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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE

CANOAS/RS

Distribuição por Dependência – Processo nº 5003878-03.2016.8.21.0008


Recuperação Judicial

ALMEIDA, ROTENBERG E BOSCOLI - SOCIEDADE DE ADVOGADOS (“DEMAREST”) sociedade


simples, inscrita no CNPJ/ME sob o nº 61.074.555/0001-72, com sede à Avenida Pedroso de
Moraes, nº 1201, Centro Cultural Ohtake, Pinheiros, São Paulo/SP, CEP 05419-001 (Doc. 01), vem,
por seus advogados (Doc. 02), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 7º e seguintes, da Lei 11.101/2005, requerer a presente

HABILITAÇÃO DE CRÉDITO RETARDATÁRIA

nos autos da Recuperação Judicial em epígrafe, requerida por RBA TRANSPORTES E SERVIÇOS
RODOVIÁRIOS LTDA – ME (“RBA”), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o
nº 10.746.889/0001-04, com sede na Rua Cândido Machado, nº 29, sala 207, Canoas/RS, CEP
92010/270, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

1. CABIMENTO DA PRESENTE MEDIDA

O artigo 10, da Lei 11.101/2005, ao se referir ao prazo para a apresentação de habilitações e


divergências diretamente ao administrador judicial, estabelece que “Não observado o prazo
estipulado no art. 7º, §1º, desta Lei, as habilitações de crédito serão recebidas como
retardatárias”.

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No caso dos autos, denota-se que o edital do artigo 52, §1º, da Lei 11.101/2005, foi publicado no
DJe em 13/06/2017. Em seguida, analisadas as habilitações e divergências apresentadas via
administrativa, o edital previsto no artigo 7º, §2º, da Lei 11.101/2005, foi publicado em
27/08/2018.

Diante desse cenário, não restam dúvidas sobre o cabimento da presente habilitação de crédito
retardatária.

Não obstante o pedido de habilitação extemporâneo, cumpre salientar que, conforme


entendimento do STJ, a categoria a qual pertence o crédito deve ser resguardada, ainda que a
habilitação seja tardia, posto que não perde sua natureza originária e nem mesmo prejudica a
preferência legal que lhe é inerente:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. HABILITAÇÃO RETARDATÁRIA. CRÉDITO


TRABALHISTA. PARTICIPAÇÃO NOS RATEIOS POSTERIORES. DESCLASSIFICAÇÃO DO
CRÉDITO. DESCABIMENTO. 1. A habilitação retardatária não exclui o credor trabalhista
dos rateios posteriores ao seu ingresso, tampouco prejudica a preferência legal que lhe é
inerente. 2. Doutrina e jurisprudência sobre o tema. 3. Agravo conhecido para negar
provimento ao recurso especial.
(...) “4 - Deve ser resguardada a categoria a qual pertence o crédito, mesmo que
tardiamente habilitado, que, nesta condição, não perde sua natureza originária, não
podendo ser condicionado o seu recebimento após a quitação dos demais credores de
categoria inferior, mesmo que tempestivamente habilitados.”
(STJ – AREsp: Nº 1.008.023 - DF (2016/0285479-0), Relator: MINISTRO PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data da Publicação: DJ 04/05/2018)

Assim, requer a imediata habilitação do crédito do DEMAREST nesta Recuperação Judicial, com o
reconhecimento de preferência, por tratar-se de crédito equiparado à verba trabalhista,
conforme será abordado adiante, e a inclusão no quadro geral de credores.

2. DO CRÉDITO DETIDO PELO DEMAREST E NÃO INCLUÍDO NO ROL DE CREDORES

2.1. ORIGEM DO CRÉDITO

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A Seguradora Sompo Seguros S.A. (“Sompo”), nova denominação de Yasuda Marítima Seguros
S.A. (Doc. 3), cliente do escritório ora peticionário (Doc. 4), ajuizou, em 30/04/2014, Ação de
Ressarcimento em face da RBA, com o objetivo de receber as indenizações pagas à empresa
segurada Bombril S/A., referente a indenização de danos havidos em produto transportado pela
Ré, no valor total R$ 21.429,26.

No âmbito da referida Ação de ressarcimento, em 08/05/2015, foi publicada no Diário da Justiça


Eletrônico sentença de procedência (Doc. 5), que condenou a RBA ao pagamento de R$
21.429,26, além de custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% da condenação
em favor deste Escritório.

Assim, iniciado Cumprimento de Sentença, as partes celebraram acordo (Doc. 6), homologado
em 05/10/2016 (Doc. 7), o qual consistiu no pagamento de R$ 33.052,76 pela RBA à Sompo, em
10 parcelas iguais e sucessivas de R$ 3.305,27, com vencimento de 05/08/2016 a 05/05/2017.
Além de honorários de sucumbência de R$ 3.305,28, a serem pagos pela RBA a esta Peticionária.

Contudo, a RBA apenas realizou o pagamento das primeiras 05 parcelas devidas à Sompo, de
forma que resta pendente o pagamento das demais 05 parcelas de R$ 3.305,27, totalizando R$
16.526,35, correspondentes aos meses de 05/01/2017 a 05/05/2017, além de honorários de
sucumbência de R$ 3.305,28.

Ocorre que, durante a execução do acordo, foi deferida a Recuperação Judicial da RBA.

Assim, diante da impossibilidade de prosseguimento da execução contra a empresa em


Recuperação Judicial, o DEMAREST vem requerer a habilitação de seu crédito, no valor de R$
3.305,28, no Quadro Geral de Credores, referente aos honorários de sucumbência, devidos em
seu favor.

Deste modo, com o intuito de receber o que lhe é devido e não restando alternativas, observando
o quanto disposto no artigo 10, §6º da Lei nº 11.101/2005, requer-se o reconhecimento de seu
crédito, sua posterior inclusão no quadro geral de credores da RBA e, por fim, a sua quitação.

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Por fim, diante do pedido de habilitação de crédito retardatária e afim de garantir a satisfação
do crédito, requer-se a reserva do valor de R$ 3.305,28, com base no art. 10, §8º, da Lei
11.101/2005.

2.2. CRITÉRIOS DE ATUALIZAÇÃO DOS VALORES DEVIDOS AO DEMAREST

Conforme se depreende dos autos principais, o pedido de Recuperação Judicial foi apresentado
pela Recuperanda em 29/11/2016.

O artigo 9º, inciso II, da Lei 11.101/2005, é claro ao estabelecer que a habilitação de crédito
deverá conter o valor do crédito atualizado até a data do pedido de recuperação judicial, o que,
no caso da empresa devedora, efetivamente ocorreu na data acima indicada.

Nessa esteira, o inadimplemento do acordo referente aos honorários de sucumbência se deu


posteriormente ao pedido de Recuperação Judicial, de forma que não há qualquer correção
monetária a ser aplicada no valor de R$ 3.305,28, requerendo, desde já, seja acrescido o valor
total do crédito listado ao quadro geral de credores.

3. NATUREZA DOS CRÉDITOS

Pelo caráter alimentar dos honorários advocatícios, a verba honorária fixada na sentença na Ação
de Ressarcimento deve ter o privilégio sobre os demais créditos, ora executados, conforme
expressa redação do artigo 24 da Lei 8.906/94:

Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os
estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata,
concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.

O Superior Tribunal de Justiça adotou, com base em julgado submetido à sistemática dos
Recursos Repetitivos (REsp 1.152.218/RS, Rel. Mnistro Luis Felipe Salomão, j. 07/05/2014) o
entendimento de que os honorários advocatícios ostentam natureza alimentar e detêm
privilégio geral em concurso de credores, equiparando se ao crédito trabalhista.

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Neste sentido, é o posicionamento amplo da jurisprudência pátria:

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FALÊNCIA.
HABILITAÇÃO. CRÉDITO DE NATUREZA ALIMENTAR. ART. 24 DA LEI N. 8.906/1994.
EQUIPARAÇÃO A CRÉDITO TRABALHISTA. 1. Para efeito do art. 543-C do Código de
Processo Civil: 1.1). Os créditos resultantes de honorários advocatícios têm natureza
alimentar e equiparam-se aos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, seja
pela regência do Decreto-Lei n. 7.661/1945, seja pela forma prevista na Lei n.
11.101/2005, observado, neste último caso, o limite de valor previsto no artigo 83, inciso
I, do referido Diploma legal. 1.2). São créditos extraconcursais os honorários de advogado
resultantes de trabalhos prestados à massa falida, depois do decreto de falência, nos
termos dos arts. 84 e 149 da Lei n. 11.101/2005. 2. Recurso especial provido.” (STJ – REsp
1.152.218/RS. Relator: Ministro Luís Felipe Salomão. Data da publicação: 09.10.2014.
Destacou-se).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS. HABILITAÇÃO. PREFERÊNCIA SOBRE O CRÉDITO PRINCIPAL.
IMPOSSIBILIDADE . A habilitação do crédito oriundo de honorários advocatícios é viável,
mas a preferência da verba sobre o valor exequendo não é admitida, sob pena de
manifesto prejuízo ao credor, no caso a Fazenda Pública, de receber o seu crédito. A
preferência a que alude a legislação processualista civil é para dar efetividade às medidas
expropriatórias para levarem a cabo a pretensão do detentor de direito de crédito
decorrente de honorários em face de seu devedor direto. Por outro lado, segundo
entendimento consolidado no âmbito do STJ com o Tema 637 e representativo da
controvérsia REsp 1152218/RS, os créditos resultantes de honorários têm natureza
alimentar e se equiparam aos trabalhistas para efeito de habilitação em falência - isto
porque, considerando que os recursos do falido são escassos, deve o trabalho do
advogado ser remunerado e, por isso, preferir aos demais, na classe do crédito
trabalhista até o limite estabelecido, de 150 salários mínimos (art. 83, I, da Lei de
Falências) . (...) AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.” (TJRS. AI 70069522779,
Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício. Primeira Câmara Cível. Data do julgamento:
19.10.2016)

Portanto, pelo caráter alimentar dos honorários advocatícios, requer seja considerado
privilegiado em face aos demais credores, sendo classificado na Classe I (créditos trabalhistas),
na forma do art. 83, I, Lei 11.101/2005.

4. CONCLUSÃO E REQUERIMENTOS

Tendo em vista o decurso do prazo da fase administrativa para habilitação de crédito, o DEMAREST
requer seja a recebida e processada a presente habilitação de crédito de forma retardatária, bem
como a reserva do crédito, conforme disposto no artigo 10, §5º e §8º, da Lei 11.101/2005, com

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a subsequente citação da Requerida, na pessoa do Sr. Administrador Judicial, para que, caso
queiram, apresentem resposta.

No mérito, após o regular processamento dos autos, requer seja acolhida a sua pretensão,
acrescendo-se o crédito ora reclamado na Classe I do quadro geral de credores da Recuperação
Judicial distribuída sob o 5003923-75.2014.8.21.0008, no montante de R$ 3.305,28 (três mil,
trezentos e cinco reais e vinte e oito centavos).

4. PROVAS

Não obstante a liquidez, certeza e exigibilidade da dívida objeto desta habilitação, em


atendimento ao disposto no artigo 319, inciso VI, do CPC, o Habilitante protesta pela produção
de todos os meios de prova admitidos, em especial através de prova documental suplementar,
sem prejuízo de eventual produção de prova oral, caso Vossa Excelência repute necessária.

5. VALOR DA CAUSA

Dá-se à presente causa o valor de R$ 3.305,28 (três mil, trezentos e cinco reais e vinte e oito
centavos), correspondente ao valor do crédito detido pelo Demarest e que se pretende ver
acrescido ao quadro geral de credores.

7. INTIMAÇÕES

Por derradeiro, requer que todas as publicações doravante veiculadas no Diário Oficial,
intimações e quaisquer comunicações no presente processo sejam exclusivamente feitas em
nome de MARCIA CICARELLI BARBOSA DE OLIVEIRA, inscrita na OAB/SP sob o nº 146.454, com
escritório profissional na Avenida Pedroso de Morais, nº 1.201, Pinheiros, São Paulo, CEP 05419-
001, sob pena de nulidade dos atos que vierem a ser praticados, em consonância com o disposto
no parágrafo 5º, do artigo 272 do Código de Processo Civil.

Termos em que, pede deferimento.


Canoas, 20 de março de 2023.

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MARCIA CICARELLI BARBOSA DE OLIVEIRA


OAB/SP 146.454

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ROL DE DOCUMENTOS
Doc. 01 Contrato Social
Doc. 02 Procuração
Doc. 03 Atos constitutivos Sompo Seguros S.A.
Doc. 04 Procuração Sompo x Demarest
Doc. 05 Sentença de procedência – Ação de Ressarcimento
Doc. 06 Acordo celebrado entre a RBA x Sompo e Demarest
Doc. 07 Sentença homologatória – Ação de Ressarcimento

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