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OS REQUISITOS PARA A PRORROGAÇÃO DA VIGÊNCIA CONTRATUAL DOS SERVIÇOS

DE NATUREZA CONTINUADA
Por Ana Carolina Coura Vicente Machado
Advogada em Curitiba. Consultora da JML Consultoria & Eventos Ltda. Integrante da equipe de apoio
técnico da Revista JML de Licitações e Contratos. Pós-graduanda em Direito Administrativo pelo
Instituto Romeu Felipe Bacellar. Pós-graduada pela Escola da Magistratura do Paraná. Graduada pela
Universidade Federal do Paraná. Atuou na área de licitações e contratos administrativos, pelo período
de cinco anos, na administração indireta do Município de Curitiba.
O prazo de vigência é cláusula essencial dos contratos administrativos1, sendo delimitado pelo
período necessário para a execução do objeto, seu recebimento e o respectivo pagamento, ou seja, é o
prazo para que ambas as partes contratantes cumpram todas as obrigações assumidas.
Nos termos do que determina a Lei nº 8.666/1993, esse prazo, como regra, deve ficar adstrito
à duração dos respectivos créditos orçamentários (art. 57, caput), sendo que para as situações previstas
nos incisos do art. 57 admite-se que a vigência do contrato seja dilatada por período mais extenso,
rezando o referido dispositivo legal o seguinte:
“Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à vigência dos
respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos:
I - aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no Plano
Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se houver interesse da Administração e desde
que isso tenha sido previsto no ato convocatório;
II - à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que poderão ter a sua
duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos com vistas à obtenção de preços e
condições mais vantajosas para a administração, limitada a sessenta meses; (Redação dada
pela Lei nº 9.648, de 1998)
III - (VETADO)
III - (Vetado). (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
IV - ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de informática, podendo a
duração estender-se pelo prazo de até 48 (quarenta e oito) meses após o início da vigência do
contrato.
V - às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, cujos contratos poderão
ter vigência por até cento e vinte meses, caso haja interesse da administração. (Incluído pela
Medida Provisória nº 495, de 2010)
V - às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, cujos contratos poderão
ter vigência por até 120 (cento e vinte) meses, caso haja interesse da administração. (Incluído
pela Lei nº 12.349, de 2010)
§ 1º Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de entrega admitem
prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e assegurada a manutenção de seu
equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum dos seguintes motivos,
devidamente autuados em processo:

1
Seja ele um contrato por escopo ou por prazo certo, cuja diferenciação foi explicitada pela JML Consultoria, na Revista nº 15, pág.
50, nos seguintes termos: “Os contratos administrativos podem se extinguir pelo término de seu prazo ou pela conclusão de seu
objeto. No primeiro caso tem-se o ‘contrato por prazo certo ‘, que é aquele que se extingue pelo término de seu prazo, ou seja, o
lapso temporal inicialmente fixado pela Administração é que terá influência na sua vigência . Nestes casos o objeto da contratação
consiste em uma prestação de serviço ou fornecimento que devem ser extintos ao fim do prazo estipulado, como, por exemplo,
nos casos de contratação de serviço de limpeza. Já o segundo caso caracteriza o ‘contrato por escopo ‘, que é, por seu turno,
aquele em que o que importa é a conclusão de um objeto, obra, etc., sendo que a extinção do contrato se dá com a finalização do
objeto contratado. Entretanto, ressalta-se que mesmo nos contratos por escopo deverá haver estipulação de prazo de vigência, já
que é expressamente vedada pela Lei 8.666/93 a realização de contrato com prazo indeterminado (§ 3º do art. 57).”
I - alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à vontade das partes, que
altere fundamentalmente as condições de execução do contrato;
III - interrupção da execução do contrato ou diminuição do ritmo de trabalho por ordem e no
interesse da Administração;
IV - aumento das quantidades inicialmente previstas no contrato, nos limites permitidos por
esta Lei;
V - impedimento de execução do contrato por fato ou ato de terceiro reconhecido pela
Administração em documento contemporâneo à sua ocorrência;
VI - omissão ou atraso de providências a cargo da Administração, inclusive quanto aos
pagamentos previstos de que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na
execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos responsáveis.
§ 2º Toda prorrogação de prazo deverá ser justificada por escrito e previamente autorizada
pela autoridade competente para celebrar o contrato.
§ 3º É vedado o contrato com prazo de vigência indeterminado.
§ 4º Em caráter excepcional, devidamente justificado e mediante autorização da autoridade
superior, o prazo de que trata o inciso II do caput deste artigo poderá ser prorrogado por até
doze meses. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)”
Como se observa, os contratos que não se enquadram nas exceções do art. 57 da Lei nº 8.666
devem ter duração vinculada aos respectivos créditos orçamentários2 e, uma vez findo o prazo de
vigência determinado extingue-se a avença, não sendo possível a sua renovação. Já para as situações
elencadas nos incisos do art. 57, o prazo de vigência do contrato, como dito, pode ser estendido por um
período maior.
Dentre essas exceções, destaca-se a relativa a projeto contemplado em Plano Plurianual, que
por possuir objeto cuja conclusão não é possível num curto espaço de tempo, podem ter seu prazo de
vigência extrapolando o exercício financeiro, com duração pelo tempo necessário à sua execução, sendo
possível, inclusive, sua prorrogação. Nestes casos, a duração dos contratos não está limitada ao
exercício financeiro, mas atrelada ao prazo do plano plurianual.
A respeito, leciona Marçal Justen Filho:
“Observe-se que projetos de longo prazo envolvem, usualmente, contratos de execução
instantânea, mas com objeto extremamente complexo. A duração no tempo não deriva da
repetição de condutas homogêneas, mas da dificuldade de completar uma prestação que
exige atividades heterogêneas. A hipótese de prorrogação de prazo relaciona-se com a
impossibilidade concreta e material de completar a prestação no prazo previsto.
Na hipótese do inc. I, é possível tanto pactuar o contrato por prazo mais delongado como
produzir sua prorrogação. Ambas as alternativas são comportadas pelo dispositivo. Assim, o
contrato para a construção de uma hidrelétrica pode ser pactuado com prazo de execução de
cinco anos. Não é necessário pactuar o prazo de um ano, ‘prorrogável’ sucessivamente. Essa
alternativa, aliás, afigura-se inadequada. A administração deve determinar, em termos

2
Como explica Lucas Rocha Furtado, “a fixação desse prazo máximo obedece às normas de Direito Financeiro, que vedam a
realização de despesa sem a respectiva previsão orçamentária. Considerando que a Lei Orçamentária prevê as despesas a serem
realizadas no exercício financeiro, não seria possível a realização de despesa que não estivesse prevista na Lei Orçamentária Anual.
Esta regra será, inclusive, objeto de outra cláusula obrigatória do contrato (art. 55, V), relativa à fixação do ‘crédito pelo qual
correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional programática e da categoria econômica’. Dado que o orçamento
vigora durante o ano civil, nenhum contrato administrativo poderá ter prazo de vigência com termo final ultrapassando o dia 31
de dezembro do ano em que tenha tido início sua vigência ressalvadas as hipóteses indicadas nos incisos do art. 57, que poderão
ser celebrados com prazos superiores ao do exercício financeiro.” FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos
administrativos. 7. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 655.
precisos, o prazo necessário à execução do projeto. Fixado o prazo, o particular terá o dever
de cumprir o cronograma e a Administração o de realizar os pagamentos apropriados. A
faculdade de prorrogação não se destina a ser utilizada permanentemente. É exceção e não
justifica a eternização do contrato”.3
Outra exceção à regra geral refere-se contrato de aluguel de equipamentos e utilização de
programas de informática, cuja vigência fica limitada a 48 (quarenta e oito) meses (art. 57, III).
No que se refere aos contratos de serviços contínuos (art. 57, II), dada a essencialidade4 do
serviço, o prazo de vigência pode ser prorrogado por iguais e sucessivos períodos até o limite de 60
(sessenta) meses, podendo, ainda, o contrato ser prorrogado por mais 12 meses, em caráter
excepcional, nos termos do artigo 57, § 4°.
Nesse caso, é importante ser ponderado que, a rigor, o prazo inicial do contrato deve ser
estipulado pelo período de 12 meses, sendo que apenas em casos excepcionais, ante objeto incomum
e/ou da existência de regras próprias de mercado, com a motivação devida, é possível que esse prazo já
seja desde o início fixado para períodos superiores (24 e 36 meses, por exemplo), condicionando-se tal
opção à demonstração da vantagem do procedimento e da característica da excepcionalidade da
medida, na linha do que já sinalizou o TCU:
“8.6.3 No tocante à existência de possível irregularidade na fixação da vigência inicial do
contrato em 36 (trinta e seis) meses, e não 12 (doze) meses, por se tratar de situação não
usual, considerando-se uma contratação de duração continuada, e exceção à regra da
anualidade das contratações (vigência dos créditos orçamentários) prevista no art. 57, inciso
II, da Lei de Licitações, verifica-se, à luz da Jurisprudência deste Tribunal, em particular os
Acórdãos n°s 1.191/2005 - Plenário e 4.614/2008 - 2ª Câmara, que, não obstante ser uma
anomalia, a contratação é possível, desde que sejam comprovadas condições mais
vantajosas para a Administração.”5 (grifou-se)
Mesma posição adota a Advocacia-Geral da União na Orientação Normativa nº 38, citada a
título meramente exemplificativo:
“ORIENTAÇÃO NORMATIVA Nº 38, DE 13 DE DEZEMBRO DE 2011
‘NOS CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE NATUREZA CONTINUADA DEVE-SE
OBSERVAR QUE: A) O PRAZO DE VIGÊNCIA ORIGINÁRIO, DE REGRA, É DE ATÉ 12 MESES; B)
EXCEPCIONALMENTE, ESTE PRAZO PODERÁ SER FIXADO POR PERÍODO SUPERIOR A 12
MESES NOS CASOS EM QUE, DIANTE DA PECULIARIDADE E/OU COMPLEXIDADE DO OBJETO,
FIQUE TECNICAMENTE DEMONSTRADO O BENEFÍCIO ADVINDO PARA A ADMINISTRAÇÃO; E
C) É JURIDICAMENTE POSSÍVEL A PRORROGAÇÃO DO CONTRATO POR PRAZO DIVERSO DO
CONTRATADO ORIGINARIAMENTE.” (grifou-se)

3
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 17 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2016, p. 1108.
4
Serviços contínuos são entendidos como: “Serviços auxiliares e necessários à Administração no desempenho das respectivas
atribuições. São aqueles que, se interrompidos, podem comprometer a continuidade de atividades essenciais e cuja contratação
deva estender-se por mais de um exercício financeiro. O que é contínuo para determinado órgão ou entidade pode não ser para
outros. São exemplos de serviços de natureza contínua: vigilância, limpeza e conservação, manutenção elétrica, manutenção de
elevadores, manutenção de veículos etc. Em processo próprio, deve a Administração definir e justificar quais outros serviços
contínuos necessita para desenvolver as atividades que lhe são peculiares”. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Licitações e
contratos: orientações e jurisprudência do TCU. 4. ed. rev., atual. e ampl. – Brasília: TCU, Secretaria-Geral da Presidência : Senado
Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2010, p. 772.
Ainda, destaca-se decisão mais recente do TCU sobre o tema: “O caráter contínuo de um serviço (art. 57, inciso II, da Lei
8.666/1993) é determinado por sua essencialidade para assegurar a integridade do patrimônio público de forma rotineira e
permanente ou para manter o funcionamento das atividades finalísticas do ente administrativo, de modo que sua interrupção
possa comprometer a prestação de um serviço público ou o cumprimento da missão institucional.” Boletim de Jurisprudência
201/2018. Acórdão 10138/2017. Segunda Câmara.
5
TCU. Acórdão 1.335/2010.Plenário.
Logo, a regra deve ser a estipulação de prazo de vigência inicial de 12 meses, com a
possibilidade de sucessivas prorrogações até o limite de fixado pela norma, sendo que o TCU aponta
como requisitos necessários para a prorrogação contratual os seguintes:
“• existência de previsão para prorrogação no edital e no contrato;
• objeto e escopo do contrato inalterados pela prorrogação;
• interesse da Administração e do contratado declarados expressamente;
• vantajosidade da prorrogação devidamente justificada nos autos do processo
administrativo;
• manutenção das condições de habilitação pelo contratado;
• preço contratado compatível com o mercado fornecedor do objeto contratado.”6
O primeiro requisito, como se vê, é a expressa previsão da possibilidade de prorrogação no
instrumento convocatório e contrato, salvo em relação à hipótese contida no § 4º do art. 57 da Lei, em
face de seu caráter extraordinário e de imprevisão.
Nesse sentido aponta grande parte da doutrina, citando-se como exemplo o posicionamento
de José Anacleto Abduch Santos:
“A prorrogação de vigência dos contratos realizados por prazo demanda previsão no
instrumento convocatório e no contrato para ser realizada. A indicação expressa da
possibilidade de prorrogação dos contratos celebrados por prazo (serviços contínuos) é um
importante fator para orientar os licitantes particulares na formação de suas propostas. A
maior ou menor vantajosidade das propostas que disputarão o certame pode ter relação
direta com a possibilidade ou não de prorrogação dos prazos contratuais”.7
Em sentido contrário, consigna-se a visão de Jessé Torres Pereira Junior e Marinês
Restelatto Dotti, com a qual, data venia, não compartilhamos:
“Nos contratos cujo objeto seja a prestação de serviços contínuos- hipótese do inciso II, do
art. 57, que admite a prorrogação dos prazos de vigência contratual por iguais e sucessivos
períodos -, é necessária tal previsão no instrumento contratual ou no contrato anexo? A Lei n°
8.666/93 silenciou a respeito, fazendo alusão à prévia estipulação no instrumento
convocatório apenas na hipótese do art. 57, I.
O legislador, nos casos dos incisos II, IV e V não contemplou a obrigação, deduzindo-se que
seja desnecessária a inserção. A ausência de previsão no instrumento convocatório ou no
contrato anexo não produz óbices a que a Administração prorrogue o prazo de vigência nos
contratos cujo objeto seja a prestação de serviços contínuos, à vista da expressa autorização
do art. 57, II, da Lei n° 8.666/93, a que se subordina a Administração Pública (art. 6º, XI),
respeitado o limite de sessenta meses.”8
O segundo pressuposto é a manutenção do objeto/escopo do contrato, que não pode ser
alterado pela prorrogação. O que será alterado, apenas, é o prazo de vigência do contrato que será
renovado por mais um período, podendo ser idêntico ou não ao inicial, mantidas, entretanto, as
demais condições do ajuste, a exemplo do objeto (especificações, quantidades, etc.) e valor (que pode
apenas ser atualizado em decorrência de reajuste, repactuação ou revisão), sendo oportuno citar a
respeito a seguinte decisão do TCU:
“[RELATÓRIO]

6
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Licitações..., p. 765-766.
7
SANTOS, José Anacleto Abduch. Contratos administrativos: formação e controle interno da execução: com particularidades dos
contratos de prestação de serviços terceirizados e contratos de obras e serviços de engenharia. Belo Horizonte: Fórum, 2015, p.
114.
8
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres e DOTTI, Marinês Restelatto. Limitações constitucionais da atividade contratual da administração
pública. Sapucaia do Sul: Notadez, 2011, p. 99.
(...)
Análise: ‘Restou demonstrada, através da exposição do justificante, a existência de
divergências doutrinárias a respeito da caracterização dos serviços de ‘execução
continuada’. Os excertos trazidos à colação - onde se destacam os posicionamentos dos
administrativistas Toshio Mukai e Jorge Ulysses Jacoby Fernandes - efetivamente concorrem
para corroborar o entendimento vigente na consultoria jurídica da entidade, qual seja, o de
que os serviços publicitários situar-se-iam entre aqueles de 'natureza contínua’.
Quanto a esse aspecto, dessa forma, entendemos válido tal entendimento.
Mesmo admitindo tal posicionamento, restam irregulares os acréscimos reais verificados
nos contratos, já que as justificativas apresentadas não se mostram suficientes para
descaracterizar o constatado na auditoria, conforme demonstraremos, mais uma vez, a
seguir.
Preceitua o §1º do art. 57, da Lei nº 8666/93:
‘§1º. Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de entrega admitem
prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e assegurada a manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum dos seguintes motivos,
devidamente autuados em processo: ...’
(...)
Fica evidente, da análise do texto legal e da interpretação da consultoria jurídica da
entidade, que a prorrogação é admitida, nos casos de contratos de prestação de serviços de
execução contínua, desde que mantidas as mesmas condições originalmente pactuadas.
Tais condições, obviamente, não foram mantidas. Conforme já explicitado no relatório de
auditoria, como houve mudança nos valores contratados, as condições contratuais
originalmente pactuadas foram alteradas, o que caracteriza infringência ao §1º do art. 57 da
Lei nº 8666/93.
Não se trata, pois, como quer o justificante, de redução de até 25% nos valores do contrato. O
que a lei determina é que, uma vez que se queira promover a prorrogação do contrato, e
verificados os pressupostos necessários para tanto, é condição sine qua non que sejam
mantidas inalteradas as condições originalmente pactuadas .
Conforme citado anteriormente, o próprio parecer da consultoria jurídica já evidenciava, de
forma incontroversa, irrefutável e cristalina, tal entendimento.
Manter as mesmas condições originalmente pactuadas significa, evidentemente, não
promover qualquer alteração contratual. Efetua-se a pura e simples prorrogação, sem alterar,
repita-se, quaisquer das condições contratadas”9. (grifou-se)
Ademais, a prorrogação do contrato será efetivada se houver interesse da Administração e se
for aceita pelo contratado, ou seja, é ato bilateral que exige o consenso entre as partes expressamente
demonstrado.
Mesmo quando existe a previsão no edital e contrato da possibilidade de prorrogação, não há
direito do particular em exigir a renovação do ajuste, pois isso apenas deve ocorrer em favor do
interesse público para manter uma contratação vantajosa. Por outro lado, também não poderá a
Administração exigir que o particular aceite a prorrogação contratual, como sinaliza a jurisprudência a
respeito:
“APELAÇÃO CÍVEL. LICITAÇÃO E CONTRATO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA
IMPROCEDENTE. CONTRATO ADMINISTRATIVO. PRORROGAÇÃO. CONCORDÂNCIA DE AMBOS
CONTRATANTES. A prorrogação constitui ato bilateral, possuindo natureza convencional, o

9
TCU. Acórdão 35/2000. Plenário
que enseja a necessidade de concordância de ambos contratantes, os quais detêm
individualmente a alternativa de extensão da vigência contratual. Essa circunstância afasta a
possibilidade de renovação automática do contrato, já que impossível a prorrogação
contratual contra a vontade de um dos contratantes, sendo indispensável, portanto, a
manifestação da vontade tanto pelo contratado quanto pela Administração, a qual deverá se
valer de seu juízo de conveniência e oportunidade. Além disto, na hipótese, existe vedação
legal à prorrogação do contrato de concessão, pelo artigo 42 da Lei nº 8.987/95.”10
“A Administração não tem garantia de que o contrato será prorrogado. Trata-se de um
acordo entre as partes: a prorrogação somente ocorre, nos casos previstos legalmente, se
tanto a Administração quanto a contratada manifestarem interesse. Nenhuma das partes
possui direito subjetivo à prorrogação.”11
Bem por isso, cabe à Administração tomar as providências para a prorrogação do contrato
ou realização de nova licitação com a devida antecedência, na medida em que a recusa do particular
em dar continuidade ao ajuste por mais um período não será motivo para que a Administração
contrate os serviços diretamente, com escopo no art. 24, IV12 ou XI, por exemplo, como já sinalizou o
TCU:
“A ausência de interesse da contratada em fazer nova prorrogação de avença de prestação
de serviços de natureza continuada autoriza a realização de dispensa de licitação para
contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento (art. 24, inciso XI, da Lei
8.666/1993) , desde que atendida a ordem de classificação da licitação anterior e aceitas as
mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço.
O Plenário apreciou relatório de auditoria com objetivo examinar a regularidade dos
procedimentos em contratações de bens e serviços pela Comissão Nacional de Energia
Nuclear (Cnen), no âmbito de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC). Entre outras
ocorrências, a equipe de fiscalização apontou como achado de auditoria a "contratação direta
com aplicação irregular do embasamento legal no inciso XI do art. 24 da Lei 8.666/93", pois
empresa fora contratada para manutenção dos bens móveis e imóveis dos prédios da sede da
Cnen em decorrência da rescisão do contrato firmado com a vencedora do pregão eletrônico,
que informara, pouco antes do término da vigência do ajuste, não poder continuar prestando
os serviços. Com amparo no Acórdão 819/2014 Plenário, que, em situação similar, considerou
irregular uma nova contratação fundamentada no inciso XI do artigo 24 da Lei 8.666/93, a
unidade técnica entendeu que o embasamento legal adotado não poderia ser aplicado, por se
tratar de contrato de prestação continuada, com prazo de doze meses, que se encontrava no
seu segundo ano de prestação, de modo que o contrato original teria sido plenamente
executado. Assim, propôs a unidade instrutiva dar ciência à Cnen de que a celebração do
contrato em questão afrontara o citado dispositivo legal e o entendimento do mencionado
acórdão, uma vez que o contrato anterior tratava de serviço continuado já em sua primeira
prorrogação de doze meses, não havendo, portanto, a situação de serviço remanescente. O
relator, por sua vez, ponderou que a comunicação quanto à impossibilidade de prorrogação
contratual fora realizada pela empresa então contratada a menos de um mês do
encerramento da vigência do contrato, inexistindo tempo suficiente para a realização de novo
procedimento licitatório. Ademais, destacou o Acórdão 412/2008 Plenário, que teria
considerado regular contratação similar. Assim, tendo sido atendida a ordem de classificação
da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor,

10
TJ/RS. Apelação Cível 700229246250.
11
TCU. Acórdão 819/2014. Plenário.
12
Ainda que se admita a contratação direta por emergência, nos casos em que a licitação não se conclui a tempo, nessa situação
os responsáveis poderão ser penalizados por falta de planejamento, ao não adotarem as medidas necessárias em tempo hábil
para evitar a situação emergencial, conforme aponta o TCU: “A situação de contratação emergencial decorrente da falta de
planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos púbicos pode implicar a responsabilização do gestor que
lhe deu causa, em face de sua omissão quanto ao dever de agir a tempo, adotando as medidas cabíveis para a realização do
regular procedimento licitatório.” Boletim de Jurisprudência 175/2017.
inclusive quanto ao preço, concluiu o relator que a contratação com base no art. 24, inciso XI,
da Lei 8.666/1993 fora regular e que o achado poderia ser afastado, dispensando-se a ciência
proposta, no que foi acompanhado pelo Colegiado. Acórdão 1134/2017 Plenário, Auditoria,
Relator Ministro-Substituto Augusto Sherman.”13 (grifou-se)
Além disso, eventual prorrogação do contrato deve ser realizada ainda durante a vigência do
ajuste, pois quando o prazo de vigência do contrato flui totalmente, extingue-se a avença. E um contrato
extinto não é passível de prorrogação. Aliás, termo aditivo elaborado/assinado após o término da
vigência do contrato é um ato nulo.
Sobre o tema, lecionam Jessé Torres Pereira Junior e Marinês Restelatto Dotti:
“O aditamento é documento formal, por meio do qual são materializadas as alterações
necessárias nas cláusulas originais do contrato. Essas alterações devem ocorrer enquanto o
contrato estiver vigente. Por isso, é imprescindível que a administração pública diligencie para
que a assinatura dos respectivos termos seja promovida antes do término da vigência
contratual, uma vez que, após o decurso do respectivo prazo, o contrato considera-se
extinto.”14
Da mesma forma, as diversas decisões do TCU:
“Conduta: assinar o 10º Termo Aditivo ao Contrato 1/1993 após o término da vigência
contratual, ou seja, com contrato extinto, possibilitando o pagamento de serviços sem
cobertura contratual, quando deveria ter providenciado a celebração do referido aditivo
antes do término do prazo do aditivo anterior, nos termos do art. 60, parágrafo único da Lei
8.666/1993 e da jurisprudência do TCU, especificamente o Acórdão 1.882/2011-TCU-
Plenário.”15
“(...) 9.7. determinar à Infraero que: 9.7.1. se abstenha de prorrogar contratos com vigência
expirada, bem como de celebrar termos aditivos com efeitos retroativos, por ausência de
previsão legal, observando-se o disposto no art. 65 da Lei nº 8.666/1993(...)”.16
“Celebre termo de aditamento previamente a expiração do prazo contratual, de modo a
evitar a execução de serviços sem cobertura contratual, nos termos do art. 60 da Lei no
8.666/1993.”17
“Abstenha-se de autorizar a execução de serviços sem cobertura contratual, em
conformidade com o disposto nos artigos 60, parágrafo único, e 62 da Lei no 8.666/1993.”18
“Abstenha-se de promover a aquisição de bens ou serviços sem cobertura contratual, bem
assim de celebrar contratos com cláusula de vigência retroativa, caracterizando a existência
de contrato verbal antes de sua formalização, por contrariar o disposto no parágrafo único do
art. 60 da Lei 8.666/1993.”19
“Abstenha-se de receber produtos ou serviços ou de realizar despesas sem cobertura
contratual, em respeito ao disposto no parágrafo único do art. 60 da Lei no 8.666/1993.”20
“(...) 9.5 Determinar ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes-DNIT que
evite a prorrogação de contratos e/ou a celebração termos aditivo de contratos, cujo prazo
de vigência tenha expirado, por ausência de previsão legal, o que torna o procedimento
absolutamente nulo, atentando para o entendimento firmado pelo Tribunal em reiterada

13
TCU. Informativo de Licitações e Contratos nº 324/2017.
14
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres e DOTTI, Marinês Restelatto. Mil perguntas e respostas necessárias sobre licitação e contrato
administrativo na ordem jurídica brasileira. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 1523.
15
TCU. Acórdão 1622/2012. Plenário.
16
TCU. Acórdão 2538/2007. Plenário.
17
TCU. Acórdão 740/2004. Plenário.
18
TCU. Acórdão 452/2008. Plenário.
19
TCU. Acórdão 25/2007. Plenário.
20
TCU. Acórdão 2386/2006. Plenário.
jurisprudência, a exemplo da Decisão nº 451/2000 (Ata nº 20/2000 - P1enário - DOU de
13/06/2000) e do Acórdão 1247/2003, ambos do Plenário (Ata nº 33/2003 - Plenário - DOU
de 05/09/2003).”21 (grifou-se)
“[RELATÓRIO] Termo aditivo assinado após o término da vigência do contrato.(...)
3.3.9 - Conclusão da equipe:
Embora datado de 20/6/2008, o Termo Aditivo de prorrogação contratual só veio a ser
assinado depois do término do período inicial de vigência do contrato, que se encerrava em
23/6/2008. É sabido que o contrato administrativo é sempre bilateral e, em regra, formal.
Assim no que diz respeito à matéria aditamento é importante que a administração pública
diligencie para que a assinatura dos termos de aditamento sejam promovidas até o término
da vigência contratual, uma vez que, após o decurso do prazo, numa visão positivista, o
contrato considera-se extinto”.22
Caberá à Administração, também, demonstrar a vantajosidade da prorrogação, já que este é
o motivo de se permitir que um contrato se prolongue no tempo, nos termos do art. 57, II, da Lei nº
8.666. Lucas Rocha Furtado aponta que “a prorrogação não deve ser considerada procedimento
automático ou consequência natural da cláusula que a admite. Trata-se, é bem verdade, de
procedimento simples, mas que irá requerer a necessária motivação por parte da Administração Pública
quanto à sua vantajosidade.”23
E isso, como regra, se constata através de ampla e diversificada pesquisa de mercado, que
demonstrará, inclusive, que os preços contratados estão compatíveis com os praticados no mercado:
“1. Na elaboração do orçamento estimativo da licitação, bem como na demonstração da
vantajosidade de eventual prorrogação de contrato, devem ser utilizadas fontes diversificadas
de pesquisa de preços. Devem ser priorizadas consultas ao Portal de Compras
Governamentais e a contratações similares de outros entes públicos, em detrimento de
pesquisas com fornecedores, publicadas em mídias especializadas ou em sítios eletrônicos
especializados ou de domínio amplo, cuja adoção deve ser tida como prática subsidiária.”24
O último requisito para a prorrogação do contrato é a manutenção pelo particular das
condições de habilitação, dever, aliás, que deve ser cumprido durante toda a execução do contrato, sob
pena de inadimplemento, conforme previsão do art. 55, XIII, da Lei nº 8.666.
Presentes e evidenciados todos esses pressupostos, caberá à autoridade competente
autorizar a prorrogação do contrato, devendo ser celebrado competente termo aditivo, ao qual será
dada a devida publicidade.
Portanto, e em suma, os requisitos que devem ser preenchidos para a regularidade da
prorrogação do contrato de serviços contínuos, com escopo no que prevê o art. 57, II, da Lei nº 8.666
são:
“(a) a prorrogação deve efetivar-se antes que se esgote o prazo de vigência contratual;
(b) haja interesse na prorrogação tanto da administração contratante quanto do contratado;
(c) justificativa de que a prorrogação proporcionará vantagem de preço e/ ou de outras
condições para a administração;
(d) realização, em regra, de pesquisa de mercado, a demonstrar que os preços contratados
permanecem vantajosos para a administração;
(...)

21
TCU. Acórdão 0066/2004. Plenário.
22
TCU. Acórdão 1808/2008. Plenário.
23
FURTADO, Lucas Rocha. Curso..., p. 658.
24
TCU. Informativo de Licitações e Contratos n° 246/2015.
(e) autorização da autoridade competente;
(f) comprovação de que o contratado mantém as condições de habilitação inicialmente
exigidas;
(g) certificação de que inexiste impedimento do contratado de manter vínculo contratual com
o Poder Público, por meio de consulta a sistemas de registros cadastrais existentes, nos quais
podem estar consignadas sanções àquele aplicadas, com efeitos que o proíbem de contratar
com o Poder Público, alcançando o órgão ou entidade contratante;
(h) previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das despesas;
(i) formalização por meio de termo aditivo (...);
(j) envio da minuta de termo aditivo para análise e aprovação por assessoria jurídica (Lei n°
8.666/1993, art. 38, parágrafo único); e
(k) publicação do aditamento na imprensa oficial.”25

25
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres e DOTTI, Marinês Restelatto. Mil..., p. 1523.

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