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Ao Procurador Geral

Prefeitura Municipal da Instância Balneária Ubatuba


Ubatuba/SP

Processo n.º: 15.125/21

KAIROS CONSTRUTORA E INCORPORADORA EIRELI, com sede


à Av. Moises Lopes, 621 - Bairro Francisca Augusta Rios - CEP: 37.557-051 -
Pouso Alegre/MG, inscrita no CNPJ/MF sob n.º 29.012.672/0001-07, vem
apresentar REQUERIMENTO.

1. SÍNTESE

1.1 Em 12/04/2022, foi firmado entre o Município e a Empresa Kairos o


Contrato Administrativo n.º 35/2022, tendo por objeto a execução de
pavimentação da Orla de Picinguaba.

1.2 A Administração em 28/04/2023 requereu a paralização temporária da


obra em andamento, para adequações no projeto e devido ao atraso no
recebimento do recurso Federal para dar cobertura as despesas do contrato.

1.3 Em 03/07/2023 a Contratada apresentou pedido de alteração


quantitativa e qualitativa, pois constatou-se um erro na composição e preços.

1.4 Após receber retorno verbal para executar o que fora acordado com
a Administração, a Contratada que prestou os serviços objeto do aditivo, foi
surpreendida com a informação de que o pagamento não ocorreria e deveria ser
realizado por indenização, eis que o contrato fora rescindido em 18/10/2023.

1.5 O objetivo do requerimento é: (i) requerer a nulidade da rescisão


contratual, porque: não houve adequada instrução de processo de rescisão; e
(ii) requerer o deferimento do aditivo formulado com o pagamento pelos serviços
prestados.
2. É NULA A RESCISÃO CONTRATUAL QUE NÃO FOI
CORRETAMENTE INSTRUÍDA PELA ADMINISTRAÇÃO
Houve a violação da ampla defesa e do contraditório e a rescisão foi assinada
por autoridade incompetente

2.1 Os princípios do contraditório e da ampla defesa são assegurados


pelo art. 5º, LV, da Constituição Federal.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

2.2 O artigo 78 da Lei nº 8.666/1993 estabelece a prerrogativa da


Administração Pública de rescindir unilateralmente os contratos, porém, tal
medida deve ser precedida da instauração do devido processo administrativo.

Lei n.º 8.666/93. Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
(...)
Parágrafo único. Os casos de rescisão contratual serão
formalmente motivados nos autos do processo, assegurado o
contraditório e a ampla defesa.

2.3 No mesmo sentido, estabelece o contrato celebrado entre as partes,


que ainda estabelece a necessidade de a rescisão ser precedida de autorização
escrita e fundamentada da autoridade competente:
(Doc.03)

2.4 Configura-se, portanto, ilegalidade e abuso de poder a rescisão de um


contrato válido sem a observância dos requisitos estabelecidos na lei.

2.5 A Kairos foi contratada para realizar serviços de pavimentação da


estrada da Orla de Picinguaba e requereu aditivo porque constatou-se um erro
na composição e preços em que a escavação por m³ não abrangia todos os
custos necessários, como por exemplo de operador de máquina e diesel.
Custos
Adicionais

(Doc. 04)

2.6 Após diversas reuniões internas que discutiam o recebimento de


recurso federal para cobrir as despesas do contrato, ajustes sobre obrigações
contratuais, foram aceitas as condições do aditivo proposto pela Contratada.

2.7 A Contratada então, realizou os serviços para instalação dos tubos


para drenagem da estrada, suportando todos os custos demonstrados em
aditivo.
(Doc. 05) (Doc. 06)

(Doc. 07) (Doc. 08)

2.8 Posteriormente foi informada que o aditivo executado deveria ser


pago mediante requerimento de indenização, pois, o Município rescindiu o
Contrato Administrativo, em 18/10/2023.
(Doc. 09)

2.9 A contratada recebeu essa informação com espanto, eis que nunca
recebeu nenhuma notificação sobre a rescisão, tampouco exerceu o seu direito
ao contraditório e ampla defesa.
2.10 O pagamento por indenização precede processo específico de
apuração, o que demanda tempo para sua instrução, por isso, ocasionaria
prejuízo à Contratada, que já arcou com os custos necessários e realizou os
serviços com as alterações contratuais.

2.11 A Administração não poder prejudicar o particular e rescindir o


contrato administrativo sem que seja garantido o efetivo exercício do
contraditório e ampla defesa, sob pena de violação ao artigo 5º, LV, da
Constituição Federal e artigo 78 da Lei n.º 8.666/93, que rege o contrato
administrativo em questão.

2.12 Neste sentido, é o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo.

MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRATO ADMINISTRATIVO.


RESCISÃO UNILATERAL. Impetrante que pretende a anulação do
ato administrativo que rescindiu o contrato firmado com o
Município de Leme e lhe impôs multa por descumprimento da
avença. CABIMENTO. Em que pese a Administração Pública
possua prerrogativa de rescindir unilateralmente os contratos,
nos termos do art. 78 da Lei nº 8.666/1993, não pode fazê-lo sem
prévia instauração do processo administrativo competente, em
que se garanta o devido processo legal, contraditório e ampla
defesa. Violação ao art. 5º, LIV e LV da CF/88. Precedentes. R.
sentença concessiva mantida. REEXAME NECESSÁRIO E
RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDOS. (TJ-SP - APL:
10012962720218260318 SP 1001296-27.2021.8.26.0318, Relator:
Flora Maria Nesi Tossi Silva, Data de Julgamento: 25/10/2021, 13ª
Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 25/10/2021)

2.13 Portanto, não pode a Administração Pública rescindir unilateralmente


um contrato sem oportunizar ao Contratado o exercício do contraditório e ampla
defesa, pois é um direito garantido pela legislação, caso contrário será nulo o ato
administrativo de rescisão.

2.14 Por isso, requer seja reconhecida a nulidade do ato administrativo de


rescisão contratual, eis que conforme demonstrado não foi garantido à
Contratada o seu direito à ampla defesa e contraditório.
3. É DEVIDO O PAGAMENTO DA CONTRATADA PELOS SERVIÇOS
ADICIONADOS SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA
ADMINISTRAÇÃO

3.1 O aumento quantitativo ou qualitativa dos encargos para o contratado,


a Administração estará obrigada a aumentar de forma proporcional a sua
remuneração, como estabelecido no artigo 58, parágrafo 2 da Lei nº 8.666/93.

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por


esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades
de interesse público, respeitados os direitos do contratado;
[...] § 2º Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas
econômico-financeiras do contrato deverão ser revistas para que
se mantenha o equilíbrio contratual.

3.2 Nas palavras de Lima e Castro:

As despesas em que o credor já tenha cumprido suas obrigações,


entregado o material, prestado os serviços ou executado a etapa
da obra, dentro do exercício, tendo, portanto, direito líquido e
certo, estando em condições de pagamento imediato. (LIMA, D. V.
de e CASTRO, R. G. de. Contabilidade pública: integrando União,
Estados e Municípios (Siafi e Siafem). 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.
82-83)

3.3 No caso, a composição de custos da Administração não abrangia


todos os serviços necessários para plena execução dos serviços contratados.
Razão pela qual, foi requerido o termo aditivo do contrato.

(Doc. 10)
3.1. Até o momento, a Contratada não recebeu a contrapartida referente
aos serviços efetivamente prestados, o que evidencia uma falha da
Administração.

3.4 A situação fática se amolda ao entendimento jurisprudencial, que


afirma existir a obrigação de pagamento mesmo que não tenha sido formalizado
por escrito o termo aditivo.

Ação de Cobrança – Município de Salto Grande – Obras em ampliação


de salas de aulas em escola municipal – Antes da finalização das
obras, foram requeridos serviços adicionais – Aditivo contratual não
formalizado por ausência de dotação orçamentária e rejeição de
projeto de lei para crédito especial – Documentos e prova oral que
confirmam a realização das obras adicionais – Pagamento devido,
de modo a evitar o enriquecimento ilícito da Administração, ainda
que irregular a ausência de aditivo, acordado apenas verbalmente
– Sentença reformada – Recurso provido. (TJ-SP - AC:
10022968820188260408 SP 1002296-88.2018.8.26.0408, Relator:
Luciana Bresciani, Data de Julgamento: 27/01/2021, 2ª Câmara de
Direito Público, Data de Publicação: 27/01/2021)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. CONTRATO


DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA CONSTRUÇÃO DE UMA
ESCOLA DE 6 SALAS, MEDIANTE PROCEDIMENTO LICITÁTÓRIO.
VERBA FEDERAL REPASSADA AO MUNICÍPIO POR MEIO DO
FNDE. REALIZAÇÃO DE SERVIÇOS EXTRAORDINÁRIOS PELA
EMPRESA CONTRATADA. CONSTRUÇÃO DE ESTACAS PARA
REFORÇO NA FUNDAÇÃO DO TERRENO SEM REALIZAÇÃO
FORMAL DE ADITIVO. SUPOSTA AUTORIZAÇÃO VERBAL DO
CHEFE DO EXECUTIVO MUNICIPAL. IRRELEVÂNCIA. EFETIVA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO COMPROVADA. FALTA DE
DEMONSTRAÇÃO DO PAGAMENTO. AUSÊNCIA DE ADITIVO QUE
NÃO AFASTA O DEVER DE INDENIZAÇÃO. VEDAÇÃO AO
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. PREVALÊNCIA DA BOA-FÉ OBJETIVA.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL. ÍNDICE DE CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS DE MORA. DEFINIÇÃO EM LIQUIDAÇÃO DE
SENTENÇA. POSSIBILIDADE. PENDÊNCIA DE MODULAÇÃO DOS
EFEITOS PERANTE O STF. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1
- Eventual nulidade de qualquer contrato/aditivo verbal não
impede que o particular seja indenizado pela prestação dos
serviços em favor da Administração Pública. Caso contrário,
haveria flagrante enriquecimento ilícito do Poder Público. 2 – “(...)
Na ausência de contrato formal entre as partes - e, portanto, de ato
jurídico perfeito que preservaria a aplicação da lei à celebração do
instrumento -, deve prevalecer o princípio do não enriquecimento ilícito.
Se o acórdão recorrido confirma a execução do contrato e a realização
do serviço pelo recorrido, entendo que deve ser realizado o pagamento
devido pelo recorrente. 4. Inclusive, neste sentido, é de se observar
que mesmo eventual declaração de nulidade do contrato firmado
não seria capaz de excluir a indenização devida, a teor do que
dispõe o art. 59 da Lei n. 8.666/93. 5. Recurso especial não provido.”
( REsp 1231646/MA, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES,
Segunda Turma, 04/12/2014, DJe 19/12/2014).RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 5ª C.Cível - 0001449-
98.2016.8.16.0102 - Joaquim Távora - Rel.: Desembargador Nilson
Mizuta - J. 07.05.2019).

3.5 Não há como isentar a administração do pagamento da


contraprestação, porque a Contratada de boa-fé cumpriu com suas obrigações
perante a Administração.

3.6 Portanto, a Administração Pública deve ressarcir a Contratada, eis


que restou comprovada a execução de serviços sem a contraprestação devida,
sob pena do enriquecimento sem causa da Administração.

3.7 Por isso, requer o reconhecimento do débito referente ao aditivo


contratual, no valor de R$ 480.711,96, com a emissão das correspondentes
Notas de Empenho e de liquidação.

4. REQUERIMENTOS

4.1 Por todo o exposto isso, requer:

(i) Seja reconhecida a nulidade do contrato administrativo, eis


que, conforme demonstrado, não foi garantido à Contratada o seu
direito à ampla defesa e contraditório (tópico 02);
(ii) Seja reconhecido o débito referente ao aditivo contratual no
valor de R$ 480.711,96, com a emissão das correspondentes nota
de empenho e liquidação.

Porto Alegre/RS, 24 de abril de 2024.

Artur Garrastazu Gomes Ferreira


OAB/RS nº 14.877, OAB/RJ nº 185.918, OAB/SP nº 388.403
Carlos Horácio Bonamigo Filho
OAB/RS nº 80.742, OAB/RJ n°189.681, OAB/SP n° 386.541

Mariana Fogaça
OAB/RS 114.590

Karoline di Paula Oliveira de Souza


OAB/RS nº 118.001b
BARBARA HOSKEN Assinado de forma digital por
BARBARA HOSKEN DE SA GOMIDE
DE SA GOMIDE Dados: 2024.04.24 17:38:59 -03'00'

Bárbara Hosken de Sá Gomide


OAB/MG 197.684

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