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O fim do período medieval tem um marco histórico em 1648, quando uma série de tratados
foram assinados, dando fim a um período caótico que ficou conhecido como a guerra dos trinta
anos, caracterizado pela luta dos movimentos de reforma religiosa contra a hegemonia da
igreja católica.
Mais adiante, a expressão passará a ser acompanhada da designação “Nação”, que por sua vez
é uma alusão ao movimento renascentista, que indica um novo nascimento.
O Estado e não mais o rei, passa a governar a partir do século XIX e produz a reconfiguração
dos reinos medievais em Estados Europeus.
Entretanto, segundo Cançado Trindade (2002, p.1075) “no plano internacional, os Estados
assumiram o monopólio da titularidade de direitos; os indivíduos e grupos sociais, para sua
proteção, foram deixados inteiramente à mercê da intermediação discricionária de seus Estados
nacionais”. E assim permaneceram, até o fim da segunda guerra.
A experiência desastrosa produzida pelas duas grandes guerras no Século XX, produzida pelos
Estados Nacionais, a partir da traumática experiência nazista, evidenciou que o dogma da
soberania estatal era insuficiente, uma vez que o Estado poderia ser contaminado por ideais não
humanitários contra o interesse de seus próprios cidadãos; com isso, começou-se a reconhecer
a necessidade de reconstrução do Direito Internacional, com o propósito de se constituir uma
comunidade internacional minimamente organizada em novas subjetividades, novos sujeitos
de direitos, que devem maneja-los até mesmo contra o Estado.
internacional com atenção aos direitos do ser humano, do que deu eloquente
testemunho a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,
seguidas, ao longo de cinco décadas, por mais de 70 tratados de proteção hoje vigentes
no plano global e regional”.
Quanto à origem Celso D. Albuquerque Mello (2001, p.767) ensina que:
A teoria individualista foi sustentada pela primeira vez por Duguit, em 1901, na sua
obra “L’État, le Droit Objectif et la Loí Positive”, onde sustentou que o Estado havia
morrido e negou, entre outras coisas (a soberania e o direito subjetivo), a
personalidade do Estado. Declarava que apenas o homem era sujeito de direito e o
próprio Estado se reduziria a indivíduos. Esta concepção encontrou inúmeros
seguidores: b) Le fur defendeu que o homem seria sujeito do DI ao lado do Estado.
Entretanto, este seria o sujeito direto, enquanto aquele seria o indireto. O direito teria
por fim último o indivíduo, mas este age no mundo jurídico internacional através do
Estado.
Desse modo, se o direito é um produto do homem para regulamentar as suas próprias relações,
não se pode ignorar a subjetividade internacional do indivíduo.
Com a tragédia humanitária produzida pela segunda guerra mundial foi criada em 1950 a
ACNUR (Alto Comissário da ONU para refugiados). Em 1967 seu mandato foi expandido para
além das fronteiras europeias e das pessoas afetadas pela Segunda Guerra. Em 1995, a
Assembleia Geral designou o ACNUR como responsável pela proteção e assistência dos
apátridas em todo o mundo.
Em que pese o surgimento do Estados Nacionais terem sido justificados como forma de
oposição ao arbítrio absolutista das famílias reais, e ainda que tenham em sua vocação a
pretensão de proteger o sujeito de direitos internacionais, que vai desabrochando nestes últimos
séculos, na prática, infelizmente estes objetivos não se confirmam. Uma rápida consulta ao site
da ACNUR revela que, mais de 67 milhões de pessoas no mundo deixaram seus locais de
origem por causa de conflitos, perseguições e graves violações de direitos humanos. Entre elas,
aproximadamente 22 milhões cruzaram uma fronteira internacional em busca de proteção e
foram reconhecidas como refugiadas. Indica ainda que, a população de apátridas (pessoas sem
vínculo formal com qualquer país) já supera 10 milhões de pessoas.
Tais números demonstram que a representatividade do Estado como tutor dos direitos humanos
não se confirma, e que, o Estado, tornou-se em verdade, um opressor.
Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 tenha efetivamente consagrado
o indivíduo como sujeito de direitos, a falta de instrumentos coercitivos, a falta de vontade
política, fez com que, a implantação dos direitos ali consignados não se materializasse.
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Com o objetivo de dar efetividade e coercitividade aos direitos humanos, em 1966, foram
disponibilizados, por meio da Organização das Nações Unidas (ONU), o Protocolo Facultativo
relativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, bem como, o Pacto Internacional
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Somente em 1978 esses protocolos alcançaram o
numero de subscritores suficientes para entra em vigor, portanto, 30 anos após a Declaração.
Além do Alto Comissariado, outros dois órgãos/sistemas foram previstos como órgãos da
ONU, com o objetivo de persuadir aos Estados signatários a colocarem em prática dos ditames
humanistas, qual sejam, a Comissão de Direitos Humanos e o Comitê de Direitos Humanos
com seus Comitês Especiais.
Dentre as obrigações que os Estados partes estipuladas pelo Pacto de Direitos Individuais e
Políticos figura o compromisso de emitir relatórios anuais acerca da implementação e
monitoramento dos direitos consignados nos respectivos Pactos.
Os relatórios e as denúncias, são analisados pelo Comitê e discutidos entre este e o Estado-
Parte analisado especificamente, ressaltando os aspectos positivos ou os empecilhos detectados,
sugerindo, ao final das observações, as soluções adequadas.
Especificamente no que diz respeito ao Espírito Santo é importante ressaltar por que serviu de
paradigma para todo o Brasil, as denúncias acerca dos “presídios de lata” 1 implantados no
Estado, e que foram objeto de denúncia e discussão na ONU, gerando um acordo entre o CNJ
o Estado visando a sua desativação em 2010.
Este sistema da ONU, aliado aos sistemas regionais de proteção aos direitos humanos são, sem
sombra de dúvidas, uma das grandes conquistas sociológicas da humanidade, e, o acesso efetivo
dos indivíduos às instâncias internacionais de proteção e reconhecimento de sua capacidade
processual internacional são o seu maior desafio.
Ainda que o sujeito internacional de direitos humanos seja o indivíduo, o exercício dos seus
direitos de forma individualizada é um desafio. Embora o direito a peticionar individualmente,
esteja previsto no Primeiro Protocolo Facultativo do Pacto de Direitos Civis e Políticos (artigo
1-3 e 5); na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (artigo
XIV), na Convenção das Nações Unidas contra a Tortura (artigo 22); na Convenção Europeia
de Direitos Humanos (artigo 25), na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (artigo
44) e na Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (artigo 55-58). Embora o Programa
de Ação de Viena, principal documento adotado pela II Conferência Mundial de Direitos
Humanos em Viena (1993), por meio do Protocolo Facultativo ao Pacto de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, conclamou aos Estados signatários a adoção de
procedimentos de petições ou comunicações individuais. Na prática, o que se comprova é que
essa representatividade somente se opera graças e na medida da ação das Organizações Não
Governamentais (ONG’S) criadas para esse fim, fato que demonstra a dificuldade de
implementação desta diretriz.
Foi este reconhecidamente um dos grandes avanços logrados pela Convenção Europeia, nos
planos tanto conceitual e normativo, assim como operacional.
O direito de petição individual, assim amplamente concebido, tem como efeito imediato
ampliar o alcance da proteção, mormente em casos em que as vítimas (e.g., detidos
incomunicáveis, desaparecidos, entre outras situações) se vêm impossibilitadas de agir por
conta própria e necessitam da iniciativa de um terceiro como peticionário em sua defesa.
Em 1959, na 5ª Reunião dos Ministros de Relações Exteriores, realizada no Chile, foi criado
um órgão voltado para a proteção de Direitos Humanos, no seio da OEA – Organização dos
Estados Americanos - que veio a ser a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
4.3.1 A Comissão
A Comissão é composta de sete comissários, pessoas de alta autoridade moral e notório saber
na área de Direitos Humanos, indicados por Estados, membros da OEA, eleitos por escrutínio
secreto pela Assembleia da OEA.
Com a entrada em vigor, em 1978, da Convenção Americana, a Comissão passou a ter, além
da função acima citada, também um órgão de assessoramento e via de acesso à Corte
Interamericana de Direitos Humanos, com poderes para analisar a admissibilidade das
denúncias e ajuizá-las perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
2O Tribunal pode receber petições de qualquer pessoa singular, organização não governamental ou grupo de
particulares que se considere vítima de violação por qualquer Alta Parte Contratante dos direitos reconhecidos
na Convenção ou nos seus protocolos. As Altas Partes Contratantes comprometem - se a não criar qualquer
entrave ao exercício efetivo desse direito”
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Importante ressaltar ainda que, conforme estabelece artigo 48, “f”, da Convenção Americana
de Direitos Humanos, existe a possibilidade de conciliação entre as partes perante a Comissão,
através de uma solução amistosa, após a fase de admissibilidade.
O Brasil já celebrou ao menos um acordo nesta fase, foi um caso em que o Estado brasileiro foi
responsabilizado por permitir trabalho em condição análoga à de escravo. Foi o caso José
Pereira versus Brasil, no qual, foi celebrado acordo, em 18 de setembro de 2003, pelo qual o
Estado brasileiro reconheceu a responsabilidade internacional pelo fato de os órgãos estatais
não terem capacidade para prevenir a prática de trabalho escravo, nem punir os responsáveis.
Este reconhecimento público se deu por ocasião da criação da CONATRE (Comissão Nacional
de Erradicação do Trabalho Escravo), realizada na referida data. Responsabilizando-se ainda o
Brasil por cumprir os mandados de prisão contra os autores dos crimes cometidos contra a
vítima.
A vítima foi indenizada através do Projeto de Lei 10.706, de 30 de julho de 2003, que determina
o pagamento da quantia de R$ 52.000,00 (cinquenta e dois mil reais) à vítima.
constatação da violação da convenção por parte do Estado, será o referido relatório enviado ao
país membro para que tome as devidas providências. Caso isso não aconteça em três meses, a
Comissão submeterá o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, tornando doravante
judicial o processo perante o referido tribunal.
Ocorre que, há países que ainda não reconheceram a jurisdição obrigatória da Corte, e nesses
casos, há um segundo relatório. Sublinhe-se o prazo expresso para que as recomendações do
relatório sejam cumpridas, e caso não sejam, o segundo relatório equivaleria a uma sanção
moral ao Estado violador. Nesse ponto, assim esclarece André de Carvalho Ramos (2001, p.85):
Cumpre repisar que o efeito vinculante e obrigatório equivale a uma sanção moral, e em caso
de não cumprimento, deverá ser enviado à Assembleia Geral da OEA para que esta delibere e
sancione o Estado violador da Convenção Americana de Direitos Humanos (como inferiu-se o
caso Haiti, já explicitado).
Em 1969, foi proclamada a Convenção Americana de Direitos Humanos, em São José (Costa
Rica), que somente entrou em vigor em 1978.
Para André de Carvalho Ramos (2001) existem dois sistemas distintos de proteção aos Direitos
Humanos nas Américas - O primeiro sistema é político (denomina-se Sistema da OEA) – posto
que tem por fundamento jurídico para viabilizá-lo, o disposto na Declaração Americana de
Direitos Humanos, e caracteriza-se por utilizar, como órgão principal de promoção e proteção
dos Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Diz-se tratar de um sistema quase judicial, uma vez que a Comissão não tem poderes
jurisdicionais específicos, pois, apesar da independência pessoal com que agem seus membros,
acaba por sofrer influências políticas. Na verdade, os relatórios desta Comissão são levados à
Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), e substanciam as decisões
ou sanções, ou ambas, ao país violador. Sendo assim, há suscetibilidade às influências políticas
típicas do colegiado que compõem a Assembleia.
Como exemplo de influência, convém citar o caso do Haiti, país dividido por guerrilhas, golpes
de Estado e pela extrema pobreza. Situação potencializada em grande parte pelas sanções
impostas pela OEA, através da Resolução N°1/91 do Conselho Permanente da OEA. Nesse
sentido, decidiram-se pela suspensão de todas as atividades econômico-financeiras e
comerciais dos países membros. Houve ainda a suspensão de operações do Banco
Interamericano de Desenvolvimento, seguida da Resolução N° 2/91, que previu o
congelamento de haveres do governo do Haiti nos países membros da OEA, e ainda, o
cancelamento de vistos e o congelamento dos haveres dos membros golpistas do governo do
Haiti.
Tudo isso devido ao rompimento com o regime democrático provocado pelo golpe militar
contra o presidente Jean Bertrand Aristide, em setembro de 1991. Regime este que foi
restabelecido somente em 2006, com as novas eleições presidenciais monitoradas pela OEA e
garantidas pela força de paz liderada pelo Brasil.
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Apesar desse exemplo bem sucedido, intervenção política da OEA no Haiti, verifica-se que o
sistema não é eficaz contra países fortes que fazem parte da composição política da Convenção
Geral da OEA.
Entretanto, tal instrumento pode ser útil, como instrumento de pressão contra esses países, que
ainda se recusam a aderir à Convenção Americana de Direitos Humanos. Vale lembrar como
aconteceu no Brasil, na época da ditadura militar (casos n° 1683 e 1684), quando o país ainda
não havia ratificado a Convenção Americana de Direitos Humanos, devendo obediência,
contudo, à Declaração Americana de Direitos Humanos, já em vigor desde 1948.
O outro sistema de proteção aos Direitos Humanos é o sistema judicial de proteção aos Direitos
Humanos, e se aplica aos países signatários da Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de San José da Costa Rica, 1969), e que tenham se submetido à jurisdição da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
C- Ausência de litispendência e,
Portanto, não se trata de aguardar o trânsito em julgado de eventual ação judicial do país
signatário. Na verdade, o Estado tem o dever de organizar estruturas necessárias para a garantia
dos Direitos humanos. Essa assistência está relacionada no artigo 8º da Convenção Americana.
E se tal fato não se der em prazo razoável, o Estado sofre pelo descumprimento desse
dispositivo legal, podendo ser demandado.
Sendo assim, se o Estado demandado comprovar que ainda não foram esgotados os recursos
internos, estabelece o artigo 46.2 que o demandante deverá demonstrar que as exceções por ele
sentidas, como a impossibilidade de pagar as custas previstas em um dado ordenamento
jurídico, ou um temor generalizado, opressão, em virtude da qual não se é possível encontrar
profissionais aptos a enfrentá-la, justificam a intervenção da Corte. Evidentemente, deve-se
demonstrar também que os direitos invocados estão protegidos pela Convenção.
Importante gizar, ante a publicidade do caso Eldorado dos Carajás versus Brasil, em que o
Estado brasileiro alegou a exceção de não esgotamento dos recursos internos, enviando
minucioso relatório da situação em que se encontravam os processos de apuração de
responsabilidades.
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A decisão da Comissão foi no sentido de não acatar a exceção interposta, pelo fato de considerar
“que a Polícia Militar não goza da independência e da autonomia necessárias para investigar
de maneira imparcial as supostas violações aos direitos humanos presumivelmente cometidas
por policiais militares”. E mais, fazendo verdadeiro juízo de valor, afirma o voto que “a Lei
9.299 da República não tem capacidade efetiva para reduzir significativamente a impunidade”.
Ainda sobre o mesmo caso, o segundo pressuposto acima discriminado, também foi alegado
em sede de exceção, qual seja, prazo de seis meses para a interposição da petição de denúncia.
A Comissão, sobre este segundo pressuposto assim decidiu, que o prazo será considerado
razoável, a critério da Comissão, de acordo com as circunstâncias de cada caso.
Observe-se que o prazo de seis meses não é decadencial e peremptório, como no ordenamento
interno brasileiro, o critério da Comissão é muito mais subjetivo, bastando que configure um
prazo “razoável”.
Nesse sentido, e ainda sobre a mesma preliminar, emblemático é o caso Hélio Bicudo versus
Brasil, no qual a Comissão não considerou cinco anos, um prazo razoável.
Trata-se da situação em que o Deputado Hélio Bicudo vinha sofrendo constantes ameaças de
morte, e exigiu das autoridades públicas brasileiras, a investigação da autoria das referidas
ameaças. Tendo havido o arquivamento do inquérito policial em que se apuraram as referidas
ameaças. Irresignado com o arquivamento determinado pelo do Procurador Geral de Justiça, e
ainda, considerando que não há recurso no ordenamento pátrio contra o referido arquivamento,
peticionou o citado jurista à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, denunciado tais
fatos, e naturalmente, requerendo as providências que o caso exigia em favor de seu direito à
vida.
Mesmo tendo sido membro e presidente daquela Comissão, contrariando o caráter político de
que muitas vezes é acusada, houve por bem a Comissão indeferir o apelo de Hélio Bicudo,
tendo em vista o decurso do prazo de seis meses entre o trânsito e julgado da decisão judicial
que deferiu o arquivamento do inquérito policial e a petição de denúncia de violação ao direito
à sua integridade física.
Como se pode verificar no voto dissidente, os recursos não podem ser meramente formais, não
podem simplesmente gerar expectativa de um direito, mas devem ser efetivos para o que se
propõem.
Vale acrescentar que do mesmo vício padece o regulamento da Comissão não admitindo
recursos de sua decisão pela inadmissão de denúncia.
Em todo caso, a despeito das premissas acima, quanto a esse pressuposto, conta-se a prescrição
a partir do trânsito em julgado da sentença interna do país signatário da Convenção.
Com relação à exceção de litispendência, por força do Artigo 46, “c”, da Convenção
Americana, uma vítima não deverá utilizar-se de duas instâncias apurativas de violação de
Direitos Humanos, como, por exemplo, utilizar-se do sistema universal (ONU) e do sistema
interamericano (OEA) para buscar restabelecimento de eventual direito violado, fato
relativamente comum quanto se trata de Corte Europeia. O mesmo vale para exceção de coisa
julgada internacional, quando eventualmente o caso já houver sido julgado por outra Corte
Internacional de Direitos Humanos.
Poderá a Corte produzir provas que considere úteis de ofício (artigo 44 do Regulamento).
Findo o devido processo legal, a Corte prolata a sentença externa que em seu formato é igual à
sentença do ordenamento brasileiro.
Quando, na sentença sobre o mérito, não se houver decidido especificamente sobre reparações,
a Corte determinará a oportunidade para sua posterior decisão e indicará o procedimento.
A Corte tem sido bastante eclética e criativa quanto às reparações, tem determinado desde a
soltura de presos, ou obrigação de construir prédio escolar ou posto médico, à mudança de
legislação interna, obrigação de investigar e punir agentes responsáveis, ou ainda, tornar nulo
processo judicial, entre outras.
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Uma vez determinada a reparação, deverá o Estado cumprir com a mesma na forma de seu
ordenamento interno, o que remete à obrigação de legislar, pois como se verá nos próximos
anos, o Brasil provavelmente sofrerá inúmeras condenações junto à Corte Interamericana, e
terá que criar um sistema de liquidação das respectivas sentenças de reparação humanitárias.
Note-se também que não há um apego demasiado ou um detalhamento minucioso no que diz
respeito ao procedimento, como por exemplo preclusão, ordem testemunhal, agravos e etc.
Sendo assim, a homologação de sentença estrangeira prevista no artigo 103, I, “f” não se aplica
a sentença oriundas da Corte Interamericana de Direitos Humanos por se tratar o referido artigo
de numerus clausus.
Já no que diz respeito à parte de sentença que se refere às obrigações de fazer ou não fazer, e
que nada tem de relação com a parte de indenização da sentença, poderão ser executadas com
os instrumentos disponíveis nos artigos 461 e seguintes do Código de Processo Civil, sendo
certo que a sentença deverá ser considerada título executivo judicial, já que o Brasil como
signatário obrigou-se a implementar de boa-fé o comando da sentença internacional, ao se
submeter à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Nas solicitações de parecer consultivo, previstas no artigo 64.1 da Convenção, deve-se formular
com precisão as perguntas específicas em relação às quais pretende-se obter o parecer da Corte.
Quanto ao procedimento para o parecer consultivo, vale dizer que uma vez recebida a
solicitação, o secretário enviará cópia da mesma a todos os Estados membros, à Comissão, ao
Conselho Permanente da OEA, por intermédio do seu Presidente, ao Secretário Geral da OEA
e aos seus órgãos, cuja esfera de competência esteja ligada ao tema em consulta.
O presidente fixará um prazo para que os interessados enviem suas observações por escrito,
podendo o mesmo convidar ou autorizar qualquer pessoa interessada para que apresente sua
opinião por escrito sobre os itens submetidos à consulta.
Uma vez concluído o procedimento escrito, a Corte decidirá quanto à conveniência ou não de
realizar o procedimento oral e fixará a audiência.
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A emissão dos pareceres consultivos será regida pelo disposto no artigo 57 do Regulamento
No Brasil, muitas leis e procedimentos merecem reformas por não se adequarem às normas
internacionais de Direitos Humanos, e, portanto, a União deveria utilizar-se desse procedimento
para adequar suas leis, para não merecer reprimendas como a citada no caso Eldorado dos
Carajás, no qual a Lei 9.294 foi declarada incapaz para a apuração de crimes praticados por
agentes, notadamente os policiais militares.
A tendência extraída dos julgados apontados deu lugar para a modificação legislativa e, em 1º
de junho de 2001, entrou em vigor o novo artigo 23 do Regulamento da Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Desde então, os demandantes poderão participar, ao lado da Comissão,
diretamente de todos os procedimentos perante a Corte, não apenas na fase das reparações.
[...] mais de 1500 pessoas (peticionários ou testemunhas) têm sido protegidas pelas
medidas pela Corte Interamericana, ou de seu Presidente, o que revela sua
extraordinária importância, e que em uma determinada ocasião no caso James versus
Trinidad e Tobago a Corte determinou a suspensão da execução de sentenças impondo
a pena de morte naquele país.
Diante do exposto, não será de todo repetitivo reafirmar que o acesso à justiça, não se restringe
somente à possibilidade de ingressar em juízo, no caso de uma violação de uma norma jurídica
em prejuízo de um indivíduo. Necessário que esse acesso seja rápido e efetivo. Assim, para que
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tal objetivo se realize, necessário se faz que o Estado, de acordo com sua legislação interna e
com os compromissos internacionais assumido, investigue de forma isenta e competente o
ilícito, estabeleça as responsabilidades de seus próprios agentes ou de particulares, e
proporcione à suposta vítima, um processo judicial rápido e justo.
Os Estados não podem, conforme a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, alegar
dispositivos de sua legislação interna para permitir a impunidade de seus agentes ou de qualquer
indivíduo sob sua jurisdição. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, em várias de suas
decisões, sempre reafirma a obrigação internacional do Estado que ratificou a Convenção
Americana, de adaptar a sua legislação interna aos dispositivos da mesma.
Diferentemente do ordenamento interno, que no processo cautelar, cuja pretensão jurídica visa
à eficácia da jurisdição, preservando-se uma situação no processo, no ordenamento
internacional, a natureza da medida provisória é tutelar de Direitos Humanos, transformando-
se assim em garantia constitucional preventiva.
A mais que isso, ressalte-se serem os requisitos básicos da medida cautelar a extrema gravidade
e urgência e a prevenção de danos irreparáveis às pessoas, contribuindo assim, com a teoria
geral dos Direitos Humanos.
Outro caso em destaque, devido à atualidade à mídia, datado de 04 de julho de 2006, foi a
solicitação de ampliação de medidas provisórias com respeito ao Brasil, no caso das crianças e
adolescentes privados de liberdade no Complexo do Tatuapé da FEBEM, tendo sido decidido
novamente, pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, o restabelecimento das condições
de dignidade daquela unidade de internação de menores.
Nesse caso, houve inovador argumento do Estado brasileiro, ao questionar em sede de medida
provisória, o prévio esgotamento de recursos na jurisdição interna, inferindo-se que o
“ordenamento jurídico brasileiro prevê medidas cautelares legais idôneas para evitar danos
irreparáveis, em situações de extrema urgência e gravidade”. E dessa maneira, seria
desnecessário continuar com tais medidas provisórias.
Ao que o tribunal ainda respondeu que, considerando a própria natureza das medidas
provisórias anteriormente deferidas, “não é possível condicionar a proteção dos Direitos
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Em conclusão, poder-se-á fazer uso de medidas provisórias que forem necessárias, sendo que
o requisito para adoção das mesmas é o critério de risco extremo de gravidade e urgência para
proteção dos Direitos Humanos dos indivíduos, não se submetendo tais instrumentos à
exigência do esgotamento dos recursos internos, tendo natureza jurídica de tutelar os Direitos
Humanos e não de acautelar a eficácia do exercício da jurisdição.
Trata-se essencialmente de um direito de proteção, marcado por uma lógica própria, e voltado
à salvaguarda dos direitos dos seres humanos e não dos Estados. Neste propósito mostra-se
constituído por um corpus juris dotado de uma multiplicidade de instrumentos internacionais
de proteção, de natureza e efeitos jurídicos variáveis (tratados e resoluções), operando nos
âmbitos tanto global (Nações Unidas) como regional.
Quando do fim da segunda guerra, para não repetir o fracasso anterior, os aliados, já em 1943,
acordaram, na Declaração de Moscou, em estabelecer condições para julgar e punir criminosos
responsáveis por crimes contra a paz, crimes de guerra, e crimes contra a humanidade,
praticados durante a segunda guerra mundial.
Disso resultou, ao final do conflito, a criação do Tribunal de Nuremberg, pelo acordo firmado
em Londres, 8 de agosto de 1945, o do Tribunal de Tóquio, em 19 de janeiro de 1946, por
iniciativa do General MacArthur, comandante das tropas de ocupação do Japão.
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Com a intensificação do clamor social contra as atrocidades que vêm vitimando milhões de
seres humanos em todas as partes do mundo, pode-se dizer que o Tribunal Penal Internacional
representa um grande avanço na luta contra a impunidade pelos crimes mais graves
internacionais.
Não é corte de Cassação, nem eventual quarta instância superior hierarquicamente às Cortes
Supremas dos Estados parte, em relação ao direito interno não rescinde nem reformam o ato
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judicial interno, já que inexiste hierarquia funcional entre os tribunais internos e o tribunal penal
internacional, da mesma forma, naturalmente repele-se o bis-in-idem”.
No artigo 5° do Estatuto estão elencados os crimes que, quando mais graves e passiveis de
afetarem toda Comunidade Internacional, são da competência do TPI e nos artigos seguintes
encontramos suas definições, são eles os crimes de genocídio, crimes contra a humanidade,
crimes de guerra e crime de agressão.
Neste instrumento, algumas questões suscitaram alguns embates jurídicos no Brasil quanto a
ratificação do referido diploma, entre eles, o referente ao conteúdo do artigo 27 do Tratado de
Roma, que afasta qualquer hipótese de imunidade decorrente de lei interna ou internacional na
investigação de crime de genocídio.
Outro aspecto que gerou certa polêmica foi o artigo 86 que determina a cooperação plena do
país signatário na persecução dos crimes sob a jurisdição do TPI, entre elas, está a obrigação
prevista no artigo 89 do Estatuto de captura e entrega de indivíduos que tenham cometido
crimes de competência do TPI, não havendo aqui, reservas nem quanto aos cidadãos do país
signatário.
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Assim, estaria o Estatuto violando o disposto no artigo 5º LI da CRF que impede a extradição
de brasileiros (salvo de naturalizados em crimes cometidos antes da naturalização, ou em caso
de comprovado envolvimento em crime de tráfico ilícito de entorpecentes)?
Também aqui a polêmica se instalou, uma vez que o Estado Signatário, compromete-se a
cooperar com o Tribunal Penal Internacional, e de tal forma que chega a entregar eventualmente
para ser processado, o próprio cidadão do país signatário, fato inimaginável sob a égide do
nacionalismo puritano. Ao que responde Japiassú (2005, p.206):
“A entrega do nacional para julgamento pelo TPI significa a entrega de nacional para
julgamento perante o Tribunal do qual o Brasil é membro, e não a Tribunal
estrangeiro. O conceito de extradição se relaciona com a entrega de um indivíduo a
outro Estado. Nesse caso refere-se a entrega a outro Órgão julgador, que, se não é
nacional, engloba a jurisdição nacional, o que afasta possíveis incompatibilidad es.”
O último e mais polêmico ponto, que diz respeito à recepção do Estatuto do TPI, refere-se ao
fato do artigo 77 prever a pena de prisão perpétua. Embora já seja esta, um abrandamento em
relação à pena de morte instituídas nos outros tribunais penais históricos, como os de Ruanda,
Ex-Iuguslávia e Nuremberg.
Ressaltando-se que esta pena não se coaduna com os ditames elementares dos Direitos
Humanos, mas representou o consenso possível entre os que com ela não concordavam e entre
os que a defendiam a pena de morte.
Sendo ainda firmado, que a sanção perpétua somente se dará em condições muito específicas
que se justificam somente em função da extrema gravidade do crime e pelas circunstâncias
pessoais do condenado, portanto, exceção e não a regra, em evidência ainda, que o artigo 80 do
Estatuto teve o cuidado de prever que a legislação interna dos Estados signatários, não precisam
adotar a referida pena.
Desta forma vê-se que, a personalidade jurídica de um lado representou indubitavelmente uma
conquista - no que diz respeito à possibilidade de efetividade dos direitos humanos violados -,
de outro, trouxe consequências ainda maiores que as previstas no ordenamento interno do país
de origem do agente violador de direitos humanos tipificados no Estatuto de Roma, como por
exemplo, no Brasil que inadmite a pena de prisão perpétua, mas não se oporá caso seja aplicada
a cidadão brasileiro, julgado e condenado pelos crimes de competência do TPI. Novamente,
algo inimaginável durante o Sistema Westfaliano.
Resolução Pacífica de Litígios Internacionais, uma instituição internacional que, de fato, não
se constituía em um verdadeiro tribunal, mas apenas, numa secretaria, sediada naquela cidade
holandesa, e numa lista de nomes de alta qualificação para funcionarem como árbitros, uma
vez escolhidos pelas partes em um litígio.
Com o propósito de criar um verdadeiro tribunal permanente, a Sociedade das Nações, nos
termos do artigo 14 do seu Pacto, encarrega, em 1920, o seu Conselho de preparar um projeto
de Corte Permanente de Justiça Internacional para ser submetido aos Estados membros da
Sociedade.
Um comitê consultivo de juristas, de largo prestígio internacional, foi designado para preparar
o projeto de Estatuto, que entraria em vigor em 1921. Nascia, assim, o primeiro tribunal
internacional permanente, com âmbito de ação universal, com a finalidade de julgar litígios
entre Estados.
A Corte Permanente de Justiça Internacional foi instalada na cidade da Haia, Holanda, como
um organismo judicial autônomo da Sociedade das Nações. Em consequência da deflagração
da Segunda Guerra Mundial e a ocupação da Holanda pela Alemanha, a CPJI, após sua última
audiência pública realizada em 4 de dezembro de 1939, foi transferida para Genebra, em 1940.
Com sua ação inviabilizada em consequência da guerra e o mandato dos seus juízes vencidos
e prorrogados, a CPJI continuou legalmente existindo durante a guerra.
Na Conferência de Dumbarton Oaks, realizada em Washington, 1944, na discussão do projeto
de criação das Nações Unidas veio à baila a necessidade de constituição de uma corte
internacional, integrada como órgão da futura organização, e com seu Estatuto inserido na
Carta que se esboçava.
Em 1946, na Conferência de São Francisco, os Estados ali representados extiguiram a CPJI e
votaram pela criação de um novo tribunal.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) começou a funcionar, em 1946, como órgão das Nações
Unidas, nas antigas instalações da CPJI, o Palácio da Paz, na cidade da Haia, Holanda, tendo
adotado, praticamente, o Estatuto da velha Corte, agora integrado à Carta da ONU, com o
acréscimo da alínea 2ª do artigo 3º e do atual Capítulo V.
Composta por 15 juristas de reconhecido prestígio internacional, eleitos pela Assembleia
Geral e pelo Conselho de Segurança, têm como finalidade decidir, de conformidade com as
normas do Direito Internacional, as demandas jurídicas que lhes são apresentadas pelos
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Estados.
Todos os membros das Nações Unidas são parte do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
Contudo, um Estado não Membro da ONU poderá tornar-se parte do Estatuto da CIJ,
submetida a pretensão ao exame, caso por caso, da Assembleia Geral, mediante recomendação
do Conselho de Segurança. Para além, inúmeros tratados bilaterais e multilaterais preveem
cláusulas compromissórias de submissão obrigatória à jurisdição da CIJ.
A Corte Internacional de Justiça, conforme o artigo 36 do seu Estatuto, pode conhecer de
qualquer questão que lhe for submetida pelas partes, “bem como de todos os assuntos
especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados em vigor.” A competência
da CIJ se manifesta de duas formas: contenciosa e consultiva. A competência contenciosa é
exercida segundo os procedimentos estabelecidos em seu Estatuto e respectivo Regimento, e
é restrita às questões postuladas exclusivamente pelos Estados.
Os pareceres consultivos têm sido um importante instrumento de ação no direito internacional,
uma vez que nenhuma das partes poderá de boa-fé recusar-lhes o cumprimento.
Além dos pareceres, uma importante evolução tem acontecido, é que a CIJ tem expedido
Medidas Provisórias de proteção de populações como é o caso do Templo de Vihear (Camboja
versus Tailandia).
Referências Bibliograficas:
JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Tribunal Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2005.
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MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 13. ed., Rio de
Janeiro: Renovar, 2001.
RAMOS, André de Carvalho. Direitos Humanos em Juízo. São Paulo: Max Limonad, 2001.