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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA

BRIGADA MILITAR

DEPARTAMENTO ADMINISTRATIVO

PAULO ROGÉRIO FARIAS MEDEIROS – Ten Cel QOEM

Direitos Humanos e Cidadania

PORTO ALEGRE

2012
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RESUMO

A temática relativa aos Direitos Humanos, mais que atual é necessária e vital à sociedade e em
especial às instituições de polícia, fruto do Estado Democrático de Direito que é uma
conquista da sociedade que se consolidou a partir de uma intensa luta em busca de democracia
e de cidadania. Esta luta não é de hoje e consolidou-se a partir de intensas negociações e
movimentos que buscaram enfraquecer o poder estatal, como um freio ao arbítrio em prol do
fortalecimento dos direitos civis. O Estado passou de um Estado Feudal para o Estado de
Direito e, para tanto, fazia-se necessário que surgisse do povo o cidadão, portador de direitos.
Foi nesta premissa que surgiram os Direitos Humanos que se firmam de forma indelével na
sociedade, como uma porta que se abre e que não se fecha. O conhecimento da história torna-
se basilar para que se compreenda a real extensão desta expressão que afirma os direitos mais
elementares do cidadão e não apenas o do “bandido”. O surgimento dos Direitos Humanos
não se dá de uma só vez, Bobbio (2004) afirmava que eles surgem paulatinamente, conforme a
sua necessidade e o momento e doutrinadores classificam este surgimento como gerações e
mais que declarar direitos, há que se protegê-los, e esta proteção se dá no ordenamento
brasileiro sob a forma de cláusulas pétreas. Novos direitos já começam a surgir e novos
surgirão, afirmava Bobbio (2004), assim verifica-se a necessidade atual de proteger as
questões relativas ao bio-direito. Nesta ótica, cabe a nós policiais militares, difundir
amplamente e firmar esta doutrina em nossos cursos e nas instruções, para que o profissional
de polícia militar se transforme num referencial da sociedade na eterna busca pelos direitos
civis.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos Humanos, Estado Democrático de Direito, cidadania.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................04
2 CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS...............................................................04
3 NOÇÕES E ORIGEM DA CIDADANIA................................................................05
3.1 Origens do termo cidadania..............................................................................06
3.2 A abordagem moderna sobre cidadania..........................................................07
3.2.1 A ideia do liberalismo........................................................................................07
4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS.........................................08
4.1 Grécia..................................................................................................................08
4.2 Roma...................................................................................................................08
4.3 O Cristianismo...................................................................................................09
4.4 A experiência inglesa........................................................................................09
4.5 A Revolução Americana....................................................................................10
4.6 A Revolução Francesa.......................................................................................11
4.7 A Idade Média.....................................................................................................12
5 DIREITOS HUMANOS EM ESPÉCIE..................................................................14
5.1 Direitos Humanos de 1ª geração..........................................................................14
5.2 Direitos Humanos de 2ª geração..........................................................................14
5.3 Direitos Humanos de 3ª geração..........................................................................14
5.4 Direitos Humanos de 4ª geração..........................................................................14
5.5 Direitos Humanos de 5ª geração..........................................................................15
6 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS............................15
7 OS DIREITOS HUMANOS E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.........16
8 CONCLUSÃO......................................................................................................17
REFERÊNCIAS..........................................................................................................19
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1 INTRODUÇÃO

A questão dos direitos humanos tem sido amplamente debatida sendo


gerados documentos a partir da Carta Magna de 1215, tida como a primeira
declaração sobre direitos humanos e que limitou o poder real obrigando o monarca a
não criar leis ou impostos sem antes consultar o Grande Conselho.
A partir da Segunda Grande Guerra Mundial e os terrores do holocausto a
questão sobre os direitos humanos se acentuou na história mundial, onde milhões de
judeus foram assassinados pelo nazismo, motivando a criação da Organização das
Nações Unidas em 1942 e o seu documento intitulado “Declaração Universal dos
Direitos Humanos”.
Embora muitos países tenham sido signatários da declaração, a exemplo do
Brasil, houve muito desrespeito, e os direitos humanos foram deixados de lado,
como se não tivessem sido declarados.
Mas estas questões não são prerrogativas do séc. XX, a história mundial
está repleta de crueldade e atentados contra os direitos humanos, em que o Estado
era o protagonista das mais tórridas cenas de violência, torturas e assassinatos,
motivando revoluções em que o povo se rebelava contra o terror e o despotismo.
Os Direitos Humanos deixam assim, uma marca indelével na história da
humanidade, onde se pretende impor um freio ao arbítrio estatal, no cometimento de
atentados contra os direitos naturais e da coletividade.
O presente trabalho visa a trazer, em linhas gerais, noções sobre os Direitos
Humanos, sem, no entanto, procurar encerrar o assunto, mas contribuir como uma
fonte de leitura.

2 CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS

Direitos Humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as


imposições a este, expressas em declarações, dispositivos legais e mecanismos
privados e públicos, destinados a fazer respeitar e concretizar as condições de vida
que possibilitem a todo ser humano manter e desenvolver suas qualidades peculiares
de inteligência, dignidade e consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades
materiais e espirituais. (ALMEIDA, 1996, p. 24).
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A Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas classifica-os como

aqueles direitos fundamentais, aos quais todo homem deve ter acesso, em
virtude puramente de sua qualidade de ser humano e que, portanto, toda
sociedade, que pretenda ser uma sociedade autenticamente humana, deve
assegurar aos seus membros. (GORCZEVSKI, 2005)

A expressão Direitos Humanos é a que tem mais se generalizado para


abranger as declarações e mecanismos de proteção do ser humano contra os abusos
do poder.

3 NOÇÕES E ORIGEM DA CIDADANIA

A palavra cidadania adquiriu na sociedade contemporânea, importância e


tornou-se abrangente, tornando-se assunto corriqueiro, assumindo variações
abstratas. No entanto, a partir do séc. XVIII, a partir da formatação do Estado
Moderno é que a cidadania envolveu a ideia dos três grupos de direitos clássicos a
saber: os direitos sociais, os civis e os políticos (Marshall, 1967).
A partir disso, ganham importância os assuntos relativos a emprego,
segurança, saneamento básico, bons salários, educação, etc. Assim, o conceito
clássico de liberdade assume outros significados, estendendo o conceito de
cidadania às questões relativas à rotina dos indivíduos (Martins, 2008).
Mas o que é cidadania?
Façamos uma primeira. O que é ser cidadão? Para muita gente, ser cidadão
confunde-se com o direito de votar. Mas quem já teve alguma experiência
política – no bairro, igreja, escola, sindicato, etc. – sabe que o ato de votar
não garante nenhuma cidadania, se não vier acompanhado de determinadas
condições de nível econômico, político, social e cultural. (COVRE, 2006, p.
8).
Ou mais ainda:
Podemos afirmar que ser cidadão significa ter direitos e deveres, ser súdito
e ser soberano. Tal situação está descrita na Carta de Direitos da
Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948, que tem suas primeiras
matrizes marcantes nas cartas de Direito dos Estados Unidos (1776) e da
Revolução Francesa (1789). Sua proposta mais funda de cidadania é a de
que todos os homens são iguais ainda que perante a lei, sem discriminação
de raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o domínio sobre o seu corpo
e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria vida,
o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer. E mais: é direito de
todos poder expressar-se livremente, militar em partidos políticos e
sindicatos, fomentar movimentos sociais, lutar por seus valores. Enfim, o
direito de ter uma vida digna de ser homem. (COVRE, 2006, p. 9).
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Dentro desta ótica proposta por Covre (2006), verifica-se que a Constituição
Federal é uma arma potentíssima nas mãos dos cidadãos, os quais devem saber
usá-la em prol de conquistar as propostas mais igualitárias. “Só existe cidadania se
houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços, da pugna para fazer
valer os direitos do cidadão.” (COVRE, 2006, p. 10)
A cidadania é algo inerente ao ser humano, sendo qualidade integrante e
irrenunciável da própria condição humana, devendo ser respeitada, promovida e
protegida. (SARLET, 2008).
Mas a noção de cidadania vem desde a sociedade grega antiga, na
democracia ateniense até chegar ao Estado de Direito firmado pela Revolução
Francesa, que obedece a uma ordem legal e não mais a determinações de ordem
divina ou mesmo pela força, onde o Estado passou de um modelo absolutista para o
modelo liberal.
A Revolução Francesa (1789), com seus ideais de liberdade, igualdade
proporcionou uma mudança na hierarquia de poder que determinava a ordem social
e implicou na queda da nobreza e ascensão da burguesia, consolidando um longo
processo que determinou a queda do poder absoluto, centralizado e autoritário e
determinou uma nova ordem com ênfase no ideário liberal. (Martins, 2008).

3.1 Origens do termo cidadania

A palavra cidadania tem origem no latim civis e remonta à antiga Grécia e


Roma. Nas Cidades-Estado da Grécia antiga (séc. IX e VII a.C.), principalmente em
Atenas, havia as noções de liberdade, participação e democracia.
Assim,
à cidade, ou pólis grega, foi atribuída a origem das concepções sobre
cidadania. A pólis era constituída por homens livres, os cidadãos, cuja vida
na coletividade encontrava-se estabelecida partir das concepções de direitos
e deveres debatidos nas assembleias públicas realizadas nas praças
(Àgora), sendo que todos os homens livres tinham direitos garantidos.
(MARTINS, 2008, p. 17).

Neste modelo nenhum cidadão ateniense (maior de 21 anos) tinha privilégios


sobre outro e a politização tinha um caráter essencial para a concepção de
cidadania. Mas este modelo não era perfeito, uma vez que nem todos os homens
eram livres, pois se excluíam as mulheres, as crianças e os escravos.
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Assim, verifica-se que “a cidadania está relacionada ao surgimento da vida na


cidade, à capacidade de os homens exercerem direitos e deveres de cidadão”.
(COVRE, 2006, p. 16).

3.2 A abordagem moderna sobre cidadania

Na sociedade feudal (séc V e XII d. C.) houve a hegemonia do poder local,


sem a ideia de Estado nacional. Com o avanço do mercantilismo, há a ascensão
social da burguesia (não integrante da nobreza) que começa a acumular riqueza.
A sociedade feudal começa a se tornar frágil e alvo fácil para invasões e decai
economicamente. Surge então o Estado, com poderes absolutos, que chegou ao seu
apogeu no séc XVII, até séc. XIX.

3.2.1 A ideia do liberalismo


Na fase inicial do Absolutismo a economia mercantilista era favorecida pelo
Estado, no entanto, na segunda fase, com a evolução do capitalismo comercial,
inicia na burguesia uma rejeição ao amplo poder de intervenção do Estado nos
negócios comerciais, assim, a burguesia em franca ascensão social, começa a
ambicionar uma economia livre. A palavra “liberdade” adquire uma conotação
econômica, ou seja, liberdade para os negócios mercantis. (Martins, 2008)
Aliado à forte pressão da burguesia sobre a economia há o desejo de
desvinculação do Estado e religião, almejando-se a sua separação e constituição do
Estado laico. Há a contraposição do poder político, centralizado e autoritário, com
origem e justificações divinas e a ideia de liberdade amplia-se na garantia de direitos
naturais, inalienáveis, que não poderiam ficar à mercê do Estado, como o direito à
vida e à propriedade.
Assim, inicia-se o Liberalismo, como um processo que limitou bastante o
espaço para os estados com poderes absolutos, estabelecendo alicerces para uma
nova organização política, de caráter liberal e econômica: o capitalismo.
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4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS:

Historicamente a humanidade punia os desvios de comportamento das


pessoas com punições severas. A lei de Taleão autorizava retribuir o mal praticado
na mesma moeda: “olho por olho, dente por dente!”. Mas esta lei não era justa, pois
se um homem matava o filho de outro, este por sua vez tinha o direito de matar o
filho daquele, e a partir desta premissa questiona-se: O que o filho do assassino tem
a ver com o crime praticado pelo seu pai? É justo sofrer com a morte por um crime
praticado pelo seu pai? Obviamente tratava-se de uma lei muito injusta.
Surgem outras formas de punir como o Código de Hamurabi, um código rígido
de normas severas com punições ainda mais severas.

4.1 Grécia

Na antiga Grécia, o pensamento grego era voltado para um humanismo


racional, com base nas ideias de Sócrates, acreditando na razão humana em que o
pensamento correto conduz à uma ação correta. (GORCZEVSKI, 2005)
Os gregos contribuíram na questão dos direitos humanos no âmbito das ideias
de liberdade política, racionalidade, moralidade universal, dignidade humana, no
entanto no que diz respeito à tortura a utilizavam largamente, bem como a
escravidão (GORCZEVSKI, 2005)
Então, “a contribuição grega para os direitos humanos foi a razão e a
liberdade política que os estóicos potenciaram, com os princípios de moral universal
e dignidade humana de Sócrates, Platão e Pitágoras, dentre outros”. (GORCZEVSKI,
2005, p. 35)

4.2 Roma

Os romanos influenciaram na legislação do mundo ocidental, com destaque


para a Lei das XII Tábuas da Roma do séc V a.C., onde a questão dos direitos
humanos passou pelas premissas do Direito Natural, embora mantivessem uma
cultura escravagista e admitiam a tortura que era institucionalizada, no entanto
avançaram em relação aos gregos quando “identificaram traços comuns a todos os
seres humanos, e entenderam os homens como iguais em sua essência – apesar de
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suas diferenças étnicas e sociais – criando a expressão Jus Naturalis – aquele


conjunto de valores que todo ser humano possui”. (GORCZEVSKI, 2005, p. 35)
No entanto, verifica-se que já na antiga Roma houve avanços em busca de
garantias de direitos individuais que tiveram que ser conquistados a duras penas e
sob pressão popular, assim, “os plebeus em sua luta de igualdade, foram obtendo
paulatinas conquistas”. (GORCZEVSKI, 2005, p.36)

Em resumo, a contribuição romana para os direitos humanos, foi a técnica


jurídica para sua proteção: o direito miscigenado com as regras estóicas dos
gregos com os enfoques pragmáticos de Cícero, Sêneca e Marco Aurélio
que, numa combinação adequada serviram de base para mais tarde, por
meio do cristianismo, transformar os conceitos. (GORCZEVSKI, 2005, p. 37)

4.3 O Cristianismo

O Cristianismo trouxe ao mundo ocidental “a ideia judia do ser humano criado


à imagem e semelhança de Deus” e vem daí, “a igualdade entre todos os homens”.
Para o Cristianismo todos os homens são iguais entre si e são destinatários da
mesma felicidade, pois são irmãos entre si, todos são filhos do mesmo Pai. Assim, o
Cristianismo difunde uma religião que tem por “princípios da dignidade intrínseca do
ser humano, da fraternidade humana e da igualdade essencial a todos por sua
origem comum”. (GORCZEVSKI, 2005, p. 37)
A partir destas ideias, o Cristianismo passa a exercer grande influência pois:
- proclama e exalta a dignidade suprema do homem como filho de Deus e
portador de valores eternos, irmão de todos sem qualquer distinção;
- pelo fortalecimento e divulgação da “lei natural” e do “direito natural” que
exigem respeito à pessoa humana, à sua dignidade e suas prerrogativas.

4.4 A experiência inglesa

No século XIII irrompe uma rebelião dos ingleses contra as arbitrariedades


dos governantes, em especial do movimento de maio de 1215 no governo do João
Sem Terra, que resultou no pacto e juramento da Carta Magna em 21 de junho,
sendo considerado por muitos como o mais remoto documento das Declarações de
Direitos. Este documento é importante não somente por ser considerado o primeiro,
mas por que limitou o poder real e exigiu o exame de um juiz para fundamentar a
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sentença para a prisão de um homem livre, a proibição de confisco de bens e


estabeleceu o princípio de previsão legal de crime. (GORCZEVSKI, 2005)
Em 1628, o Parlamento produziu a Petition of Rights, que, invocando a Magna
Carta, ratificou os direitos adquiridos com aquele documento e reforçando-os. Mais
tarde surge o Habeas Corpus, inspirado no direito romano, e no reinado de Carlos II
surge o Habeas Corpus Act, que estende o seu alcance para as prisões
determinadas pelo próprio monarca, assim estes documentos nascem para conter o
arbítrio estatal.
O Bill of Rights estabeleceu o fim da monarquia absoluta e a teoria dos
Direitos Divinos dos Reis, que foram substituídos pelo poder popular, lançando
bases para a monarquia constitucional.

Em um dos seus 13 artigos estabelecia os princípios de liberdade individual


e autorizava o porte de armas pelos cidadãos para que pudessem defender
seus direitos constitucionais. Segundo Maluf (1979), foi este sistema de
liberdade defendida pelas armas que recebeu a denominação de
liberalismo.(GORCZEVSKI, 2005, p.43)

Este documento, além de ratificar as liberdades tradicionais dos ingleses,


como a de peticionar ao monarca, eleger os seus representantes do parlamento,
proibiu a aplicação de castigos cruéis e desumanos.
Os princípios estabelecidos no Bill of Rights passaram a figurar nas
constituições dos Estados Liberais servindo de base para as ideias vitoriosas das
Revoluções Americana de 1776 e Francesa de 1789.

4.5 A Revolução Americana

Esta Revolução que levou à independência americana estabeleceu em sua


constituição que:
todos os homens são criados iguais; eles são dotados pelo Criador de certos
direitos inalienáveis; entre direitos encontram-se a vida, a liberdade e a
busca da felicidade. Os governos são estabelecidos pelos homens para
garantir estes direitos, e seus legítimos poderes derivam do consentimento
dos governados. (GORCZEVSKI, 2005, p. 46)

Comparatto estabelece que a importância histórica da Declaração de


Independência Americana reside que este documento reconhece a legitimidade da
soberania popular, a existência de direitos inerentes a todo ser humano,
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independente das diferenças de sexo, raça, cultura ou posição social.


(GORCZEVSKI, 2005)

4.6 A Revolução Francesa

Papel preponderante exerceu o Iluminismo para a eclosão do Movimento de


1789, formando opinião pública, fruto do pensamento dos intelectuais do séc. XVIII,
que contribuíram significativamente para a formação deste movimento científico e
intelectual. O Iluminismo trouxe uma enorme contribuição ao mundo moderno, pois
inviabilizou a escravidão, a servidão, os castigos corporais, bem como positivou os
direitos fundamentais, (SCHILLING, 2003), direitos estes que nortearam diversas
constituições, inclusive a brasileira. Este movimento visava trazer luz àquelas
pessoas que viviam nas trevas, pelo fanatismo e pela ignorância.
A Revolução Francesa (1789) foi um marco na história da humanidade, pois
transcendeu em importância a própria história da França. Havia um enorme
descontentamento do povo provocado pelo absolutismo dos Bourbons, pela crise
econômico-financeira provocada pelas guerras externas, pelos gastos da corte, pela
má administração pública e elevada cobrança de tributos, que geraram uma enorme
desigualdade social (GORCZEVSKI, 2005).
É esta revolta popular que marca o princípio da modernidade. É onde tudo
se inicia: a separação do Estado e da Igreja, a proclamação do Estado
secular, a participação popular na administração do Estado, a liberdade de
imprensa, a igualdade de todos ante a lei, a educação pública e gratuita, a
abolição da tortura, o início da antecipação feminina, a condenação à
escravidão, e principalmente, a ideia de igualdade, liberdade e fraternidade
proclamada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão como os
princípios que devem guiar a vida de todos os homens (GORCZEVSKI,
2005, p.48).

A Revolução Francesa ultrapassou os limites da história da França,


marcando, irreversivelmente a história do mundo, pela importância das novas
mensagens das quais foi portadora: “É a Revolução da Liberdade e da Igualdade,
fundadora do apogeu do século das Luzes, de uma nova ordem coletiva”, onde estes
ideais destroem privilégios e servidões anteriores, para nascerem direitos
fundamentais típicos do cidadão e não mais do súdito (SCHILLING, 2003, p. 47-50).
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4.7 A Idade Média

Na Idade Média as punições eram em público, em rituais sangrentos, de


ostentação. Estes rituais consistiam em não somente matar, mas utilizar-se de
tortura e morte lenta. A tortura tinha uma dupla finalidade: como técnica de
interrogatório e como extensão da pena de morte, para que durasse mais tempo
possível, para que o condenado expiasse seus pecados e a punição servisse de
exemplo. Estas mortes passaram de um mais extenso sofrimento, como as
extirpações e os empalamentos, a uma atenuação e abreviação, como a morte pela
guilhotina.
FOUCAULT (2004) afirma que “O afrouxamento da severidade penal no
decorrer dos últimos séculos é um fenômeno bem conhecido dos historiadores do
direito. Entretanto, foi visto, durante muito tempo, de forma geral, como se fosse
fenômeno quantitativo: menos sofrimento, mais suavidade, mais respeito e
“humanidade””.
A tortura visava sempre a obtenção da confissão: “a rainha das provas”, que
obtida a ferro e fogo, tornava-se a prova máxima do processo, inquestionável, e que
obtinha sempre a mesma pena: a morte cruel.
Quem determinava estas torturas, interrogatórios e execuções era sempre
uma única pessoa: o monarca, que concentrava todos os poderes. Muitas torturas
foram realizadas e aproximadamente um milhão de pessoas morreram nos porões
da “Santa Inquisição”, que se utilizou basicamente desses métodos.
Começa a surgir um movimento que visava retirar a sociedade das “trevas”,
da escuridão das execuções bárbaras: o Iluminismo. Este movimento de intelectuais
centrou sua atenção não somente no fim das torturas e execuções, mas nos ideais
de justiça, fraternidade e liberdade que fizeram mais do que isso: instigaram a
Revolução Francesa. Destacam-se Emmanuel Kant, Cesare Beccaria, Lock, entre
tantos outros.
Surgem a partir daí, textos, documentos que assumiram papéis importantes
na história da humanidade. A seguir, passaremos a relatar, resumidamente, alguns:
* O primeiro documento da história mundial sobre Direitos Humanos foi a
Magna Carta, outorgada pelo rei inglês João Sem Terra.
As declarações de direitos hoje em vigor, resultam de uma demorada
evolução, cujas bases vêm dos famosos documentos de Direito Constitucional da
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Inglaterra: a Magna Carta, a Petition of Rights, o Habeas Corpus Act, o Bill of Rights
e o Act of Sentlement.
A Magna Carta é tida como “a primeira constituição do mundo”.
 1916 – American Institute of International Law, projeta uma
declaração de direitos do homem estruturada internacionalmente, sem resultados
positivos.
 Tratado de Versalhes – (Conferência de Paris 1919), estabelece os
direitos do trabalhador, mediante “a noção de um direito comum internacional
referente às liberdades individuais”.
 1938 – Conferência Pan-Americana, Lima (Peru), prevendo as
atrocidades nazistas, com a assunção do poder por Hitler, ressaltou a necessidade
da “defesa dos direitos do homem”.
 Roosevelt (1941) – proclama as quatro liberdades: a liberdade de
expressão, que garante a democracia, a liberdade de credo; a liberdade da
necessidade e a liberdade do medo”.
• A Carta do Atlântico (1941) – subscrita pelo Presidente dos Estados
Unidos, Franklin Delano Roosevelt e pelo Primeiro Ministro da Inglaterra, Winston
Churchill, “afirmava a esperança de que a paz se estabelecesse, proporcionando a
segurança, de que todos os homens, em todos os países, pudessem viver livres do
medo e da necessidade”.
• Intensificação da política de DH, a partir do nazismo, em cujos campos
de concentração, com técnicas de extermínio, câmeras de gás, fornos crematórios,
trabalhos forçados e experiências cruéis com seres humanos, que deixaram o
mundo perplexo com as atrocidades nazistas.
• 1945 – Tribunal de Nuremberg, que reprimiu os crimes contra a
humanidade;
• 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos – Carta da ONU,
promulgada em Paris, no Palais de Chailot, sob a presidência de Eleanor Roosevelt,
ainda sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.
• 1951 – promulgação da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados.
• 1966 – Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
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5 DIREITOS HUMANOS EM ESPÉCIE

Apresentaremos uma classificação de Direitos Humanos, segundo o seu


surgimento, a saber:

5.1 Direitos Humanos de 1ª geração:


São os direitos civis e políticos, clássicos, negativos, pois exigem uma
conduta de abstenção por parte do Estado (o Estado não pode prender, processar,
tributar, etc...), os quais foram universalizados pela Revolução Francesa, em 1789;

5.2 Direitos Humanos de 2ª geração:


São os direitos econômicos, sociais e culturais, surgidos em meados do
século XIX, com a Revolução Industrial e o surgimento de grandes massas de
operários e outros trabalhadores, sob o mesmo teto fabril ou comercial, em que eram
explorados em mão-de-obra escrava, infantil e sem direitos como insalubridade,
jornada mínima de trabalho, etc.

5.3 Direitos Humanos de 3ª geração:


São os de solidariedade internacional, nos quais os beneficiários são não só
os indivíduos, mas os povos.
São os denominados direitos da fraternidade: o direito ao desenvolvimento, à
paz, o direito ao meio ambiente, de propriedade sobre o patrimônio comum da
humanidade e o direito de comunicação.

5.4 Direitos Humanos de 4ª geração:


São o direito à democracia, à informação e o direito ao pluralismo, e “deles
depende a concretização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de
máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as
relações de convivência”. Para o autor, neste fim de século, os Estados, como o
Brasil, são impelidos para a busca de uma nova utopia: “a globalização do
neoliberalismo, extraída da globalização econômica”, que produziram os direitos
humanos de quarta geração (BONAVIDES, 2006, p. 570-571).
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5.5 Direitos Humanos de 5ª geração:


Surgem os Direitos Humanos de quinta geração, que o autor giza que são
aqueles que “marcam a passagem da sociedade industrial para a sociedade virtual,
que envolvem o desenvolvimento da cibernética, das redes de computadores, do
comércio eletrônico, da inteligência artificial, da realidade virtual” (GORZEVSKI,
2005, p. 79). Tais direitos compreendem o grande desenvolvimento da cibernética da
atualidade, que determinam que se preservem direitos, exigindo uma ação efetiva e
rápida do Estado na proteção destes direitos, impedindo malefícios, uma vez que
estes avanços tecnológicos da cibernética, hodiernamente estão em uma velocidade
nunca dantes vista.
Embora novos direitos tenham surgido ao longo dos tempos, e ainda surgirão
numa análise simplista à luz de Bobbio (2004), todos estes direitos remontam à
origem, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, positivada na Revolução
Francesa, que ainda não teve o acolhimento que merece na teoria geral do direito, e

A Declaração favoreceu – assim escreve um autorizado internacionalista


num recente escrito sobre os direitos do homem – a emergência, embora
débil, tênue e obstaculizada, do indivíduo, no interior de um espaço antes
reservado exclusivamente aos Estados soberanos. Ela pôs em movimento
um processo irreversível, com o qual todos deveriam se alegrar (BOBBIO,
2004, p. 5)

Dentro desta linha de pensamento, por Bobbio (2004), constata-se que novos
direitos surgirão, fruto de uma evolução histórica da sociedade, numa luta constante
de esvaziamento de poder do homem sobre o homem, que não tem fim, pois
obedecem a um movimento dialético, de contrariedade, de negação, estabelecendo
um novo modelo.

6 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Desde a Carta das Nações Unidas, a Comissão Preparatória das Nações


Unidas, reuniu-se logo após o encerramento da Conferência de São Francisco, que
criou as Nações Unidas, o Conselho Econômico e Social em seu primeiro ato, criou
uma comissão para promoção dos Direitos Humanos, em 1946.
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Uma grande batalha política foi gerada, mas era imprescindível a cooperação
e entendimento para reunir em um único documento todas as concepções
pretendidas.
Pronunciamentos valiosos foram colhidos no ano de 1947, dentre eles
Mahatma Gandhi, líder da libertação da Índia do colonianismo britânico: “Somos
credores do direito à vida quando cumprimos o dever de cidadãos do mundo”.
Promulgada a Declaração Universal, a humanidade passou a ter em suas
mãos um documento de luta que ingressou na cabeça de todos os seres humanos
politicamente conscientes, unânimes da defesa de seus princípios, independente de
seus pontos de vista contraditórios.
SERPA (2002) informa que o mais importante documento do século foi a
Declaração Universal dos Direitos do Cidadão, aprovada pela Resolução nº 217 da
Assembléia Geral das Nações Unidas de 10 de dezembro de 1948.

7 OS DIREITOS HUMANOS E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Falar em Direitos Humanos é falar de poder, o poder por excelência, seja


social, político, ideológico, etc. Nesta concepção entram as figuras do Estado, e da
sociedade e a relação que se desencadeará entre ambos, em que Rousseau já
observava para o vício inevitável a todo o governo no sentido da usurpação da
soberania popular. (CARRION, 1997).
Neste capítulo se estudará brevemente sobre os Direitos Humanos e sua
relação com o Estado, desde o antigo ao atual Estado Democrático de Direito.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela
Assembléia Constituinte francesa, de 27 de agosto de 1789, era um documento
filosófico e jurídico, que anunciava uma sociedade ideal, onde tais direitos deveriam
ultrapassar os indivíduos do país e alcançar dimensões universais e este documento
marcante do Estado Liberal, serviu de modelo às declarações constitucionais de
direitos dos séculos XIX e XX, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem,
aprovada em 10 de dezembro de 1948, em Paris.
Pode parecer que somente na Constituição Federal de 1988 o Brasil
positivou tais Direitos Humanos, no entanto, (SILVA, 2006) pondera que as
Constituições brasileiras sempre inscreveram os direitos do homem brasileiro e
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estrangeiro residente no país e registra-se que a primeira constituição no mundo a


subjetivar e positivar os direitos do homem, foi a do Império do Brasil, de 1824.
Em especial, a Constituição Federal de 1988 foi a mais abrangente de todas,
abrindo um Título sobre os princípios fundamentais: Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, incluindo os Direitos Individuais e Coletivos (Cap. I), os Direitos
Sociais (Cap. II), os Direitos da Nacionalidade (Cap III), os Direitos Políticos (Cap IV)
e os Partidos Políticos (Cap. V). (SILVA, 2006).
O autor assevera que a democracia, como realização de valores (igualdade,
liberdade e dignidade da pessoa) de convivência humana, é conceito mais
abrangente do que o Estado de Direito, que surgiu como expressão jurídica da
democracia liberal, chegando-se ao Estado Democrático de Direito positivado no art.
1º da Constituição Federal de 1988, que reúne os princípios do Estado Democrático
de Direito.
A configuração deste Estado Democrático de Direito não significa apenas
reunir formalmente tais conceitos, mas na criação de um conceito novo. Daí a
importância de a nossa Constituição Federal abrir em seu artigo primeiro, onde tal
Estado é proclamado. (SILVA, 2006).

8 CONCLUSÃO

Encerrando o presente estudo, sem, contudo, ter a pretensão de esgotá-lo,


constata-se que os Direitos Humanos são o fruto das lutas pelos ideais de justiça,
igualdade, fraternidade, que marcaram a história da humanidade em busca não
somente destes ideais, mas de uma vida digna, em busca de paz.
Esta luta não foi em vão, e mesmo com a falta de entendimento e
compreensão sobre a verdadeira extensão desta expressão, pode-se dizer que os
Direitos Humanos vieram para ficar, pois não há como se imaginar retroceder-se
nestas conquistas, não há como se imaginar uma sociedade aberta ao futuro que
não privilegie o cidadão em detrimento do Estado.
Conceitualmente os Direitos Humanos protegem a parte hipossuficiente na
relação Estado/cidadão e reside aí a grande incompreensão, principalmente de
policiais mal informados que desejam um Estado mais forte na ação contra os
direitos do cidadão. Mas esta temática é tão abrangente, pois não há uma fórmula
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mágica, uma vez que ou se fornece maiores poderes ao Estado ou ao cidadão,


nunca aos dois no mesmo momento.
Esse é o peso da democracia, pois se torna impensável o exercício dos
direitos humanos numa sociedade não democrática, eis que são conceitos que
caminham juntos.
Novos direitos surgirão, já afirmava Bobbio (2004), e nos dias atuais as
questões referentes ao bio-direito apontam talvez como os direitos humanos de 6ª
geração, uma vez que carece que regulemos urgentemente as questões relativas à
utilização de embriões, células-tronco, eutanásia, etc, motivando com que a
sociedade debata estes temas e legisle com a urgência e clareza necessários aos
novos tempos.
Cabe a nós policiais militares a primazia no atendimento ao cidadão,
consolidando esta relação Estado-cidadão, visando a preservação e a manutenção
de uma sociedade mais igualitária, em busca de um ideal de paz no corpo social.
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REFERÊNCIAS

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Alegre: Sérgio Antônio Fabris editor, 1996;
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. São Paulo: Editora Campus/Elsevier, 2004.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 19 ed. São Paulo: Malheiros,
2006.
CARRION, Eduardo Kroeff Machado. Apontamentos de Direito Constitucional.
Livraria do Advogado editora, 1997.
COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O que é cidadania. São Paulo: editora
braziliense, 2006.
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos direitos Humanos. São
Paulo: Saraiva, 2007.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 2007.
_______. Vigiar e Punir. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
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Brasil de hoje. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2005.
MARSHALL. H.T. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar
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MARTINS, Cleber Ori Cuti. Cidadania, Ética e Política. Porto Alegre: Imprensa
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SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais
na CF 88. Porto Alegre: Biblioteca do Advogado, 2008.
SCHILLING, Voltaire. Revolução Francesa – Iluminismo, Jacobismo e
Bonapartismo. Porto Alegre: 2003.
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Fundamentais, Sérgio Antônio Fabris editor, Porto Alegre, 2002;
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 27 ed. São Paulo:
Malheiros, 2006.
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