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NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Objectivo da disciplina
Capacitar os Agentes da polícia na observância dos padrões internacionais,
regionais e nacionais dos direitos humanos na prevenção e combate à violência
com enfoque para populações vulneráveis.

1. DIREITOS HUMANOS E SUA EVOLUÇÃO


Objectivo: Descrever a evolução histórica dos Direitos Humanos no contexto nacional e
internacional, suas características e a importância do seu estudo para Agentes da PRM

1.1 Conceito

Direitos Humanos são direitos que todas as pessoas têm na sociedade em que vivem. Eles são
universais, sendo usufruídos por qualquer pessoa, independentemente da cor, raça, sexo, origem
étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais,
profissão ou opção política.

Os direitos humanos fundamentais não dependem do género, raça, classe ou estatuto, embora,
muitas vezes, estes factores tenham um papel preponderante na determinação dos que usufruem
os direitos humanos e dos que deles são privados.

Para Piovesan (2000), os direitos humanos não são apelos de caridade, nem são uma recompensa
por bom comportamento: eles são direitos que cada pessoa tem a partir do momento em que
nasce, e que são inerentes a pessoa humana, ou seja, pura e simplesmente por ser um ser
humano.

“Os Direitos Humanos apresentam-se, assim, como um conjunto coerente de princípios


jurídicos fundamentais que se aplicam, em todas as partes do mundo, tanto aos indivíduos como
aos povos, e que têm por objectivo proteger as prerrogativas inerentes a todo o Homem e

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tomados colectivamente em razão da existência de uma dignidade ligada á sua pessoa e
justificada pela sua condição humana”(Mabota et.al., 2000)

1.2 Características fundamentais dos Direitos Humanos

 Indivisíveis (os direitos fundamentais não podem ser analisados de maneira isolada. O
desrespeito a um deles constitui a violação de todos ao mesmo tempo)
 Inalienáveis (Os direitos fundamentais não se transfere de uma pessoa para outra, seja
gratuitamente, seja mediante pagamento)
 Efectivos (Os direitos fundamentais a sua efectivação é garantida, usando inclusive
mecanismos coercivos, quando necessário, porque estes direitos não se satisfazem com o
simples reconhecimento abstracto)
 Imprescritíveis (Os direitos fundamentais não se perdem com o tempo, não prescreve, uma
vez que são sempre exercíveis e exercidos, não sendo perdidos pela falta de uso)
 Universais (Os direitos e garantias fundamentais vinculam-se ao principio da liberdade,
conduzido pela dignidade da pessoa humana, e que os mesmos devem possuir como sujeito
activo, a todos os indivíduos, independentemente da sua raça, origem, sexo etc.)

1.3 Evolução histórica dos direitos humanos

Desde que o “Homem é Homem” sempre precisou de interagir com os seus semelhantes como
parte fundamental para a sobrevivência da sua espécie. Nesse sentido, as relações de poder e
autoridade muito cedo manifestaram-se como algo inevitável na interacção social e muitas vezes,
se assim o quisermos conjunturar, ela foi distribuída de forma desigual e quiçá problemática.

Importa salientar que na história da humanidade e em quase todas as civilizações a distribuição


desigual do poder e da autoridade tinha como os menos privilegiados as crianças e mulheres, por
um lado e por outro, alguns grupos, por vezes minoritários, legitimados como objectos de certas
formas de discriminação. Podemos avançar como exemplos as minorias raciais, os estrangeiros,
os escravos, doentes de enfermidades específicas, entre outros.

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O uso abusivo do poder verificou-se em muitos casos quando este se associou às instituições na
sua relação com os agentes sociais. A manifestação mais expressiva disso encontra-se no poder
real e/ou monárquico no qual os seus detentores se acharam sempre diferentes dos restantes,
como se de forma inata fossem concebidos, por divindades, com direitos especiais sobre os
outros.

Portanto, a história dos Direitos Humanos está intimamente ligada a diferentes etapas da
evolução da humanidade, marcadas pelas peripécias inaceitáveis de tratamento do ser humano
baseada no género e idade. Por um lado, o desconhecimento dos instrumentos legais, a má
conduta dos agentes responsáveis pela lei, colocou novos desafios no campo da formação
profissional, sugerindo a maior atenção nas questões dos Direitos Humanos. Contudo, há
necessidade de examinar a realidade dos Direitos Humanos sob a perspectiva actual centrada nos
princípios da igualdade, liberdade, universalidade e dignidade da pessoa humana.(Almeida,
1996)

1.5 História da protecção internacional dos direitos da pessoa humana

A história dos Direitos Humanos está intimamente ligada às diferentes etapas da evolução da
humanidade, marcadas pelas mudanças repentinas e pela evolução do pensamento religioso,
filosófico e político que analisa ou explica o modo de vida em sociedade, muitas vezes
sustentando a necessidade de promover e proteger os direitos humanos.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos desenvolveu-se substancialmente no fim da II


guerra mundial, em reacção as violações massivas dos direitos humanos como consequências das
atrocidades cometidos pelos beligerantes durante as hostilidades, tendo determinado
consideráveis avanços na esfera da promoção e protecção dos direitos humanos à escala mundial.

Nascidos em períodos históricos diversos, o Direito Internacional Humanitário (DIH), o Direito


Internacional dos Refugiados (DIR) e o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH)
apresentam aplicabilidades e mecanismos de supervisões diferenciados. Todavia, tais
particularidades não afastam, e sim intensificam sua complementaridade, uma vez que tais
vertentes possuem um elemento em comum: a protecção da dignidade humana.

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O Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) é fruto de árduos trabalhos, realizados
em diferentes momentos históricos em que referidos direitos foram concretizados, representando
assim grandes conquistas da humanidade. A evolução destas correntes veio a dar frutos pela
primeira vez na Inglaterra, e depois nos Estados Unidos. A Magna Carta (1215) deu garantias
contra a arbitrariedade da Coroa e influenciou diversos documentos, como por exemplo o Acto
Habeas Corpus (1679), que foi a primeira tentativa para impedir as detenções ilegais.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em França em 1789, e as


reivindicações ao longo dos séculos XIV e XV em prol das liberdades, alargou o campo dos
direitos humanos e definiu os direitos económicos e sociais.

Os avanços mais importantes no âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH)
ocorreram no fim da Segunda Guerra Mundial, em reacção às violações massivas dos Direitos
Humanos como consequência das atrocidades cometidas pelos beligerantes durante as
hostilidades, tendo determinado consideráveis avanços na esfera da promoção e protecção dos
Direitos Humanos na escala mundial. Foi através da Carta das Nações Unidas, de 1945 que os
povos exprimiram a sua determinação “em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra;
proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na
igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grande e pequenas; em
promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade.” A
Carta reconhece a dignidade inerente ao ser humano e os seus direitos iguais e inalienáveis e
afirma realmente que estes direitos constituem uma questão de foro internacional, estando para
além da jurisdição nacional de cada Estado.” E logo a seguir a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948) que reconhece que a dignidade e da igualdade inerentes à pessoa humana e dos
direitos inalienáveis de todos os serem humanos, é a base da liberdade, da justiça e da paz
mundial.

O Direito Internacional Humanitário (DIH) surge da necessidade de criar leis para reger a
conduta dos conflitos armados, tendo em vista que antes da década de 1860, as regras da guerra
eram decretadas por governantes e comandantes ou acordadas entre os beligerantes para
satisfazer as necessidades ou conveniências contemporâneas. Se por um lado, em alguns casos,
elas tinham como objectivo proteger recursos vitais ou pessoas, como soldados e não
combatentes indefesos, por outro lado, não proibiam práticas que a sociedade moderna

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consideraria inaceitáveis. Houve vários avanços no âmbito do direito humanitário na década de
1860, como o “Código Lieber” adoptado na Guerra Civil Americana, a fundação do Comité
Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no mesmo ano e redacção da Convenção de Genebra
(1984), um conjunto de artigos que estabeleciam regras designadas para assegurar que todos os
soldados feridos no campo de batalha - independente do lado em que lutavam – recebessem
cuidados sem distinção. A Convenção também estabelecia a neutralidade do pessoal médico e
adoptava um único emblema neutro para proteger a eles e às instalações médicas que tratam os
feridos. O avanço mais importante no Direito Humanitário ocorreu após a Segunda Guerra
Mundial em 1949, quando os governos adoptaram as quatro Convenções de Genebra de 1949.
Estas convenções e seus Protocolos Adicionais 1 são a essência do Direito Internacional
Humanitário (DIH), o conjunto de leis que rege a conduta dos conflitos armados e busca limitar
seus efeitos.

1.6 A história de protecção e promoção dos direitos humanos em Moçambique

A história dos direitos humanos em Moçambique, pode ser vista tendo em conta três períodos:
colonial, pós independência e de 1990 até então.

No período colonial, a inobservância dos direitos humanos tomou contornos ainda mais graves,
não só devido a recusa da potência colonizadora em acatar ao apelo para a independência e
autodeterminação dos povos, mas sobretudo, porque Moçambique não era subscritor dos
princípios dos instrumentos internacionais dos Direitos Humanos. A Constituição política
vigente nos territórios ultramarinos, incluindo Moçambique, fazia a diferenciação dos residentes
em “nacionais” e “indígenas” tendo implicações nos direitos e deveres fundamentais.

Após a conquista da independência nacional devolveram-se ao povo Moçambicano os direitos e


as liberdades fundamentais. Todavia, durante o período em que se impunha a exaltação da
legitimidade, a adesão do Estado Moçambicano aos instrumentos internacionais dos Direitos
humanos foi praticamente exígua, com sistemáticas violações durante o conflito armado (guerra

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civil dos 16 anos), limitando desta maneira a margem dos direitos fundamentais consagrados na
constituição. O diálogo e aceitação da diferença de opiniões eram praticamente inexistentes e o
sistema monopartidário, era a fonte de toda política de governação.

As Constituições da República de 1990 e 2004, incorporaram um leque de direitos plasmados


nos vários instrumentos regionais e internacionais. Desde então, Moçambique tem estado
progressivamente a aderir aos vários instrumentos sobre a matéria como forma de
reconhecimento e promoção dos direitos humanos, num estado de direito e igualdade, o que
impulsiona o desenvolvimento. A constituição de 2004 reafirma, desenvolve e aprofunda os
princípios fundamentais, consagra o carácter soberano do estado de Direito democrático, baseado
no pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e
liberdades dos cidadãos.

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1. ESTUDO DE CASOS
Objectivo: Dotar de conhecimentos sobre a análise de alguns casos práticos e dar competências
sobre as atitudes e acções a ter em conta na resolução de casos de violação de Direitos
Humanos.

CASO 1: A ANA
A Ana é uma mulher de 23 anos. Quando a Ana terminou a escola, tentou procurar um emprego
mas ninguém estava disposto a contrata-la. Ela começou a envolver-se em trabalhos sexuais
para poder pagar por comida e habitação. Uma noite, ela foi assediada por um agente da polícia
que efectuou uma revista corporal no seu corpo. Quando o agente encontrou preservativos na
bolsa da Ana, ele ameaçou detê-la por ser uma trabalhadora de sexo, caso ela não pagasse ou
mantivesse relações sexuais consigo. A Ana estava com medo do que podia acontecer na
esquadra e não tinha dinheiro para pagar ao agente. Ela concordou em manter relações sexuais
e, apesar de ela ter insistido em usar preservativo, ele recusou-se. Quando a Ana recusou-se a
manter relações sexuais sem preservativo, ele esmurrou-lhe a face e a forçou a manter relações
sexuais sem preservativo.
No dia seguinte, a Ana decidiu ir a uma clínica porque estava preocupada com a contracção de
HIV e de outras Infecções de Transmissão Sexual (ITSs). A recepcionista cumprimentou-a e
perguntou o motivo da sua vinda à clínica. A Ana estava envergonhada para responder porque
havia outras pessoas de pé na mesa da recepção. A Ana disse à recepcionista que ela precisava
de ver um médico. A recepcionista respondeu que precisava de saber o motivo da sua visita
antes de encaminha-la a um médico. Ela perguntou à Ana o que tinha acontecido com a sua face
e porque é que ela tinha um olho negro. A Ana estava envergonhada e disse que magoou-se
numa luta com a sua irmã. Algumas horas mais tarde, uma enfermeira levou a Ana para a sala
de exames. Quando questionada porque fora à clínica, a Ana respondeu enfermeira o que
aconteceu com o agente da polícia. A enfermeira disse à Ana, “O agente não devia ter feito isso
contigo, mas colocaste-te numa situação tão arriscada. Para além disso, o teu estilo de vida é
ilegal. Tens sorte por não estares na cadeia agora.” A enfermeira disse à Ana que iriam submete-
la ao teste de HIV e outras ITSs, mas que ela devia pensar em mudar o seu estilo de vida para
evitar voltar a ser agredida no futuro. A enfermeira saiu da sala. Quando voltou, estava
acompanhada de um agente da polícia. A enfermeira informou à Ana que ela trouxe o polícia
para que ela pudesse reportar o que aconteceu. A Ana disse ao polícia que não queria abrir
queixa e que apenas queria fazer o teste. Depois de receber pressões da enfermeira e do polícia,
ela deu detalhes sobre a agressão e sobre o polícia agressor.

CASO 2: O JOÃO
O João tem 27 anos de idade. Ele adora o seu trabalho e é feliz com o parceiro que tem há dois

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anos, o Júlio. Mantém relações sexuais apenas um com o outro e submeteram-se ao teste de HIV
e outras Infecções de Transmissão Sexual (ITSs). No trabalho, o João não conta a ninguém
sobre o Júlio. Muitas vezes, os seus colegas perguntam porque é que ele não é casado e tentam
apresentá-lo a mulheres que conhecem. Ele sempre recusa-se educadamente, mas um dos novos
colegas de trabalho começa a sugerir abertamente que o João é gay. Logo a seguir o João é
hostilizado no trabalho e entra em depressão. Começa a beber mais álcool e passa a sair à noite
várias vezes por semana. Nas noites em que esteve a beber, por vezes, manteve relações sexuais
com outros homens no bar sem usar o preservativo. Em uma dessas noites, a polícia estava a
fazer rotações e João é encontrado na viatura a beijar outro homem. Os polícias mandam os dois
descer do carro e perguntam o que estavam a fazer. Os dois dizem que estavam só a conversar.
Os polícias dizem que estão a fazer coisas erradas, que podem ser presos por atentado ao pudor
e pedem dinheiro. Dizem que vão lhe bater para ensinar o que é ser homem de verdade.

CASO 3: A POLÍCIA
Houve um caso em que os agentes da polícia localizaram um rapaz que preenchia as
características de um agente suspeito de estar armado. Durante o patrulhamento, cruzam-se com
um indivíduo e estes o ordenaram para parar. Mas ele continuou a caminhar e levou as mãos
para trás. Sem identificar o realmente aconteceria, acreditando que ele iria tirar uma arma, os
membros da polícia atiraram e o mataram. Ao procurarem pela arma, constataram que o
suspeito tentava retirar a sua identificação de surdo/mudo.

CASO 4: A JOANA
Joana tem 20 anos de idade e é uma trabalhadora de sexo. Na semana passada um cliente
recusou-se a pagar após manter relações sexuais, argumentando não ter-se sentido
confortável por ela ter imposto o uso do preservativo. Ela tentou convencê-lo a pagar e ele
chamou-lhe nomes, bateu-lhe várias vezes, e roubou-lhe. Joana anotou a placa da viatura mas
estava com muito medo e pediu ajuda às amigas que chamaram o polícia. Joana foi levada à
esquadra e foi lhe dito que ela que estava errada porque estava a ganhar a vida de forma
indecente. Além disso, ao consultar de quem era a viatura viram que tratava-se de um político
importante e que Joana deveria se envergonhar de querer gerar ainda mais problemas.

CASO 5: A MARIA

A Maria é uma jovem que vive na Cidade de Maputo. Ela é inteligente, engraçada, gentil e linda. Ela tem
uma família que a apoia e é boa no trabalho que faz. Tem muitos amigos, especialmente colegas do
trabalho. Eles a respeitam e sabem que ela vai crescer profissionalmente e alcançar grandes coisas. Ela
conheceu o Mário e apaixonaram-se. Casaram-se e foram viver juntos. Algumas semanas após o seu

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casamento, o Mário diz à Maria que ele acha que seria melhor se ela se vestisse de uma forma um pouco
mais conservadora. Ele a vê sair usando a mesma saia curta que ela usava quando eles conheceram-se. Ela
já não precisa mais de arranjar um marido, por isso, já não precisa de continuar a usá-las. Maria responde
sim, já que o pedido parecia razoável e porque sabe que o Mário disse isso por amor. Mais algumas
semanas passaram, e o Mário pede a Maria para parar de usar tanta maquilhagem. Ele diz ficar
preocupado que as pessoas “tenham a ideia errada sobre ela” porque ela fica com uma aparência “barata.”
Ele diz que não está a tentar ser mau com ela; apenas está a protegê-la. A Maria fica envergonhada e
muda o seu visual. Passam mais alguns meses a Maria e o Mário decidiram ter um bebé. Ficam
entusiasmados quando o bebé nasce. A Maria diz ao Mário que encontrou uma boa babá para cuidar do
bebé quando a Maria voltar a trabalhar. O Mário diz, “Eu não consigo imaginar uma mulher a deixar o
seu bebé ao cuidado de outras pessoas! Não vais ficar em casa e ser uma boa mãe? Porquê voltar a
trabalhar?” A Maria pede desculpa por negligenciar as suas obrigações de mãe. A sua autonomia, rede
social e auto-estima são retiradas. Um dia, a Maria não tem o jantar pronto quando o Mário chega do
trabalho. Ele a pergunta sobre como é que ela passa o seu tempo e porque é que ela tornou-se tão “inútil.”
“Ela não é capaz de cuidar de uma criança e de uma casa?” A sua mãe teve cinco filhos e nunca falhou
com as suas obrigações de esposa. A Maria pede desculpas e assegura-o que isso não irá acontecer outra
vez. A sua auto-estima reduz ainda mais. Uma semana depois o bebé está doente e a Maria passa a tarde
no pediatra. Ela volta à casa no momento em que o Mário chega do trabalho. Ele pergunta onde ele
esteve. Quando ela responde ele a chama de mentirosa e pergunta a quem é que ela realmente foi ver. No
dia seguinte o bebé ainda está doente mas a Maria fica em casa e cuida dele. O jantar não esta pronto
quando o Mário chega e ele a bate quando ela explica o que aconteceu. Ele depois pede desculpas e pede-
a para não “irrita-lo assim tanto” da próxima vez. Uma vizinha ouve a briga e percebe que Maria sofreu
uma violência doméstica e liga para a Polícia.

CASO 6: O LUDO
Ludo Joaquim, de 13 anos de idade e de1,65m de altura, foi ao teatro com a sua vizinha
Benjamina. De regresso a casa cruzam-se com Alfredo João com que Ludo se envolve numa cena
de pancadarias em disputa da referida vizinha. Uma patrulha Policial, que se encontrava perto,
separou os dois jovens em contenta, tendo em seguida os conduzidos a esquadra mais próxima.
Chegados a Esquadra, o Chefe da patrulha explica o sucedido ao oficial-dia que de imediato abre
um processo. Tendo solicitado os bilhetes de identidade dos recém-capturados, verificou que
ambos eram menores, o que contrastava com a estatura enorme dos dois. Tal facto levou a que o
oficial-dia desconfiasse da autenticidade daqueles documentos e ordenou a detenção dos dois
menores na mesma cela onde se encontravam delinquentes adultos e perigosos. Durante seis dias
de detenção, os pais dos detidos foram impedidos de se comunicarem com os filhos.

CASO 7: TRABALHADORES
Um grupo de trabalhadores não recebe os seus salários a já 10 meses. Tiveram várias reuniões
com as estruturas sindicais e patronais da empresa, tendo-lhes sido feitas apenas algumas
promessas e nada mais.
Um dia decidiram organizar uma marcha pacífica empunhando cartazes e dísticos em direcção ao

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Gabinete do Director da Empresa, para exigirem os seus salários em atraso.
Apercebendo-se da situação, as entidades patronais comunicaram a Esquadra mais próxima da
PRM, solicitando intervenção policial urgente.
Sem de longas a polícia respondeu a comunicação mandando para o local uma unidade de
intervenção, a qual deu reencontro com os manifestantes logo na primeira esquina, tendo
imediatamente aberto fogo contra a multidão que já ia engrossado o grupo.
Dispersada a manifestação verificou-se que tinha morrido um homem de meia-idade e uma
criança, crivada de balas de arma de combate, e muitos feridos graves e ligeiros.

CASO 8: A ILDA
A Ilda foi violentamente espancada pelo seu marido, por ter recusado a servir comida ao marido
que acabava de chegar a casa pelas duas horas de madrugada em estado avançado de embriaguez.
Como resultado de espancamento, a senhora Ilda fracturou o braço direito e ficou com a face
tumefacta. Profundamente chocada com o sucedido, a Ilda meteu queixa na esquadra da sua zona
de residência. Chegado a esquadra, o oficial de permanência escutou com muita atenção os
depoimentos da queixosa e, como a dirimir o caso, disse: “ lamento bastante, mas a polícia nada
pode resolver porque este é um problema familiar, vá resolver o assunto com seu marido lá em
casa”.

CASO 9: AGENTES DA POLÍCIA


Um grupo de Agentes da Policia, empenhados em resolver uma briga generalizada dentro de uma
pizzaria, e ao chegar no local, e diante da confusão formal, efectua vários disparos para cima. Um
dos projécteis bate no tecto e atinge uma pessoa inocente.

CASO 10: A VANDA


Vanda, de 14 anos de idade vai a polícia apresentar queixa de violação sexual. Vanda conta que
há duas semanas, numa noite em que voltava da escola, um rapaz do bairro vizinho a apanhou no
caminho e violentou sexualmente. Na altura, por vergonha, Vanda não disse nada a ninguém.
Passado uns dias, como já não aguentava não ter ninguém com se consolar, contou a uma prima.
Rapidamente os pais da Vanda ficaram a saber e foram pedir satisfação a família do rapaz. Tudo
foi então arranjado entre as famílias para os dois se casarem. Vanda, desesperada, resolveu ir a
polícia apresentar queixa

CASO 11:A EUGÉNIA


A Eugénia vai a polícia denunciar o seu companheiro, Hilário, de abusar sexualmente da sua
filha de 7 anos. Eugenia costuma deixar a sua filha e o seu filho aos cuidados de Hilário durante
o dia enquanto ia vender no mercado. Hilário trabalhava de noite e ficava com as crianças
durante parte do dia. Naquele dia, Eugenia voltou para casa para buscar uma coisa que se tinha
esquecido e encontrou o seu filho a brincar fora da casa e a porta do quarto fechado. Depois de
muito bater, João abriu a porta e viu que estava lá dentro com a sua filha. Em conversa com a

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filha ficou a saber que muitas vezes o Hilário se fechava com ela no quarto e explicou que
faziam algumas praticas sexuais.

CASO 12: A TIA


A polícia recebe uma chamada do Posto Administrativo, onde se encontra uma criança de 11
anos. A polícia vai ao local e ao conversar com a criança descobre que ela manteve relações
sexuais com os dois indivíduos em troca de dinheiro (50 meticais). Durante as investigações do
caso, chamou a tia com que vivia com aquela criança. A criança disse que não era primeira vez
que mantinha relações sexuais em troca de dinheiro, porque ela já tinha tido varias vezes para
trazer dinheiro para ajudar as despesas da casa da tia, a pedido da tia.

CASO 13: O CASAL


Um casal tem uma filha junto. Mas logo a seguir o marido vai embora da comunidade para viver
com outra mulher (2ª). Quatro anos depois o homem volta para viver na comunidade da primeira
mulher e leva a filha de 4 anos sem autorização da mãe, para viver com ela e a sua esposa
(madrasta da rapariga). A madrasta criou e cuidou da rapariga dos 4 aos 15 anos de idade, pois o
homem já tinha ido embora para outra localidade para se juntar com uma terceira mulher. A mãe
biológica vai buscar a sua filha na casa da madrasta que tinha cuidado da rapariga. A madrasta
não quer entregar a rapariga a sua mãe biológica, pois criou a rapariga e diz que a mãe não é
seria e não merece ter a filha de volta.

CASO 14: O MIGUEL


Miguel de 42 anos, vai a esquadra denunciar a sua esposa Rosa por maltratar (bater, insultar
sempre) a sua fila Ângela de 9 anos. Rosa é madrasta de Ângela. Miguel esta preocupado com os
efeitos dos maus tratos na criança que já a levaram a desaparecer de casa e viver na rua por
alguns dias, mas não pode protegê-la pois trabalha fora de casa durante todo dia. Miguel tem
medo que Ângela fuja de casa e abandone a escola.

Actividades do Módulo

Recorrendo aos casos hipotéticos abaixo, discuta, em grupo, as questões colocadas:


1. Discuta os procedimentos dos agentes da polícia no âmbito dos padrões dos Direitos
Humanos
2. Enumere os tipos de violência patentes nos casos descritos.
3. O que a policia deveria fazer perante o caso?

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4. De que modo é que o Agente da policia poderá contribuir no seu quotidiano para a
protecção e promoção dos Direitos da mulher?
5. Qual é a importância da responsabilização dos Agentes pelos seus actos e omissões à luz
da lei, dos regulamentos e instruções do serviço, para a protecção e promoção dos
Direitos Humanos?
6. Que utilidade tem o código de conduta para os Agentes responsáveis da lei?
7. De que modo é que os membros da Polícia poderão contribuir para a realização efectiva
do direito a vida consagrado nos instrumentos universais e regionais dos Direitos
Humanos e na Constituição da República?
8. O cumprimento de ordens violadoras da lei e dos Direitos Humanos não exime da
responsabilidade dos actos praticados. Discuta esta afirmação.
9. Sobre uso de força e arma de fogo discuta os princípios de proporcionalidade e
necessidade.
10. De que maneira as mulheres são discriminadas?
11. O que a igualdade das mulheres significa num contexto de discriminação?
12. O que gostaria de ver a sociedade fazendo em relação a igualdade de género?
13. Na vossa opinião que seria o estagio da igualdade de género em Moçambique?
14. Partindo o entendimento de igualdade de direitos entre homens e mulheres. Para ti o que
significa ser homem em contextos históricos concreto?
15. Será que a Constituição da República de Moçambique é fonte de Direitos Humanos?
Demonstre, caso afirmativo.
16. Em que medida os instrumentos internacionais estão reflectidos nos instrumentos legais
Moçambicanos?
17. De exemplo que mostre que o conjunto dos Direitos Humanos se encontram consagrados
na Constituição Moçambicana.
18. Enumere as razões que inibem as vítimas de violência de denunciarem os agressores as
autoridades competentes.
19. Qual a principal duvida em relação a diversidade sexual que chega ate você no dia-a-dia?
20. Como você acha que Moçambique, tanto a comunidade como a polícia tem lidado com a
diversidade sexual?
21. Que fazer se um colega do serviço, amigo ou familiar se assumir como
homossexual/bissexual?

2. Referência Bibliográfica
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BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. 12ª Edição, Rio de Janeiro: Campus, 1992

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