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PARECER JURÍDICO

Trata-se de pedido de rescisão contratual em face da empresa CAGICOL–


CAMARATUBA GESSO INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. com a consequente
devolução do imóvel alienado através do Contrato AJ nº 31/1998 (doc.12221868). A
proposta é apresentada pela Gerência de Controle Empresarial através da POA nº
012/2021, tendo sido juntados: (i) cópia do contrato; (ii) cópia do extrato de débitos
imobiliários; (iii) e-mail a USA; (iv) certidão de interior teor do imóvel; (v) cadastro
nacional de pessoa jurídica; (vi) relatórios de monitoramento; (vii) notificação
extrajudicial; (viii) devolução de notificação extra-judicial; (ix) publicação do edital de
citação; (x) contrato particular de cessão do imóvel. Ato contínuo, o processo fora
remetido a esta SJ para análise de legalidade, o que se passa a realizar.

Com efeito, conforme antecipado pela Unidade Demandante, a Cláusula Nona do


Contrato AJ nº 31/1998 dispõe que:

"CLÁUSULA NONA
O não cumprimento dos prazos estipulados na Cláusula
Sétima deste Instrumento, ou em caso de decretação de
sua falência, acarretará a rescisão do presente Contrato,
perdendo a PROMISSÁRIA COMPRADORA, em favor da
PROMITENTE VENDEDORA, todas as importâncias que houver
pago, não lhe assistindo quaisquer direitos à reclamações,
retenções ou indenizações."a posse direta dos imóveis."

Assim sendo, estando a empresa inadimplente com os prazos de cumprimento dos


encargos econômicos, segundo descrito pela Unidade Demandante e
pelos Relatórios de Monitoramento (doc. 12222443 e 12246549), seria possível a
rescisão unilateral do negócio e a retomada do imóvel em questão. Contudo, o
Regulamento de Contratações da AD Diper dispõe, em seus arts. 105 e 106:

"Art. 105. A inexecução total ou parcial do contrato enseja a sua


rescisão, com as consequências contratuais e as previstas na
Lei Federal nº 13.303/2016 e neste Regulamento.

Art. 106. A rescisão do contrato deverá ser precedida de


autorização escrita e fundamentada da autoridade competente,
podendo ser, conforme previamente definido no instrumento
contratual:

I – Amigável, por acordo entre as partes, reduzida a termo no


processo de licitação, desde que haja conveniência para a AD
Diper;
II – Unilateral, assegurados o contraditório e ampla defesa nos
autos do respectivo Processo Administrativo de Apuração e
Aplicação de Penalidade - PAAP; ou

III – Judicial.

Parágrafo único.O PAAP mencionado no inciso II deverá seguir


o rito descrito em portaria regulamentadora própria ou, na
ausência desta, o procedimento previsto no Decreto Estadual nº
42.191/2015."

Isto é, para que seja procedida a rescisão contratual, foi apresentado o parecer do
setor técnico (fundamentação), com a autorização da Diretoria competente, o que
deverá ser ratificado pelo Colegiado de Diretores com direito a voto (autoridade
competente). Da mesma forma, a condução da forma através da qual será
operacionalizada a rescisão - dentre aquelas constantes nos incisos do art. 106
supratranscrito - deverá ser definida pela Administração desta Agência, posto que
se trata de matéria de gestão que exorbita a competência de assessoramento deste
jurídico.

Contudo, conforme já exposto no parecer jurídico (id. nº 4959092), que instruiu


o processo SEI 0060600940.001004/2019-49, é importante observar o lapso
temporal de cerca de 21 (vinte e um anos) que envolve o caso em questão. Isso
porque, para contratos celebrados antes de 2002, o atual Código Civil estabeleceu
regra de transição para a contagem do prazo prescricional, ao dispor, em seu art.
2.028, que serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e
se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do
tempo estabelecido na lei revogada. Portanto, dois seriam os requisitos exigidos
para aplicação do antigo prazo (20 anos) em detrimento do atual (10 anos): redução
do prazo prescricional e transcurso de mais da metade do antigo prazo.

Nesse sentido, cabe ao setor técnico identificar se, à época da realização de


cada contrato, ainda não estava em vigor o novo Código Civil (Lei Federal
10.406/2002). De modo que o marco para o cálculo do prazo prescricional
começaria a correr após o término do prazo estipulado no contrato como sendo o da
última parcela avençada ou do último encargo econômico. Ou seja, a partir desta
data até a entrada em vigor do novo Código Civil (10/01/2003), se tiver
transcorrido menos da metade do prazo vintenal previsto no art. 177 do Código
Civil de 1916, há de se aplicar o novo prazo prescricional previsto no Código Civil de
2002, isto é, o prazo estabelecido no art. 205 do CC, qual seja, 10 anos.

No presente caso, vê-se que o último encargo econômico teria vencido no ano
1999, tendo transcorrido apenas 04 (quatro) anos até a vigência do novo
Código Civil, razão pela qual há de se aplicar o prazo prescricional de 10 anos
previsto no Código Civil de 2002.

Nessa toada, considerando que a eventual judicialização decerto importará na


discussão de prescrição do direito subjetivo da estatal, buscaríamos encampar a
tese da imprescritibilidade da pretensão e, alternativamente, da possibilidade de
rescisão do contrato em si, em função do seu descumprimento parcial, cuja chance
de êxito nos parece REMOTA, recomendando-se a ponderação acerca dos riscos
e das custas processuais envolvidas.

Sendo a opção apresentada pela Unidade Demandante a rescisão unilateral, é


necessária a apuração em processo administrativo, sendo assegurada a ampla
defesa.

Destaque-se que, através da notificação extrajudicial de id. 9622493, a empresa já


fora constituída em mora - o que autorizaria o início dos procedimentos para
rescisão, caso seja este o entendimento da administração desta estatal.

Assim sendo, entende-se pela viabilidade jurídica do pleito ora sob análise, devendo
ser observado o procedimento regulamentar.

É o opinativo, salvo melhor juízo.


Assim sendo, entende-se pela viabilidade jurídica do pleito ora sob análise,
devendo ser observado o procedimento regulamentar. Em sendo a remota a chance
de êxito da alternativa exposta no art. 103, inciso III (via judicial), sugere-se que o
Colegiado de Diretores adote alguma das outras hipóteses de resolução contratual:
instauração de procedimento administrativo para rescisão unilateral ou resolução
amigável via distrato. Ressalte-se também que, caso a conclusão do processo
administrativo seja pela rescisão unilateral e retomada do imóvel e caso esta
devolução do imóvel não seja operada de forma amigável pela empresa, a
possibilidade de êxito no ajuizamento de ação de reintegração de posse também é
remota pelo mesmo fundamento já exposto: prescrição da pretensão da retomada
do imóvel pela AD Diper.

É o opinativo, salvo melhor juízo.

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