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Sumário
INTRODUÇÃO 3
CONCLUSÃO 67
REFERENCIAS 69
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NOSSA HISTÓRIA
A NOSSA HISTÓRIA tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber
através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.
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INTRODUÇÃO
Apesar de não ser obrigatório que todos os países incluam todas as cláusulas
dos direitos humanos ao pé da letra em sua constituição, existem outros documentos
especiais que fazem que as nações justifiquem suas leis perante aos direitos naturais
do ser humano. Ou seja, se os cidadãos de um país são desrespeitados pelo seu
governo quanto aos direitos humanos, a comunidade internacional junto a ONU
deverá questionar esse questionamento podendo até chegar a tomar medidas para
ajudar as pessoas.
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A História Dos Direitos Humanos No Brasil
A história dos Direitos Humanos no Brasil está vinculada, de forma direta, com
a história das constituições brasileiras. Portanto, para discorrermos acerca de tal
assunto, abordaremos, sucintamente, a história das várias Constituições no Brasil e
a importância que as mesmas atribuíram aos direitos humanos. A primeira
Constituição brasileira – a Constituição Imperial de 1824 – provocou o repúdio de
inúmeras pessoas. Essa Constituição, outorgada após a dissolução da Constituinte,
razão de sua rejeição em massa, acarretou protestos em vários estados brasileiros,
como em Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
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de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição republicana, que tinha
como objetivo, como ensina João Baptista Herkenhoff “corporificar juridicamente o
regime republicano instituído com a Revolução que derrubou a coroa”.
Foi esta Constituição que instituiu o sufrágio direto para a eleição dos
deputados, senadores, presidente e vice-presidente da República. No entanto,
determinava também que os mendigos, os analfabetos e os religiosos não poderiam
exercer tais direitos políticos. Além disso, aboliu a exigência de renda como critério
de exercício dos direitos políticos.
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prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; o veto a pena
de caráter perpétuo; a proibição de prisão por dívidas, multas ou custas; a criação de
assistência judiciária aos necessitados; a instituição da obrigatoriedade de
comunicação imediata de qualquer prisão ou detenção ao juiz competente para que
a relaxasse, se ilegal, promovendo a responsabilidade da autoridade coatora, entre
várias outras.
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horizontes para o constitucionalismo brasileiro, como ensina Herkenhoff, para os
direitos econômicos, sociais e culturais. Teve, ainda, por preocupação, respeitar os
direitos humanos. Perdurou até a introdução do chamado Estado Novo, em 10 de
novembro de 1937, que introduziu o autoritarismo no Brasil.
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da proibição de diferença de salários por motivos de idade e de nacionalidade;
restrição da liberdade de opinião e de expressão; retrocesso na esfera dos chamados
direitos sociais, etc.
Para se ter ideia, houve até mesmo a suspensão do habeas corpus nos casos
de crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a
economia popular.
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A questão da dignidade da pessoa humana é abordada na Constituição de
1988 já em seu preâmbulo, quando anuncia a inviolabilidade à liberdade e, depois no
artigo 1º, com os fundamentos e, ainda, no inciso terceiro (a dignidade da pessoa
humana); mais adiante, no artigo 5º, quando menciona a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à segurança e à igualdade.
Mas o que representa essa dignidade? Significa que o homem não pode ser
tratado como um ser qualquer, como um animal irracional, pois tem sua
individualidade e apresenta uma essência, que é própria da pessoa humana. Cada
indivíduo é totalmente diferente do outro e o que nos identifica é essa essência de
cada um.
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Com a Constituição de 1988, houve uma espécie de “redefinição do Estado
brasileiro”, bem como de seus direitos fundamentais.
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Direitos humanos: história, fundamentos
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Apesar de muitos autores considerarem que a DUDH seja parte de uma
tradição de declarações de direitos que remonta a Declaração de Direitos de Virgínia
(1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), elas são meras
inspirações à declaração da ONU, que é bastante diferente das anteriores, apesar de
certas similaridades normativas.
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Declaração de Direitos da Virgínia
Foi dentro desse contexto que foi escrita a Declaração de Direitos de Virgínia.
Expondo de forma resumida os direitos naturais dos homens, essa declaração, escrita
pelos congressistas do estado de Virgínia, estabeleceu a proteção à vida, liberdade,
propriedade e “a procura pela felicidade” dos indivíduos como essenciais a um
governo que visa o bem comum. De certa forma, essa declaração antecipou em um
mês o conteúdo da declaração de independência nacional. Aliás, é nítido o quanto
essa declaração de direito teve por base teórica as obras dos filósofos ingleses John
Locke e Thomas Paine, este último tendo atuado diretamente no processo de
independência.
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Por sua vez, a Declaração de Independência dos EUA, escrita em grande parte
por Thomas Jefferson, expôs uma lista de 27 atos cometidos pela Inglaterra, na figura
do Rei Jorge III, que violavam os “direitos naturais” dos colonos elencados na
Declaração de Virgínia. Foram estes atos que fundamentaram por consequência a
separação política das colônias, como afirma a Declaração de Independência dos
EUA, documento inicial, “quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna
necessário a um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro [...] exige que
se declarem as causas que os levam a essa separação”.
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Tendo por exemplo os mesmos princípios norteadores da Independência dos
EUA, os franceses deram início a um longo processo revolucionário pelo qual
aspiravam derrubar a monarquia absolutista e instalar um governo baseado no
consentimento popular. Apesar de contar com as mais variadas influências filosóficas,
dentre elas dos filósofos franceses Montesquieu, Voltaire e Rousseau, a Revolução
Francesa demonstrou um uniforme desejo pelo fim dos privilégios legais da
aristocracia e do clero, e da necessidade de assentar o novo governo sob o
consentimento popular, com o fito de preservar os direitos naturais dos homens.
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da guerra da independência americana, na confecção de um rascunho que serviria
como proposta da declaração de direitos da França.
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Bonaparte e, após a queda deste, da restauração da monarquia na pessoa de Luís
XVIII, irmão do rei que foi deposto e guilhotinado durante a Revolução Francesa.
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a criação, pela via legislativa, de novos direitos na seara social, econômica e cultural,
o que consequentemente expandiu a intervenção do Estado na sociedade.
Foi nesse contexto histórico que foi fundada, em 1945, a Organização das
Nações Unidas (ONU), órgão internacional criado pelos países vencedores da 2ª
Guerra Mundial, cujas finalidades principais eram de intermediar as relações entre
nações antes e durante conflitos, fosse estes armados ou não, e buscar garantir os
direitos dos indivíduos independentes de sua nacionalidade, classe social, cor ou
gênero.
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dos problemas políticos internacionais que se avizinhavam no período brevemente
posterior, como a Guerra Fria e as independências das colônias africanas e asiáticas.
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antiguidade clássica grega, encontrando eco em escritos de Aristóteles, cuja noção
de direito natural foi resgatada e reformulada teologicamente durante a Idade Média
por Tomás de Aquino, e ganhando sua versão mais moderna (também chamada de
racional) graças às obras de filósofos do período do Iluminismo (entre os séculos XVII
e XVIII), como Hugo Grotius, John Locke e Immanuel Kant.
A teoria da lei natural nasce na Grécia Antiga, através das construções teóricas
de Platão e Aristóteles. Na Política, Aristóteles argumenta que a natureza é formada
de maneira que tudo tende a uma finalidade, e a busca por essa finalidade confere
perfeição à coisa natural. O homem deveria então se orientar de acordo com a sua
natureza, que existe no cosmos metafísico, para atingir a perfeição. Para ele, a
finalidade do homem, ao contrário dos demais seres e por ser o único dotado de
razão, é a constante perseguição pela felicidade.
Os estóicos, então, aprofundam a ideia de que o homem deve seguir uma lei
natural, a lei do cosmos, para se chegar a uma perfeição social. Na filosofia estóica,
o objetivo da vida é a busca pela felicidade, a qual só é possível de ocorrer se o
homem viver de acordo com a natureza. Viver “conforme a natureza” consistia para
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eles em “conservar a si mesmo, de ‘apropriar-se’ do próprio ser e de tudo quanto é
capaz de conservá-lo, de evitar aquilo que lhe é contrário e de ‘conciliar-se’ consigo
mesmo e com as coisas que são conformes à própria essência”. Portanto, sendo o
homem um ser racional, viver segundo a natureza é viver de forma conciliada com
sua própria racionalidade.
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Por sua vez, a escola jusnaturalista moderna/racional tem como fundamento
central o indivíduo, do qual decorre o argumento de que o ser humano, em face de
sua natureza especial, possui direitos que lhe são inerentes; os intitulados direitos
naturais. Estes direitos, afirmam os jusnaturalistas, podem ser “descobertos”
racionalmente por meio de uma análise da essência humana, de onde seriam
extraídas as normas necessárias para a preservação do homem e da sociedade. Esta
é a base da teoria do direito natural moderno.
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Observando esses critérios de distinção, é possível afirmar, portanto, que os
direitos naturais são a vida, a liberdade e a igualdade, estes quais são inerentes aos
indivíduos desde o momento de seus nascimentos, servindo assim como base para
definir uma teoria de justiça evidentemente natural, fundada no indivíduo enquanto
ser humano racional. Por sua vez, o direito positivo visaria essencialmente regular as
relações entre estes mesmos indivíduos.
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O Direito Natural pode ser concebido, in abstracto, como um conjunto de
princípios éticos e racionais que inspiram e norteiam a evolução e as
transformações do Direito, e que, sem serem redutíveis às categorias do
Direito Positivo, banham as matrizes da positividade jurídica. Tal modo de
entender o Direito Natural deve pressupor, porém, a sua compreensão como
algo de transcendental (no sentido kantiano deste termo), e não de
transcendente, em relação ao Direito Positivo: é, em suma, o conjunto das
condições lógicas e axiológicas imanentes à experiência histórica do Direito,
ou, por outras palavras, corresponde às “constantes” estimativas de cuja
validade universal o homem se apercebe na história e pela história. REALE
(2000, p. 97)
O fato de que estas normas necessárias que devem condicionar o direito são
hierarquicamente superiores às normas comuns – estas formuladas
mediante o acordo social e pelo poder político – está presente em todo o
pensamento jusnaturalista, e consiste na atribuição de uma finalidade ao
direito: a correção ética e adequação a normas que lhe são anteriores e
superiores. A função do direito natural, dessa forma, será a de determinar
quais normas podem converter-se em direito, atuando como critério de
validade para todo o direito positivo. Por outro lado, suas determinações são
fonte de direito para todas as pessoas; não podendo ser apropriadas pelo
poder político.
Essa simbiose necessária entre esses dois tipos de direitos é tão fundamental
na filosofia moderna dos direitos naturais que serve inclusive de embasamento para
o chamado “direito de rebelião”, apontado originalmente por John Locke em uma de
suas obras, como uma garantia do povo contra o governo que ultrapasse os limites
de sua atuação, qual seja a proteção aos direitos naturais dos indivíduos.
Foi justamente esse fundamento teórico jusnaturalista que serviu de base para
as declarações de direito esculpidas nos EUA e na França, no século XVIII durante
seus processos revolucionários. Enquanto no plano filosófico, a noção de direitos
naturais vinha ganhando adeptos e representantes, estas duas nações foram as
pioneiras na aplicação desta filosofia como alicerce dos seus novos governos.
Aliás, como explica Lynn Hunt, ao contrário, por exemplo, das cartas e petições
de direito que marcaram a história da Inglaterra, como foram os casos da Magna
Carta (1215), da Petição de Direitos (1628) e o Bill of Rights (1689), a Declaração da
Independência dos Estados Unidos da América e a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão (França) possuem outro caráter fundamental que as
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diferenciava das demais, qual seja a noção de passagem do poder soberano do
monarca para o povo.
Posto isto, é percebível quais as bases teóricas tanto dos direitos previstos nas
declarações de direito durante o processo de Independência dos EUA, da Revolução
Francesa e em parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.
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Há um grupo de artigos presentes na Declaração Universal dos Direitos
Humanos que são totalmente diferentes (em alguns casos até mesmo contrários
doutrinariamente) aos fundamentos tradicionais das famosas declarações de direitos
anteriores. Os artigos conhecidos como os “direitos econômicos, sociais e culturais”
da DUDH estão listados entre os números 22 e 28 do documento. Com base em uma
classificação didática, estes pertenceriam a uma segunda dimensão de direitos,
sendo que a primeira cobriria os direitos civis e políticos e a terceira os direitos ligados
ao desenvolvimento, ao meio ambiente e à paz.
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até mesmo como oposta. Afinal, na concepção de Kant, a função primordial do direito
era garantir a liberdade dos indivíduos, impondo regras que permitam a coexistência
social e a não transgressão das liberdades dos cidadãos. Por sua vez, o que esses
direitos propõem é uma atuação do Estado para além da prescrição de normas que
regulem as liberdades individuais.
Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força
comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual cada um, unindo-
se a todos, só obedeça, contudo, a si mesmo e permaneça tão livre quanto
antes. [...] Enfim, cada um, dando-se a todos, não se dá a ninguém, e, como
não existe um associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que
se lhe cede sobre si mesmo, ganha-se o equivalente de tudo o que se perde
e a força para conservar o que se tem.
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sua vida, entendida por ele como o direito a ter meios de subsistir de forma digna.
Portanto, a única forma disso ocorrer é que, estando em vigor o pacto social, os meios
físicos por onde os indivíduos retiram seus alimentos, possam ser usufruídos ou de
maneira igual pelos cidadãos ou “na medida em que todos eles têm alguma coisa e
nenhum tem demais”.
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representação no Legislativo criar leis que favorecessem as classes trabalhadoras e
os indigentes, e finalmente os revolucionários, que pretendiam tomar o poder e abolir
a estrutura econômica (capitalismo) e social (classes) vigente até então.
É importante ressaltar que há uma conexão teórica essencial entre essa visão
hegeliana do Estado e a defendida pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, em sua
famosa obra Leviatã. Para este famoso teórico contratualista, a situação dos
indivíduos no estado natural, ou seja, aquele momento idealizado pelos filósofos que
antecede a existência do Estado é de eterno conflito, bellum omnia omnes (“guerra
de todos contra todos”).
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[...] a liberdade que cada homem possui de usar o seu próprio poder, da
maneira que quiser, para a preservação da sua própria natureza, ou seja, da
sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que o seu próprio
julgamento e razão lhe indiquem como meios mais adequados a esse fim.
Por liberdade entende-se, conforme a significação própria da palavra, a
ausência de impedimentos externos, impedimentos que muitas vezes tiram
parte do poder que cada um tem de fazer o que quer, mas não podem obstar
a que use o poder que lhe resta, conforme o que o seu julgamento e razão
lhe ditarem. [...] E dado que a condição do homem (conforme foi declarado
no capítulo anterior) é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo
neste caso cada um governado pela sua própria razão, e nada havendo de
que possa lançar mão que não lhe ajude na preservação da sua vida contra
os seus inimigos, segue-se que numa tal condição todo homem tem direito a
todas as coisas, até mesmo aos corpos uns dos outros. Portanto, enquanto
perdurar este direito natural de cada homem a todas as coisas, não poderá
haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que seja) a segurança de
viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver.
Essa noção muito peculiar de Hobbes sobre direito natural (com a qual
Rousseau viria a concordar em suas obras) é flagrantemente oposta aos dos demais
filosóficos jusnaturalistas. Se para estes, apesar de certas distinções teóricas, o
indivíduo é dotado de forma inata e inalienável ao direito a vida, a liberdade e à
propriedade, pode-se considerar, portanto, que há parâmetros normativos que
definem o que é justo ou não para todos. Ainda para Hobbes o verdadeiro “direito
natural” consiste essencialmente em o indivíduo poder agir da forma que bem
entender para satisfazer suas vontades, alimentadas pelos seus sentidos e paixões
particulares. Não há assim, para ele, parâmetros de certo ou errado, justo ou injusto,
no estado de natureza.
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com costumes e valores próprios, que estariam em permanente conflito de interesses.
E a principal causa da origem dessas classes seria a existência da propriedade
privada.
Essa posição teórica, que ficou mundialmente conhecida por meio das obras
de Marx, afirma que, historicamente, uma classe social sobrevive via exploração da
mão de obra da outra classe que lhe seria antagônica, e que para isso utiliza-se do
poder do Estado para legitimar esse processo. Por conta disso, defende Marx, que
caberia historicamente à classe explorada (que no período dele seria o “proletariado”,
os trabalhadores das fábricas e indústrias) se insurgir contra esse processo, por meio
de uma revolução social que findaria com o sistema econômico em vigor (o
capitalismo) e assumiria o controle do Estado, instalando a “ditadura do proletariado”,
a qual teria por missão final acabar com as divisões de classes.
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Portanto, foram em face destas bases teóricas que essa nova classe de direitos
surgiu e desenvolveu-se. Primeiramente, no âmbito nacional, sobre a nomenclatura
de “direitos fundamentais”, e depois atingindo o caráter de “direitos humanos”, os
quais se encontram presente em nível internacional graças a Declaração Universal
dos Direitos Humanos da ONU sob a alcunha de “direitos econômicos, sociais e
culturais”.
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Apesar do senso comum acreditar que Direitos Humanos são uma espécie de
entidade que dá suporte a algumas pessoas ou mesmo uma invenção para proteger
alguns tipos de pessoas, na verdade, são muito mais do que isso. Mas para entender
melhor, precisamos fazer algumas distinções conceituais necessárias antes de nos
aprofundar no assunto.
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Em primeiro lugar, os Direitos Humanos não são uma invenção, e sim o
reconhecimento de que, apesar de todas as diferenças, existem aspectos básicos da
vida humana que devem ser respeitados e garantidos.
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alguém e condenar outros, porque característica genérica. Então, frases repetidas
pelo senso comum, como “Direitos Humanos servem para proteger bandidos”, não
estão corretas, visto que os Direitos Humanos presta-se à proteção de todos,
indistintamente.
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Os Direitos Humanos não são uma pessoa.
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Por último, os Direitos Humanos não são uma entidade, uma ONG ou uma
pessoa que se apresenta fisicamente e tem vontade própria. Portanto, a frase repetida
pelo senso comum “Mas quando morre um policial, os Direitos Humanos não vão dar
apoio à família.” está duplamente incorreta, visto que os Direitos Humanos não são
entidade ou pessoas e que eles se estendem a todos, inclusive policiais.
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Somente em 1948 foi publicada a carta oficial contendo a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, a qual asseguraria, para todos e todas, os seus direitos
básicos. A história desse documento acompanha a história do início da Organização
das Nações Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro de 1945.
O que se queria naquele ano era evitar novas tragédias, como as ocorridas
durante a Segunda Guerra Mundial — por exemplo, a chamada “solução final” do
governo nazista contra o povo judeu ou os atos anteriores ao início oficial da guerra,
como as prisões arbitrárias e o exílio de judeus, bem como a escravização de povos,
outros genocídios etc. Com o fim da Segunda Guerra, o cenário resultante continha
milhões de mortos, milhões em situação de miséria e fome, e milhares de civis que
tiveram algum direito violado por ataques, ações ou crimes de guerra.
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Hoje, 193 países são signatários da ONU. Isso significa que, entre outras
coisas, eles devem garantir em seus territórios o respeito aos direitos básicos dos
cidadãos. Não há uma maneira expressa e objetiva da organização fiscalizar e regular
o cumprimento dos Direitos Humanos, mas as legislações da maioria dos países
ocidentais democráticos, bem como seus sistemas judiciários, recorrem aos artigos
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos para formularem seus
textos legais e aplicarem as decisões e medidas jurídicas.
Além de ter redigido o documento central que trata dos Direitos Humanos no
mundo, a ONU tem a tarefa de garantir a aplicação de tais direitos. Porém, a
organização não pode atuar como uma fiscal ou central reguladora ordenando ações
dentro dos países e dos governos. O que a ONU pode fazer é, no máximo,
recomendações para que os países signatários sigam os preceitos estabelecidos no
documento.
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dentro de seus territórios, como embargos econômicos, cortes de relações
comerciais, restrições em zonas de livre comércio e restrições ou cortes de relações
exteriores.
A maioria dos países também adotou constituições e outras leis que protegem
formalmente os direitos humanos básicos. Muitas vezes, a linguagem utilizada pelos
Estados vem dos instrumentos internacionais de direitos humanos.
Tratados
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Um tratado é um acordo entre os Estados, que se comprometem com regras
específicas. Tratados internacionais têm diferentes designações, como pactos,
cartas, protocolos, convenções e acordos. Um tratado é legalmente vinculativo para
os Estados que tenham consentido em se comprometer com as disposições do
tratado – em outras palavras, que são parte do tratado.
A ratificação
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A ratificação é a expressão formal do consentimento de um Estado em se
comprometer com um tratado. Somente um Estado que tenha assinado o tratado
anteriormente – durante o período no qual o tratado esteve aberto a assinaturas –
pode ratificá-lo.
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Além disso, mesmo que um Estado não faça parte de um tratado ou não tenha
formulado reservas, o Estado pode ainda estar comprometido com as disposições do
tratado que se tornaram direito internacional consuetudinário ou constituem normas
imperativas do direito internacional, como a proibição da tortura.
Costume
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Declarações, resoluções etc. adotadas pelos órgãos
das Nações Unidas
Apesar de não ter nenhum feito legal sobre os Estados, elas representam um
consenso amplo por parte da comunidade internacional e, portanto, têm uma força
moral forte e inegável em termos na prática dos Estados, em relação a sua conduta
das relações internacionais.
45
como uma declaração de princípios amplamente aceitos pela comunidade
internacional.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, por
exemplo, recebeu o apoio dos Estados Unidos em 2010, o último dos quatro Estados-
membros da ONU que se opuseram a ela.
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Há muito o que se discutir a respeito dos Direitos Humanos no Brasil. Em
primeiro lugar: existem inúmeros desrespeitos a tal categoria de direitos em nosso
território por parte de governos, de agentes de Estado e de empresas. Em segundo
lugar: há uma relutância do senso comum em aceitar essa categoria de direitos,
percebendo-se, inclusive, que quem critica tais direitos também está assegurado por
eles. Em terceiro lugar: podemos perceber que personalidades que dedicaram as
suas vidas a lutar por tais direitos foram ameaçadas, mortas ou silenciadas.
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Artigos da Declaração Universal de Direitos Humanos
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Artigo 1
Artigo 2
Artigo 3
Artigo 4
Artigo 5
Artigo 6
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.
Artigo 7
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
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Artigo 8
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam
reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9
Artigo 10
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública
audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos
e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo 11
Artigo 12
Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu
lar ou na sua correspondência, nem à ataque à sua honra e reputação. Todo ser
humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo 13
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2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e
a esse regressar.
Artigo 14
Artigo 15
Artigo 16
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos
nubentes.
Artigo 17
Artigo 18
51
Artigo 19
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo 20
Artigo 21
1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
Artigo 22
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social,
à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a
organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 23
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito à igual remuneração
por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível
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com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de
proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para
proteção de seus interesses.
Artigo 24
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável
das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo 25
Artigo 26
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a
instrução superior, esta baseada no mérito.
Artigo 27
53
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 28
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os
direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados.
Artigo 29
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e
pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
Artigo 30
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A crescente violação dos Direitos Humanos no cenário
mundial
55
mundo. Está traduzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas e as suas
estipulações são análogas aos quatro primeiros artigos da Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
A ideia dos direitos humanos espalhou-se rapidamente pela Índia, pela Grécia
e finalmente pela Roma. Os avanços mais importantes desde então incluem:
1215: A Magna Carta — que deu novos direitos às pessoas e tornou o rei
sujeito à lei.
Martin Luther King, Jr., defensor dos direitos dos negros nos Estados Unidos
durante a década de 60, declarou: “Uma injustiça em qualquer lugar é uma
ameaça à justiça em todos os lugares.”
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O Conselho dos Direitos do Homem é o principal órgão intergovernamental do
sistema das Nações Unidas responsável pela resolução de situações de violação dos
direitos humanos. O Conselho também recebe relatórios temáticos e específicos por
país de uma série de mecanismos de peritos independentes, incluindo procedimentos
especiais, bem como do Gabinete do Alto Comissariado para os Direitos Humanos
com o objetivo de promover e proteger os direitos humanos em todo o mundo,
responder melhor às necessidades das vítimas de violações de direitos,
responsabilizar seus membros por suas ações e avançar no cumprimento de seu
objetivo de enfrentar "situações de violação de direitos humanos, incluindo violações
grosseiras e sistemáticas" em todo o mundo.
57
medidas – como checagem de centros de detenção, pronto acesso a advogados
e tribunais, e investigações independentes sobre alegações de tortura – até que
fosse completamente erradicada.
58
Na Colômbia, até agosto 2020, o ACNUDH havia documentado 97
assassinatos de defensoras e defensores dos direitos humanos, tendo verificado 45
homicídios no país.
O Departamento de Estado dos EUA estima que entre 600 a 820 mil homens,
mulheres e crianças são traficados nas fronteiras internacionais todos os anos,
metade dos quais são menores e incluindo um número recorde de mulheres e
crianças que fogem do Iraque.
59
civis e dois oficiais militares receberam sentenças de prisão indulgentes pela sua
participação na operação.
No Brasil: https://observatorio3setor.org.br/noticias/mais-de-55-mil-pessoas-
foram-resgatadas-do-trabalho-escravo-no-brasil/
60
Em Darfur a violência, as atrocidades e o sequestro são predominantes, e a
ajuda externa está praticamente cortada. Em especial as mulheres são vítimas de
ataques incessantes, com mais de 200 violações na vizinhança de um acampamento
de pessoas refugiadas num período de 5 semanas sem nenhum esforço por parte
das autoridades para castigar os autores.
61
“2. Todos têm o direito a abandonar qualquer país, incluindo o seu
próprio, e de voltar a seu país.
62
Na China os praticantes de Falun Gong foram escolhidos para tortura e outros
maus tratos enquanto estavam em detenção. Os cristãos foram perseguidos por
praticarem a sua religião fora dos canais aprovados pelo Estado.
63
Na República Democrática do Congo o governo ataca e ameaça os defensores
dos direitos humanos e restringe a liberdade de expressão e de associação. Em 2007,
disposições do ato de Imprensa de 2004 foram usadas pelo governo para censurar
os jornais e limitar a liberdade de expressão.
No México, pelo menos 19 jornalistas foram mortos durante o ano 2020. Uma
carta assinada por 650 jornalistas e intelectuais acusou o presidente de ações
prejudiciais ao direito à liberdade de expressão.
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“1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios
públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes
livremente escolhidos.
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O Alto Comissariado identificou violações como a tortura no Egito, a
intimidação da China e a detenção de advogados e ativistas sem fundamento; a
campanha da Turquia contra os críticos; um novo governo dos EUA que proibiu a
entrada de cidadãos de vários países muçulmanos com evidente intenção
discriminatória; o assassinato de mais de 7 mil pessoas nas Filipinas desde que o
Presidente Duterte tomou posse; a recusa do Burundi em cooperar com uma
comissão de inquérito nomeada pelo Conselho compatível com suas obrigações
como membros, a imposição pelo Barém de proibições de viagem àqueles que
querem participar do Conselho; o silenciamento de grupos da sociedade civil no
Azerbaijão; as várias leis para limitar o direito à liberdade de expressão na Rússia, ao
mesmo tempo em que tenta desvirtuar o conceito léxico de "defensores dos direitos
humanos".
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Ainda assim, os direitos humanos são reconhecidos pelo menos em princípio
por parte da maioria das nações e formam a essência de muitas constituições
nacionais. Entretanto, a situação atual no mundo é oposta aos muitos dos ideais
previstos na Declaração, mostrando-se para muitos uma utopia.
CONCLUSÃO
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existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. Todos
seres humanos devem ter assegurados, desde o nascimento, as condições mínimas
necessárias para se tornarem úteis à humanidade, como também devem ter a
possibilidade de receber os benefícios que a vida em sociedade pode proporcionar.
É a esse conjunto que se dá o nome de direitos humanos.
Pessoas com Valor Igual, mas Indivíduos e Culturas Diferentes, Uma pessoa
não vale mais do que a outra, uma não vale menos do que a outra e sabemos que
todas devem ter o direito de satisfazer aquelas necessidades.
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