democrático de direito
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estado-democratico-de-direito
Acesso em 05 de setembro de 2019
Dessa maneira foi que a Declaração definiu, como nunca antes, os padrões
éticos e morais a serem perseguidos pelos Estados, conferindo uma gama
extensa de direitos e faculdades sem as quais um ser humano já não mais
poderia desenvolver sua personalidade intelectual, física e moral e
acarretando uma repercussão tal que “os povos passaram a ter consciência de
que o conjunto da comunidade humana se interessava pelo seu destino”
(PIOVESAN, 2004, p. 146).
Ademais, além de internacionalizar os direitos ali contidos, a Declaração
também teve a função de conjugar, harmonizar ou conciliar as gerações de
direitos civis e políticos (primeira geração de direitos) aos direitos
econômicos, sociais e culturais (segunda geração), equalizando, desta forma,
o discurso liberal e o discurso social defensores da cidadania, atando o valor
da liberdade ao da igualdade, dicotomia que até então não se cria pudesse ser
ultrapassada.
Em breves linhas, os fatos históricos dão conta de que até a subscrição desta
Declaração, tal antagonismo entre o direito à liberdade e o direito à igualdade
era reputado intransponível, porquanto, se de um lado, consagravam-se a
ótica contratualista, fundante do Estado Liberal, erigido filosoficamente pelos
ideais de Locke, Montesquieu e Rousseau e pelo qual ao Estado era vedada a
atividade excessiva, restritiva da liberdade dos cidadãos, por outro, imperiosa
era a proteção de direitos sociais, a consagrar a igualdade entre os indivíduos,
no qual o Estado passava a ser visto como “agente de processos
transformadores”, no sentido de prestador de direitos sociais (PIOVESAN,
2004, p. 147), valores tais cujos vetores claramente apontavam para sentidos
ontologicamente opostos, razão de ser da flagrante dicotomia anunciada.
Sobre esta geração de direitos, destaca Ingo Wolfgang Sarlet, que (1998,
p.50-51):
Mas, não é qualquer lei que torna democrático o Estado de Direito, e sim
normas que visem a concretização da igualdade e da justiça, “não pela sua
generalização, mas pela busca da igualização das condições dos socialmente
desiguais” (DA SILVA, 2002, p. 121).
Por isso invoca-se, não raras vezes, o Estado Social de Direito, para
ultrapassar aquele conceito clássico e liberal de Estado Democrático, como
sendo tão somente aquele no qual se respeita a legalidade das normas, para
estabelecer-se, entre a democracia e a igualdade, um nó górdio que não se
desata ou que, uma vez cortado, implica na inviabilidade de ambos os
conceitos, Estado esse no qual a concepção mais recente do Estado
Democrático de Direito reflete exatamente um processo de efetiva
incorporação de todo o povo nos mecanismos do controle das decisões, e de
sua real participação nos rendimentos da produção (DA SILVA, 2002, p.
118).
Segundo lição de Alain Touraine, sociólogo francês estudioso da área, o
conceito de democracia não se restringiria tão só à existência de poderes
separados e independentes, ou mesmo pela preexistência de normas legais a
prescrever, permitir e sancionar as condutas. Para o autor, a democracia é um
conceito muito mais amplo, que se define pela natureza dos elos entre a
sociedade civil, sociedade política e Estado (TOIRANE, 1996, p. 50). Assim,
continua o autor, caso haja vasta influência de cima para baixo, não haverá
democracia, que necessita, sim, que sejam os cidadãos os atores sociais que
orientam seus representantes.
Entende-se, pois, que a democracia, para que subsista e se realize
plenamente, impõe a efetivação dos direitos fundamentais, pré-requisitos que
são para uma sociedade justa e igualitária.
Não se adentrará, ante a falta de espaço neste trabalho, nas diferentes formas
de democracia possíveis, consoante seja o Estado liberal, Constitucionalista
ou Conflitual (como na França, por exemplo).
Mas, qualquer que seja o Estado de Direito de que se trate, todos somente
terão o distintivo da democracia, não somente pela existência de poderes
independentes, mas, isto sim, pelo grau de concretização que o Estado atribui
aos direitos fundamentais, corolários que são dos direitos humanos
universais: a democracia envolve, assim, mais do que a representatividade
dos dirigentes ocupantes dos cargos políticos, o “aumento do controle do
maior número de pessoas sobre sua própria existência” e o aumento da
capacidade de “reduzir a injustiça e a violência” (TOURAINE, 1996, p. 51-88).
3. CONCLUSÃO:
Após esse trabalho, conclusão outra não haveria como se alcançar senão a de
que a relação entre a efetividade dos direitos humanos é o ponto nevrálgico
para a realização do Estado Democrático de Direito, é dizer, sem a
concretização dos direitos humanos, positivados com fundamentalidade na
Carta Constitucional de cada Estado, a Democracia e o Direito, que compõem
essa forma de Estado, não passam de expressões vazias, e a Carta
Fundamental não é senão mera folha de papel.
Bibliografia:
ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria geral dos direitos humanos. Porto
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 12ª tiragem. Rio de Janeiro: Campus,
1992.
DA SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 21ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2002.
FONTE
Fernanda Favorito