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1º de janeiro de 1804
Cidadãos,
Não é o bastante ter expulsado de seu país os bárbaros que por gerações o
mancharam com sangue; não é o bastante ter reprimido as facções que, sucedendo-se
umas às outras, ostentaram um fantasma de liberdade que a França desvelou a seus
olhos. Torna-se necessário, por um último ato de autoridade nacional, assegurar para
sempre o império de liberdade no país que nos deu à luz. É necessário privar um
governo desumano, que até então conservou nossa mente em um estado de torpeza
dos mais humilhantes, de toda e qualquer esperança de ser capaz de nos escravizar.
Por fim, é necessário viver de forma independente, ou morrer. Independência ou
morte! Deixem que estas santas palavras sirvam para nos arregimentar; deixem que se
tornem sinais de batalha e de nossa reunião.
Ousamos ser livres; permaneçamos livres por nós mesmos, e para nós mesmos;
imitemos a criança em crescimento; sua própria força rompe as amarras que a
conduzem, que se lhe tornam inúteis e penosas ao caminhar. Que povo lutou contra
nós?; que povo colhia os frutos de nossos esforços?; e que desonroso absurdo,
conquistar para ser escravos!
Escravos – deixem para a nação francesa esse odioso epíteto. Eles conquistaram para
não mais ser livres. Sigamos outros passos; imitemos outras nações que, transmitindo
sua aspiração ao futuro e temendo deixar à posteridade um exemplo de covardia,
preferiramser exterminadas a serem removidas da lista de povos livres. Cuidemos, ao
mesmo tempo, para que um espírito de proselitismo não destrua o trabalho; deixemos
nossos vizinhos respirar em paz; deixemos que viva pacificamente sob o escudo das
leis que forjaram para si mesmos; cuidemos para não nos tornarmos agitadores
revolucionários – não nos constituirmos legisladores das Antilhas – para não
considerarmos como glória a suspensão da tranquilidade das ilhas vizinhas. Elas não
foram, como a que habitamos, banhadas pelo sangue inocente dos habitantes; elas
não têm vingança a exercer contra a autoridade que as protege. Felizes, sem nunca
terem experimentado a pestilência que nos destruiu, devem desejar o bem a nossa
posteridade.
Paz com nossos vizinhos, mas amaldiçoado seja o nome francês. Ódio eterno à França
– tais são os nossos princípios.
Nativos do Haiti, meu feliz destino me reserva ser um dia a sentinela que deve
defender o ídolo ao qual agora fazemos sacrifícios. Envelheci lutando por vocês, por
vezes praticamente só; e se tenho sido felizo bastante para lhes restituir o dever
sagrado que me foi confiado, recordem-se que cabe a vocês, no presente, protegê-lo.
Ao lutar por sua liberdade, trabalhei por minha própria felicidade: antes que seja
consolidada por leis que assegurem as liberdades individuais, seus chefes, que aqui
reuni, e eu mesmo devemos-lhes esta última prova de nossa lealdade.
Generais e outros chefes, unam-se a mim pela felicidade de nosso país: é chegado o
dia – o dia que perpetuará eternamente nossa glória e independência.
Jurem, portanto, viver livres e independentes, e preferir a morte a tudo aquilo que os
levaria a recoloca-los sob a opressão; jurem perseguir para todo o sempre os traidores
e inimigos de sua independência.
J.J Dessalines
Quartel-General, Gonaïves,