a ser aplicado depois da data de superveniência da norma de direito
imperativo, ele passa a ser nulo e todos os atos praticados entre as duas datas que o
tribunal deu são nulos e eliminados retroativamente.
Considerações sobre o regime de interpretação das convenções internacionais:
artigos 31º e 32º têm o elemento textual, o contexto, o preâmbulo, anexos e os
tratados ulteriores sobre a interpretação de uma convenção, prática ulterior de
execução de uma convenção, o elemento teleológico e costumes da convenção.
O artigo 32º fala dos elementos complementares de interpretação, está a
subsidiarizar estes elementos interpretativos, nomeadamente trabalhos preparatórios
e circunstâncias em que foi concluído o tratado, ou seja, o elemento histórico de
interpretação. Depois, na alínea b), faz-se menção ao elemento lógico da
interpretação.

27.10.2020

Relações jurídicas entre o Direito Interno e o Direito Internacional Público: No fundo,


é perceber como é que as normas de Direito Internacional Público podem produzir os
seus efeitos jurídicos no ordenamento dos Estados; como é que podem produzir os
seus efeitos, em segundo lugar, com que qualidade ou com que hierarquia ou força é
que essas normas produzem as suas consequências: com prevalência sobre a
constituição? sobre a lei? com prevalência sobre os regulamentos administrativos?
1º questão: a aplicabilidade: aplicam-se na ordem interna como convenções
internacionais, como normas internacionais não convencionais ou aplicam-se na
ordem interna apenas depois de serem reconhecidos ou transformados em direito
interno?
Respostas: teoria dualista: diz-nos que ordem interna e ordem internacional são dois
ordenamentos distintos com âmbitos de aplicação diferentes, separação estanque
entre estas duas ordens normativas. Assim, para que uma norma de Direito
Internacional seja considerada norma jurídica que produz efeitos na ordem interna do
Estado, é necessário que seja convertida ou reconhecida em ato interno de valor
legislativo, por exemplo. A partir desse momento, essa norma poderá produzir efeitos
jurídicos na ordem interna, com a hierarquia que lhe for reconhecida pelo ato de
transformação.
Conceção monista/teoria monista: diz-nos que há várias formas de entender este
problema, há quem diga que ordenamento interno e ordenamento internacional são o
mesmo ou conformam o mesmo sistema jurídico, e estabelecem mecanismos de
comunicação entre si, e há quem entenda que, dentro do monismo, há que separar as
duas realidades, os ordenamentos internos têm a constituição e o ordenamento
internacional um conjunto de princípios e regras públicas, o que não significa que não
estabeleçam entre si relações diretas, ordenamentos homomórficos, onde há uma via
de comunicação das suas normas.
Mesmo que se entenda que não é necessário um ato de transformação, para que uma
norma de direito internacional possa produzir efeitos na ordem interna de um Estado,
temos, mesmo assim, que tentar perceber com que valor e com que hierarquia é que a
norma de direito internacional irá produzir os seus efeitos jurídicos.
Há quem entenda, corrente estatista, que diz que o monismo implica a aplicação de
normas de direito internacional na ordem dos Estados, mas com prevalência do direito
interno, de todo o direito interno. As convenções vigoram, mas num quadro de
supremacia do direito interno sobre o ato jurídico internacional. Esta conceção, hoje
em dia, já não se encontra tão “ativa”.
Conceção com acolhimento maioritário, monismo com primado do direito
internacional, entrada em vigor dum tratado internacional na lei dum Estado, e
entrando em colisão com essa mesma lei de direito interno, o Estado tem de dar
prevalência ao Direito Internacional Público.
A diferença entre estas duas conceções tem sido superada, porque a maioria dos
ordenamentos acabam por adotar as duas conceções: monista e dualista. Mas qual
destas duas tem maior importância?
Sistemas mistos de pendor dualista: caso dos ordenamentos alemão e italiano.
Sistemas mistos de pendor monista: sistema francês.
Portugal enquadra-se no sistema monista, embora subsidiariamente com algumas
componentes dualistas. Há muitas designações que a doutrina faz relativamente ao
sistema português: opinião do professor- vias de receção- sendo um sistema monista,
entende que o direito internacional público não carece, em regra, de ser incorporado
ou transformado em ato interno. Todavia, verificamos que, no que toca, aos princípios
de direito internacional e costume internacional geral, artigo 8º da CRP diz nos que
estes fazem parte do direito português, sem necessidade de qualquer transformação,
esta via de receção do direito internacional é uma receção automática simples.
Este preceito não se refere aos costumes regionais e locais, o que forma uma lacuna:
havendo uma lacuna, tem de se resolver por analogia: se o direito internacional geral
duma norma consuetudinária pouco relevo dá à vontade dos Estados, que aceitam
normas de direito geral comum sem formular um protesto nem reagem à formação do
costume, se este costume se impõe, o costume deve vincular o Estado português, se o
Estado teve um maior protagonismo em termos de expressão da vontade quanto a
esse costume. No costume regional e local, já é mais fácil dar relevo à vontade. Nestes
dois costumes, este deverá valer tanto quanto o costume internacional geral, se
houver uma vontade expressa.
O número 2 do artigo 8º refere-se a convenções internacionais: temos um acordo
internacional e temos de saber como é que o Estado, depois de se vincular, reage
relativamente à sua aplicação na ordem interna: o que nos diz o artigo é que a
convenção produz os seus efeitos depois de ser regularmente ratificada e aprovada, e
publicada no Diário da República, produzindo os seus efeitos enquanto essa convenção
continuar a vincular o Estado português no domínio internacional.
E o Direito Europeu ou das Nações Unidas? até 2004, tínhamos o número 3 do artigo
8º apenas, que dizia que produziam imediatamente os seus efeitos, havendo uma
aplicação das diretivas da União. Surgiu, depois, uma revisão constitucional que, no
fundo, estabeleceu que as disposições dos tratados que regem a União Europeia e
derivados aplicam-se na ordem interna, nos termos definidos pelo direito da União,
com respeito pelos fundamentos do Estado de Direito.
Relações de prevalência entre o direito internacional público e o direito interno na
ordem jurídica portuguesa: relação entre o direito internacional e o direito
constitucional e as relações entre o direito internacional e a legislação ordinária;
Existe uma doutrina que entende que existe prevalência do direito internacional
público cogente sobre o direito interno de valor constitucional, sustentado pelo
professor Jorge Miranda. O direito imperativo impor-se-ia na ordem internacional e
no direito interno. O professor Jorge Miranda entende, no que toca ao direito cogente,
ele se imporia à nossa constituição.
Teríamos, o problema da declaração universal dos direitos do Homem, no artigo 16º/2
diz nos que as disposições da constituição deve respeitar a declaração universal dos
direitos do Homem, que é um parâmetro jurídico das normas da constituição
portuguesa e da sua interpretação. Há aqui um fenómeno de aparente hierarquia.
Há quem entenda, praticamente todos os professores de direito europeu, que o direito
europeu quer originário, como o direito derivado, teriam uma força jurídica superior
do que a constituição e estavam numa superior posição na hierarquia. A jurisprudência
iria no sentido dessa hierarquia.

Temos 3 eixos de aparente prevalência do direito internacional sobre o direito


interno:

1. Declaração universal dos direitos do Homem, originariamente, esta não tem valor
de direito internacional público nem fonte, é uma declaração política não tem valor
jurídico normativo, apenas pela constituição portuguesa é que ela vale como direito
internacional através de uma receção com uma eficácia plena para ter valor normativo
constitucional.
Aquilo que se verifica é que não estamos perante uma heterolimitação, mas uma
autolimitação do próprio constituinte português, que resolveu incorporá-la como
direito constitucional, que implica que até as normas da constituição devam ser
interpretadas e, se necessário, integradas por esse mesmo direito constitucional em
que se recebe uma declaração política que passa a ter valor normativo constitucional.
O constituinte autolimitou-se porque quis, tendo razões para isso, porque, na altura,
Portugal estava a passar por um período difícil, com forças políticas extremistas.
Dado aos direitos fundamentais terem de ser conforme à Declaração Universal dos
Direitos do Homem, o legislador tomou esta decisão.
Mas isto quer dizer que as normas da declaração universal dos direitos do Homem
podem ir a tribunal e declarar a inconstitucionalidade de normas da nossa própria
constituição? É que é isso que é ditado pela prevalência das normas, ou seja, as
normas que se encontram numa posição superior na hierarquia podem revogar
normas que estejam abaixo de si, em momentos de colisão entre as duas normas. Mas
não, as normas da nossa constituição não podem ser declaradas inconstitucionais,
porque a declaração universal até proíbe a retroatividade. O que é plausível é utilizar
essa norma da Declaração Universal no seu valor paramétrico de interpretação para
declarar a invalidade da disposição transitória que permite a punição retroativa.
Temos qui domínios de prevalência paramétrica da Declaração Universal.

2. Ius Cogens: O direito imperativo prevalece sobre a própria constituição do Estado?


É a própria constituição que determina que normas lhe podem prevalecer, e esta não
alude ao direito imperativo, artigo 8º/1, por exemplo, não há nenhuma disposição que
autorize que uma norma de Ius Cogens possa prevalecer em relação à constituição.
Em termos de fiscalização nos nossos tribunais, se uma norma de direito imperativo
entrar em colisão com uma das nossas normas inconstitucionais, as nossas normas da
constituição não podem ser declaradas inconstitucionais.

3. Problema do Primado atuar sobre a Constituição portuguesa: o primado é


defendido pelo tribunal de justiça da união europeia; há uma jurisprudência,
defendida pelo mesmo tribunal, que diz que os Estados são obrigados a obedecer às
normas de direito europeu, significando isto uma prevalência sobre o direito interno,
incluindo a constituição. Este entendimento não parece ter uma sustentação
inequívoca. Existe responsabilidade por parte dos Estados e há punições, pelas quais
os Estados têm de responder. A responsabilidade dos Estados não significa
hierarquia, significa só obrigatoriedade no cumprimento.
São poucos os casos em que os Estados invocam as suas constituições para
incumprirem Direito Internacional.
Interpretação da constituição portuguesa: número 4 e 3 do artigo 8º, em que se diz
que as disposições dos tratados e do direito derivado europeu se aplicam na ordem
interna de acordo com o Direito Europeu, que está conformado no tratado. Artigo
288º: têm aplicabilidade e efeitos jurídicos diretos. Ao serem incorporadas em leis,
uma lei ordinária não tem prevalência sobre uma norma constitucional, que está desde
o artigo 3º e no artigo 112º. Ou seja, nenhuma norma de direito europeu incorporada
numa lei ordinária pode ter precedência sobre uma norma constitucional. A remissão
feita para o direito europeu não autoriza a que se possa sustentar que estes tenham
prevalência sobre a constituição portuguesa. No que toca aos tratados europeus, estes
não são regulados de forma muito diferente do que os tratados internacionais.
O professor Jorge Miranda diz que o artigo 8º/2 na relação entre tratados
internacionais e o direito interno, consegue-se extrair uma relação de prevalência do
direito internacional convencional. Se um tratado internacional produz os seus efeitos
jurídicos e o Estado português não entrou em recesso, o tratado continua a vincular
internacionalmente o Estado português, aplicando-se plenamente na ordem interna,
deixando de ter lugar se se admitir que uma lei superveniente pudesse contrariar esse
tratado, posterior à entrada do tratado.
Consequência: o aplicador ou operador judicial deve dar prevalência à norma do
tratado.

Direito Europeu: normas de resultado, normas de direito europeu que carecem de


transposição para o direito interno dos Estados por atos de direito interno. Verifica-se
que as diretivas carecem desta incorporação, sendo normas de resultado.
A diretiva, por regra, para valer, carece de transposição e não tem aplicabilidade
direta. Não deveria ser pormenorizada ao ponto de retirar ao Estado a competência
para a desenvolver e integrar.
Regime dos regulamentos (têm aplicabilidade direta sem necessidade de transposição
e os seus efeitos jurídicos são diretos): o regulamento é aplicável em todos os seus
elementos. Pode haver direito interno de execução do regulamento.
As decisões são ou não normas em função do seu conteúdo.

2.11.2020

As relações entre normas de direito internacional público e normas de direito


interno: prevalência das normas da nossa constituição, em relação a convenções,
costumes ou direito da União Europeia (regulamentos, diretivas e decisões).
Relações de prevalência entre o direito convencional e o direito interno como atos
legislativos, no que toca à relação entre estes dois temos o artigo 8º/2 da CRP,
enquanto vincularem o estado português, prevalecem sobre normas contrárias, isto
em termos de aplicação preferencial.
As diretivas têm de ser transpostas em norma jurídica interna.
Número 8 do artigo 112º: fala-nos da diretiva como ato normativa. O Estado pode
incorrer em responsabilidade por não cumprir com este artigo.
Direito da União Europeia: deriva do artigo 288º do Tratado de Lisboa, tem efeitos
jurídicos diretos dos quais resulta a sua prevalência em relação a atos legislativos. O
mesmo com as decisões da União Europeia, se tiverem caráter normativo, têm
prevalência sobre a norma jurídica interna. Quanto às diretivas, estas têm de ser
incorporadas em normas de direito interno. Se estivermos perante uma situação em
que uma diretiva é transposta para a ordem interna, pelo número 8 do 112º, se houver
uma lei que a transpõe e depois uma lei sucessiva que derroga essa mesma lei que a
transpôs e põe em causa o cumprimento da diretiva, e o Estado incorre em
responsabilidade por não dar execução devida às diretivas da União Europeia.
Outras situações em que as diretivas auto aplicativas ou regulamentares, de tal modo
pormenorizadas que deixam pouco espaço para que se possa adicionar regras em
relação ao respetivo regime.
Há quem entenda que, se uma diretiva auto aplicativa não for transposta durante os 2
anos, esta poderá aplicar-se na ordem interna do Estado, tendo efeitos jurídicos tal
como um regulamento, dando preferência à diretiva.
Isto não está nos tratados e deriva da jurisprudência, o que levanta determinados
problemas.
Diretivas quadro e diretivas de execução: uma diretiva quadro é uma diretiva principal
e as de execução desenvolvem e concretizam as diretivas quadro.
As diretivas não legislativas, que são delegadas, portanto, pode haver normas
delegadas por direito europeu e pode haver diretivas de delegação e diretivas
delegadas que se devem mover ao abrigo das diretivas delegantes.

Celebração de convenções internacionais pelo Estado português: os acordos e


tratados têm entre si semelhanças, mas elementos diferenciais, que se tornam cada
vez menos relevantes.
As convenções internacionais na ordem interna portuguesa
Fase negocial: o Governo é que exerce essas funções negociais, de acordo com o artigo
197º da CRP, número 1, alínea b), o órgão que tem esta responsabilidade é o
Ministério dos Negócios Estrangeiros, sem prejuízo de poder ser outro que tenha
relevância.
Fase instrutória: problema de saber se há convenções que exijam intervenção de
outras entidades ou formulação de pareceres obrigatórios: se há leis que exigem
intervenção de sindicatos, entende-se que essas mesmas entidades devem ser ouvidas
previamente à celebração da convenção internacional.
Fase constitutiva: é aquela que envolve uma modificação do status jurídicos da
convenção na ordem interna, o primeiro momento tem a ver com a aprovação da
convenção, que pode ser feita pelo Governo ou AR; no que toca aos tratados, o órgão
é exclusivamente a AR, o Governo não pode. Artigo 161º alínea i), matérias de
soberania do Estado devem sempre revestir a forma de tratado e não de acordo
internacional. A AR pode aprovar tratados sobre outras matérias, nomeadamente as
da sua reserva de competência legislativa, artigos 164º e 165º.
A aprovação ocorre por maioria simples, havendo quem entenda que a maioria de
aprovação deverá ser a mesma das leis orgânicas.
Já a ratificação é um ato livre do Presidente da República, e pode não ratificar por
razões políticas.
Após a ratificação, a convenção estará apta para produzir os seus efeitos jurídicos no
sentido da vinculação ao Estado português, se for multilateral o Estado português
apresenta os instrumentos de adesão a essa convenção, se for bilateral a situação vai
ser diferente.

Quanto aos acordos internacionais: a AR tem competência para aprovar convenções


sobre as matérias sobre a sua reserva relativa e absoluta da sua competência
legislativa. Para lá da sua competência, temos a do Governo para os poder aprovar,
artigo 187º número 1 da CRP.
Aqui não há concorrência. Há aqui uma clausula de atribuição de competências da qual
resulta uma separação, havendo uma possibilidade de comunicação de competências.
Estes acordos internacionais são remetidos ao presidente para um controlo de mérito,
aqui o PR não procede à sua ratificação, mas sim à sua assinatura, artigo 134º alínea b
da CRP.
A constituição da república diz-nos com clareza, no artigo 137º, que a falta de
promulgação ou assinatura pelo PR acarreta a sua inexistência jurídica, não produzindo
qualquer efeito. Qualquer dos atos previstos na alínea b) do artigo 134º.
Nenhuma norma obriga o presidente a assinar, e isso também não decorre do artigo 8º
das suas competências, se o presidente não assinar é que eles dizem que isso equivale
a uma não ratificação. O regime da assinatura é idêntico ao da ratificação.
Quanto a prazos, no que toca ao PR não existem prazos para assinatura de acordos ou
ratificação de tratados, pode exceder-se o prazo dos 20 dias.
O presidente pode recusar assinar acordos internacionais, e quaisquer argumentos
contra só favorecem o aumento de poderes por parte do Presidente, que já tem
poderes para assinar acordos internacionais, apenas nem sempre o é obrigado a fazer.

Fiscalização da constitucionalidade: na medida em que haja um costume que esteja


por detrás de um ato ou uma norma consuetudinária, pode haver fiscalização e
controlar a constitucionalidade do costume (mesmo que não diretamente).
Sendo o costume norma, todas as normas que integram a norma jurídica portuguesa
podem ser objeto de fiscalização concreta e sucessiva.
Diretivas: para serem controladas precisam de ser incorporadas em tese de direito
interno, sem ser uma diretiva regulamentar, que dado o prazo não é observado,
entende-se que a diretiva, se for demasiado detalhada, desbanca leis ordinárias
contrárias (as self executing) são, obviamente, suscetíveis de fiscalização.
Fiscalização da constitucionalidade das convenções internacionais (dos tratados e
acordos): a fiscalização preventiva da constitucionalidade é exercida pelo PR ou
representantes com deveres; faz mais sentido que o PR exerça uma fiscalização
preventiva, para não haver possibilidade de ser assinada ou ratificada.
Claro que há formas de superação do problema: pode haver renegociação do tratado
ou formulação de reservas (em tratados multilaterais). O número 1 do 278º diz-nos
que pode ser sujeita a fiscalização preventiva qualquer disposição enumerada no
mesmo artigo. A norma que estamos a examinar é completa e isenta de dúvidas? Os
tratados internacionais podem ser objeto de fiscalização preventiva, também acordos
aprovados pelo Governo.
Os acordos internacionais aprovados pela AR são aprovados sob forma de resolução
e não sob a forma de decreto.
Os acordos internacionais aprovados pela AR, que também os pode aprovar, são
aprovados sob forma de resolução parlamentar. Então dir-se-ia, pela interpretação
literal, que o PR pode fiscalizar tratados enviados para ratificação, acordos aprovados
pelo Governo e sob forma de decreto, mas não sobre resoluções da AR que aprovem
acordos internacionais (não há menções).
É claramente uma lacuna, entende-se que a expressão “decreto” não significa
textualmente e apenas um decreto formal do governo, serve para diploma que lhe
tenha sido enviado para assinatura, vale também para as resoluções.
Se a convenção internacional, tratados, forem julgados inconstitucionais pelo TC, e o
PR não poderá ratificá-los. O que pode acontecer, e isto é muito importante, é que,
para além de a AR poder renegociar a convenção ou desistir da sua renegociação,
pode, em articulação com o Governo, formular uma reserva, e a Assembleia da
República reaprova a convenção por uma maioria qualificada, superando a decisão do
tribunal constitucional. O que o PR nunca pode fazer é proceder à ratificação de uma
convenção que não foi reaprovada pela Assembleia da República.
Importa sublinhar a problemática das reservas: na hipótese da convenção
internacional não ser renegociada, porque se for renegociada vai ser apresentado ao
Presidente um outro diploma, uma outra convenção, pode haver uma situação em que
a convenção recai sobre uma norma em especial, e o Estado português pode, se o
tratado o permitir, e se não houver objeções fundamentais de outras partes, o Estado
português pode formular uma reserva no sentido dessa mesma norma não se aplicar
na ordem interna ou se aplicar com uma outra interpretação diferente para haver
consentimento. Ocorrendo a admissibilidade, um novo diploma reaprovado será
apresentado e este pode optar por ratificar ou pedir outra vez a apreciação da
constitucionalidade. Como dissemos, isto envolve o Governo, mas a última palavra é
da AR.
Já quanto aos acordos, aqueles que são aprovados pelo Governo, se houve pronúncia
da inconstitucionalidade, o Governo ou desiste ou renegoceia ou formula uma reserva,
não aplicando a disposição inconstitucional.
Querela dos acordos aprovados pela AR: O PR está ou não obrigado a assinar os
acordos internacionais? Os professores André Gonçalves Pereira e o professor Fausto
Quadros dizem que o PR é obrigado e houve mesmo quem sustentasse, efeitos da
decisão no nº 2 do 279º da CRP, o decreto não poderá ser promulgado sem que o
órgão que o tiver aprovado expurgue a norma inconstitucional, que aqui e acordo
internacional entendido como renegociação ou formulação da reserva que não aplique
a norma. Tratando-se de um acordo internacional aprovado pela AR pode ser
reaprovado pela AR. Há quem entenda, como o professor Jorge Miranda, que esta
possibilidade de reaprovação dos acordos aprovados pela AR porque o preceito fala
em decreto e os acordos são sob a forma de resolução e não de decreto, neste caso a
AR não podia usar o instituto da reaprovação para superar a decisão do TC. O
professor Blanco Morais não concorda, porque a AR pelo artigo 161º alínea i) é livre
para decidir que forma pode revestir. Artigo 137º: um acordo que não tivesse sido
assinado pelo PR seria efetivamente inexistente.
No 278º vemos que decreto vale como diploma no geral, porque é que isto não se
aplica? Por paralelismo, às resoluções como significado de diploma. A assinatura é
LIVRE e não obrigatória, sendo que, obviamente, a falta de assinatura equivale ao veto
do presidente.
Este regime é complicado porque nos afastamos cada vez mais da distinção entre
tratado e acordo.
Fiscalização abstrata sucessiva e concreta: uma convenção internacional pode ser
desaplicada se entrar em desconformidade com a constituição: alínea i) do artigo
70º/1: numa situação destas, deve haver recurso para o TC por parte do Ministério
Público ou pelos particulares, prevendo a possibilidade de recurso se a aplicação de
uma norma da convenção puser em causa jurisprudência.
Abstrata sucessiva: uma convenção internacional pode ser impugnada, se o TC
decretar a inconstitucionalidade da norma, e será invalidada e, por regra, será expulsa
da ordem jurídica, colocando problemas do cumprimento da convenção, o Estado
entra em incumprimento.
Ao abrigo do artigo 46º da CVDT, há uma violação manifesta de uma disposição de
competência, que deve ter uma importância fundamental. Só aí, por violação do seu
direito interno, é que o Estado português pode invocar a nulidade da convenção e da
expressão do seu consentimento (se for multilateral).
Artigo 277º: trata-se de uma norma que só opera em sede de fiscalização abstrata
sucessiva, inconstitucionalidades orgânica ou formal de tratados regularmente
ratificados; aparentemente, esta norma aplica-se apenas a tratados, embora haja uma
corrente (professor também) que entende que a norma deva ser alargada a acordos
internacionais. Este artigo aplica-se a convenções internacionais cujas normas
padeçam de inconstitucionalidade formal e orgânica, o que significa que este artigo
não se aplica em casos de vício de natureza material.
Outra condição é que as normas viciadas sejam aplicáveis também na ordem jurídica
das outras partes (princípio da reciprocidade).
Os vícios não podem ser graves, formais e orgânicos, não constando duma disposição
essencial ou fundamental.
O que é que acontece se estes requisitos se cumularem: normas julgadas
inconstitucionais, e que em regra deveriam ser inválidas e expulsas da ordem jurídica
portuguesa, não produzindo os seus efeitos, não serão tidas como inválidas, mas como
meramente irregulares. E, sendo regulares, apesar de viciadas, podem produzir os seus
efeitos jurídicos na ordem interna.
A irregularidade é o menos grave dos desvalores clássicos do ato inconstitucional,
pode implicar apenas responsabilidade interna de quem praticou o ato, disciplinar ou
política, temos a invalidade e a inexistência jurídica (para os vícios mais graves).
Em sede de irregularidade, o ato é inconstitucional, mas continua a produzir os seus
efeitos jurídicos.
esta disposição foi consagrada porque é complicado para a ordem jurídica portuguesa
incorrer em incumprimento de uma convenção internacional se, de facto, essa
inconstitucionalidade é pouco relevante.
Isto deixa de fora as inconstitucionalidades materiais: o TC declara a
inconstitucionalidade, e o Estado português entra em incumprimento e pode ser
objeto de responsabilidade internacional.

9.11.2020

Com o professor Vilhena de Freitas: a responsabilidade no direito internacional


público
Em princípio, a responsabilidade internacional é uma responsabilidade objetiva e que
se baseia num facto, ou seja, prescinde parcialmente do critério da culpa; por outro
lado, pode até prescindir do prejuízo.
Encontramos como elemento do facto a ilicitude e a imputabilidade por nexo de
causalidade.
Numa visão clássica era necessário o prejuízo, que vinha do pressuposto da existência
de uma verdadeira organização internacional.
O fundamento principal é o ilícito.
Existência de uma obrigação internacional: pode ser citada antes da existência do ato
ilícito.
Facto gerador de responsabilidade: Tem que haver um erro ou a falta de algo, não é
preciso implicar culpa.
Como estamos a lidar com Estados, isso seria pouco compatível com a sua forma. Um
comportamento atribuído ao Estado que constitui uma violação de uma obrigação
internacional.
Esta atribuição pode resultar quer de um ato quer de uma omissão.
Alguma doutrina: mais do que a questão da culpa, temos de ver que o tipo de
negligência exigida varia em consequência do caso em concreto. A falta de negligência
devida é apenas um critério para aferição de causalidade, não é vista como autónoma.
A culpa pode ter algum papel quando o Estado exerce atividades lícitas: falta de
negligência na execução de uma medida lícita.
Extensão da culpa: pode afetar o montante da indemnização; por não ser na esfera
internacional, não significa que não possa existir um tratado que a defina; pode ter
relevância facilitando a impugnabilidade, pode levar a uma indemnização penal; a falta
de motivo pode levar à licitude, por exemplo.
Isto não põe em causa a existência dos graus de ilicitude. A tendência é a de que a
culpa não é relevante.
É necessário que exista ilicitude: violação de uma obrigação internacional. O ato de
um E não pode ser visto como ilícito senão no quaró da comunidade internacional e na
existência de uma obrigação. O Direito interno nas relações com outros Estados são
um simples facto.
A ilicitude pode variar:
Os graus de ilicitude não são sempre os mesmos;
Delito;
Crime internacional;
Comissão de Direito Internacional: suscita-se douradas entre o Estado;
Abandonada a alusão aos graus de ilicitude;
O relativo ao conteúdo da responsabilidade tem já graus
Como é que se determina a ilicitude?
Existe violação quando o facto do Estado não está conforme ao facto que está exigido
pela comunidade internacional
Não interessa a fonte da obrigação
Obrigações de resultado: basta uma mera desconformidade com o resultado devido.
Obrigações de meios: pode ter que se introduzir uma ideia de negligência: é mais
difícil de aferir a ilicitude Imputabilidade: Implica que haja uma ligação entre o Estado,
e as pessoas sou órgãos que cometeram o ato ilegal- critério geral;
Ato atribuído ao Estado: decisão de um órgão individual, o maior exemplo é a área
dos contratos; pode ainda ser uma inércia de poderes públicos - atividade
administrativa
Alguns autores tentaram considerar que a atividade administrativa teria que ser de um
órgão superior, não podia ser de um subalterno - posição rejeitada pela maioria da
comunidade internacional - posição defendida pelos norte-americanos
Atuação de órgãos legislativos: quer a atuação quer a abstenção podem gerar
responsabilidade; Atos jurisdicional: situações de negação de justiça (passivas ou
ativas).
Será que agente incompetente pode comprometer a responsabilidade do Estado?
Não, se adotarmos o ponto de vista que os atos devem ser sempre considerados como
atos cometidos como pessoais; Mais duvidoso e a questão de se considerar a aplicação
disto a funcionários de facto ou a situações de atos ultra vires; há muito que se
considera que o princípio é este, mas pode haver situações limite em que se tenha que
discutir o grau de controlo: tem que agir como funcionários autorizados e usem meios
como tal O que resulta da jurisprudências internacional é não tanto um controlo
efetivo, mas um controlo que devia ter sido exercido, parece variar em função das
circunstâncias do caso concreto. Abrange qualquer órgão do Estado. Existência de atos
de desmembramentos dos Estados:
4º e 5º do projeto da comissão
Abrange autarquias, cantões, institutos públicos, universidades, privados investidos de
poderes de autoridade, etc.: entidades abrangidas por um “chapéu” de
desmembramento do Estado.
O Estado poderá ser responsável pelos atos dos particulares?
Se atuarem como funcionários do E este pode ser responsabilizado • E se há uma
mutação da natureza? Um IP é transformado em entidade privada - apenas é
responsabilizado pelo tempo em que foi IP
Exceção: 1. Responsabilidade pelos factos dos particulares sobre a sua jurisdição
quando não tenha provido o suficiente para proteger as suas vítimas: temos uma
questão de negligência.
Os funcionários ou órgãos do Estado estão à disposição de OI: Pode o Estado ser
responsabilizado? Às vezes. Situações de insurreição:
Regime específico pode afastar o controlo efetivo do Estado
Se a insurreição triunfa, a autoridade vitoriosa será responsável pelos atos e atuações
adorados pelos seus subalternos durante a insurreição e pelos danos e atos abrangidos
pelo Governo destituído - pois os insurretos devem ser considerados como conformes
à vontade do Estado, como seu representante desde o início da guerra civil
Se a insurreição falhou o Governo legítimo é responsável pelos atos dos seus agentes,
mas não pelos que se insurgiram
Tendência - princípio de irresponsabilidade como regra em situações de conflitos
militares. Este princípio não é indisponível, em situações de guerra - um tratado pode
afastá-lo, por exemplo.
Responsabilidade conjunta:
Situações nas relações com os protetorados OU em que existem participações
conjuntas de Estados para ações específicas
A solução depende da situação em concreto Tipo de reparação: • Decisão declarativa -
o Tratado faz uma declaração quanto à ilegalidade do ato do Estado réu o que só por si
constitui uma mediação de satisfação.
O poder pode ser concedido pelos TIs
Satisfação: qualquer medida que o autor de uma violação de uma medida a que
estavam vinculados. Está pode ser conseguida por norma consuetudinária ou por
acordo entre as partes. Pode ser relevante.
É uma componente da reparação latu sensu.
• Indemnização (em si) Vs. Reconstituição in natura - qual é a regra?:
1. Nem sempre a prática tem sido muito clara no sentido da reconstituição in natura
2. A restituição as vezes é demasiado inflexível na esfera internacional, sendo a
indemnização o aspeto mais favorável para todos
3. A indemnização é o regime regra - o grau da indemnização varia consoante a
negligência.
4. É indemnizável só o prejuízo direto, em princípio: dano direto, deriva
necessariamente do facto ilícito: tem que haver um nexo de causalidade entre o facto
ilícito e o dano O prejuízo pode ser mediato ou imediato.
É duvidoso a obrigação de oferecer garantias autónomas face ao dever de não
repetição. Reparação por equivalência de indemnização acaba por ser a forma mais
usada. Existência ou não pelo risco:
A regra é a responsabilidade por facto ilícito: a responsabilidade pelo risco acaba por
ser integrada nesta regra.
O risco acaba por ser conciliado com o facto ilícito.
Está quase sempre associado a uma ideia de negligência do Estado.
Podem existir convenções pontuais que determinam a responsabilidade pelo risco
Abuso de direito:
Alguns autores tentaram admitir uma situação de indemnização por abuso de direito •
Esta visão baseia-se numa responsabilidade por atos lícitos Exoneração da
responsabilidade:
Legítima defesa.
Contramedidas: 49º e 53º da CNU
Perigo.
Estado de necessidade.

15.11.2020

Sujeito de DIP: toda a entidade que no âmbito ou nos termos de normas de DIP seja
titular de direito e se encontre submetido a deveres ou obrigações.
Diferença entre capacidade e personalidade: os sujeitos têm necessariamente
personalidade, mas nem todos tem capacidade de exercício plena (faculdade de
poderem agir na comunidade internacional através de condutas reguladas pelo mesmo
Direito Internacional).
Capacidade de exercício: Estado soberano: plena: envolve poderes: representa toda
uma unidade de comunidade humana, tem funções e pode agir através destes três
tipos de condutas: 1: Poder de celebrar tratados (ius tractum); 2: Faculdade de
exercerem um direito de defesa (direito da guerra: ius bellum): em caso de legítima
defesa; em caso de agressão 3. Faculdade de abrirem missões ou legações
diplomáticas junto de outros sujeitos de Direito Internacional (ius legationes).
Este Estado não é o moderno que nasceu com a paz de Vestefália, era um estado
comerciante e guerreiro. Os Estados passaram a delimitar extremos da sua soberania
através da Carta das Nações Unidas.
Os Estados não devem poder interferir ou imiscuir-se nas relações internas uns dos
outros. Os Estados que fazem parte das Organizações Internacionais limitam a sua
soberania. Quer o Estado soberano quer certas Organizações Internacionais têm
soberania plena.
Nem todos os Estados têm soberania plena, alguns têm soberania limitada, tal como
acontece com as Organizações Internacionais: Uns não podem exercer o direito de
guerra, por exemplo; alguns têm apenas alguns dos atributos referidos acima; outros
são Estados de soberania diminuída: protetorados, por exemplo (há um estado
protetor e um Estado protegido, que garante que o protegido será defendido em caso
de ameaça, mas em contrapartida o protegido tem de facultar bases militares e a sua
política externa será condicionada por orientações ou injunções por parte da entidade
protetora, por exemplo).
Regime material de protetorado: sem serem assim designados, operam como se o
fossem.
Estados por tratado conferem a outros Estados aspetos da sua defesa e política
externa a outro Estado, sem serem protetorados.
Estados beligerantes: perdeu hoje, quase, completamente a sua importância. Era uma
entidade composta por forças que procuravam num determinado Estado derrubar o
poder político e, não conseguindo, dominavam uma parte desse Estado com
reconhecimento do poder dominante. Esta entidade era considerada um sujeito de
DIP com capacidade limitada.
Violações de convenções internacionais que o Estado onde o conflito decorria
pudessem ter lugar em estado dominado pelo beligerante, o Estado não seria
responsabilizado pela violação; danos, crimes que para terceiros Estados ocorressem
no território dominado pelo beligerante, o Governo do Estado não seria tornado
responsável pelo ressarcimento desses mesmos danos ou por incumprimento de
obrigações; este quadro permitia a aplicação do direito humanitário de guerras
também ao próprio beligerante; tinha capacidade jurídica limitada de celebrar tratados
que regulassem o conflito ou que pusessem termo ao conflito.
Esta figura extinguia-se no insurreto: força armada de guerrilha que, podendo ou não
dominar parcelas de um determinado Estado, desencadeava ações armadas no quadro
de um conflito político. Não eram sujeitos de DIP.
1. Ganhou força;
2. Agora pode ser considerado como sujeito de DIP;
3. O direito humanitário de guerra é-lhes aplicado
4. Reconhecida a possibilidade de se sentarem à mesa de conferências internacionais
para pôr termo ao conflito e para assinarem tratados de paz para por termo a esse tipo
de guerras.
O tempo e evolução levou a que a figura do beligerante se tornasse obsoleta.
Movimentos de libertação nacional: movimentos políticos que defendem a
independência de uma parcela de um Estado por razões ligadas a entidades étnicas,
linguísticas ou culturais: 1. Atua na ilegalidade; 2. Defende a independência através de
um processo de luta: nem sempre: recorre à ação armada e à guerrilha; 3. Tornaram-
se conhecidos sobretudo a partir dos anos 50 e 60.
As Nações Unidas consideraram-nos superiores a partir do momento em que se
reconheceu o estatuto de movimento de libertação, em vez de guerrilha.
Isto significa que têm apoio de natureza diplomática e financeira, para além de
poderem fazer parte das Organizações Internacionais.
É uma forma de legitimação política destas forças.
Governos no exílio: Governos de Estado que foram invadidos ou Estados em que têm
uma invasão que, não tendo condições para se manter no território, partem para
outro país e criam uma estrutura no exílio, dentro de outro Estado: capacidade
limitada.
1. Em tese, para serem reconhecidos como sujeitos de DIP precisam de ter os
três atributos considerados em cima 2. Costumam ter ius bellum e ius tractum
• Indivíduo - capacidade limitadíssima - titular de direitos humanos.

Reconhecimento do Estado e do Governo. O Estado é um sujeito de DIP, mas existem


coletividades territoriais que se podem arvorar ao estatuto de estado sem terem os
elementos constitutivos da realidade estadual. Haver uma mudança brusca e
revolucionária do Governo e se problemáticas o reconhecimento do mesmo Governo
pelos restantes Estados e estruturas das outras Organizações Internacionais. O
reconhecimento é um ato j unilateral e tendencialmente livre (no sentido positivo: os
Estados e OI não são obrigados a reconhecer uma determinada instituição como E). É
um ato político baseado em juízos de méritos. Pode assumir natureza constitutiva
(mesmo que não tenha os elementos, por razões políticas pode justificar-se a decisão
de reconhecer) ou declarativa (numa declaração atesta-se uma determinada realidade,
que uma coletividade territorial tem os elementos típicos de estabilidade), esta última
costuma ser a regra.
Critérios para o reconhecimento: Povo; Território com fronteiras delimitadas; Poder
político soberano; Esse mesmo poder deve exercer uma relação de domínio sobre o
correspondente território O facto de outros Estado dizerem que estamos perante um
novo Estado justifica a existência de um novo pp e de uma nova coletividade
territorial. Existem situações de reconhecimento com eficácia constitutiva. Do ato de
não reconhecimento temos efeitos de natureza proibitiva ou condicional: Efeitos
jurídicos específicos e determinantes no surgimento ou não de uma nova coletividade
estadual: reconhecimento proibido;
Formas de reconhecimento condicionado: face a tantos Estados que, de repente,
despontaram e podiam reivindicar a sua independência futura a União Europeia
estabeleceu orientações muito estritas para o reconhecimento de novos Estados.
Havia vários riscos para a União Europeia: 1: Estados autoproclamados que violassem
os critérios das fronteiras; 2: Regimes ditatoriais que apresentam problemas graves na
sua coexistência com Estados democráticos na EU; 3: Este movimento de
autodeterminação poder dar origem a unidades europeias - risco de contágio; 4:
Condições para o reconhecimento: A. Respeito pelo princípio uti posidetis iuris; B.
Regimes democráticos C. Estados que admitissem princípio gerais de DIP: não
interferência e resolução pacífica de conflitos, por exemplo Orientações para o não
reconhecimento: doutrina Stimson (a propósito da Manchúria): O que foi criado
artificialmente ou ficcionalmente: se o Estado mais poderosos resolve através de uma
ação militar criar um outro E, ficcionalmente, separando-o do E maior, num outro
Estado: 1. A autodeterminação tem de ser um movimento genuíno 2. Não se pode
forçar o separatismo de uma determinada região, pela força das armas, noutro Estado
é necessária uma base de legalidade para o reconhecimento.

28.11.2020

Vamos falar de reconhecimento de Governos: tem uma dimensão mais política do


que o reconhecimento de Estados. Os Governos reconhecem Estados e abstêm-se de
fazer considerações sobre novos Governos.
O reconhecimento de Governo, que tem uma dimensão constitutiva mais do que
propriamente declarativa (que tem uma componente que cria, não só “declara”,
podemos fazer confusão com a palavra reconhecer/declarar, mas é mais constitutivo,
constrói): é em situações de rutura, ou em guerras civis, onde dois Governos, rivais,
revindiquem o poder num determinado Estado.
A tendência contemporânea (do tempo atual), com exceções: os Estados reconhecem
outros Estados e abstêm-se de fazer pronunciamento quanto aos Governos. Há
declarações de organizações internacionais, com muito peso, como a União Europeia
ou a Organização das Nações Unidas, recomendações ou resoluções proibitivas do
reconhecimento de certo tipo de Governos: isto é uma exceção porque, embora o
reconhecimento de Governo seja um ato livre, há resoluções de certas organizações
internacionais e isso passa a assumir um caráter condicional e constitutivo
relativamente àquilo que os Estados-membros dessas organizações podem, ou não,
reconhecer. (Pelo que percebi, há Estados que “compactuam” e, fazendo parte de uma
organização internacional, acordaram em não poder reconhecer certos tipos de
Governo, tal como qualquer outra norma que uma parte dum tratado tenha de seguir,
por ter assinado este último).
Por outro lado, mesmo sem esse caráter imperativo, se uma organização internacional
reconhece um dado Governo, e depois não reconhece outro, isto não pode deixar de
ter um peso na legitimação desse mesmo poder.
Como exemplo, temos o caso da Líbia, que se encontra em Guerra Civil e existem dois
Governos paralelos, e tendo as nações unidas reconhecido UM deles (em vez do outro)
não deixa de ter algum peso nas questões que relevam nesta matéria.
O que se pode dizer relativamente ao conhecimento de Governos em Direito
Internacional Público: é um ato unilateral, através do qual um órgão competente do
estado ou admite que o conjunto de pessoas que assumiram o poder noutro Estado
tem a faculdade de o representar como instituições soberanas, ou pelo menos o
podem representar nas relações recíprocas entre os Estados. Outra vez, é um ato
jurídico unilateral, em regra livre, dotado de conteúdo político (é, como sabemos,
intrinsecamente um ato político), e com caráter autónomo, dado que, por regra, não
depende de uma prévia convenção internacional que estipule, precisamente, critérios
de reconhecimento. Se tiver de respeitar um outro ato jurídico unilateral emitido por
uma organização internacional que, por exemplo, estabelecem disposições proibitivas,
aí o ato já não será, naturalmente, autónomo.
Quanto à linguagem: é uma linguagem relevante, no sentido de se perceber ou de se
entender que o Governo de um Estado reconhece o Governo de um outro Estado.
As palavras são muito importantes quando dadas pelo representante que reconhece,
para que mais tarde os tribunais possam entender quais são as consequências jurídicas
desse aparente ou real reconhecimento.
Existe aqui uma informalidade e diversidade das expressões do reconhecimento: há
declarações solenes, declarações escritas, declarações orais à imprensa, existem notas
verbais, certificações, notas verbais, certificações, notas diplomáticas, telegramas e até
tweets (pelo uso do Twitter, como se passou com o reconhecimento do Governo pelo
Primeiro Ministro britânico) que é informal. Pode haver uma troca de embaixadores,
com peso considerável se ocorrer depois de uma revolução, pode ser interpretada
como forma de reconhecimento.
Para efeitos de se perceber o reconhecimento expresso e implícito, há um critério que
tem predominado. Não é o único critério, mas é o dominante, que é o critério da
efetividade, que é o mais objetivo: um determinado poder político exerce um
domínio efetivo sobre a totalidade ou parte de um determinado território,
dominando o aparelho de Estado e controlando a população, este critério pesa no ato
de reconhecimento.
O ato de reconhecimento não tem de ser simples, pode haver reconhecimentos
condicionados e com a possibilidade da sua retirada (apesar de haver divergência
doutrinária).
Muitas vezes, os Governos podem ser reconhecidos como executivos de iure (de
direito) e executivos de facto: ordinariamente, quando havia um movimento
revolucionário, vários Estados reconheciam o Governo que predominava como
Governo de facto mais não ainda Governo de direito (de iure), o que só ocorria quando
esse mesmo poder passasse a ter uma institucionalidade própria e a dominar
efetivamente a situação política.
Isto acontece quando, normalmente há uma revolução e derrubam o Governo e o
poder, e os dias seguintes são de grande incerteza e ninguém sabe o que fazer, e então
reconhece-se o Governo dominante como o Governo de facto, mas ainda não de
direito ainda.
A ideia de que o reconhecimento pode ser pouco relevante nos dias de hoje, porque os
Estados abstêm-se de atos expressos dessa natureza, não é totalmente irrelevante,
porque essas decisões têm efeito nos tribunais, que seguem aquilo que é determinado
pelos respetivos Governos, embora a situação não seja totalmente clara.
No âmbito do Direito Internacional Público e Privado os tribunais podem,
independentemente daquilo que o Governo possa ter decidido, quando há
controvérsias sobre o património ou titularidade de património, os Governos podem
atender a aspetos de saber quem tem o domínio efetivo e comprovado sobre o
território de um determinado Estado.

Sujeitos de DIP: os Estados são sujeitos de Direito Internacional Público com


capacidade plena, vários outros sujeitos (protetorados, por exemplo) são sujeitos de
DIP com capacidade limitada. Algumas organizações internacionais têm capacidade
plena, aquelas que têm direito de celebrar tratados (ius tractum), direito de defesa (ius
bellum) e o direito de representação diplomática (ius legaciones) enquanto outras, não
tendo estas capacidades, em função dos seus próprios estatutos, aprovados por
tratado, não têm essa mesma capacidade plena.
Mas o que é que é uma organização internacional? Um sujeito de direito internacional
que resulta da associação de outros de direito internacional, em regra, Estados.
Assim, os Estados associam-se para constituir um outro sujeito de direito
internacional, que visa prosseguir objetivos comuns a todos eles. Criam um ente
personalizado, ou seja, com personalidade jurídica e capacidade de exercício, com
instituições próprias, ou seja, com órgãos específicos e que se encontra regidas por
normas internacionais, portanto, logo à partida, o tratado institutivo da organização.
Como é que estas organizações nasceram? Séc. XIX, através de comissões
administrativas para os bens comuns.
Quanto à tipologia das organizações internacionais: temos o primeiro critério, o da
estrutura jurídica: as organizações internacionais podem subdividir-se, quanto à
estrutura jurídica, em organizações intergovernamentais e supranacionais. As
primeiras são aquelas que concedem um maior protagonismo à soberania dos Estados,
organizações onde não existe limitação da soberania dos Estados em favor da
organização, visando estabelecer relações de coordenação entre as diversas
soberanias, tendo em vista a prossecução de interesses coletivos comuns. O processo
de decisão, em regra, ou é por unanimidade ou por maioria qualificada, mais ágil hoje
em dia.
As segundas são associações de Estados que limitam a respetiva soberania para a
delegar na organização internacional, as relações são de supraordenação: os órgãos da
organização internacional têm a faculdade de emitir atos jurídicos unilaterais que
vinculam todos os Estados e limitam a soberania o que, obviamente, não impede que
os Estados saiam da organização internacional, através do recesso.
Por outro lado, nas organizações supranacionais existem órgãos próprios da entidade,
em que os membros dos diversos Estados, quando assumem o cargo, não o fazem
mediante as orientações das chancelarias, mas com independência e observância das
disposições que constam no tratado.

Tipologia das organizações internacionais:


 Critério da estrutura jurídica
 Organizações intergovernamentais: concedem maior protagonismo à
soberania dos Estados; por regra, não existe limitação/transferência da
soberania dos Estados, em favor da organização. Os Estados associam-
se e os representantes dos Estados acedem aos órgãos dessa
organização internacional como representantes dos Estados. EX:
Conselho de Segurança das Nações unidas- membros permanentes e
membros eleitos, que atuam em defesa dos interesses dos respetivos
Estados e seguem as instruções diplomáticas das respetivas
chancelarias. Visam estabelecer relações de coordenação entre as
diversas soberanias, tendo em vista a prossecução de interesses
coletivos comuns. O processo de decisão é, em regra por unanimidade,
ou pode ocorrer por maioria qualificada- pela necessidade de tomar
decisões de forma ágil e sem bloqueios;
 Organizações supranacionais: associações de Estados que limitam a
respetiva soberania para a delegar na organização internacional. Temos
relações de superordenação- os órgãos da organização internacional
têm a faculdade de emitir atos jurídicos unilaterais que vinculam todos
os Estados e que limitam a respetiva soberania. O nº6 do art. 7º da CRP
diz-nos que no âmbito da construção jurídica europeia, o estado
português aceita colocar em comum um conjunto de competências que
serão exercidas ou conjuntamente ou pela própria União Europeia. A
União Europeia é uma associação de Estados de natureza supranacional
porque os Estados limitam a sua soberania e delegam faculdades da
mesma na União e fazem-nos através de tratados institutivos, o que não
impede que os Estados possam sair da organização, entrando em
recesso relativamente ao tratado institutivo, como aconteceu com o
caso do Reino Unido, cuja saída da União Europeia ainda não se
encontra totalmente comtemplada. Por outro lado, nas organizações
supranacionais existem órgãos próprios da entidade em que os
membros, apesar de oriundos dos diversos dos Estados, quando
assumem o cargo não o fazem em obediência às instruções ou
orientações das respetivas chancelarias, exercendo esse mesmo cargo
com independência e com observância das regras que constarem do
tratado institutivo da organização.
É difícil dizer que as organizações intergovernamentais ou supranacionais podem
existir em estado martirologicamente puro. EX: ONU, que é uma organização
intergovernamental, em que a assembleia geral das nações unidas é composta por
representados dos Estados, o mesmo com o Conselho de Segurança; mas existem
situações de supranacionalidade nesta organização intergovernamental, há elementos
impuros: casos do secretário geral, que age em nome da organização- não está
subordinado a orientações do Governo português; e existem certo tipo de
deliberações dos órgãos- Conselho de segurança- que têm caráter obrigatório para os
Estados e produzem diretamente os seus efeitos jurídicos, o que é um elemento típico
da supranacionalidade. Portanto, ONU organização intergovernamental, com
elementos supranacionais. O mesmo sucede com a União europeia ao contrário: é
uma organização supranacional, com elementos intergovernamentais. EX: no conselho
europeu ou conselho económico-financeiro onde está o ministro das finanças, no que
toca ao conselho europeu os representantes dos Estados, enquanto tomem decisões
coletivas, recebem instruções dos respetivos estados, para defesa dos seus interesses,
sem prejuízo de depois a deliberação ser imputada a toda a organização. Portanto, a
União Europeia é uma organização supranacional com alguns elementos impuros de
intergovernamentalidade.

 Critério do objeto
 Organizações de fins gerais: fins políticos, de defesa, de cooperação
económica e cultural. EX: ONU, União Europeia.
 Outras organizações que são tendencialmente de fins políticos, como o
Conselho da Europa, nomeadamente na tutela de direitos
fundamentais, organizações de fins militares, como a NATO e foi o caso
de Pacto de Varsóvia (liderado pela União Soviética), organizações de
fins de natureza jurídico-económico: OCDE; organizações de fins sociais:
como OMS e organização internacional do trabalho.

 Critério do espaço e do âmbito espacial ou territorial de atuação:


 Organizações universais: associam todos os Estados que compõe a
sociedade internacional. EX: ONU;
 Organizações regionais: têm uma componente geográfica. EX: união
europeia, união africana.

ONU:
A expressão Nações Unidas muitos pensaram que poderia significar todos os membros
da Sociedade internacional, mas não- principais aliados que combateram eixo durante
a II Guerra Mundial- EUA, União soviética, reino unido frança e china eram as nações
unidas. Criada por estes estados através da assinatura da Carta das Nações Unidas em
1945 e os objetivos da carta- preservar os povos do flagelo da guerra, reafirmar a fé
nos direitos fundamentais, criar condições de justiça e de respeito pelos tratados
fundamentais e promover o progresso social e as condições devidas das pessoas em
liberdade: preâmbulo, com 2 princípios ligados à paz e proibição do uso da força como
forma de resolução dos conflitos.
Depois de assinada, outros Estados aderiram. Atualmente, integra quase todos os
estados soberanos da Sociedade Internacional. Houve um alargamento.

Quais os fins e os princípios da carta? presente na carta das nações unidas


Era. 1º/1- manter a paz e a segurança internacionais e tomar coletivamente medidas
efetivas para evitar ameaças da paz, reprimir atos de agressão ou evitar ruturas da paz.
Artigo importante, pois, nações unidas contam com uma força militar de intervenção
fornecida pelos estados- capacetes azuis. Assim, as nações unidas não só podem tomar
ações destinadas a evitar a rutura da paz por via diplomática, através de sanções ou
reprimir também atos de agressão, através de sanções, muitas vezes também através
de forças militares.
Para além de medidas efetivadas tomadas para evitar atos de agressão, manter a paz,
utilizar os meios pacíficos para a resolução de conflitos- como a mediação, bons
ofícios, arbitragem etc para sem o uso da força reprimir litígios entre os Estados de
acordo com o DIP aplicável. Fazer aquilo que a SDN não conseguir fazer entre as 2
guerras.
Desenvolver relações amistosas entre os Estados na base do princípio da igualdade, da
autodeterminação dos povos (decidir o seu próprio destino, para povos coloniais). 2
aspetos importantes que são definidos no nº2: igualdade de direitos entre os estados e
garante o princípio de autodeterminação dos povos.
Objetivo económico-social: conseguir uma cooperação internacional para resolver
problemas de caráter económico, cultural, social, humanitário.
Outro objetivo: o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais,
sem discriminação de raça, língua etc. Isto nem sempre é garantido pois das nações
unidas fazem partes regimes ditatoriais, regimes autoritários etc. Todos devem, em
tese, respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, o que não sucede
em muitos casos. Pacto dos direitos político e dos direitos sociais.
Outro objetivo: as nações unidas serem um centro impulsionador de harmonização, de
objetivos comuns.
Sendo estes os fins da ONU, esta pauta-se também por princípios.
Princípios positivados no art. 2º:
- Princípio da igualdade dos seus membros: assembleia geral das nações unidas podem
todos nomear até 5 representantes, mas é uma igualdade semântica devido às
relações de força. Conselho de segurança-desigualdade nos membros permanentes-
EUA, Rússia, China, Reino Unidos e França- todos têm um voto, mas o seu voto conta
mais sendo que se votarem contra, o voto negativo de um dos membros permanentes
significa um veto- poder de impedimento.
- Princípio de boa fé: devem cumprir exigências e obrigações constantes da carta;
- Resolução de controvérsias por meios pacíficos: arbitragem, vias políticas como
mediação, inquérito de conciliação
-Paz, segurança e justiça internacional são princípios de ordem publica internacional
que todos os membros devem seguir.
Todos os membros devem dar assistência necessária às nações unidas e devem abster-
se de dar auxílio a qualquer estado contra o qual as nações unidas agirem.
-Princípio de não ingerência da organização nos assuntos que dependam
essencialmente da jurisdição de um Estado- nº5. Há assuntos essencialmente internas
que as nações unidas estão inibidas de se imiscuir- direito penal, regimes políticos etc.
Mas a expressão é um pouco ambivalente e as nações unidas têm interferido em
assuntos internos dos estados.

Membros da organização:
- Membros originários: 5 estados que assinaram a carta se s. Francisco em 1945
- Estados que foram sendo admitidos

Admissibilidade dos estados- art. 4º/1: a admissão como membro da ONU fica aberta a
todos os Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações. Convenção aberta e
que aceitarem obrigações dela constantes.
Assembleia delibera por maioria de 2/3, por proposta do Conselho de Segurança.
Os membros que entram, também podem ser suspensos ou expulsos- art. 5º. Se
houver sanções, ações preventivas tomadas pelo Conselho de Segurança, há
possibilidade dos membros da assembleia geral poderem ser alvo de sanções- como
retirada de certos direitos, por exemplo direito de voto na assembleia geral- esta
suspensão dos direitos no todo ou em parte que decorre por proposta do conselho de
segurança, e de uma deliberação favorável da Assembleia Geral também tomada por
2/3. Estas situações são extremas.
Com ações coercitivas ou com sanções pode haver situações em que um membro das
nações unidas viola persistentemente os princípios e obrigações da carta- se isso
suceder esse membro pode ser expulso: situação extrema. A mesma maioria.

Órgãos da ONU- previstos no art. 7º


 Assembleia Geral: constituída por todos os membros das nações unidos, órgão
plenário e colegial; cada membro não deve ter mais do que 5 representantes
na assembleia e cada membro só tem direito a 1 voto. Quais as atribuições das
nações unidas? É o órgão principal da ONU? Não. Embora segundo o 10º possa
discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem no fim da carta, com
exceção do art. 12º, que é muito importante- se a assembleia geral estiver a
discutir determinada matéria e o conselho segurança resolver intervir, a
assembleia geral suspende a sua intervenção nessa mesma questão. Art. 10º-
assembleia geral pode fazer recomendações aos membros das nações unidas e
ao conselho de segurança- órgão limitada pois não se trata de deliberações
com efeitos jurídicos constitutivos, mas sim recomendações- não têm efeito
vinculativo. Mas não é bem assim por existem recomendações sucessivas.
Criação de um direito consuetudinário de descolonização baseado na ideia de
que as recomendações criaram princípios e regras que passaram a ser
assumidas por muitos estados com a convicção de obrigatoriedade no futuro.
Art. 11º- manutenção da paz. Art. 12º- enquanto o conselho de segurança
estiver a exercer as funções que a carta que atribui, a assembleia geral não
pode fazer nenhuma recomendação a esse respeito. art. 3º- elenco das
recomendações que a assembleia geral pode fazer.

Critérios de deliberação e de votação: art. 18º/2- as decisões da assembleia geral


de questões importantes são tomadas por maioria de 2/3. Há um elenco que
parece ser exemplificativo. Estas questões compreenderão- para la da lista
apresentada, poderá haver outras questões. As elencadas são recomendações
relativas à manutenção da paz, eleição dos membros não permanentes do
conselho de segurança. Art. 17º- a assembleia geral aprovará o orçamento da
organização. Decisões sobre outras questões- aprovadas por maioria dos membros
presentes e votantes, isto é, maioria simples. Pode haver outros assuntos, e daí a
lista exemplificativa do nº2, passíveis de ser aprovadas por maioria de 2/3 e a
assembleia assim decide fazê-lo. Os restantes, tomados à pluralidade de votos. Ter
em conta o art. 19º da carta das nações unidas, que não parece ser muito aplicado.
Quanto às suas reuniões: a assembleia reúne-se em sessões anuais regulares e
depois em sessões especiais para os quais pode ser convocado, que são exigidas
pelas circunstâncias. Estas sessões especiais, em função de problema emergente,
serão convocadas pelo secretário geral ou a pedido do Conselho de segurança ou a
pedido de uma maioria de membros. Cada sessão anual terá o seu Presidente- art.
21º.
 Conselho de Segurança: composto por 15 membros, dos quais 5 permanentes
e 10 eleitos- art. 13º. 5 membros: EUA, federação russa, china, reino unido e
frança- membros permanentes, potenciais vitoriosas na II guerra mundial.
Depois a assembleia geral das nações unidas elege os outros 10 membros.
Necessidade de distribuição geográfica equitativa destes membros não
permanentes, que são eleitos por períodos de 2 anos. Nenhum membro não
permanente que termine o seu mandato pode ser reeleito para o período
subsequente. Cada membro do conselho de segurança terá 1 representante.
Art. 24º- visa assegurar a ação por parte das nações unidas relativamente a
controvérsias e litígios essenciais- função na manutenção da paz e agirá de
acordo com os princípios e obrigações da carta. os membros das nações unidas
devem concordar e aceitar as resoluções do conselho de segurança,
especialmente as tomadas ao abrigo co Cap. VII.
Aqui não é veto se for uma questão fundamental. Maioria de 9 membros em
15. Em todos os outros assuntos que não sejam procedimentais, diz o nº3 do
art. 27º, são tomadas pelo voto afirmativo de 9 membros, incluindo o voto de
todos os membros permanentes. Literalmente, se um dos membros
permanentes não votar favoravelmente, isso equivalerá a um veto- nº3. Mas as
coisas não são exatamente assim. A prática tem revelado que eles se podem
abster, não necessitante de voto positivo. A abstenção não vale como veto-
costume derrogatório de uma convenção internacional.
O que é uma questão procedimental e o que são as outras questões todas que
exigem que nenhum dos membros permanentes veto? Isto depende de uma
deliberação do conselho, que não pode ter veto dos membros permanentes.
Poderíamos chegar ao ponto de considerar uma questão procedimental só para
“fugir” ao veto. Logo a deliberação que identifica uma questão como
procedimental ou não, pode ser objeto ela própria de um veto dos membros
permanentes. A sua vontade pesa porque têm possibilidade de vetar essa
deliberação inclusiva da matéria como sendo meramente procedimental.
Temos um duplo veto: os membros permanentes vetam primeiro em caso de
dúvida se uma questão é ou não procedimental e não o sendo, na medida em
que haja uma deliberação sobre as mesmas, os membros permanentes
exercerão o seu voto, que se for negativo redondeará num veto.

 Conselho económico e social


 Conselho de tutela- já não tem funções.
 Um tribunal internacional de justiça- sede na Haia.
 Secretariado geral, sem prejuízo da criação de outros atos órgãos subsidiários-
por vezes existem práticas que geram costume e que passa a ter efeito
integrativo e complementar dos tratados, menção a um secretariado: dá ideia
que se trata de um órgão puramente administrativo e gestionário da ONU. Mas
não é assim. A pratica demonstrou o surgimento de um órgão que já esta
presente na carta mas não está aqui enumerado: secretário geral das nações
unidas- gere a administração das nações unidas mas papel relevante como
mediador de conflitos internacional e órgão que coloca assuntos na agenda de
outos órgãos da ONU. A expressão secretariado que aqui está deve ser
substituída pela expressão secretário geral.

Legítima defesa- única possibilidade de uso da força, no âmbito da carta das nações
unidas.

1.12.2020
Vamos falar da problemática do uso da força nas relações internacionais.
Conselho de Segurança e as suas competências: vemos que no artigo 24º da Carta das
Nações Unidas o Conselho de Segurança tem a principal responsabilidade da
manutenção paz e da segurança internacionais.
Conseguimos perceber que nalgumas matérias mais sensíveis, foi atribuída ao
Conselho de Segurança alguma preponderância: veja-se, por exemplo, a posição do
Conselho de Segurança na definição do estatuto de novos membros, suspensão dos
seus direitos, expulsão de membros, 4º a 6º da Carta, é notória a posição de privilégio
do Conselho de Segurança.
Revisão da Carta das Nações Unidas: nos artigos 108º e 109º é notória a prevalência
do Conselho de Segurança, exigindo-se voto favorável dos membros permanentes do
Conselho de Segurança para as revisões à Carta.
Posição de salvaguarda do Conselho de Segurança em relação à Assembleia Geral:
artigo 12º da Carta. A Assembleia Geral nunca pode adotar medidas com caráter
vinculativo para os membros, ao contrário das resoluções do Conselho de Segurança,
nomeadamente por força do artigo 25º.
Relativamente à natureza jurídica das resoluções do Conselho de Segurança,
articulando o artigo 25º com a resolução prevista no 39º, designadamente nos
artigos 36º, 37º e 38º, capítulo sexto, a atuação do CS parece ser reconduzida para
elaborações de recomendações às partes, mas o parecer consultivo do TIJ considerou
que a reação do artigo 25º não pede valor vinculativo, fora as matérias que dizem
respeito a ameaça à paz ou atos de agressão, capítulo sétimo.
Na prática do Conselho de Segurança é usual que o CS não dissocie os seus poderes a
título de uma outra competência, ou seja, evitando fazer referências nas resoluções,
como enquadramento de referência da resolução. Caráter obrigatório das resoluções
nas matérias do capítulo sétimo, pelos artigos 25º, 39º e 43º.
Ação do CS no âmbito do capítulo 6º, temos no 33º que há um compromisso das
partes dos Estados a recorrerem aos meios pacíficos, e no nº 2 do 33º o CS pode
recomendar que adotem esses mecanismos para resolver. No 34º o CS pode aferir se a
controvérsia implica eventualmente uma situação de ameaça à paz ou rotura da paz e
da segurança internacionais, permitindo que o poder de apreciação possa determinar
uma ação no âmbito do capítulo 7º.
Artigo 36º: o CS pode recomendar os processos mais adequados e pode, nos 37º e
38º, recomendar a solução às partes, adotando funções de mediador e conciliador.
No capítulo 7º, temos uma posição diferente do CS no âmbito do regime da carta e
comparando do que decorria do regime anterior vigente.
Aqui encontramos um desenvolvimento mais substancial: temos a constituição de um
sistema de segurança coletivo de natureza defensiva em que cada Estado assume o
compromisso de prestar apoio de acordo com um juízo coletivo.
Na negociação do estatuto do CS, atribuindo um estatuto diferenciado aos membros
permanentes, através de uma acrescida responsabilidade especialmente no período
pós-guerra, e um estatuto claramente diferenciado, designadamente por força da
introdução de um mecanismo do veto (e, em particular, do duplo veto) nos termos do
artigo 27º e mais especificamente no artigo 27º/3 da Carta.
Esta posição dos membros permanentes do CS é importante se atendermos ao
processo previsto no capítulo 7º, com o artigo 39º, há uma maior reserva do Conselho
de Segurança em identificar as situações de agressão, por contraposição à situação de
ameaça à paz.
A decisão de adotar medidas ou de fazer recomendações às partes, não se esgota no
âmbito dos Estados-membros da Organização das Nações Unidas. Os artigos 41º e 42
distinguem-se essencialmente pela natureza das medidas: medidas que não impliquem
o uso da força, no caso do artigo 41º, medidas que impliquem o uso da força no caso
do artigo 42º.
Antes disso, há que ter atenção para o artigo 40º, que estabelece a possibilidade da
adoção das medidas provisórias, sendo que nesse caso se refere que o CS poderá
instar as partes interessadas a aceitar as medidas provisórias, o que não significa que a
natureza jurídica destas ordens não seja também vinculativa e, portanto, há uma
definição no 40º de uma maior latitude e possibilidade daquilo que é recomendado às
partes interessadas, sendo que tais medidas provisórias não prejudicarão os direitos e
pretensões das partes interessadas. Aqui, mais uma vez, temos a dualidade que
encontramos no artigo 39º.
No artigo 41º temos medidas que, sem envolver o emprego das forças armadas,
deverão ser tomadas para tornar efetivas as decisões do Conselho de Segurança.
No artigo 42º temos uma medida diferenciada que demonstra, de facto, a
possibilidade do recurso à força e, designadamente, a meios militares para manter ou
restabelecer a paz e a segurança internacionais.
O artigo 43º é importante porque estabelece a obrigação de os Estados-membros
contribuírem . fiquei nos 20 mins e 55 segundos.

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