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Entretanto, o mesmo artigo 57 da Lei nº 8.

666/93 prevê, em seus incisos, exceções a essa


regra, permitindo que a vigência do contrato administrativo se estenda além desse limite. São
elas:

(...)

b) para prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que poderão ter a sua
duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos com vistas à obtenção de preços e
condições mais vantajosas para a administração, limitada a sessenta meses;
(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)

Inicialmente, importa compreender que a prorrogação da vigência de um contrato de


prestação de serviço continuado pressupõe consentimento, isto é, anuência por parte de
ambos os contratantes. Não há de se falar em prorrogação unilateral ou imposta por um dos
sujeitos que integram a relação jurídica.

Sobre essa questão, veja-se o entendimento de Gustavo Justino de Oliveira:

Não havendo concordância da contratada na prorrogação do contrato, resta claro que o


contrato será automaticamente extinto com o advento do seu termo final. Portanto, não há
que se falar em 'rescisão unilateral por parte da contratada' nem em 'denúncia do contrato’. A
discordância da contratada em face de intenção da contratante de prorrogar o prazo de
vigência não equivale às hipóteses de rescisão unilateral ou denúncia do contrato. (OLIVEIRA,
Gustavo Justino de. Prorrogação de contrato de gestão e a Lei de Licitações. Revista Zênite de
Licitações e Contratos – ILC, Curitiba: Zênite, n. 203, p. 05, jan. 2011, seção Doutrina.)
(MENDES, 2018).

Portanto, a prorrogação contratual, na forma prevista no art. 57, inc. 11, da Lei nº 8.666/1993,
aperfeiçoa-se validamente com a assinatura do respectivo termo aditivo pelos contratantes, de
forma que somente a partir desse momento as partes se vinculam para o novo período de
vigência do ajuste.

Justamente por isso, a IN nº 05/2017 da Seges/MP, que disciplina a contratação de serviços no


âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional, em seu Anexo IX,
prevê a obtenção de manifestação prévia do particular como um requisito para a prorrogação.

Assim, não obstante a prorrogação depender de anuência da contratada, a manifestação


prévia do particular, feita por um meio válido para demonstrar seu consentimento acerca da
prorrogação do prazo contratual, constitui obrigação relativamente à assinatura do termo
aditivo.

Vale dizer, se apresentada manifestação, passível de comprovação, quanto à aceitação de


prorrogação do contrato pelo particular, vincula-se este ao atendimento da convocação para
assinar o competente termo aditivo.

Essa vinculação à manifestação formal quanto à intenção de prorrogar o contrato decorre dos
princípios da confiança e da boa-fé objetiva, que devem ser respeitados nas relações
contratuais, inclusive naquelas em que é parte a Administração Pública1.
Ainda que não seja suficiente para validar a prorrogação, a manifestação do particular faz
surgir para ele o dever de atender ao chamamento para a assinatura do termo aditivo, salvo se
houver fato superveniente que comprovadamente justifique a desistência posterior.

Dessa forma, para a Zênite, tal situação se assemelha à hipótese prevista no art. 81 da Lei de
Licitações, segundo o qual a recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato, aceitar
ou retirar o instrumento equivalente, dentro do prazo estabelecido pela Administração,
caracteriza o descumprimento total da obrigação assumida, sujeitando-os às penalidades
legalmente estabelecidas.

Por consequência, diante da recusa injustificada de cumprir com a obrigação assumida quanto
à prorrogação do ajuste, a qual deve restar devidamente documentada para fins de
comprovação, estará o contratado sujeito à aplicação das penalidades cabíveis.

Sob esse enfoque, veja-se trecho da racionalidade proposta por Marçal Justen Filho:

Adota-se o entendimento de que a renovação é ato bilateral, de natureza convencional. Isso


significa a impossibilidade de 'renovação automática' do contrato. É necessária a manifestação
de vontade de ambas as partes, tanto pela Administração como pelo contratado. Portanto,
não é possível que se imponha a vontade de qualquer das partes.

No entanto, a questão deve ser entendida em termos. Não se caracteriza renovação


automática quando o instrumento prevê um mecanismo de simplificação da manifestação de
vontade. Assim, suponha-se que o instrumento original preveja que a parte poderá comunicar
à outra sua intenção de promover a renovação, hipótese em que a outra parte terá o ônus de
manifestar explicitamente eventual discordância em prazo determinado. Seu silêncio
presumirá concordância. Nessa hipótese, será descabido aludir a renovação automática, eis
que terá ocorrido manifestação de vontade em determinado sentido. Apenas a declaração da
vontade não será expressa, mas tácita.

Essas fórmulas difundiram-se no âmbito da atividade empresarial privada, visando a superar


dificuldades relacionadas com (ausência de prazos ou formalidades relacionadas à prorrogação
contratual. Isso acarretava uma situação de incerteza, criando risco de a parte chegar aos
últimos dias do prazo sem ter ciência se a contratação seria ou não renovada.

Isso não significa a desnecessidade de formalização escrita da renovação. Mas se o


procedimento antecedente à renovação for completado e se aperfeiçoarem todos os eventos
previstos contratualmente para a renovação a recusa superveniente de uma parte à
formalização configurará infração à obrigação assumida. (JUSTEN FILHO, 2012, p. 835.) .

Disso decorre que, em vista da falta cometida pelo particular, cabe à Administração instaura

processo administrativo com vistas à apuração da responsabilidade e à imputação das


penalidades eventualmente cabíveis, quais sejam multa compensatória na forma prevista no
contrato; suspensão temporária do direito de licita e contratar (art. 87, incs. 11 e 111); ou, na
hipótese de o contrato ser decorrente de licitação sob a modalidade pregão, multas e
impedimento de licitar e contratar (art. 7° da Lei n° 10.520/2002) Para tanto, a Administração
deverá avaliar a situação fática à luz dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade
(dosimetria da pena).
Além da instauração do processo administrativo para aplicação de sanção ao particular, caberá
à Administração promover o arquivamento do aludido processo de contratação, instaurando-
se novo processo de contratação para viabilizar a continuidade da atividade. Se não for
possível aguardar o desfecho da nova licitação, dada a impossibilidade de interromper serviços
essenciais, seria cogitável a formalização de uma contratação emergencial (art. 24, inc. IV, da
Lei nº 8.666/1993), pelo período correspondente.

Com base nessa fundamentação, responde-se: que a recusa injustificada para assinar o termo
de prorrogação de contrato de prestação de serviço continuado, na forma do art. 57, inc. II, da
Lei nº 8.666/1993, após confirmação por meio idôneo acerca da aceitação da contratada
quanto à prorrogação do contrato, dá causa à aplicação de penalidades, já que a aceitação
produz efeito vinculante, e o seu desatendimento, por consequência, gera efeitos de
inexecução.

https://chamados.ifsc.edu.br/otrs/public.pl?
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A Administração não tem garantia de que o contrato será prorrogado. Trata-se de um acordo
entre as partes: a prorrogação somente ocorre, nos casos previstos legalmente, se tanto a
Administração quanto a contratada manifestarem interesse. Nenhuma das partes possui
direito subjetivo à prorrogação.”

2.6. Manifestação de interesse pela parte contratada.

Nesse sentido, o art. 2.º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 dispõe: “Para os fins desta Lei,
considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração
Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a
estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada”.

Como o ajuste decorre de acordo de vontades entre as partes contratantes, é imprescindível


haver concordância prévia da parte contratada para a referida prorrogação, corroborando
expressamente os termos do acordo a ser prorrogado.

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