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4. O Sistema Westfaliano e o Sujeito de Direitos

O fim do período medieval tem um marco histórico em 1648, quando uma série de tratados
foram assinados, dando fim a um período caótico que ficou conhecido como a guerra dos trinta
anos, caracterizado pela luta dos movimentos de reforma religiosa contra a hegemonia da
igreja católica.

O assim denominado “Sistema Westfaliano” possibilitou a consolidação da ideia de um


Estado em oposição ao domínio religioso medieval. Maquiavel, Hugo Grotius e Thomas
Hobbes já descrevem em suas obras a ideia de “Estado”, em oposição ao Absolutismo real.

Mais adiante, a expressão passará a ser acompanhada da designação “Nação”, que por sua vez
é uma alusão ao movimento renascentista, que indica um novo nascimento.

O nascimento do “novo” sujeito de direitos em oposição ao absolutismo real, indica um


deslocamento da ideia de poder, que antes era propriedade do rei soberano, agora será
compartilhado com a ascendente burguesia, que se apropria do Estado que nascia.

O Estado e não mais o rei, passa a governar a partir do século XIX e produz a reconfiguração
dos reinos medievais em Estados Europeus.
Entretanto, segundo Cançado Trindade (2002, p.1075) “no plano internacional, os Estados
assumiram o monopólio da titularidade de direitos; os indivíduos e grupos sociais, para sua
proteção, foram deixados inteiramente à mercê da intermediação discricionária de seus Estados
nacionais”. E assim permaneceram, até o fim da segunda guerra.

A experiência desastrosa produzida pelas duas grandes guerras no Século XX, produzida pelos
Estados Nacionais, a partir da traumática experiência nazista, evidenciou que o dogma da
soberania estatal era insuficiente, uma vez que o Estado poderia ser contaminado por ideais não
humanitários contra o interesse de seus próprios cidadãos; com isso, começou-se a reconhecer
a necessidade de reconstrução do Direito Internacional, com o propósito de se constituir uma
comunidade internacional minimamente organizada em novas subjetividades, novos sujeitos
de direitos, que devem maneja-los até mesmo contra o Estado.

Cançado Trindade (2002, p. 1076) explica que:

O ordenamento internacional das soberanias cedeu efetivamente terreno ao da


solidariedade. Esta profunda transformação do ordenamento internacional começou a
desencadear-se a partir do reconhecimento da necessidade da reconstrução do direito
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internacional com atenção aos direitos do ser humano, do que deu eloquente
testemunho a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,
seguidas, ao longo de cinco décadas, por mais de 70 tratados de proteção hoje vigentes
no plano global e regional”.
Quanto à origem Celso D. Albuquerque Mello (2001, p.767) ensina que:

A teoria individualista foi sustentada pela primeira vez por Duguit, em 1901, na sua
obra “L’État, le Droit Objectif et la Loí Positive”, onde sustentou que o Estado havia
morrido e negou, entre outras coisas (a soberania e o direito subjetivo), a
personalidade do Estado. Declarava que apenas o homem era sujeito de direito e o
próprio Estado se reduziria a indivíduos. Esta concepção encontrou inúmeros
seguidores: b) Le fur defendeu que o homem seria sujeito do DI ao lado do Estado.
Entretanto, este seria o sujeito direto, enquanto aquele seria o indireto. O direito teria
por fim último o indivíduo, mas este age no mundo jurídico internacional através do
Estado.
Desse modo, se o direito é um produto do homem para regulamentar as suas próprias relações,
não se pode ignorar a subjetividade internacional do indivíduo.

4.1. O sujeito de direitos internacional e os mecanismos de promoção e fiscalização dos


Direitos Humanos:

Com a tragédia humanitária produzida pela segunda guerra mundial foi criada em 1950 a
ACNUR (Alto Comissário da ONU para refugiados). Em 1967 seu mandato foi expandido para
além das fronteiras europeias e das pessoas afetadas pela Segunda Guerra. Em 1995, a
Assembleia Geral designou o ACNUR como responsável pela proteção e assistência dos
apátridas em todo o mundo.

Em que pese o surgimento do Estados Nacionais terem sido justificados como forma de
oposição ao arbítrio absolutista das famílias reais, e ainda que tenham em sua vocação a
pretensão de proteger o sujeito de direitos internacionais, que vai desabrochando nestes últimos
séculos, na prática, infelizmente estes objetivos não se confirmam. Uma rápida consulta ao site
da ACNUR revela que, mais de 67 milhões de pessoas no mundo deixaram seus locais de
origem por causa de conflitos, perseguições e graves violações de direitos humanos. Entre elas,
aproximadamente 22 milhões cruzaram uma fronteira internacional em busca de proteção e
foram reconhecidas como refugiadas. Indica ainda que, a população de apátridas (pessoas sem
vínculo formal com qualquer país) já supera 10 milhões de pessoas.

Tais números demonstram que a representatividade do Estado como tutor dos direitos humanos
não se confirma, e que, o Estado, tornou-se em verdade, um opressor.

Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 tenha efetivamente consagrado
o indivíduo como sujeito de direitos, a falta de instrumentos coercitivos, a falta de vontade
política, fez com que, a implantação dos direitos ali consignados não se materializasse.
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Com o objetivo de dar efetividade e coercitividade aos direitos humanos, em 1966, foram
disponibilizados, por meio da Organização das Nações Unidas (ONU), o Protocolo Facultativo
relativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, bem como, o Pacto Internacional
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Somente em 1978 esses protocolos alcançaram o
numero de subscritores suficientes para entra em vigor, portanto, 30 anos após a Declaração.

Além do Alto Comissariado, outros dois órgãos/sistemas foram previstos como órgãos da
ONU, com o objetivo de persuadir aos Estados signatários a colocarem em prática dos ditames
humanistas, qual sejam, a Comissão de Direitos Humanos e o Comitê de Direitos Humanos
com seus Comitês Especiais.

A Comissão de Direitos Humanos é um órgão subsidiário do Conselho Econômico e Social,


composto por representantes de 54 países, que se reúnem anualmente e dispondo de uma
competência consultiva, ao dirigir recomendações aos Estados e ao fazer estudos.

Dentre as obrigações que os Estados partes estipuladas pelo Pacto de Direitos Individuais e
Políticos figura o compromisso de emitir relatórios anuais acerca da implementação e
monitoramento dos direitos consignados nos respectivos Pactos.

O Comitê de Direitos Humanos, é um órgão composto por 18 peritos em Direitos Humanos, e


tem por missão não apenas apreciar os relatórios anuais que os Estados vinculados enviam, bem
como, analisar as queixas que lhe sejam endereçadas por Estados Denunciante ou por cidadãos,
em relação ao desrespeito pelos Direitos Humanos.

Os relatórios e as denúncias, são analisados pelo Comitê e discutidos entre este e o Estado-
Parte analisado especificamente, ressaltando os aspectos positivos ou os empecilhos detectados,
sugerindo, ao final das observações, as soluções adequadas.

Os Comitês Especiais são organismos especializados na proteção de certas categorias de


Direitos Humanos, dispondo de uma competência também consultiva, como é o caso do Comitê
contra a Tortura, Comitê dos Direitos da Criança ou o Comitê para a Eliminação da
Discriminação contra as Mulheres.

Especificamente no que diz respeito ao Espírito Santo é importante ressaltar por que serviu de
paradigma para todo o Brasil, as denúncias acerca dos “presídios de lata” 1 implantados no

1Matéria disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2010/03/15/violacao-de-


direitos-humanos-em-presidios-do-es-sera-discutida-na-onu.htm
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Estado, e que foram objeto de denúncia e discussão na ONU, gerando um acordo entre o CNJ
o Estado visando a sua desativação em 2010.

Este sistema da ONU, aliado aos sistemas regionais de proteção aos direitos humanos são, sem
sombra de dúvidas, uma das grandes conquistas sociológicas da humanidade, e, o acesso efetivo
dos indivíduos às instâncias internacionais de proteção e reconhecimento de sua capacidade
processual internacional são o seu maior desafio.

4.2- O acesso Individual à Corte Europeia de Direitos Humanos

Ainda que o sujeito internacional de direitos humanos seja o indivíduo, o exercício dos seus
direitos de forma individualizada é um desafio. Embora o direito a peticionar individualmente,
esteja previsto no Primeiro Protocolo Facultativo do Pacto de Direitos Civis e Políticos (artigo
1-3 e 5); na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (artigo
XIV), na Convenção das Nações Unidas contra a Tortura (artigo 22); na Convenção Europeia
de Direitos Humanos (artigo 25), na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (artigo
44) e na Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (artigo 55-58). Embora o Programa
de Ação de Viena, principal documento adotado pela II Conferência Mundial de Direitos
Humanos em Viena (1993), por meio do Protocolo Facultativo ao Pacto de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, conclamou aos Estados signatários a adoção de
procedimentos de petições ou comunicações individuais. Na prática, o que se comprova é que
essa representatividade somente se opera graças e na medida da ação das Organizações Não
Governamentais (ONG’S) criadas para esse fim, fato que demonstra a dificuldade de
implementação desta diretriz.

A Convenção Europeia começou a aceitar a petição individual originalmente condicionando a


aceitação da petição à demonstração da condição de vítima pelo demandante individual, fato
que propiciou o desenvolvimento jurisprudencial desta noção na Convenção Europeia.

Foi este reconhecidamente um dos grandes avanços logrados pela Convenção Europeia, nos
planos tanto conceitual e normativo, assim como operacional.

O direito de petição individual, assim amplamente concebido, tem como efeito imediato
ampliar o alcance da proteção, mormente em casos em que as vítimas (e.g., detidos
incomunicáveis, desaparecidos, entre outras situações) se vêm impossibilitadas de agir por
conta própria e necessitam da iniciativa de um terceiro como peticionário em sua defesa.

O sistema europeu, a despeito do pioneirismo da Declaração Universal dos Direitos do Homem,


foi o primeiro a ser verdadeiramente instalado, a partir da aprovação, especificamente em 04
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de novembro de 1950, da Corte Europeia de Direitos Humanos, conforme estabelece em seu


artigo 34,2 sob os auspícios do Conselho da Europa.

A partir de 01 de novembro de 1998, dia da entrada em vigor do Protocolo nº 11 (1994), que


reformou o sistema admitindo textualmente a capacidade de as partes peticionaram
individualmente, admitiu-se a Corte Europeia como único órgão jurisdicional de supervisão da
Convenção, extinguindo-se, portanto, a Comissão Europeia de Direitos Humanos e revogando
o Protocolo nº 9.

4.3 O sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos

Em 1959, na 5ª Reunião dos Ministros de Relações Exteriores, realizada no Chile, foi criado
um órgão voltado para a proteção de Direitos Humanos, no seio da OEA – Organização dos
Estados Americanos - que veio a ser a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Na II Conferência Extraordinária da OEA em 1965, foram ampliados os poderes da Comissão,


e esta passou a ser o verdadeiro órgão internacional de supervisão do cumprimento dos
compromissos elencados na Carta da OEA e na Declaração Americana dos Direitos Humanos.

4.3.1 A Comissão

A Comissão é composta de sete comissários, pessoas de alta autoridade moral e notório saber
na área de Direitos Humanos, indicados por Estados, membros da OEA, eleitos por escrutínio
secreto pela Assembleia da OEA.

Desse modo, a atribuição da Comissão termina com a elaboração das recomendações da


Comissão ao Estado infrator, que caso não as acate, a Comissão decide pelo encaminhamento
à Assembleia Geral da OEA para que se adote as medidas políticas necessárias com vistas a
efetivar as conclusões da Comissão.

Com a entrada em vigor, em 1978, da Convenção Americana, a Comissão passou a ter, além
da função acima citada, também um órgão de assessoramento e via de acesso à Corte
Interamericana de Direitos Humanos, com poderes para analisar a admissibilidade das
denúncias e ajuizá-las perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

2O Tribunal pode receber petições de qualquer pessoa singular, organização não governamental ou grupo de
particulares que se considere vítima de violação por qualquer Alta Parte Contratante dos direitos reconhecidos
na Convenção ou nos seus protocolos. As Altas Partes Contratantes comprometem - se a não criar qualquer
entrave ao exercício efetivo desse direito”
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É bastante oportuno enfatizar a fragilidade do sistema, por faltar-lhe a coercibilidade e a


autoexecutoriedade de suas próprias decisões.

Importante ressaltar ainda que, conforme estabelece artigo 48, “f”, da Convenção Americana
de Direitos Humanos, existe a possibilidade de conciliação entre as partes perante a Comissão,
através de uma solução amistosa, após a fase de admissibilidade.

O Brasil já celebrou ao menos um acordo nesta fase, foi um caso em que o Estado brasileiro foi
responsabilizado por permitir trabalho em condição análoga à de escravo. Foi o caso José
Pereira versus Brasil, no qual, foi celebrado acordo, em 18 de setembro de 2003, pelo qual o
Estado brasileiro reconheceu a responsabilidade internacional pelo fato de os órgãos estatais
não terem capacidade para prevenir a prática de trabalho escravo, nem punir os responsáveis.

Este reconhecimento público se deu por ocasião da criação da CONATRE (Comissão Nacional
de Erradicação do Trabalho Escravo), realizada na referida data. Responsabilizando-se ainda o
Brasil por cumprir os mandados de prisão contra os autores dos crimes cometidos contra a
vítima.

A vítima foi indenizada através do Projeto de Lei 10.706, de 30 de julho de 2003, que determina
o pagamento da quantia de R$ 52.000,00 (cinquenta e dois mil reais) à vítima.

Como medida de prevenção e com objetivo de melhorar a legislação nacional, o Estado


brasileiro comprometeu-se a efetuar todos os esforços para aprovar o Projeto de Lei n. 2130-A
de 1996, que inclui, entre as infrações contra a ordem econômica, a utilização de mecanismos
ilegítimos de redução de custos de produção, como o não pagamento de impostos do trabalho
e encargos sociais (trabalho infantil, escravo e semiescravo), modificando assim o Código
Penal Brasileiro. E ainda, defendeu-se o estabelecimento da competência federal para o crime
de redução à condição análoga à de escravo.

Além dessas providências, o governo brasileiro se comprometeu a fortalecer o Ministério


Público do Trabalho, zelar pelo cumprimento da legislação existente, fortalecendo o grupo
móvel do Ministério do Trabalho e realizar gestões junto ao Poder Judiciário no sentido de
garantir a punição dos autores. Ademais, comprometeu-se a fortalecer a Divisão de Repressão
ao Trabalho Escravo, criando especialidade na Polícia Federal. Finalmente, o governo se dispôs
a fazer uma campanha de sensibilização nacional contra o trabalho escravo, notadamente no
Pará.

Esgotada a fase de conciliação, a Comissão edita o primeiro relatório, no qual se constata ou


não a violação à Convenção Americana de Direitos Humanos. Naturalmente, caso haja a
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constatação da violação da convenção por parte do Estado, será o referido relatório enviado ao
país membro para que tome as devidas providências. Caso isso não aconteça em três meses, a
Comissão submeterá o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, tornando doravante
judicial o processo perante o referido tribunal.

Ocorre que, há países que ainda não reconheceram a jurisdição obrigatória da Corte, e nesses
casos, há um segundo relatório. Sublinhe-se o prazo expresso para que as recomendações do
relatório sejam cumpridas, e caso não sejam, o segundo relatório equivaleria a uma sanção
moral ao Estado violador. Nesse ponto, assim esclarece André de Carvalho Ramos (2001, p.85):

No caso de a Comissão ter preferido acionar o Estado violador perante a Corte, é a


sentença desta última que será vinculante, podendo até contrariar o entendimento da
Comissão. Entretanto se o caso não for submetido à Corte (em virtude, em geral, do
não reconhecimento, pelo Estado, da Jurisdição da Corte) edita-se o segundo informe,
que segundo o princípio da boa-fé consagrado na Convenção de Viena sobre Direitos
dos Tratados, e que obrigava aos contratantes da Convenção Americana dos Direitos
Humanos, a realizar seus maiores esforços para cumprir as deliberações da Comissão,
que é também o principal órgão da OEA, já que os mesmos ao aderirem à Convenção
aceitaram a competência desta Comissão para processar petições individuais.”

Cumpre repisar que o efeito vinculante e obrigatório equivale a uma sanção moral, e em caso
de não cumprimento, deverá ser enviado à Assembleia Geral da OEA para que esta delibere e
sancione o Estado violador da Convenção Americana de Direitos Humanos (como inferiu-se o
caso Haiti, já explicitado).

No que diz respeito ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos está na 9ª Conferência


Interamericana entre Estados da região, realizada em Bogotá (Colômbia), no período de 30 de
março a 02 de maio de 1948.

A Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) proclamou o dever de respeitar os


Direitos Humanos. Foi aprovada então a Declaração Americana de Direitos Humanos, na qual
trouxe um elenco de direitos fundamentais da pessoa humana a serem observados pelos Estados
signatários, como se vê, antes ainda da Declaração da ONU, entretanto, no mesmo ano.

Em 1969, foi proclamada a Convenção Americana de Direitos Humanos, em São José (Costa
Rica), que somente entrou em vigor em 1978.

A necessidade de se redigir um documento convencional se deu por que a Declaração


Americana não se constituiu em um tratado ou convenção, não possuindo, portanto, força
vinculante.
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Além disso, a Convenção Americana de Direitos Humanos aprofundou-se na redação dos


direitos protegidos na declaração original (1948), sendo o instrumento criado para dar
efetividade aos referidos direitos antes declarados.

Para André de Carvalho Ramos (2001) existem dois sistemas distintos de proteção aos Direitos
Humanos nas Américas - O primeiro sistema é político (denomina-se Sistema da OEA) – posto
que tem por fundamento jurídico para viabilizá-lo, o disposto na Declaração Americana de
Direitos Humanos, e caracteriza-se por utilizar, como órgão principal de promoção e proteção
dos Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Diz-se tratar de um sistema quase judicial, uma vez que a Comissão não tem poderes
jurisdicionais específicos, pois, apesar da independência pessoal com que agem seus membros,
acaba por sofrer influências políticas. Na verdade, os relatórios desta Comissão são levados à
Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), e substanciam as decisões
ou sanções, ou ambas, ao país violador. Sendo assim, há suscetibilidade às influências políticas
típicas do colegiado que compõem a Assembleia.

É possível que um país do continente americano tenha aderido à Declaração Americana de


Direitos do Homem (de 1948) e não tenha se tornado signatário da Convenção Americana de
Direitos Humanos (1969). Dessa forma, o dito Estado estaria submetido somente ao referido
controle político imposto pela declaração e não ao controle judicial estabelecido na convenção.

Como exemplo de influência, convém citar o caso do Haiti, país dividido por guerrilhas, golpes
de Estado e pela extrema pobreza. Situação potencializada em grande parte pelas sanções
impostas pela OEA, através da Resolução N°1/91 do Conselho Permanente da OEA. Nesse
sentido, decidiram-se pela suspensão de todas as atividades econômico-financeiras e
comerciais dos países membros. Houve ainda a suspensão de operações do Banco
Interamericano de Desenvolvimento, seguida da Resolução N° 2/91, que previu o
congelamento de haveres do governo do Haiti nos países membros da OEA, e ainda, o
cancelamento de vistos e o congelamento dos haveres dos membros golpistas do governo do
Haiti.

Tudo isso devido ao rompimento com o regime democrático provocado pelo golpe militar
contra o presidente Jean Bertrand Aristide, em setembro de 1991. Regime este que foi
restabelecido somente em 2006, com as novas eleições presidenciais monitoradas pela OEA e
garantidas pela força de paz liderada pelo Brasil.
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Apesar desse exemplo bem sucedido, intervenção política da OEA no Haiti, verifica-se que o
sistema não é eficaz contra países fortes que fazem parte da composição política da Convenção
Geral da OEA.

Entretanto, tal instrumento pode ser útil, como instrumento de pressão contra esses países, que
ainda se recusam a aderir à Convenção Americana de Direitos Humanos. Vale lembrar como
aconteceu no Brasil, na época da ditadura militar (casos n° 1683 e 1684), quando o país ainda
não havia ratificado a Convenção Americana de Direitos Humanos, devendo obediência,
contudo, à Declaração Americana de Direitos Humanos, já em vigor desde 1948.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 1973, considerou existente a veemente


presunção de graves violações de Direitos Humanos, recomendando, pois, a determinação dos
fatos. Embora houvesse alguma observação, foi solenemente ignorada pelo governo brasileiro
da ditadura militar. Contudo, serviu para exemplificar que mesmo não tendo o Estado brasileiro
ainda aderido à Convenção Americana, ele foi responsabilizado com fulcro na Declaração
Americana de 1948

4.3 A Corte Interamericana de Direitos Humanos – O Sistema Judicial

O outro sistema de proteção aos Direitos Humanos é o sistema judicial de proteção aos Direitos
Humanos, e se aplica aos países signatários da Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de San José da Costa Rica, 1969), e que tenham se submetido à jurisdição da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

Nesse caso, além da Comissão Interamericana de Direitos Humanos manter as atribuições


acima relatadas, agrega ainda a função de receber e apurar as denúncias contra violações de
Direitos Humanos nas Américas. Em caso de admiti-las, iniciar-se-á a ação judicial contra o
Estado violador junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos (órgão judicial). A
Comissão é quase um Ministério Público Internacional. Além disso, cabe enfatizar que
qualquer Estado signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos poderá denunciar
outro Estado por violações aos direitos protegidos na convenção.

O Brasil somente aderiu à Convenção Americana em 1992 e submeteu-se à jurisdição da Corte


Interamericana em 1998. Somente em 2006 que a Corte proferiu as primeiras sentenças em face
do Estado brasileiro.

O Regimento Interno da Corte tem um procedimento bastante simplificado.


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Como no processo civil pátrio, existem condições para a admissibilidade de petições na


Comissão e por consequência na Corte, quais sejam:

A- O esgotamento dos recursos internos nacionais;

B- Ausência do decurso de seis meses para a representação;

C- Ausência de litispendência e,

D- Ausência de Coisa Julgada Internacional relativa a outros Tribunais Internacionais de


Direitos Humanos.

Quanto ao primeiro pressuposto (esgotamento de recursos internos), o que se exigem às Cortes


é que a conduta do Estado subscritor da Convenção deva ser ativa, no sentido de que os
mecanismos disponibilizados pelo Estado estejam aptos a promoverem e/ou restabelecer a
dignidade humana quando violada. Tudo em um prazo que a Convenção estabelece como
“razoável”.

Portanto, não se trata de aguardar o trânsito em julgado de eventual ação judicial do país
signatário. Na verdade, o Estado tem o dever de organizar estruturas necessárias para a garantia
dos Direitos humanos. Essa assistência está relacionada no artigo 8º da Convenção Americana.
E se tal fato não se der em prazo razoável, o Estado sofre pelo descumprimento desse
dispositivo legal, podendo ser demandado.

No artigo 46.1, da referida Convenção, estabelece-se uma verdadeira inversão do ônus da


prova, por parte do Estado que tenha arguido, em sua peça contestatória, a exceção de
esgotamento dos recursos internos, de modo que, o Estado demandado terá que provar que os
recursos possíveis no plano interno ainda não foram esgotados.

Sendo assim, se o Estado demandado comprovar que ainda não foram esgotados os recursos
internos, estabelece o artigo 46.2 que o demandante deverá demonstrar que as exceções por ele
sentidas, como a impossibilidade de pagar as custas previstas em um dado ordenamento
jurídico, ou um temor generalizado, opressão, em virtude da qual não se é possível encontrar
profissionais aptos a enfrentá-la, justificam a intervenção da Corte. Evidentemente, deve-se
demonstrar também que os direitos invocados estão protegidos pela Convenção.

Importante gizar, ante a publicidade do caso Eldorado dos Carajás versus Brasil, em que o
Estado brasileiro alegou a exceção de não esgotamento dos recursos internos, enviando
minucioso relatório da situação em que se encontravam os processos de apuração de
responsabilidades.
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A decisão da Comissão foi no sentido de não acatar a exceção interposta, pelo fato de considerar
“que a Polícia Militar não goza da independência e da autonomia necessárias para investigar
de maneira imparcial as supostas violações aos direitos humanos presumivelmente cometidas
por policiais militares”. E mais, fazendo verdadeiro juízo de valor, afirma o voto que “a Lei
9.299 da República não tem capacidade efetiva para reduzir significativamente a impunidade”.

Ainda sobre o mesmo caso, o segundo pressuposto acima discriminado, também foi alegado
em sede de exceção, qual seja, prazo de seis meses para a interposição da petição de denúncia.
A Comissão, sobre este segundo pressuposto assim decidiu, que o prazo será considerado
razoável, a critério da Comissão, de acordo com as circunstâncias de cada caso.

Observe-se que o prazo de seis meses não é decadencial e peremptório, como no ordenamento
interno brasileiro, o critério da Comissão é muito mais subjetivo, bastando que configure um
prazo “razoável”.

Nesse sentido, e ainda sobre a mesma preliminar, emblemático é o caso Hélio Bicudo versus
Brasil, no qual a Comissão não considerou cinco anos, um prazo razoável.

Trata-se da situação em que o Deputado Hélio Bicudo vinha sofrendo constantes ameaças de
morte, e exigiu das autoridades públicas brasileiras, a investigação da autoria das referidas
ameaças. Tendo havido o arquivamento do inquérito policial em que se apuraram as referidas
ameaças. Irresignado com o arquivamento determinado pelo do Procurador Geral de Justiça, e
ainda, considerando que não há recurso no ordenamento pátrio contra o referido arquivamento,
peticionou o citado jurista à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, denunciado tais
fatos, e naturalmente, requerendo as providências que o caso exigia em favor de seu direito à
vida.

Mesmo tendo sido membro e presidente daquela Comissão, contrariando o caráter político de
que muitas vezes é acusada, houve por bem a Comissão indeferir o apelo de Hélio Bicudo,
tendo em vista o decurso do prazo de seis meses entre o trânsito e julgado da decisão judicial
que deferiu o arquivamento do inquérito policial e a petição de denúncia de violação ao direito
à sua integridade física.

Há de se destacar, entretanto, o voto da Comissária Susana Villarán (voto vencido), pela


admissibilidade, ao afirmar que “a Convenção determina um recurso efetivo para a defesa dos
direitos humanos, e não se pode considerar efetivo um recurso ilusório”.
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Como se pode verificar no voto dissidente, os recursos não podem ser meramente formais, não
podem simplesmente gerar expectativa de um direito, mas devem ser efetivos para o que se
propõem.

Vale acrescentar que do mesmo vício padece o regulamento da Comissão não admitindo
recursos de sua decisão pela inadmissão de denúncia.

Em todo caso, a despeito das premissas acima, quanto a esse pressuposto, conta-se a prescrição
a partir do trânsito em julgado da sentença interna do país signatário da Convenção.

Com relação à exceção de litispendência, por força do Artigo 46, “c”, da Convenção
Americana, uma vítima não deverá utilizar-se de duas instâncias apurativas de violação de
Direitos Humanos, como, por exemplo, utilizar-se do sistema universal (ONU) e do sistema
interamericano (OEA) para buscar restabelecimento de eventual direito violado, fato
relativamente comum quanto se trata de Corte Europeia. O mesmo vale para exceção de coisa
julgada internacional, quando eventualmente o caso já houver sido julgado por outra Corte
Internacional de Direitos Humanos.

As exceções preliminares farão parte da peça de contestação (artigo 36.1 do Regimento


Interno), que determina ainda que as partes interessadas poderão expor por escrito sobre as
exceções dentro do prazo de 30 dias (artigo 36.3 do Regimento Interno). Quanto à contestação,
o prazo estabelecido no regulamento é de dois meses (artigo 37.1).

Decididas as exceções preliminares e admitida a demanda, conforme o artigo 23 do regimento,


“as supostas vítimas, seus familiares ou seus representantes devidamente acreditados poderão
apresentar suas petições, argumentos e provas de forma autônoma durante todo o processo”.

Poderá a Corte produzir provas que considere úteis de ofício (artigo 44 do Regulamento).

Findo o devido processo legal, a Corte prolata a sentença externa que em seu formato é igual à
sentença do ordenamento brasileiro.

Quando, na sentença sobre o mérito, não se houver decidido especificamente sobre reparações,
a Corte determinará a oportunidade para sua posterior decisão e indicará o procedimento.

A Corte tem sido bastante eclética e criativa quanto às reparações, tem determinado desde a
soltura de presos, ou obrigação de construir prédio escolar ou posto médico, à mudança de
legislação interna, obrigação de investigar e punir agentes responsáveis, ou ainda, tornar nulo
processo judicial, entre outras.
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Uma vez determinada a reparação, deverá o Estado cumprir com a mesma na forma de seu
ordenamento interno, o que remete à obrigação de legislar, pois como se verá nos próximos
anos, o Brasil provavelmente sofrerá inúmeras condenações junto à Corte Interamericana, e
terá que criar um sistema de liquidação das respectivas sentenças de reparação humanitárias.

Enquanto não se houver notificado a sentença às partes, os textos, os argumentos e os votos


permanecerão em segredo.

Há também uma espécie de Embargo de Declaração, nominado como “pedido de interpretação”


a que se refere o artigo 67 da Convenção, e poderá ser formulado em relação às sentenças de
mérito ou de reparações, cabendo nele indicar, com precisão, as questões relativas ao sentido
ou ao alcance da sentença cuja interpretação é solicitada. Ressalte-se que o pedido de
interpretação não exercerá efeito suspensivo sobre a execução da sentença.

Como se pode verificar no Regimento Interno, há nos procedimentos da Corte uma


preocupação com a oportunidade de defesa, mas principalmente, uma preocupação com
igualdade de forças, e ainda a possibilidade de participação dos parentes ou representantes da
própria vítima (vítimas indiretas).

Note-se também que não há um apego demasiado ou um detalhamento minucioso no que diz
respeito ao procedimento, como por exemplo preclusão, ordem testemunhal, agravos e etc.

Quanto ao cumprimento das sentenças da CIDH no Brasil a Convenção Americana de Direitos


Humanos (no artigo 68) estipula duas regras de execução de sentenças. Pela primeira, cabe a
cada Estado escolher a melhor forma, de acordo com seu direito de executar os comandos da
Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Já a segunda, firmada no artigo 68.2 da Convenção Americana, é inovação do sistema


interamericano, e consiste na menção da utilização das regras internas de execução de sentenças
nacionais contra Estados para a execução da parte indenizatória da sentença da Corte.

Dessa forma, para André de Carvalho Ramos (2002, p.69):

A execução de uma sentença que fixe uma indenização compensatória da Corte


Interamericana de Direitos Humanos pode ser efetuada de acordo com as regras locais
de execução de sentenças contra o Estado. O Estado então ao não cumprir a sentença
internacional pode ser processado internamente utilizando-se o procedimento de
execução de sentença contra a fazenda pública. Com isso deve o juiz de 1ª instância
competente em geral, do foro da residência da vítima, executar, em analogia com o
artigo 484 do Código de Processo Civil, a sentença internacional, providenciando o
juízo a tradução e a autenticação necessárias. Tendo em vista a natureza da
indenização, é possível equipará-la à obrigação alimentar e com isso criar uma ordem
própria para seu pagamento.”
14

Sendo assim, a homologação de sentença estrangeira prevista no artigo 103, I, “f” não se aplica
a sentença oriundas da Corte Interamericana de Direitos Humanos por se tratar o referido artigo
de numerus clausus.

Já no que diz respeito à parte de sentença que se refere às obrigações de fazer ou não fazer, e
que nada tem de relação com a parte de indenização da sentença, poderão ser executadas com
os instrumentos disponíveis nos artigos 461 e seguintes do Código de Processo Civil, sendo
certo que a sentença deverá ser considerada título executivo judicial, já que o Brasil como
signatário obrigou-se a implementar de boa-fé o comando da sentença internacional, ao se
submeter à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

5.A função consultiva da Corte:

Nas solicitações de parecer consultivo, previstas no artigo 64.1 da Convenção, deve-se formular
com precisão as perguntas específicas em relação às quais pretende-se obter o parecer da Corte.

As solicitações de parecer consultivo apresentadas por um Estado-membro ou pela Comissão


deverão indicar, adicionalmente, as disposições cuja interpretação é solicitada, as
considerações que dão origem à consulta e o nome e endereço do agente ou dos delegados.

Se a solicitação se referir à interpretação de outros tratados concernentes à proteção dos Direitos


Humanos nos Estados americanos, tal como previsto no artigo 64.1 da Convenção, dever-se-á
identificar o tratado e suas respectivas partes, formular as perguntas específicas em relação às
quais é solicitado o parecer da Corte e incluir as considerações que dão origem à consulta.

O parecer poderá esclarecer sobre disposições de direito interno do país consulente, em


conformidade com o artigo 64.2 da Convenção. Nesse caso, deverá o consulente indicar as
disposições de direito interno, bem como as da Convenção ou de outros tratados.

Quanto ao procedimento para o parecer consultivo, vale dizer que uma vez recebida a
solicitação, o secretário enviará cópia da mesma a todos os Estados membros, à Comissão, ao
Conselho Permanente da OEA, por intermédio do seu Presidente, ao Secretário Geral da OEA
e aos seus órgãos, cuja esfera de competência esteja ligada ao tema em consulta.

O presidente fixará um prazo para que os interessados enviem suas observações por escrito,
podendo o mesmo convidar ou autorizar qualquer pessoa interessada para que apresente sua
opinião por escrito sobre os itens submetidos à consulta.

Uma vez concluído o procedimento escrito, a Corte decidirá quanto à conveniência ou não de
realizar o procedimento oral e fixará a audiência.
15

A emissão dos pareceres consultivos será regida pelo disposto no artigo 57 do Regulamento

No Brasil, muitas leis e procedimentos merecem reformas por não se adequarem às normas
internacionais de Direitos Humanos, e, portanto, a União deveria utilizar-se desse procedimento
para adequar suas leis, para não merecer reprimendas como a citada no caso Eldorado dos
Carajás, no qual a Lei 9.294 foi declarada incapaz para a apuração de crimes praticados por
agentes, notadamente os policiais militares.

6.A possibilidade de Medidas Cautelares Individuais e no Sistema Americano de Direitos


Humanos:

A evolução do Direito Internacional dos Direitos Humanos e, muito especialmente, para o


acesso à Justiça, é possível a expedição de medidas cautelares de proteção, estabelecidas no
artigo 63. 2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, têm também papel relevante.
Podem ser usadas para proteger a vida e a integridade pessoal de indivíduos, evitar a deportação
ou expulsão, permitir o retorno imediato ou ainda, reunificar famílias.
Denominadas por Antônio Cançado Trindade (2003, p.82) como “o embrião de um habeas
corpus internacional”.
Assim, para que isso se realize, será necessário que o Estado, de acordo com sua legislação
interna e com os compromissos internacionais assumidos nesta matéria, investigue de forma
isenta e competente o ilícito, estabeleça as responsabilidades de seus próprios agentes ou de
particulares, e proporcione à suposta vítima um processo judicial isento, rápido e justo, criando,
se for o caso, todas as facilidades para que isso possa ocorrer.
No contexto regional americano, petições individuais, junto à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, podem ser utilizadas se todas as instâncias da jurisdição interna forem
esgotadas e quando não existir, no ordenamento interno dos Estados, normas que efetivem o
devido processo legal para a proteção dos direitos violados.

Fato é que no sistema interamericano de proteção, a Convenção Americana sobre Direitos


Humanos confere à Comissão Interamericana de Direitos Humanos ampla competência
processual para receber denúncias ou queixas de violação da própria Convenção por um Estado-
parte. Cumpre enfatizar que ao indivíduo é vedado postular diretamente à Corte Interamericana
de Direitos Humanos, cabendo-lhe fazê-lo por meio de petição à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos. Nesse sentido, dispõe o artigo 44 da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos que “qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental
legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas”.
16

Mas, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 1º de junho de 2001, sob a presidência


do juiz Antônio Augusto Cançado Trindade, passou a contar com um novo regulamento. Desse
modo, foi dado um grande salto na direção do acesso direto do indivíduo à Corte, pois, de
acordo com a nova redação do artigo 23, os demandantes poderão participar diretamente em
todas as etapas dos procedimentos perante a Corte, não apenas na fase em que são apreciadas
matérias relativas às reparações, como constava do Regulamento de 1997.

Em 28 de fevereiro de 2003, a Corte Interamericana de Direitos Humanos realizou o primeiro


julgamento sob o novo Regulamento, ao proferir sentença no Caso Cinco Pensionistas versus
Peru.

A tendência extraída dos julgados apontados deu lugar para a modificação legislativa e, em 1º
de junho de 2001, entrou em vigor o novo artigo 23 do Regulamento da Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Desde então, os demandantes poderão participar, ao lado da Comissão,
diretamente de todos os procedimentos perante a Corte, não apenas na fase das reparações.

Deve-se observar o disposto no artigo 57 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos:


“A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte”.

No contexto da contribuição jurisprudencial da Corte para a evolução do Direito Internacional


dos Direitos Humanos, e, muito especialmente, para o acesso à Justiça, as medidas cautelares
de proteção ordenadas pelos tribunais de Direitos Humanos, têm prestado relevante serviço.
Cançado Trindade chama a atenção para o caso “Haitianos e Dominicanos de Origem Haitiana
na República Dominicana”, no qual a Corte, ao ordenar medidas provisórias para proteger a
vida e a integridade pessoal de cinco indivíduos, evitou a deportação ou expulsão de dois, e
permitiu a outros dois o retorno imediato à República Dominicana e a reunificação familiar
com seus filhos, estendendo assim sua ação cautelar, pela primeira vez, ao campo dos novos
direitos, medida que, “representa um embrião de um habeas corpus internacional”. Vale
reproduzir ainda as palavras do referido autor quando aduz que (2003, p.82):

[...] mais de 1500 pessoas (peticionários ou testemunhas) têm sido protegidas pelas
medidas pela Corte Interamericana, ou de seu Presidente, o que revela sua
extraordinária importância, e que em uma determinada ocasião no caso James versus
Trinidad e Tobago a Corte determinou a suspensão da execução de sentenças impondo
a pena de morte naquele país.

Diante do exposto, não será de todo repetitivo reafirmar que o acesso à justiça, não se restringe
somente à possibilidade de ingressar em juízo, no caso de uma violação de uma norma jurídica
em prejuízo de um indivíduo. Necessário que esse acesso seja rápido e efetivo. Assim, para que
17

tal objetivo se realize, necessário se faz que o Estado, de acordo com sua legislação interna e
com os compromissos internacionais assumido, investigue de forma isenta e competente o
ilícito, estabeleça as responsabilidades de seus próprios agentes ou de particulares, e
proporcione à suposta vítima, um processo judicial rápido e justo.

Os Estados não podem, conforme a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, alegar
dispositivos de sua legislação interna para permitir a impunidade de seus agentes ou de qualquer
indivíduo sob sua jurisdição. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, em várias de suas
decisões, sempre reafirma a obrigação internacional do Estado que ratificou a Convenção
Americana, de adaptar a sua legislação interna aos dispositivos da mesma.

Contra o Brasil, na medida provisória expedida contra o descumprimento da Convenção no


âmbito do presídio de Araraquara, o presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos
determinou que, entre outras diligências, o estado Brasileiro restabelecesse as condições de
dignidade da dita penitenciária.

Diferentemente do ordenamento interno, que no processo cautelar, cuja pretensão jurídica visa
à eficácia da jurisdição, preservando-se uma situação no processo, no ordenamento
internacional, a natureza da medida provisória é tutelar de Direitos Humanos, transformando-
se assim em garantia constitucional preventiva.

A mais que isso, ressalte-se serem os requisitos básicos da medida cautelar a extrema gravidade
e urgência e a prevenção de danos irreparáveis às pessoas, contribuindo assim, com a teoria
geral dos Direitos Humanos.

Outro caso em destaque, devido à atualidade à mídia, datado de 04 de julho de 2006, foi a
solicitação de ampliação de medidas provisórias com respeito ao Brasil, no caso das crianças e
adolescentes privados de liberdade no Complexo do Tatuapé da FEBEM, tendo sido decidido
novamente, pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, o restabelecimento das condições
de dignidade daquela unidade de internação de menores.

Nesse caso, houve inovador argumento do Estado brasileiro, ao questionar em sede de medida
provisória, o prévio esgotamento de recursos na jurisdição interna, inferindo-se que o
“ordenamento jurídico brasileiro prevê medidas cautelares legais idôneas para evitar danos
irreparáveis, em situações de extrema urgência e gravidade”. E dessa maneira, seria
desnecessário continuar com tais medidas provisórias.

Ao que o tribunal ainda respondeu que, considerando a própria natureza das medidas
provisórias anteriormente deferidas, “não é possível condicionar a proteção dos Direitos
18

Humanos em situação de risco num extremo de gravidade e urgência à exigência do


esgotamento dos recursos internos”.

Em conclusão, poder-se-á fazer uso de medidas provisórias que forem necessárias, sendo que
o requisito para adoção das mesmas é o critério de risco extremo de gravidade e urgência para
proteção dos Direitos Humanos dos indivíduos, não se submetendo tais instrumentos à
exigência do esgotamento dos recursos internos, tendo natureza jurídica de tutelar os Direitos
Humanos e não de acautelar a eficácia do exercício da jurisdição.

Trata-se essencialmente de um direito de proteção, marcado por uma lógica própria, e voltado
à salvaguarda dos direitos dos seres humanos e não dos Estados. Neste propósito mostra-se
constituído por um corpus juris dotado de uma multiplicidade de instrumentos internacionais
de proteção, de natureza e efeitos jurídicos variáveis (tratados e resoluções), operando nos
âmbitos tanto global (Nações Unidas) como regional.

7. O outro lado do sujeito de direitos, sua responsabilidade internacional e o Tribunal


Penal Internacional:

A primeira tentativa de responsabilização individual internacional foi após a primeira guerra


mundial, O Imperador da Alemanha, Guilherme II, refugiado na Holanda, era acusado de ter
desencadeado uma guerra de agressão, violando os Tratados que estabeleciam e garantiam a
neutralidade da Bélgica e do Luxemburgo e, da mesma forma, de ter cometido crimes de guerra,
nos termos da Convenção de Haia relativas às leis e costumes de guerra, e ainda por “por
ofensa suprema contra a moral internacional e autoridade sagrada dos tratados” conforme
estabelecia o artigo 227 do Tratado de Versalhes, que por sua vez autorizava a criação de um
Tribunal Internacional para julgar os criminosos de guerra alemães, ainda da primeira guerra.

A Holanda não consentiu em extraditar o Kaiser, portanto, fracassaram todas as tentativas de


criação do Tribunal Internacional.

Quando do fim da segunda guerra, para não repetir o fracasso anterior, os aliados, já em 1943,
acordaram, na Declaração de Moscou, em estabelecer condições para julgar e punir criminosos
responsáveis por crimes contra a paz, crimes de guerra, e crimes contra a humanidade,
praticados durante a segunda guerra mundial.

Disso resultou, ao final do conflito, a criação do Tribunal de Nuremberg, pelo acordo firmado
em Londres, 8 de agosto de 1945, o do Tribunal de Tóquio, em 19 de janeiro de 1946, por
iniciativa do General MacArthur, comandante das tropas de ocupação do Japão.
19

Estes tribunais foram considerados de duvidosa legalidade. Sobre a responsabilidade


internacional do indivíduo, o Tribunal de Nuremberg deixou claro que estes têm deveres
internacionais que transcendem as obrigações nacionais de obediência impostas pelo próprio
Estado. Aquele que viola normas de guerra não pode obter imunidades, enquanto atua no
cumprimento da autoridade do Estado, se este ao autorizar o ato se move fora da sua
competência no plano do direito internacional.

Convém recordar as decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas de estabelecer os


Tribunais Penais Internacionais ad hoc para a ex-Iugoslávia (1993) e para Ruanda (1994) bem
como, a criação do Tribunal Penal Internacional permanente para julgar os responsáveis por
violações graves dos Direitos Humanos e do Direito Internacional Humanitário, reafirmam e
ampliam a perspectiva na medida em que estabelecem a responsabilidade penal internacional
do indivíduo.

Com a intensificação do clamor social contra as atrocidades que vêm vitimando milhões de
seres humanos em todas as partes do mundo, pode-se dizer que o Tribunal Penal Internacional
representa um grande avanço na luta contra a impunidade pelos crimes mais graves
internacionais.

Ao lado das garantias conquistadas em prol do indivíduo existem as responsabilidades por


crimes cometidos contra a humanidade (aqueles da competência do Tribunal Penal
Internacional). O indivíduo não mais está albergado sob as asas do Estado outrora representante
e protetor. Tal constatação se verifica com a adoção do Estatuto do Tribunal Penal Internacional
pela Conferência de Roma de 1998.

A aprovação na Conferência de Roma em 15 de julho de 1998 do Estatuto que instituiu o


Tribunal Penal Internacional como mecanismo de âmbito universal para a proteção de direitos
humanos, com a ratificação de 60 países já se encontra em vigor, com sede em Haia na Holanda,
ainda que, com voto e campanhas contra dos Estados Unidos, Filipinas, China, Índia, Israel,
Turquia e Sri Lanka.

Trata-se de uma instância complementar e subsidiária às jurisdições nacionais, com poderes,


segundo seus estatutos, para julgar crimes de extrema gravidade que ameaçam a paz, a
segurança e o bem-estar da humanidade.

Não é corte de Cassação, nem eventual quarta instância superior hierarquicamente às Cortes
Supremas dos Estados parte, em relação ao direito interno não rescinde nem reformam o ato
20

judicial interno, já que inexiste hierarquia funcional entre os tribunais internos e o tribunal penal
internacional, da mesma forma, naturalmente repele-se o bis-in-idem”.

No artigo 5° do Estatuto estão elencados os crimes que, quando mais graves e passiveis de
afetarem toda Comunidade Internacional, são da competência do TPI e nos artigos seguintes
encontramos suas definições, são eles os crimes de genocídio, crimes contra a humanidade,
crimes de guerra e crime de agressão.

O Brasil depositou o instrumento de ratificação do referido Tratado de Roma, que instituiu o


Tribunal Penal Internacional em 20 de junho de 2002, tendo o então Presidente promulgado o
Decreto No. 4.388 de 25 de setembro de 2002.

Neste instrumento, algumas questões suscitaram alguns embates jurídicos no Brasil quanto a
ratificação do referido diploma, entre eles, o referente ao conteúdo do artigo 27 do Tratado de
Roma, que afasta qualquer hipótese de imunidade decorrente de lei interna ou internacional na
investigação de crime de genocídio.

Os referidos embates resultaram da seguinte pergunta: Tal preceito significa pulverizar a


imunidade parlamentar e diplomática prevista na Constituição Brasileira?

A este respeito afirma Carlos Eduardo Adriano Japiassú (2005, p.202).

A incitação publica ao genocídio não coaduna, com a finalidade da imunidade e, por


essa razão, não poderia ser alegada, visto que certamente não se protegerá o Estado
de direito permitindo ao parlamentar a incitação a pratica do genocídio” e ancorado
em Nicolas Ligneul afirma serem “objetivos conciliáveis e não contraditórios”,
inexistindo assim qualquer contradição entre o Estatuto de Roma e a Constituição
Brasileira.
Desta forma, verifica-se que, se o indivíduo se libertou da representação estatal para a defesa
de seus direitos, também não poderá valer-se das prerrogativas dos agentes estatais para
desobrigar-se quanto ao cumprimento da norma de Jus Cogens que não tolera o genocídio, não
podendo utilizar-se do argumento de cumprimento de ordem estatal, para desvincular-se da
norma internacional, conclui-se que, portanto, que, esta personalidade internacional é uma via
de mão dupla.

Outro aspecto que gerou certa polêmica foi o artigo 86 que determina a cooperação plena do
país signatário na persecução dos crimes sob a jurisdição do TPI, entre elas, está a obrigação
prevista no artigo 89 do Estatuto de captura e entrega de indivíduos que tenham cometido
crimes de competência do TPI, não havendo aqui, reservas nem quanto aos cidadãos do país
signatário.
21

Assim, estaria o Estatuto violando o disposto no artigo 5º LI da CRF que impede a extradição
de brasileiros (salvo de naturalizados em crimes cometidos antes da naturalização, ou em caso
de comprovado envolvimento em crime de tráfico ilícito de entorpecentes)?

Também aqui a polêmica se instalou, uma vez que o Estado Signatário, compromete-se a
cooperar com o Tribunal Penal Internacional, e de tal forma que chega a entregar eventualmente
para ser processado, o próprio cidadão do país signatário, fato inimaginável sob a égide do
nacionalismo puritano. Ao que responde Japiassú (2005, p.206):

“A entrega do nacional para julgamento pelo TPI significa a entrega de nacional para
julgamento perante o Tribunal do qual o Brasil é membro, e não a Tribunal
estrangeiro. O conceito de extradição se relaciona com a entrega de um indivíduo a
outro Estado. Nesse caso refere-se a entrega a outro Órgão julgador, que, se não é
nacional, engloba a jurisdição nacional, o que afasta possíveis incompatibilidad es.”
O último e mais polêmico ponto, que diz respeito à recepção do Estatuto do TPI, refere-se ao
fato do artigo 77 prever a pena de prisão perpétua. Embora já seja esta, um abrandamento em
relação à pena de morte instituídas nos outros tribunais penais históricos, como os de Ruanda,
Ex-Iuguslávia e Nuremberg.

Ressaltando-se que esta pena não se coaduna com os ditames elementares dos Direitos
Humanos, mas representou o consenso possível entre os que com ela não concordavam e entre
os que a defendiam a pena de morte.

Sendo ainda firmado, que a sanção perpétua somente se dará em condições muito específicas
que se justificam somente em função da extrema gravidade do crime e pelas circunstâncias
pessoais do condenado, portanto, exceção e não a regra, em evidência ainda, que o artigo 80 do
Estatuto teve o cuidado de prever que a legislação interna dos Estados signatários, não precisam
adotar a referida pena.

Desta forma vê-se que, a personalidade jurídica de um lado representou indubitavelmente uma
conquista - no que diz respeito à possibilidade de efetividade dos direitos humanos violados -,
de outro, trouxe consequências ainda maiores que as previstas no ordenamento interno do país
de origem do agente violador de direitos humanos tipificados no Estatuto de Roma, como por
exemplo, no Brasil que inadmite a pena de prisão perpétua, mas não se oporá caso seja aplicada
a cidadão brasileiro, julgado e condenado pelos crimes de competência do TPI. Novamente,
algo inimaginável durante o Sistema Westfaliano.

8. A Corte Internacional de Justiça

Desde 1899, a Convenção da Haia já previa o Tribunal Permanente de Arbitragem para a


22

Resolução Pacífica de Litígios Internacionais, uma instituição internacional que, de fato, não
se constituía em um verdadeiro tribunal, mas apenas, numa secretaria, sediada naquela cidade
holandesa, e numa lista de nomes de alta qualificação para funcionarem como árbitros, uma
vez escolhidos pelas partes em um litígio.

Com o propósito de criar um verdadeiro tribunal permanente, a Sociedade das Nações, nos
termos do artigo 14 do seu Pacto, encarrega, em 1920, o seu Conselho de preparar um projeto
de Corte Permanente de Justiça Internacional para ser submetido aos Estados membros da
Sociedade.

Um comitê consultivo de juristas, de largo prestígio internacional, foi designado para preparar
o projeto de Estatuto, que entraria em vigor em 1921. Nascia, assim, o primeiro tribunal
internacional permanente, com âmbito de ação universal, com a finalidade de julgar litígios
entre Estados.

A Corte Permanente de Justiça Internacional foi instalada na cidade da Haia, Holanda, como
um organismo judicial autônomo da Sociedade das Nações. Em consequência da deflagração
da Segunda Guerra Mundial e a ocupação da Holanda pela Alemanha, a CPJI, após sua última
audiência pública realizada em 4 de dezembro de 1939, foi transferida para Genebra, em 1940.
Com sua ação inviabilizada em consequência da guerra e o mandato dos seus juízes vencidos
e prorrogados, a CPJI continuou legalmente existindo durante a guerra.
Na Conferência de Dumbarton Oaks, realizada em Washington, 1944, na discussão do projeto
de criação das Nações Unidas veio à baila a necessidade de constituição de uma corte
internacional, integrada como órgão da futura organização, e com seu Estatuto inserido na
Carta que se esboçava.
Em 1946, na Conferência de São Francisco, os Estados ali representados extiguiram a CPJI e
votaram pela criação de um novo tribunal.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) começou a funcionar, em 1946, como órgão das Nações
Unidas, nas antigas instalações da CPJI, o Palácio da Paz, na cidade da Haia, Holanda, tendo
adotado, praticamente, o Estatuto da velha Corte, agora integrado à Carta da ONU, com o
acréscimo da alínea 2ª do artigo 3º e do atual Capítulo V.
Composta por 15 juristas de reconhecido prestígio internacional, eleitos pela Assembleia
Geral e pelo Conselho de Segurança, têm como finalidade decidir, de conformidade com as
normas do Direito Internacional, as demandas jurídicas que lhes são apresentadas pelos
23

Estados.
Todos os membros das Nações Unidas são parte do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
Contudo, um Estado não Membro da ONU poderá tornar-se parte do Estatuto da CIJ,
submetida a pretensão ao exame, caso por caso, da Assembleia Geral, mediante recomendação
do Conselho de Segurança. Para além, inúmeros tratados bilaterais e multilaterais preveem
cláusulas compromissórias de submissão obrigatória à jurisdição da CIJ.
A Corte Internacional de Justiça, conforme o artigo 36 do seu Estatuto, pode conhecer de
qualquer questão que lhe for submetida pelas partes, “bem como de todos os assuntos
especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados em vigor.” A competência
da CIJ se manifesta de duas formas: contenciosa e consultiva. A competência contenciosa é
exercida segundo os procedimentos estabelecidos em seu Estatuto e respectivo Regimento, e
é restrita às questões postuladas exclusivamente pelos Estados.
Os pareceres consultivos têm sido um importante instrumento de ação no direito internacional,
uma vez que nenhuma das partes poderá de boa-fé recusar-lhes o cumprimento.

Além dos pareceres, uma importante evolução tem acontecido, é que a CIJ tem expedido
Medidas Provisórias de proteção de populações como é o caso do Templo de Vihear (Camboja
versus Tailandia).

Referências Bibliograficas:

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos humanos no


limiar do novo século e as perspectivas brasileiras. In: Temas da política externa brasileira II.
Vol. I, 2. ed., São Paulo: Paz e Terra, 1997.

CANÇADO TINDADE, Antônio Augusto. Direitos Humanos: Personalidade e Capacidade


Jurídica Internacional do Indivíduo. In: O Brasil e os novos desafios do direito internacional.
Rio de Janeiro: Forense, 2004.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. O Direito Internacional em um mundo em


transformação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos


Humanos. 2. ed., Vol. I, Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 2003.

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Tribunal Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2005.
24

MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 13. ed., Rio de
Janeiro: Renovar, 2001.

RAMOS, André de Carvalho. Direitos Humanos em Juízo. São Paulo: Max Limonad, 2001.

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