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Direito Humanos | Janaina Silva

PLANO DE AULA / CRONOGRAMA – DIREITOS HUMANOS

Professora Janaina Silva

 CURSO REGULAR – MÉTODO APROVA OAB

 PLANO DE AULA / CRONOGRAMA:

1. TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS

1.1 CONCEITO

1.2 TERMILOGIA

- Direitos Humanos x Direitos Fundamentais

1.3 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

- Teoria das Gerações ou Dimensões

1.4 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

1.5 UNIVERSALISMO E RELATIVISMO CULTURAL

2. AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

3. DIREITOS HUMANOS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

4. DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1998

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5. A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE


DIREITOS HUMANOS

5.1 CONCEITO

5.2 INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

5.3 HIERARQUIA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

6. DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE DO ESTADO

6.1 CONCEITO

6.2 PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

6.3 INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA (IDC)

6.4 RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO

7. O SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

7.1 PRIMEIROS PRECEDENTES DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DOS


DIREITOS HUMANOS

7.2 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS - O PÓS-GUERRA

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- A Carta das Nações Unidas de 1945 (ONU)

- A Declaração Universal dos Direitos Humanos 1948

8. SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

8.1 CONCEITO

8.2 ATUAÇÃO DA ONU

8.3 TRATADOS INTERNACIONAIS DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS


DIREITOS HUMANOS

a) Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

b) Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

c) Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio

d) Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados e Protocolo Facultativo

e) Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Pena Cruéis, Desumanos


ou Degradantes

f) Convenção Internacional para a Proteção de todas as Pessoas Contra o


Desaparecimento Forçado

g) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo


Facultativo

8.4 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

9. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

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9.1 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO OU SISTEMA REGIONAL


AMERICANO (OEA)

9.1.1 Carta da OEA e Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem

9.1.2 Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa


Rica)

- Comissão e Corte Interamericana de Direitos Humanos

9.1.3 Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura

9.1.4 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência


contra a Mulher

9.1.5 Convenção Interamericana sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas

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1. Teoria Geral dos Direitos Humanos

1.1 Conceito

 Conceito

Os Direitos Humanos formam um conjunto de normas jurídicas nacionais e

internacionais que buscam assegurar um patamar mínimo de dignidade para os seres

humanos.

Para André de Carvalho Ramos “os direitos humanos consistem em um conjunto de

direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade,


igualdade e dignidade. Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis

a vida digna”.

 Dignidade da pessoa o que é?

É a ideia de que todo o ser humano tem direito de ser respeitado, pelo simples fato
de sua humanidade.

É uma qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do

mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando,


neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a

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pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como

venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além
de propiciar e promover sua participação ativa corresponsável nos destinos da própria

existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.

1.2 Terminologia

a) Direitos Humanos: Direitos universalmente aceitos na ordem internacional.

b) Direitos Fundamentais: Conjunto de direitos positivados na ordem interna de


determinado Estado.

Importante: A distinção não remete ao conteúdo desses direitos, mas sim em relação
a sua positivação.

1.3 Classificação dos Direitos Humanos

1.3.1 Teoria das Gerações ou Dimensões

Foi desenvolvida inicialmente pelo jurista francês Karel Vasak em 1979, e cada

geração/dimensão foi associada a um dos ideais da Revolução Francesa, quais sejam:

Liberdade, igualdade e fraternidade.

Posteriormente, determinados autores defenderam a ampliação da classificação para

quatro ou até cinco gerações.

Por essa teoria os direitos humanos são divididos em gerações/dimensões:

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1ª Geração - Direitos de Liberdade (direitos individuais, direitos civis e políticos):


Regram a atuação do indivíduo, delimitando o seu espaço de liberdade e, ao mesmo

tempo, estruturam o modo de organização do Estado e do seu poder.

Marco histórico: Revolução Francesa.


Documento: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.

Exemplos: Direito à liberdade, propriedade, intimidade e segurança, entre outros.

2ª Geração – Diretos de Igualdade (Direitos econômicos, sociais e culturais): Direito

às prestações positivas por parte do Estado a fim de garantir uma condição material

mínima de sobrevivência.

Marco histórico: Revolução Mexicana.

Documento: Constituição de Weimar.

Exemplos: direito à saúde, educação, previdência social, habitação, entre outros.

3ª Geração – Direitos de Solidariedade (fraternidade): São oriundos da constatação

da vinculação do homem ao planeta terra, com recursos finitos, divisão absolutamente

desigual de riquezas em verdadeiros círculos viciosos de miséria e ameaças cada vez

mais concretas à sobrevivência da espécie humana.

Marco histórico: Segunda Guerra Mundial.

Documento: Declaração Universal dos Direitos Humanos.


Exemplos: Direito ao desenvolvimento, direito a paz, à autodeterminação, ao meio
ambiente equilibrado, entre outros.

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4ª Geração – Direitos fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra


intervenções abusivas de particulares ou do Estado.

Exemplos: Direitos de participação democrática (democracia direta), direito ao

pluralismo, bioética, limites à manipulação genética, entre outros.

5º Geração – Direito à Paz em toda a humanidade.

1.4 Características dos Direitos Humanos

a) Superioridade Normativa (jus cogens): No campo do direito internacional, as

normas entendidas por cogentes, ou jus cogens, são aquelas com status hierárquico
superior às outras. Os direitos humanos mais essenciais são considerados parte do jus

cogens, a exemplo dos direitos humanos de primeira dimensão.

b) Universalidade: a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos,

independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica.

c) historicidade: os direitos humanos decorrem da formação histórica e surgiram e

se solidificaram em decorrência da evolução da sociedade.

d) proibição do retrocesso: também chamada de “efeito cliquet”, consiste na

vedação da eliminação da concretização já alcançada na proteção de algum direito,

admitindo-se somente aprimoramentos e acréscimos.

e) imprescritibilidade: os direitos humanos não se perdem pelo decurso do tempo.

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f) inalienabilidade: não há possibilidade de se transferir os direitos humanos, seja a


título gratuito, seja a título oneroso.

g) irrenunciabilidade: revela a impossibilidade de o próprio ser humano – titular dos

direitos humanos – abrir mão de sua condição humana e permitir a violação desses
direitos.

h) interdependência: consiste no reconhecimento de que todos os direitos humanos


contribuem para a realização da dignidade humana, interagindo para a satisfação das

necessidades essenciais do indivíduo.

i) inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito por determinações

infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de

responsabilização civil, administrativa e criminal.

j) efetividade: a atuação do poder público deve ser no sentido de garantir a

efetivação dos direitos e garantias previstos.

k) complementariedade: os direitos humanos não devem ser interpretados

isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos
previstos pelo legislador constituinte.

l) não exaustividade: consiste na afirmação de que o rol de direitos previsto na


Constituição Federal e em tratados internacionais é meramente exemplificativo e não
exclui o reconhecimento futuro de outros direitos.

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m) Indivisibilidade: sob este prima podemos afirmar que tais direitos compõem um
único conjunto de direitos, uma vez que não podem ser analisados de maneira isolada,

separada.

1.5 Universalismo e Relativismo Cultural

a) Universalismo: Os direitos humanos são universais, no sentido de que os

destinatários desses direitos não são mais os cidadãos deste ou daquele Estado, mas
todos os homens, ou seja, esses direitos abrangem todos os territórios do planeta.

b) Relativismo Cultural: Para os defensores do relativismo cultural, os direitos


humanos devem ser analisados em um contexto histórico, político, econômico, moral

e, por óbvio, cultural, isto é, os direitos humanos devem ser concebidos de acordo

com os valores existentes em determinado estado e não podem ser definidos em

escala global, ou seja, para essa corrente os direitos humanos não são universais em

sua aplicação.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. O processo histórico de afirmação dos direitos humanos foi inscrito em


importantes documentos, tais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem e

do Cidadão de 1789 ou mesmo a Constituição Mexicana de 1917. Desse processo é

possível inferir que os Direitos Humanos são constituídos por, ao menos, duas
dimensões interdependentes e indivisíveis. São elas:
A) Direitos Naturais e Direitos Positivos.

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B) Direitos Civis e Direitos Políticos.

C) Direitos Civis e Políticos e Direitos Econômicos e Sociais.


D) Direito Público e Direito Privado.

02. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foi responsabilizada por fiscais

do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho


(MPT) pela submissão de 179 trabalhadores a condições análogas às de escravos, em

Belo Horizonte. Esse fato gravíssimo comprova, na prática, violação de um princípio

crucial acerca dos Direitos Humanos.


Assinale a opção que expressa esse princípio.

A) O princípio do relativismo cultural determina que o trabalho forçado seja

combatido apenas nos países onde a legislação defina tal conduta como ilícita.
B) O princípio da razoabilidade, pois não é razoável que pessoas sejam submetidas

ao trabalho na condição análoga à de escravo.

C) O princípio do direito humanitário, pois o trabalho na condição análoga à de

escravo é desumano.

D) O princípio da indivisibilidade dos direitos humanos, pois o trabalho na condição

análoga à de escravo viola a um só tempo os direitos civis e políticos e os direitos

econômicos e sociais.

03. Em 11 de abril de 2011 passou a vigorar na França uma lei que proíbe o uso, nos
espaços públicos, da burca e do niqab, véus que cobrem totalmente os rostos das

mulheres e que, para algumas correntes da cultura muçulmana, são de uso

obrigatório. Essa situação se insere no polêmico debate acerca da universalidade ou


da relatividade cultural dos direitos humanos. Em relação a esse debate, assinale a
afirmativa correta.

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A) Os defensores do relativismo cultural são a favor da lei uma vez que ela, ao proibir
o uso da burca e do niqab, permite a livre manifestação de todas as religiões.

B) Os defensores da universalidade dos direitos humanos são a favor da lei com o

argumento de que todas as culturas devem preservar a igualdade entre os sexos e a

burca e o niqab são instrumentos de opressão da mulher.


C) Os defensores do relativismo cultural são contra a lei porque ela viola o princípio

básico de que os direitos humanos se aplicam igualmente a todas as culturas.

D) Os defensores da universalidade dos direitos humanos são contra a lei, alegando


que ela viola o direito à liberdade religiosa.

Gabarito: 01-C; 02-D; 03-B.

2. Afirmação histórica dos Direitos Humanos

Os direitos humanos são garantias históricas, que mudam ao longo do tempo,

adaptando-se às necessidades específicas de cada momento. Por isso, ainda que a

forma com que atualmente conhecemos os direitos humanos tenha surgido com a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, antes disso, princípios

de garantia de proteção aos direitos básicos do indivíduo já apareciam em algumas

situações ao longo da história.

Assim, foram criadas e estendidas progressivamente aos povos as instituições jurídicas

de defesa da dignidade humana contra a violência, o aviltamento, a exploração e a


miséria.

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a) Antigo Egito e Mesopotâmia: Marco teórico da origem dos direitos individuais da

pessoa humana, onde já eram previstos alguns mecanismos para a proteção individual
em relação ao Estado. O direito egípcio deixou várias instruções e sabedorias

tendentes a assegurar o direito das pessoas e dos bens.

b) Código de Hamurábi (1690 a. C.): Umas das primeiras codificações a consagrar


um rol dos direitos comuns a todos os homens (vida, propriedade, honra, dignidade,

família, supremacia da leis em relação aos governantes).

c) Código de Manu (1000 a.C.): constitui-se na legislação do mundo indiano e

estabelece o sistema de castas na sociedade Hindu, juntamente com o Código de

Hamurábi são as primeiras expressões de defesa da dignidade e dos direitos da pessoa


humana.

d) Ideias de Buda (500 a. C.): Influência filosófico-religiosa da pessoa humana,

basicamente sobre a igualdade de todos os homens.

e) Roma Antiga (450 a. C): Foram os grandes juristas da antiguidade, reconheceu-se

a possibilidade de divergência entre o justo e o lícito (direito natural, racional e o

perpétuo).

f) Cristianismo: O homem foi criado à imagem de Deus, assim, o homem cidadão foi

substituído pelo homem pessoa (Estado já não era a única unidade perfeita).

 Escolas cristãs:

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a) Patrística: O maior representante da citada escola foi o Santo Agostinho,

centrou no homem e na questão de seu destino pessoal a sua grande


preocupação, revelando-se a grande importância da valorização da dignidade

humana.

b) Escolástica: O maior representante da citada escola foi o Santo Tomás de


Aquino, buscou no homem a natureza associativa e a potencialidade da

constituição de um Estado justo e aceitável, “a dignidade do homem advém do

fato de ele ser a imagem de Deus”.

g) Magna Carta (Magna Charta Libertatum, 1215): Marco decisivo entre o sistema

de arbítrio real e a nova era das garantias individuais. A Magna Carta deixou implícito
pela primeira vez na história política medieval que o rei se achava vinculado pelas

próprias leis que editava.

h) Lei de Habeas Corpus (Habeas Corpus Act 1679): Estabelecia que, por meio de

reclamação ou requerimento escrito de algum indivíduo ou a favor de algum indivíduo

detido ou acusado da prática de um crime, o lorde chanceler ou, em tempo de férias,

algum juiz dos tribunais superiores poderia conceder o Habeas Corpus, consolidando

a ideia de que essa garantia judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção,

seria a matriz de todos os outros instrumentos criados posteriormente para assegurar


os direitos fundamentais.

i) Revolução Francesa e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789):


A revolução foi inspirada nos ideários de liberdade, igualdade e fraternidade,
desencadeou um novo sentimento entre as pessoas, bem como a supressão das

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desigualdades entre indivíduos e grupos sociais. Já a Declaração representou “o

atestado de óbito do Ancien Régime”, constituído pela monarquia absoluta e pelos


privilégios feudais, traduzindo-se como primeiro elemento constitucional do novo

regime político. Inspirada nos pensamentos iluministas, bem como na Revolução

Americana (1776), definiu os direitos individuais e coletivos dos homens como

universais.

j) Constituição Mexicana (1917): Passou a garantir direitos individuais com fortes

tendências sociais, como, por exemplo, direitos trabalhistas.

k) Constituição de Weimar (1919): Também chamada de Constituição do Império

Alemão, previa os direitos e deveres fundamentais dos alemães. Previa também


direitos relacionados à vida social, à religião, às igrejas, à vida econômica, entre outros.

l) Carta das Nações Unidas (1945): é um acordo que formou a Organização das

Nações Unidas logo após a Segunda Guerra Mundial, em substituição à Liga das

Nações, como entidade máxima da discussão do direito internacional e fórum de

relações e entendimentos supranacionais.

m) Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948): constitui a mais

importante conquista dos direitos humanos em nível internacional, elaborada a partir


da previsão da Carta da ONU, a citada Declaração afirmou que o reconhecimento da

dignidade humana inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos

iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

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01. “Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado dos seus bens, costumes e
liberdades, senão em virtude de julgamento de seus pares, segundo as leis do país.”

O texto transcrito é um trecho da Magna Carta, proclamada na Inglaterra, no ano de

1215. Esse importante documento é apontado como um marco na afirmação histórica


dos direitos humanos, dentre outras razões, porque

A) consolida os direitos civis e políticos e os econômicos e sociais.


B) é origem daquilo que na modernidade ficou conhecido como devido processo

legal.

C) representa um marco jurídico político que estabeleceu uma nova ordem social na
Inglaterra, tendo sido respeitada por todos os governos seguintes.

D) institui e oficializa o direito ao habeas corpus.

Gabarito: 01-B.

3. Direitos Humanos nas Constituições Brasileiras

3.1 Constituição Política do Império do Brasil (1824): Continha a previsão

constitucional de um rol de direitos (inviolabilidade dos direitos civis e políticos, “que


tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade”). O texto

constitucional, entretanto, mascarava a real situação do Império, pois havia escravidão,

voto censitário e exclusão de mulheres.

3.2 1ª Constituição Republicana (1891): Foi expressamente declarado um rol de

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direitos humanos. Além dos tradicionais direitos e garantias individuais, podem ser

destacados direitos como o de gratuidade do casamento civil, ensino leigo, direitos


de reunião e associação, ampla defesa, entre outros.

3.3 Constituição de 1934 (Getúlio Vargas): Também previa expressamente um rol

de direitos, explicitando vários direitos civis e políticos. Inovou ao estabelecer vários


direitos sociais, como direitos trabalhistas. Reconheceu também os direitos

decorrentes ao estabelecer que “a especificação dos direitos e garantias expressos

nesta Constituição não exclui outros, resultantes do regime e dos princípios que ela
adota”.

3.4 Constituição de 1937: Houve a menção formal a um rol de direitos e aos direitos
decorrentes, mas que apenas serviam para camuflar a ditadura do Estado Novo. O

texto constitucional demonstrava a prevalência absoluta da razão de Estado sobre os

direitos humanos.

3.5 Constituição de 1946: Instaurou uma nova ordem democrática no Brasil, que se

encerraria somente com o golpe militar de 1964. Previa um rol dos “direitos e garantias

individuais”, com a cláusula de abertura dos direitos decorrentes. Enumerou vários

direitos sociais, inclusive o direito de greve, que havia sido proibido expressamente

pela Constituição de 1937.

3.6 Constituição de 1967: Previu formalmente um rol de direitos e garantias

individuais, fazendo remissão a outros direitos, decorrentes do regime e dos princípios


constitucionais. Trouxe a cláusula indeterminada do “abuso dos direitos individuais”,
que consistia ameaça latente aos inimigos do regime, determinando a possibilidade

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de suspensão de direitos individuais e políticos pelo prazo de dois a dez anos.

3.7 Constituição de 1988 (Constituição Cidadã): Com a redemocratização, houve

forte inserção de direitos e garantias no texto da futura Constituição. Ocorreu uma

mudança no perfil do Ministério Público, o qual deixou de ser vinculado ao Poder

Executivo e ganhou autonomia, independência funcional e a missão de defesa de


direitos humanos. Além disso, mencionou a Defensoria Pública tendo como função

precípua a justiça, criando mais um ente público comprometido com a defesa dos

direitos humanos. Ocorreu também a aceitação da internacionalização dos direitos


humanos, com a menção a tratados internacionais e também a um “tribunal

internacional de direitos humanos”.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. As Constituições brasileiras se mostraram com avanços e retrocessos em relação

aos direitos humanos. A esse respeito assinale a alternativa correta.

A) A Constituição de 1946 apresentou diversos retrocessos em relação aos direitos

humanos, principalmente no tocante aos direitos sociais.

B) A Constituição de 1967 consolidou arbitrariedades decretadas nos Atos

Institucionais, caracterizando diversos retrocessos em relação aos direitos humanos.

C) A Constituição de 1934 se revelou retrógrada ao ignorar normas de proteção social


ao trabalhador.

D) A Constituição de 1969, mesmo incorporando as medidas dos Atos Institucionais,

se revelou mais atenta aos direitos humanos que a Constituição de 1967.

Gabarito: 01-B.

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4. Direitos humanos na Constituição Federal de 1988

 No que tange aos Direitos Humanos, a Constituição de 1988, trouxe um robusto rol

de direitos em seu texto. Essas normas são obrigatórias e superiores às demais,

independentemente do grau de abstração que possuam. Ademais, a constituição


elenca, como fundamento da República, a dignidade humana (art. 1º, III), vejamos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e

Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem

como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Importante: Os fundamentos da República convergem para a proteção dos direitos

humanos, que é indispensável para o Estado Democrático de Direito brasileiro.

 Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil também se relacionam

com a proteção de direitos humanos, pois são finalidades da República a construção

de uma sociedade livre, justa e solidária; o desenvolvimento nacional; a erradicação


da pobreza e a marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais; e

ainda a promoção do promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Vejamos:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

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I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;


III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação.

 Ainda, a Constituição determinou que o Brasil deve cumprir, nas suas relações

internacionais, o princípio da “prevalência dos direitos humanos” (art. 4º, II).

 A Constituição de 1988 dividiu os direitos humanos, com base no seu Título II,

denominado “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, em cinco categorias, quais


sejam: a) direitos e deveres individuais e coletivos (art.5º); b) direitos sociais (art. 6º ao

11); c) direitos de nacionalidade (art. 12); d) direitos políticos (art. 14 ao 16); e e)

partidos políticos (art. 17).

 Além disso, essa enumeração de direitos humanos não é exaustiva, uma vez que os

direitos previstos não excluem outros decorrentes do regime e princípios da

Constituição, além dos que estão mencionados no restante do texto da Constituição

e em tratados de direitos humanos celebrados pelo Brasil. (art. 5º, §2º).

 O artigo 5º da Constituição Federal apresenta uma série de direitos e garantias que

são fundamentais à vida humana digna. Contudo, o caput do artigo apresenta cinco

direitos que possuem ainda mais importância e são basilares para o ordenamento
jurídico, vejamos:

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-

se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,


à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

a) Direito à vida

O direito humano fundamental à vida deve ser entendido como direito a um nível de

vida adequado com a condição humana, ou seja, direito à alimentação, vestuário,

assistência médico-odontológica, educação, cultura, lazer e demais condições vitais


(inciso III do artigo 5º, CF).

b) Direito à igualdade

O direito à igualdade consiste na exigência de um tratamento sem discriminação

odiosa, que assegure a fruição adequada de uma vida digna (inciso I do artigo 5º, CF).

c) Direito à liberdade

O indivíduo possui o direito de ir e vir, além da liberdade de crença e da liberdade de

expressão (incisos I, VI, X e XV do artigo 5º da Constituição Federal).

d) Direito à segurança

Diz respeito ao poder de punição do Estado, visando a proteção dos indivíduos. Mas
também diz respeito à proteção dos indivíduos em face do poder de punição do
Estado. Desse modo, prevê, por exemplo, que ninguém poderá ser punido por fato

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que não seja previsto em lei (inciso XXXIX do artigo 5º, CF).

e) Direito à propriedade

Além da previsão da propriedade como um direito de todos, a Constituição prevê que

a propriedade deverá atender ao princípio da função social (incisos XXII e XXIII do


artigo 5º da Constituição Federal).

 Direitos fundamentais estabelecidos nos incisos do art. 5º da CF:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre

exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,

independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião

anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à

autoridade competente;

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação

legal;

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

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XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena

de reclusão, nos termos da lei;

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

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LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento

voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Determinado congressista é flagrado afirmando em entrevista pública que não se

relaciona com pessoas de etnia diversa da sua e não permite que, no seu prédio

residencial, onde atua como síndico, pessoas de etnia negra frequentem as áreas
comuns, os elevadores sociais e a piscina do condomínio. Ciente desses atos, a ONG

TudoAfro relaciona as pessoas prejudicadas e concita a representação para fins

criminais com o intuito de coibir os atos descritos. À luz das normas constitucionais e

dos direitos humanos, é correto afirmar que

A) o crime de racismo é afiançável, sendo o valor fixado por decisão judicial.

B) o prazo de prescrição incidente sobre o crime de racismo é de vinte anos.

C) nos casos de crime de racismo, a pena cominada é de detenção.

D) o crime de racismo não está sujeito a prazo extintivo de prescrição.

Gabarito: 01-D.

5. A Constituição brasileira e os tratados internacionais de direitos humanos

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5.1 Conceito:

Tratados Internacionais de Direitos Humanos são, enquanto acordos internacionais

juridicamente obrigatórios e vinculantes, constituindo principal fonte de obrigação do

Direito Internacional.

5.2 Incorporação dos Tratados Internacionais:

Para que um tratado obrigue o Estado brasileiro internamente ele deverá passar por
quatro fases. São elas:

a) assinatura internacional: é iniciada com as negociações do teor do futuro tratado,


que são consideradas atribuição do Chefe de Estado (Presidente). Com a assinatura, o

Estado manifesta sua predisposição em celebrar, no futuro, o texto do tratado. A

assinatura, em geral, não vincula o Estado brasileiro, sendo necessário o referendo do

Congresso Nacional.

b) aprovação pelo Congresso Nacional: O trâmite é iniciado pela Câmara dos

Deputados, e, após a aprovação no plenário da Câmara, o projeto é apreciado no

Senado.

Importante: Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil ainda não está

vinculado àquelas disposições.

c) ratificação e depósito: Após a aprovação do Congresso Nacional, querendo, o


Presidente da República pode celebrar o tratado em definitivo. A aprovação do

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Congresso Nacional é uma autorização para que o Estado se obrigue

internacionalmente. De posse dessa autorização, é feito o depósito do tratado


internacional assinado pelo Presidente da República, que será anexado ao tratado

firmado, junto ao órgão responsável.

Importante: A partir da ratificação e do depósito, o tratado internacional passa a


vincular o Estado no cenário internacional.

d) promulgação: Para que se dê validade no âmbito interno, deve ser editado o

Decreto pelo Presidente da República e referendado pelo Ministro das Relações


Exteriores. A promulgação do tratado internacional internamente consiste na

transformação do tratado internacional em lei interna do país.

 Teoria da Junção ou Teoria dos Atos Complexos: A constituição de 1988 dispôs

que a participação brasileira na formação do Direito Internacional é da União (art. 21,

I). Mas para a formação da vontade brasileira em celebrar tratado internacional e para

a sua incorporação é exigido um procedimento complexo que une a vontade

concordante dos Poderes Executivo e do Legislativo (art. 84, VIII e 49, I).

5.3 Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos

Após todo trâmite de internalização dos tratados internacionais dentro da ordem


interna, sabemos que o tratado vincula o Estado assim como qualquer outra lei que

componha nosso ordenamento jurídico.

 Teoria do Duplo Estatuto dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos:

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 Artigo 5º, § 3º da Constituição Federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45,

de 2004):

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem

aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos

votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

A Teoria do Duplo Estatuto dos Tratados de Direitos Humanos é a que prevalece

nos dias atuais, adotada pelo STF:

a) natureza constitucional para os aprovados pelo rito do artigo 5º, §3º;

b) natureza supralegal (acima da lei ordinária e inferior a constituição) para todos os


demais, que sejam anteriores ou posteriores à Emenda Constitucional nº 45/2004, e

que tenham sido aprovados pelo rito comum (maioria simples, turno único em cada

Casa do Congresso).

Importante: os tratados internacionais de Direitos Humanos aprovados com o quórum

qualificado previsto no art. 5º, §3º, da Constituição Federal, não são emendas

constitucionais, mas possuem status de emendas constitucionais.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Considere a seguinte informação jurisprudencial: “Súmula Vinculante nº 25 do

STF>: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.” Os debates no STF que levaram à alteração de sua própria jurisprudência e
à adoção da Súmula acima consagraram a prevalência do Pacto de São José da Costa

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Rica e de sua proibição de prisão civil (Artigo 7º, item 7, do Pacto).

Assinale a opção que contém a tese majoritária que fundamentou a decisão do STF.

A) A natureza supraconstitucional das Convenções de Direitos Humanos já que estas

são universais e possuem força vinculante.

B) A natureza constitucional das Convenções de Direitos Humanos que no Brasil


decorre do Artigo 5º, § 2°, da Constituição de 1988.

C) A natureza supralegal das Convenções de Direitos Humanos que faz com que elas

sejam hierarquicamente superiores ao código civil e ao de processo civil.


D) A natureza de lei ordinária das Convenções de Direitos Humanos, considerando

que lei posterior revoga lei anterior.

Gabarito: 01-C.

6. Direitos humanos e responsabilidade do Estado

6.1 Conceito:

A responsabilidade do Estado é a imputação a este último de efeitos do ordenamento

jurídico, quando sucede determinado acontecimento (ilícito). Assim a

responsabilidade do Estado na seara dos Direitos Humanos surge quando da omissão


ou ação do Estado em relação a atos atentatórios a esses direitos, acarretando ao ente

violador o dever de reparar os prejuízos decorrentes de sua conduta.

Importante: A responsabilidade do Estado em face de violação de uma norma de


direitos humanos é objetiva, ou seja, responde independentemente de culpa,

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bastando apenas a comprovação do nexo causal entre a conduta e o dano.

6.2 Proteção dos Direitos Humanos:

 Âmbito doméstico: Constituição Federal e demais Leis.

 Âmbito Internacional: Sistema Global (ONU) e Sistema Interamericano (OEA).

6.3 Incidente de Deslocamento de Competência (IDC):

"Art. 109, § 5º - Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-

Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações

decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja


parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do

inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça

Federal."

6.4 Responsabilidade internacional do Estado:

O Brasil, ao ratificar tratados internacionais de direitos humanos, dada a teoria geral

da responsabilidade internacional do Estado, tem a obrigação internacional de

respeitar e garantir direitos humanos devendo zelar que os atos do poder executivo,
as decisões do poder judiciário e as normas constitucionais legais sejam compatíveis

com os direitos elencados nesses tratados.

Ante uma violação de direitos humanos impõe-se primeiramente a responsabilidade


interna do Estado (primária), entretanto quando há omissão ou demora na solução do

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litígio o Estado pode ser responsabilizado internacionalmente. Por isso a

responsabilização internacional do Estado é subsidiária, ou seja, só caberá quando o


Estado falhou internamente.

6.4.1 Requisitos para responsabilização internacional do Estado:

a) Um comportamento em violação de um dever internacional, sempre imputável a

um ou mais Estados, denominado ilícito internacional, consistente numa ação ou

omissão;

b) A existência de um dano físico ou moral, causado a outros Estados, sua integridade

territorial ou a bens a estes pertencentes ou, ainda, a pessoas ou propriedade dos


nacionais destes;

c) Um nexo de causalidade normativa entre dano e ilícito, o qual institui um dever de

reparar o seu autor e cria ao ofendido um direito subjetivo de exigir uma reparação;

d) Omissão ou demora interna na solução do litígio.

6.4.2 Finalidades da Responsabilização:

a) Preventiva (coagir os Estados a observar as obrigações assumidas);

b) Repreensão (busca reparar atos ilícitos praticados pelos Estados);

c) Limitativa (busca impor limites à atuação violadora de direitos humanos por parte
dos Estados).

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6.4.3 Sujeitos:

a) Estado (sujeito ativo);

b) Pessoas ou comunidades atingidas pela violação (sujeito passivo).

Importante: o Estado é sujeito ativo como regra, mas quando o Estado não age
internamente (omissão ou demora) ante uma violação de direitos humanos por parte

de indivíduos ou grupo de indivíduos o ente responderá indiretamente.

6.4.4 Dever de reparar:

Reparação é toda e qualquer conduta do Estado infrator para eliminar as


consequências do fato internacionalmente lícito, o que compreende uma série de atos,

inclusive as garantias de não-repetição. É o retorno ao status quo ante da essência da

reparação.

Como exemplos de satisfação pode-se colocar o pedido de desculpas, admissão da

responsabilidade internacional do Estado, a garantia de não repetição e ainda, o

pagamento de uma soma simbólica pela conduta.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. O STJ decidiu, no dia 10/12/2014, que uma causa relativa à violação de Direitos

Humanos deve passar da Justiça Estadual para a Justiça Federal, configurando o

chamado Incidente de Deslocamento de Competência. A causa trata do


desaparecimento de três moradores de rua e da suspeita de tortura contra um quarto
indivíduo. Desde a promulgação da Emenda 45, em 2004, essa é a terceira vez que o

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STJ admite o Incidente de Deslocamento de Competência.

De acordo com o que está expressamente previsto na Constituição Federal, a


finalidade desse Incidente é o de:

A) garantir o direito de acesso à Justiça.

B) assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de


Direitos Humanos dos quais o Brasil seja parte.

C) combater a morosidade de órgãos da Administração Pública e do Poder Judiciário.

D) combater a corrupção em entes públicos dos Estados e do Distrito Federal.

02. Em maio de 1996, o Brasil instituiu seu primeiro Programa Nacional de Direitos

Humanos (PNDH 1). Na Introdução do PNDH 2, adotado em maio de 2002, vem escrito
o seguinte: “Entre as principais medidas legislativas que resultaram de proposições do

PNDH figuram... a transferência da justiça militar para a justiça comum dos crimes

dolosos contra a vida praticados por policiais militares (Lei 9.299/96), que permitiu o

indiciamento e o julgamento de policiais militares em casos de múltiplas e graves

violações como os do Carandiru, Corumbiara e Eldorado dos Carajás; a tipificação do

crime de tortura (Lei 9.455/97), que constituiu marco referencial para o combate a essa

prática criminosa no Brasil; e a construção da proposta de reforma do Poder Judiciário,

na qual se inclui, entre outras medidas destinadas a agilizar o processamento dos

responsáveis por violações, a chamada ‘federalização’ dos crimes de direitos


humanos.”

Em relação ao último ponto descrito, é correto dizer que a federalização contra os

crimes de direitos humanos pode ocorrer apenas no seguinte caso:

A) havendo indício de violação de direitos humanos previstos na legislação nacional

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ou nos tratados internacionais.

B) havendo grave violação de direitos humanos previstos nos tratados internacionais


de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.

C) havendo violação das leis protetivas dos direitos humanos, tais quais as leis citadas

na Introdução do PNDH 2.

D) havendo grave violação dos direitos humanos previstos na Constituição Federal.

Gabarito: 01-B; 02-B.

7. O sistema internacional de proteção dos direitos humanos

7.1 Primeiros precedentes do processo de internacionalização dos Direitos


Humanos

a) Direito Humanitário: constitui o componente de direitos humanos da lei da

guerra, sendo o direito que se aplica na hipótese de guerra no intuito de fixar limites

à atuação do Estado e assegurar a observância de direitos fundamentais. A proteção

humanitária se destina aos militares postos fora de combate e as populações civis.

b) Liga das Nações: foi criada após a Primeira Guerra Mundial, e tinha como finalidade

promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando agressões


externas contra a integridade territorial e a independência política de seus membros.

c) Organização Internacional do Trabalho (OIT): foi criada após a Primeira Guerra


Mundial e tem como finalidade promover padrões internacionais de condições de
trabalho e bem-estar.

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7.2 A internacionalização dos direitos humanos - o pós-guerra

A verdadeira consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos surge em

meados do século XX, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. O moderno Direito

Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra, e seu


desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos

da era Hitler e à crença de que parte dessas violações poderia ser prevenida se um

efetivo sistema de proteção internacional dos direitos humanos já existisse, o que


motivou o surgimento da Organização das Nações Unidas, em 1945.

Nesse sentido, os direitos humanos tornam-se uma legítima preocupação


internacional com o fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação das Nações

Unidas, com a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembléia

Geral da ONU, em 1948 e, como consequência passam a ocupar um espaço central na

agenda das instituições internacionais.

a) A Carta das Nações Unidas de 1945 (ONU)

A Carta das Nações Unidas ou Carta de São Francisco é o acordo que formou a

Organização das Nações Unidas logo após a Segunda Guerra Mundial, em


substituição à Liga das Nações, como entidade máxima da discussão do direito

internacional e fórum de relações e entendimentos supranacionais.

a.1) Principais órgãos das Nações Unidas:

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Assembleia Geral: sua função é discutir e fazer recomendações relativamente a

qualquer matéria objeto da carta. Todos os membros das Nações Unidas são membros
da Assembleia Geral, com direito a um voto.

Conselho de Segurança: sua principal responsabilidade é a manutenção da paz e da

segurança internacional.

Corte Internacional de Justiça: é o principal órgão judicial das Nações Unidas,


possuindo competência contenciosa e consultiva, contudo, somente os Estados são

partes em questões perante ela.

Secretariado: é chefiado pelo Secretário-Geral, que é o principal funcionário


administrativo da ONU.

Conselho de Tutela: sua função é fomentar o processo de descolonização e de

autodeterminação dos povos, a fim de que territórios tutelados pudessem alcançar,


por meio de desenvolvimento progressivo, governo próprio.

Conselho Econômico e Social: é competente para promover a cooperação em

questões econômicas, sociais e culturais, incluindo os direitos humanos.

a.2) Finalidades da ONU

 Manutenção da paz e segurança internacionais.

 Promoção de relações amigáveis entre os países, observando igualdade entre

os países e a autodeterminação dos povos.

 Promoção e estímulo ao respeito dos direitos humanos e às liberdades


fundamentais.

 Busca pela harmonização das ações dentro da ONU para a consecução de

objetivos comuns.

a.3) Princípios da ONU

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 Princípio da igualdade

 Princípio da boa fé
 Princípio da paz, a segurança e a justiça internacionais

 Princípio da assistência

 Princípio da concordância implícita

 Princípio da não intervenção interna

b) Declaração Universal dos Direitos Humanos 1948

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 10 de dezembro de

1948, pela aprovação de 48 Estados, com 8 abstenções (Bielo-rússia, Checoslováquia,

Polônia, Arábia Saudita, Ucrânia, URSS, África do Sul e Iugoslávia). O documento é o


principal instrumento do sistema global. A inexistência de qualquer questionamento

ou reserva feita pelos Estados aos princípios da Declaração, bem como de qualquer

voto contrário às suas disposições, confere à Declaração Universal o significado de um

código e plataforma comum de ação.

A Declaração objetiva delinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à

dignidade humana, ao consagrar valores básicos universais.

b.1) Natureza Jurídica:

A DUDH não é um tratado. Foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas sob

a forma de resolução.

A respeito da força jurídica da DUDH há divergência doutrinária, existindo duas teorias

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para essa questão, vejamos:

1. Por não ser um tratado ela não gera obrigação ao Estados, ou seja, ela não tem

força vinculante, mas sim de uma Resolução da ONU, sendo portanto uma

recomendação/orientação aos Estados, não possuindo força de Lei.

2. Ainda que não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica

obrigatória e vinculante, na medida em que constitui a interpretação autorizada da

expressão “direitos humanos” constante da Carta das Nações Unidas. Assim os


Estados-membros das Nações Unidas têm a obrigação de promover o respeito e a

observância universal dos direitos proclamados pela Declaração.

Professora Flavia Piovesan.

b.2) Estrutura:

1º dimensão - Artigos 1º ao 21 – Direitos civis e políticos

2ª dimensão– Artigos 22 ao 30 – Direitos sociais, econômicos e culturais

3º Dimensão – Não há previsão expressa, mas algumas referências.

b.3) Direitos expressos na DUDH

 vida, liberdade e segurança pessoal;


 proibição de escravidão e servidão;

 proibição de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante;

 reconhecimento como pessoa;


 igualdade;
 proibição de prisão arbitrária;

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 justa e pública audiência perante um tribunal independente e imparcial;

 presunção de inocência;
 vida privada;

 liberdade de locomoção;

 direito de asilo, que não pode ser invocado em caso de perseguição

legitimamente motivada por crime de direito comum;


 direito a ter uma nacionalidade;

 contrair matrimônio e fundar uma família;

 propriedade;
 liberdade de pensamento, consciência e religião;

 liberdade de reunião e associação pacífica;

 fazer parte do governo do país;


 acesso ao serviço público do país;

 segurança social;

 trabalho;

 repouso e lazer;

 padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e à sua família, saúde e bem-estar,

inclusive alimentação vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços

sociais indispensáveis;

 instrução (educação); e participar livremente da vida cultural.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Sobre o sistema global de proteção dos Direitos Humanos, assinale a afirmativa
correta.

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A) O Direito Humanitário, a Organização Internacional do Trabalho e a Liga das

Nações são considerados os principais precedentes do processo de


internacionalização dos direitos humanos, uma vez que rompem com o conceito de

soberania, já que admitem intervenções nos países em prol da proteção dos direitos

humanos.

B) A Declaração Universal dos Direitos Humanos juntamente com a adoção do Pacto


Internacional dos Direitos Civis e Políticos formam a Carta Internacional dos Direitos

Humanos, podendo um Estado adotar ou não os seus postulados.

C) O sistema global restringe-se à Carta Internacional dos Direitos Humanos. Outros


tratados multilaterais sobre Direitos Humanos, que se referem a violações específicas

de direitos, tais como Convenção Internacional contra a Tortura, são facultativos e,

consequentemente, não são considerados como parte do sistema global.


D) O sistema global é composto por mecanismos não- convencionais de proteção dos

direitos humanos. Tais mecanismos são aqueles criados por convenções específicas

de Direitos Humanos, de adoção facultativa para os Estados.

02. A respeito da internacionalização dos direitos humanos, assinale a alternativa

correta.

A) Já antes do fim da II Guerra Mundial ocorreu a internacionalização dos direitos

humanos, com a limitação dos poderes do Estado a fim de garantir o respeito integral
aos direitos fundamentais da pessoa humana.

B) A limitação do poder, quando previsto na Constituição, garante por si só o respeito

aos direitos humanos.


C) A criação de normas de proteção internacional no âmbito dos direitos humanos
possibilita a responsabilização do Estado quando as normas nacionais forem omissas.

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D) A internacionalização dos direitos humanos impõe que o Estado, e não o indivíduo,

seja sujeito de direitos internacional.

Gabarito: 01-A; 02-C.

8. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos

Após a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, instaurou-se

larga discussão sobre qual seria a maneira mais eficaz de assegurar o reconhecimento
e a observância universal dos direitos nela previstos. Assim, a DUDH foi “juridicizada”

sob a forma de tratado internacional. Esse processo aconteceu com a elaboração de

dois tratados internacionais distintos – o Pacto Internacional dos Direitos Civis e


Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – que

passaram a incorporar os direitos constantes da Declaração Universal.

A Carta Internacional dos Direitos Humanos inaugura, assim, o sistema global de

proteção desses direitos, ao lado do qual já se delineava o sistema regional de

proteção, nos âmbitos europeu, interamericano e, posteriormente, africano.

Atente-se que o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com seus inúmeros

instrumentos, não pretende substituir o sistema nacional. Ao revés, situa-se como


direito subsidiário e suplementar ao direito nacional, no sentido de permitir sejam

superadas suas omissões e deficiências.

8.1 Conceito:

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É uma estrutura internacional, composta por pactos, tratados, convenções,

declarações, comissões, que contêm mecanismos apropriados de acompanhamento,


fiscalização e cobrança de informações dos países signatários acerca das ações

protetivas e afirmativas de tutela dos direitos humanos, gerida tanto por órgãos

da ONU quanto por órgãos previstos em tratados diversos apoiados pela ONU.

8.2 Atuação da ONU

A ONU atua diretamente (órgãos internos) e indiretamente (órgãos independentes,


previstos em tratados elaborados sob patrocínio da ONU).

8.2.1 Órgãos e entes internos da ONU de proteção:

a) Conselho de Direitos Humanos: Criado em 2006, sucede a Comissão de Direitos

Humanos, é um órgão vinculado a Assembléia Geral da ONU, e possui 47 Estados-

membros. Tem como funções a promoção e fiscalização da observância da proteção

de direitos humanos pelos Estados da ONU.

b) Relatorias Especiais de Direitos Humanos: são compostas de especialistas que, a

título pessoal e com independência, são escolhidos pelo Conselho de Direitos

Humanos. A função é investigar situações de violação de direitos humanos, efetuar

visitas in loco (com a anuência do Estado), bem como elaborar relatórios finais
contendo recomendação de ações aos estados.

c) Alto Comissariado de Direitos Humanos: Dentre outras funções, compete a este

órgão promover e proteger o efetivo gozo de todos os direitos civis, políticos,


econômicos, culturais e sociais; realizar as tarefas a ele atribuídas pelos órgãos
competentes do sistema das Nações Unidas no campo dos direitos humanos, bem

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como fazer recomendações a eles para aperfeiçoar a promoção e proteção de todos

os direitos humanos; promover e proteger a realização do direito ao desenvolvimento


e aumentar o apoio de órgãos relevantes do sistema das Nações Unidas para esse

propósito; fornecer serviços de consultoria e assistência técnica e financeira, a pedido

do respectivo Estado, e, quando apropriado, de organizações regionais de direitos

humanos, com o intuito de apoiar ações e programas no campo de direitos humanos.

8.2.2 Órgãos e entes externos, criados por tratados diversos elaborados com

incentivo explícito da ONU e que recebem apoio da ONU:

a) Comitês criados por tratados internacionais de âmbito universal: são

responsáveis por auxiliar os Estados-parte no monitoramento e na efetiva


implementação dos direitos estabelecidos na Convenção, além de recomendar

medidas e políticas futuras a serem adotadas por eles. São responsáveis, também, por

analisar os Relatórios Periódicos enviados pelos Estados Parte.

b) Tribunal Penal Internacional: Também chamado “Estatuto de Roma”, é um

tribunal independente da ONU, com personalidade jurídica própria, criado para julgar

crimes de genocídio; os crimes contra a humanidade; os crimes de guerra; e o crime

de agressão no âmbito internacional.

8.3 Tratados internacionais do Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos

a) Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos:

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 Foi adotado em 16/12/1966 pela XXI Sessão da Assembleia Geral das Nações

Unidas, mas só entrou em vigor internacionalmente em 1976, possuía, em 2018, 172


Estados-partes.

 No Brasil, o Pacto foi promulgado pelo Decreto nº 592, de 06 de julho de 1992.

 No pacto é criado um mecanismo de monitoramento em forma de relatórios sobre

as medidas adotadas para tornar efetivos os direitos civis e políticos ao Comitê de

Direitos Humanos, bem como sistema de comunicações interestatais, que são


submetidas ao exame do Comitê.

 Os principais direitos garantidos pelo tratado são:

 direito à vida;

 direito de não ser submetido à tortura, a penas ou tratamentos cruéis, nem a

experiências médicas ou científicas sem seu livre consentimento;

 direito à liberdade e à segurança pessoais e de não ser preso ou encarcerado

arbitrariamente, nem privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei;

 direito de que toda pessoa privada de liberdade seja tratada com humanidade e

respeito à dignidade da pessoa humana;

 direito de não ser preso apenas por não poder cumprir com um obrigação
contratual;

 direito à livre circulação, direito de sair livremente de qualquer país e de não ser

privado arbitrariamente de entrar em seu próprio país;

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 direito de não ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de

acordo com o direito nacional ou internacional, irretroatividade da lei penal mais


gravosa e a retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu;

 direito ao reconhecimento da personalidade jurídica;

 direito a não ser alvo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida nem de

ofensas ilegais às suas honra e reputação;


 liberdade de pensamento, de consciência e religião; direito de reunião;

 direito de associação pacífica;

 direito de contrair casamento e constituir família;


 direitos específicos das crianças; (nacionalidade, nome e a medidas de proteção

sem discriminação).

 direito de participação política, direito à igualdade, dentre outros.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. O padrasto de Ana Maria, rotineiramente, abre sua correspondência física e entra

em sua conta de e-mail sem autorização, ainda que a jovem seja maior de idade.

Cansada dessa ingerência arbitrária e sem o amparo de sua própria mãe, a jovem

busca apoio na organização de direitos humanos em que você atua.

Com base no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), assinale a

opção que indica o esclarecimento correto que você, como advogado(a), prestou a
Ana Maria.

A) O Pacto prevê a prevalência do poder familiar nas relações familiares e, como a


conduta do padrasto tem a concordância da mãe de Ana Maria, ainda que seja
incoveniente, essa conduta não pode ser considerada uma violação de direitos.

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B) O Pacto assegura o direito à privacidade nas relações em gerais, mas nas relações

especificamente familiares admite ingerências arbitrárias se forem voltadas para a


proteção e o cuidado.

C) O Pacto dispõe que ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais

em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência.

D) O Pacto é omisso em relação à prática de ingerências arbitrárias na vida privada e


na família, tratando apenas da proteção da privacidade na vida pública e em face da

conduta do Estado.

Gabarito: 01-C.

a.1) Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos

 O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi

adotado pela Resolução da Assembleia Geral da ONU – na mesma ocasião em que o

Pacto foi adotado – em 16 de dezembro de 1966, com a finalidade de instituir

mecanismo de análise de petições de vítimas ao Comitê de Direitos Humanos por

violações a direitos civis e políticos previstos no Pacto. Possui, em 2018, 116 Estados

partes.

a.2) Segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e


Políticos

 Com vistas à Abolição da Pena de Morte foi adotado e proclamado pela Resolução
nº 44/128 da Assembleia Geral da ONU, de 15 de dezembro de 1989. No Brasil foi
aprovado junto do Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e

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Políticos, em 16 de junho de 2009, pelo Decreto Legislativo nº 311/2009, com a reserva

expressa no art. 2º. Possui, em 2018, 85 Estados partes.

 Esse dispositivo (art. 2º) prevê não ser admitida qualquer reserva ao Segundo

Protocolo, exceto se for formulada no momento da ratificação ou adesão, que preveja

a aplicação da pena de morte em virtude de condenação por infração penal de


natureza militar de gravidade extrema cometida em tempo de guerra.

 Com a reserva expressa feita pelo Brasil, o Segundo Protocolo ficou compatível com
o dispositivo da Constituição de 1988 que veda a pena de morte, salvo em caso de

guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX (art. 5º, XLVII, a).

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Em atos de violência que provocam grande comoção social, é comum que setores

da mídia, parte da opinião pública e algumas personalidades políticas reclamem por

mudanças na ordem jurídica, a fim de que seja implantada a pena de morte como

sanção penal.

Em relação à pena de morte, segundo o Protocolo Adicional ao Pacto dos Direitos


Civis e Políticos, devidamente ratificado pelo Brasil, assinale a afirmativa correta.

A) É permitida apenas nos casos mais graves de extrema violência contra a pessoa,
desde que respeitado o devido processo legal.

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B) É proibida em qualquer i hipótese, pois o direito à vida é inerente à pessoa humana

e tal direito deve ser respeitado e protegido pela lei.


C) É permitida apenas para os países que já haviam adotado a pena de morte antes

de ratificarem o Protocolo, desde que reservada para os crimes mais graves e que a

sentença tenha sido proferida pelo Tribunal competente

D) É proibida de forma geral, admitindo, como exceção, apenas para o caso de


infração penal grave de natureza militar e cometida em tempo de guerra, desde que

o Estado Parte tenha formulado tal reserva no ato da ratificação do Protocolo.

Gabarito: 01 – D.

b) Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais:

 Foi adotado em 19/12/1966 pela XXI Sessão da Assembleia Geral da Nações Unidas,

mas só entrou em vigor em 1976, possuía, em 2018, 169 Estados-partes.

 O Brasil não obstante tenha participado de forma ativa na sua elaboração, só

aprovou o texto do tratado por meio do Decreto Legislativo nº 226, de 12 de

dezembro de 1991. A Carta de Adesão ao PIDESC foi depositada em 24 de janeiro de

1992 e o Pacto entrou em vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, três meses após

a data do depósito, conforme determina seu art. 27, parágrafo 2º. Em 6 de julho de
1992, o PIDESC foi promulgado pelo Decreto nº 591, que entrou em vigor interno na

data de sua publicação, em 7 de julho de 1992.

 Fruto do seu tempo, o PIDESC reconheceu que os direitos sociais em sentido amplo
são de realização progressiva, devendo os Estados dispor do máximo dos recursos

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disponíveis para a sua efetivação, o que não exclui a obrigatoriedade de sua promoção

e, após, a proibição do retrocesso social. Assim, os direitos previstos no PIDESC são (i)
obrigatórios, bem como (ii) após sua implementação estão protegidos pela proibição

do retrocesso.

 Como mecanismo de monitoramento foi previsto sistema de relatórios periódicos


ao Conselho Econômico e Social (ONU).

 Os principais direitos garantidos nesse tratado são:

 o direito ao trabalho;

 ao gozo de condições de trabalho equitativas e satisfatórias;


 direito de toda a pessoa à previdência social;

 direito de toda pessoa fundar sindicatos e filiar-se àqueles de sua escolha;

 direito de greve;

 direito à proteção e assistência familiar, especialmente a mães e crianças;

 direito a um nível adequado de vida;

 direito à saúde física e mental;

 direito à educação;

 direito de participar da vida cultural, desfrutar o processo científico e suas

aplicações, bem como beneficiar-se da proteção de interesses morais e


materiais decorrentes de toda a produção científica, literária ou artística de que

seja autor.

b.1) Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais


e Culturais

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 Foi aprovado em 10 de dezembro de 2008 pela Assembleia Geral da ONU, atingindo


o mínimo de 10 ratificações, o Protocolo entrou em vigor em 2013, mas o Brasil ainda

não o ratificou. Possui, em 2018, somente, 23 Estados partes.

 Tal pacto teve apenas um protocolo facultativo o qual trouxe sistema de petições,
conjuntamente com o procedimento de investigação e as medidas provisionais

(cautelares), dessa forma inseriu formalmente o Comitê para recebimento de petições

individuais ou de interesse de indivíduos ou grupo de indivíduos (quando esgotados


os mecanismos internos ou em caso de demora injustificada).

 Introduziu também o mecanismo de comunicação interestatal, por meio do qual se


reconhece a competência do Comitê para receber comunicações em que o Estado-

parte alega que outro não está cumprindo as obrigações previstas no Pacto.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Você, advogado, foi contratado por um grupo de organizações de defesa dos

Direitos Humanos para emitir um parecer jurídico quanto à viabilidade técnica da

seguinte proposta: tendo em vista que em 2013 entrou em vigor o Protocolo

Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC),


as organizações pretendem criar um programa conjunto que envie comunicações

individuais ao comitê do PIDESC no caso de jovens que tentaram por todos os meios,

mas não conseguiram matrícula em escolas de ensino médio com ensino técnico ou
profissionalizante. Dessa forma o Comitê ao receber a comunicação, sendo esta

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admissível, poderá fazer recomendações ao Estado-parte que deverá implantá-las em

seis meses.

Assinale a opção que caracteriza o parecer mais adequado para o caso.

A) O PIDESC faz uma previsão genérica de garantia da educação e prevê


expressamente o ensino fundamental, mas não faz qualquer menção ao ensino

técnico e profissional como sendo um direito que deve ser assegurado pelos estados-

partes. Por isso o Programa não pode ser implementado.


B) O Programa proposto não pode ser implementado pois de acordo com o Protocolo

ao PIDESC apenas o indivíduo que for a vítima pode submeter diretamente a

comunicação. Em nenhuma hipótese o autor da comunicação pode ser alguém que


não seja a vítima .

C) Embora a proposta seja interessante e adequada tanto ao escopo do PIDESC

quanto ao Protocolo Facultativo, ela não pode ser realizada, pois o Brasil, até a

presente data, não ratificou o Protocolo Facultativo e, portanto, o Comitê não está

autorizado a receber comunicações individuais em face do Estado brasileiro.

D) O Programa proposto pelas organizações de defesa dos direitos humanos atende

tanto uma demanda da realidade brasileira quanto às disposições previstas no PIDESC

e no Protocolo Facultativo ao PIDESC, de forma que pode ser plenamente

implementado.

Gabarito: 01-C.

c) Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio:

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 Foi proposta e aprovada em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas,

possuindo, até 2018, 149 Estados-partes. Entrou em vigor internacionalmente em


1951. É composta por 19 artigos.

 No Brasil, a Convenção foi promulgada pelo Decreto nº 30.822 em 6 de maio de

1952.

 O primeiro artigo traz que o genocídio, quer seja cometido em tempo de paz, quer

em tempo de guerra, é um crime internacional, e os Estados Contratantes se


comprometem, por meio dela, a preveni-lo e a puni-lo.

 Em seu artigo 2º a convenção define o que é genocídio, o qual consiste na prática


de quaisquer atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um

grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tais como: 1. Assassinato de membros do

grupo; atentado grave à integridade física e mental de membros do grupo; 2.

Submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua

destruição física, total ou parcial; 3. Medidas destinadas a impedir os nascimentos no

seio do grupo; e a 4. Transferência forçada das crianças do grupo para outro grupo.

 Pune-se não só o genocídio, mas também o acordo com vista a cometê-lo, o seu

incitamento direto e público, a tentativa e a cumplicidade nele, podendo se punir


tanto governantes e funcionários, quanto a particulares.

 Por meio da convenção as partes ficam obrigadas a adotar as medidas legislativas


necessárias para assegurar sua aplicação, especialmente para prever sanções penais
eficazes.

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COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. A Resolução 96 (I), de 11 de dezembro de 1946, da Assembleia Geral da

Organização das Nações Unidas declarou que o genocídio é um crime contra o Direito

Internacional.

Nesse passo, a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio

afirmou que

A) as partes contratantes da Convenção confirmam que o genocídio configura crime

contra o Direito Internacional, exceto se cometido em tempo de guerra.


B) o genocídio é entendido como o assassinato de membros de um grupo nacional,

étnico, racial ou religioso, com a intenção de destruí-lo no todo, não se entendendo

como tal, dano grave à saúde do grupo.

C) os atos tentados ou consumados, bem como a cumplicidade para cometer

genocídio, serão punidos, mas a incitação ao cometimento de genocídio, ainda que

direta e pública, não será punida.

D) a transferência forçada de menores de um grupo religioso para outro grupo

religioso, cometida com a intenção de destruir aquele, considera-se genocídio.

Gabarito: 01-D.

d) Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados e Protocolo Facultativo:

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 Concluída em Genebra em 1951, até 2018, possuía 145 Estados-partes. No Brasil, a

presente Convenção foi aprovada pelo Congresso nacional pelo Decreto Legislativo
nº 11, de 7 de julho de 1960, com a exclusão dos seus artigos 15 (direito de associação)

e 17 (exercício de atividade profissional assalariada). Em 15 de novembro de 1960, foi

depositado junto ao Secretário-Geral da ONU o instrumento de ratificação, e a

Convenção foi promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961.

 Em 1967, foi adotado o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados, que eliminou a

limitação temporal imposta pela Convenção (limitação temporal em relação ao


conceito de refugiado para acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951),

esse protocolo foi promulgado internamente com o Decreto nº 70.946 de 7 de agosto

de 1972. No que tange a barreira geográfica (limitação geográfica em relação ao


conceito de refugiados adstritos a eventos ocorridos na Europa) esta só foi derrubada

em 19 de dezembro de 1989, por meio do Decreto nº 98.602. Já pelo Decreto nº

99.757, de 1990, o Governo brasileiro retirou as reservas aos artigos 15 e 17 da

Convenção.

 Assim, combinando o que determina o art. 1º do Protocolo com o art. 1º da

convenção, pode-se definir refugiado como:

 pessoa que é perseguida ou tem fundado temor de perseguição;


 por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social, ou opiniões políticas

e encontra-se fora do país de sua nacionalidade ou residência,

 e que não pode ou não quer voltar a tal país em virtude da perseguição ou
fundado temor de perseguição.

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 A Convenção não é aplicável a pessoas que cometeram um crime contra a paz, um

crime de guerra ou um crime contra a humanidade, que cometeram um crime grave


de delito comum fora do país de refúgio antes de serem nele admitidas como

refugiados e que se tornaram culpadas de atos contrários aos fins e princípios das

Nações Unidas.

 Principais direitos assegurados pela Convenção e seu respectivo Protocolo:

 Direito dos refugiados de receberem dos Estados-partes tratamento pelo


menos tão favorável como o que é proporcionado aos nacionais no que concerne

à liberdade de praticar sua religião e no que concerne à liberdade de instrução

religiosa dos seus filhos;


 Direitos de associação, quanto a associações sem fins lucrativos e lucrativos e

a sindicatos profissionais;

 direito de propugnar em juízo, assegurando-se o livre e fácil acesso aos

tribunais, com o mesmo tratamento recebido por um nacional, incluindo-se aí

assistência judiciária;

 direito a receber o mesmo tratamento dispensado ao estrangeiro no exercício

de empregos remunerados;

 direito a receber tratamento concedido ao nacional em caso de racionamento

de produtos de que há escassez;


 direito a receber tratamento concedido ao nacional em matéria de assistência

e de socorros públicos;

 direito a receber tratamento concedido ao nacional em matéria de ensino


primário. Quanto aos graus de ensino superiores ao primário, os Estados devem
dar aos refugiados um tratamento tão favorável quanto possível, e em todo caso

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não menos favorável do que aquele que é dado aos estrangeiros em geral, nas

mesmas circunstâncias.

 direito de receber o mesmo tratamento dado aos nacionais quanto à legislação

do trabalho e previdência social;

 direito de receber do Estado Contratante documento de identidade, quando


não possua documento de viagem válido, e documentos de viagem para viajar

para fora do território;

 direito à liberdade de movimento para escolha da residência e para circulação


no território de livremente, com as reservas aplicáveis aos estrangeiros, entre

outros direitos.

e) Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Pena Cruéis, Desumanos

ou Degradantes:

 Adotada em 1984, em Nova Iorque, até 2018, tinha 163 Estados-partes.

 Foi assinada pelo Brasil em 23 de novembro de 1985; aprovada pelo Congresso

Nacional por meio do Decreto nº 4, de 23 de maio de 1989; ratificada em 28 de

setembro de 1989 e, finalmente, promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro

de 1991.

 Possui 33 artigos, dentre os quais, se define tortura como sendo “qualquer ato pelo

qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente


a uma pessoa, por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência, a fim

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de: obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; castigá-la por

ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido;
intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado

em discriminação de qualquer natureza”.

 Ainda, de acordo com o Pacto o Estado deve tomar medidas eficazes de caráter
legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de

atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição, circunstâncias excepcionais,

tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer


outra emergência pública, não poderão ser invocadas como justificativa para a tortura

em nenhum caso, nem a ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade

pública.

 Além disso, a criminalização de todos os atos de tortura deve ser concretizada por

todo Estado-parte.

 Qualquer pessoa processada por qualquer dos crimes previstos na Convenção

receberá garantias de tratamento justo em todas as fases do processo. Os crimes

discriminados na Convenção devem ser considerados como extraditáveis em qualquer

tratado de extradição existente entre os Estados-parte e estes se obrigarão a incluir

tais crimes como extraditáveis em todo tratado de extradição que vierem a concluir
entre si.

 A convenção traz também mecanismos de monitoramento da Convenção, como


procedimento de relatorias periódicas, comunicações interestatais e petições
individuais.

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e.1) Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos


ou Penas Cruéis

 Foi adotado em Nova Iorque por Resolução da Assembleia Geral da ONU em 18 de

dezembro de 2002. No Brasil, foi promulgado pelo Decreto nº 6.085, de 19 de abril de


2007.

 O objetivo do Protocolo é estabelecer um sistema de visitas regulares de órgãos


nacionais e internacionais independentes a lugares onde as pessoas são presas, com

o intuito de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou

degradantes.

 O Protocolo prevê a criação de um Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros

Tratamentos ou Penas Cruéis.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Como forma de evitar a ocorrência de violação de Direitos Humanos em

estabelecimentos prisionais, o Brasil ratificou, em 2007, o Protocolo Facultativo à

Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou


degradantes. Tal protocolo estabelece que cada Estado-Parte deverá designar ou

manter, em nível doméstico, um ou mais mecanismos preventivos nacionais. Por meio

da Lei nº 12.847/13, o Brasil pretendeu atender à exigência do Protocolo, ao criar o


Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.

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Quanto ao meio proposto tanto pelo Protocolo quanto pela Lei para alcançar a

finalidade almejada, assinale a afirmativa correta.


A) Sistema de visitas regulares de seus membros

B) Mutirões judiciais.

C) Medidas legislativas de parlamentares que integrem o Mecanismo.

D) Criação e fortalecimento de defensorias públicas.

Gabarito: 01-A.

f) Convenção Internacional para a Proteção de todas as Pessoas Contra o

Desaparecimento Forçado:

 Assinada em Nova Iorque, em 2006, possuía em 2018, 58 Estados-partes.

 No Brasil a Convenção foi assinada em 6 de fevereiro de 2007, aprovada pelo

Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 661, publicado em 1º de

setembro de 2010, e ratificada em 29 de novembro de 2010. Foi promulgada

internamente somente seis anos depois da ratificação, pelo Decreto nº 8.767, de 11

de maio de 2016.

 Foi criado pela convenção como mecanismo de monitoramento o Comitê contra


Desaparecimentos Forçados, com competência para exame de relatórios

apresentados pelos Estados-partes, sobre as medidas tomadas em cumprimento das

obrigações assumidas ao amparo da Convenção, dentro de dois anos contados a


partir da data de sua entrada em vigor para o Estado-parte interessado; exame de
comunicações interestatais; exame de petições individuais; possibilidade de exame de

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pedido de busca e localização de uma pessoa desaparecida, em regime de urgência e

visita ao Estado-parte.

 Define desaparecimento forçado como sendo “a prisão, a detenção, o sequestro ou

qualquer outra forma de privação de liberdade que seja perpetrada por agentes do

Estado ou por pessoas ou grupos de pessoas agindo com a autorização, apoio ou


aquiescência do Estado, e a subsequente recusa em admitir a privação de liberdade

ou a ocultação do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida, privando-a assim

da proteção da Lei.

 Os Estados-partes assumem os deveres de criminalização, investigação e punição

do desaparecimento forçado; manutenção de informações sobre pessoas privadas de


liberdade; prevenir e punir a conduta de retardar ou obstruir os recursos das pessoas

privadas de liberdade e relativos ao direito à informação sobre pessoas privadas de

liberdade; prevenir e punir as condutas de deixar de registrar a privação de liberdade

de qualquer pessoa, bem como registrar informação que o agente responsável pelo

registro oficial sabia ou deveria saber ser errônea e recusar prestar informação sobre

a privação de liberdade de uma pessoa, ou prestar informação inexata, apesar de

preenchidos os requisitos legais para o fornecimento dessa informação; assegurar que

a formação dos agentes responsáveis pela aplicação da lei, civis ou militares, de

pessoal médico, de funcionários públicos e de quaisquer outras pessoas suscetíveis


de envolvimento na custódia ou no tratamento de pessoas privadas de liberdade,

inclua a educação e a informação necessárias a respeito do desaparecimento forçado;

tomar todas as medidas cabíveis para procurar, localizar e libertar pessoas


desaparecidas e, no caso de morte, localizar, respeitar e devolver seus restos mortais;
assegurar que sua legislação garanta às vítimas o direito de obter reparação e

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indenização rápida, justa e adequada; prevenir e punir penalmente a apropriação

ilegal de crianças submetidas a desaparecimento forçado, de filhos cujo pai, mãe, ou


guardião legal for submetido a esse crime, ou de filhos nascidos durante o cativeiro

de mãe submetida a desaparecimento forçado.

 Os principais direitos introduzidos pela Convenção foram:

 o direito de nenhuma pessoa ser submetida a desaparecimento forçado;

 de nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de


guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública,

poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado;

 direito de qualquer indivíduo que alegue que alguém foi vítima de


desaparecimento forçado de relatar os fatos às autoridades competentes, as

quais examinarão as alegações pronta e imparcialmente e, caso necessário,

instaurarão sem demora um investigação completa e imparcial;

 direito de não ser detido em segredo;

 direito de informação acerca das pessoas privadas de liberdade;

 direito das vítimas de desaparecimento forçado de saber a verdade sobre as

circunstâncias do desaparecimento forçado, o andamento e os resultados da

investigação e o destino da pessoa desaparecida.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Em julho de 2013, o ajudante de pedreiro “X", após ter sido detido por policiais

militares e conduzido da porta de sua casa em direção à delegacia, desapareceu. Há


um amplo debate em torno do caso e, dentre outros aspectos, discute-se se seria esse
caso uma hipótese de desaparecimento forçado.

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Sabendo que o Brasil ratificou, em 2010, a Convenção Internacional Para a Proteção

de Todas as Pessoas Contra o Desaparecimento Forçado, assinale a afirmativa correta.

A) Entende-se por desaparecimento forçado a privação da liberdade promovida por

particulares no exercício de uma coação irresistível, seguida da recusa em reconhecer

a privação de liberdade ou do encobrimento do destino ou do paradeiro da pessoa


desaparecida, colocando-a, assim, fora do âmbito de proteção da lei.

B) Entende-se por desaparecimento forçado a prisão, a detenção, o sequestro ou

qualquer outra forma de privação de liberdade por agentes do Estado ou por pessoas
ou grupos de pessoas agindo com a autorização, o apoio ou o consentimento do

Estado, seguida da recusa em reconhecer a privação de liberdade ou do encobrimento

do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida, colocando-a, assim, fora do


âmbito de proteção da lei.

C) Entende-se por desaparecimento forçado a prisão, a detenção, o sequestro ou

qualquer outra forma de privação de liberdade por agentes do Estado ou por pessoas

ou grupos de pessoas agindo com a autorização, o apoio ou o consentimento do

Estado, colocando-a,assim, fora do âmbito de proteção da lei.

D) Entende-se por desaparecimento forçado o sequestro de um cidadão praticado

por agentes das forças armadas do Estado, seguido da recusa em reconhecer a

privação de liberdade ou do encobrimento do destino ou do paradeiro da pessoa

desaparecida, colocando-a, assim, fora do âmbito de proteção da lei.

Gabarito: 01-B.

g) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo


Facultativo:

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 Foram assinados em Nova Iorque, 2007, possuindo em 2018, respectivamente, 177


e 92 Estados-partes.

 No Brasil a Convenção foi aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto

Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, conforme o procedimento de §3º do art. 5º


da Constituição. O instrumento de ratificação dos textos foi depositado junto ao

Secretário-Geral das Nações Unidas em 1º de agosto de 2008, entrando em vigor para

o Brasil, no plano jurídico externo, em 31 de agosto de 2008. A promulgação deu-se


por meio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Como o rito utilizado foi o

do art. 5º, § 3º da CF/88, esse tratado possui, consequentemente, hierarquia interna

equivalente ao de emenda constitucional.

 Nessa Convenção é conceituado o termo “pessoa com deficiência”, o qual se refere

a todas as pessoas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial,

as quais em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena

e efetiva na sociedade com as demais pessoas.

 Os princípios diretivos da Convenção são o respeito pela dignidade inerente, a

autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a

independência das pessoas; não discriminação; plena e efetiva participação e inclusão


na sociedade; respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência

como parte da diversidade humana e da humanidade; igualdade de oportunidades;

acessibilidade; igualdade entre o homem e a mulher; respeito pelo desenvolvimento


das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com
deficiência de preservar sua identidade.

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 As principais obrigações assumidas pelos Estados-partes são a de adotar todas as


medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza, necessárias para a

realização dos direitos reconhecidos, bem como eliminar os dispositivos e práticas,

que constituírem discriminação contra pessoas com deficiência; o Estado deve abster-

se de participar em qualquer ato ou prática incompatível com a Convenção e


assegurar que as autoridades públicas e instituições atuem em conformidade com seu

texto, além de tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação

baseada em deficiência, por parte de qualquer pessoa, organização ou empresa


privada.

 Foi criado como mecanismo de monitoramento o Comitê sobre os Direitos das


Pessoas com Deficiência, com competência para o exame dos relatórios periódicos.

 O Protocolo Facultativo, o qual também tem hierarquia equivalente a emenda

constitucional, traz que o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, criado

pela Convenção, pode receber e considerar comunicações submetidas por pessoas ou

grupo de pessoas, ou em nome deles, sujeitos à sua jurisdição, alegando serem vítimas

de violação das disposições da Convenção pelo referido Estado.

8.4 Tribunal Penal Internacional

 O Estatuto do Tribunal Penal Internacional foi aprovado na Conferência de Roma,

em 17 de julho de 1998.

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 No Brasil, foi aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo

nº 112, de 6 de junho de 2002, e entrou em vigor em 1º de setembro de 2002.


Finalmente, foi promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002.

 Precedentes Históricos: Tribunais de Nuremberg e Tóquio; Tribunais ad hoc da

Bósnia e da Ruanda.

 Órgão jurisdicional internacional penal competente para julgar os mais graves

crimes que atentem contra a ordem internacional;

 Caráter permanente, independente da ONU, com jurisdição adicional e

complementar às Cortes nacionais.

 Em face de seus objetivos, possui uma relação de cooperação com a ONU, enviando

relatos anuais à Assembleia Geral e ainda sendo obediente a determinadas ordens do

Conselho de Segurança quanto ao início de um caso e suspensão de trâmite.

 Formado por dezoito juízes, com mandato de nove anos (sem reeleição);

 Principais órgãos: a) Presidência (responsável pela administração do Tribunal); b)

Câmaras (divididas em Câmara de Questões Preliminares, Câmara de Primeira


Instância e Câmara de Apelações); c) Promotoria (órgão autônomo do Tribunal,

competente para receber as denúncias sobre crimes, examiná-las, investigá-las e

propor ação penal junto ao Tribunal; e d) Secretaria (encarregada de aspectos não


judiciais da administração do Tribunal).

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 Competência: O Tribunal é competente (art. 5º) para julgar os seguintes crimes: a)

crime de genocídio; b) crimes contra a humanidade (incluindo ataques generalizados


e sistemáticos contra a população civil, sob a forma de assassinato, extermínio,

escravidão, deportação, encarceramento, tortura, violência sexual, estupro,

prostituição, gravidez e esterilização forçadas, desaparecimento forçado, o crime de

apartheid, entre outros que atentam gravemente contra a integridade física ou


mental); c) crimes de guerra (violações ao Direito Internacional Humanitário,

especialmente às Convenções de Genebra de 1949); d) crimes de agressão (o

planejamento, início ou execução, por uma pessoa em posição de efetivo controle ou


direção da ação política ou militar de um Estado, de um ato de agressão que, por suas

características, gravidade e escala, constitua uma violação manifesta da Carta das

Nações Unidas).

 Exercício da jurisdição: O exercício da jurisdição pode ser acionado mediante

denúncia de um Estado-parte ou do Conselho de Segurança à Promotoria a fim de

que esta investigue o crime, propondo a ação penal cabível, nos termos dos artigos

13 e 14 do Estatuto. Pode ainda a própria promotoria agir de ofício, nos termos dos

artigos 13 e 15Requisitos para admissibilidade: para o exercício da jurisdição

internacional é necessário (art. 17), dentre outros requisitos, a indisposição do Estado-

parte (quando, por exemplo, houver demora injustificada ou faltar independência ou

imparcialidade no julgamento ou sua incapacidade em proceder à investigação e ao


julgamento do crime (quando houver o colapso total ou substancial do sistema

nacional de justiça).

 Penas aplicáveis: O Estatuto estabelece como regra a pena máxima de 30 anos,


admitindo, excepcionalmente, a prisão perpétua, quando justificada pela extrema

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gravidade do crime e pelas circunstâncias pessoais do condenado (art. 77). Não

bastando a sanção de natureza penal, o Tribunal poderá também impor sanções de


natureza civil, determinando a reparação às vítimas e aos seus familiares (art. 75).

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. O sistema global de Direitos Humanos foi pensado para proteger as vítimas de

violações ou ameaças de violações dos direitos humanos. Daí os variados mecanismos

que buscam proteção ou reparações em face de diferentes violências. Contudo, dentro


do sistema global há um tratado internacional que instituiu um órgão de caráter

permanente e independente voltado especificamente para o julgamento e a punição

de indivíduos agressores e não diretamente para a proteção das vítimas.

Assinale a opção que indica esse órgão.

A) Corte Internacional de Justiça – Corte de Haia – instituída pela Carta das Nações

Unidas.

B) Conselho de Segurança da ONU, instituído pela Carta das Nações Unidas.

C) Tribunal Penal Internacional, instituído pelo Estatuto de Roma.

D) Corte Europeia dos Direitos dos Homens, instituída pela Convenção Europeia dos

Direitos do Homem.

Gabarito: 01-C.

9. Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos

Surgem também, junto ao sistema global, de forma complementar, os sistemas

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regionais de direitos humanos, que buscam a internacionalização dos direitos

humanos no plano regional, em particular na Europa, na África e na América.

Dentre esses sistemas regionais podemos destacar os seguintes sistemas: o Sistema

Interamericano, o Sistema Europeu e o Sistema Africano. Esses sistemas regionais

apresentam as estruturas existentes nas diferentes regiões do globo, trazendo as


peculiaridades das referidas regiões.

9.1 Sistema Interamericano de Proteção ou Sistema Regional Americano (OEA)

9.1.1 Carta da OEA e Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem

A Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Declaração Americana de

Direitos e Deveres do Homem foram aprovadas em 1948 na cidade de Bogotá

(Colombia). A carta da OEA proclamou, de forma genérica, o dever de respeito aos

direitos humanos por parte de todo Estado-membro da organização, já a Declaração

Americana enumerou quais são os direitos fundamentais que deveriam ser

observados e garantidos pelos Estados, reconhecendo também a universalidade dos

direitos humanos. Com esses dois documentos iniciou-se um lento desenvolvimento

da proteção interamericana de direitos humanos.

9.1.2 Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa

Rica)

É o instrumento de maior importância no sistema interamericano, esse documento foi


assinado em San José (Costa Rica), em 1969, entrando em vigor em 1978. Apenas

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Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) têm o direito de

aderir à Convenção Americana, que, até outubro de 2017, contava com 23 Estados-
partes.

O Brasil aderiu à Convenção em 9 de julho de 1992, depositou a carta de adesão em

25 de setembro de 1992, e a promulgou por meio do Decreto nº 678, de 6 de


novembro do mesmo ano.

 A Convenção Americana reconhece e assegura um catálogo de direitos civis e


políticos, destacando-se:

a) o direito à personalidade jurídica;


b) o direito à vida;

c) o direito a não ser submetido à escravidão;

d) o direito à liberdade;

e) o direito a um julgamento justo;

f) o direito à compensação em caso de erro judiciário;

g) o direito à privacidade;

h) o direito à liberdade de consciência e religião;

i) o direito à liberdade de pensamento e expressão;

j) o direito à resposta;
k) o direito à liberdade de associação;

l) o direito ao nome;

m) o direito à nacionalidade;
n) o direito à liberdade de movimento e residência;
o) o direito de participar do governo;

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p) o direito à igualdade perante a lei e

q) o direito à proteção individual.

Importante: essa convenção não enuncia de forma específica qualquer direito social,

cultural ou econômico; limita-se a determinar aos Estados que alcancem,

progressivamente, a plena realização desses direitos, mediante a adoção de medidas


legislativas e outras que se mostrem apropriadas.

A Convenção Americana estabelece um aparato de monitoramento e


implementação dos direitos que enuncia. Esse aparato é integrado pela Comissão

Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01 - Um rapaz, que era pessoa em situação de rua, acabou de sair da prisão. Ele fora

condenado pelo crime de latrocínio e, posteriormente, a defensoria pública ajuizou, a

seu favor, uma ação de revisão criminal, na qual ele foi absolvido por ausência de

provas, caracterizando, assim, um erro judiciário. Nesse período, ele ficou cinco anos

preso. Agora a família indaga se existe um direito de indenização em função de

condenação por erro judiciário.

Assinale a opção que apresenta a informação que você, na condição de advogado(a)

especializado(a) em Direitos Humanos, deve prestar à família, com base na Convenção

Americana Sobre Direitos Humanos.

A) O direito à indenização está previsto na Convenção Americana Sobre Direitos

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Humanos de forma geral, mas não há previsão expressa de indenização por erro

judiciário; portanto, essa é uma construção argumentativa que deve ser produzida no
caso concreto.

B) A indenização por erro judiciário não é uma matéria própria do campo dos Direitos

Humanos, por isso não existe tal previsão nem na Convenção Americana Sobre

Direitos Humanos, nem em nenhum outro tratado de Direitos Humanos de que o


Brasil seja signatário.

C) A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos assegura o direito à indenização

por erro judiciário, mas o restringe aos erros que resultam em condenação na esfera
civil, excluindo eventuais erros que ocorram na jurisdição penal.

D) A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos dispõe que toda pessoa tem

direito de ser indenizada conforme a lei, no caso de haver sido condenada em


sentença transitada em julgado por erro judiciário.

02 - Em relação ao direito de liberdade de pensamento e expressão, a Convenção

Americana sobre os Direitos Humanos, devidamente ratificada pelo Estado brasileiro,

adotou o seguinte posicionamento:

A) vedou a censura prévia, mas admite que a lei o faça em relação aos espetáculos

públicos apenas como forma de regular o acesso a eles, tendo em vista a proteção

moral da infância e da adolescência.

B) vedou a censura prévia em geral, mas admite que ela ocorra expressamente nos
casos de propaganda política eleitoral, tendo em vista a proteção da ordem pública e

da segurança nacional.

C) admitiu a censura prévia em geral, tendo em vista a proteção da saúde e da moral


públicas, mas a veda expressamente nos casos de propaganda eleitoral, a fim de
assegurar a livre manifestação das ideias políticas.

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D) admitiu a censura prévia como forma de assegurar o respeito aos direitos e à

reputação das demais pessoas.

Gabarito: 01-D; 02-A.

 Protocolo de San Salvador:

 Foi adotado em 1988, pela Assembleia Geral da Organização dos Estados

Americanos de forma adicional à Convenção, concernente aos direitos sociais,


econômicos e culturais, entrando em vigor em 1999.

 Dentre os direitos enunciados no Protocolo de San Salvador, destacam-se: o direito


ao trabalho e as justas condições de trabalho; a liberdade sindical; o direito à

seguridade social; o direito à saúde; o direito ao meio ambiente; o direito à

alimentação; o direito à educação; direitos culturais; proteção à família; direitos das

crianças; direitos dos idosos; e direitos das pessoas portadoras de deficiência.

 Além disso, nos termos do artigo 19 do respectivo Protocolo, os Estados-partes

comprometem-se a apresentar relatórios periódicos sobre as medidas progressivas

que tiverem adotado para assegurar o devido respeito aos direitos consagrados no

Protocolo.

 Estabelece um sistema de petições individuais à Comissão Interamericana de

Direitos Humanos para o caso de violação aos direitos sindicais (exceto o direito à
greve) e o direito à educação.

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COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Há bastante tempo você tem atuado tanto administrativamente como

judicialmente para conseguir um tratamento de saúde especializado para o seu

cliente. Diante da morosidade injustificada enfrentada, seja na administração pública


seja no processo judicial, você está avaliando a possibilidade de ingressar com petição

individual de seu cliente na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Assinale a opção que melhor expressa suas possibilidades, tendo em vista a

Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o Protocolo de São Salvador.

A) Você não pode entrar com a petição individual de seu cliente na Comissão

Interamericana de Direitos Humanos, até que sejam esgotados todos os recursos da

jurisdição interna do Brasil.

B) Você pode entrar com a petição individual de seu cliente na Comissão

Interamericana de Direitos Humanos, desde que demonstre que está havendo uma

demora injustificada na prestação dos recursos da jurisdição interna.

C) Você pode entrar com a petição individual de seu cliente na Comissão

Interamericana de Direitos, desde que atendidos os requisitos de admissibilidade

previstos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, pois embora o direito à


saúde não esteja previsto na própria Convenção, o Protocolo de São Salvador torna

possível o uso deste meio de proteção mesmo no caso do direito à saúde.

D) Você, para encaminhar uma petição individual para a Comissão Interamericana de


Direitos Humanos, deve respeitar os requisitos de admissibilidade e que o direito
violado esteja previsto na própria Convenção ou, alternativamente, que seja um meio

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de proteção autorizado pelo Protocolo de São Salvador, o que não é o caso do direito

à saúde.

02. Seu cliente possui um filho com algum nível de deficiência mental e, após muito

tentar, não conseguiu vaga no sistema público de ensino da cidade, uma vez que as

escolas se diziam não preparadas para lidar com essa situação. Você já ingressou com
a ação judicial competente há mais de dois anos, mas há uma demora injustificada no

julgamento e o caso ainda se arrasta nos tribunais. Diante desse quadro, você avalia a

possibilidade de apresentar uma petição à Comissão Interamericana de Direitos


Humanos. Tendo em vista o que dispõe a Convenção Americana sobre Direitos

Humanos e seus respectivos protocolos, assinale a afirmativa correta.

A) Considerando a demora injustificada da decisão na jurisdição interna, você pode


peticionar à Comissão, pois o direito à Educação é um dos casos de direitos sociais

previstos no Protocolo de São Salvador, que, uma vez violado, pode ensejar aplicação

do sistema de petições individuais.

B) Não obstante a demora injustificada da decisão final do Poder Judiciário brasileiro

ser uma condição que admite excepcionar os requisitos de admissibilidade para que

seja apresentada a petição, o direito à educação não está expressamente previsto nem

na Convenção, nem no Protocolo de São Salvador como um caso de petição

individual.

C) Apenas a Corte Interamericana de Direitos Humanos pode encaminhar um caso


para a Comissão. Portanto, deve ser provocada a jurisdição da Corte. Se esta entender

adequado, pode enviar o caso para que a Comissão adote as medidas e providências

necessárias para garantir o direito e reparar a vítima, se for o caso.


D) Em nenhuma situação você pode entrar com a petição individual de seu cliente na
Comissão Interamericana de Direitos Humanos até que sejam esgotados todos os

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recursos da jurisdição interna do Brasil.

Gabarito: 01-D; 02-A.

 Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos referente à

Abolição da Pena de Morte:

 Foi adotado em Assunção (Paraguai), em 1990, pela Assembleia Geral da

Organização dos Estados Americanos, mas só entrou em vigor internacionalmente em


1991, possuindo, em 2018, 13 Estados-partes.

 O Protocolo é composto, além do seu preâmbulo, por apenas quatro artigos. No


primeiro deles, fica estabelecido que os Estados-partes não podem aplicar em seu

território a pena de morte a nenhuma pessoa submetida a sua jurisdição. No artigo

2º, determina-se que não se admitirá reserva alguma ao Protocolo. Entretanto, os

Estados podem declarar, no momento de ratificação ou adesão, que se reservam o

direito de aplicar a pena de morte em tempo de guerra, de acordo com o Direito

Internacional, por delitos sumamente graves de caráter militar, o que foi feito pelo

Brasil. Por fim os artigos 3º e 4º dizem respeito às disposições finais: abertura à

assinatura e ratificação ou adesão de todo Estado-parte e depósito do instrumento de

ratificação ou adesão; e entrada em vigor.

 Comissão Interamericana de Direitos Humanos:

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 Conceito: É o principal órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA),

porém autônomo (independente e imparcial) do Estados Partes. É um órgão de


monitoramento e consulta que promove o respeito e a defesa dos direitos humanos.

 Competência: Se estende a todos os Estados-partes da Convenção Americana, em

relação aos direitos humanos nela consagrados e alcança todos os Estados-membros


da OEA, em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948.

 Composição (art. 34 ao 37 da Convenção IDH): se compõe de sete membros, que


deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de

direitos humanos. Os membros da Comissão são eleitos, a título pessoal, pela

Assembléia Geral por um período de quatro anos, podendo ser reeleitos apenas uma
vez.

 Funções (art. 41 da Convenção IDH): A Comissão tem a função principal de

promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício do seu

mandato, tem por atribuições formular recomendações aos Estados-Partes; preparar

estudos e relatórios; requisitar informações dos Estados-Partes, atuar com respeito às

petições e outras comunicações; enviar relatório anual a OEA, entre outras.

 Comunicações individuais (art. 44 da Convenção IDH): Qualquer pessoa ou


grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente reconhecida em um

ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que

contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado Parte.

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 Comunicações interestatais (art. 45 da Convenção IDH): Comunicações em que

um Estado Parte alegue haver outro Estado Parte incorrido em violações dos direitos
humanos estabelecidos na Convenção IDH. Entretanto essas comunicações só serão

admitidas e examinadas se forem apresentadas por um Estado Parte que haja feito

uma declaração pela qual reconheça a referida competência da Comissão.

 Requisitos de Admissibilidade das Comunicações (art. 46):

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo

com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;


b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo


de solução internacional; e

d) que, no caso de comunicação individual, a petição contenha o nome, a

nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do

representante legal da entidade que submeter a petição.

** As disposições das alíneas a e b não se aplicarão quando:

a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal

para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;


b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

 Serão inadmissíveis as petições que (art. 47):

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a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46;

b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos por esta
Convenção;

c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamente infundada

a petição ou comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou

d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior, já


examinada pela Comissão ou por outro organismo internacional.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Após interpor uma denúncia por violação de direitos humanos contra um Estado

membro da Organização dos Estados Americanos, o cidadão “X” espera que, dentre
outras possibilidades, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos recomende

A) o pagamento de indenização por danos materiais e morais ao cidadão “X”, mas

não poderá recomendar a introdução de mudanças em seu ordenamento jurídico.

B) a suspensão imediata dos atos que causam violação de direitos humanos, mas não

poderá exigir que “X” receba indenização pecuniária pelos danos sofridos.

C) a introdução de mudanças no ordenamento jurídico, podendo cumular tal ato com

outras medidas, tais como a reparação dos danos sofridos por “X”.

D) a investigação e a punição dos responsáveis pela violação, mas não poderá tentar
uma solução amistosa com o Estado, uma vez que protocolada a denúncia, ela deverá

ser investigada e, caso comprovada, a punição será necessariamente imposta pela

Comissão.

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02. Sobre as denúncias e o sistema de responsabilização por violação de Direitos

Humanos, perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, assinale a


afirmativa correta.

A) A Comissão poderá responsabilizar tanto o Estado como as pessoas naturais e

jurídicas, de direito público ou privado, que cometeram a violação, solidariamente.

B) A Comissão não possui competência para responsabilizar a pessoas naturais,


podendo apenas determinar a responsabilidade das pessoas jurídicas, de direito

público ou privado, que cometeram a violação.

C) A Comissão poderá responsabilizar tanto o Estado como as pessoas naturais e


jurídicas, de direito público ou privado, que cometeram a violação. Neste caso a

responsabilidade do Estado será subsidiária.

D) A Comissão não possui competência para atribuir responsabilidades individuais,


podendo apenas determinar a responsabilidade internacional de um Estado membro

da OEA.

Gabarito: 01-C; 02-D.

 Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH):

 Conceito: É uma instituição judicial autônoma, criada pela Convenção Americana

de Direitos Humanos. Possui jurisdição contenciosa e consultiva (pode emitir


pareceres ou opiniões consultivas, não vinculantes).

 Composição (art. 52 ao 54 da Convenção IDH): A Corte compor-se-á de sete


juízes, nacionais dos Estados membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre

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juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de

direitos humanos, para um período de seis anos, e só poderão ser reeleitos uma vez.

 Competência (art. 62 da Convenção IDH): A Corte tem competência para

conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições da

Convenção Americana que lhe seja submetido, desde que os Estados Partes no caso
tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por declaração

especial, seja por convenção especial.

 Legitimidade ativa (art. 61 da Convenção IDH): Somente os Estados Partes e a

Comissão têm direito de submeter caso à decisão da Corte.

 Legitimidade passiva: É sempre do Estado, pois a Corte não é um Tribunal que


julga pessoas.

 Dever do Estado (art. 68 da Convenção IDH): Os Estados Partes na Convenção

comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes.

 Sentença da Corte (art. 63 e 67 da Convenção IDH): Quando decidir que houve

violação de um direito ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará

que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados.

Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências


da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o

pagamento de indenização justa à parte lesada.

A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre o


sentido ou alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das

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partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data

da notificação da sentença.

 Execução da Sentença da Corte (art. 68 da Convenção IDH): A parte da sentença

que determinar indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo

pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

 Não cumprimento pelo Estado da Sentença (art. 65 da Convenção IDH): A Corte

submeterá à consideração da Assembléia Geral da Organização, em cada período


ordinário de sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira

especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que um Estado

não tenha dado cumprimento a suas sentenças.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Maria deu entrada em uma maternidade pública já em trabalho de parto. Contudo,

a falta de pronto atendimento levou a óbito tanto Maria quanto o bebê. Você foi

contratado(a) pela família de Maria para advogar neste caso de grave violação de

Direitos Humanos. Após algumas rápidas pesquisas na Internet, o pai e a mãe de Maria

pedem que o caso seja imediatamente encaminhado para julgamento na Corte

Interamericana de Direitos Humanos.

Você, como advogado(a) da família, deve esclarecer que

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A) é uma ótima ideia e vai peticionar para que o caso seja submetido à decisão da

Corte, bem como tomar todas as providências para que o caso seja julgado o mais
cedo possível.

B) apesar de ser uma boa ideia, é necessário aguardar que hajam sido interpostos e

esgotados os recursos de jurisdição interna para que a família possa submeter o caso

à decisão da Corte.
C) não é possível a família encaminhar o caso à Corte, pois somente os Estados Partes

da Convenção Americana de Direitos Humanos e a Comissão Interamericana de

Direitos Humanos têm direito de submeter um caso à decisão da Corte.


D) não é possível que o caso seja encaminhado para decisão da Corte porque, embora

o Brasil seja signatário da Convenção Americana dos Direitos Humanos, o país não

reconheceu a jurisdição da Corte.

02. Você está advogando em um caso que tramita na Corte Interamericana de Direitos

Humanos. O Brasil é parte passiva do processo e, finalmente, foi condenado. A

condenação envolve, além da reparação pecuniária pela violação dos direitos

humanos, medidas simbólicas de restauração da dignidade da vítima e até mesmo a

mudança de parte da legislação interna. Embora a União tenha providenciado o

pagamento do valor referente à reparação pecuniária da vítima, há muito tempo

permanece inadimplente quanto ao cumprimento das demais obrigações impostas na

sentença condenatória proferida pela Corte. Diante disso, assinale a afirmativa correta.
A) É necessário ingressar com medida específica junto ao STF para a homologação da

sentença da Corte ou a obtenção do exequatur, isto é, a decisão de cumprir, aqui no

Brasil, uma sentença que tenha sido proferida por tribunal estrangeiro.
B) Não há nada que possa ser feito, já que não há previsão nem na legislação do Brasil,
nem na própria Convenção Americana dos Direitos Humanos sobre algum tipo de

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medida quando do não cumprimento da sentença da Corte pelo país que se submeteu

à sua jurisdição.
C) A execução da sentença pode ser feita diretamente no Sistema Interamericano de

Direitos Humanos, pois essa é uma das atribuições e incumbências previstas no Pacto

de São José da Costa Rica para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

D) Pode-se solicitar à Corte que, no seu relatório anual para a Assembleia Geral da
OEA, indique o caso em que o Brasil foi condenado, como aquele em que um Estado

não deu cumprimento total à sentença da Corte.

Gabarito: 01-C; 02-D.

9.1.3 Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura

 Adotada pela Assembleia Geral da OEA em Cartagena das índias (Colômbia), em

1985. Foi promulgada no Brasil em 1989, e, até 2018, possuía 18 Estados-partes. A

Convenção é dividida em 24 artigos.

 A Convenção define tortura como sendo “todo ato pelo qual são infligidos

intencionalmente a uma pessoa, penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de

investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida

preventiva, como pena ou com qualquer outro fim”.

 Entender-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos

tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou


mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica.

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 São elencados como direitos das pessoas vítimas de tortura o direito de ser

examinada de maneira imparcial; e direito à compensação adequada.


 A Convenção contém mandado de criminalização da tortura, e os Estados-partes se

comprometem a informar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre as

medidas legislativas, judiciais, administrativas e de outra natureza que adotarem em

sua aplicação.

 A Comissão procurará analisar, em seu relatório anual, a situação prevalecente nos

Estados-membros da OEA, no que diz respeito à prevenção e supressão da tortura,


em conformidade com suas atribuições.

9.1.4 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência


contra a Mulher

 Também chamada de “Convenção de Belém do Pará” foi concluída pela Assembleia

Geral da OEA, em Belém do Pará (Brasil), em 1994. Em 2018 possuía 32 Estados-partes.

 Mecanismos de proteção: Informes à Comissão Interamericana de Mulheres; pedido

de opinião consultiva sobre a interpretação da Convenção à Corte IDH; petição

individual a Comissão IDH, e caso cabível, a Comissão pode processar o Estado infrator

perante a Corte IDH.

 Define-se violência contra a mulher como “qualquer ação ou conduta, baseada no

gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual, psicológico à mulher,
tanto no âmbito público como no privado. A violência contra a mulher abrange a
violência física, sexual ou psicológica, quer tenha ocorrido no âmbito da família ou

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unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor

conviva ou haja convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre
outros, estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual; quer no âmbito da comunidade

e seja perpetrada por qualquer pessoa”.

 Os principais direitos protegidos em relação às mulheres são o direito a que se


respeite sua vida e sua integridade física, psíquica e moral; o direito à liberdade e à

segurança pessoais; o direito a não ser submetida a torturas; o direito a que se respeite

a dignidade inerente a sua pessoa e que se proteja sua família; o direito à igualdade
de proteção perante a lei e da lei; o direito a um recurso simples e rápido diante dos

tribunais competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos; o direito à

liberdade de associação; o direito à liberdade de professar a religião e as próprias


crenças, de acordo com a lei; e o direito de ter igualdade de acesso às funções públicas

de seu país e a participar nos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões.

9.1.5 Convenção Interamericana sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas

 No Brasil, entrou em vigor em 2016, já no âmbito internacional em 1996, e,

atualmente, conta com 15 Estados-partes.

 Entende-se por desaparecimento forçado a privação de liberdade de uma pessoa


ou mais pessoas, seja de que forma for, praticada por agentes do Estado ou por

pessoas ou grupos de pessoas que atuem com autorização, apoio ou consentimento

do Estado, seguida de falta de informação ou da recusa a reconhecer a privação de


liberdade ou a informar sobre o paradeiro da pessoa, impedindo assim o exercício dos
recursos legais e das garantias processuais pertinentes.

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 Objetivos da Convenção: proibir a prática, permissão ou tolerância ao


desaparecimento forçado em qualquer situação; punir internamente os autores,

cúmplices e partícipes do crime de desaparecimento forçado; cooperação para

prevenção, punição e erradicação do desaparecimento forçado; adoção de medidas

internas, de cunho administrativo, legislativo e judicial, para prevenir, punir e erradicar


o desaparecimento forçado; entre outros.

COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. O país foi tomado por uma onda de manifestações sociais, que produzem grave e

iminente instabilidade institucional, de modo que a Presidência da República


decretou, e o Congresso Nacional aprovou, o estado de defesa no Brasil. Nesse

período, você é procurado(a), como advogado(a), para atuar na causa em que um

casal relata que seu filho, João da Silva, de 21 anos, encontra-se desaparecido há cinco

dias, desde que foi detido para investigação policial. Os órgãos de segurança afirmam

não ter informações acerca do paradeiro dele, embora admitam que ele foi

interrogado pela polícia. Ao questionar o procedimento de interrogatório e buscar

mais informações sobre o paradeiro de João da Silva junto à Corregedoria da Polícia,

você é lembrado de que o país encontra-se sob estado de defesa, existindo, nesse

caso, restrição a vários direitos fundamentais. Sobre a hipótese apresentada, com base
na Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas, assinale

a afirmativa correta.

A) A Convenção proíbe que os Estados-Partes decretem qualquer tipo de estado de


emergência, incluindo aí o estado de defesa ou o estado de sítio, de forma a evitar a

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gravíssima violação dos direitos humanos, como é o desaparecimento forçado de João

da Silva.
B) O caso de João da Silva ainda não pode ser considerado desaparecimento forçado,

porque a Convenção afirma que o prazo para que o desaparecimento forçado seja

caracterizado como tal deve ser de pelo menos dez dias, desde a falta de informação

ou a recusa a reconhecer a privação de liberdade pelos agentes do Estado.


C) O Conselho de Defesa Nacional deliberou que, mesmo no estado de defesa, as

autoridades judiciárias competentes devem ter livre e imediato acesso a todo centro

de detenção e às suas dependências, bem como a todo lugar onde houver motivo
para crer que se possa encontrar a pessoa desaparecida.

D) O Brasil, como Estado-Parte da Convenção, comprometeu-se a não praticar, nem

permitir, nem tolerar o desaparecimento forçado de pessoas, nem mesmo durante os


estados de emergência, exceção ou de suspensão de garantias individuais.

Gabarito: 01-D.

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 SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR – SARAIVA JUR

TEMA: Corte e Comissão Interamericana de Direitos Humanos


(Capítulo VII)

LIVRO: Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional

AUTOR: Flávia Piovesan


EDIÇÃO: 18ª

TEMA: Mecanismos Internacionais de Proteção (CAPÍTULO V)

LIVRO: Curso de Direitos Humanos

AUTOR: André de Carvalho Ramos

EDIÇÃO: 6ª

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