Você está na página 1de 8

PARECER JURÍDICO Nº 020/2022

CONSULENTE: COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO - DIRETORIA


EXECUTIVA

CONSULTA: PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO – INABILITAÇÃO EM LICITAÇÃO –


PROCESSO CONCORRÊNCIA PÚBLICA 022/2021/SAAEP SRP Nº 003.2021.CPL.
SAAEP - EMPRESA CONSÓRCIO C F X – DRAIEK constituído pelas empresas C F
X EMPREENDIMENTO LTDA - CNPJ nº 04.124.573/0001-88 e CONSTRUTORA
DRAIEK EIRELI CNPJ nº 33.921.399/0001-00

1 – SÍNTESE DA CONSULTA.

Trata-se de consulta formulada pela Diretoria Executiva e pela


Coordenação de Licitações do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parauapebas
relacionada com pedido de reconsideração formalizado pela empresa CONSÓRCIO
C F X – DRAIEK constituído pelas empresas C F X EMPREENDIMENTO LTDA -
CNPJ nº 04.124.573/0001-88 e CONSTRUTORA DRAIEK EIRELI CNPJ nº
33.921.399/0001-00 nos autos do processo de licitação cadastrado sob o nº
022/2021/SAAEP – Concorrência Pública, contra a habilitação da empresa
CARMONA CABREIRA CONSTRUTORA DE OBRAS S/A CNPJ Nº
25.316.468/0001-10 constituída em consórcio com a empresa MULTISUL
ENGENHARIA S/S LTDA CNPJ nº 02.577.145/0001-85, no qual alega:

Em síntese, a empresa CONSÓRCIO C F X – DRAIEK requereu a


reconsideração para inabilitação da empresa classificada CARMONA CABREIRA
CONSTRUTORA DE OBRAS S/A, apontando que, mediante pesquisa realizada na
data de 16/12/2021, obteve conhecimento da revogação do plano de recuperação
judicial da controladora da acionista CARMONA CABREIRA CONSTRUTORA DE
OBRAS S/A, e, no entender da manifestante, tal fato é considerado de ordem
pública, visto que em seu entendimento, causará prejuízo iminente ao erário, caso
não seja revertida a decisão da habilitação da manifestada.
Notificado o consórcio manifestado, na pessoa de seu consorciado
CARMONA CABREIRA CONSTRUTORA DE OBRAS S/A apresentou resposta
argumentando que o plano de recuperação judicial de um dos acionistas do
consórcio recorrido encontra-se regular e vigente, e que tal condição, no entender
da empresa manifestada, não obstaria a participação da empresa no certame,
tampouco ocasionaria prejuízo para a execução do contrato, caso o consórcio
recorrido se sagrasse vencedor do certame.
Argumentou ainda que, a empresa CARMONA CABREIRA
CONSTRUTORA DE OBRAS S/A vem executando contratos administrativos desde
o ano de 2016, o que no entender da recorrida demonstra que não há efeitos
decorrentes da recuperação judicial do acionista. Neste sentido, pugna a
manifestada pela mantença da decisão que a habilitou no certame.

Em apertada síntese estas são as razões do pedido de


reconsideração e contrarrazões apresentadas pelas empresas. Passo a análise.

2- PRELIMINAR DE MÉRITO

Preliminarmente, cabe destacar o fato de que a empresa


Manifestante optou por apresentar pedido de reconsideração da decisão que
determinou a habilitação da empresa manifestada, valendo-se das determinações
legais contidas no artigo 53, da Lei 9.784/99, e as Súmulas 346 e 473, ambas do
Supremo Tribunal Federal – STF, conforme consta expressamente em sua peça de
manifestação.

Cabe esclarecer o fato de que nem mesmo a Lei 8.666/93 prevê a


adoção de pedido de reconsideração para a situação descrita na peça de
manifestação em exame, vez que tal procedimento (pedido de reconsideração) tem
sua aplicação fixada no artigo 109, inciso III, versando sobre questões relacionadas
à aplicação das sanções definidas no artigo 87 da mencionada norma legal, não se
aplicando ao caso em exame, onde caberia o recurso conforme determina o mesmo
artigo 109 em seu inciso I, alíneas “a” e “b” da referida norma legal.
Porém, em atenção ao princípio da instrumentalidade das formas e
visando sempre privilegiar o pleno atendimento dos princípios que regem a
administração pública, examinaremos as questões suscitadas na manifestação,
apresentando o entendimento dessa assessoria jurídica que será objeto de avaliação
e julgamento da autoridade competente

3- ANÁLISE E PARECER
Dado ao peso das argumentações apresentadas pela manifestante,
de início vamos nos ater às razões do presente pedido de reconsideração, vinculadas
aos questionamentos quanto as que foram objeto desta manifestação.

As insurgências apontadas pela manifestante não merecem


prosperar. No que se refere a participação da licitante habilitada (empresa Carmona
Cabreira Construtora de Obras S.A), nos termos do Acordão 1201/2020 do TCU, o
licitante que se encontra em recuperação judicial pode participar de licitação
pública, desde que o licitante demonstre, na fase de habilitação, sua viabilidade
econômica.

Conforme se observa no item 3.2.1 do edital de concorrência do


certame, uma das condições para a participação do consorciado no processo
licitatório, é atender aos quesitos do subitem 7.4, no que se refere a qualificação
econômico-financeira, em especial no subitem 7.4.3, ou seja, balanço patrimonial e
demonstrações contábeis do último exercício social, já exigíveis e apresentados na
forma da lei, que comprovem a atual situação financeira das empresas, vedada a
sua substituição por balancetes ou balanços provisórios, conforme se lê na página
257 do processo administrativo.

Consta na página 2.142 do processo administrativo, parecer emitido


pelo responsável técnico do setor de contabilidade da Autarquia, atestação de que a
empresa Carmona Cabreira Construtora de Obras S.A, que constitui consórcio com
a empresa Multisul Engenharia, encontram-se em situação financeira regular e em
estado de solvência, tendo como base o balanço patrimonial das empresas, bem
como os índices de liquidez corrente, liquidez geral e solvência geral.

Neste sentido, estando a empresa habilitada em aptidão econômico-


financeira, conforme comprovação nos autos administrativos, não há que se falar
em óbice à sua participação no certame.
Este tem sido o entendimento pacificado Superior Tribunal de
Justiça:

ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. EMPRESA EM


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PARTICIPAÇÃO.
POSSIBILIDADE. CERTIDÃO DE FALÊNCIA OU
CONCORDATA. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA.
DESCABIMENTO. APTIDÃO ECONÔMICO-
FINANCEIRA. COMPROVAÇÃO. OUTROS MEIOS.
NECESSIDADE. 1. Conforme estabelecido pelo
Plenário do STJ, "aos recursos interpostos com
fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões
publicadas até 17 de março de 2016) devem ser
exigidos os requisitos de admissibilidade na forma
nele prevista, com as interpretações dadas até então
pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça" (Enunciado Administrativo n. 2).
2. Conquanto a Lei n. 11.101/2005 tenha
substituído a figura da concordata pelos institutos
da recuperação judicial e extrajudicial, o art. 31 da
Lei n. 8.666/1993 não teve o texto alterado para se
amoldar à nova sistemática, tampouco foi
derrogado.
3. À luz do princípio da legalidade, "é vedado à
Administração levar a termo interpretação extensiva
ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o
dispuser de forma expressa" (AgRg no RMS
44099/ES, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/03/2016, DJe
10/03/2016).
4. Inexistindo autorização legislativa, incabível a
automática inabilitação de empresas submetidas à
Lei n. 11.101/2005 unicamente pela não
apresentação de certidão negativa de recuperação
judicial, principalmente considerando o disposto no
art. 52, I, daquele normativo, que prevê a
possibilidade de contratação com o poder público, o
que, em regra geral, pressupõe a participação prévia
em licitação.
5. O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos
termos do art. 47, é viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor,
a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da
empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica.
6. A interpretação sistemática dos dispositivos das
Leis n. 8.666/1993 e n. 11.101/2005 leva à
conclusão de que é possível uma ponderação
equilibrada dos princípios nelas contidos, pois a
preservação da empresa, de sua função social e do
estímulo à atividade econômica atendem também,
em última análise, ao interesse da coletividade, uma
vez que se busca a manutenção da fonte produtora,
dos postos de trabalho e dos interesses dos
credores.
7. A exigência de apresentação de certidão negativa
de recuperação judicial deve ser relativizada a fim
de possibilitar à empresa em recuperação judicial
participar do certame, desde que demonstre, na fase
de habilitação, a sua viabilidade econômica.
8. Agravo conhecido para dar provimento ao recurso
especial.
(AREsp 309.867/ES, Rel. Ministro GURGEL DE
FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
26/06/2018, DJe 08/08/2018)
Como visto, a empresa habilitada ( empresa Carmona Cabreira
Construtora de Obras S.A ) encontra-se apta financeiramente à participação do
certame, não havendo que se falar em desabilitação.

Além do mais, a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a


superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir
a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o
estímulo à atividade econômica, conforme entendimento esculpido no art. 47 da Lei
da Lei n. 11.101/2005, ou seja, o fato de a empresa estar em recuperação judicial
não pode ser confundido com a incapacidade de se recuperar. Isto porque, a
recuperação judicial é utilizada justamente para que a empresa supere a crise
econômica financeira, permitindo que sua fonte produtora permaneça, bem como o
emprego dos trabalhadores que nela atuam.

Assim, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STF) e da


Advocacia Geral da União (AGU) é o mesmo acerca do tema e prevê:

‘’O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos


termos do art. 47, é viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor,
a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da
empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica. (….) A exigência de apresentação de
certidão negativa de recuperação judicial deve ser
relativizada a fim de possibilitar à empresa em
recuperação judicial participar do certame, desde
que demonstre, na fase de habilitação, a sua
viabilidade econômica. ‘’ (Agravo em Recurso
Especial 309867 / ES – Ministro Gurgel de Faria,
julgado em 26/06/2018)
Neste sentido, o fato de uma das empresas que compõem o
Consórcio licitante estar em recuperação judicial não pode ser visto como um
obstáculo para participar de licitação, visto que há comprovação nos autos de sua
liquidez, bem como a empresa em comento licita constituindo consórcio com outra
empresa.

O fato apontado pela manifestante, de que houve, pelo juízo de piso,


revogação do plano de recuperação judicial da recorrida, não é um fator decisivo
acerca da capacidade econômico-financeira do consórcio licitante. Inclusive, seria
contraditório que a Administração criasse impeditivos para a participação do
consórcio em questão, o qual uma das empresas partícipes do referido consórcio
está se recuperando e que, principalmente, o consórcio licitante atende os requisitos
exigidos no Edital.

4- CONCLUSÃO

Diante do acima exposto, com arrimo na legislação regente da


matéria e na jurisprudência oriunda do Superior Tribunal de Justiça e da Advocacia
geral da União, assim como também na normativa constante no edital de licitação
do certame em comento, é de ser ratificada a decisão exarada pela presidente da
comissão permanente de licitações e devidamente homologada pelo Diretor
Executivo do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parauapebas, mantendo-se
sem retoques a habilitação do consórcio constituído pelas empresas CARMONA
CABREIRA CONSTRUTORA DE OBRAS S/A e MULTISUL ENGENHARIA S/S
LTDA.
Face ao exposto, entende-se, com base nos princípios da legalidade,
isonomia, vinculação ao instrumento convocatório, impessoalidade e julgamento
objetivo, opinamos pelo conhecimento do pedido de reconsideração, mesmo não
sendo a via correta de procedimento e, no mérito, pelo seu não acolhimento,
mantendo-se a decisão que habilitou o consórcio constituído pelas empresas
CARMONA CABREIRA CONSTRUTORA DE OBRAS S/A e MULTISUL ENGENHARIA
S/S LTDA.

É o parecer que submetemos à apreciação da autoridade competente.


É o Parecer, S.M.J.

Parauapebas (PA), 09 de fevereiro de 2022.


Assinado de forma digital por ANA
ANA GLAUCIA BENTES GLAUCIA BENTES DE
DE SOUZA:64887430230 SOUZA:64887430230
Dados: 2022.02.09 15:52:40 -03'00'

ANA GLAUCIA BENTES DE SOUZA


Assessor Jurídico
Port. Nº 0324/2021 - SAAEP

Você também pode gostar