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P R E C I S O dos sucessos, que tiveraÕ lugar em PERNAMBUCO, desde a faustissima r

gloriozissima Revolução operada felismente na Praça do Recife, aos seis do c o m ute


M e z de Março, em que o generozo exforço de nossos bravos P A T R I O T A S exterminou
daquella parte do B R A Z I L o monstro infernal da tirania real.

J í E P O I S d e tanto abuzar da nossa paciência p o í hum sistema de administraçaõ c o m b i n a í o acinte p a r a sustentar


as vaidades d e h u m a Corte insolente sobre toda a sorte de oppressaõ d e nossos legítimos dereitos, restava c a i u miliar a g o r a
a nossa honra com o negro labèo de traidores aos nossos mesmos A m i g o s , Parentes, e Compatriotas uaturaes d e P o r t u g a l ;
c e r a por v.entura a derradeira peça, que faltava de se por a machina da politica do insidiozo ( i n v e r n o o . t i n c t o d e
Pernambuco.

COMEÇOU O pérfido por illaquiar a nossa singeleza, proclamando publicamente a çinco deste m e z , que era amigo sincero
dos Pernambucanos, que tinha repartido o seu coraçaõ com elles, escrevendo estes enganos com à mesma penna, c o m
qu« acabava de encher no segredo do seu gabinete listas de proscriptos, que tinha de entregar nas maôs do algoz, P am-
ieiros de todas as classes, a mocidade de mais espirito do paiz, os officiaes mais bravos das tropas pagas, em huma palavra
os filhos da Patria de maior esperança, e mais distinto merecimento pessoal.

AMANHECEO em fim o dia seis, em que as enchovias haviaõ de ser atulhadas de tantos Patriotas honrados, e suas família*
alagadas de dôr, e de lagrimas: convoca o maldito hum conselho de officiaes de guerra, todos invejosos da nossa,
c depois de terassignado com elles a atroz condeiTinacaõ da quellas innocentes victimas, despacha dali mêsmo o s q v » üu-
pareceraõ mais capazes de lhe dar execução. Huns correm aos quartéis militares, owt-os a cazas particulares; fervem
prizoens por toda a parte, e ja as cadêas começaõ de se abrir para hir engolindo hum por hum dos nossos bons
Compatriotas.

AQUI porem mostraraõ os nossos, como tinhaõ capacidade para saber conhecer, que a disobediencia tem todo o preço
dc heroísmo em certos cazos, e he quando com ella se salva a cauza da Patria. H u m bravo Capitaô deo o sinal do dever
de todos, fazendo descer aos Infernos o principal agente da injustíssima execução; correo-se as armas, e poucas horas
daquelle mesmo diaforaõ todo o tempo de começar, e acabar taõ ditoza revolução, que mais paracêo festejo de paz, que
tumulto de guerra, sinal evidente de ter sido toda obra da Providencia, e beneficio da bençaõ do todo Poderoso.

O E x General tinha-se recolhido a forteleza do B r u m , c onde suppunha achar huma praça de defeza, achou a priza5
de sua pessoa, e dos seus. Recorreo a proposiçoens pacificas, que acabaraõ n ' h u m conclusum, com que foi obrigado
a conformar-se no dia sete, pellas seis horas da manhan.

DESDE logo foi restabelecida toda a ordem publica, naõ se ouvirão mais outras rozes, que de acclamaçoens geraes
dignas do dia, em que hum immenso povo entrava na posse de seus legítimos dereitos sociaes. Foi consequência disto
naõ tét havido até agora se quer hum só distúrbio, nem motivo qualquer de queixa.
A OITO se installou o Governo Provizorio composto de cinco Patriotas, tirados das difíerentes classes; o qual Governo
tem sido sempre permanente em suas sessoens. O seu primeiro cuidado foi disabusar os nossos Compatriotas de Portugal
dos medos, e desconfianças, com que os tinhaõ inquietado os partidistas da tyrannia, recebendo a todos c o m abraços,
e osculos, segurando as suas famílias, pessoas, e propriedades de toda a sorte de injurias, fazendo-os continuar em set,
comercio', tratemos, e occupaçoens corn maior liberdade, que d'antes, proclamando em fim por hum bando os sentimentos
do Governo, e do Povo, e naõ havêr mais daqui por diante differença entre nòs de Brazileiros a Europêos, mas de verem
todos ser tidos em conta de huma sò, e única 1'amilia com igual direito a huma sò, e a mesma herança, que hè a prosperidade
geral de toda esta Província.

A NOVE, tudo se achava 110 mesmo espirito de concordia, e pacificaçaõ geral, sem o povo se resccntir de outra novi-
dade que das bondades do Governo todo applicado apromovêr a segurança interior, e exterior por medidas acertadas,
buscando esclareser a sua marcha c o m dividir as matérias de maior importancia por comitês compostos das pessoas de
maior capacidade conhecida para cada huma delias, com que tem obtido ao mêsmo tempo popularizar as suas delibe-
raçoens o mais possível.

NAQUELI.E mêsmo dia o Governo foi permanente atè a meia noite para continuar diversos despachos, que hoje appa-
receraõ sendo dos mais importantes fazer entrar os Funcionários públicos nas suas occupaçoens como d'antes, sem tirar
ninu-uem do seu officio, proscrever as formulas de tratamento atè agora uzadas, sem admitir nenhuma outra, que a de
• V O S - m e s m o c o m elle Governo, abulir certos impostos modernos de manifesta injustiça, e oppressaõ para o Povo se*'
vantagem nenhuma da Naçaõ, &c. E tal he o nosso estado politico, e civil atè hoje 10 de Março dc It; 17.

W T A A I P A T O U A *
Vivao os P A T R I O T A S , e acabe para sempre a tirania real.
PROCLAMACAO. D

H
A B I T A N T E S D E P E R N A M B U C O ! Chegando á noticia dos Governadores do Reino de Portugal e
dos Algarves o horroroso attentado commettido nesta Capitania nos dias seis, e seguintes de Março do pre-
sente anno, virão com a dor e indignação de que estão penetrados todos os bons Portuguezes , que hum
bando de facciozos, e revolucionários, comprimindo momentaneamente pela força os sentimentos de honra,
e fidelidade, de que tendes dado tão decisivas provas, apresentarão á Europa espantada o primeiro exemplo
entre os Portuguezes de deslealdade a seu natural e legitimo Soberano.
E não estão ainda saciados de sangue, e de lagrimas esses monstros que por espaço de vinte e cinco annos inunda-
rão grande parte da terra com as mais funestas calamidades, sendo talvez instrumentos com que a Justiça Divina, irrita-
da pela i mm oralidade e irreligião destes últimos tempos , quiz castigar a Europa, e dar a todo o mundo hum temeroso
exemplo da severidade com que o Braço Omnipotente confunde, e aterra os ímpios, que desprezão a sua Santa Lei ?
He possivel que o conhecimento das desgraças que produzio o furor revolucionário , em quanto a Providencia lhe
não pôz termo , não fosse bastante para vos arredar do horrível abysmo em que esses inimigos da ordem vos pertendem
precipitar ? a . .
Podem acaso esses miseráveis Sectários da mais fatal revolução , esses instrumentos vis e abjectos do mais leroz 1 y»
ranno que ella produzio, achar ainda em qualquer lugar da terra, a que houver chegado a historia deste calamitoso pe~
riodo, pessoas a quem illudão com frazes especiosas, e com princípios de que huma triste experiencia fez já conhecer a
falsidade, e as desastrosas e inevitáveis consequências ?
N ã o , Pernambucanos, vossos Irmãos os Portuguezes o não poderáõ jamais acreditar ; estando pelo contrario inti-
mamente persuadidos de que , se a violência , e artificio de huma pérhda conjuração chegarão a surprender por hum instante
a vossa lealdade , vós mesmos quebrareis bem depressa os grilhões que vos opprimem , e fareis conhecer ao mundo, que
se houve entre vós neste século de corrupção e immoralidade imitadores do infame Traidor Calabar , existem nos des-
cendentes dos Vieiras, dos Vidaes, dos Camarões, e dos Henriques Dias os mesmos sentimentos de fidelidade, e amor
ao seu Soberano , que tanto os illustrárão, e de que derão hum exemplo, que a historia tem transmittido a todos os Sé-
culos para immortal honra dos Pernambucanos , que esses indignos revolucionários pertendem agora manchar com hu-
ma indelevel nodoa.
Não era por certo o captiveiro, de que esses Heroes vos libertárão, mais horroroso do que aquelle deque agora estaes
ameaçados. Se os Hollandezes pela differença de Religião punhão em perigo a pureza, e o exercício da que felizmente
professamos ; estes revolucionários procurão destruir em toda a parte , e derribar pelas bases todas as ideias religiosas,
e moraes. E posto que, em quanto lhes convém, se vos apresentem disfarçados com a mascara da hypocrisia, affectando
respeitar huma religião de que mofão, e que desmentem nas suas proclamações, fazendo a Providencia complice do crime
mais atroz que pode commetter hum P o v o , qual he o de faltar á fidelidade devida ao seu Soberano; podeis estar certos
que se chegassem huma vez a alcançar os seus fins, rasgarião immediatamente o véo com que cobrem seus verdadeiros
projectos, e experimentarieis então a mesma intolerância de que falsamente nos accuzão , que os seus Socios praticárão
em França, e que praticará sempre esta Seita desorganisadora em toda a parte em que poder firmar a sua dominação.
Considerai que, se os Hollandezes conquistando este Paiz, procuravão despojar-vos de vossas riquezas, não são tam-
bém agora outros os fins desses homens que vos tyrannizão. Pouco importa que se gloriem do nome de Brazileiros, ou
de Portuguezes,, Desligados pela immoralidade de seus princípios de todos os vínculos Divinos, e humanos, que sujeitão
o homem aos deveres de Cidadão, e ás relações de família e de amisade , estão devorados de huma desmedida ambição
d e riqueza e p o d e r , e s t a n d o s e m p r e o r o r ^ v p t o o a. o s f r i f i n a r a e s t n s d u a s t ã o i n s a c i á v e i s , c o m o f u n e s t a s p a i x õ e s , t o d a s a s
considerações que as podem modificar no coração dos homens que conhecem, e respeitão a v i r t u d e .
Que f é , que honra, que probidade se pode esperar de gente que principia calcando aos pés, e insultando todos es-
tes sentimentos ? Que segurança pode ter contra a força do poder collocado em taes mãos o Capitalista opulento , cujas
riquezas estão desafiando todos os dias a sede ardente de ouro que os domina ?
Infelizmente as fataes Scenas da Revolução Franceza , cujos princípios elles proclamão, devem abrir os olhos a toda
a casta de Proprietários, e aos mesmos Povos , de quem aquelles revolucionários se servirão, como instrumentos , e que
conhecerão á sua custa, mas já tarde, que a lisonjeira linguagem com que illudirão até as ultimas Classes da Nação, não
era mais que hum veneno subtilmente preparado, que veio a degenerar para todos no mais tyrannico despotismo, e in-
supportavel miséria.
Se taes vem a ser indispensavelmente os effeitos, que os princípios revolucionários modernos devem produzir, e real-
mente produzirão na Europa; que incalculáveis males não ameação o Brazil no seu estado actual ? O exemplo da Ilha de
S. Domingos he tão horroroso, e está ainda tão recente, que elle só será bastante para aterrar os Proprietários deste Con-
tinente. .
Extirpai pois, Habitantes de Pernambuco , extirpai sem demora o monstro , que quer sepultar os pacíficos Po-
voadores do Brazil nos horrores, que por mercê da Providencia apenas lhes tem sido conhecidos pelos annaes da histo-
ria: Suffocai immediatamente a venenosa serpente, que vos devorará sem remedio , se lhe deres tempo para medrar , e
crescer: Restabelecei promptamente a ordem , e as Authoridades legitimas : E imitando vossos illustres Maiores, voltai
á obediencia do mais Amável Soberano, Verdadeiro Pai de Seus Povos, por quem tem feito os mais heroicos sacrifícios1,
e por quem he temido, e adorado em todas as regiões do seu dilatado Império.
Os Governadores do Reino de Portugal e dos Algarves , informados deste sacrílego attentado contra a Soberania do
nosso Augusto R e i , e Senhor, e da violência com que o chamado Governo Provisorio detem a propriedade dos Portu-
guezes , que provavelmente pertende roubar, para com ella se pôr em salvo; e persuadindo-se de que em similhante Crise
todos os Vassallos de SuaMagestade devem acudir sem demora a destruir no berço huma rebellião, que se ganhasse for-
ças faria nadar em sangue este delicioso Paiz : me ordenárão em Seu Real Nome , que em quanto se não recebem as Or-
dens do Mesmo Senhor, viesse com a força do meu Commando bloquear os Portos desta Capitania, cujo bloqueio, que
será auxiliado brevemente com maior poder, deverá durar em quanto Sua Magestade não mandar o contrario , ou em
quanto os fieis Habitantes desta Capitania não conseguirem sacudir o jugo que os opprime, restituindo nella o suave, e
legitimo Governo de Sua Magestade,
Os Pernambucanos leaes receberão da parte dos Navios de Guerra de Sua Magestade , encarregados deste serviço,
toda a ajuda, e favor de que precizarem , para o util e glorioso fim de restituir a paz , e felicidade a esta interessante
porção dos Domínios de Sua Magestade, mesmo antes que as suas immediatas Providencias aqui possão chegar»

V I V A ELKEI NOSSO SENHOR.


Dada a bordo da Fragata Pérola

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