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DIREITOS

HUMANOS
Professor Fábio Ramos Barbosa

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1. CONSTITUIÇÃO E O DIREITO INTERNACIONAL DOS
DIREITOS HUMANOS

• INTRODUÇÃO: O que são os Direitos Humanos?


• CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA: Destaque para a Dignidade da Pessoa
Humana
• A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E OS DIREITOS DOS DIREITOS
HUMANOS

1.1. O QUE SÃO OS DIREITOS HUMANOS


Direitos Humanos têm a sua própria HISTÓRIA: Marcam a um processo
não linear com avanços e recuos. Cidadania é um construído, não um
dado. Olhando a DUDH/48 em seus 30 artigos percebe-se que há novas
pautas que emergiram nas últimas décadas, como os direitos dos
transexuais, o direito ao desenvolvimento sustentável, o direito ao acesso
à tecnologia, o direito a água potável, nenhum deles antes explicitados.

Direitos Humanos materializam e abrem espaços de luta pela dignidade humana


a partir de:
• processos normativos, jurídicos, sociais, políticos, culturais;
• processos de ações e lutas emancipatórias que visam a proteção à
dignidade e a prevenção ao sofrimento humano;
• os direitos humanos celebram o idioma da alteridade: ver no outro um
igual em consideração e respeito.

Estudar Direitos Humanos é estudar os conteúdos das declarações e tratados


internacionais sobre o tema. Esse tema é essencial para a compreensão do

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Estado Democrático, sempre relacionado ao limite da intervenção estatal na
esfera individual bem como, após os movimentos socialistas e o
Constitucionalismo Social, à satisfação das demandas coletivas, como agente
encarregado de realizar o valor da solidariedade social.

Trata-se de ramo do Direito Internacional Público visando a proteção da espécie


humana, bem como aquilo que o cerca, tendo como base o Direito Natural,
levando sempre em conta da Dignidade da Pessoa Humana.

1.2. CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DE DIREITOS HUMANOS


▪ Principal herança da DUDH/48 – vértice ético e fundamento na dignidade
da pessoa humanas.
▪ Apreciar a DUDH a partir do seu texto e do seu contexto.

Precedentes:
• Declarações Liberais – visão liberal de cidadania com foco na liberdade,
propriedade, segurança e resistência à opressão.
o Declaração de direitos do bom povo da Virgínia – 1776
o Declaração de direitos do homem e do cidadão – 1789
• Declaração dos direitos do povo trabalhador e explorado – 1918 – com
foco na Justiça Social e no combate à opressão e exploração econômica
e no fim da propriedade privada dos meios de produção.

A partir dessa herança a DUDH nasce como uma reação à barbárie totalitária,
sendo necessário se dividir o Direito Internacional dos Direitos Humanos em 2
eixos:
• 2ª Guerra – simbolizando a ruptura com os Direitos Humanos
• Pós-Guerra – simbolizando a esperança emancipatória de reconstrução
dos Direitos Humanos.

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O que nos interessa é o Direito Internacional do pós guerra -
▪ Nazismo: 18 milhões de pessoas encaminhadas a campos de
concentração. 12 milhões morreram: 6 milhões de judeus, além de
ciganos, homossexuais e comunistas. Os campos de concentração não
eram campos de condenados. A condição de inocência era fundamental
para a sua perpetuação. A questão não era saber o que cometeram,
senão quem eram essas pessoas. Pessoas sem lugar no mundo,
desumanizadas, aniquiláveis, extermináveis. Esta lógica da destruição e
da barbárie corroeu o âmbito internacional com a 2ª Guerra como uma
experiência totalitária e o pós guerra com um horizonte de reconstrução
com a adoção da carta da ONU de 1945 com 3 linhas:
➢ A promoção e a proteção dos Direitos Humanos no âmbito
universal;
➢ Segurança e paz na esfera internacional
➢ Cooperação no campo socioeconômico

Três anos após, 1948, nasce a DUDH – nasce como um código consensual forte
a partir da concordância de 48 Estados e 8 abstenções, ou seja, não houveram
votos vencidos.

Para compreender a concepção contemporânea de direitos humanos temos que


fazer 3 perguntas.
Para a Declaração:
• Quem tem direitos? – Toda e qualquer pessoa em razão da sua condição
de humanidade. O único requisito para ter direitos é o de ser humano.

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• Por que direitos? – Dignidade da Pessoa Humana como fundamento ético
que vai inspirar toda a arquitetura protetiva internacional dos Direitos
Humanos.
• Quais direitos? – Visão holística, integral: direitos civis e políticos,
econômicos, sociais e culturais. 30 artigos com diversos direitos.

As declarações antecedentes traziam uma visão bipartida, ou liberdade ou


igualdade. A DUDH soma os valores com uma visão integral: o discurso liberal
e o discurso social da cidadania. Não há liberdade sem igualdade de vice-versa.
A efetividade dos direitos civis e políticos é condição para a efetividade dos
direitos econômicos, sociais e culturais, e vice-versa.
Isso aponta considerações importantes:
• A DUDH estabelece paridade entre os direitos civis e políticos, e os
econômicos, sociais e culturais. Para a DUDH tão grave quanto morrer
sobre tortura é morrer de fome; tão grave quanto ter negada a liberdade
é ter negada saúde, trabalho e cultura. Não há hierarquia entre direitos.
• Compõe a DUDH uma unidade indivisível, interrelacionados e
interdependentes.

É a concepção contemporânea de direitos humanos, alicerçada em 3 grandes


ideias:
• Direitos Humanos são universais – toda e qualquer pessoa é sujeito de
direitos, é titular dos Direitos Humanos;
• O fundamento ético dos Direitos Humanos é a Dignidade da Pessoa
Humanos;
• Visão integral, holística dos direitos – conciliação entre liberdade e
igualdade.

1.3. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E OS DIREITOS HUMANOS

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Dignidade Humana é o fundamento ético
dos direitos humanos.

▪ A DUDH toma a visão clássica da dignidade humana através do


referencial teórico de Kant – a dignidade humana como um valor
intrínseco à condição humana. Não é um valor extrínseco que dependa
da sua raça, etnia, religião, nacionalidade, condição socioeconômica.
Porque nós somos únicos e diversos dos que aqui existem, dos que
existiram no passado e dos que existirão no futuro.
▪ A visão kantiana ilumina a DUDH e aponta que se deve atribuir às pessoas
dignidade, não sendo possível atribuir um preço.
▪ No Séc. XXI as dignidades humanas são plurais: atributos de autonomia,
de liberdade e com dimensão coletiva, para além da dimensão individual,
abstrata.
▪ A dignidade humana é o ponto de partida e de chegada para qualquer
interpretação jurídica.
▪ Tem natureza jurídica de Fundamento da República Federativa do Brasil
conforme art. 1º, III.

Parâmetro exegético de todo o Ordenamento Jurídico da República Federativa


do Brasil, alcançando toda a CF/88:
• Preâmbulo
• ADCP – Atos das Disposições Constitucionais Permanentes (art. 1º a
250)
• ADCT – Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (art. 1º a 114)

Impõe o dever de:

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• RESPEITO – não pode violar
• PROTEÇÃO – não permitir que violem
• PROMOÇÃO - remover injustiças e promover igualdade material.

A visão atual aponta para um sistema jurídico multinível inspirado na dignidade


humana.
• Global
• Regional
• Local

▪ São ordens abertas permeáveis aos diálogos, às incidências,


empréstimos, impactos mútuos e recíprocos, mas o valor a inspirar o
direito dos direitos humanos é o valor do princípio da dignidade humana
que se revela à luz do princípio pro persona, que assegura, no conflito de
normas, aquela que mais amplia os direitos e garantias fundamentais da
pessoa humana. Esses sistemas se somam, um complementa o outro
para prover a melhor, a mais efetiva, a mais eficaz proteção a pessoa
humana.
▪ Isso inspirou inúmeras constituições!
▪ Art. 1º, III da CF/88 que estabelece o Princípio da Dignidade da pessoa
Humana como princípio a sustentar o Estado Democrático de Direito.

1.4. CLASSIFICAÇÃO E CONTEÚDO DOS DIREITOS HUMANOS. CLASSIFICAÇÃO


TRADICIONAL: DIMENSÕES/GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À NATUREZA


• Direitos Civis e Políticos
• Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

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CLASSIFICAÇÃO QUANTO ÀS GERAÇÕES
1ª GERAÇÃO Direitos civis e políticos, direitos de
liberdade
2ª GERAÇÃO Direitos econômicos, sociais e
culturais, direitos prestacionais.
3ª GERAÇÃO Direitos de solidariedade, direitos
globais
4ª GERAÇÃO Direito à democracia, direito à
informação, direito ao pluralismo.

▪ Criação doutrinária. Idealizador Norberto Bobbio – “A era dos direitos”.


▪ Por influência da Revolução Francesa Bobbio afirmou existir três
gerações clássicas de DH, primeira, Liberdade, de aplicação imediata e
valorização do indivíduo, alcançando os direitos civis e políticos; segunda,
Igualdade, de aplicação progressiva (programática, ao longo do tempo)
visando a proteção de grupo de pessoas (trabalhadores, aposentados),
alcançando os direitos econômicos, culturais e sociais; terceira,
Fraternidade, de aplicação progressiva protege uma universalidade de
pessoas, também conhecida como princípio da solidariedade, alcança os
direitos difusos, cujos destaques são a democracia, a paz e o meio
ambiente.
▪ Aponta-se na década de 90 uma incipiente 4ª geração, o Bio-direito.
▪ GERAÇÃO x DIMENSÃO: O termo geração não é mais utilizado pela
doutrina moderna, que entende que tal termo impõe uma interrupção na
evolução dos DH, sendo o mesmo substituído por dimensão, cuja ideia é
a continuidade, sem interrupção, portanto.

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1.5. CARACTERÍSTICAS
I) Inerência - os DH são inerentes a cada pessoa, pelo simples fato de
existir como ser humano.

▪ Noção de ESTADO DE DIREITO centrada na ideia de que o respeito a


normas preestabelecidas é uma garantia do ser humano contra o
Estado.
▪ Consequência fundamental é o caráter não taxativo dos direitos
humanos até agora reconhecidos, eis que, sendo inerentes aos seres
humanos, em grupo ou individualmente, se apresentam em constante
mutação, acompanhando e interferindo na evolução social, regional e
global.

INERÊNCIA
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
(resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948.
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis
é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.

II) Universalidade/Universalização – Significa que esses direitos


pertencem a todos os membros da espécie humana, sem qualquer
distinção fundada em raça, cor, sexo, língua, origem, religião,
condição social, orientação sexual.

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▪ A partir de 1948 a questão dos DH já não mais está restrita à órbita
interna dos Estados, passando a se ocupar o Direito Internacional
Público, no sentido de reconhecer um bem comum internacional,
tendo nos DH um fundamento para a paz. Seres humanos figurando
como sujeitos de direitos no plano internacional.
▪ A desconsideração da dignidade fundamental de cada ser humano não
tem fronteiras e não tem lugar na cultura humana.
▪ Peculiaridades regionais e nacionais, contexto histórico, cultural e
religioso, ainda que importantes não servem de obstáculo à obrigação
estatal de promover e proteger todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais.

UNIVERSALIDADE/UNIVERSALIZAÇÃO
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação
uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição
política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença
uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela,
sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de
soberania.

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III) Indivisibilidade e Interdependência – desejo de limitar a possibilidade
de os Estados construírem interpretações restritivas dos direitos
enunciados, alegando o cumprimento parcial das normas
internacionais sobre o tema. Não existe meio termo: só há vida
verdadeiramente dignasse todos os direitos previstos no direito
internacional dos direitos humanos estiverem respeitados, sejam
civis e políticos, sejam econômicos, sociais e culturais.

INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA
Proclamação de Teerã - 1968
Proclamada pela Conferência de Direitos Humanos em Teerã a 13 de
Maio de 1968
A Conferência Internacional de Direitos Humanos,
Tendo se reunido em Teerã entre os dias 22 de abril a 13 de maio de
1968, para examinar os progressos alcançados nos vinte anos
transcorridos desde a aprovação da Declaração Universal de Direitos
Humanos e preparar um programa para o futuro,
13. Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são
indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos
direitos econômicos, sociais e culturais resulta impossível. A
realização de um progresso duradouro na aplicação dos direitos
humanos depende de boas e eficientes políticas internacionais de
desenvolvimento econômico e social;

INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA
CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE OS DIREITOS DO HOMEM
Viena, 14-25 de Junho de 1993
DECLARAÇÃO DE VIENA E PROGRAMA DE ACÇÃO

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5. Todos os Direitos do homem são universais, indivisíveis,
interdependentes e interrelacionados. A comunidade internacional
tem de considerar globalmente os Direitos do homem, de forma justa
e equitativa e com igual ênfase. Embora se devam ter sempre
presente o significado das especificidades nacionais e regionais e os
antecedentes históricos, culturais e religiosos, compete aos Estados,
independentemente dos seus sistemas político, económico e cultural,
promover e proteger todos os Direitos do homem e liberdades
fundamentais.

IV) Transnacionalidade – Não importa onde esteja o ser humano, não


dependendo da nacionalidade ou cidadania, sendo assegurado a
qualquer pessoa. Lembrar que o APÁTRIDA rompe com a tríade
Estado-Território-Nação implicando a ausência de qualquer proteção
jurídica – direito internacional dos refugiados.

TRANSNACIONALIDADE
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Artigo 15
1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem
do direito de mudar de nacionalidade.

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


Artigo 20 – Direito à nacionalidade
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo
território houver nascido, se não tiver direito a outra.

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3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade,
nem do direito de muda-la.

V) Ausência de hierarquia

VI) Imprescritibilidade

VII) Inalienabilidade

VIII) Indisponibilidade

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2. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI) –
ESTATUTO DE ROMA

A 1ª sentença proferida em 14/03/2012 envolvendo Thomas Lubanga Dyilo.


Lubanga foi o primeiro réu condenado pela Corte Penal Internacional pelos
crimes de guerra de alistamento e recrutamento de crianças menores de 15
anos e usá-los para praticar ativamente nas hostilidades, submetidas a
circunstâncias de violência. Caso paradigmático porque permitiu atribuir a
responsabilidade penal internacional no campo internacional.

• PRECEDENTES DO TPI
• CARACTERÍSTICAS E COMPETÊNCIAS MATERIAL E TEMPORAL
• DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA A AFIRMAÇÃO DA JUSTIÇA PENAL
INTERNACIONAL

2.1 ANTECEDENTES DO TPI


• Nuremberg – acordo de Londres, firmado pelos vencedores da guerra.
Perdurou de 1945 a 1946. Mandato: processar e julgar crimes contra a
humanidade, contra a paz e de guerra.
Críticas:
o Tribunal de exceção, criado post factum
o Tribunal político em que vencedores estariam julgando vencidos
o Tribunal precário, ad hoc, temporário para julgar uma situação
específica
o Sanções envolvendo pena de morte
o Atentar contra o princípio da anterioridade da lei penal, não havia
ilícitos ao momento em que foram praticados

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• Convenção para prevenção e repressão ao crime de genocídio – 1948:
define o crime de genocídio como um crime marcado pela intolerância,
pela destruição, no todo ou em parte de um grupo em razão da sua
nacionalidade, raça, etnia, religião, grupo político. Além disso a
convenção afirma ser o genocídio um crime internacional, pela sua
gravidade, que tem como lesada a própria humanidade. O art. 6º já previa
que o julgamento seria feito pela Corte Penal Internacional, inexistente à
época.
• Convenção contra a tortura – 1984: tipifica o crime de tortura e estabelece
uma jurisdição universal e compulsória. Uma cooperação e ter os
Estados no âmbito internacional para o combate à impunidade.
• Tribunais ad hoc criados pelo Conselho de Segurança para tratar dos
casos de Ruanda, envolvendo genocídio envolvendo tutsis e Utus e da
antiga Iugoslávia.

O TPI foi adotado pelo Estatuto de Roma com 122 artigos e 2 anexos, um com
elementos e circunstâncias dos crimes e outro trazendo regras procedimentais.
Hoje é composto por mais de 12º Estados-Partes, que entrou em vigor em
01/07/2020 quando houve o depósito do 60º instrumento de ratificação.

2.2. CARACTERÍSTICAS, COMPETÊNCIA MATERIAL E TEMPORAL


2.2.1. Características principais:
• Tribunal permanente, criado por um Tratado. É uma justiça pré-
estabelecida. O que afasta a crítica sofrida por Nuremberg de ser um
tribunal de exceção, ad hoc, temporário.
• Tribunal independente. Os Estados que redigiram o Estatuto acabam
também sendo alcançados. Rompendo a crítica da politização
(vencedores julgando vencidos).

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• É uma jurisdição complementar dos Estados (art. 17 – Princípio da
subsidiariedade). A jurisdição quando o Estado não puder e não quiser
valer-se da sua jurisdição, ou, não puder e quiser, ou não quiser e puder.
Há que se assegurar ao Estado que exerça a sua responsabilidade
primária no que se refere ao julgamento dos mais graves crimes que
afetam a ordem internacional. Princípio da subsidiariedade e da
complementariedade vertical, e não mais horizontal. Lembrar o §4º do
art. 5º da CF/88 que reconhece que o Brasil se submete à jurisdição do
TPI.
• O TPI se move pela lógica da cooperação. Ele depende dos Estados por
não ter polícia própria, o que demanda a cooperação dos Estados para o
exercício da sua jurisdição.

2.2.2. Competência material (art. 5º): julga o que há de pior, de mais grave, os
mais graves crimes que afetam a ordem internacional.
✓ Crime de genocídio
✓ Crimes contra a humanidade (o acordo de Londres, quando criou o
Tribunal de Nuremberg previu as figuras dos crimes contra a
humanidade) mais ampliado.
✓ Crimes de guerra
✓ Crimes de agressão

• Crimes imprescritíveis (art. 29), não sendo possível falar em extinção de


punibilidade pelo tempo.
• O Estatuto prevê a observância dos princípios gerais do direito penal,
prevendo, portanto, o garantismo.

2.2.3. Competência temporal (art. 11): regra geral é a irretroatividade, ou seja, a


jurisdição alcança os crimes cometidos após a entrada em vigor do Estatuto.

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A jurisdição pode ser invocada por 3 vias (art. 13):
✓ Por via dos Estados.
✓ Pelo Conselho de Segurança, órgão da ONU que tem como mandato atuar
quando há ofensa à paz e à segurança internacional. As situações podem
ter ocorrido em quaisquer Estados, sejam ou não partes do Estatuto.
✓ De ofício, pela promotoria.

• Composição: 18 juízes eleitos pelos Estados-Partes, com mandato de 9 anos,


havendo um cuidado com relação à equitativa distribuição geográfica e com
a justa representatividade de gêneros.
• Aplica sanções de natureza penal, privativas de liberdade (até 30 anos e de
forma excepcional, perpétua – art. 77) e de natureza civil, logo, a justiça
retributiva se soma à justiça reparatória, buscando a punição do violador e
a proteção e participação das vítimas.

2.3. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA A AFIRMAÇÃO DA JUSTIÇA PENAL


INTERNACIONAL
• Como será exercida sua jurisdição complementar e subsidiária? Qual
será sua jurisprudência, ainda sendo consolidada?
• Como lidar com as leis de anistia?
• Participação da vítima. Como será conjugar a justiça retributiva e
reparatória?
• Combate à impunidade dos Chefes de Estados.
• Harmonização do TPI com as ordens locais. São mais de 120 Estados que
ratificaram esse Estatuto. No Brasil, por exemplo, como harmonizar as
imunidades previstas na CF/88, abolidas no Estatuto: o Estatuto é
aplicado a todas as pessoas, independente do cargo que ocupe (art. 27
abole as imunidades); além disso a entrega de brasileiros natos não pode
ser confundida com a extradição; além disso há que se harmonizar o

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tema da imprescritibilidade dos crimes; e, por último a prisão perpétua,
que é excepcional, esgotadas as vias internas (art. 77).

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3. SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS

• INTRODUÇÃO
• ESTRUTURA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
• CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

3.1. INTRODUÇÃO
Sistema jurídico multinível que protege direitos humanos em 3 aspectos:
✓ Global
✓ Regional
✓ Local

Novo paradigma com influências mútuas e recíprocas, tendo a dignidade


humana como fonte, vetor e valor maior que inspira esse diálogo.

3.2. ESTRUTURA DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS


Qualquer tratado de Direitos Humanos:
• Simbolizam um piso (parâmetro) protetivo mínimo. Os Estados podem e
devem ir além desses parâmetros mínimos, jamais aquém,
• Preveem direitos aos indivíduos e, como contrapartida, deveres,
obrigações jurídicas aos Estados (vinculantes) – Direito à tortura ou à
educação exigem obrigações jurídicas dos Estados. O Estado tem o dever
de respeitar (não pode violar), de proteger (permitir que terceiros violem)
e de implementar (realização de efetivação) os direitos.
• Não há tratado que não preveja Órgãos de Proteção. Se há deveres a
serem cumpridos pelos Estados, se há direitos a serem exercidos pelos
indivíduos, há de se ter meios de proteção. Organismos criados pelos

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tratados para o seu monitoramento. No campo da ONU, são os comitês.
Cada tratado prevê o seu próprio comitê. Órgãos políticos, quase
judiciais.
• Não há tratado que não preveja Mecanismos de Monitoramento:
o Direito de Petição: empodera o indivíduo para defender direitos e
contrapor ilegalidades e abuso de poder. Cristaliza a capacidade
processual do indivíduo na esfera internacional. Requisitos de
admissibilidade: inexistência de litispendência internacional e
prévio esgotamento das vias internas.
o Comunicações interestatais: comunicações entre Estados. Um
Estado denuncia outro que não está cumprindo o Tratado.
o Relatórios/informes periódicos: prestação de contas de como está
implementando as medidas legislativas, executivas e judiciais.
o Investigações in locu: o comitê vai ao local dos fatos para
averiguar com maior precisão as violações.

O bom seria que todo e qualquer tratado contemplasse os 4 mecanismos. Isso


não ocorre porque no âmbito internacional há politização:
• Convenção sobre os direitos das crianças tem grande adesão (mais de
193 Estados-Parte), não contempla o direito de petição, apenas o
mecanismo dos relatórios periódicos.
• A convenção contra a tortura prevê os 4 mecanismos, mas tem pouca
adesão.

Em geral os tratados que só preveem 1 mecanismo, como os relatórios, geram


protocolos, que são tratados adicionais e complementares ao principal,
estabelecendo outros mecanismos. Isso ocorreu com a convenção da ONU
sobre a eliminação da discriminação contra a mulher, que só estabelecia os

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relatórios e por protocolo adicional facultativo introduziu o direito de petição
individual e investigações in locu.

3.3. CARTA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS


Coração do sistema global de proteção, integrada por 3 documentos:
✓ Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – 1948
✓ Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) – 1966
✓ Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) –
1966

▪ Houve uma controvérsia com relação à aplicabilidade dos direitos, por


isso essa fragmentação. Para o bloco ocidental – direitos civis e políticos
com aplicação imediata, econômicos, sociais e culturais com aplicação
progressiva. Para o bloco Oriental – direitos econômicos, sociais e
culturais com aplicação imediata, direitos civis e políticos com aplicação
progressiva.
▪ Por isso o bloco ocidental lutou pela adoção de 2 pactos ao invés de 1.
Essa era a disputa ideológica que marcava a Guerra-Fria.
▪ Hoje, cada Tratado tem mais de 160 Estados-Parte. O EUA ratificou o
PIDCP e não o PIDESC. A China ratificou o PIDESC e não o PIDCP. São
ambivalências na ordem internacional.
▪ A referência dos 2 pactos é a DUDH. Trazem uma linguagem mais
minuciosa e precisa, detalhista a respeito de cada direito. Juridicizam a
DUDH, por serem tratados com força jurídica vinculante.
▪ Prevaleceu a retórica do bloco ocidental quanto à aplicabilidade dos
direitos. O PIDESC previu a aplicação progressiva (art. 2º, 1), que não é
sinônimo de não aplicação, mas a aplicação em um crescente. Disso
decorre a cláusula de vedação do retrocesso e da proibição da inação
estatal continuada. Também há uma demanda por indicadores técnicos-

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científicos capazes de mensurar a progressividade dos direitos
econômicos, sociais e culturais, além disso, no Comitê DESC há uma ideia
do mínimo vital, núcleo essencial de cada direito social. Vasta
jurisprudência que aponta qual o cerne, o núcleo essencial do direito à
moradia, à alimentação adequada, à saúde, educação. Vale lembrar do
Princípio Democrático que é indissociável e estruturante de todo e
qualquer direito, ou seja, direitos sociais demandam informação,
transparência, prestação de contas.
▪ Ou seja, há toda uma jurisprudência da ONU que confere juridicidade e
judiciabilidade aos direitos sociais.
▪ Desde 1966, quando nasceram os direitos civis e políticos, foi previsto em
Protocolo o direito de petição – velha máxima: não há verdadeiro direito
sem remédio. Isso gerou uma grande jurisprudência e doutrina. Já o O
PIDESC só previu mecanismo de relatório e só em 2008 adveio o
protocolo facultativo incluindo o direito de petição, parificando a
estrutura protetiva. Isso provocou pouca jurisprudência e doutrina
porque entrou em vigor em maio de 2013.

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4. SISTEMA REGIONAL

Regionalização no campo da proteção dos Direitos Humanos. 3 sistemas


consolidados: europeu, interamericano, africano, cada um com sua abertura e
catálogo de direitos.

4.1. SISTEMA INTERAMERICANO

1948
OEA 1959 1969 1979
Declaração Comissão Convenção Corte
Americana dos Interamericada Americana sobre Interarmericana
Direitos e de Direitos Direitos de Direitos
Deveres do Humanos Humanos Humanos
Homem

➢ OEA é composta por 35 Estados. 25 assinaram a CADH e 22


reconheceram a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos
Humanos.
➢ Principal instrumento: Convenção Americana de Direitos Humanos
(CADH), adotada pela OEA em 1969, entrou em vigor em 1977. Época
complicada no cone sul e na América Central, com ditaduras e conflitos
armados. Traz um catálogo de direitos com prevalência para os direitos

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civis e políticos, fazendo menção abreviada a direitos econômicos, sociais
e culturais.
➢ Estabelece deveres dos Estados de respeitarem os direitos e o dever de
harmonizar a sua ordem jurídica à convenção. Do art. 3º até o 25, direitos
civis e políticos. Art. 26, solitariamente trata dos direitos econômicos,
sociais e culturais, prevendo aplicação progressiva, mas, depois, foi
adotado o Protocolo de San Salvador.

Meios de proteção: 2 órgãos, integrados, cada um, por 7 membros de alta


respeitabilidade moral e conhecimento.
✓ Comissão Interamericana – órgão político, quase judicial que aprecia
petições.
✓ Corte Interamericana – órgão jurisdicional com competência contenciosa
(elabora sentenças) e consultiva (profere pareceres).

➢ Contribuíram muito para a consolidação das democracias.


➢ Trata-se de um sistema de proteção regional. A internacionalização dos
direitos humanos e toda a sua tutela é fenômeno recente no cenário
ocidental e mundial, tendo adquirido especial destaque somente após a
Segunda Guerra Mundial ante a perplexidade instaurada pelos governos
totalitários das décadas de 1920 e 1930. O apogeu desse movimento de
internacionalização ocorreu com a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, assinada em 10 de dezembro de 1948, no âmbito da Assembleia-
Geral das Nações Unidas.
➢ É a partir desse epicentro universal de proteção que têm início os
sistemas regionais, como o europeu, o africano e o americano. É preciso
ter em mente as datas em que foram criados os órgãos e documentos a
que se faz referência. A Organização dos Estados Americanos - OEA, foi
criada em 1948, tendo sido aprovada no mesmo ano a Declaração

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Americana de Direitos e Deveres do Homem. Somente em 1959 foi
instituída a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, órgão
competente para receber e investigar as reclamações de indivíduos em
face de violações a direitos humanos observadas no âmbito dos Estados-
membros.
➢ A Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou Pacto de São José
da Costa Rica foi proclamado em 22 de novembro de 1969. O referido
instrumento foi o responsável por organizar de modo definitivo a
estrutura do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos,
e sua ratificação pelo número mínimo de Estados (que ocorreu em 1978)
abriu espaço para a fundação da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, já no ano de 1979.

Os dois órgãos de relevo aqui considerados são a Comissão e a Corte. A


Comissão possui as seguintes atribuições dispostas no artigo 41 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos:
A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa
dos direitos humanos e, no exercício do seu mandato, tem as seguintes
funções e atribuições:
a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da
América;
b) formular recomendações aos governos dos Estados membros,
quando o considerar conveniente, no sentido de que adotem
medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de
suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como
disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses
direitos;
c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes
para o desempenho de suas funções;

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d) solicitar aos governos dos Estados membros que lhe
proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em
matéria de direitos humanos;
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da
Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados
membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos
e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento
que eles lhe solicitarem;
f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no
exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos
artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos.

Qualquer pessoa, grupo ou entidade pode acessar o sistema interamericano por


meio de uma denúncia de violação dos direitos humanos.
Art. 44 da Convenção: Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade
não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados
membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que
contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um
Estado Parte.

➢ Segundo o art. 20 de seu Regulamento, a Corte poderá autorizar qualquer


pessoa que compareça perante ela a se expressar em seu próprio idioma,
se não tiver suficiente conhecimento dos idiomas de trabalho, mas em tal
caso adotará as medidas necessárias para assegurar a presença de um
intérprete que traduza a declaração para os idiomas de trabalho.

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➢ Dito intérprete deverá prestar juramento ou declaração solene sobre o fiel
cumprimento dos deveres do cargo e sobre o sigilo a respeito dos fatos de
que tome conhecimento no exercício de suas funções.

As condições para que a Comissão processe o pedido estão dispostas no artigo


46 da Convenção:
1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os
artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário:
a. que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da
jurisdição interna, de acordo com os princípios de direito
internacional geralmente reconhecidos;
b. que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da
data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido
notificado da decisão definitiva;
c. que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente
de outro processo de solução internacional; e d. que, no caso do
artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão,
o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do
representante legal da entidade que submeter a petição.
2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se
aplicarão quando:
a. não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o
devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se
alegue tenham sido violados;
b. não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus
direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver
sido ele impedido de esgotá-los; e
c. houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados
recursos.

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• A inobservância dos requisitos mencionados tornará a petição/comunicação
inadmissível. Apresentados os requisitos dos artigos 44-46, a Comissão, nos
termos do art. 47, solicitará informações ao Governo do Estado ao qual
pertença a autoridade apontada como responsável pela violação alegada e
transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação. A Convenção
não estipulou um prazo para que as informações sejam prestadas, mas
aloca a expressão prazo razoável para o seu envio. Ao contínuo, isto é,
recebidas as informações ou transcorrido o prazo razoável sem o seu
recebimento, a Comissão verificará se existem ou subsistem os motivos da
petição ou comunicação:
a) se não existirem, arquivará o pedido;
b) poderá declará-lo inadmissível ou improcedente, caso o Estado
apresente informação ou prova supervenientes robustas para tal;
c) poderá, a fim de comprovar os fatos, e com a ciência das partes, levar
adiante um exame do assunto exposto na petição ou comunicação.

Se for necessário e conveniente, a Comissão procederá a uma investigação para


cuja eficaz realização solicitará aos Estados interessados as informações
pertinentes verbais ou escritas e lhes proporcionarão todas as facilidades
necessárias. Em casos extremos, observadas a gravidade e urgência que o
justifiquem, a Comissão pode realizar uma investigação, mediante prévio
consentimento do Estado em cujo território se alegue haver sido cometida a
violação, tão somente com a apresentação de uma petição ou comunicação que
reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.
Dois são os caminhos a partir de então:
• Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as
disposições do inciso 1, f, do artigo 48 da Convenção, a Comissão
redigirá um relatório que será encaminhado ao peticionário e aos

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Estados Partes nesta Convenção e, posteriormente, transmitido, para
sua publicação, ao Secretário-Geral da Organização dos Estados
Americanos. O referido relatório conterá uma breve exposição dos
fatos e da solução alcançada. Se qualquer das partes no caso o
solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.
• Se, dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, não se
chegar a uma conclusão, a Comissão redigirá um relatório no qual
exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no
todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão,
qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em
separado. Também se agregarão ao relatório as exposições verbais
ou escritas que houverem sido feitas pelos interessados em virtude
do inciso 1, e, do artigo 48.

Artigo 48, 1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação


na qual se alegue violação de qualquer dos direitos consagrados
nesta Convenção, procederá da seguinte maneira: f. pôr-se-á à
disposição das partes interessadas, a fim de chegar a uma solução
amistosa do assunto, fundada no respeito aos direitos humanos
reconhecidos nesta Convenção.
[...]
Poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação
pertinente e receberá, se isso lhe for solicitado, as exposições
verbais ou escritas que apresentarem os interessados.

• No caso da segunda opção, isto é, o caso não ter obtido solução amistosa, e
transcorridos três meses após o envio do relatório da Comissão, ela poderá
emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e
conclusões sobre a questão submetida à sua consideração. Em seguida, fará

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as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado
deve tomar as medidas que lhe competirem para remediar a situação
examinada. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da
maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não medidas
adequadas e se pública ou não seu relatório.
• Por sua vez, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, segundo seu
estatuto, é uma instituição judiciária autônoma cujo objetivo é a aplicação e
a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. A Corte
exerce suas funções em conformidade com as disposições da citada
Convenção e desse Estatuto. O artigo 2º do Estatuto estabelece as
competências da Corte, que são jurisdicional e consultiva.
• A competência jurisdicional está prevista nas disposições 61 a 63 da
Convenção. É preciso ter em mente, de modo inicial, que somente os Estados
Partes e a Comissão têm direito de submeter caso à decisão da Corte. Além
disso, é uma condição da ação que o pedido tenha transitado pela comissão,
sob pena de não conhecimento. Os Estados Partes, no momento do depósito
do instrumento de ratificação, optaram por validar ou não a jurisdição da
Corte.
• Com efeito, sua competência para conhecer de qualquer caso relativo à
interpretação e aplicação da Convenção se circunscreve ao fato de os
Estados terem reconhecido a referida competência, seja por declaração
especial ou convenção especial.

Reconhecida a competência da Corte Interamericana, relevante apresentar, in


verbis, o artigo 63 da Convenção:
1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade
protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao
prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará
também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências

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da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos,
bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.
2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer
necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos
de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que
considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem
submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

• A sentença, que será fundamentada, é definitiva e inapelável. Caso algum


juiz tenha sido vencido, poderá solicitar que à sentença se anexe seu voto
dissidente. Caso haja divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a
Corte a interpretará, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido
seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação da
sentença.
• A outra função da Corte é a consultiva. Segundo o artigo 64 da Convenção,
os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a
interpretação da Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção
dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-
la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da
Organização dos Estados Americanos, que trata da reunião de consulta dos
ministros das relações exteriores. Além disso, a Corte, a pedido de um
Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a
compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados
instrumentos internacionais.

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5. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS TRATADOS
DOS DIREITOS HUMANOS

• RELAÇÃO DA CF/88 COM OS DIREITOS HUMANOS


• RELAÇÃO DA CF/88 COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS E DIREITOS
HUMANOS

5.1. RELAÇÃO DA CF/88 COM OS DIREITOS HUMANOS


• A CF/88 está em sintonia com a DUDH/48, que aponta para a
universalidade, indivisibilidade, interdependência dos Direitos Humanos,
e estabelece, como fundamento ético a Dignidade da Pessoa Humana.
• A CF/88 é o marco jurídico da transição democrática e da
institucionalização dos Direitos Humanos no Brasil. Vasta produção
normativa na defesa dos Direitos Humanos e, internacionalmente,
tratados passaram a ser ratificados pelo Brasil.

5.2. RELAÇÃO DA CF/88 COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS E DIREITOS


HUMANOS
• Hierarquia
• Incorporação
• Impactos

5.2.1. HIERARQUIA
O art. 5º, §2º, traz uma cláusula de abertura: Os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte. Portanto, há aqueles direitos
expressos na CF/88, há os implícitos, que decorrem do regime e dos

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princípios por ela adotados, e, há os direitos internacionais, ou seja, 3
categorias.

Há, ao menos, 4 posições na doutrina:


• Supraconstitucional
• Constitucional
• Infraconstitucional, mas, supralegal
• Legal

A jurisprudência do STF é oscilante:


• Até 1977 consagrava o primado do direito internacional, logo seria
supraconstitucional;
• RE 80.004 (1977) equipara juridicamente, tratado a lei federal. À época o
Tratado não tratava de Direitos Humanos, era um tratado comercial sobre
letras de câmbio, notas promissórias que conflitava com um Decreto-lei.
• HC 72.131 (2005) equipara também a lei federal os tratados de Direitos
Humanos. (art. 102, III, a, CF/88.
• RE 466.343 (2008) – conferiu aos TIDH hierarquia privilegiado especial de
supralegalidade, inaugurando o controle de convencionalidade das leis.
Julgamento que definiu como única hipótese de prisão civil a do devedor
de alimentos utilizando como fundamento no PIDCP, art. 11 e Convenção
Americana de Direitos Humanos - 1992 (CADH), art. 7º, 7. Posteriormente
foi editada a Súmula Vinculante 25: “É ilícita a prisão civil de depositário
infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.”

Hierarquia de norma constitucional: art. 5º, § 3º Os tratados e convenções


internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos

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membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
• Atos aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949,
de 2009, DLG 261, de 2015, DEC 9.522, de 2018.

5.2.2. INCORPORAÇÃO
CF/88, arts. 49, I, 84, VIII - Para serem incorporados em nosso ordenamento
jurídico os Tratados Internacionais passam por momentos:
• Negociação e Assinatura – própria do Poder Executivo.
• Referendo Congressual – Congresso Nacional mediante Decreto
Legislativo referenda o Tratado.
• Ratificação do Tratado – Decreto Executivo do Pres. Da República.
• Promulgação e Publicação do Tratado no Diário Oficial.

5.2.3. IMPACTOS
Piso protetivo mínimo e nunca o teto máximo. Só podem fortalecer o grau de
proteção no âmbito doméstico.

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6. FEDERALIZAÇÃO DE INQUÉRITOS OU PROCESSOS QUE
ENVOLVEM GRAVE VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS –
EC 45/2004.

Art. 109, V-A e §5º CF/88 – mudança de competência do inquérito/processo da


Justiça Local (Estadual) para a Justiça Federal.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º
deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais
de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito
ou processo, incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Requisitos:
• Verificar a existência de um TIDH que o Brasil faça parte.
• Verificar a existência de grave violação de um direito lá previsto.
• Verificar se a Justiça Local está inerte ou viciada

Procedimento: Só o PGR poderá propor um Incidente de Deslocamento de


Competência no STJ. A 3ª seção do STJ julgará.

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PARABÉNS PELO EMPENHO!!!

BONS ESTUDOS E QUE O PRÓPRIO CRISTO JESUS ILUMINE


A TODOS!!

FAMÍLIA CEJAS: LÍDERES EM APROVAÇÃO EM TODO O BRASIL!!

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