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TODA MUDANÇA SOCIAL E ECONÔMICA CAUSA UMA

MUDANÇA NO DIREITO, E É IMPOSSÍVEL MUDAR A BASE


LEGAL DA SOCIEDADE E DA VIDA ECONÔMICA SEM
EFETUAR UMA MUDANÇA CORRESPONDENTE AO DIREITO.
(EUGEN EHRLICH)

DIREITOS HUMANOS

1. UMA EDIFICAÇÃO DE SÉCULOS

 Se pegarmos à trajetória da história do ser humano se perceberá


que os direitos humanos constituem uma preocupação de
tempos, pois Arameus, Hebreus, Babilônios, Persas, Gregos,
Romanos e muitos outros povos e culturas em todo o trajeto
histórico mostraram-se envolvidos na busca de respeito à vida e
à integridade da pessoa. Mas, é na idade moderna, com a
Revolução Francesa que se instituem as enunciações mais
específicas sobre os direitos do homem como cidadão.

 Podemos ver pelo exame histórico o quanto a nossa sociedade


foi marcada por desencontros humanos e muita violência social.

 Na verdade, ainda, vivemos nos dias atuais momentos


conturbados e marcados por desrespeitos à humanidade.

 Aí, podemos nos indagar: Até que ponto vale a pena abordar o
tema direitos humanos?
 Porém, a humanidade, sempre está em processo de
desenvolvimento, há sempre uma esperança de que possa se
alcançar dias melhores, pois o futuro guarda possibilidades
concretas de coisas que ainda não foram tentadas.

 O pensador alemão Goethe discorria no seguinte sentido: (...) se


nos dedicarmos apenas ao estudo do ser humano tal como ele é,
podemos piorá-lo; mas se, vendo os homens tais como são, nós
os estudarmos na perspectiva do que deveriam ser, poderemos
redimi-los.

2. DIREITOS DA CIDADANIA

 CIDADANIA:
 EM SENTIDO JURÍDICO: pode-se pensar em caráter
isonômico com o termo nacionalidade.
NACIONALIDADE: vínculo jurídico político que liga um indivíduo
a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um
componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado,
capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao
cumprimento de deveres impostos (Alexandre de Moraes, in Direito
Constitucional, 13ª ed., Ed. Atlas: 2003, p. 213).

 Sobre Nacionalidade: arts. 12 e 13, Constituição Federal.


 Esse vínculo jurídico político de ligação pode ser através de dois
Estados - dupla cidadania: dois Estados reconhecem e acolhem
um indivíduo como seu cidadão.

 EM SENTIDO DE URBANIDADE: uma civilidade que se opõe


a rudeza. Civilidade: formalidades observadas pelo cidadão entre
si em sinal de respeito mútuo e consideração (Dicionário
Aurélio).

 EM SENTIDO DE INCORPORAÇÃO: visão perfeita ou ideal


de participação e integração do homem em sociedade.

 EVOLUÇÃO:
 Séc. V a. C – período áureo da civilização grega – CIDADANIA
estava ligada às idéias do interesse e da participação do
indivíduo no Estado (que na época era denominado de cidade).
 Séc. IV a. C – Aristóteles na obra clássica “A Política” –
cidadania passa a ser efetivada como a participação do cidadão
no Estado, inclusive nas deliberações políticas.
 No mundo moderno – cidadania passa a ter um sentido ligado a
direitos e deveres; dada à configuração e consolidação dos
Estados começa a haver uma relação amistosa entre os
indivíduos e os poderes estatais.

 O jurista-sociólogo Liszt Vieira faz uma classificação


sobre os direitos da cidadania, conhecidos também no direito
contemporâneo por direitos fundamentais:
1º Direitos de primeira geração: que são os civis e políticos.
Como:
a) civis: o direito à liberdade, à igualdade, à propriedade, os
direitos de ir e vir e de ter a vida em segurança, etc.
b) políticos: liberdade de associação e reunião; de organização
política e sindical; de participação política e eleitoral; de
sufrágio universal etc.
2º Direitos de segunda geração: propriamente os sociais. Como: o
direito ao trabalho, à aposentadoria, ao seguro-desemprego, à
saúde, à educação; ao bem-estar social com um todo.
3º Direitos de terceira geração: que são os coletivos e
humanitários, como: direito de auto-determinação dos povos;
direito ao desenvolvimento, à paz, a um meio ambiente equilibrado
e são, etc. A estes acrescentando-se os de interesses difusos, como
o direito do consumidor, das mulheres, das crianças e adolescentes,
dos idosos, das minorias étnicas e outras minorias.
4º Direitos de quarta geração: os bioéticos. Como: o de ver
impedidas intervenções indébitas nas estruturas da vida; o direito
de se regular a criação de novas formas de vida por engenharia
genética (1998, p.22-23)

 Os direitos de primeira geração exigem o chamado Estado


mínimo.

ESTADO MÍNIMO
Concepção fundada nos pressupostos da reação conservadora que deu
origem ao neoliberalismo. A idéia de Estado Mínimo pressupõe um
deslocamento das atribuições do Estado perante a economia e a
sociedade. Preconiza-se a não-intervenção, e este afastamento em prol
da liberdade individual e da competição entre os agentes econômicos,
segundo o neoliberalismo, é o pressuposto da prosperidade
econômica. A única forma de regulação econômica, portanto, deve ser
feita pelas forças do mercado, as mais racionais e eficientes possíveis.
Ao Estado Mínimo cabe garantir a ordem, a legalidade e concentrar
seu papel executivo naqueles serviços mínimos necessários para tanto:
policiamento, forças armadas, poderes executivo, legislativo e
judiciário etc. Abrindo mão, portanto, de toda e qualquer forma de
atuação econômica direta, como é o caso das empresas estatais. A
concepção de Estado mínimo surge como reação ao padrão de
acumulação vigente durante grande parte do século XX, em que o
Estado financiava não só a acumulação do capital, mas também a
reprodução da força de trabalho, via políticas sociais. Na medida em
que este Estado deixa de financiar esta última, torna-se, ele próprio,
“máximo” para o capital. O suporte do fundo público (estatal) ao
capital não só não deixa de ser aporte necessário ao processo de
acumulação, como também ele se maximiza diante das necessidades
cada vez mais exigentes do capital financeiro internacional.

 Direitos de segunda geração exigem um Estado mais forte


e interventor para garanti-los.

 Direitos de terceira geração ou dimensão não se destinam


especificadamente à proteção dos direitos individuais, de um grupo
ou de um determinado Estado; sua preocupação é com a
desigualdade existente entre as nações.

 Direitos de quarta geração tratam de uma mera tendência


dada à globalização do Neoliberalismo, extraída da globalização
econômica e dos avanços tecnológicos. O professor Paulo
Bonavides leciona que a dimensão desses direitos consiste no
direito à democracia, direito à informação e o direito ao pluralismo.
Para o insigne professor, “os direitos fundamentais de quarta
geração compendiam o futuro da cidadania e o porvir da liberdade
de todos os povos” (in Vicente Paula, Aulas de Direito
Constitucional, 9ª ed. Revista e Atualizada, Ed. Impetus: 2007, p.
109/110).

Neoliberalismo é um termo que foi usado em duas épocas com dois


significados semelhantes, porém distintos. Na primeira metade do
século XX significou a doutrina proposta por economistas franceses,
alemães e norte-americanos voltada para a adaptação dos princípios do
liberalismo clássico às exigências de um Estado regulador e
assistencialista. A partir da década de 1970 passou a significar a
doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e
uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta
ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo
(minarquia). É nesse segundo sentido que o termo é mais usado hoje
em dia.

3) DIREITOS HUMANOS

 Na idade média – 1215 – o monarca João Sem-Terra, mediante


várias pressões circunstanciais, pactuou e promulgou sua Carta
Magna.
 A Carta Magna de João Sem-Terra é considerado um dos
documentos jurídicos mais importantes de proteção aos direitos
dos indivíduos e dos cidadãos.
 No séc. XVII, surgem novas tensões entre a Coroa Inglesa e o
seu Parlamento, representado pela sociedade; neste entrave é
alcançado o Bill of Rights (Declaração de Direitos – primeira
carta moderna de defesa dos direitos humanos), documento que
estabelece formas protetivas dos cidadãos sobre as ordens do rei
e da nobreza.
 O séc. XVIII mostra-se ainda mais fértil nas questões ligadas aos
direitos humanos, num período anterior a independência dos
Estados Unidos da América do Norte, pactua-se e publica-se o
Virginia Bill of Rights (Declaração dos Direitos de Virginía),
documento no qual se promovem contestações sobre o excesso
de poder da Coroa Inglesa no tratamento dado aos colonos
americanos.
 Nesse século, acontecem outros fatos que vão marcar os
acontecimentos voltados para a preocupação com as garantias e
direitos dos cidadãos, dentre eles a Revolução Francesa.
 Em 26 de agosto de 1789, dentro do contexto da Revolução
Francesa é publicada a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, considerada um avanço e precursora de movimentos
político-sociais dos próximos séculos.
 Após várias conturbações voltadas para a defesa dos direitos do
cidadão, surge o século XX, que herda toda a tensão em defesa
de tais direitos (individuais e sociais).
 Em 1929, em Nova Iorque (cidade), o Instituto de Direito
Internacional adota uma Declaração Internacional dos Direitos
do Homem – cujos comentários sobre o documento possuem
ênfase no período da Segunda Guerra Mundial.
 Em 1948, após acontecimentos atrozes, é proclamada pela a
ONU a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS. Os objetivos: ultrapassar a antítese entre direitos
sociais e individuais e promover a interdependência entre
coletivismo e subjetivismo no reconhecimento dos direitos
humanos.
 Desdobramentos ocorridos a partir da metade do século XX no
qual restam enfocados os direitos humanos:
1. Em termos Globais:
a. Preceitos da Carta das Nações Unidas (1945) - Em 26/06/1945,
fruto desse desenvolvimento histórico, a Carta da ONU foi
adotada pela conferência de São Francisco, entrando em vigor
em 24/10/1945, com os depósitos das ratificações da maioria dos
Estados signatários (inclusive o Brasil, em 21/09/1945), dando-
se forma, conteúdo e estrutura à ONU, cuja primeira Assembléia
Geral se reuniu em Londres, no ano seguinte, de forma a
estabelecerem-se os trabalhos preparatórios para o
funcionamento da organização e para o recebimento do acervo
de sua antecessora, a Liga das Nações, que juridicamente deixou
de existir em 31/07/1947.
b. Convenção contra o genocídio (1948) - Considera o genocídio
um crime contra o Direito Internacional, contrário ao espírito e
aos fins das Nações Unidas e que o mundo civilizado condena.
Na presente Convenção, passa-se a entender por genocídio
qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de
destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial
ou religioso.
c. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) (anexo)
d. Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951) - revêem
e codificam os acordos internacionais anteriores relativos ao
estatuto dos refugiados, assim como alarga a aplicação daqueles
instrumentos e a proteção que estes constituem para os
refugiados, por meio de novo acordo.
e. Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados (1966) – aplicação do
Estatuto a todos os refugiados compreendidos na definição dada
na Convenção, independentemente da data-limite de 1º de
janeiro de 1951.
f. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966) – tem
como objetivo garantir a todos os indivíduos que se encontrem
em seu território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os
direitos civis e políticos, sem discriminação alguma por motivo
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de
qualquer outra natureza, origem nacional ou social, situação
econômica, nascimento ou qualquer outra situação.
g. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(1966) - assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo dos
direitos econômicos, sociais e culturais.
h. Convenção sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial (1968) – O documento em seu artigo 1 o,
item 4: "Não serão consideradas discriminação racial as medidas
especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso
de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que
necessitem da proteção que possa ser necessária para
proporcionar a tais grupos e indivíduos igual gozo ou exercício
de direitos humanos e liberdades fundamentais, contando que
tais medidas não conduzam, em conseqüência, à manutenção de
direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam
após terem sido alcançados os seus objetivos.
i. Convenção sobre todas as formas de discriminação contra a
mulher (1979) - visa, por todos os meios apropriados e sem
dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação
contra a mulher.
j. Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes (1984) - Tido como um dos
principais tratados que visam à proteção dos Direitos Humanos,
data de 10 de dezembro de 1984, quando foi adotado pela
Resolução n. 39/46 da Assembléia Geral das Nações Unidas. No
Brasil, foi ratificado apenas em 28 de setembro de 1989.
k. Declaração do direito ao desenvolvimento (1986) – teve como
propósito à realização da cooperação internacional para resolver
os problemas internacionais de caráter econômico, social,
cultural ou humanitário, e para promover e encorajar o respeito
aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos,
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
l. Convenção sobre os direitos da criança (1989) – propósito
assegurar a toda criança, sem discriminação de qualquer tipo,
independentemente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou outra, origem nacional, étnica ou social, posição
econômica, impedimentos físicos, nascimento ou qualquer outra
condição da criança, de seus pais ou de seus representantes
legais.
m.Declaração e programa de ação de Viena (1993) - Segunda
conferência mundial promovida pelas Nações Unidas na década
de 90, a Conferência de Viena foi, para os direitos humanos, o
que a Rio-92 foi para o meio-ambiente.
n. Declaração de Pequim (1995) - aconteceria o maior marco
internacional para o movimento feminista: a Quarta Conferencia
Mundial da Mulher, realizada em Pequim, que recebeu ampla
atenção e divulgação da mídia. Para esta Conferencia, foram
realizadas varias reuniões preparatórias tanto a nível nacional
quanto a nível internacional. Como produto da Conferência, foi
escrita a Declaração de Pequim que estabeleceu uma Plataforma
de Ação para os paises que pretendam proporcionar uma
qualidade de vida mais equilibrada e mais justa para sua
população feminina.
2. Em termos regionais:
a. Declaração americana dos direitos e deveres do homem (1948) -
os povos americanos passam a dignificar a pessoa humana e
suas constituições nacionais reconhecem que as instituições
jurídicas e políticas, que regem a vida em sociedade, têm como
finalidade principal a proteção dos direitos essenciais do homem
e a criação de circunstâncias que lhe permitam progredir
espiritual e materialmente e alcançar a felicidade.
b. Convenção americana sobre direitos humanos – pacto de São
José de Costa Rica (1969) - Os Estados americanos signatários
da presente Convenção, se propõe a consolidar neste Continente,
dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de
liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos
direitos essenciais do homem. O pacto é ratificado pelo Brasil
em 25 de setembro de 1992.
c. Convenção interamericana para prevenir e punir a tortura (1985)
- a Convenção Americana estabelece normas sobre Direitos
Humanos, no sentido de que ninguém deve ser submetido a
torturas, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes.
d. Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher (1994) - objetivos prevenir, punir e
erradicar todas as formas de violência contra a mulher, no
âmbito da Organização dos Estados Americanos.

 Constituições que foram promulgadas a partir dos princípios da


Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU (1948):
1. Constituição portuguesa de 1976;
2. Constituição alemã, com emendas até 1983;
3. Constituição espanhola de 1978;
4. Constituição peruana de 1978, alterada em 1993;
5. Constituição da Guatemala de 1985;
6. Nova Constituição da Nicarágua de 1987;
7. Constituição do Chile de 1989;
8. Constituição da Colômbia de 1991;
9. Constituição brasileira de 1988;
10. Constituição Argentina, reformada em 1994.

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