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UNIDADE 01

INTRODUÇÃO À DISCIPLINA DIREITOS HUMANOS

INTRODUÇÃO

O clamor por dignidade e direitos do homem são, ainda, reivindicações em sociedades que
atingiram elevados níveis de desenvolvimento econômico e social. Em países dependentes do capital
internacional, como o Brasil, a luta pela efetivação desses direitos torna-se uma opção de sobrevivência,
resistência e superação das desigualdades.

Uma análise superficial das estatísticas apresentadas pela imprensa nacional, das décadas finais do
século XX, números que devem ser analisados com muito ceticismo, evidencia uma curva ascendente da
violência nas grandes cidades e regiões metropolitanas de todo o país. Violência, no seu sentido mais amplo,
como a fome, principalmente nas regiões Norte e Nordeste; a insuficiência ou inexistência de serviços públicos;
a falta de programas para a gestão da saúde pública; educação de péssima qualidade e distante de padrões
mínimos; seguridade social incapaz de atender aos segurados com dignidade; e, ainda, uma polícia violenta e
militarizada, que tem como escopo a defesa do Estado e não a do ser humano. O quadro apresentado resume,
também, exemplos de violações aos direitos classificados como do homem e evidenciam que a Administração
Pública, o Poder Judiciário, o Legislativo e a sociedade nunca se importaram com a efetivação desses direitos.
Direitos conquistados, mas nunca efetivados e que, a partir do final do século XX, passaram a ser classificados
como investimentos desnecessários e responsáveis pelo atraso econômico do país. 1

No âmbito das relações internacionais assistimos estáticos ao enfraquecimento da Organização


das Nações Unidas e o seu papel, ainda que fictício, de propor a solução pacífica aos litígios entre as nações,
através do diálogo. Em relação à mídia internacional, a propaganda ideológica tem como força motriz a defesa da
liberdade individual e da segurança, através do poder de polícia2 e do aclamado Estado Mínimo. Ideias
ultraliberais que marcaram a humanidade pela pobreza, escravidão, Imperialismo e inúmeras guerras renascem
através do discurso do pensamento unívoco e supostamente consensual.

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OLIVEIRA, Graziela. Dignidade e direitos humanos. Curitiba: Ed. UFPR, 2003, pg. 07.
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O poder de polícia pelo conceito clássico, ligado à concepção liberal do século XVII, compreendia a atividade estatal que limitava o
exercício dos direitos individuais em benefício da segurança. Pelo conceito moderno, adotado no direito brasileiro, o poder de polícia é
a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público. In: DI PIETRO,
Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 19 Edição, 2006.
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Analisando autenticamente os acontecimentos que se revelam, presentemente, para a humanidade,


observamos uma ordem econômica mundial redutora do alcance dos denominados direitos humanos. E uma
ordem social que através da força bélica impõe ao mundo a sua maneira de pensar.

Resumindo, a humanidade aguarda às reuniões do G20 e assiste a retirada dos ordenamentos


jurídicos Ocidentais, dos direitos classificados como sociais, ou direitos humanos de segunda geração, ou direitos
relacionados à igualdade material, enumerados no artigo sexto da nossa Constituição Federal (“Capítulo II”, “Dos
Direitos Sociais”, “[...] artigo 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”.3). Direitos
identificados pelos economistas como barreiras ao desenvolvimento do atual capitalismo financeiro, ou seja, para
competir com as bolsas de valores, juros altos, câmbio livre; os países dependentes do capital internacional (países
classificados como emergentes) precisam reduzir ou retirar toda a legislação que trata da proteção ao ser humano.

Segundo o modelo ultraliberal, o capitalismo é uma economia de mercado livre, na qual a


soberania do consumidor determina todas as escolhas – feitas livremente no mercado. Cada indivíduo nele atua,
decidindo, em último termo, à escala da economia como um todo, o que, como e para quem se vai produzir.

No fundo, o mito da soberania do consumidor é um reflexo do mito liberal do contrato, que reduz
toda a vida em sociedade – nomeadamente a vida econômica – às relações contratuais livremente assumidas por
indivíduos “livres”, independentes e iguais em direitos.

A soberania do consumidor é invocada também para legitimar os resultados do funcionamento das


economias de mercado livre no que tange à distribuição da riqueza e do rendimento. No entanto, a verdadeira
lógica dessa sociedade é o consumo, e não o sujeito consumidor, e para promover a venda de tudo que é produzido
inventam-se falsas necessidades. As empresas através da publicidade fabricam modas, modificam os hábitos de
consumo, praticamente à escala do planeta. O consumidor não é soberano, é na verdade, um objeto da mídia e da
cultura do consumo. A mídia o transformou num ser individualista, acrítico, dependente e responsável pelo
movimento de destruição do planeta, da vida e dos direitos do homem.

Assim, o consumismo, a aplicação cega da lógica do mercado e a livre empresa, tão caras ao
neoliberalismo, longe de conduzir ao pretenso governo democrático da economia, estão conduzindo ao confisco
do próprio direito à vida, transformando as relações humanas numa competição contra a vida.

3
Constituição da República Federativa do Brasil, Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, Subsecretaria de
Edições Técnicas, Brasília, 2005, página 20.
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