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ESTACIO DE SÁ- SEAMA

DIREITO

PAULA STEFANNY DE SOUSA PEREIRA

DIREITOS HUMANOS: O PAPEL FUNDAMENTAL DOS


DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MACAPÁ-AP
2023
2

Direitos Humanos: O Papel Fundamental dos Direitos da Criança e do Adolescente

PAULA STEFANNY DE SOUSA PEREIRA1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo analisar a importância dos direitos
humanos para a implementação da proteção à criança e o adolescente. Entretanto, antes
de abordar a importância da implementação destes direitos citados, será feita uma
análise quanto a evolução histórica dos Direitos Humanos, com um foco especial nos
Direitos da Criança e do Adolescente. Analisaremos as origens históricas desses
direitos, considerando os marcos legais e as declarações internacionais que os
fundamentam. Para isso foi utilizada como metodologia a pesquisa bibliográfica-
documental.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Direito da Criança e do Adolescente. ECA.

SUMÁRIO: Introdução. 1. Percurso histórico dos direitos humanos. 1.1 Criança e


Adolescente: construção dos conceitos ao longo da história. 2. Principais direitos da
criança e do adolescente. 2.1 Impactos que a criança e o adolescente sofrem ao não
terem seus direitos devidamente assistidos no Brasil.

INTRODUÇÃO

Os direitos humanos são fundamentais para garantir a dignidade e o bem-estar


de todas as pessoas, independentemente de sua idade. A 2° Guerra Mundial foi um
divisor de águas na História dos direitos fundamentais do homem. A Guerra trouxe uma
nova ordem mundial, fazendo com que o mundo passasse a refletir quanto aos direitos
que deveriam ser assegurados ao homem enquanto ser social.
Nesse sentido, entre os grupos mais vulneráveis desta sociedade estão as crianças e os
adolescentes, que necessitam de proteção especial e cuidados adequados para que
possam desenvolver todo o seu potencial, cuidados que só se demonstram efetivos em
sua totalidade com a ação conjunta parental, social e estatal. Entender que a criança e o

1
Bacharelando em Direito pela Estácio de Sá Seama. E-mail: paulastfnny@gmail.com
adolescente, diferente do adulto, necessitam de uma atenção especial, demandou tempo
e muitas observações. O propósito deste artigo consiste em salientar a significância dos
direitos da criança e do adolescente no âmbito dos direitos humanos, abordando sua
importância e os desafios que lhes são inerentes. Desse modo, o presente estudo se
apresentará dividido em dois tópicos, nos quais serão abordadas as seguintes temáticas:
o percurso histórico dos direitos humanos, criança e adolescente: construção dos
conceitos ao longo da história, principias direitos da criança e adolescente, Impactos que
a criança e o adolescente sofrem ao não ter seus direitos devidamente assistidos no
Brasil.

1. O PERCURSO HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS:

Os direitos humanos são fundamentais e inerentes a todas as pessoas,


independentemente de suas raças, cores, gêneros, religiões, origem nacional, entre
outros. Nesse contexto, o doutrinador, Nestor Sampaio Penteado Filho, descreve que:
Os direitos humanos são fruto do entrelaçamento de vários veios, como os
costumes de civilizações antigas, a produção jus-filosófica e disseminação do
cristianismo. (FILHO, 2008. p. 13)2
Enquanto filosofia indagava “que é o homem?”, a religião preocupava-se em
dizer seu valor e posição numa sociedade, incumbindo-lhe a responsabilidade por aquilo
que nomeara a sua volta.
Trouxe-os ao homem para ver como os chamaria, e o homem escolheu um
nome para cada um deles. (BIBLIA SAGRADA, NVT. Genesis 2.19.) 3

Já a ciência preocupava-se em como o homem podia se desenvolver para


alcançar o máximo de conhecimento que conseguira.

A justificativa cientifica da dignidade humana sobreveio com a descoberta do


processo de evolução dos seres vivos. (COMPARATO, 2013. p. 146) 4

Com o desenvolvimento nas áreas supracitadas, criou-se um conceito quanto o


que viria a ser os Direitos Humanos. Durante a idade média e boa parte da idade
moderna praticamente não haviam direitos civis e políticos, a sociedade era dividida em
2
FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual de direitos humanos. 2°. Ed. Método, 2008. p. 13.
3
BIBLIA SAGRADA, NVT. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/nvt.
4
COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 12. ed. Saraiva, 2013. p.
146.
4

classes, o que fazia com que muitas pessoas estivessem submetidas a condições
degradantes que reforçavam a ideia de que eles não eram todos iguais. Foi somente, no
século XVIII, onde por meio da então conhecida como “Revolução Francesa”, houve
um grande avanço para os direitos humanos. Esse documento chamou atenção do
mundo porque era bem abrangente e expressava que: “os homens nascem e permanecem
livres e iguais em direitos”. Importante lembrar que, embora internacionalmente
relevante, valia somente no território francês. Assim, Comparato (2013) afirma que:

Uma declaração deve ser de todos os tempos e de todos os povos; as


circunstâncias mudam, mas ela deve ser invariável em meio às revoluções. É
preciso distinguir as leis e os direitos: as leis são análogas aos costumes,
sofrem o influxo do caráter nacional; os direitos são sempre os mesmos
(COMPARATO, 2013. p. 146).5

Apesar da concepção de que os Direitos Humanos possuem caráter universal, foi


somente no século XX que os Direito humanos ganharam relevância global, quando a
primeira e a segunda guerra mundial devastaram a Europa. Essas guerras foram
marcadas por violência e desrespeitos ao que hoje temos como direitos fundamentais.
Por conta dessas violações, após o final da Segunda Guerra, 50 países, incluindo o
Brasil, se reuniram e assinaram a Carta das Nações Unidas, fundando a Organização das
Nações Unidas (ONU). Nesse viés, o conceito moderno de Direitos Humanos tem suas
raízes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em 1948. Essa declaração estabeleceu uma série de direitos e
liberdades básicas, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade perante a lei, à
liberdade de expressão, à liberdade de religião e à educação. Dessa forma, nasce o
Sistema ONU de proteção dos Direitos Humanos, um sistema de normas internacionais
desenvolvido para ser implementado em todos os países. Os Direitos Humanos são
interdependentes e indivisíveis, ou seja, a realização de um direito muitas vezes depende
da realização de outros direitos. Além disso, os governos e as instituições têm a
responsabilidade de respeitar, proteger e cumprir esses direitos, e as violações podem
ser denunciadas e combatidas tanto em níveis nacionais quanto internacionais, por meio
de tratados, convenções e organizações dedicadas a essa causa.

Embora pareça burocrática a implementação desse Sistema a nível


internacional, ele garante que nenhum direito seja violado e, caso seja, a denúncia de tal

5
COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 12. ed. Saraiva, 2013. p.146.
violação é possível. O Sistema Internacional de Direitos Humanos atua de forma
regional, com os chamados Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos,
envolvendo países de um mesmo continente. Esse Sistema Regional cumpre o objetivo
de adequação a realidade de cada país, considerando os aspectos culturais e históricos
dos mesmos.

O Sistema que mais se aproxima da realidade brasileira é o Sistema


Interamericano. Desenvolvido pela OEA-Organização dos Estados Americanos, sua
implementação se deu a partir da Convenção Americana dos Direitos Humanos,
conhecido como a "Pacto São José da Costa Rica", este pacto internacional passou a ser
adotado em 22 de novembro de 1969 na cidade de San José, Costa Rica. Embora o
Brasil tenha se tornado seu signatário apenas em 1992, o Pacto exerceu forte influência
na elaboração da Constituição Federal de 1988, pois, foi este que se importou em
delimitar o que viria a ser a pessoa e quais direitos eram inerentes a ela. Assim, o
preâmbulo do Pacto São José da Costa Rica, declara:

Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do


fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como
fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma
proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou
6
complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos.

A Constituição Federal de 1988 é a principal fonte dos direitos humanos no


Brasil. Toda e qualquer lei que vier a ser formulada deverá assegurar a dignidade da
pessoa humana, e isso não só abrange o quesito liberdade, mas até mesmo de deveres
estatais, delimitando onde terminar o dever e onde começa o direito de cada pessoa
humana. Neste contexto, Amin (2013), descreve que:

A sociedade brasileira elegeu a dignidade da pessoa humana como um dos


principais fundamentos da nossa República, reconhecendo cada indivíduo
como centro autônomo de direitos e valores essenciais à sua realização plena
como pessoa. (AMIN et al., 2013, p. 43).7
6
Pacto São José da Costa Rica. Disponível em:
https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm.

7
AMIN, Andrea Rodrigues et al. Curso de Direito da
Criança e do Adolescente-Aspectos teóricos e
práticos 12. ed. Saraiva, 2013. pág. 43.
6

A legislação brasileira não se importou em ser apenas uma signatária das


declarações dos Direitos Humanos, como buscou sua implementação no ordenamento
jurídico por meio de sua carta magna, a constituição que tem validade em todo território
federal e não distingue nacionalidade, idade ou gênero. Com o desenvolvimento
conceitual e a implementação de direitos fundamentais de toda pessoa humana, a
elaboração dos Direitos humanos estabeleceu precedentes que possibilitaram abraçar até
mesmo aqueles que passavam despercebidos na sociedade, como os então tidos como
“mini adultos”, as crianças. Na próxima seção abordaremos de que forma se
desenvolveu a elaboração do direito da criança e do adolescente, buscando entender sua
construção histórica e princípios norteadores.

1.1 CRIANÇA E ADOLESCENTE: CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS AO


LONGO DA HISTÓRIA.

Durante a idade antiga e boa parte da idade média, as crianças foram ignoradas
no sentido da proteção especial, ficando expostas a todos os tipos de exploração. Havia
uma dificuldade de a sociedade da época enxergar as crianças como seres detentores de
proteção especial, os enxergavam como miniadultos, não oferecendo tratamento
diferenciado. A concepção social sobre a infância e adolescência sofreu mudanças, em
grande parte influenciada pelo pensamento da igreja católica que enxergava a criança
como um ser puro, um mediador entre o céu e a terra. Nesse período, nasce a ideia de
que a criança e adolescentes eram carecedores de uma proteção especial. Assim, Amin
et al. (2013), discorre que:

O Cristianismo trouxe uma grande contribuição para o início do


reconhecimento de direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade
para todos, inclusive para os menores. (AMIN et al., 2013, p. 45) 8

Apesar da visão da igreja católica acerca da criança estar se expandido, a


precariedade da vida infantil ainda era uma realidade. Durante a Revolução Industrial,
que teve início no século XVIII, as crianças e adolescentes trabalhavam até mais de 12
horas por dia e recebiam uma renda inferior à dos adultos. Vários doutrinadores,
escritores e reformadores sociais, como Charles Dickens, se manifestaram por meio de
8
AMIN, Andrea Rodrigues et al. Curso de Direito da
Criança e do Adolescente-Aspectos teóricos e
práticos 12. ed. Saraiva, 2013. pág. 45.
obras literárias quanto a exploração que as crianças sofriam na grande jornada de
trabalho. Dickens era um crítico ferrenho do trabalho infantil e usou suas obras
literárias para expor as injustiças e as dificuldades enfrentadas pelas crianças na
sociedade vitoriana. Suas histórias contribuíram para sensibilizar o público e influenciar
mudanças nas políticas sociais relacionadas ao trabalho infantil. Apesar das
manifestações contra a jornada de trabalho infantil, somente na idade contemporânea a
sociedade passou a enxergar a criança como um ser que precisa de proteção especial e
tem suas próprias necessidades. Embora este entendimento de que as crianças e
adolescentes não eram mais “mini adultos”, era necessário um documento de cunho
Internacional que garantisse os seus direitos.

A elaboração desse documento se deu graças a organização não governamental


Save the Children (1919), da Inglaterra, que tinha como objetivo ajudar os órfãos da
Primeira Guerra Mundial. Essa organização foi responsável por elaborar a declaração
dos direitos das Crianças de Genebra, que foi adotado em 1924 pela Liga das Nações,
representando o surgimento dos direitos das crianças e dos adolescentes no mundo, que
não se limitou a apenas um enfoque na defesa dos direitos, mas sim a proteção à
infância de maneira integral. Ela incorporou os princípios dos direitos da criança,
incentivou os Estados a criarem meio que efetivamente garantisse a proteção desse
grupo.

Contudo, a Liga das Nações foi extinta, e em 1939 houve o início da segunda
Guerra Mundial, que ficou marcada pela violação em massa dos direitos humanos.
Como resposta, em 1945 a comunidade internacional fundou a Organização das Nações
Unidas, e passou a promover com maior ênfase a agenda dos direitos humanos. Assim,
também foi vista como necessária a elaboração de um documento internacional
especifico para tratar sobre os direitos das crianças e adolescentes. Foi então que em
1959, mediante a Declaração Universal dos Direitos da Criança, adotada pela ONU que
houve o reconhecimento de que a criança e adolescente eram autênticos sujeitos
detentores de direitos e não apenas mais apenas seres carecedores de proteção. Nesse
sentido, Amin (2013), discorre que:

(...)foi a Declaração Universal dos Direitos da Criança, adotada pela ONU


em 1959, o grande marco no reconhecimento de crianças como sujeitos de
direitos, carecedores de proteção e cuidados especiais. O documento
estabeleceu, dentre outros princípios: proteção especial para o
8

desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual; educação gratuita e


compulsória; prioridade em proteção e socorro; proteção contra negligência,
crueldade e exploração; proteção contra atos de discriminação. (AMIN, 2013.
p. 53)9

A Convenção do sobre os Direitos da Criança, foi o instrumento de direitos


humanos mais aceito em todo o mundo conforme informa a UNICEF:

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia Geral


da ONU em 20 de novembro de 1989. Entrou em vigor em 2 de setembro de
1990. É o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal.
Foi ratificado por 196 países.10

Entendendo os avanços sociais, a ONU estabeleceu um grupo de trabalho com a


finalidade de elaborar um novo tratado internacional, o resultado desse trabalho foi a
elaboração da Convenção sobre os Direitos das Crianças, aprovada pela ONU em 1989,
esse tratado marca um momento importante, pois, teve o maior número de ratificações e
adesões mais rápida da história, visava proteger todas as crianças do planeta e não
apenas grupos determinados. Essa convenção foi responsável por adotar a doutrina da
proteção integral fundada em três pilares, sendo estes: Prioridade Absoluta, Respeito a
Dignidade e Integralidade e Interesse Superior. Esses pilares tornaram-se fundamentais
para garantir que os direitos das crianças e dos adolescentes sejam respeitados e que eles
tenham a oportunidade de se desenvolver em um ambiente seguro, saudável e propício a
sua plena capacidade.

De acordo com a Constituição Federal em seu art. 227, a integralidade dos


direitos para crianças e adolescentes são as seguintes:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e


ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,

9
AMIN, Andrea Rodrigues et al. Curso de Direito da
Criança e do Adolescente-Aspectos teóricos e
práticos 12. ed. Saraiva, 2013. p. 53

10
Convenção sobre os Direitos das crianças https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-
da-criança.
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.11

Aprovado pelo Congresso Nacional, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de


autoria do Congresso Nacional, foi oficialmente instituído em 13 de julho de 1990,
durante o governo de Fernando Collor. O ECA é uma legislação fundamental que
estabelece os direitos e garantias das crianças e dos adolescentes no país, além de criar
diretrizes para a proteção, promoção e defesa desses direitos. A entrada em vigor do
ECA representou um avanço significativo na legislação brasileira em relação aos
direitos da infância e da adolescência.

Foi somente por meio da elaboração da lei 8.069/90, proteção integral à criança e ao
adolescente, que houve um conceito quanto quem viria a ser a criança e o adolescente.
No sentido legislativo ou jurídico, ser criança ou adolescente está relacionado com a
idade da pessoa, no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera
como criança a pessoa que tem até 12 (doze) anos incompleto, sendo adolescente aquele
que tem entre 12 e 18 anos de idade, conforme menciona artigo do Estatuto da Criança e
do adolescente (ECA):

Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Art. 2º Considera-se criança, para os


efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre doze e dezoito anos de idade.12

Apesar da presença de mecanismos de proteção dos direitos da criança e do adolescente


no Brasil, o país continua a se deparar com obstáculos persistentes na efetivação desses
direitos. Desafios como a violência, a desigualdade e a discriminação ainda persistem
como questões críticas a serem enfrentadas. Nesse contexto, uma análise de seus
direitos fundamentais e das consequências negativas que podem surgir quando esses
direitos não são devidamente assegurados no território brasileiro.

11
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.ht. Acesso em: 13 out 2023.

12
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 jul. 1991. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
10

2. PRINCIPAIS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

Dividido em dois livros, o ECA abrange um total de 267 artigos. No primeiro


livro, discute questões gerais relacionadas à interpretação da lei e ao alcance dos direitos
nela listados. Este livro destaca os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição
Federal. No segundo livro do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são
estabelecidas as diretrizes que governam a abordagem de situações que envolvem a
violação ou ameaça dos direitos das crianças e dos adolescentes, abrangendo políticas
de atendimento, medidas de proteção e medidas socioeducativas, bem como o acesso à
justiça e as infrações criminais e administrativas. O Estatuto tem como enfoque a
legislação que visa à proteção dos direitos fundamentais das pessoas em
desenvolvimento, estabelece diretrizes para órgãos e procedimentos de proteção,
abordando aspectos relacionados a procedimentos de adoção, a aplicação de medidas
socioeducativas, as atribuições do Conselho Tutelar e a repressão de crimes cometidos
contra crianças e adolescentes.

Por meio de seus dispositivos, o ECA protege e promove o bem-estar e


desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, esses direitos não apenas protegem os
indivíduos mais jovens contra abusos e negligência, mas também capacitam esses
jovens a crescerem como cidadãos ativos, informados e conscientes de seus deveres e
responsabilidades em uma sociedade democrática. Alguns dos principais direitos
discutidos pelo ECA incluem:

1. Direito à vida e à saúde: O ECA assegura o direito à vida, à saúde e à integridade


física das crianças e dos adolescentes, incluindo acesso a serviços de saúde adequados,
vacinação e atendimento médico, enfatizando a importância da vida e da saúde das
crianças e dos adolescentes como prioridade absoluta, exigindo ações e políticas
específicas para garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade e proteger esses
grupos contra ameaças à sua saúde e bem-estar.

2. Direito à educação: o ECA prioriza o direito à educação como sendo fundamental


para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. Além da garantia ao acesso à
escola, o ECA promove a qualidade do ensino, a inclusão de grupos vulneráveis e a
erradicação do trabalho infantil, buscando criar condições para que todas as crianças e
adolescentes possam se desenvolver em integralidade.
3. Direito à convivência familiar: Como parte integrante do sistema de proteção integral
da criança e do adolescente, a convivência familiar tem significante importância no
desenvolvimento destes, capacitando-os para a vida social e contribuindo para a
construção do seu caráter. Uma vida familiar estável e saudável tem se mostrado eficaz
para o desenvolvimento dos menores. Desta forma, o ECA protege o direito das
crianças e adolescentes de habitar num ambiente familiar saudável e seguro, procurando
evitar ao máximo a separação familiar.

4. Direito à alimentação: O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reconhece e


assegura o direito à alimentação adequada e à nutrição para crianças e adolescentes. Isso
implica garantir o acesso a uma alimentação saudável, apoiando a criação e a
implementação de programas de alimentação, especialmente destinados às crianças e
adolescentes que vivem em situações de carência econômica. O estatuto estabelece as
responsabilidades do Estado e da sociedade na promoção e garantia desse direito
fundamental, garantindo que seja respeitado e promovido de forma efetiva.

5. Direito à proteção contra a violência e o abuso: O ECA proíbe em seu art. 5º qualquer
forma de violência, abuso, exploração ou negligência contra crianças e adolescentes, e
estabelece medidas de proteção e responsabilização para os agressores.13

6. Direito à liberdade, respeito e dignidade: Após o entendimento consolidado de que a


Crianças e adolescentes são seres detentores de direitos e não apenas de proteção, o
ECA estabelece que as crianças e adolescentes possuem o direito de serem tratados com
respeito à sua dignidade e individualidade, incluindo o direito à liberdade, à opinião e à
participação nas decisões que os afetam.

7. Direito à cultura, lazer e esporte: O ECA reconhece o direito das crianças e dos
adolescentes ao acesso à cultura, ao lazer e ao esporte, garantindo oportunidades para o
seu desenvolvimento físico e intelectual, não apenas com o objetivo de integralização
social, mas também de auxilio no desenvolvimento, pois, por meio da cultura e lazer a

13
6ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude- Crianças e Adolescentes: Direitos, Garantias e
Violações. Disponível em: https://www.cremeb.org.br/wp-content/uploads/2016/12/01-Panorama-da-
Violencia-Dr.-Carlos-Martheo.pdf. Acesso em: 13 out. 2023.
12

criança e o adolescente consegue se conectar diferentes perspectivas e experiências,


enriquecendo sua visão de mundo e seu entendimento sobre a sociedade14.

8. Direito à participação: O estatuto incentiva a participação ativa das crianças e dos


adolescentes na vida familiar, escolar e comunitária, de acordo com sua idade e
maturidade, visando garantir que as opiniões e necessidades das crianças e adolescentes
sejam consideradas para que se tornem cidadãos ativos, fortalecendo a democracia.

9. Direito à profissionalização e proteção no trabalho: Visando a capacitação e até


mesmo uma renda extra para os adolescentes, o ECA estabelece regras específicas para
o trabalho, garantindo a profissionalização adequada e a proteção contra a exploração
no emprego de acordo com as necessidades e capacidade do adolescente.

10. Direito à justiça: O estatuto estabelece procedimentos específicos para questões


judiciais envolvendo crianças e adolescentes, considerando a necessidade de cada
menor e a realidade na qual vive, adotando-se a jurisprudência que melhor se aplica
para a garantia do direito do menor.

2.1 IMPACTOS QUE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE SOFREM AO NÃO


TEREM SEUS DIREITOS DEVIDAMENTE ASSISTIDOS NO BRASIL.

Com o entendimento proposto pela Constituição Federal em seu art. 227, de que
a criança e o adolescente são de absoluta prioridade, é de comum entendimento que o
dever de proteger e resguarda a criança não é uma função exclusiva do estado, mas
também da família e da sociedade. Para que as ações socioeducativas tenham eficácia, é
fundamental que o governo promova uma organização interna que permita a
implementação consciente e deliberada dessas medidas. Isso envolve a criação de
estratégias que garantam a efetividade das intervenções socioeducativas. O ECA, por
sua vez, é dependente de denominados programas e serviços desenvolvidos e
implementados pelo Estado. Embora haja uma iniciativa estatal para assegurar esses
direitos aos infantes, as principias dificuldades enfrentadas pela população infantil
dizem respeito à falta de estruturas e recursos para o seu atendimento e amparo, assim
14
A cultura e a arte podem transformar a nossa sociedade. Disponível:
https://www.externatosaofrancisco.com.br/single-post/a-cultura-e-a-arte-podem-transformar-a-nossa-
sociedade?gclid=Cj0KCQiAuqKqBhDxARIsAFZELmKL9MEcX1EgdYG1RULf
n8V09DPXminirs2hXJn4MJGCL41jna21CMaAk3DEALw_wcB. Acesso em: 06 nov. 2023
como a sua exploração e abuso enquanto indivíduos vulneráveis. De acordo com o site
da ONU o Relatório do Status Global sobre Prevenção da Violência contra Crianças
2020, afirma que:

O Relatório do Status Global sobre Prevenção da Violência contra Crianças


2020, o primeiro do tipo, mapeia progresso em 155 países, mas “(...) revela
que quase a metade de todas as crianças no mundo sofrem violência física,
sexual e psicológica regularmente.15

Quando olhamos para o cenário nacional a situação não é a ideal. Conforme os dados da
pesquisa Pobreza na Infância e na Adolescência elaborada em 2018 divulgados pela
UNICEF, quase 40% das crianças de até 5 (cinco) anos tiveram algum dos seus direitos
básicos violados no Brasil. Sendo que no caso dos adolescentes entre 14 e 16 anos, o
percentual chega a quase 60%.

Pobreza na Infância e na Adolescência", 61% das meninas e dos meninos


brasileiros vivem na pobreza – sendo monetariamente pobres e/ou estando
privados de um ou mais direitos. 16

A não assistência na primeira infância possui impacto direto nos índices de pobreza
extrema, criminalidade e baixa taxa de escolaridade, impacto este que gera um chamado
efeito dominó na sociedade, que uma hora ou outra terá de lidar com este jovem
desassistido e um possível criminoso.

CONCLUSÃO

O reconhecimento dos direitos das crianças e dos adolescentes, sob forte influência da
elaboração dos Direitos Humanos, representou um enorme avanço na proteção desse
grupo vulnerável e na defesa das garantias fundamentais para o seu desenvolvimento
completo.

15
Relatório do Status Global sobre prevenção da Violência contra Crianças de 2020. Disponível:
https://news.un.org/pt/story/2020/06/1717372#:~:text=O%20Relat%C3%B3rio%20do%20Status
%20Global,f%C3%ADsica%2C%20sexual%20e%20psicol%C3%B3gica%20regularmente. Acesso 02
out. 2023

16
UNICEF-Pobreza na Infância e na Adolescência elaborada 2018. Disponível:
https://www.unicef.org/brazil/relatorios/pobreza-na-infancia-e-na-adolescencia. Acesso 07 out. 2023.
14

A cidadania, nesse contexto, não deve ser compreendida apenas no âmbito legal; ela
requer um comprometimento constante com a ação prática e resultados concretos para
garantir efetivamente os direitos. Contudo, a solução de problemas como a violência, a
exploração e o abuso infantil passam não só pelo fortalecimento desses direitos, como
pelo reconhecimento e o engajamento social de medidas que contribuam para a
prosperidade desse grupo. O desenvolvimento da dignidade humana requer um
exercício da cidadania, que não se trata apenas de cumprir leis, que frequentemente,
quando não são ignoradas, são implementadas de maneira paliativa por meio de
políticas públicas que conferem uma dignidade humana apenas formal. Sua mera
menção, que embora presente nos discursos, negligência sua prática. A cidadania
necessita de um exercício constante onde a prática e o resultando precisam ser
observados a fim de que assegurem efetivamente os direitos propostos para a
integralidade do desenvolvimento social. Compreender que a criança e o adolescente
são seres detentores de proteção e direitos levou mais tempo do que devia, e é possível
ver o impacto que esse atraso traz para o mundo. A não observância desses direitos que,
há tanto demandaram atenção e análise, demonstra não apenas um desrespeito com as
normas, mas também, um regresso social.

REFERÊNCIAS

AMIN, A. et al. Curso de Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos teóricos e


práticos. 12 ed. Editora Saraiva, 2013.

BIBLIA SAGRADA, NVT. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/nvt.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 22 set. 2023.

COMPARATO, F. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 12. ed. Saraiva,


2013.

Convenção sobre os Direitos das crianças. Disponível em:


https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-criança. Acesso em: 03.
out. 2023.

FILHO, N. Manual de direitos humanos. 2. ed. Método 2008.


__________Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 jul.
1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso
em: 13 out. 2023.

MARTHEO, C. Crianças e Adolescentes: Direitos, Garantias e Violações.


Disponível em: https://www.cremeb.org.br/wp-content/uploads/2016/12/01-Panorama-
da-Violencia-Dr.-Carlos-Martheo.pdf. Acesso em: 13 out. 2023

Pacto São José da Costa Rica. Disponível em:


https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/
sanjose.htm.Acesso em: 17 set 2023

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